1) O documento é um livro escrito por Fernando Cardoso sobre o Evangelho Inclusivo e a Homossexualidade.
2) O livro discute a condenação bíblica da homossexualidade e argumenta que é possível ser gay e religioso de acordo com uma interpretação do contexto histórico das passagens bíblicas.
3) O livro também aborda as visões de diferentes religiões sobre a homossexualidade e analisa se a "cura da homossexualidade" é verdadeira ou mentira.
3. Fernando Cardoso
________________________________________________________
Cardoso, Fernando
O Evangelho Inclusivo e a Homossexualidade / Fernando
Cardoso – São Paulo: Clube de Autores, 2010. 113p.
1. Evangelho Inclusivo 2. Homossexualidade. I.
Fernando Cardoso. II. Título
CDD: 230
________________________________________________________
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de
19/02/1998.
Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito do
Autor poderá ser reduzida ou transmitida sejam quais forem os
meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação
ou quaisquer outros.
4. A Bíblia não deve ser lida de forma literal, mas sim levando
se em consideração o contexto histórico em que foi escrita.
Passagens bíblicas isoladas e fora de contexto foram usadas
para justificar o racismo e a submissão das mulheres, assim
como hoje são usadas para atacar os homossexuais.
Mas todos somos iguais perante Deus,
e é possível ser gay e ser religioso.
Gene Robinson
5. Amar a Deus é estudarmos sua palavra com afinco;
É reconhecer a nossa perfeição ao sermos criados
à sua imagem e semelhança;
É ter fé na nossa própria existência,
enxergando o propósito da criação;
É nos aceitarmos sem questionamentos,
pois os planos divinos são misteriosos,
E não cabe a nós, ainda, a revelação.
Fernando Cardoso
Fevereiro, 2010.
A g r a d e c i m e n t o s
Humildemente e com alegria quero expressar minha
gratidão a diversos teólogos cristãos aos quais recorri para
uma percepção mais profunda do Evangelho da Graça aos
homossexuais e dos pressupostos antagônicos da condenação
6. bíblica à homossexualidade: Brennan Manning, Yvette Dube,
Gene Robinson, Robin Scroggs, Victor Paul Furnis, John
McNeill, William Countryman, John Boswell, Norman
Pittenger, David Payne, André Sidnei Musskopf, Daniel A.
Helminiak, Philip Yancey, Desmond Tutu, Peter Gomes,
Jimmy Creech, Mel White, Brian Zachary Mayer, Leonardo
Boff, Márcio Retamero, Bruno Lima, Marcos Gladstone, Luis
Corrêa Lima, entre outros.
E, ainda, a diversos outros escritores e críticos
engajados no campo políticosocial da homossexualidade, por
suas contribuições em minhas percepções, enquanto escritor
estreante: Atila Iamarino, Bruno Bimbi, Daniel G. Karslake,
Humberto Rodrigues, Luis Mott, Talissa Camara Tinoco de
Siqueira, Danuza da Silva Crespo Bastos, Andrea Camperio
Ciani, Bruce Bagemihl, Christopher Bagley, Pierre
Tremblay, Deco Ribeiro, Paula Caplan, Ana Bock, entre
outros.
Apesar de não ter tido apoio dos meus pais na
elaboração deste trabalho, contei com o incentivo de alguns
amigos mais próximos – cujo papel, foi fundamental na
concretização –, através do suporte moral, análise crítica do
conteúdo, revisão do texto e artes. Mas, principalmente, ao
Vinicius de Souza pela dedicação constante, pela paciência,
pelo companheirismo na formulação das idéias deste
trabalho. Apesar dos vieses, foi grande a importância da tua
presença na conclusão desta obra. Dispenso, pois, meu
“obrigado” a você.
7. Contudo, minha dívida mais profunda, ainda assim, é
para com minha mãe, pelo amor dedicado não apenas
materno, mas também enquanto cristã. Pelo abrir de seu
coração e mente ao assunto homoafetividade, cujo
desenvolvimento não foi fácil devido sua formação
tradicionalista e conservadora. Ao meu pai pela garra e
empenho despendido incondicionalmente em meu sustento,
pelo amor dedicado a mim, à sua maneira, independente da
minha identidade sexual. E, a ambos, pela educação, tanto
pessoal quanto cristã, que me proporcionaram.
O F o c o D e s t e T r a b a l h o...
O
8. Evangelho Inclusivo e a Homossexualidade... Foi
direcionado a um grupo específico de pessoas, cujas
necessidades foram traduzidas através dos mesmos anseios
que tive durante esta caminhada, cuja solidão somente não
foi total devida a sensação de que tinha um Deus ao meu
lado, mesmo diante de tantos anos de dúvidas advindas das
afirmações descontextualizadas que a Igreja impunha, com
sua tradicional hermenêutica.
Este livro não foi escrito para cristãos
fundamentalistas o considerarem uma afronta à Palavra de
Deus.
Não foi escrito para ser usado como uma saída
alternativa nos debates contra a homofobia religiosa.
Não foi escrito sob a forma de militância gay para
refutar bravamente o que cristãos confusos vêm gritando
falaciosamente aos sete ventos.
Não foi escrito para tornar as Escrituras Sagradas
relativistas e tampouco para andar lado a lado com o
liberalismo moral que há em alguns guetos inclusivos que se
denominam “cristãos”.
Não foi escrito para cristãos que vivem constantemente
em um pedestal apoiandose na Bíblia e imaginando saber o
que se passa dentro de um coração aflito e sedento por
compreensão.
9. Não foi escrito para despertar soldados adormecidos e
fanáticos, em busca da vitória justificada através da guerra.
Não foi escrito para diplomar pessoas em um assunto
que só é passível de entendimento através da santificação
diária e compreensão através do Espírito Santo.
Não foi escrito para se ter um álibi, justificativas
pessoais ou um modo de vida a ter que viver seguindo o
exemplo de Jesus aqui na terra.
O Evangelho Inclusivo e a Homossexualidade...
Foi escrito para os que crêem na Bíblia, como única fonte de
fé; portanto, se você não crê no Deus Criador, pare a leitura
por aqui.
Foi escrito para iniciantes, e não para pesquisadores
intelectualóides em busca de um divisor de águas.
Foi escrito para pessoas angustiadas, cansadas,
perseguidas, humilhadas, andando na contramão da vida,
porém com determinação, humildade, gosto pelo viver,
esperança no porvir, que buscam a justiça divina e se
conforta com a revelação do amor incondicional de Jesus.
Foi escrito para aqueles que sabem que são meramente
pó e ao pó retornarão, e que não se contentam com um olhar
de compaixão daqueles que crêem estarem salvos.
10. Foi escrito para pessoas “alegres”, felizes, teatrais,
espirituosas, expansivas, graciosas, únicas, diante de tanta
seriedade, inveja, rancor, orgulho, pretensão, ódio e soberba.
Foi escrito para aqueles com almas puras, mesmo
tendo o seu exterior pintado com extravagâncias. Aquelas
criaturas que seguem o criador não apenas com exclamações
verbais de fé, mas sim concomitantemente às obras.
Foi escrito para aqueles que não têm medo de dizer “Eu
Te Amo” e de erguer a bandeira – não do “orgulho” de uma
única comunidade –, mas sim das comunidades de Cristo que
são bem mais amplas.
Foi escrito para os que não sentem mérito algum por
merecer o amor e proteção de Deus diante das provas da
vida. Foi escrito para pessoas providas de inteligência, mas
que compreendem que suas mentes são limitadas; para
servos fiéis que sabem que estão propensos a cair.
O Evangelho Inclusivo e a Homossexualidade...
Foi escrito para mim mesmo e para quem quer que tenha se
sentido em pecado e afastado de Deus, cansado e
sobrecarregado, mas almejam o alívio efetivo deste fardo ao
longo do caminho estreito.
11. Fernando Cardoso
Autor
SUMÁRIO
Introdução, 11
Conhecendo a homossexualidade, 15
Aspectos históricos da condenação aos homossexuais, 22
15. I N T R O D U Ç Ã O
O Evangelho Inclusivo e a Homossexualidade é um tema que suscita grandes
discussões, mas ao final afirma a possibilidade da Inclusão Espiritual de todos em Cristo!
Eu tenho esta certeza e você também a terá a partir do momento que abrir o coração para que a
luz destas palavras transcenda as barreiras do entendimento humano. Segundo o teólogo Luís
Corrêa Lima1 a Igreja nasceu rompendo as fronteiras do judaísmo no primeiro século,
incorporando multidões de povos que não eram circuncidados. Hoje, pode também se conceber
uma identidade simultaneamente Homossexual e Cristã, estimulando os grupos cristãos a
acolherem as diversidades segundo a interpretação correta da Bíblia a cerca do tema.
Tudo começou aos 5 anos. Foram as primeiras memórias que tive, enquanto homossexual
ou gay, tanto faz. Desde pequeno, enquanto as outras crianças brincavam, aproveitando sua
inocência, eu, reflexivo, me autoanalisava e, ao mundo ao meu redor. Sentia que era diferente
dos demais, mas não entendia o porquê, ainda. Eu observava os meninos de longe com
“admiração”, enquanto ficava sempre nos grupos de meninas, compartilhando os assuntos. A
partir daí iniciaram os rótulos “bichinha”, “viadinho”, entre outros que ouvi durante a fase
escolar, além das chacotas coletivas, com conotações negativas.
Durante muitos anos de minha vida passei tentando criar teorias próprias, não para
justificar a minha homossexualidade, como se fosse uma válvula de escape para descarga de
conciência – como acreditam alguns –, mas sim para entender os motivos que me levavam a ser
“diferente”, pois eu sabia e sentia, acima de tudo, que era amado e protegido por Deus.
Contudo, mesmo eu tendo nascido e sido criado em um lar cristão, constantemente ao chegar na
igreja, sentavame no banco para ouvir os sermões e me deparava com a mesma situação,
aquelas mesmas retóricas difamatórias pastorais que, segundo eles, são chamadas de
mensagens “divinas” contra o homossexualISMO.
A minha sensação era de estar “murchando”, despertavame uma angústia, uma vontade
de levantar e sair o mais rápido possível daquele lugar, mas em seguida me vinha o
pensamento de que se o fizera, as pessoas perceberiam que eu estava encomodado e logo,
perceberiam que eu era Gay.
Essa situação me matava aos poucos, como certamente a você também não é diferente.
Mas tudo mudou a partir do momento que comecei a pesquisar as Escrituras Sagradas, não sob
a minha perspectiva, mas sim à luz da palavra de Deus. Ao encontrar outras interpretações que
me foram escondidas durante muito tempo, me dava conta do quanto a Igreja é complacente
Padre jesuíta, Doutor em História pela Universidade de Brasília, Professor da Pontifícia Universidade Católica do
1
Rio de Janeiro, Coordenador de projeto de pesquisa sobre Homossexualidade e Religião.
16. com as situações conflitantes que milhões de homossexuais enfrentam ao estar na casa de
Deus, cujo objetivo deveria ser para todos. Dessa forma pude compreender melhor e me aceitar
como gay – a parte mais difícil do processo –, e entender o mesmo amor de Cristo “pregado” em
minha vida.
Fazendo estas observações, não quero atenuar a importância da palavra de Deus contida
na Bíblia ou contrariar sua autoridade e inspiração para a vida cristã. Ao contrário, amar a
palavra de Deus é esforçarse para entendêla e não apenas aceitar o que é dito nos púlpitos por
meio de pastores, ou seja, homens, assim como eu, suscetíveis a erros de interpretação.
Tampouco defendo minhas crenças representadas por “placa de igreja”, mesmo porque a
inclusão espiritual não necessita deste recurso.
A idéia deste livro surgiu após analisar pessoas se surpreendendo ao saber que eu sou
Homossexual e Cristão. Por qual motivo a minha identidade sexual me distanciaria de Deus?
Isto não ocorre e você entenderá o porquê no decorrer da leitura. Além do mais, durante minha
vida encontrei pessoas que atravessaram conflitos com a família e com a fé, pelo fato da
homossexualidade. Foi quando pensei que deveria fazer algo a esse respeito.
Outra alavanca deste trabalho se deu após assistir alguns filmes baseados em fatos reais:
“Tremendo diante de Deus”, documentário de 2001; “Assim me diz a Bíblia”, documentário
norteamericano de 2007; e “Orações para Bobby”, filme norteamericano de 2009.
Como toda nova idéia dita em voz alta, minha visão sob o assunto trará luz e esperança a
alguns, e hostilidade a outros. Isto sempre acontece quando ensinamentos cristãos persuasivos
e opressivos são refutados, principalmente daqueles que afirmam ser representantes de Deus
aqui na terra.