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Run my little Bride!

O som da marcha nupcial cessou o vozerio dentro da nave da igreja e
respirei fundo, ajeitei a saia longa do vestido e colocando o buquê na
posição correta coloquei um sorriso no rosto e testei dar um passo à
frente; uma mão enluvada se colocou embaixo da minha e sorri ao olhar
para Kyu Hon Ji, que me exibia um sorriso confiante ao mesmo tempo em
que olhava para frente.

-Os noivos, por favor, entrem... – ouvimos o mestre de cerimônias falar e
contando juntos até três começamos a andar, colocando os passos no
mesmo ritmo que o outro, os aplausos começaram assim que fomos
avistados e coloquei um sorriso maior no rosto ao ver todos ali
presenciando aquele momento.

“Você não deveria estar fazendo isso.” Uma voz me provocava com essas
palavras a todo momento, franzi um pouco a sobrancelha tentando
ignorar aquilo, mas a voz teimosa me acompanhou até o altar. Pouco
antes de subirmos para o pequeno palco postado em frente ao pastor
olhei para meus pais, eles sorriam emocionados ao me ver ali vestida de
branco e pronta pra dizer sim.
“Ainda dá tempo de sair correndo sabe? Ou finge um desmaio... algo
assim. Seria épico e todos iriam entender depois” a voz continuava me
provocando e fiz mais uma careta com aquilo,respirei fundo e tentei me
concentrar na voz do pastor, que falava com entusiasmo sobre amor,
compromisso e educação dos futuros filhos.

Foi então que ele fez a pergunta cabal.

Você o aceita como seu marido, para amar, respeitar e cuidar até que a
morte os separe?

Abri a boca para responder, mas me senti incapaz de dizer a simples
palavra imediatamente, respirei fundo e olhei com firmeza para o pastor.

-Eu... – comecei, mas fui interrompida.

-Antes de ela responder, eu queria falar algo... – Hon Ji se mostrava
nervoso e parecia mais pálido que o normal. – eu.. eu sinto muito...

-Você está querendo dizer...? – perguntei com um tom de suspeita na voz.

-Sim, é isso... eu não posso me casar. Não ainda. Me desculpe... – ele olhou
pra mim com medo da minha reação, que geralmente não era boa, mas
agora podia estar pior do que em qualquer outro momento. – me
desculpe.

Olhando mais uma vez pra ele, me virei para a multidão e dei um sorriso
educado.

-Bem senhoras e senhores, é isso. Ele não pode se casar e eu não quero
também. – falei e pude ouvir os sons de surpresa e olhos arregalados,
com o canto dos olhos vi a mãe do noivo desmaiar e minha mãe seguir o
mesmo caminho. – agradeço por terem vindo e boa volta para casa. Pode
deixar que eu me viro com a bebida, o bolo e os doces.

Após desencorajar todos de ao menos sonhar com meus bolos e doces, me
virei para o noivo - Hon Ji – que me olhava com medo, mas ainda
permanecia corajosamente lá. Dei um passo à frente e ergui meu véu
para que ele visse minha expressão calma, me erguendo na ponta dos pés
deixei meus lábios tocarem a bochecha macia dele e depositei um beijo
delicado ali.

Quando me afastei ele sorriu pra mim e parecia menos pálido, sorri pra
ele e ergui a mão para acariciar seu rosto ao mesmo tempo em que meu
joelho esquerdo se erguia sob a saia longa e eu acertava o pequeno
companheiro de viagem dele. O salão se encheu novamente de sons
horrorizados assim que o noivo desabou ao meu lado e continuei com
minha expressão calma vendo os amigos dele correndo para ajudar o ser
que rolava no chão indo de um lado para o outro, suspirando segurei a
ponta do vestido e levantei um pouco, para que ficasse fácil para que eu
andasse.

Então calmamente fui andando ao longo da nave, com o vestido erguido
um pouco acima do chão, fui andando sentindo que tudo ao meu redor
andava mais devagar, as pessoas me olhando algumas com olhar de
pena, outras divertidas e outras ainda admiradas...

Assim que sai daquele lugar parei perto da calçada e respirei fundo
sentindo o ar mais leve penetrando em meus pulmões e me livrando dos
pedaços de angústia e tristeza que eu sentia. Olhei para a faixa de
pedestres mais a frente e comecei a andar até lá, notei que um taxi me
acompanhava durante toda a caminhada, virei um pouco a cabeça para
olhar mas continuei andando como se não fosse estranho eu estar
parecendo um bolo de casamento andando na calçada como se nada
estivesse acontecido de estranho.

-Com licença...? – ouvi uma voz hesitante falar comigo e me dignei a
apenas olhar brevemente a pessoa, um homem que falava comigo
enquanto estava sentado no banco de trás do carro. – posso te ajudar?

-Me deixando sozinha já é um grande bem que me faz... – respondi de má
vontade e continuei andando, mas o carro não parou de me seguir. –
escuta aqui, eu pareço estar precisando de ajuda ou algo assim?

-Calma moça... – o homem no banco de trás falou erguendo as mãos em
sinal de rendição. Em seguida ele saiu do carro e parou a minha frente –
só pensei que você parece um tanto calma demais... está indo para seu
casamento?

-Estou voltando dele – continuei andando enquanto falava, se o cara
estivesse tão interessado ele andaria ao meu lado e foi isso que ele
acabou fazendo. – meu noivo fugiu com a dama de honra.

-Sério? – olhei para os olhos escuros arregalados e o queixo dele quase
rolando pela rua e sorri.

-Não, brincadeira. – ri mais alto e maleficamente – no momento ele está
rolando pelo piso da igreja pensando se vai ter filhos um dia.

-Você quer dizer...? – ele fez cara de dor e diminuiu os passos.

-Sim, foi algo bem do tipo que você está pensando... – sorri meio sem
humor e olhei pra ele. – olha, foi até bom conversar com você mas agora
vou indo okay? Preciso chegar em casa e ficar um tempo sozinha.

-Quer carona? – ele apontou para o taxi que nos seguia, aparentemente o
homem tinha pedido para que o motorista o esperasse. – ele pode te levar
a qualquer lugar...

-Acho que vou aceitar, já basta de chamar a atenção parecendo um bolo
super confeitado no meio da rua... – dei de ombros e entrei no taxi, mal
registrando que o homem entrou também e sentou-se ao meu lado após
afastar grande parte da saia para o lado.

Dei o endereço da minha nova casa e fomos em silêncio até lá, em poucos
minutos chegávamos em frente a um prédio altíssimo e moderno, o
homem me ajudou a sair do carro e segurou minha mão até a entrada do
prédio, depois me surpreendendo ele roçou os lábios em meus dedos de
leve e sorriu pra mim.

-Obrigado... pela carona. – falei baixo e continuei olhando para ele.

-Imagina... você vai ficar bem? – o olhar dele mostrava preocupação e de
algum jeito em sentia dentro de mim que era sincera.
-Vou sim... – sorri de dei de ombros – é lógico que em algum momento
vou chorar, querer quebrar as coisas ou ligar para meu ex-noivo e xingá-
lo até a morte, mas no fim vou ficar melhor do que antes...

-Okay então.... – ele sorriu como que para me dar coragem e deu um
passo atrás. – foi um prazer poder te ajudar...?

-Claudia. – entendi a diretíssima e falei meu nome.

-JunSu. – ele disse o nome dele em resposta e depois sorriu – até qualquer
dia desses Claudia.

-Até JunSu... – falei e acenei brevemente para em seguida ir para dentro.

Não olhei sequer uma vez para trás.



9 meses depois...



-Claudia! Eu não acredito que você está terminando comigo por algo tão
banal quanto isso! E o nosso amor é o quê pra você? Lixo?

Bip.

Suspirei de olhos fechados e continuei deitada no sofá enquanto
balançava os pés de forma leve e ritmada, mais um namoro terminado. E
esse também acabou por um modo também simples.

Ele tinha pela primeira vez me deixado pra sair com os amigos no fim de
semana. É, eu podia ser intolerante as vezes...



18 meses depois...



-Hey gata... você ficou de me ligar pra gente marcar um terceiro
encontro mas já faz um mês que isso aconteceu... queria saber se eu não
te atraio mais? A gente parecia estar se dando bem não é? Me liga...
Bip.



23 meses depois...



-Hey Clau! Tenho um amigo novo pra te apresentar! Você vai adorá-lo
com certeza... ele é um pouco diferente do que você está acostumada,
mas certeza que vocês vão se dar bem okay? Te encontro na faculdade.

Bip.

Apertei o botão para deletar a mensagem e me joguei em seguida no sofá
ali perto, suspirei ao sentir a maciez do tecido e olhei para o teto da sala.
Eram exatas uma da manhã e eu havia acabado de chegar em casa, me
levantei do sofá com um tanto de dificuldade, andando devagar fui me
jogar na cama em meu quarto, o banho eu tomaria quando acordasse...

O barulho horrível e alto do despertador me acordou e me forcei a
levantar, hoje não poderia faltar nas atividades da faculdade, estava no
ultimo ano e qualquer assunto perdido poderia ser a peça que eu
precisaria para passar com louvor (todos morrem).

Apliquei bastante maquiagem para disfarçar meus olhos inchados de
sono, coloquei um vestido leve e calcei chinelos de dedo, amarrei o cabelo
em um coque desajeitado, peguei a bolsa e sai do apartamento. Pra não
me atrasar acabei pegando um taxi na grande avenida duas ruas acima
e minutos depois chegavam em frente ao grande campus da faculdade.

Com os ouvidos ocupados pelos fones foi preciso uma aproximação mais
violenta sobre mim e tudo graças aos meus dois lindos amigos com quem
eu estudava, uma garota mais branca que um papel – ela era
praticamente albina – de cabelos ruivos e olhos cor de mel, baixinha
estava acompanhada de um rapaz alto, de cabelos e olhos escuros
enquanto a pele cor de oliva e o queixo proeminente não negavam sua
origem árabe.
-E começou a operação “Vamos fazer do dia da Claudia uma droga”, bom
dia para vocês também... – falei fazendo um muxoxo assim que tive meu
cabelo arrumado por minha atenciosa amiga.

-E começou o drama isso sim, vamos lá que hoje temos palestra. – tive
meu braço segurado pelo moreno que ficou no meio enquanto nós duas
andávamos lado a lado com ele. – apressem esses passos minhas caras
damas...

Chegamos na sala de aula antes do professor entrar e nos sentamos nas
cadeiras na parte superior da sala, abri meu livro assim que a palestra
começou e dediquei minha atenção em descobrir qual era o mistério que
o personagem principal escondia; estava concentrada quando vi um
bilhete passando pra mim, o peguei e li rapidamente olhando curiosa
para o casal ao meu lado. Sim eles eram um casal muito engraçado:
Luane, da África do Sul e Kaled de um pequeno principado no Oriente
Médio, quem olhasse de fora veriam aquele pequeno caldeirão
multicultural que os dois eram e achariam no mínimo curioso a sincronia
entre eles, curiosamente quem olhasse de perto como eu também veriam
a mesma coisa.

-Um almoço pra conhecer um cara? Estão malucos? – perguntei quase
sussurrando mas tentando colocar minha indignação mesmo assim.

-É só um almoço Clau, o cara não vai querer você como sobremesa
entende? Te falei que ele é diferente dos tipinhos com quem você está
acostumada... – Luane respondeu parecendo ofendida e fiz um som de
desdém.

-Escuta aqui... – comecei mas fui interrompida pelo professor.

-Senhorita Claudia, você se importa em partilhar com a turma qual o
tema da sua conversa? – olhei para o professor que sempre me pareceu
um tanto arrogante e sorri.

-Bom, eu estava discutindo aqui sobre a possibilidade de conhecer um
cara legal pra casar. Segundo esses dois – apontei para Kaled e Luane –
aparentemente marcaram um encontro pra mim hoje, só que na hora do
almoço. O que você acha?
A sala ficou em silêncio e o professor olhou pra mim incrédulo ao mesmo
tempo em que minha amiga gemia baixinho, fingi que não vi e continuei
olhando para o professor.

-Bom... – ele parecia realmente estar pensando na ideia um tanto
inusitada e na hora quase ouvi o barulho de queixos caindo ao chão, pelo
menos da metade de alunos que ouvia aquela palestra “tão’ interessante’
– talvez você deva se dar uma chance não é? – então ele olhou sério pra
mim – desde que aquele cara que você nem conhece não atrapalhe mais
minha aula...

-Prometo! – sorri pra ele e pisquei enquanto o senhor grisalho que dava a
aula sorriu e se virou para o quadro, passando a copiar alguns tópicos.
Olhei pro lado e vi o casal 20 me olhando incrédulos, mas sabia que o que
mais assustou eles foi a atitude do professor.

-Quando acho que nada de surpreendente pode acontecer você me
aparece com essa Clau! – Kaled comentou e apenas sorri em resposta,
pelo menos com a ‘sugestão’ do professor eles iam me deixar em paz até
o resto da aula.

Assim que acabou fui cercada pelos dois, que em poucos minutos me
passaram a ficha completa do pretendente que tinham intenção de me
fazer cair de amores pelo resto da vida, Luane tratou de se trancar no
banheiro comigo e meio que a força esfregou um algodão com
demaquilante em todo meu rosto, aplicando uma nova maquiagem em
seguida; com as pálpebras delicadamente delineadas por uma linha
verde clara, nos cílios máscara também verde mas de um tom mais
escuro, nos lábios um batom nude e então meu cabelo preso com um
pequeno topete que o deixava estiloso ao mesmo tempo em que
organizado. Também surgido de não sei onde Luane colocou um pedaço
de fita verde acinturando meu vestido branco gelo, combinando assim a
produção em branco e verde com minha sapatilha de veludo verde,
quando a transformação terminou fiquei me avaliando no espelho por
alguns momentos, sorrindo ao ver que realmente aqueles dois estavam
dispostos a voltar para os trilhos rapidamente, já que desde que minha
cerimônia de casamento não dera certo eu só saíra com os tipos errados
para mim, terminando com eles em momentos inconvenientes e claro,
prematuros.

-Pronto, agora sim... – Kaled falou assim que saímos do banheiro, ele
sorria enquanto retirava as mãos do bolso e retirava de lá uma pequena
caixa preta de veludo, o olhei desconfiada quando vi a caixinha que ele
me estendia e com minha falta de reação meu amigo simplesmente bufou
e segurando meu braço esquerdo abriu a caixa, em segundos uma
delicada pulseira de prata era fechada em meu pulso, pequenos
pingentes caiam dela e parei para admirar o presente, um sorriso
encantado em meu rosto.

-Oh meu Deus, que linda! – falei olhando com atenção para a pulseira até
que senti algo frio em meu colo e faltei dar um pulo, um colar com uma
fina corrente fazia par com a pulseira havia sido colocado em meu
pescoço, olhei no espelho arregalando os olhos ao ver uma esmeralda
esculpida como pingente, descansando pouco acima do decote do vestido.

-Gente, mas para quê tudo isso? Será só um almoço! – falei chocada e os
dois sorriram pra mim como se eu não tivesse dito nada.

-Queremos você linda para hoje, não parece claro? – Kaled respondeu
abraçando a namorada pelos ombros, ele sorria parecendo um pai
orgulhoso vendo a filha vestida para o baile de formatura.

-Vocês estão me assustando sabia? – falei tocando o pingente com a
ponta dos dedos. – um conjunto de semi-jóias para um almoço com um
desconhecido? Ora, vamos lá!

-Fique calada, não reclame de nada e vá já para seu almoço mocinha. –
minha amiga respondeu e fiz uma careta antes de balançar a cabeça
derrotada.

Me despedi deles e fui pegar um taxi para atravessar alguns quarteirões
até o restaurante onde o encontro estava marcado, como era perto eu
preferia ir andando mas como sempre a dupla do amor me proibiu. Você
deve parecer fresca e leve quando chegar lá e não esbaforida e
descabelada com o vento que vai pegar até chegar lá a pé, foi isso que
uma ultrajada Luane me respondeu quando sugeri a possibilidade de
poupar a grana do taxi. Quando o carro parou em frente ao restaurante
paguei a corrida e desci ajeitando disfarcadamente a saia do vestido não
querendo que estivesse amassada, ajustando a bolsa branca no ombro
entrei no recinto procurando a tal mesa de canto que haviam reservado
para o encontro, uma das atendentes me ajudou a chegar até a mesa e
anunciou com um sorriso que o outro ocupante da mesa já chegara, mas
que fora atender a um telefonema.

-Tudo bem, eu espero aqui. – respondi com um sorriso e bebi um pouco
da água, dispensando assim de modo educado a mulher. Quando fiquei
sozinha olhei para o ambiente do lado de fora que a grande janela de
vidro ao meu lado exibia, desejava muito não estar ali mas sim em casa
vendo TV ou dormindo.

-Desculpe a demora... – me virei lentamente ao ouvir a voz que falava
comigo, o coração batia forte a lembrança daquela mesma voz que eu
ouvira a vários meses atrás. Meus olhos passeavam observando cada
detalhe daquele rosto que era meu companheiro de sonhos desde o dia
do meu não-casamento. – olá Claudia.

-JunSu... – falei em tom baixo olhando nos olhos dele, observei com
atenção enquanto ele sorria pra mim e se sentava na cadeira a minha
frente, o jeito despreocupado dele me deixava alerta, meus olhos não
deixavam sequer uma expressão escapar.

-Você parece realmente surpresa. – JunSu comentou me avaliando
também e balancei a cabeça, ainda controlando a vontade de deixar meu
queixo cair com a surpresa.

-Ah... – me recuperei um bocado e tentei com todas as forças recuperar
meu jeito descontraído de sempre. – digamos que meus padrinhos não
me contaram absolutamente nada sobre esse almoço, apenas disseram
que eu tinha que vir. Como pode ver, se não houvesse sol hoje eu estaria
cega mesmo sabe?

Rimos juntos e em seguida apareceram com o cardápio, acabamos por
decidir juntos e pedi frango grelhado enquanto JunSu escolheu um filé
mignon ao molho madeira, quando o garçom se afastou ele sorriu pra
mim, um sorriso suspeito e muito curioso.

-Então Claudia... – observei JunSu por cima da borda do copo de cristal
que eu tinha nas mãos. – eu só sei isso sobre você, seu primeiro nome.

-Então estamos quites. – comentei piscando brincalhona. – Choi Claudia,
encantada em te conhecer formalmente.

-Kim JunSu – ele piscou pra mim e sorriu. – finalmente sei mais que o seu
primeiro nome.

-Como se esse tempo todo você tivesse ficado curioso... – comentei
fazendo uma careta e JunSu ficou calado, apenas um pequeno sorriso
estava nos lábios dele, endireitei a coluna o olhando curiosa. – ou será
que...?

-Sim, eu fiquei curioso... – ele respondeu, os olhos revelando a verdade. –
mas considerando toda a situação eu preferi não insistir.

-Hm... – não respondi, mas por dentro o coração palpitava com a
informação.

Nossos pedidos chegaram e comemos em meio a um silêncio confortável,
fazendo um comentário aqui e ali, o clima estava confortável e eu me via
a cada momento querendo que aquele almoço durasse mais e mais; a
sobremesa, petit gateau com sorvete de menta e cobertura de caramelo,
chegou e comi sentindo um gosto de tristeza por saber que mais alguns
minutos e já estaríamos cada um seguindo seu caminho. Eu sabia disso
porque tinha uma única certeza em toda minha vida sobre aquele
momento: JunSu era encantadoramente perigoso, a qualquer momento
eu poderia me apaixonar por ele e então eu realmente estaria perdida
para sempre.

-Tem algo da faculdade pra fazer hoje a tarde? – virei a cabeça para
olhar JunSu, atrás dele estava a rua que aparecia naquele momento em
que havíamos saído do restaurante, pensei com cuidado sem deixar que
minha expressão revelasse absolutamente nada.
-Um trabalho para essa semana, desculpe. – falei erguendo os ombros em
um pedido de desculpas, olhando curiosa quando ele sorriu brevemente
antes de acenar com a cabeça.

-Tudo bem então, posso pegar seu telefone pra ligar e marcar algo pro
final de semana? – não pude resistir a esse pedido e pegando um cartão
da carteira entreguei a ele, que observou o cartão por breves momentos
e então o colocou no bolso me dando mais um daqueles sorrisos. – entro
em contato, prometo não te atrapalhar nas suas atividades da faculdade
ou do trabalho.

-Agradecida. – respondi com um sorriso involuntário, olhei brevemente
no visor do celular, conferindo as horas. – bom, agora tenho que ir
terminar aquele trabalho.

-Tudo bem. – JunSu se aproximou e fez um carinho leve em meu rosto, se
afastando em seguida. – foi um prazer rever você Claudia, é bom pensar
que agora seu sobrenome.

-Bobo... – respondi corando um pouco e dando graças a Deus por minha
pele ser morena e não aparentar meu rubor. – foi bom te ver também.

Nos despedimos e peguei um taxi em frente ao restaurante, cheguei em
casa desligando o celular imediatamente já sabendo que seria
bombardeada de perguntas tão logo alguém entrasse em contato com
JunSu e ele contasse que cada um já havia ido para um lado, com um
gemido me joguei na cama e levei as mãos aos cabelos para bagunça-los
com força, a cabeça me lançando vários pensamentos ao mesmo tempo.
Ergui a cabeça assustada olhando o relógio, constatando que já eram
cinco da tarde e que eu havia dormido antes que me desse conta daquilo,
minha roupa estava completamente amassada mas a maquiagem estava
intacta graças aos produtos caros que haviam sido passados em toda a
extensão de meu rosto.

Troquei de roupa, colocando um short preto não muito comprido, uma
blusa folgada e larga que cobria praticamente todo o short, amarrei o
cabelo em um coque frouxo e fui ao mercado mais próximo comprar
bobagens para comer durante o jantar, tinha deixado o celular em casa
ainda desligado já que tentava com todo o afinco não falar com Luane ou
Kaled; foi somente quando passei pelo hall do prédio onde morava que
me dei conta da atitude de JunSu, corei ao meu dar conta de que ele
apenas lançara a desculpa e a agarrei sem sequer perceber, por isso ele
sorrira. Chateada comigo mesma sai para a rua, andando de modo
automático até o mercado na rua próxima, assim que entrei peguei um
dos pequenos carrinhos e comecei preparar os ingredientes da gordice
em massa que eu iria patrocinar na hora do jantar, estava totalmente
concentrada em escolher apenas um sabor de sorvete quando senti um
toque em meu ombro, olhei curiosa para trás sentindo o pote de sorvete
praticamente congelar minhas mãos.

-Oi Claudia. – JunSu estava a minha frente, ele mesmo com o carrinho
cheio de praticamente tudo que eu também havia comprado, um sorriso
leve sempre parecia brincar em seus lábios. – que coincidência!

-Ah, oi... – falei dividida entre estar surpresa e sem graça – não é? Que
lugar estranho para que a gente se encontre...

-Verdade, mas moro aqui perto então... – JunSu não falou nada, ficando a
me esperar falar, nos olhos dele brilhavam alguma coisa e por isso
mesmo evitei olhar naquelas íris.

-Vim andar um pouco pelo bairro – expliquei soltando devagar o pote de
sorvete e movimentando os dedos quase criogenizados. – moro por esses
lados também e aproveitei que o mercado era perto pra comprar
besteiras.

-Conseguiu terminar seu trabalho da faculdade? – ele perguntou e olhei
para o além antes de responder com um aceno de cabeça – isso é bom
então.

-Sim, menos um na lista. – comentei com um sorriso amarelo e voltei a
olhar para o sorvete.

-Já está terminando suas compras? – JunSu me olhava com curiosidade
enquanto perguntava, assenti devagar. – ah, então posso te
acompanhar?
-Claro! – sorri e me voltei para pegar o pote de sorvete de flocos e outro
de frutas. – só mais isso e já vamos indo para o caixa.

-Okay, sem pressa... – foi a resposta que recebi.

Em alguns minutos chegamos a entrada do mercado, cada um com suas
sacolas – JunSu com algumas minhas, depois de muito insistir – fomos
andando até a faixa de pedestres onde era o local mais seguro para
atravessar naquela avenida tão movimentada, quando atravessamos
olhamos cada um para um lado.

-Eu moro para a esquerda. – apontei e JunSu balançou a cabeça
enquanto concordava e em silêncio fomos naquela direção – você
também mora pra esse lado?

-Te acompanho até sua casa... – a resposta dele não foi bem uma
resposta mas acabei aceitando mesmo assim, em minutos já estávamos
entrando na rua de minha casa, os postes iluminavam bastante a rua e
algumas crianças corriam enquanto brincavam no meio da rua. – olha,
uma rua sem saída... a tempos que não vejo nenhuma nessa cidade tão
grande.

-É realmente rara. – falei sorrindo olhando ao redor – eu gostei daqui
desde a primeira vez que vim olhar alguma casa por aqui.

-E aquele apartamento? – JunSu perguntei e não precisei pedir
esclarecimentos sobre o que ele falava.

-Vendi, meu noivo acabou não querendo nenhuma parte do dinheiro e
nem da venda dos moveis... – um sorriso nada feliz permeou em meus
lábios por alguns momentos ao lembrar que Hon Gi nunca mais quisera
entrar em contato comigo senão através de advogados e depois de todo o
papelão ele mesmo não quisera pegar nada de volta, deixando as coisas e
sua parte no apartamento como uma espécie de consolo pelo casamento
não realizado. – com o valor comprei essa casa e a mobiliei inteira, além
de investir um pouco em algumas outras coisas.
-Pelo menos não saiu por baixo não é? – observei JunSu que claramente
sabia que eu não queria ouvir um ‘sinto muito’ ou algo do tipo sobre
aquele assunto.

-Verdade, eu diria que sai rica. – sorri de verdade e apontei para a casa
no fim da rua. – eu moro ali, bem na casa que fecha a rua.

-Bem a sua cara mesmo. – ele desdenhou de brincadeira e sorri achando-
o um bobo.

Como estava cedo ainda, acabei convidando JunSu pra entrar, depois de
conversar sobre bobagens e após mostrar a casa para ele fomos pra
cozinha preparar algo para o jantar, eram poucos minutos depois das
sete da noite quando estávamos sentados a mesa da cozinha comendo
macarrão com molho a bolonhesa e um copo de refrigerante cada um.
Quando terminamos deixei as louças dentro da pia e fomos pra sala
descobrir o que estava passando na TV, apesar do temor inicial acabei
descobrindo o quanto era agradável e fácil conversar com JunSu,
finalmente achamos um filme que os dois não haviam assistido e fui fazer
pipoca no intervalo enquanto JunSu pegava as latas de refrigerante.

-Okay, que bosta de final foi esse? – perguntei novamente em menos de
cinco minutos, estávamos sentados em um sofá de palha colocado na
varanda de minha casa, observávamos as crianças brincando de futebol
na rua enquanto as meninas pulavam corda mais adiante. – não acredito
que perdi pelo menos uma hora e meia da minha vida vendo aquilo pra
terminar daquele jeito!

-Acontece... – JunSu se recostou no sofá e fechou os olhos – se formos
pensar na pipoca ficaremos mais tristes, então só vamos deixar pra lá.

-Boa decisão - falei dando risada.

Voltamos a conversar sobre outras coisas, parando em alguns momentos
apenas para observar as crianças que corriam ou só para ouvir os
barulhos da noite mesmo, já eram quase dez da noite quando JunSu se
levantou anunciando que precisava ir para casa. Tentei não me mostrar
decepcionada e no fim ele só saiu de lá com o número do meu telefone
marcado na agenda do celular e com todas as sacolas dele, o acompanhei
até o fim da rua e voltei sob os olhares atentos dele; assim que entrei em
casa corri para ligar o celular encontrando como o esperado varias
mensagens e ligações perdidas.

“Segunda vez que converso com ele e JunSu me pareceu ser realmente um
cara daqueles”. Escrevi e mandei a mensagem para os celulares do casal
vinte, desligando o celular em seguida e claro, desconectando o telefone
residencial antes de ir para a cama descansar um pouco; mal percebi
quando dormi novamente, apenas acordei assustada com o toque do
despertador me entristecendo ao marcar um novo dia. Me empurrei para
fora da cama e me arrumei pra ir na faculdade, não sabia bem o porque
de estar indo já que só teria uma aula e depois o casal vinte iria me
encher o saco até não terem mais tempo para fazer isso, colocando os
fones de ouvido fechei a porta da entrada e sai andando em direção a
garagem pegar o carro.

-E então, me conta tudo! Como você tem coragem de me mandar uma
mensagem daquelas e desligar o telefone? – Luane quase me encostou
na parede ao me ver andando pelo corredor do prédio onde
estudávamos.

-Bom dia pra você também... – respondi me livrando do aperto dos
braços dela com um sorriso, andei alguns passos e trombei em um peito
alto, largo e musculoso, suspirei já conformada com a situação - bom dia
pra você também Kaled.

-E ai, que história foi aquele de conversar com ele pela segunda vez? –
Kaled foi tão direto quanto a namorada e revirei os olhos.

-Vamos primeiro para a aula e depois nos falamos okay? – falei e fui
andando em direção a sala. mas tive meu braço segurado com suavidade.

-Aula cancelada hoje, professor está no hospital com a esposa, pediu
desculpas e nem teve tempo de preparar nada para preencher nosso
tempo. Agora conte tudo. – Kaled me cercou ao lado de Luane e
suspirando conformada sai andando com eles em direção ao refeitório.
-O caso é que eu já havia conversado com JunSu a alguns meses atrás... –
comecei a contar e depois mordi um pedaço de bolo de laranja com
abacaxi que havia comprado a poucos minutos.

-Quando? – minha amiga perguntou curiosa e evitei olhar para cima
quando respondi.

-No dia do casamento. – os dois ficaram calados e aproveitei a
oportunidade para comer mais um pedaço de bolo e tomar um gole de
suco de pera. – okay gente, vocês não precisam fazer esse silêncio
sepulcral tá? Isso tudo já passou com toda certeza e não sou uma
bonequinha frágil.

-É que... estamos surpresos só. – Luane comentou e olhei para os dois,
sem conseguir conter o riso que veio aos meus lábios ao ver o modo como
que eles olhavam ao redor tentando escapar de meus olhares acurados.

-Aham... – respondi mastigando mais um pedaço do bolo e então me
ajeitei na cadeira. – pois é, lembram de quando contei que conheci um
cara que me deu uma carona depois que sair da igreja? Pois então, foi
ele.

-Nossa... eu com toda certeza nunca ia imaginar que era o JunSu. – Kaled
comentou se ajeitando também na cadeira – claro que ele é um dos caras
mais bacanas que conheço e também o fato de ele ser perfeito para
você... nunca ia imaginar que era ele.

-Ah legal, vocês me colocaram para sair com um cara assim? – perguntei
querendo arrumar briga, sendo interrompida na hora pelo toque do
celular anunciando uma nova mensagem.

“Oi Claudia, é repentino e talvez cedo, mas você gostaria de almoçar
comigo hoje? Beijos, JunSu”

Li a mensagem mais duas vezes e só então abaixei o celular, olhei para
cima e vi os dois me olhando curiosos, limpei a garganta com um pigarro
e senti o rosto esquentar antes de tornar a pegar o aparelho e responder
a mensagem com um singelo ‘já te ligo’, me levantei da mesa pedindo
uma licença básica e tão logo me vi longe das vistas dos dois sai correndo
em direção a um lugar afastado; por precaução esperei minha
respiração voltar ao normal para só então ligar para o número marcado
na lista.

-Oi JunSu. – falei assim que ele atendeu. – desculpe a demora.

-Estou atrapalhando? Você estava na aula? – JunSu respondeu e sorri
observando a preocupação dele.

-Na verdade o professor nem veio, é que estava no meio de uma
inquisição, se é que você me entende... – falei e ouvi a risada rouca de
JunSu. – mas então, almoço onde?

-Tem algum restaurante bom ai perto? – ele sugeriu e pensei um pouco.

-Bom, tem um que fica perto da minha casa, é um pouco longe daqui mas
a comida é maravilhosa, tem de todos os tipos... acho que você vai gostar.
– dei minha sugestão e esperei pela resposta.

-Okay, nos encontramos a que horas? Posso passar ai pra te buscar? –
senti meu rosto esquentar novamente e mordi meu lábio inferior sem
saber o que responder. – vou interpretar seu silêncio como um sim, tudo
bem?

-Na verdade, se você quiser passar agora eu tenho tempo. – ofereci ainda
corada.

-Me espera no portão? Já estou chegando... – JunSu de alguma forma
parecia ansioso e sorri animada.

-Já estou indo! – encerrei a ligação e sai correndo novamente até o
banheiro mais próximo, refiz a maquiagem com rapidez tentando não
fazer a pele suar e estragar tudo, ajeitei a roupa xingando baixo por não
ter me vestido melhor e só então sai andando um tanto rápido até o
portão.

Me sentei em um banco ali perto pra esperar e apenas afastei um dos
fones para que pudesse ouvir se JunSu chegasse e me chamasse, estava
distraída olhando a rua quando meu celular apitou o sinal de mensagem;
peguei e olhei para a tela curiosa, arregalando os olhos em seguida ao
ler o conteúdo da mensagem.

“Você está linda” era o que dizia a mensagem, olhei ao redor tentando
achar aquela figura alta e só após uma pesquisa detalhada acabei
vendo-o sentado no banco do outro lado da rua, suspirei confirmando
que eu realmente não tinha capacidade para enxergar nada que
estivesse muito a minha frente, tipo... qualquer coisa estando na minha
frente estava melhor escondida do que se estivesse em um cofre no
subterrâneo.

Me levantei do banco no exato momento em que o sinal para pedestres se
abriu e JunSu veio andando em minha direção, observei com curiosidade
a expressão determinada que ele tinha no rosto enquanto se aproximava
de mim, sentia as mãos suarem de nervoso e forcei um sorriso enquanto
tentava esconder um sorriso nervoso, ergui a mão para acenar quando
ele chegou mais perto mas a tive cativa com a mão dele ao mesmo tempo
em que a mão livre passava por minha cintura fazendo com que meu
corpo se chocasse com o dele em um movimento súbito.

-O quê.. – ia falar quando tive meus lábios capturados de modo rápido
mas delicado pelos dele, nossos lábios se encaixavam bem, sem agredir
ou sobrepujar o outro; foi um toque delicado, duradouro mas ainda
assim leve e em seguida ele se afastou. – o quê...

-Desculpe, eu não pude me controlar... – JunSu falou em tom baixo, o
rosto ainda próximo ao meu e sem querer sorri olhando nos olhos dele.

-Tudo bem... que bom que você não pode se controlar. – respondi e ele
sorriu também, encaixando meu braço no dele e andando em direção a
faixa de pedestres novamente.

-Vamos comer alguma coisa... – seguimos andando pela calçada até
atravessarmos a rua e entrar no carro de JunSu, que sorriu pra mim e
ligou o som do carro antes de dar a partida.
                                 
-Claudia! Claudia, volta aqui! Não foge de mim! – escondi meu riso
enquanto andava mais depressa me aproveitando que minha amiga era,
ao contrário de mim, um desastre andando de salto alto por isso tinha
que andar devagar. – Clau!

-Desiste Luane, eu não vou te contar nada. – respondi e não aguentei
segurar a risada ao ouvi-la se segurando na parede do corredor. – eu não
tenho nada pra falar e você sabe disso... apenas sai com ele, conversamos
e estamos combinando de ir ao cinema ou ao parque. Viu, não tem mais
nada...

-Não acredito em você... – ela gritou e vi as pessoas a minha frente
olharem para trás, aproveitei que estava perto da porta de saída e
coloquei os óculos escuros já prevendo a forte luz do sol.

-Cadê a sua sombra? Não veio hoje? – perguntei e antes que eu
alcançasse a porta meu braço foi segurado por um aperto conhecido,
suspirei aceitando a derrota e parei ao mesmo tempo em que minha
amiga me alcançava. – eu devia saber....

-É, você devia. – Kaled riu e seguimos os três para o restaurante mais
próximo, como estávamos perto da hora do almoço já escolhemos os
pratos e nos sentamos a uma mesa no centro do salão. – então,
desembucha...

-Aigoo! Como vocês são curiosos por nada! – falei exasperada enquanto
ajeitava minha bolsa no encosto da cadeira. – a gente foi almoçar ontem,
depois conversamos mais um pouco e ele me deixou em casa. Foi só isso,
eu gostei da conversa e estamos vendo de nos ver outras vezes,
satisfeitos?

-Só isso? – o casal perguntou junto e assenti com a cabeça pegando o
copo de água em seguida, enquanto bebia deixei de comentar que
havíamos passado o dia conversando e eu só chegara em casa por volta
das sete da noite. – achei que tinha mais...

-Por exemplo, eu dormir com ele ou algo assim? Um beijo? – perguntei e
os dois me olharam suspirando em seguida.
-Não, isso seria demais até pra você... – ergui uma sobrancelha ao
identificar aquele tom de certeza na voz dos dois.

-Ah, valeu... – respondi e Luane segurou minha mão enquanto o
namorado ria.

-Quero dizer que... sabe, você não anda tão bem desde o... – ela parou e
olhou para Kaled que suspirou.

-Desde o seu quase casamento. – ele finalizou e ergui mais a sobrancelha,
agora falar daquilo não significava mais nada pra mim, sequer o velho
sentimento de raiva. De algum jeito também aquela frase não me
ofendeu, JunSu tivera no dia anterior, feito algumas referencias ao
casamento e eu não me irritara com ele, então com meus amigos estava
tudo bem.

-O que vocês querem realmente dizer? – perguntei olhando para os dois
bem séria e estreitando os olhos quando ambos ficaram quietos. – ah
qual é gente! Falem logo!

-Você não está apenas brincando com ele não é? – Kaled perguntou em
tom sério olhando em meus olhos, fiquei muda sem saber bem o que
responder. – me responde Claudia.

-Eu não... – respirei fundo e dei de ombros – não é como se eu fosse me
casar com ele gente! Estamos nos conhecendo e nos tornando amigos,
não tem essa de ninguém estar brincando com ninguém... estou apenas
conhecendo JunSu melhor sabe? Nada demais.

-Hmm... – minha amiga me olhou desconfiada e depois olhou para o
próprio namorado – ela está brincando com ele.

-Claro que não! – falei com raiva da acusação – eu não estou brincando
com ninguém!

-Claro que você está Claudia... – Luane olhou pra mim, o olhar como se
conhecesse minha alma. – você ainda está ferida com Hon Ji e não admite
cair nessa novamente, então o que você está fazendo com JunSu?
-Acreditei que vocês entendessem o meu medo de me machucar, de
passar por vexame novamente, mas pelo que vejo só estão preocupados
em como fazer Kaled escapar da família da noiva de Kaled e também em
não perder um ao outro quando essa droga de faculdade acabar. – virei
as costas e sai andando já sabendo que nenhum deles viria atrás de mim,
eles tinham os próprios problemas para resolver e não ligavam pra mim,
me colocando no meio do pacote geral em que todas as pessoas me
colocavam ao saber sobre o meu casamento.

Eu andava rápido como se estivesse descalça, alcancei os fones de ouvido
na bolsa e coloquei-os no ouvido ao mesmo tempo em que ligava a
música no ultimo volume e desaparecia portão afora do terreno da
universidade; ao meu redor o mundo passava rápido mas era como se eu
não o visse enquanto pensava em meus próprios problemas. Caminhei
até que senti meu joelho doer como sempre fazia nesses momentos em
que eu andava muito, parei um pouco e olhei ao redor, tentando me
encontrar no meio daquela cidade tão grande, soltei o ar pela boca e
passei a mão pela testa tirando a leve linha de suor que havia ali; peguei
o celular ligando o GPS e vendo que eu estava em um dos lugares
alternativos para chegar até a ponte famosa de Seoul.

Caminhei até lá pensando em pegar um taxi até em casa e depois
mergulhar embaixo dos lençóis, mas quando cheguei até perto do rio
fiquei observando a água calma enquanto tentava colocar a cabeça para
pensar e só então sair do modo de espera em que eu deixava minha
cabeça naqueles momentos. Me sentei o mais perto possível da água e
retirando os sapatos coloquei os pés através da superfície fria, senti o
corpo se arrepiar mas me mantive firme, mexendo os pés delicadamente
fui sentindo o peso das minhas palavras sobre meus amigos, o fato de que
nenhum dos dois havia me ligado era um forte indicador de como estava
a relação deles comigo.

As horas foram se passando e meu estômago roncou de fome, mas mesmo
assim eu não queria sair dali... não ainda... ergui o rosto observando o
céu que naquela hora se tornara nublado de uma forma que indicava
fortemente chuva no fim do dia; respirei fundo e devagar enquanto via as
nuvens passarem e quando me ergui vi uma barraca de comida ali perto,
segurando a bolsa de qualquer jeito caminhei até lá e me sentei a uma
mesa.

-Ajumah! Um toppoki, por favor. – pedi assim que a mulher chegou perto
de mim, ela sorriu e acenou, trazendo meu pedido em alguns minutos.
Comi quieta, quase não sentindo o gosto da comida e apenas registrando
um sabor aqui e ali, acabei pedindo outro prato e deixei apenas o molho
no prato; paguei a conta e quando sai olhei pro céu novamente, apenas
confirmando que agora a chuva não demoraria tanto a cair, continuei
andando e estava perto do metrô quando as primeiras fortes gotas
começaram a cair.

Andei mais devagar desistindo de pegar o metrô, as ruas aos poucos iam
se esvaziando a medida que a chuva se intensificava; verifiquei se minha
bolsa era segura para proteger meus documentos e aparelhos eletrônicos
e então, relaxei. Andando devagar para não deslizar nos saltos fui
observando a ação da água em vários lugares, o frio aumentou mas eu
me sentia bem, era boa aquela sensação de estar no meio do nada, com
apenas um único som ao seu redor... apenas parei quando meu braço foi
segurado, olhei para trás e pisquei devagar. Uma vez, então duas...
pisquei mais uma vez e só então entendi que JunSu estava parado a
minha frente, segurava meu braço e falava comigo.

-O quê? – me senti na obrigação de perguntar e ele me olhou confuso.

-Perguntei o que você faz aqui... você está bem? Vamos sair dessa chuva!
– ele segurou minha mão e começou a me levar até o toldo mais próximo,
resisti e ele me olhou confuso. – Claudia?

-Eu não posso continuar te vendo JunSu. – falei e ele parou por um longo
momento, apenas me olhando; de repente minha respiração acelerou e
eu precisava falar. – eu não acredito que eu seja garota pra casar, ter
família, essas coisas sabe? E eu acho que você é esse tipo de cara que
aprecia isso entende? Eu não posso continuar te vendo.

-E se eu disser que quero ser apenas seu amigo? – meu coração falhou
uma batida quando JunSu olhou em meus olhos e perguntou aquilo, mas
eu já tinha uma resposta.
-Iríamos continuar a nos ver.

-Que bom, então problema resolvido. – ele entrelaçou os dedos com os
meus e deu um passo em direção ao toldo novamente.

-Mas mesmo assim não daria certo. – falei e ele parou de novo, me
olhando. – porque eu nunca vou conseguir conviver com você somente
nesses termos e ia começar a imaginar coisas e... bom, eu ia acabar
usando um vestido de noiva.

-E... – agora JunSu já havia desistido de andar e me olhava curioso, acho
que nada mais naquele mundo chamaria a atenção dele naquele
momento.

-E daí que eu iria surtar no dia do casamento e acabar fugindo.! – falei
como se fosse o obvio e o vi erguer a sobrancelha. – digo... eu não consigo
mais entrar em uma igreja pra me casar sabe? Não sei se sequer aguento
ver alguém se casando!

JunSu riu baixo e o olhei incrédula, o som da risada aos poucos foi
aumentando de tamanho enquanto a chuva forte continuava caindo
sobre nós, me afastei um passo assim que a risada se transformou em
uma gargalhada, fazendo com que a pessoa a minha frente praticamente
se dobrasse de tanto rir; por fim, cansada daquilo dei mais um passo
atrás, virei as costas e sai andando.

-Hey, desculpe por isso! – JunSu segurou minha mão e entrelaçou os
dedos nos meus antes de limpar a garganta e se colocar novamente a
minha frente. – sabe... se você quiser apenas continuar a me ver já será
um grande passo não acha?

-Como...

-Não digo que a gente vá se casar agora, mas quem sabe né? – ele deu de
ombros e se aproximou mais de mim, o outro braço enlaçando minha
cintura e me levando para muito mais perto dele, em meio a todo aquele
frio ao nosso redor, o halito morno dele tocou meu rosto com delicadeza.
– por enquanto...
E então os lábios dele capturaram os meus, os dedos entrelaçados se
apertaram ao mesmo tempo em que nossos corpos se colaram, as
caricias das línguas eram feitas devagar e eu me senti derreter; na
verdade, parecia que eu era um pequeno cubo de açúcar lançado
naquela chuva, tudo graças a aquele momento... ergui a mão para apoiá-
las na nuca de JunSu e o trazer para mais perto, as pontas dos dedos
mexendo nos cabelos encharcados, fazendo uma caricia suave enquanto
eu me perdia no beijo.

-Por enquanto...? – perguntei ofegante enquanto descansava o rosto no
peito dele ao mesmo tempo em que tentava recuperar o fôlego.

-Run my little Bride... – JunSu sussurrou em meu ouvido e ergui a cabeça
para observá-lo, vendo o sorriso leve brincar nos lábios carnudos. –
apenas corra...

Sorri e me ergui na ponta dos pés, ao mesmo tempo em que ele abaixava
o rosto, nossos lábios se encontraram novamente... em minha cabeça, um
pedaço de uma música soava.

“You better run far from me...”

                             And after we’ll be happy, itsn’t an end 

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  • 1. Run my little Bride! O som da marcha nupcial cessou o vozerio dentro da nave da igreja e respirei fundo, ajeitei a saia longa do vestido e colocando o buquê na posição correta coloquei um sorriso no rosto e testei dar um passo à frente; uma mão enluvada se colocou embaixo da minha e sorri ao olhar para Kyu Hon Ji, que me exibia um sorriso confiante ao mesmo tempo em que olhava para frente. -Os noivos, por favor, entrem... – ouvimos o mestre de cerimônias falar e contando juntos até três começamos a andar, colocando os passos no mesmo ritmo que o outro, os aplausos começaram assim que fomos avistados e coloquei um sorriso maior no rosto ao ver todos ali presenciando aquele momento. “Você não deveria estar fazendo isso.” Uma voz me provocava com essas palavras a todo momento, franzi um pouco a sobrancelha tentando ignorar aquilo, mas a voz teimosa me acompanhou até o altar. Pouco antes de subirmos para o pequeno palco postado em frente ao pastor olhei para meus pais, eles sorriam emocionados ao me ver ali vestida de branco e pronta pra dizer sim.
  • 2. “Ainda dá tempo de sair correndo sabe? Ou finge um desmaio... algo assim. Seria épico e todos iriam entender depois” a voz continuava me provocando e fiz mais uma careta com aquilo,respirei fundo e tentei me concentrar na voz do pastor, que falava com entusiasmo sobre amor, compromisso e educação dos futuros filhos. Foi então que ele fez a pergunta cabal. Você o aceita como seu marido, para amar, respeitar e cuidar até que a morte os separe? Abri a boca para responder, mas me senti incapaz de dizer a simples palavra imediatamente, respirei fundo e olhei com firmeza para o pastor. -Eu... – comecei, mas fui interrompida. -Antes de ela responder, eu queria falar algo... – Hon Ji se mostrava nervoso e parecia mais pálido que o normal. – eu.. eu sinto muito... -Você está querendo dizer...? – perguntei com um tom de suspeita na voz. -Sim, é isso... eu não posso me casar. Não ainda. Me desculpe... – ele olhou pra mim com medo da minha reação, que geralmente não era boa, mas agora podia estar pior do que em qualquer outro momento. – me desculpe. Olhando mais uma vez pra ele, me virei para a multidão e dei um sorriso educado. -Bem senhoras e senhores, é isso. Ele não pode se casar e eu não quero também. – falei e pude ouvir os sons de surpresa e olhos arregalados, com o canto dos olhos vi a mãe do noivo desmaiar e minha mãe seguir o mesmo caminho. – agradeço por terem vindo e boa volta para casa. Pode deixar que eu me viro com a bebida, o bolo e os doces. Após desencorajar todos de ao menos sonhar com meus bolos e doces, me virei para o noivo - Hon Ji – que me olhava com medo, mas ainda permanecia corajosamente lá. Dei um passo à frente e ergui meu véu para que ele visse minha expressão calma, me erguendo na ponta dos pés
  • 3. deixei meus lábios tocarem a bochecha macia dele e depositei um beijo delicado ali. Quando me afastei ele sorriu pra mim e parecia menos pálido, sorri pra ele e ergui a mão para acariciar seu rosto ao mesmo tempo em que meu joelho esquerdo se erguia sob a saia longa e eu acertava o pequeno companheiro de viagem dele. O salão se encheu novamente de sons horrorizados assim que o noivo desabou ao meu lado e continuei com minha expressão calma vendo os amigos dele correndo para ajudar o ser que rolava no chão indo de um lado para o outro, suspirando segurei a ponta do vestido e levantei um pouco, para que ficasse fácil para que eu andasse. Então calmamente fui andando ao longo da nave, com o vestido erguido um pouco acima do chão, fui andando sentindo que tudo ao meu redor andava mais devagar, as pessoas me olhando algumas com olhar de pena, outras divertidas e outras ainda admiradas... Assim que sai daquele lugar parei perto da calçada e respirei fundo sentindo o ar mais leve penetrando em meus pulmões e me livrando dos pedaços de angústia e tristeza que eu sentia. Olhei para a faixa de pedestres mais a frente e comecei a andar até lá, notei que um taxi me acompanhava durante toda a caminhada, virei um pouco a cabeça para olhar mas continuei andando como se não fosse estranho eu estar parecendo um bolo de casamento andando na calçada como se nada estivesse acontecido de estranho. -Com licença...? – ouvi uma voz hesitante falar comigo e me dignei a apenas olhar brevemente a pessoa, um homem que falava comigo enquanto estava sentado no banco de trás do carro. – posso te ajudar? -Me deixando sozinha já é um grande bem que me faz... – respondi de má vontade e continuei andando, mas o carro não parou de me seguir. – escuta aqui, eu pareço estar precisando de ajuda ou algo assim? -Calma moça... – o homem no banco de trás falou erguendo as mãos em sinal de rendição. Em seguida ele saiu do carro e parou a minha frente –
  • 4. só pensei que você parece um tanto calma demais... está indo para seu casamento? -Estou voltando dele – continuei andando enquanto falava, se o cara estivesse tão interessado ele andaria ao meu lado e foi isso que ele acabou fazendo. – meu noivo fugiu com a dama de honra. -Sério? – olhei para os olhos escuros arregalados e o queixo dele quase rolando pela rua e sorri. -Não, brincadeira. – ri mais alto e maleficamente – no momento ele está rolando pelo piso da igreja pensando se vai ter filhos um dia. -Você quer dizer...? – ele fez cara de dor e diminuiu os passos. -Sim, foi algo bem do tipo que você está pensando... – sorri meio sem humor e olhei pra ele. – olha, foi até bom conversar com você mas agora vou indo okay? Preciso chegar em casa e ficar um tempo sozinha. -Quer carona? – ele apontou para o taxi que nos seguia, aparentemente o homem tinha pedido para que o motorista o esperasse. – ele pode te levar a qualquer lugar... -Acho que vou aceitar, já basta de chamar a atenção parecendo um bolo super confeitado no meio da rua... – dei de ombros e entrei no taxi, mal registrando que o homem entrou também e sentou-se ao meu lado após afastar grande parte da saia para o lado. Dei o endereço da minha nova casa e fomos em silêncio até lá, em poucos minutos chegávamos em frente a um prédio altíssimo e moderno, o homem me ajudou a sair do carro e segurou minha mão até a entrada do prédio, depois me surpreendendo ele roçou os lábios em meus dedos de leve e sorriu pra mim. -Obrigado... pela carona. – falei baixo e continuei olhando para ele. -Imagina... você vai ficar bem? – o olhar dele mostrava preocupação e de algum jeito em sentia dentro de mim que era sincera.
  • 5. -Vou sim... – sorri de dei de ombros – é lógico que em algum momento vou chorar, querer quebrar as coisas ou ligar para meu ex-noivo e xingá- lo até a morte, mas no fim vou ficar melhor do que antes... -Okay então.... – ele sorriu como que para me dar coragem e deu um passo atrás. – foi um prazer poder te ajudar...? -Claudia. – entendi a diretíssima e falei meu nome. -JunSu. – ele disse o nome dele em resposta e depois sorriu – até qualquer dia desses Claudia. -Até JunSu... – falei e acenei brevemente para em seguida ir para dentro. Não olhei sequer uma vez para trás. 9 meses depois... -Claudia! Eu não acredito que você está terminando comigo por algo tão banal quanto isso! E o nosso amor é o quê pra você? Lixo? Bip. Suspirei de olhos fechados e continuei deitada no sofá enquanto balançava os pés de forma leve e ritmada, mais um namoro terminado. E esse também acabou por um modo também simples. Ele tinha pela primeira vez me deixado pra sair com os amigos no fim de semana. É, eu podia ser intolerante as vezes... 18 meses depois... -Hey gata... você ficou de me ligar pra gente marcar um terceiro encontro mas já faz um mês que isso aconteceu... queria saber se eu não te atraio mais? A gente parecia estar se dando bem não é? Me liga...
  • 6. Bip. 23 meses depois... -Hey Clau! Tenho um amigo novo pra te apresentar! Você vai adorá-lo com certeza... ele é um pouco diferente do que você está acostumada, mas certeza que vocês vão se dar bem okay? Te encontro na faculdade. Bip. Apertei o botão para deletar a mensagem e me joguei em seguida no sofá ali perto, suspirei ao sentir a maciez do tecido e olhei para o teto da sala. Eram exatas uma da manhã e eu havia acabado de chegar em casa, me levantei do sofá com um tanto de dificuldade, andando devagar fui me jogar na cama em meu quarto, o banho eu tomaria quando acordasse... O barulho horrível e alto do despertador me acordou e me forcei a levantar, hoje não poderia faltar nas atividades da faculdade, estava no ultimo ano e qualquer assunto perdido poderia ser a peça que eu precisaria para passar com louvor (todos morrem). Apliquei bastante maquiagem para disfarçar meus olhos inchados de sono, coloquei um vestido leve e calcei chinelos de dedo, amarrei o cabelo em um coque desajeitado, peguei a bolsa e sai do apartamento. Pra não me atrasar acabei pegando um taxi na grande avenida duas ruas acima e minutos depois chegavam em frente ao grande campus da faculdade. Com os ouvidos ocupados pelos fones foi preciso uma aproximação mais violenta sobre mim e tudo graças aos meus dois lindos amigos com quem eu estudava, uma garota mais branca que um papel – ela era praticamente albina – de cabelos ruivos e olhos cor de mel, baixinha estava acompanhada de um rapaz alto, de cabelos e olhos escuros enquanto a pele cor de oliva e o queixo proeminente não negavam sua origem árabe.
  • 7. -E começou a operação “Vamos fazer do dia da Claudia uma droga”, bom dia para vocês também... – falei fazendo um muxoxo assim que tive meu cabelo arrumado por minha atenciosa amiga. -E começou o drama isso sim, vamos lá que hoje temos palestra. – tive meu braço segurado pelo moreno que ficou no meio enquanto nós duas andávamos lado a lado com ele. – apressem esses passos minhas caras damas... Chegamos na sala de aula antes do professor entrar e nos sentamos nas cadeiras na parte superior da sala, abri meu livro assim que a palestra começou e dediquei minha atenção em descobrir qual era o mistério que o personagem principal escondia; estava concentrada quando vi um bilhete passando pra mim, o peguei e li rapidamente olhando curiosa para o casal ao meu lado. Sim eles eram um casal muito engraçado: Luane, da África do Sul e Kaled de um pequeno principado no Oriente Médio, quem olhasse de fora veriam aquele pequeno caldeirão multicultural que os dois eram e achariam no mínimo curioso a sincronia entre eles, curiosamente quem olhasse de perto como eu também veriam a mesma coisa. -Um almoço pra conhecer um cara? Estão malucos? – perguntei quase sussurrando mas tentando colocar minha indignação mesmo assim. -É só um almoço Clau, o cara não vai querer você como sobremesa entende? Te falei que ele é diferente dos tipinhos com quem você está acostumada... – Luane respondeu parecendo ofendida e fiz um som de desdém. -Escuta aqui... – comecei mas fui interrompida pelo professor. -Senhorita Claudia, você se importa em partilhar com a turma qual o tema da sua conversa? – olhei para o professor que sempre me pareceu um tanto arrogante e sorri. -Bom, eu estava discutindo aqui sobre a possibilidade de conhecer um cara legal pra casar. Segundo esses dois – apontei para Kaled e Luane – aparentemente marcaram um encontro pra mim hoje, só que na hora do almoço. O que você acha?
  • 8. A sala ficou em silêncio e o professor olhou pra mim incrédulo ao mesmo tempo em que minha amiga gemia baixinho, fingi que não vi e continuei olhando para o professor. -Bom... – ele parecia realmente estar pensando na ideia um tanto inusitada e na hora quase ouvi o barulho de queixos caindo ao chão, pelo menos da metade de alunos que ouvia aquela palestra “tão’ interessante’ – talvez você deva se dar uma chance não é? – então ele olhou sério pra mim – desde que aquele cara que você nem conhece não atrapalhe mais minha aula... -Prometo! – sorri pra ele e pisquei enquanto o senhor grisalho que dava a aula sorriu e se virou para o quadro, passando a copiar alguns tópicos. Olhei pro lado e vi o casal 20 me olhando incrédulos, mas sabia que o que mais assustou eles foi a atitude do professor. -Quando acho que nada de surpreendente pode acontecer você me aparece com essa Clau! – Kaled comentou e apenas sorri em resposta, pelo menos com a ‘sugestão’ do professor eles iam me deixar em paz até o resto da aula. Assim que acabou fui cercada pelos dois, que em poucos minutos me passaram a ficha completa do pretendente que tinham intenção de me fazer cair de amores pelo resto da vida, Luane tratou de se trancar no banheiro comigo e meio que a força esfregou um algodão com demaquilante em todo meu rosto, aplicando uma nova maquiagem em seguida; com as pálpebras delicadamente delineadas por uma linha verde clara, nos cílios máscara também verde mas de um tom mais escuro, nos lábios um batom nude e então meu cabelo preso com um pequeno topete que o deixava estiloso ao mesmo tempo em que organizado. Também surgido de não sei onde Luane colocou um pedaço de fita verde acinturando meu vestido branco gelo, combinando assim a produção em branco e verde com minha sapatilha de veludo verde, quando a transformação terminou fiquei me avaliando no espelho por alguns momentos, sorrindo ao ver que realmente aqueles dois estavam dispostos a voltar para os trilhos rapidamente, já que desde que minha cerimônia de casamento não dera certo eu só saíra com os tipos errados
  • 9. para mim, terminando com eles em momentos inconvenientes e claro, prematuros. -Pronto, agora sim... – Kaled falou assim que saímos do banheiro, ele sorria enquanto retirava as mãos do bolso e retirava de lá uma pequena caixa preta de veludo, o olhei desconfiada quando vi a caixinha que ele me estendia e com minha falta de reação meu amigo simplesmente bufou e segurando meu braço esquerdo abriu a caixa, em segundos uma delicada pulseira de prata era fechada em meu pulso, pequenos pingentes caiam dela e parei para admirar o presente, um sorriso encantado em meu rosto. -Oh meu Deus, que linda! – falei olhando com atenção para a pulseira até que senti algo frio em meu colo e faltei dar um pulo, um colar com uma fina corrente fazia par com a pulseira havia sido colocado em meu pescoço, olhei no espelho arregalando os olhos ao ver uma esmeralda esculpida como pingente, descansando pouco acima do decote do vestido. -Gente, mas para quê tudo isso? Será só um almoço! – falei chocada e os dois sorriram pra mim como se eu não tivesse dito nada. -Queremos você linda para hoje, não parece claro? – Kaled respondeu abraçando a namorada pelos ombros, ele sorria parecendo um pai orgulhoso vendo a filha vestida para o baile de formatura. -Vocês estão me assustando sabia? – falei tocando o pingente com a ponta dos dedos. – um conjunto de semi-jóias para um almoço com um desconhecido? Ora, vamos lá! -Fique calada, não reclame de nada e vá já para seu almoço mocinha. – minha amiga respondeu e fiz uma careta antes de balançar a cabeça derrotada. Me despedi deles e fui pegar um taxi para atravessar alguns quarteirões até o restaurante onde o encontro estava marcado, como era perto eu preferia ir andando mas como sempre a dupla do amor me proibiu. Você deve parecer fresca e leve quando chegar lá e não esbaforida e descabelada com o vento que vai pegar até chegar lá a pé, foi isso que uma ultrajada Luane me respondeu quando sugeri a possibilidade de
  • 10. poupar a grana do taxi. Quando o carro parou em frente ao restaurante paguei a corrida e desci ajeitando disfarcadamente a saia do vestido não querendo que estivesse amassada, ajustando a bolsa branca no ombro entrei no recinto procurando a tal mesa de canto que haviam reservado para o encontro, uma das atendentes me ajudou a chegar até a mesa e anunciou com um sorriso que o outro ocupante da mesa já chegara, mas que fora atender a um telefonema. -Tudo bem, eu espero aqui. – respondi com um sorriso e bebi um pouco da água, dispensando assim de modo educado a mulher. Quando fiquei sozinha olhei para o ambiente do lado de fora que a grande janela de vidro ao meu lado exibia, desejava muito não estar ali mas sim em casa vendo TV ou dormindo. -Desculpe a demora... – me virei lentamente ao ouvir a voz que falava comigo, o coração batia forte a lembrança daquela mesma voz que eu ouvira a vários meses atrás. Meus olhos passeavam observando cada detalhe daquele rosto que era meu companheiro de sonhos desde o dia do meu não-casamento. – olá Claudia. -JunSu... – falei em tom baixo olhando nos olhos dele, observei com atenção enquanto ele sorria pra mim e se sentava na cadeira a minha frente, o jeito despreocupado dele me deixava alerta, meus olhos não deixavam sequer uma expressão escapar. -Você parece realmente surpresa. – JunSu comentou me avaliando também e balancei a cabeça, ainda controlando a vontade de deixar meu queixo cair com a surpresa. -Ah... – me recuperei um bocado e tentei com todas as forças recuperar meu jeito descontraído de sempre. – digamos que meus padrinhos não me contaram absolutamente nada sobre esse almoço, apenas disseram que eu tinha que vir. Como pode ver, se não houvesse sol hoje eu estaria cega mesmo sabe? Rimos juntos e em seguida apareceram com o cardápio, acabamos por decidir juntos e pedi frango grelhado enquanto JunSu escolheu um filé
  • 11. mignon ao molho madeira, quando o garçom se afastou ele sorriu pra mim, um sorriso suspeito e muito curioso. -Então Claudia... – observei JunSu por cima da borda do copo de cristal que eu tinha nas mãos. – eu só sei isso sobre você, seu primeiro nome. -Então estamos quites. – comentei piscando brincalhona. – Choi Claudia, encantada em te conhecer formalmente. -Kim JunSu – ele piscou pra mim e sorriu. – finalmente sei mais que o seu primeiro nome. -Como se esse tempo todo você tivesse ficado curioso... – comentei fazendo uma careta e JunSu ficou calado, apenas um pequeno sorriso estava nos lábios dele, endireitei a coluna o olhando curiosa. – ou será que...? -Sim, eu fiquei curioso... – ele respondeu, os olhos revelando a verdade. – mas considerando toda a situação eu preferi não insistir. -Hm... – não respondi, mas por dentro o coração palpitava com a informação. Nossos pedidos chegaram e comemos em meio a um silêncio confortável, fazendo um comentário aqui e ali, o clima estava confortável e eu me via a cada momento querendo que aquele almoço durasse mais e mais; a sobremesa, petit gateau com sorvete de menta e cobertura de caramelo, chegou e comi sentindo um gosto de tristeza por saber que mais alguns minutos e já estaríamos cada um seguindo seu caminho. Eu sabia disso porque tinha uma única certeza em toda minha vida sobre aquele momento: JunSu era encantadoramente perigoso, a qualquer momento eu poderia me apaixonar por ele e então eu realmente estaria perdida para sempre. -Tem algo da faculdade pra fazer hoje a tarde? – virei a cabeça para olhar JunSu, atrás dele estava a rua que aparecia naquele momento em que havíamos saído do restaurante, pensei com cuidado sem deixar que minha expressão revelasse absolutamente nada.
  • 12. -Um trabalho para essa semana, desculpe. – falei erguendo os ombros em um pedido de desculpas, olhando curiosa quando ele sorriu brevemente antes de acenar com a cabeça. -Tudo bem então, posso pegar seu telefone pra ligar e marcar algo pro final de semana? – não pude resistir a esse pedido e pegando um cartão da carteira entreguei a ele, que observou o cartão por breves momentos e então o colocou no bolso me dando mais um daqueles sorrisos. – entro em contato, prometo não te atrapalhar nas suas atividades da faculdade ou do trabalho. -Agradecida. – respondi com um sorriso involuntário, olhei brevemente no visor do celular, conferindo as horas. – bom, agora tenho que ir terminar aquele trabalho. -Tudo bem. – JunSu se aproximou e fez um carinho leve em meu rosto, se afastando em seguida. – foi um prazer rever você Claudia, é bom pensar que agora seu sobrenome. -Bobo... – respondi corando um pouco e dando graças a Deus por minha pele ser morena e não aparentar meu rubor. – foi bom te ver também. Nos despedimos e peguei um taxi em frente ao restaurante, cheguei em casa desligando o celular imediatamente já sabendo que seria bombardeada de perguntas tão logo alguém entrasse em contato com JunSu e ele contasse que cada um já havia ido para um lado, com um gemido me joguei na cama e levei as mãos aos cabelos para bagunça-los com força, a cabeça me lançando vários pensamentos ao mesmo tempo. Ergui a cabeça assustada olhando o relógio, constatando que já eram cinco da tarde e que eu havia dormido antes que me desse conta daquilo, minha roupa estava completamente amassada mas a maquiagem estava intacta graças aos produtos caros que haviam sido passados em toda a extensão de meu rosto. Troquei de roupa, colocando um short preto não muito comprido, uma blusa folgada e larga que cobria praticamente todo o short, amarrei o cabelo em um coque frouxo e fui ao mercado mais próximo comprar bobagens para comer durante o jantar, tinha deixado o celular em casa
  • 13. ainda desligado já que tentava com todo o afinco não falar com Luane ou Kaled; foi somente quando passei pelo hall do prédio onde morava que me dei conta da atitude de JunSu, corei ao meu dar conta de que ele apenas lançara a desculpa e a agarrei sem sequer perceber, por isso ele sorrira. Chateada comigo mesma sai para a rua, andando de modo automático até o mercado na rua próxima, assim que entrei peguei um dos pequenos carrinhos e comecei preparar os ingredientes da gordice em massa que eu iria patrocinar na hora do jantar, estava totalmente concentrada em escolher apenas um sabor de sorvete quando senti um toque em meu ombro, olhei curiosa para trás sentindo o pote de sorvete praticamente congelar minhas mãos. -Oi Claudia. – JunSu estava a minha frente, ele mesmo com o carrinho cheio de praticamente tudo que eu também havia comprado, um sorriso leve sempre parecia brincar em seus lábios. – que coincidência! -Ah, oi... – falei dividida entre estar surpresa e sem graça – não é? Que lugar estranho para que a gente se encontre... -Verdade, mas moro aqui perto então... – JunSu não falou nada, ficando a me esperar falar, nos olhos dele brilhavam alguma coisa e por isso mesmo evitei olhar naquelas íris. -Vim andar um pouco pelo bairro – expliquei soltando devagar o pote de sorvete e movimentando os dedos quase criogenizados. – moro por esses lados também e aproveitei que o mercado era perto pra comprar besteiras. -Conseguiu terminar seu trabalho da faculdade? – ele perguntou e olhei para o além antes de responder com um aceno de cabeça – isso é bom então. -Sim, menos um na lista. – comentei com um sorriso amarelo e voltei a olhar para o sorvete. -Já está terminando suas compras? – JunSu me olhava com curiosidade enquanto perguntava, assenti devagar. – ah, então posso te acompanhar?
  • 14. -Claro! – sorri e me voltei para pegar o pote de sorvete de flocos e outro de frutas. – só mais isso e já vamos indo para o caixa. -Okay, sem pressa... – foi a resposta que recebi. Em alguns minutos chegamos a entrada do mercado, cada um com suas sacolas – JunSu com algumas minhas, depois de muito insistir – fomos andando até a faixa de pedestres onde era o local mais seguro para atravessar naquela avenida tão movimentada, quando atravessamos olhamos cada um para um lado. -Eu moro para a esquerda. – apontei e JunSu balançou a cabeça enquanto concordava e em silêncio fomos naquela direção – você também mora pra esse lado? -Te acompanho até sua casa... – a resposta dele não foi bem uma resposta mas acabei aceitando mesmo assim, em minutos já estávamos entrando na rua de minha casa, os postes iluminavam bastante a rua e algumas crianças corriam enquanto brincavam no meio da rua. – olha, uma rua sem saída... a tempos que não vejo nenhuma nessa cidade tão grande. -É realmente rara. – falei sorrindo olhando ao redor – eu gostei daqui desde a primeira vez que vim olhar alguma casa por aqui. -E aquele apartamento? – JunSu perguntei e não precisei pedir esclarecimentos sobre o que ele falava. -Vendi, meu noivo acabou não querendo nenhuma parte do dinheiro e nem da venda dos moveis... – um sorriso nada feliz permeou em meus lábios por alguns momentos ao lembrar que Hon Gi nunca mais quisera entrar em contato comigo senão através de advogados e depois de todo o papelão ele mesmo não quisera pegar nada de volta, deixando as coisas e sua parte no apartamento como uma espécie de consolo pelo casamento não realizado. – com o valor comprei essa casa e a mobiliei inteira, além de investir um pouco em algumas outras coisas.
  • 15. -Pelo menos não saiu por baixo não é? – observei JunSu que claramente sabia que eu não queria ouvir um ‘sinto muito’ ou algo do tipo sobre aquele assunto. -Verdade, eu diria que sai rica. – sorri de verdade e apontei para a casa no fim da rua. – eu moro ali, bem na casa que fecha a rua. -Bem a sua cara mesmo. – ele desdenhou de brincadeira e sorri achando- o um bobo. Como estava cedo ainda, acabei convidando JunSu pra entrar, depois de conversar sobre bobagens e após mostrar a casa para ele fomos pra cozinha preparar algo para o jantar, eram poucos minutos depois das sete da noite quando estávamos sentados a mesa da cozinha comendo macarrão com molho a bolonhesa e um copo de refrigerante cada um. Quando terminamos deixei as louças dentro da pia e fomos pra sala descobrir o que estava passando na TV, apesar do temor inicial acabei descobrindo o quanto era agradável e fácil conversar com JunSu, finalmente achamos um filme que os dois não haviam assistido e fui fazer pipoca no intervalo enquanto JunSu pegava as latas de refrigerante. -Okay, que bosta de final foi esse? – perguntei novamente em menos de cinco minutos, estávamos sentados em um sofá de palha colocado na varanda de minha casa, observávamos as crianças brincando de futebol na rua enquanto as meninas pulavam corda mais adiante. – não acredito que perdi pelo menos uma hora e meia da minha vida vendo aquilo pra terminar daquele jeito! -Acontece... – JunSu se recostou no sofá e fechou os olhos – se formos pensar na pipoca ficaremos mais tristes, então só vamos deixar pra lá. -Boa decisão - falei dando risada. Voltamos a conversar sobre outras coisas, parando em alguns momentos apenas para observar as crianças que corriam ou só para ouvir os barulhos da noite mesmo, já eram quase dez da noite quando JunSu se levantou anunciando que precisava ir para casa. Tentei não me mostrar decepcionada e no fim ele só saiu de lá com o número do meu telefone marcado na agenda do celular e com todas as sacolas dele, o acompanhei
  • 16. até o fim da rua e voltei sob os olhares atentos dele; assim que entrei em casa corri para ligar o celular encontrando como o esperado varias mensagens e ligações perdidas. “Segunda vez que converso com ele e JunSu me pareceu ser realmente um cara daqueles”. Escrevi e mandei a mensagem para os celulares do casal vinte, desligando o celular em seguida e claro, desconectando o telefone residencial antes de ir para a cama descansar um pouco; mal percebi quando dormi novamente, apenas acordei assustada com o toque do despertador me entristecendo ao marcar um novo dia. Me empurrei para fora da cama e me arrumei pra ir na faculdade, não sabia bem o porque de estar indo já que só teria uma aula e depois o casal vinte iria me encher o saco até não terem mais tempo para fazer isso, colocando os fones de ouvido fechei a porta da entrada e sai andando em direção a garagem pegar o carro. -E então, me conta tudo! Como você tem coragem de me mandar uma mensagem daquelas e desligar o telefone? – Luane quase me encostou na parede ao me ver andando pelo corredor do prédio onde estudávamos. -Bom dia pra você também... – respondi me livrando do aperto dos braços dela com um sorriso, andei alguns passos e trombei em um peito alto, largo e musculoso, suspirei já conformada com a situação - bom dia pra você também Kaled. -E ai, que história foi aquele de conversar com ele pela segunda vez? – Kaled foi tão direto quanto a namorada e revirei os olhos. -Vamos primeiro para a aula e depois nos falamos okay? – falei e fui andando em direção a sala. mas tive meu braço segurado com suavidade. -Aula cancelada hoje, professor está no hospital com a esposa, pediu desculpas e nem teve tempo de preparar nada para preencher nosso tempo. Agora conte tudo. – Kaled me cercou ao lado de Luane e suspirando conformada sai andando com eles em direção ao refeitório.
  • 17. -O caso é que eu já havia conversado com JunSu a alguns meses atrás... – comecei a contar e depois mordi um pedaço de bolo de laranja com abacaxi que havia comprado a poucos minutos. -Quando? – minha amiga perguntou curiosa e evitei olhar para cima quando respondi. -No dia do casamento. – os dois ficaram calados e aproveitei a oportunidade para comer mais um pedaço de bolo e tomar um gole de suco de pera. – okay gente, vocês não precisam fazer esse silêncio sepulcral tá? Isso tudo já passou com toda certeza e não sou uma bonequinha frágil. -É que... estamos surpresos só. – Luane comentou e olhei para os dois, sem conseguir conter o riso que veio aos meus lábios ao ver o modo como que eles olhavam ao redor tentando escapar de meus olhares acurados. -Aham... – respondi mastigando mais um pedaço do bolo e então me ajeitei na cadeira. – pois é, lembram de quando contei que conheci um cara que me deu uma carona depois que sair da igreja? Pois então, foi ele. -Nossa... eu com toda certeza nunca ia imaginar que era o JunSu. – Kaled comentou se ajeitando também na cadeira – claro que ele é um dos caras mais bacanas que conheço e também o fato de ele ser perfeito para você... nunca ia imaginar que era ele. -Ah legal, vocês me colocaram para sair com um cara assim? – perguntei querendo arrumar briga, sendo interrompida na hora pelo toque do celular anunciando uma nova mensagem. “Oi Claudia, é repentino e talvez cedo, mas você gostaria de almoçar comigo hoje? Beijos, JunSu” Li a mensagem mais duas vezes e só então abaixei o celular, olhei para cima e vi os dois me olhando curiosos, limpei a garganta com um pigarro e senti o rosto esquentar antes de tornar a pegar o aparelho e responder a mensagem com um singelo ‘já te ligo’, me levantei da mesa pedindo uma licença básica e tão logo me vi longe das vistas dos dois sai correndo
  • 18. em direção a um lugar afastado; por precaução esperei minha respiração voltar ao normal para só então ligar para o número marcado na lista. -Oi JunSu. – falei assim que ele atendeu. – desculpe a demora. -Estou atrapalhando? Você estava na aula? – JunSu respondeu e sorri observando a preocupação dele. -Na verdade o professor nem veio, é que estava no meio de uma inquisição, se é que você me entende... – falei e ouvi a risada rouca de JunSu. – mas então, almoço onde? -Tem algum restaurante bom ai perto? – ele sugeriu e pensei um pouco. -Bom, tem um que fica perto da minha casa, é um pouco longe daqui mas a comida é maravilhosa, tem de todos os tipos... acho que você vai gostar. – dei minha sugestão e esperei pela resposta. -Okay, nos encontramos a que horas? Posso passar ai pra te buscar? – senti meu rosto esquentar novamente e mordi meu lábio inferior sem saber o que responder. – vou interpretar seu silêncio como um sim, tudo bem? -Na verdade, se você quiser passar agora eu tenho tempo. – ofereci ainda corada. -Me espera no portão? Já estou chegando... – JunSu de alguma forma parecia ansioso e sorri animada. -Já estou indo! – encerrei a ligação e sai correndo novamente até o banheiro mais próximo, refiz a maquiagem com rapidez tentando não fazer a pele suar e estragar tudo, ajeitei a roupa xingando baixo por não ter me vestido melhor e só então sai andando um tanto rápido até o portão. Me sentei em um banco ali perto pra esperar e apenas afastei um dos fones para que pudesse ouvir se JunSu chegasse e me chamasse, estava distraída olhando a rua quando meu celular apitou o sinal de mensagem;
  • 19. peguei e olhei para a tela curiosa, arregalando os olhos em seguida ao ler o conteúdo da mensagem. “Você está linda” era o que dizia a mensagem, olhei ao redor tentando achar aquela figura alta e só após uma pesquisa detalhada acabei vendo-o sentado no banco do outro lado da rua, suspirei confirmando que eu realmente não tinha capacidade para enxergar nada que estivesse muito a minha frente, tipo... qualquer coisa estando na minha frente estava melhor escondida do que se estivesse em um cofre no subterrâneo. Me levantei do banco no exato momento em que o sinal para pedestres se abriu e JunSu veio andando em minha direção, observei com curiosidade a expressão determinada que ele tinha no rosto enquanto se aproximava de mim, sentia as mãos suarem de nervoso e forcei um sorriso enquanto tentava esconder um sorriso nervoso, ergui a mão para acenar quando ele chegou mais perto mas a tive cativa com a mão dele ao mesmo tempo em que a mão livre passava por minha cintura fazendo com que meu corpo se chocasse com o dele em um movimento súbito. -O quê.. – ia falar quando tive meus lábios capturados de modo rápido mas delicado pelos dele, nossos lábios se encaixavam bem, sem agredir ou sobrepujar o outro; foi um toque delicado, duradouro mas ainda assim leve e em seguida ele se afastou. – o quê... -Desculpe, eu não pude me controlar... – JunSu falou em tom baixo, o rosto ainda próximo ao meu e sem querer sorri olhando nos olhos dele. -Tudo bem... que bom que você não pode se controlar. – respondi e ele sorriu também, encaixando meu braço no dele e andando em direção a faixa de pedestres novamente. -Vamos comer alguma coisa... – seguimos andando pela calçada até atravessarmos a rua e entrar no carro de JunSu, que sorriu pra mim e ligou o som do carro antes de dar a partida. 
  • 20. -Claudia! Claudia, volta aqui! Não foge de mim! – escondi meu riso enquanto andava mais depressa me aproveitando que minha amiga era, ao contrário de mim, um desastre andando de salto alto por isso tinha que andar devagar. – Clau! -Desiste Luane, eu não vou te contar nada. – respondi e não aguentei segurar a risada ao ouvi-la se segurando na parede do corredor. – eu não tenho nada pra falar e você sabe disso... apenas sai com ele, conversamos e estamos combinando de ir ao cinema ou ao parque. Viu, não tem mais nada... -Não acredito em você... – ela gritou e vi as pessoas a minha frente olharem para trás, aproveitei que estava perto da porta de saída e coloquei os óculos escuros já prevendo a forte luz do sol. -Cadê a sua sombra? Não veio hoje? – perguntei e antes que eu alcançasse a porta meu braço foi segurado por um aperto conhecido, suspirei aceitando a derrota e parei ao mesmo tempo em que minha amiga me alcançava. – eu devia saber.... -É, você devia. – Kaled riu e seguimos os três para o restaurante mais próximo, como estávamos perto da hora do almoço já escolhemos os pratos e nos sentamos a uma mesa no centro do salão. – então, desembucha... -Aigoo! Como vocês são curiosos por nada! – falei exasperada enquanto ajeitava minha bolsa no encosto da cadeira. – a gente foi almoçar ontem, depois conversamos mais um pouco e ele me deixou em casa. Foi só isso, eu gostei da conversa e estamos vendo de nos ver outras vezes, satisfeitos? -Só isso? – o casal perguntou junto e assenti com a cabeça pegando o copo de água em seguida, enquanto bebia deixei de comentar que havíamos passado o dia conversando e eu só chegara em casa por volta das sete da noite. – achei que tinha mais... -Por exemplo, eu dormir com ele ou algo assim? Um beijo? – perguntei e os dois me olharam suspirando em seguida.
  • 21. -Não, isso seria demais até pra você... – ergui uma sobrancelha ao identificar aquele tom de certeza na voz dos dois. -Ah, valeu... – respondi e Luane segurou minha mão enquanto o namorado ria. -Quero dizer que... sabe, você não anda tão bem desde o... – ela parou e olhou para Kaled que suspirou. -Desde o seu quase casamento. – ele finalizou e ergui mais a sobrancelha, agora falar daquilo não significava mais nada pra mim, sequer o velho sentimento de raiva. De algum jeito também aquela frase não me ofendeu, JunSu tivera no dia anterior, feito algumas referencias ao casamento e eu não me irritara com ele, então com meus amigos estava tudo bem. -O que vocês querem realmente dizer? – perguntei olhando para os dois bem séria e estreitando os olhos quando ambos ficaram quietos. – ah qual é gente! Falem logo! -Você não está apenas brincando com ele não é? – Kaled perguntou em tom sério olhando em meus olhos, fiquei muda sem saber bem o que responder. – me responde Claudia. -Eu não... – respirei fundo e dei de ombros – não é como se eu fosse me casar com ele gente! Estamos nos conhecendo e nos tornando amigos, não tem essa de ninguém estar brincando com ninguém... estou apenas conhecendo JunSu melhor sabe? Nada demais. -Hmm... – minha amiga me olhou desconfiada e depois olhou para o próprio namorado – ela está brincando com ele. -Claro que não! – falei com raiva da acusação – eu não estou brincando com ninguém! -Claro que você está Claudia... – Luane olhou pra mim, o olhar como se conhecesse minha alma. – você ainda está ferida com Hon Ji e não admite cair nessa novamente, então o que você está fazendo com JunSu?
  • 22. -Acreditei que vocês entendessem o meu medo de me machucar, de passar por vexame novamente, mas pelo que vejo só estão preocupados em como fazer Kaled escapar da família da noiva de Kaled e também em não perder um ao outro quando essa droga de faculdade acabar. – virei as costas e sai andando já sabendo que nenhum deles viria atrás de mim, eles tinham os próprios problemas para resolver e não ligavam pra mim, me colocando no meio do pacote geral em que todas as pessoas me colocavam ao saber sobre o meu casamento. Eu andava rápido como se estivesse descalça, alcancei os fones de ouvido na bolsa e coloquei-os no ouvido ao mesmo tempo em que ligava a música no ultimo volume e desaparecia portão afora do terreno da universidade; ao meu redor o mundo passava rápido mas era como se eu não o visse enquanto pensava em meus próprios problemas. Caminhei até que senti meu joelho doer como sempre fazia nesses momentos em que eu andava muito, parei um pouco e olhei ao redor, tentando me encontrar no meio daquela cidade tão grande, soltei o ar pela boca e passei a mão pela testa tirando a leve linha de suor que havia ali; peguei o celular ligando o GPS e vendo que eu estava em um dos lugares alternativos para chegar até a ponte famosa de Seoul. Caminhei até lá pensando em pegar um taxi até em casa e depois mergulhar embaixo dos lençóis, mas quando cheguei até perto do rio fiquei observando a água calma enquanto tentava colocar a cabeça para pensar e só então sair do modo de espera em que eu deixava minha cabeça naqueles momentos. Me sentei o mais perto possível da água e retirando os sapatos coloquei os pés através da superfície fria, senti o corpo se arrepiar mas me mantive firme, mexendo os pés delicadamente fui sentindo o peso das minhas palavras sobre meus amigos, o fato de que nenhum dos dois havia me ligado era um forte indicador de como estava a relação deles comigo. As horas foram se passando e meu estômago roncou de fome, mas mesmo assim eu não queria sair dali... não ainda... ergui o rosto observando o céu que naquela hora se tornara nublado de uma forma que indicava fortemente chuva no fim do dia; respirei fundo e devagar enquanto via as nuvens passarem e quando me ergui vi uma barraca de comida ali perto,
  • 23. segurando a bolsa de qualquer jeito caminhei até lá e me sentei a uma mesa. -Ajumah! Um toppoki, por favor. – pedi assim que a mulher chegou perto de mim, ela sorriu e acenou, trazendo meu pedido em alguns minutos. Comi quieta, quase não sentindo o gosto da comida e apenas registrando um sabor aqui e ali, acabei pedindo outro prato e deixei apenas o molho no prato; paguei a conta e quando sai olhei pro céu novamente, apenas confirmando que agora a chuva não demoraria tanto a cair, continuei andando e estava perto do metrô quando as primeiras fortes gotas começaram a cair. Andei mais devagar desistindo de pegar o metrô, as ruas aos poucos iam se esvaziando a medida que a chuva se intensificava; verifiquei se minha bolsa era segura para proteger meus documentos e aparelhos eletrônicos e então, relaxei. Andando devagar para não deslizar nos saltos fui observando a ação da água em vários lugares, o frio aumentou mas eu me sentia bem, era boa aquela sensação de estar no meio do nada, com apenas um único som ao seu redor... apenas parei quando meu braço foi segurado, olhei para trás e pisquei devagar. Uma vez, então duas... pisquei mais uma vez e só então entendi que JunSu estava parado a minha frente, segurava meu braço e falava comigo. -O quê? – me senti na obrigação de perguntar e ele me olhou confuso. -Perguntei o que você faz aqui... você está bem? Vamos sair dessa chuva! – ele segurou minha mão e começou a me levar até o toldo mais próximo, resisti e ele me olhou confuso. – Claudia? -Eu não posso continuar te vendo JunSu. – falei e ele parou por um longo momento, apenas me olhando; de repente minha respiração acelerou e eu precisava falar. – eu não acredito que eu seja garota pra casar, ter família, essas coisas sabe? E eu acho que você é esse tipo de cara que aprecia isso entende? Eu não posso continuar te vendo. -E se eu disser que quero ser apenas seu amigo? – meu coração falhou uma batida quando JunSu olhou em meus olhos e perguntou aquilo, mas eu já tinha uma resposta.
  • 24. -Iríamos continuar a nos ver. -Que bom, então problema resolvido. – ele entrelaçou os dedos com os meus e deu um passo em direção ao toldo novamente. -Mas mesmo assim não daria certo. – falei e ele parou de novo, me olhando. – porque eu nunca vou conseguir conviver com você somente nesses termos e ia começar a imaginar coisas e... bom, eu ia acabar usando um vestido de noiva. -E... – agora JunSu já havia desistido de andar e me olhava curioso, acho que nada mais naquele mundo chamaria a atenção dele naquele momento. -E daí que eu iria surtar no dia do casamento e acabar fugindo.! – falei como se fosse o obvio e o vi erguer a sobrancelha. – digo... eu não consigo mais entrar em uma igreja pra me casar sabe? Não sei se sequer aguento ver alguém se casando! JunSu riu baixo e o olhei incrédula, o som da risada aos poucos foi aumentando de tamanho enquanto a chuva forte continuava caindo sobre nós, me afastei um passo assim que a risada se transformou em uma gargalhada, fazendo com que a pessoa a minha frente praticamente se dobrasse de tanto rir; por fim, cansada daquilo dei mais um passo atrás, virei as costas e sai andando. -Hey, desculpe por isso! – JunSu segurou minha mão e entrelaçou os dedos nos meus antes de limpar a garganta e se colocar novamente a minha frente. – sabe... se você quiser apenas continuar a me ver já será um grande passo não acha? -Como... -Não digo que a gente vá se casar agora, mas quem sabe né? – ele deu de ombros e se aproximou mais de mim, o outro braço enlaçando minha cintura e me levando para muito mais perto dele, em meio a todo aquele frio ao nosso redor, o halito morno dele tocou meu rosto com delicadeza. – por enquanto...
  • 25. E então os lábios dele capturaram os meus, os dedos entrelaçados se apertaram ao mesmo tempo em que nossos corpos se colaram, as caricias das línguas eram feitas devagar e eu me senti derreter; na verdade, parecia que eu era um pequeno cubo de açúcar lançado naquela chuva, tudo graças a aquele momento... ergui a mão para apoiá- las na nuca de JunSu e o trazer para mais perto, as pontas dos dedos mexendo nos cabelos encharcados, fazendo uma caricia suave enquanto eu me perdia no beijo. -Por enquanto...? – perguntei ofegante enquanto descansava o rosto no peito dele ao mesmo tempo em que tentava recuperar o fôlego. -Run my little Bride... – JunSu sussurrou em meu ouvido e ergui a cabeça para observá-lo, vendo o sorriso leve brincar nos lábios carnudos. – apenas corra... Sorri e me ergui na ponta dos pés, ao mesmo tempo em que ele abaixava o rosto, nossos lábios se encontraram novamente... em minha cabeça, um pedaço de uma música soava. “You better run far from me...” And after we’ll be happy, itsn’t an end 