1. Guerra destruiu figura do "homem herói"
e consagrou mulher no trabalho
Elas não podiam andar por aí desacompanhadas, não podiam trabalhar se fossem casadas,
mal estudavam e passavam boa parte da vida em casa, cozinhando e cuidando dos filhos. Isso
não faz muito tempo e é difícil imaginar que assim viviam as mulheres ocidentais no início
do século passado: carreira, dinheiro e poder eram exclusividade masculina. O homem
sustentava uma imagem de "herói" onipotente, mas dois eventos devastadores, as Guerras
Mundiais, fizeram ruir este modelo.
Tão impressionantes quanto o número de vidas perdidas e os horrores que a Primeira (1914-
1918) e a Segunda Guerra (1939-1945) produziram são as mudanças de comportamento
irreversíveis que elas provocaram nas décadas seguintes.
Se os homens foram convocados a defender suas pátrias nos campos de batalha, caiu sobre as
mulheres a obrigação de ocupar o "vazio" que eles deixaram para trás.
Regras e valores da sociedade ficaram de lado, em alguns casos, porque era necessário e
urgente contar com a força de trabalho feminina, como explica a professora Margareth Rago,
66, do departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp
(SP).
"O grande peso que as guerras têm é que elas quebram um imaginário, uma mentalidade, uma
cultura que achava, desde o século 19, que lugar da mulher é em casa", diz a pesquisadora,
que dedica seus estudos à história das mulheres.
"Pouco tempo depois, no final dos anos 1960, explode o feminismo no mundo, e no Brasil
essas ideias vão eclodir mesmo nos anos 1970."
Principalmente na Segunda Grande Guerra, considerada o confronto mais mortal de todos os
tempos e cujo fim na Europa completa 70 anos neste maio, funções nunca antes assumidas
por mulheres foram entregues a elas, uma alteração na cadeia produtiva que já havia sido
notada na guerra anterior.
A princípio, quem só era vista como capaz de trabalhar em tecelagens ou, na melhor das
hipóteses, como educadora e enfermeira, passou a ajudar conduzindo trens e ônibus,
atendendo ao público nas agências de Correios, servindo de mão de obra nas fábricas de
armas e munições e como datilógrafa em repartições públicas.
De acordo com o jornal britânico "The Guardian", já na Primeira Guerra, o número de
operárias nas fábricas de munição, no Reino Unido, passou de 412 mil para 1,65 milhão entre
1914 e 1918, enquanto as trabalhadoras no transporte, que eram 18 mil, passaram a 117 mil.
Em 1941, durante a Segunda Guerra, o alistamento militar foi permitido às mulheres, e o
governo passou a confiar que elas podiam ser úteis também em serviços mais complexos,
como aqueles realizados nas operações de análises de códigos do inimigo.
2. Uma grande conquista nesta época foi a suspensão - -e depois a anulação, com o fim da
Segunda Guerra -- da proibição a mulheres casadas de praticarem atividades em escritórios.
É importante lembrar que, até o começo do século 20, mulheres não ocupavam profissões
liberais, jamais trabalhavam em ambientes corporativos e chegavam a
http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2015/05/08/guerra-destruiu-figura-do-
homem-heroi-e-consagrou-mulher-no-trabalho.htm?fb_ref=Default
ACESSODIA 26 de julhode 2015 – às 4:22