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Chovia Por Renato Cardoso
Como normalmente acontece com a chuva intensa, o trânsito naquele dia estava insuportável. Há horas estava eu ali, com o carro andando muito lentamente e precisando chegar ao nosso encontro, aliás marcado há um mês. Há um ano não nos víamos.
Olhava pela janela do carro e via casais se entendendo, numa boa, como se o dia estivesse lindo e com um belo sol a iluminar aquele santo momento.
O celular perdeu o sinal por qualquer razão e eu ali, querendo ligar e explicar o porque do atraso. Dizer que queria estar presente àquele encontro, aliás tão sonhado e tão necessário.
Minha aflição parece ter chamado a atenção, mas o que me importava naquela altura, era chegar e ter a oportunidade de dizer que nossa ruptura se deu por mal entendidos e que não tinha eu qualquer culpa. Nada a dever, nada a temer.
Chovia ainda mais forte e o vidro embaçado fazia com que eu me voltasse para uma reflexão mais profunda sobre nossa relação que parecia interminável e a seguir, aos fatos que determinaram aquele adeus sem sentido, sem vontade, acredito de nós dois.
Ainda de forma embaçada, olho para um jardim coberto pela água da chuva, quando pelo menos uma flor chamou minha atenção em especial. Roxa; isso, sua cor era roxa e do mesmo tom daquele buquê de orquídeas que enviei naquele final de dia, logo após o telefonema fatídico.
Me vi num abismo, numa escuridão sem igual. Chamou minha atenção uma criança, na portaria de um prédio com uma máquina fotográfica à mão.  Parecia admirar a água da chuva e todo o bailado que provocava ao ter seus pingos em contato com a terra. Quis parar e pedir para usar o telefone do prédio, mas o trânsito me impediu. Optei por seguir em frente e arriscar.
No carro vizinho uma linda criança parecia também admirar o bailado que a chuva provocava no vidro do carro. Seu olhar, tão puro quanto angelical, fez com que me reportasse à minha infância. Sem grandes problemas, dificuldades ou tristeza por perdas, de qualquer natureza.
No gramado uma folha morta.  Não sei porque mas me levei a uma canção antiga, que tem como mensagem exatamente o que sentia. Comecei a cantarolar: Hoje sou folha morta" Que a corrente transporta Oh Deus, como sou infeliz... Infeliz. Eu queria um minuto apenas, pra mostrar minhas penas.Oh Deus, como sou infeliz”.
Foi quando algo me levou a mudar os pensamentos, levantar meu moral e seguir em frente, pois nada estava perdido.
E como que entendendo a  virada de meus pensamentos, como que por mágica, aquele folha  morta, empurrada pelo vento, veio até o vidro de meu carro, ficando ali colada. Incrível como a partir daquele momento, comecei a ver as coisas com mais otimismo. Comecei a pensar que do outro lado, sentindo a mesma saudade e ansiedade pela espera de um momento tão importante, estava alguém que na verdade é meu complemento, minha outra parte, um pedaço de mim.
Depois de andar com o carro alguns quilômetros, passei em frente a uma casa abandona e pensei eu: terrível esse estado. ser abandonado, ficar só.
Mas foi um pensamento de relance, porque naquela altura era só otimismo. Senti essa força ao passar e observar as lindas paisagens, que mesmo com o empanar pela chuva, insistem em se apresentar belas. Um galho florido veio à minha retina como algo muito vivo e com força para ficar assim, por muito tempo.
Saindo da cidade e percorrendo os poucos quilômetros que ainda faltavam, permaneci assim, bem positivo e vendo coisas belas que o mundo insiste em nos mostrar em todas oportunidades. Mesmo quando nossos pensamentos insistem em se direcionar para um lado não tão maravilhoso assim.
Pronto, já me via chegando. Um gelado bateu em minha espinha, como que me preparando para um momento de muita emoção.
Uma curva...
... O banco no qual sentávamos para descansar de nossas caminhadas...
A praça com os pombos à espera das migalhas de pão. Lembrei-me das vezes em que passávamos horas vendo o comportamento dos pássaros e seu ímpeto de querer se aproximar dos homens. Fiz o elo: muito fácil fazer amizade com os animais. Como seria uma reconciliação? Naquele momento essa era a palavra:  r- e- c- o- n- c- i –l- i- a- ç- ã- o.
E como que querendo me jogar para o alto, me deixar mais animado, uma cena inusitada: a de dois gatos se aproveitando de uma sombrinha ali deixada.  Como nessa altura era todo romantismo, pensei: deve ter acontecido de alguém deixar tudo e correr para os braços de um amor que imaginava perdido. Só um pensamento mostrando que, no íntimo, era tudo o que esperava para mim àquela altura.
O bosque apresentava um colorido sem igual.  Senti que aquela paisagem era um sinal de que algo muito bom estava por acontecer. Tudo era colorido, tudo era mansidão, tudo era harmonia.
Ao ver o banco próximo a sua casa, meu coração apresentou nem sei quantas batidas por segundo. Confesso que estava no meu máximo de ansiedade. Ensaiava as palavras os gestos, a forma de romper qualquer barreira e ir direto ao abraço, ao beijo, ao recomeço.
Já na cidade o que mais via era casais apaixonados. E aproveitando a chuva, ficarem mais próximos, mais juntos.
Parei para tomar um café e usar o telefone. Na parede um quadro com destaque ao casal. Parecia tudo me lembrar o nosso encontro.
Estava muito próximo do memento que tanto esperei. Mas aquele momento ainda era longo, os minutos não passavam. Sentia-me como atravessando uma interminável ponte que, ao final dela, algo maravilhoso, sem igual, me acenava.
Estacionei meu carro e segui a pé.
Ao vê-la em minha direção, quase não resisti. Era, enfim, o grande momento. Já não tinha mais dúvidas quanto ao seu desejo também de um retorno o mais rápido possível.
Já tinha a certeza de que o sentimento era idêntico. Ali, já corríamos um em direção ao outro. E rolaram beijos, abraços e beijos e olhares...  Apenas uma frase no meio de tanto carinho:  não vou parar de te olhar .
Um raio saído de uma nuvem escura parecia anunciar o reencontro. Senti como uma luz após a escuridão. A felicidade após tanta tristeza. O amor após tanto tempo longe um do outro.
E um conjunto de raios mais fortes parecia confirmar meus pensamentos. Naquele momento o panorama era um conjunto de cores sem igual. Parecia ter festa no céu.
Festa que imagino ocorrer lá em cima, sempre quando o amor prevalece. É assim, estou certo: fomos feitos para o amor. E tudo o que acontece diferente e ou em sentido contrário, está em desacordo com as leis divinas.  O normal, é, o normal, o correto, o humanamente previsto, é o prevalecer do amor. Quando intenso e verdadeiro, supera todas as barreiras inseridas ali, não importa por quem.
É isso aí.  Mais uma vitória do amor!
Fotos que circulam pela internet Texto e apresentação por Renato Cardoso www.vivendobauru.com.br Ouça a música até seu final ou clique para sair.

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Chovia

  • 2. Como normalmente acontece com a chuva intensa, o trânsito naquele dia estava insuportável. Há horas estava eu ali, com o carro andando muito lentamente e precisando chegar ao nosso encontro, aliás marcado há um mês. Há um ano não nos víamos.
  • 3. Olhava pela janela do carro e via casais se entendendo, numa boa, como se o dia estivesse lindo e com um belo sol a iluminar aquele santo momento.
  • 4. O celular perdeu o sinal por qualquer razão e eu ali, querendo ligar e explicar o porque do atraso. Dizer que queria estar presente àquele encontro, aliás tão sonhado e tão necessário.
  • 5. Minha aflição parece ter chamado a atenção, mas o que me importava naquela altura, era chegar e ter a oportunidade de dizer que nossa ruptura se deu por mal entendidos e que não tinha eu qualquer culpa. Nada a dever, nada a temer.
  • 6. Chovia ainda mais forte e o vidro embaçado fazia com que eu me voltasse para uma reflexão mais profunda sobre nossa relação que parecia interminável e a seguir, aos fatos que determinaram aquele adeus sem sentido, sem vontade, acredito de nós dois.
  • 7. Ainda de forma embaçada, olho para um jardim coberto pela água da chuva, quando pelo menos uma flor chamou minha atenção em especial. Roxa; isso, sua cor era roxa e do mesmo tom daquele buquê de orquídeas que enviei naquele final de dia, logo após o telefonema fatídico.
  • 8. Me vi num abismo, numa escuridão sem igual. Chamou minha atenção uma criança, na portaria de um prédio com uma máquina fotográfica à mão. Parecia admirar a água da chuva e todo o bailado que provocava ao ter seus pingos em contato com a terra. Quis parar e pedir para usar o telefone do prédio, mas o trânsito me impediu. Optei por seguir em frente e arriscar.
  • 9. No carro vizinho uma linda criança parecia também admirar o bailado que a chuva provocava no vidro do carro. Seu olhar, tão puro quanto angelical, fez com que me reportasse à minha infância. Sem grandes problemas, dificuldades ou tristeza por perdas, de qualquer natureza.
  • 10. No gramado uma folha morta. Não sei porque mas me levei a uma canção antiga, que tem como mensagem exatamente o que sentia. Comecei a cantarolar: Hoje sou folha morta" Que a corrente transporta Oh Deus, como sou infeliz... Infeliz. Eu queria um minuto apenas, pra mostrar minhas penas.Oh Deus, como sou infeliz”.
  • 11. Foi quando algo me levou a mudar os pensamentos, levantar meu moral e seguir em frente, pois nada estava perdido.
  • 12. E como que entendendo a virada de meus pensamentos, como que por mágica, aquele folha morta, empurrada pelo vento, veio até o vidro de meu carro, ficando ali colada. Incrível como a partir daquele momento, comecei a ver as coisas com mais otimismo. Comecei a pensar que do outro lado, sentindo a mesma saudade e ansiedade pela espera de um momento tão importante, estava alguém que na verdade é meu complemento, minha outra parte, um pedaço de mim.
  • 13. Depois de andar com o carro alguns quilômetros, passei em frente a uma casa abandona e pensei eu: terrível esse estado. ser abandonado, ficar só.
  • 14. Mas foi um pensamento de relance, porque naquela altura era só otimismo. Senti essa força ao passar e observar as lindas paisagens, que mesmo com o empanar pela chuva, insistem em se apresentar belas. Um galho florido veio à minha retina como algo muito vivo e com força para ficar assim, por muito tempo.
  • 15. Saindo da cidade e percorrendo os poucos quilômetros que ainda faltavam, permaneci assim, bem positivo e vendo coisas belas que o mundo insiste em nos mostrar em todas oportunidades. Mesmo quando nossos pensamentos insistem em se direcionar para um lado não tão maravilhoso assim.
  • 16. Pronto, já me via chegando. Um gelado bateu em minha espinha, como que me preparando para um momento de muita emoção.
  • 18. ... O banco no qual sentávamos para descansar de nossas caminhadas...
  • 19. A praça com os pombos à espera das migalhas de pão. Lembrei-me das vezes em que passávamos horas vendo o comportamento dos pássaros e seu ímpeto de querer se aproximar dos homens. Fiz o elo: muito fácil fazer amizade com os animais. Como seria uma reconciliação? Naquele momento essa era a palavra: r- e- c- o- n- c- i –l- i- a- ç- ã- o.
  • 20. E como que querendo me jogar para o alto, me deixar mais animado, uma cena inusitada: a de dois gatos se aproveitando de uma sombrinha ali deixada. Como nessa altura era todo romantismo, pensei: deve ter acontecido de alguém deixar tudo e correr para os braços de um amor que imaginava perdido. Só um pensamento mostrando que, no íntimo, era tudo o que esperava para mim àquela altura.
  • 21. O bosque apresentava um colorido sem igual. Senti que aquela paisagem era um sinal de que algo muito bom estava por acontecer. Tudo era colorido, tudo era mansidão, tudo era harmonia.
  • 22. Ao ver o banco próximo a sua casa, meu coração apresentou nem sei quantas batidas por segundo. Confesso que estava no meu máximo de ansiedade. Ensaiava as palavras os gestos, a forma de romper qualquer barreira e ir direto ao abraço, ao beijo, ao recomeço.
  • 23. Já na cidade o que mais via era casais apaixonados. E aproveitando a chuva, ficarem mais próximos, mais juntos.
  • 24. Parei para tomar um café e usar o telefone. Na parede um quadro com destaque ao casal. Parecia tudo me lembrar o nosso encontro.
  • 25. Estava muito próximo do memento que tanto esperei. Mas aquele momento ainda era longo, os minutos não passavam. Sentia-me como atravessando uma interminável ponte que, ao final dela, algo maravilhoso, sem igual, me acenava.
  • 26. Estacionei meu carro e segui a pé.
  • 27. Ao vê-la em minha direção, quase não resisti. Era, enfim, o grande momento. Já não tinha mais dúvidas quanto ao seu desejo também de um retorno o mais rápido possível.
  • 28. Já tinha a certeza de que o sentimento era idêntico. Ali, já corríamos um em direção ao outro. E rolaram beijos, abraços e beijos e olhares... Apenas uma frase no meio de tanto carinho: não vou parar de te olhar .
  • 29. Um raio saído de uma nuvem escura parecia anunciar o reencontro. Senti como uma luz após a escuridão. A felicidade após tanta tristeza. O amor após tanto tempo longe um do outro.
  • 30. E um conjunto de raios mais fortes parecia confirmar meus pensamentos. Naquele momento o panorama era um conjunto de cores sem igual. Parecia ter festa no céu.
  • 31. Festa que imagino ocorrer lá em cima, sempre quando o amor prevalece. É assim, estou certo: fomos feitos para o amor. E tudo o que acontece diferente e ou em sentido contrário, está em desacordo com as leis divinas. O normal, é, o normal, o correto, o humanamente previsto, é o prevalecer do amor. Quando intenso e verdadeiro, supera todas as barreiras inseridas ali, não importa por quem.
  • 32. É isso aí. Mais uma vitória do amor!
  • 33. Fotos que circulam pela internet Texto e apresentação por Renato Cardoso www.vivendobauru.com.br Ouça a música até seu final ou clique para sair.