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O USO DE GEOPROCESSAMENTO NO PLANEJAMENTO DE PESQUISA ORIGEM...                                          159




                                                               O USO DE GEOPROCESSAMENTO
                                                              NO PLANEJAMENTO DE PESQUISA
                                                                       ORIGEM – DESTINO NO
                                                                   MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS
                                                                                            Cláudio Bielenki Jr.
                                                                                    Archimedes Azevedo Raia Jr.
     Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana, Universidade Federal de São Carlos, Via Washington Luis,
              km 235, C.P. 676, CEP 13565-905, São Carlos, SP, Brasil, e-mail: bielenki@terra.com.br; raiajr@ufscar.br
                                                                             Antônio Nélson Rodrigues da Silva
                     Departamento de Transportes, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo,
                 Av. Trabalhador São-carlense, 400, CEP 13566-590, São Carlos, SP, Brasil, e-mail: anelson@sc.usp.br




Resumo
Atualmente, com a crescente demanda por viagens no ambiente urbano, o planejamento de transportes vem ganhando
cada vez mais importância entre os estudos da engenharia urbana. Esse processo de planejamento requer variada gama
de informações a fim de possibilitar as diversas análises que influenciam os aspectos pertinentes à locomoção. Como
fonte de aquisição de dados para o planejamento de transportes, a pesquisa Origem-Destino (OD) domiciliar representa
uma ferramenta de fundamental importância, desde que representativa da área em estudo. Neste trabalho procurou-
se apresentar uma metodologia de uso de ferramentas de geoprocessamento como auxílio ao planejamento da pesquisa
OD, tendo por referência uma aplicação na cidade de São Carlos SP. Os resultados da aplicação indicam que, para o
minucioso trabalho de planejamento de uma pesquisa OD, a utilização das técnicas e ferramentas de geoprocessamento
não é apenas pertinente, mas necessária, dada sua forte vinculação com o espaço geográfico.
Palavras-chave:pesquisa origem-destino, planejamento de transportes, engenharia urbana.



Introdução                                                      realização de uma pesquisa como essa requer minucioso
       O planejamento de transportes vem ganhando               planejamento a fim de que não se despendam esforços
significativa importância, dentre outras causas, em razão       e recursos desnecessários. No entanto, o planejamento
dos problemas ocasionados sobretudo pelo excesso de             de pesquisas OD é freqüentemente conduzido através de
veículos particulares (congestionamentos, acidentes,            métodos tradicionais, o que pode ser demorado e pouco
poluição). É nesse contexto que os planejadores buscam          preciso. Neste sentido, as ferramentas de geoprocessa-
soluções práticas para o desenvolvimento e implementação        mento permitem uma análise espacial mais eficiente e podem
de alternativas que possam tornar o ambiente mais adequado      se tornar um diferencial para o sucesso da organização
às exigências de deslocamento da população. Assim, a            dos trabalhos. Isso será discutido neste trabalho, cujo
necessidade de informações reais e atualizadas para o           objetivo é apresentar o método para a realização de
entendimento de como são tomadas as decisões individuais        planejamento de pesquisa origem-destino desenvolvido
de realização de atividades e viagens, em âmbito domiciliar     e adotado na cidade de São Carlos, levado a efeito sobre
e urbano mais amplos, justifica a realização de pesquisas       plataformas de Sistemas de Informações Geográficas (SIGs).
Origem-Destino mesmo em cidades de menor porte, como
a que é aqui objeto de análise.                                 A Pesquisa Origem-Destino
       O conjunto de informações coletadas em uma                       A técnica de pesquisa de entrevista domiciliar tem
pesquisa OD permite conhecer o padrão dos deslocamentos         representado a maior fonte de obtenção de dados para
individuais da cidade para a realização de estudos sobre        estudos de transportes nas últimas décadas (Richardson
o planejamento de transportes no contexto urbano. A             et al., 1995). Os resultados da pesquisa domiciliar OD, mais




                                                                                                    Minerva, 5(2): 159-167
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comum em planos de zonas urbanas do que rurais (Melo,            domicílios com os setores censitários; elaboração de mapa
1975), delimitam a distribuição territorial da população e       com distribuição de renda na cidade; sorteio dos domicílios
dos locais de interesse das viagens. É essa característica       da amostra; distribuição da amostra por setores; caracte-
de espacialização das informações na área urbana que a           rização de pontos para pesquisas complementares; e
diferencia das demais pesquisas do gênero. Seus resultados       integração com o programa Google Earth. Dada a natureza
são sempre de grande valia não só para estudos de                essencialmente aplicada do presente trabalho, a descrição
transportes, como também para áreas afins (Richardson            das etapas da metodologia será feita ao mesmo tempo em
et al., 1995).                                                   que são apresentados e discutidos os resultados obtidos
        A pesquisa origem-destino é normalmente realizada        no estudo de caso em que a referida metodologia foi
não apenas para conhecer os pontos iniciais e finais das         desenvolvida e aplicada, na cidade de São Carlos, em 2007.
viagens, como também os horários, comprimentos, tempos           Nesta seção caberá apenas comentar os recursos com-
de viagens, dados sócio-econômicos dos viajantes, etc.           putacionais utilizados na aplicação.
A pesquisa domiciliar é feita mediante o preenchimento                  Vários programas de computador foram usados neste
de um questionário, a partir de entrevista realizada pelo        trabalho. Um deles, o Sistema de Processamento de
pesquisador com os moradores de cada domicílio sele-             Informações Georreferenciadas – SPRING (INPE-DPI, 1996),
cionado. As entrevistas domiciliares, geralmente, têm dois       foi desenvolvido pelo Instituto de Nacional de Pesquisas
objetivos principais: obter informações estatísticas sobre       Espaciais (INPE) e distribuído gratuitamente. Concebido
as viagens dos residentes na área em estudo e descobrir          para ambientes UNIX e Windows, apresenta as seguintes
as características gerais das famílias, de maneira que estas     características gerais:
possam se relacionar com a geração de viagens nas fases             opera como um banco de dados geográfico sem fronteiras
de construção de um modelo. Embora seja cara e trabalhosa,          e sem limitações de escala, projeção e fuso, mantendo
a pesquisa origem-destino feita através de pesquisa                 a identidade dos objetos geográficos ao longo de todo
domiciliar é a que oferece, em geral, a possibilidade de obter      banco;
os melhores dados.                                                  administra tanto dados vetoriais quanto dados matriciais,
                                                                    e realiza a integração de dados de Sensoriamento Remoto
Geoprocessamento e planejamento de transportes                      em um SIG;
       Os modelos tradicionais, seja de forma autônoma,             consegue escalonabilidade completa, ou seja, é capaz
seja em conjunto com SIGs, permitem gerar alternativas              de operar com toda a sua funcionalidade em ambientes
para a solução de problemas de transportes, simulando               que variam desde microcomputadores a estações de
o comportamento do tráfego. No entanto, as principais               trabalho RISC de alto desempenho.
vantagens de sua associação com os SIGs são a rapidez
e a flexibilidade, pois a utilização de um sistema auto-                O SPRING baseia-se em um modelo de dados
matizado oferece ao planejador, administrador público ou         orientado a objetos, do qual são derivadas sua interface
engenheiro de transportes novos conceitos para repre-            de menus e a linguagem espacial LEGAL.
sentação gráfica e manipulação dos dados (Raia Jr., 2000).              O TransCAD, outro programa empregado, é um
       Os usos de ferramentas de geoprocessamento no             Sistema de Informações Geográficas desenvolvido sobre-
planejamento de transportes têm sido discutidos por              tudo para utilização por profissionais de transporte (SIG-
pesquisadores desde o final dos anos 1990 (como em Silva,        T), para armazenar, mostrar, manipular e analisar dados
1998; Miller, 1999; Dhingra & Shrivastava, 1999; Thill, 2000;    relativos a transporte. Combina a capacidade de um SIG
Fletcher, 2000). No entanto, seu uso prático em atividades       com procedimentos de modelagem de transportes em uma
básicas de planejamento, como a organização de pesquisas         única plataforma, provendo assim recursos para qualquer
OD, por exemplo, ainda é muito pouco difundido na                modo de transporte e diversas escalas de detalhe. Algumas
literatura. No Brasil, mais especificamente, não foi encon-      de suas funcionalidades são:
trado registro desse tipo de aplicação, o que levou ao              SIG com extensões especiais para transporte;
desenvolvimento e à aplicação da metodologia aqui                   ferramentas de mapeamento e visualização especi-
apresentada, que pode inclusive ser aplicada, no futuro,            ficamente desenvolvidas para aplicações de transporte;
em outras cidades.                                                  módulos para roteirização, modelagem de demanda e
                                                                    otimização;
Metodologia                                                         funciona em computadores com configurações usuais
      A metodologia desenvolvida para este trabalho é               no mercado, sob todas as versões do Windows, e é
composta das seguintes etapas: obtenção e tratamento                compatível com praticamente todos os demais programas
dos dados básicos; verificação e tratamento da base                 comerciais atuais de SIG, o que leva aos dois importantes
cartográfica; modelagem do SIG; relacionamento dos                  benefícios destacados na seqüência;




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O USO DE GEOPROCESSAMENTO NO PLANEJAMENTO DE PESQUISA ORIGEM...                                            161



  a aquisição e a instalação do software podem ser feitas        terrenos vazios. Com esse procedimento, o número de
  a um custo muito mais baixo que qualquer outra solução         registros utilizados para o sorteio da amostra diminuiu
  integrada de SIG e modelagem de transporte;                    para 60.861. A partir dos dados de coordenadas cons-
  não é necessário criar aplicações customizadas ou              tantes na base foi gerado um arquivo vetorial de pontos
  módulos de conversão/intercâmbio de dados para efetuar         para representar espacialmente a localização de cada
  análises com os dados do SIG.                                  domicílio. A Figura 1 mostra os domicílios da base de
                                                                 dados filtrada, com a apresentação de um detalhe da
       Adicionalmente, além de planilhas eletrônicas e           localização de alguns desses domicílios.
gerenciadores de bancos de dados, fez-se também uso do                  Um arquivo em formato DXF (Drawing eXchange
Google Earth. Trata-se de um poderoso programa que               Format), versão 12, contendo o mapa de ruas do município
combina os sofisticados recursos de pesquisa do Google           de São Carlos, sistema de referência South American Datum
com imagens de satélite, mapas, terrenos e edificações em        1969 (SAD69) e compatível com escala 1:10.000, também
3D para colocar informações geográficas do mundo todo            foi utilizado. Essa base, atualizada até o ano de 2004, foi
à sua disposição. Trata-se de um serviço de acesso a um          igualmente disponibilizada pelo SAAE. A Figura 2(a) mostra
banco de dados de fotografias aéreas e de imagens de             a rede viária do município de São Carlos, representada pelos
satélites de diferentes pontos da superfície terrestre.          eixos das vias. Adicionalmente, usou-se um arquivo DXF
                                                                 contendo as zonas de tráfego da cidade de São Carlos,
Aplicação                                                        disponibilizado pela Secretaria Municipal de Trânsito,
      A aplicação e a discussão das etapas da metodologia        Transportes e Vias Públicas, cuja representação gráfica
serão feitas na mesma seqüência em que foram citadas no          aparece na Figura 2(b).
primeiro parágrafo da seção anterior.                                   Finalmente, utilizou-se a base de dados do município
                                                                 de São Carlos produzida pelo Instituto Brasileiro de
Obtenção e tratamento dos dados básicos                          Geografia e Estatística (IBGE) para o Censo do ano 2000,
      Um arquivo disponibilizado pelo Serviço Autônomo           na qual constam 245 setores censitários na área urbana
de Água e Esgoto (SAAE), em formato TXT, oriundo                 principal (Figura 2(c)). O arquivo contendo os setores
de uma consulta ao banco de dados referente aos                  censitários de São Carlos, em formato SHP (Shapefile, da
hidrômetros cadastrados pela prefeitura, possui 83.559           ESRI – Environmental Systems Research Institute), está
registros com atributos de coordenadas UTM e área                disponibilizado pelo IBGE por meio da internet (http://
edificada. Esses registros foram exportados para o               www.ibge.gov.br/servidor_arquivos_geo). As bases que
gerenciador de banco de dados Access e filtrados, tendo          compõem esse produto utilizam, como referência carto-
por restrição a área edificada nula, com o objetivo de           gráfica, a projeção Universal Transversa de Mercator (UTM)
diminuir a possibilidade de os entrevistadores visitarem         e, como referência geodésica, o SAD 69.

                                                   N




                   Figura 1 Base cartográfica de São Carlos, com detalhe para a localização de domicílios.


                                                                                                       Minerva, 5(2): 159-167
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               (a)                                 (b)                                 (c)


                                        N


                                                                                      0   1   2   3
                                                                                             km



                      Figura 2 Mapas de São Carlos: (a) eixos de vias, (b) zonas de tráfego e (c) setores censitários.


Verificação e tratamento da base cartográfica                       individualmente. Neste trabalho foi necessário vincular
       Os arquivos disponíveis foram verificados em sua             cada domicílio ao setor censitário em que estava espacial-
consistência cartográfica (referencial), topologia apropriada       mente inserido, de forma a permitir que algumas das análises
para SIG e formatos para incorporação ao SIG. O arquivo DXF         posteriores ocorressem por setores. Como no cadastro
contendo as zonas de tráfego do município não continha              original de hidrômetros não havia esse relacionamento,
topologia própria de SIG, sendo formado apenas por linhas.          foi necessário um procedimento típico de geoprocessamento
Foi necessária a edição vetorial a fim de obter polígonos           que permitisse que cada domicílio herdasse o identificador
consistentes (fechados) para a sua utilização no SIG.               do setor censitário. Isso foi possível pelo fato de a
                                                                    importação dos domicílios ter sido realizada criando-se,
Modelagem do SIG                                                    para cada par de coordenadas, um objeto na categoria
      Todos os dados foram incorporados em plataforma               “domicílios_o” e suas representações espaciais (que
SIG para a edição e análise, nos programas SPRING e                 permite a análise topológica do tipo dentro de).
TransCAD. No SPRING, é necessário modelar um banco                         Por meio de cruzamento dos planos de informações
de dados geográfico a fim de receber os dados do projeto.           cadastrais Domicílios e Setores, cada objeto da categoria
Assim, foram incorporados ao projeto os arquivos da base            “domicilios_objetos” (espacializado pelo PI Domicílio)
cartográfica em uma categoria cadastral. Os seguintes               que estivesse contido em um objeto da categoria “seto-
planos de informações (PIs) foram gerados:                          res_objetos” (espacializado pelo PI Setores) teria o atributo
   Arruamentos (contendo o mapa de ruas de São Carlos               ID herdado da categoria “setores_objetos” e adicionado
   representadas por linhas).                                       ao atributo REG da categoria “domicilios_objetos”. O
   Zonas de tráfego (contendo o mapa das zonas de tráfego,          resultado dessa operação foi a atualização da tabela de
   representadas por polígonos).                                    informações dos domicílios na categoria “domicilios_
   Setores (contendo o mapa de setores censitários para             objetos” com os valores de ID que os relacionam com os
   São Carlos, IBGE 2000, representados por polígonos).             setores censitários em que estão contidos.
   Domicílios (contendo os domicílios do cadastro de
   hidrômetros do SAAE, com área edificada diferente de             Mapa de distribuição de renda
   valor zero ou nulo, representados por pontos).                         Os dados referentes à renda dos responsáveis pelo
                                                                    domicílio, disponibilizados pelo IBGE no Censo 2000, foram
       As informações referentes aos setores censitários            tratados de forma a representar a média para cada setor
e aos domicílios foram incorporadas em duas categorias              em termos de salários mínimos percebidos pelo respon-
de objetos. Uma categoria do tipo não espacial foi criada           sável, já que os dados disponíveis pelo Censo informam
para armazenar dados tabulares referentes aos setores               apenas o número de domicílios dentro de faixas de salários
censitários, e uma categoria do tipo temática foi criada para       mínimos. Assim, foi realizada uma média da soma das
a visualização de planos de informações contendo mapas              multiplicações do número de domicílios pela média do
temáticos das análises realizadas.                                  intervalo em cada classe de salários mínimos, em termos
                                                                    de domicílios totais do setor, conforme a equação (1) (Renda
Relacionamento dos domicílios com os setores censitários            Média do Responsável).
      Ainda que obedeçam a regras de identificação
próprias do IBGE, todos os setores censitários possuem               RMR =
                                                                             å (NDC * MIC )                                  (1)
um identificador único, o que permite espacializar cada setor                       TDS

Minerva, 5(2): 159-167
O USO DE GEOPROCESSAMENTO NO PLANEJAMENTO DE PESQUISA ORIGEM...                                             163



em que:                                                          de 2007. Levando-se em consideração a sugestão de Bruton
RMR: Renda Média do Responsável;                                 (1985), o tamanho mínimo da amostra seria de 1 para cada
NDC: Número de Domicílios da Classe;                             35 habitantes, enquanto o ideal seria de 1 para cada 10
MIC: Média do Intervalo da Classe;                               habitantes. Nesta pesquisa, adotou-se o valor de 6% dos
TDS: Total de Domicílios do Setor.                               domicílios presentes no PI Domicílios (com área edificada
                                                                 diferente de zero ou nulo). Esse número totaliza 3.652
      Esses dados foram inseridos em uma tabela contendo         domicílios, entretanto, como o sorteio se deu individualmente
o identificador de cada setor, posteriormente incorporada        para cada setor censitário, devido aos arredondamentos,
ao banco de dados geográfico por meio da categoria não           a amostra sorteada totalizou 3.776 domicílios. Isso representa
espacial Renda. Essa tabela foi relacionada com a categoria      um total aproximado de 6,2% dos domicílios validados depois
“setores_objetos” por meio do identificador, o que permitiu      da verificação da base de dados. Estimando-se uma média
a geração de um mapa temático de renda por setores               de 3 pessoas por domicílio, pode-se esperar uma amostra
usando uma operação de geoprocessamento do tipo                  superior a 11.000 habitantes entrevistados, perfazendo uma
agrupamento, sendo o resultado dessa operação arma-              relação aproximada de 1 habitante entrevistado para cada
zenado no PI RMR da categoria temática Renda Respon-             20 existentes, o que supera em muito o valor mínimo proposto
sável. Esse mapa, sobreposto aos planos de informação            por Bruton (1985).
Zonas de Tráfego e Domicílios, permite que os técnicos                  Os planos de informação Setores e Domicílios foram
de planejamento de transportes verifiquem a homo-                exportados para o SIG TransCAD, uma vez que as ferra-
geneidade ou não dos dados em termos de distribuição             mentas de seleção desse SIG são apropriadas às tarefas
de renda. A Figura 3 mostra o mapa de renda sobre o qual         seguintes e possuem uma interface mais amigável ao
se sobrepôs a camada contendo as zonas de tráfego.               operador, o que agiliza os procedimentos. Foram, então,
                                                                 realizadas consultas no TransCAD, agrupando domicílios
Sorteio dos domicílios (amostragem)                              por setores censitários, de forma a gerar 245 substratos
      De acordo com o censo 2000, a população do município       (seleções) contendo os domicílios, um para cada setor
de São Carlos era, naquele ano, de 192.998 pessoas. Segundo      censitário. Esses dados foram exportados para uma planilha
dados mais recentes, disponíveis em http://www.ibge.gov.br/      eletrônica, na qual se criou uma coluna específica para o
cidadesat, chegou a 212.956 o número de habitantes no ano        sorteio da amostra.




                                                                                               N




                                                                                Camadas de informação
                                                                                      Setores censitários
                                                                                      Zonas de tráfego
                                                                                Distribuição de renda
                                                                                (em salários mínimos)
                                                                                      4a6
                                                                                      6a8
                                                                                      8 a 10
                                                                                      Acima de 10
                                                                                0     1        2   3
                                                                                          km

                    Figura 3   Mapa de renda média por setor censitário e zonas de tráfego de São Carlos.


                                                                                                       Minerva, 5(2): 159-167
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       Nessa coluna, utilizou-se uma função de geração                de pesquisa com Diários de Atividades, em um total de
de números aleatórios disponível na planilha eletrônica               629 domicílios, como apresentado na Figura 4(b).
para gerar números entre 1 e 100. Posteriormente, os dados
foram ordenados de forma crescente, levando-se em                      Distribuição da amostra por setores
consideração o número aleatório gerado. Então, foram                        Com as ferramentas de SIG podem ser construídos
selecionados todos os registros menores ou iguais ao valor            mapas temáticos para representação e análise da amos-
6 (seis). Finalmente, acrescentou-se uma nova coluna à                tragem por setor censitário e por zonas de tráfego, como
planilha contendo valores um ou zero, indicando se os                 mostrado na Figura 5 (a e b).
registros pertenciam ou não à amostra.
       Com auxílio da função de tabela dinâmica da planilha           Pontos para pesquisas complementares
eletrônica verificou-se a amostra para cada setor censitário,                Para os levantamentos de Cordon-line e Screen-line
identificando-se o número de domicílios sorteados e                   foram selecionados pontos potencialmente interessantes para
comparando-o com valor de 6%, como mostrado na Tabela                 esses tipos de coleta de dados. Na pesquisa Screen-line foram
1. Verifica-se assim a necessidade de eliminar ou adicionar           marcados alguns pontos em vias principais da cidade e pontos
domicílios à amostra de cada setor, para assegurar distri-            de passagem sob a ferrovia que corta a cidade. Para a pesquisa
buição homogênea dos domicílios selecionados para a                   Cordon-line foram selecionados, com o auxílio dos mapas
pesquisa. Os registros eliminados ou adicionados são                  e visitas em campo, os principais acessos rodoviários da
escolhidos levando-se sempre em consideração os números               cidade, conforme se pode observar na Figura 6.
aleatórios gerados pela planilha eletrônica, em ordem
crescente, o que garante o mesmo critério de aleatoriedade            Integração com o Google Earth
em todas as alterações na amostra. Essa operação foi                         O Google Earth é uma poderosa ferramenta de visua-
executada individualmente para cada uma das 245 seleções,             lização espacial que disponibiliza imagens de satélite e aéreas
totalizando 6% de domicílios amostrados na cidade e                   de várias regiões do globo. Para a cidade de São Carlos, está
garantindo 6% de domicílios amostrados em cada setor                  disponível uma imagem com alta resolução espacial, o que
censitário.                                                           permite boa identificação das feições do terreno. Ainda que
       Os domicílios sorteados geraram um novo plano de               esse sistema não forneça dados de coordenadas com boa
informação, contendo apenas esses registros, conforme                 precisão de localização, necessários aos trabalhos geodésicos,
apresentado na Figura 4(a). De forma análoga, da amostra              são adequados para ajudar o entrevistador a achar o endereço
de 6% foram sorteados aleatoriamente domicílios que                   e o domicílio a ser visitado para a entrevista, já que ele pode
representassem 1% do total de domicílios para a realização            ter uma visão da disposição das quadras e lotes.


                          Tabela 1 Recorte para cinco setores da tabela dinâmica da planilha eletrônica.

            Linha               Setor                1           2         3        4       ...     245        Soma
              1          Amostras sorteadas         18           6         7        8       ...      8         3693
              2          Domicílios do setor       178          168       84       122      ...     173        60861
              3                  6%               10,68      10,08       5,04      7,32     ...    10,38      3651,66
              4            Inteiro superior         11          11         6        8       ...     11         3776
              5          Linha 4 – Linha 1          –7           5        –1        0       ...      3           83
              6          Linha 4 – Linha 3         0,32      0,92        0,96      0,68     ...    0,62       124,34
            Observações:
            A Linha 1 contém os valores contados de domicílios sorteados para amostra em cada setor.
            A Linha 2 contém o total de domicílios em cada setor.
            A Linha 3 contém o valor de 6% dos domicílios do setor.
            A Linha 4 contém o valor da linha 3 arredondado para o inteiro superior. Este é o número final de
            domicílios amostrados para cada setor.
            A Linha 5 contém a diferença entre os domicílios sorteados (Linha 1) e o previsto de 6% arredondado
            para o inteiro superior (Linha 4). Esse número de domicílios teve de ser corrigido manualmente no
            TransCAD.
            A Linha 6 contém as diferenças entre os valores das Linhas 4 e 3, ou seja, as diferenças resultantes
            dos arredondamentos.
            A Linha 4 é, portanto, igual à soma das Linhas 1 e 5 e das Linhas 3 e 6.



Minerva, 5(2): 159-167
O USO DE GEOPROCESSAMENTO NO PLANEJAMENTO DE PESQUISA ORIGEM...                                                             165



                                        Setores censitários                                          Setores censitários
                                        Domicílio                                                    Entrevista domiciliar
                                        Amostra                                                      Diário de atividades




                                                   N                                                              N




                 (a)                          0 0,8 1,6 2,4               (b)                                0 0,8 1,6 2,4
                                                  km                                                             km



Figura 4   Domicílios sorteados para a amostra (a) e divisão da amostra em entrevistas domiciliares e diário de atividades (b).


                  (a)                                                      (b)




                                                                    N




                                                              0   0,9 1,8 2,7
                                                                    km


                  Amostra                                                  Amostra
                   0 a 10                                                   0 a 49
                   11 a 13                                                  50 a 69
                   14 a 18                                                  70 a 119
                   19 a 103                                                 120 a 200

                        Figura 5    Amostras por setores censitários (a) e por zonas de tráfego (b).


                                                                                 N




                                                                                     Pontos de screen-line
                                                                                     Pontos de cordon-line
                                0         2            4
                                                                                     Terminal rodoviário
                                         km

                                     Figura 6 Pontos para pesquisas complementares.


                                                                                                                      Minerva, 5(2): 159-167
166                                          BIELENKI JR., RAIA JR. & SILVA



       Encontra-se disponível gratuitamente na internet um       que o TransCAD possui funcionalidades que agilizam os
plug-in para o software TransCAD, denominado TC2GE               procedimentos ao usuário não tão especializado.
(http://www.geocities.com/tc2ge/), que exporta os dados                  Outro ponto muito importante do planejamento para
do TransCAD para um formato que pode ser inserido no             a pesquisa OD é tentar facilitar ao máximo o trabalho do
Google Earth. Assim, no caso da pesquisa OD, pode-se             entrevistador. Nesse sentido, a integração dos dados para
exportar uma seleção de domicílios correspondentes a             a pesquisa com imagens de alta resolução, fornecendo um
determinado entrevistador e introduzi-la no Google Earth,        mapa de localização ao entrevistador, ajuda-o na tarefa de
gerando um mapa que contém a imagem da área de visita            identificação dos domicílios a serem visitados. O aplicativo
associada aos domicílios a serem entrevistados. Na Figura        Google Earth, utilizado neste trabalho, foi essencial para
7 pode-se visualizar, a título de exemplo, um dos mapas          essa tarefa, já que há hoje um plug-in que permite associá-
confeccionados para auxílio aos entrevistadores.                 lo aos dados do TransCAD.
                                                                         Procurou-se detalhar os procedimentos para a seleção
Conclusões                                                       da amostra usando uma planilha eletrônica no sorteio, em
       A variabilidade do espaço geográfico na área de           combinação com o SIG, para a separação dos substratos.
uma pesquisa OD exige planejamento eficiente                     Essa tarefa poderia ser extremamente trabalhosa não fossem
envolvendo diversas variáveis, sem o que se corre o risco        as facilidades disponíveis na planilha eletrônica, que exigiu,
de dispêndio de recursos sem resultados satisfatórios            após a sua utilização, a correção de apenas 83 domicílios,
que representem o fluxo e características das viagens.           manualmente. Ao final, foi produzida uma amostra com 3.776
A busca por informações e dados que auxiliem nessa tarefa        domicílios para a realização da pesquisa OD, que podem
é de fundamental importância; para isto, recorre-se a            ser analisados sob diferentes óticas, como: número amos-
diferentes instituições, como: a Prefeitura Municipal, o         trado por zonas de tráfego, por setores censitários e ainda
IBGE e outros órgãos detentores desse tipo de informação.        segundo outras variáveis.
Isso resulta, muitas vezes, em dados que não estão                       Assim, a partir do trabalho realizado e resultados
totalmente compatibilizados, como no caso do município           obtidos, decorrentes da metodologia empregada, pode-
de São Carlos, em que a base de domicílios disponibilizada       se concluir que a utilização das técnicas e ferramentas de
pelo SAAE não tinha vinculação direta com os setores             geoprocessamento não é apenas pertinente, mas necessá-
censitários do IBGE.                                             ria, ao minucioso trabalho de planejamento de uma pesquisa
       Entretanto, ainda que não existam atributos nos           OD, principalmente por sua irrestrita vinculação com o
diferentes bancos de dados que se relacionem entre si por        espaço geográfico. Mais detalhes do planejamento da
meio de uma “chave”, é quase sempre possível vincular            pesquisa OD com ferramentas de geoprocessamento podem
tais dados pela localização geográfica e por relacionamentos     ser obtidos em Bielenki (2007).
de topologia. Algumas ferramentas de geoprocessamento
(SIG) possuem algoritmos próprios para realizar a sobrepo-       Agradecimentos
sição de camadas já vinculando seus atributos. Neste                   O presente trabalho contou com o financiamento
trabalho, optou-se pela utilização de dois SIGs, o TransCAD,     da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
que é essencialmente um SIG-T, e o SPRING. Ambos                 Paulo (FAPESP) e da Prefeitura Municipal de São Carlos,
demonstraram-se capazes de auxiliar na tarefa proposta,          a quem os autores agradecem. Agradecem também ao
com vantagens e desvantagens para ambos. O SPRING                Professor Carlos Alberto Faria, da Universidade Federal
tem o atrativo de ser disponibilizado gratuitamente e ser        de Uberlândia, por suas valiosas sugestões e comentários
muito bem documentado, inclusive em português, ao passo          durante o planejamento e a execução da pesquisa OD.




                      Figura 7   Domicílios sorteados sobrepostos à imagem de satélite no Google Earth.


Minerva, 5(2): 159-167
O USO DE GEOPROCESSAMENTO NO PLANEJAMENTO DE PESQUISA ORIGEM...                                             167



Referências Bibliográficas                                     INPE-DPI. SPRING: Manual do Usuário. São José dos
BIELENKI Jr., C. O uso de geoprocessamento no                  Campos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Divisão
planejamento de pesquisa origem-destino no Município           de Processamento de Imagens. Disponível em: http://
de São Carlos. 2007. Monografia (Especialização em             www.dpi.inpe.br/spring. Acesso em: 1996.
Geoprocessamento) – Núcleo de Geoprocessamento,                MELO, J. C. Planejamento dos transportes. São Paulo:
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.                McGraw-Hill, 1975.
BRUTON, M. J. Introduction to transportation planning.         RAIA Jr., A. A. Acessibilidade e mobilidade na estimativa
Londres: Hutchinson, 1985.                                     de um índice de potencial de viagens utilizando redes
CALIPER. TransCAD transportation GIS software: User’s          neurais artificiais e Sistemas de Informações Geográficas.
Guide. Version 4.8. Massachusetts: Academic License,           2000. Tese (Doutorado) – EESC/USP, São Carlos.
Newton, 2007.                                                  RICHARDSON, A. J.; AMPT, E. S.; MEYBURG, A. H.
DHINGRA, S. L.; SHRIVASTAVA, P. Application of advanced        Survey methods for transport planning, Parkville, Australia:
techniques to urban transportation mobility planning. In:      Eucalyptus Press, 1995.
INTERNATIONAL CONFERENCE ON MODELING AND                       SILVA, A. N. R. Sistemas de Informações Geográficas para
MANAGEMENT IN TRANSPORTATION, 1999, Cracóvia.                  planejamento de transportes. São Carlos. 1998. Tese (Livre-
Proceedings… Cracóvia: University of Technology, 1999.         Docência) – EESC/USP, São Carlos.
v. I, p. 45-55.
                                                               THILL, J.-C. Geographic Information Systems for
FLETCHER, D. R. Geographic Information Systems for             transportation in perspective. In: J.-C. Thill (Ed.). Geographic
transportation: a look forward. In: TRB STANDING               Information Systems in transportation research. Oxford:
COMMITTEES. Transportation in the new millennium: state        Pergamon, 2000.
of the art and future directions. Washington, D.C.: National
Research Council, 2000. CD-ROM.




                                                                                                      Minerva, 5(2): 159-167
Minerva 05(02) 06

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  • 1. O USO DE GEOPROCESSAMENTO NO PLANEJAMENTO DE PESQUISA ORIGEM... 159 O USO DE GEOPROCESSAMENTO NO PLANEJAMENTO DE PESQUISA ORIGEM – DESTINO NO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS Cláudio Bielenki Jr. Archimedes Azevedo Raia Jr. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana, Universidade Federal de São Carlos, Via Washington Luis, km 235, C.P. 676, CEP 13565-905, São Carlos, SP, Brasil, e-mail: bielenki@terra.com.br; raiajr@ufscar.br Antônio Nélson Rodrigues da Silva Departamento de Transportes, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, Av. Trabalhador São-carlense, 400, CEP 13566-590, São Carlos, SP, Brasil, e-mail: anelson@sc.usp.br Resumo Atualmente, com a crescente demanda por viagens no ambiente urbano, o planejamento de transportes vem ganhando cada vez mais importância entre os estudos da engenharia urbana. Esse processo de planejamento requer variada gama de informações a fim de possibilitar as diversas análises que influenciam os aspectos pertinentes à locomoção. Como fonte de aquisição de dados para o planejamento de transportes, a pesquisa Origem-Destino (OD) domiciliar representa uma ferramenta de fundamental importância, desde que representativa da área em estudo. Neste trabalho procurou- se apresentar uma metodologia de uso de ferramentas de geoprocessamento como auxílio ao planejamento da pesquisa OD, tendo por referência uma aplicação na cidade de São Carlos SP. Os resultados da aplicação indicam que, para o minucioso trabalho de planejamento de uma pesquisa OD, a utilização das técnicas e ferramentas de geoprocessamento não é apenas pertinente, mas necessária, dada sua forte vinculação com o espaço geográfico. Palavras-chave:pesquisa origem-destino, planejamento de transportes, engenharia urbana. Introdução realização de uma pesquisa como essa requer minucioso O planejamento de transportes vem ganhando planejamento a fim de que não se despendam esforços significativa importância, dentre outras causas, em razão e recursos desnecessários. No entanto, o planejamento dos problemas ocasionados sobretudo pelo excesso de de pesquisas OD é freqüentemente conduzido através de veículos particulares (congestionamentos, acidentes, métodos tradicionais, o que pode ser demorado e pouco poluição). É nesse contexto que os planejadores buscam preciso. Neste sentido, as ferramentas de geoprocessa- soluções práticas para o desenvolvimento e implementação mento permitem uma análise espacial mais eficiente e podem de alternativas que possam tornar o ambiente mais adequado se tornar um diferencial para o sucesso da organização às exigências de deslocamento da população. Assim, a dos trabalhos. Isso será discutido neste trabalho, cujo necessidade de informações reais e atualizadas para o objetivo é apresentar o método para a realização de entendimento de como são tomadas as decisões individuais planejamento de pesquisa origem-destino desenvolvido de realização de atividades e viagens, em âmbito domiciliar e adotado na cidade de São Carlos, levado a efeito sobre e urbano mais amplos, justifica a realização de pesquisas plataformas de Sistemas de Informações Geográficas (SIGs). Origem-Destino mesmo em cidades de menor porte, como a que é aqui objeto de análise. A Pesquisa Origem-Destino O conjunto de informações coletadas em uma A técnica de pesquisa de entrevista domiciliar tem pesquisa OD permite conhecer o padrão dos deslocamentos representado a maior fonte de obtenção de dados para individuais da cidade para a realização de estudos sobre estudos de transportes nas últimas décadas (Richardson o planejamento de transportes no contexto urbano. A et al., 1995). Os resultados da pesquisa domiciliar OD, mais Minerva, 5(2): 159-167
  • 2. 160 BIELENKI JR., RAIA JR. & SILVA comum em planos de zonas urbanas do que rurais (Melo, domicílios com os setores censitários; elaboração de mapa 1975), delimitam a distribuição territorial da população e com distribuição de renda na cidade; sorteio dos domicílios dos locais de interesse das viagens. É essa característica da amostra; distribuição da amostra por setores; caracte- de espacialização das informações na área urbana que a rização de pontos para pesquisas complementares; e diferencia das demais pesquisas do gênero. Seus resultados integração com o programa Google Earth. Dada a natureza são sempre de grande valia não só para estudos de essencialmente aplicada do presente trabalho, a descrição transportes, como também para áreas afins (Richardson das etapas da metodologia será feita ao mesmo tempo em et al., 1995). que são apresentados e discutidos os resultados obtidos A pesquisa origem-destino é normalmente realizada no estudo de caso em que a referida metodologia foi não apenas para conhecer os pontos iniciais e finais das desenvolvida e aplicada, na cidade de São Carlos, em 2007. viagens, como também os horários, comprimentos, tempos Nesta seção caberá apenas comentar os recursos com- de viagens, dados sócio-econômicos dos viajantes, etc. putacionais utilizados na aplicação. A pesquisa domiciliar é feita mediante o preenchimento Vários programas de computador foram usados neste de um questionário, a partir de entrevista realizada pelo trabalho. Um deles, o Sistema de Processamento de pesquisador com os moradores de cada domicílio sele- Informações Georreferenciadas – SPRING (INPE-DPI, 1996), cionado. As entrevistas domiciliares, geralmente, têm dois foi desenvolvido pelo Instituto de Nacional de Pesquisas objetivos principais: obter informações estatísticas sobre Espaciais (INPE) e distribuído gratuitamente. Concebido as viagens dos residentes na área em estudo e descobrir para ambientes UNIX e Windows, apresenta as seguintes as características gerais das famílias, de maneira que estas características gerais: possam se relacionar com a geração de viagens nas fases opera como um banco de dados geográfico sem fronteiras de construção de um modelo. Embora seja cara e trabalhosa, e sem limitações de escala, projeção e fuso, mantendo a pesquisa origem-destino feita através de pesquisa a identidade dos objetos geográficos ao longo de todo domiciliar é a que oferece, em geral, a possibilidade de obter banco; os melhores dados. administra tanto dados vetoriais quanto dados matriciais, e realiza a integração de dados de Sensoriamento Remoto Geoprocessamento e planejamento de transportes em um SIG; Os modelos tradicionais, seja de forma autônoma, consegue escalonabilidade completa, ou seja, é capaz seja em conjunto com SIGs, permitem gerar alternativas de operar com toda a sua funcionalidade em ambientes para a solução de problemas de transportes, simulando que variam desde microcomputadores a estações de o comportamento do tráfego. No entanto, as principais trabalho RISC de alto desempenho. vantagens de sua associação com os SIGs são a rapidez e a flexibilidade, pois a utilização de um sistema auto- O SPRING baseia-se em um modelo de dados matizado oferece ao planejador, administrador público ou orientado a objetos, do qual são derivadas sua interface engenheiro de transportes novos conceitos para repre- de menus e a linguagem espacial LEGAL. sentação gráfica e manipulação dos dados (Raia Jr., 2000). O TransCAD, outro programa empregado, é um Os usos de ferramentas de geoprocessamento no Sistema de Informações Geográficas desenvolvido sobre- planejamento de transportes têm sido discutidos por tudo para utilização por profissionais de transporte (SIG- pesquisadores desde o final dos anos 1990 (como em Silva, T), para armazenar, mostrar, manipular e analisar dados 1998; Miller, 1999; Dhingra & Shrivastava, 1999; Thill, 2000; relativos a transporte. Combina a capacidade de um SIG Fletcher, 2000). No entanto, seu uso prático em atividades com procedimentos de modelagem de transportes em uma básicas de planejamento, como a organização de pesquisas única plataforma, provendo assim recursos para qualquer OD, por exemplo, ainda é muito pouco difundido na modo de transporte e diversas escalas de detalhe. Algumas literatura. No Brasil, mais especificamente, não foi encon- de suas funcionalidades são: trado registro desse tipo de aplicação, o que levou ao SIG com extensões especiais para transporte; desenvolvimento e à aplicação da metodologia aqui ferramentas de mapeamento e visualização especi- apresentada, que pode inclusive ser aplicada, no futuro, ficamente desenvolvidas para aplicações de transporte; em outras cidades. módulos para roteirização, modelagem de demanda e otimização; Metodologia funciona em computadores com configurações usuais A metodologia desenvolvida para este trabalho é no mercado, sob todas as versões do Windows, e é composta das seguintes etapas: obtenção e tratamento compatível com praticamente todos os demais programas dos dados básicos; verificação e tratamento da base comerciais atuais de SIG, o que leva aos dois importantes cartográfica; modelagem do SIG; relacionamento dos benefícios destacados na seqüência; Minerva, 5(2): 159-167
  • 3. O USO DE GEOPROCESSAMENTO NO PLANEJAMENTO DE PESQUISA ORIGEM... 161 a aquisição e a instalação do software podem ser feitas terrenos vazios. Com esse procedimento, o número de a um custo muito mais baixo que qualquer outra solução registros utilizados para o sorteio da amostra diminuiu integrada de SIG e modelagem de transporte; para 60.861. A partir dos dados de coordenadas cons- não é necessário criar aplicações customizadas ou tantes na base foi gerado um arquivo vetorial de pontos módulos de conversão/intercâmbio de dados para efetuar para representar espacialmente a localização de cada análises com os dados do SIG. domicílio. A Figura 1 mostra os domicílios da base de dados filtrada, com a apresentação de um detalhe da Adicionalmente, além de planilhas eletrônicas e localização de alguns desses domicílios. gerenciadores de bancos de dados, fez-se também uso do Um arquivo em formato DXF (Drawing eXchange Google Earth. Trata-se de um poderoso programa que Format), versão 12, contendo o mapa de ruas do município combina os sofisticados recursos de pesquisa do Google de São Carlos, sistema de referência South American Datum com imagens de satélite, mapas, terrenos e edificações em 1969 (SAD69) e compatível com escala 1:10.000, também 3D para colocar informações geográficas do mundo todo foi utilizado. Essa base, atualizada até o ano de 2004, foi à sua disposição. Trata-se de um serviço de acesso a um igualmente disponibilizada pelo SAAE. A Figura 2(a) mostra banco de dados de fotografias aéreas e de imagens de a rede viária do município de São Carlos, representada pelos satélites de diferentes pontos da superfície terrestre. eixos das vias. Adicionalmente, usou-se um arquivo DXF contendo as zonas de tráfego da cidade de São Carlos, Aplicação disponibilizado pela Secretaria Municipal de Trânsito, A aplicação e a discussão das etapas da metodologia Transportes e Vias Públicas, cuja representação gráfica serão feitas na mesma seqüência em que foram citadas no aparece na Figura 2(b). primeiro parágrafo da seção anterior. Finalmente, utilizou-se a base de dados do município de São Carlos produzida pelo Instituto Brasileiro de Obtenção e tratamento dos dados básicos Geografia e Estatística (IBGE) para o Censo do ano 2000, Um arquivo disponibilizado pelo Serviço Autônomo na qual constam 245 setores censitários na área urbana de Água e Esgoto (SAAE), em formato TXT, oriundo principal (Figura 2(c)). O arquivo contendo os setores de uma consulta ao banco de dados referente aos censitários de São Carlos, em formato SHP (Shapefile, da hidrômetros cadastrados pela prefeitura, possui 83.559 ESRI – Environmental Systems Research Institute), está registros com atributos de coordenadas UTM e área disponibilizado pelo IBGE por meio da internet (http:// edificada. Esses registros foram exportados para o www.ibge.gov.br/servidor_arquivos_geo). As bases que gerenciador de banco de dados Access e filtrados, tendo compõem esse produto utilizam, como referência carto- por restrição a área edificada nula, com o objetivo de gráfica, a projeção Universal Transversa de Mercator (UTM) diminuir a possibilidade de os entrevistadores visitarem e, como referência geodésica, o SAD 69. N Figura 1 Base cartográfica de São Carlos, com detalhe para a localização de domicílios. Minerva, 5(2): 159-167
  • 4. 162 BIELENKI JR., RAIA JR. & SILVA (a) (b) (c) N 0 1 2 3 km Figura 2 Mapas de São Carlos: (a) eixos de vias, (b) zonas de tráfego e (c) setores censitários. Verificação e tratamento da base cartográfica individualmente. Neste trabalho foi necessário vincular Os arquivos disponíveis foram verificados em sua cada domicílio ao setor censitário em que estava espacial- consistência cartográfica (referencial), topologia apropriada mente inserido, de forma a permitir que algumas das análises para SIG e formatos para incorporação ao SIG. O arquivo DXF posteriores ocorressem por setores. Como no cadastro contendo as zonas de tráfego do município não continha original de hidrômetros não havia esse relacionamento, topologia própria de SIG, sendo formado apenas por linhas. foi necessário um procedimento típico de geoprocessamento Foi necessária a edição vetorial a fim de obter polígonos que permitisse que cada domicílio herdasse o identificador consistentes (fechados) para a sua utilização no SIG. do setor censitário. Isso foi possível pelo fato de a importação dos domicílios ter sido realizada criando-se, Modelagem do SIG para cada par de coordenadas, um objeto na categoria Todos os dados foram incorporados em plataforma “domicílios_o” e suas representações espaciais (que SIG para a edição e análise, nos programas SPRING e permite a análise topológica do tipo dentro de). TransCAD. No SPRING, é necessário modelar um banco Por meio de cruzamento dos planos de informações de dados geográfico a fim de receber os dados do projeto. cadastrais Domicílios e Setores, cada objeto da categoria Assim, foram incorporados ao projeto os arquivos da base “domicilios_objetos” (espacializado pelo PI Domicílio) cartográfica em uma categoria cadastral. Os seguintes que estivesse contido em um objeto da categoria “seto- planos de informações (PIs) foram gerados: res_objetos” (espacializado pelo PI Setores) teria o atributo Arruamentos (contendo o mapa de ruas de São Carlos ID herdado da categoria “setores_objetos” e adicionado representadas por linhas). ao atributo REG da categoria “domicilios_objetos”. O Zonas de tráfego (contendo o mapa das zonas de tráfego, resultado dessa operação foi a atualização da tabela de representadas por polígonos). informações dos domicílios na categoria “domicilios_ Setores (contendo o mapa de setores censitários para objetos” com os valores de ID que os relacionam com os São Carlos, IBGE 2000, representados por polígonos). setores censitários em que estão contidos. Domicílios (contendo os domicílios do cadastro de hidrômetros do SAAE, com área edificada diferente de Mapa de distribuição de renda valor zero ou nulo, representados por pontos). Os dados referentes à renda dos responsáveis pelo domicílio, disponibilizados pelo IBGE no Censo 2000, foram As informações referentes aos setores censitários tratados de forma a representar a média para cada setor e aos domicílios foram incorporadas em duas categorias em termos de salários mínimos percebidos pelo respon- de objetos. Uma categoria do tipo não espacial foi criada sável, já que os dados disponíveis pelo Censo informam para armazenar dados tabulares referentes aos setores apenas o número de domicílios dentro de faixas de salários censitários, e uma categoria do tipo temática foi criada para mínimos. Assim, foi realizada uma média da soma das a visualização de planos de informações contendo mapas multiplicações do número de domicílios pela média do temáticos das análises realizadas. intervalo em cada classe de salários mínimos, em termos de domicílios totais do setor, conforme a equação (1) (Renda Relacionamento dos domicílios com os setores censitários Média do Responsável). Ainda que obedeçam a regras de identificação próprias do IBGE, todos os setores censitários possuem RMR = å (NDC * MIC ) (1) um identificador único, o que permite espacializar cada setor TDS Minerva, 5(2): 159-167
  • 5. O USO DE GEOPROCESSAMENTO NO PLANEJAMENTO DE PESQUISA ORIGEM... 163 em que: de 2007. Levando-se em consideração a sugestão de Bruton RMR: Renda Média do Responsável; (1985), o tamanho mínimo da amostra seria de 1 para cada NDC: Número de Domicílios da Classe; 35 habitantes, enquanto o ideal seria de 1 para cada 10 MIC: Média do Intervalo da Classe; habitantes. Nesta pesquisa, adotou-se o valor de 6% dos TDS: Total de Domicílios do Setor. domicílios presentes no PI Domicílios (com área edificada diferente de zero ou nulo). Esse número totaliza 3.652 Esses dados foram inseridos em uma tabela contendo domicílios, entretanto, como o sorteio se deu individualmente o identificador de cada setor, posteriormente incorporada para cada setor censitário, devido aos arredondamentos, ao banco de dados geográfico por meio da categoria não a amostra sorteada totalizou 3.776 domicílios. Isso representa espacial Renda. Essa tabela foi relacionada com a categoria um total aproximado de 6,2% dos domicílios validados depois “setores_objetos” por meio do identificador, o que permitiu da verificação da base de dados. Estimando-se uma média a geração de um mapa temático de renda por setores de 3 pessoas por domicílio, pode-se esperar uma amostra usando uma operação de geoprocessamento do tipo superior a 11.000 habitantes entrevistados, perfazendo uma agrupamento, sendo o resultado dessa operação arma- relação aproximada de 1 habitante entrevistado para cada zenado no PI RMR da categoria temática Renda Respon- 20 existentes, o que supera em muito o valor mínimo proposto sável. Esse mapa, sobreposto aos planos de informação por Bruton (1985). Zonas de Tráfego e Domicílios, permite que os técnicos Os planos de informação Setores e Domicílios foram de planejamento de transportes verifiquem a homo- exportados para o SIG TransCAD, uma vez que as ferra- geneidade ou não dos dados em termos de distribuição mentas de seleção desse SIG são apropriadas às tarefas de renda. A Figura 3 mostra o mapa de renda sobre o qual seguintes e possuem uma interface mais amigável ao se sobrepôs a camada contendo as zonas de tráfego. operador, o que agiliza os procedimentos. Foram, então, realizadas consultas no TransCAD, agrupando domicílios Sorteio dos domicílios (amostragem) por setores censitários, de forma a gerar 245 substratos De acordo com o censo 2000, a população do município (seleções) contendo os domicílios, um para cada setor de São Carlos era, naquele ano, de 192.998 pessoas. Segundo censitário. Esses dados foram exportados para uma planilha dados mais recentes, disponíveis em http://www.ibge.gov.br/ eletrônica, na qual se criou uma coluna específica para o cidadesat, chegou a 212.956 o número de habitantes no ano sorteio da amostra. N Camadas de informação Setores censitários Zonas de tráfego Distribuição de renda (em salários mínimos) 4a6 6a8 8 a 10 Acima de 10 0 1 2 3 km Figura 3 Mapa de renda média por setor censitário e zonas de tráfego de São Carlos. Minerva, 5(2): 159-167
  • 6. 164 BIELENKI JR., RAIA JR. & SILVA Nessa coluna, utilizou-se uma função de geração de pesquisa com Diários de Atividades, em um total de de números aleatórios disponível na planilha eletrônica 629 domicílios, como apresentado na Figura 4(b). para gerar números entre 1 e 100. Posteriormente, os dados foram ordenados de forma crescente, levando-se em Distribuição da amostra por setores consideração o número aleatório gerado. Então, foram Com as ferramentas de SIG podem ser construídos selecionados todos os registros menores ou iguais ao valor mapas temáticos para representação e análise da amos- 6 (seis). Finalmente, acrescentou-se uma nova coluna à tragem por setor censitário e por zonas de tráfego, como planilha contendo valores um ou zero, indicando se os mostrado na Figura 5 (a e b). registros pertenciam ou não à amostra. Com auxílio da função de tabela dinâmica da planilha Pontos para pesquisas complementares eletrônica verificou-se a amostra para cada setor censitário, Para os levantamentos de Cordon-line e Screen-line identificando-se o número de domicílios sorteados e foram selecionados pontos potencialmente interessantes para comparando-o com valor de 6%, como mostrado na Tabela esses tipos de coleta de dados. Na pesquisa Screen-line foram 1. Verifica-se assim a necessidade de eliminar ou adicionar marcados alguns pontos em vias principais da cidade e pontos domicílios à amostra de cada setor, para assegurar distri- de passagem sob a ferrovia que corta a cidade. Para a pesquisa buição homogênea dos domicílios selecionados para a Cordon-line foram selecionados, com o auxílio dos mapas pesquisa. Os registros eliminados ou adicionados são e visitas em campo, os principais acessos rodoviários da escolhidos levando-se sempre em consideração os números cidade, conforme se pode observar na Figura 6. aleatórios gerados pela planilha eletrônica, em ordem crescente, o que garante o mesmo critério de aleatoriedade Integração com o Google Earth em todas as alterações na amostra. Essa operação foi O Google Earth é uma poderosa ferramenta de visua- executada individualmente para cada uma das 245 seleções, lização espacial que disponibiliza imagens de satélite e aéreas totalizando 6% de domicílios amostrados na cidade e de várias regiões do globo. Para a cidade de São Carlos, está garantindo 6% de domicílios amostrados em cada setor disponível uma imagem com alta resolução espacial, o que censitário. permite boa identificação das feições do terreno. Ainda que Os domicílios sorteados geraram um novo plano de esse sistema não forneça dados de coordenadas com boa informação, contendo apenas esses registros, conforme precisão de localização, necessários aos trabalhos geodésicos, apresentado na Figura 4(a). De forma análoga, da amostra são adequados para ajudar o entrevistador a achar o endereço de 6% foram sorteados aleatoriamente domicílios que e o domicílio a ser visitado para a entrevista, já que ele pode representassem 1% do total de domicílios para a realização ter uma visão da disposição das quadras e lotes. Tabela 1 Recorte para cinco setores da tabela dinâmica da planilha eletrônica. Linha Setor 1 2 3 4 ... 245 Soma 1 Amostras sorteadas 18 6 7 8 ... 8 3693 2 Domicílios do setor 178 168 84 122 ... 173 60861 3 6% 10,68 10,08 5,04 7,32 ... 10,38 3651,66 4 Inteiro superior 11 11 6 8 ... 11 3776 5 Linha 4 – Linha 1 –7 5 –1 0 ... 3 83 6 Linha 4 – Linha 3 0,32 0,92 0,96 0,68 ... 0,62 124,34 Observações: A Linha 1 contém os valores contados de domicílios sorteados para amostra em cada setor. A Linha 2 contém o total de domicílios em cada setor. A Linha 3 contém o valor de 6% dos domicílios do setor. A Linha 4 contém o valor da linha 3 arredondado para o inteiro superior. Este é o número final de domicílios amostrados para cada setor. A Linha 5 contém a diferença entre os domicílios sorteados (Linha 1) e o previsto de 6% arredondado para o inteiro superior (Linha 4). Esse número de domicílios teve de ser corrigido manualmente no TransCAD. A Linha 6 contém as diferenças entre os valores das Linhas 4 e 3, ou seja, as diferenças resultantes dos arredondamentos. A Linha 4 é, portanto, igual à soma das Linhas 1 e 5 e das Linhas 3 e 6. Minerva, 5(2): 159-167
  • 7. O USO DE GEOPROCESSAMENTO NO PLANEJAMENTO DE PESQUISA ORIGEM... 165 Setores censitários Setores censitários Domicílio Entrevista domiciliar Amostra Diário de atividades N N (a) 0 0,8 1,6 2,4 (b) 0 0,8 1,6 2,4 km km Figura 4 Domicílios sorteados para a amostra (a) e divisão da amostra em entrevistas domiciliares e diário de atividades (b). (a) (b) N 0 0,9 1,8 2,7 km Amostra Amostra 0 a 10 0 a 49 11 a 13 50 a 69 14 a 18 70 a 119 19 a 103 120 a 200 Figura 5 Amostras por setores censitários (a) e por zonas de tráfego (b). N Pontos de screen-line Pontos de cordon-line 0 2 4 Terminal rodoviário km Figura 6 Pontos para pesquisas complementares. Minerva, 5(2): 159-167
  • 8. 166 BIELENKI JR., RAIA JR. & SILVA Encontra-se disponível gratuitamente na internet um que o TransCAD possui funcionalidades que agilizam os plug-in para o software TransCAD, denominado TC2GE procedimentos ao usuário não tão especializado. (http://www.geocities.com/tc2ge/), que exporta os dados Outro ponto muito importante do planejamento para do TransCAD para um formato que pode ser inserido no a pesquisa OD é tentar facilitar ao máximo o trabalho do Google Earth. Assim, no caso da pesquisa OD, pode-se entrevistador. Nesse sentido, a integração dos dados para exportar uma seleção de domicílios correspondentes a a pesquisa com imagens de alta resolução, fornecendo um determinado entrevistador e introduzi-la no Google Earth, mapa de localização ao entrevistador, ajuda-o na tarefa de gerando um mapa que contém a imagem da área de visita identificação dos domicílios a serem visitados. O aplicativo associada aos domicílios a serem entrevistados. Na Figura Google Earth, utilizado neste trabalho, foi essencial para 7 pode-se visualizar, a título de exemplo, um dos mapas essa tarefa, já que há hoje um plug-in que permite associá- confeccionados para auxílio aos entrevistadores. lo aos dados do TransCAD. Procurou-se detalhar os procedimentos para a seleção Conclusões da amostra usando uma planilha eletrônica no sorteio, em A variabilidade do espaço geográfico na área de combinação com o SIG, para a separação dos substratos. uma pesquisa OD exige planejamento eficiente Essa tarefa poderia ser extremamente trabalhosa não fossem envolvendo diversas variáveis, sem o que se corre o risco as facilidades disponíveis na planilha eletrônica, que exigiu, de dispêndio de recursos sem resultados satisfatórios após a sua utilização, a correção de apenas 83 domicílios, que representem o fluxo e características das viagens. manualmente. Ao final, foi produzida uma amostra com 3.776 A busca por informações e dados que auxiliem nessa tarefa domicílios para a realização da pesquisa OD, que podem é de fundamental importância; para isto, recorre-se a ser analisados sob diferentes óticas, como: número amos- diferentes instituições, como: a Prefeitura Municipal, o trado por zonas de tráfego, por setores censitários e ainda IBGE e outros órgãos detentores desse tipo de informação. segundo outras variáveis. Isso resulta, muitas vezes, em dados que não estão Assim, a partir do trabalho realizado e resultados totalmente compatibilizados, como no caso do município obtidos, decorrentes da metodologia empregada, pode- de São Carlos, em que a base de domicílios disponibilizada se concluir que a utilização das técnicas e ferramentas de pelo SAAE não tinha vinculação direta com os setores geoprocessamento não é apenas pertinente, mas necessá- censitários do IBGE. ria, ao minucioso trabalho de planejamento de uma pesquisa Entretanto, ainda que não existam atributos nos OD, principalmente por sua irrestrita vinculação com o diferentes bancos de dados que se relacionem entre si por espaço geográfico. Mais detalhes do planejamento da meio de uma “chave”, é quase sempre possível vincular pesquisa OD com ferramentas de geoprocessamento podem tais dados pela localização geográfica e por relacionamentos ser obtidos em Bielenki (2007). de topologia. Algumas ferramentas de geoprocessamento (SIG) possuem algoritmos próprios para realizar a sobrepo- Agradecimentos sição de camadas já vinculando seus atributos. Neste O presente trabalho contou com o financiamento trabalho, optou-se pela utilização de dois SIGs, o TransCAD, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São que é essencialmente um SIG-T, e o SPRING. Ambos Paulo (FAPESP) e da Prefeitura Municipal de São Carlos, demonstraram-se capazes de auxiliar na tarefa proposta, a quem os autores agradecem. Agradecem também ao com vantagens e desvantagens para ambos. O SPRING Professor Carlos Alberto Faria, da Universidade Federal tem o atrativo de ser disponibilizado gratuitamente e ser de Uberlândia, por suas valiosas sugestões e comentários muito bem documentado, inclusive em português, ao passo durante o planejamento e a execução da pesquisa OD. Figura 7 Domicílios sorteados sobrepostos à imagem de satélite no Google Earth. Minerva, 5(2): 159-167
  • 9. O USO DE GEOPROCESSAMENTO NO PLANEJAMENTO DE PESQUISA ORIGEM... 167 Referências Bibliográficas INPE-DPI. SPRING: Manual do Usuário. São José dos BIELENKI Jr., C. O uso de geoprocessamento no Campos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Divisão planejamento de pesquisa origem-destino no Município de Processamento de Imagens. Disponível em: http:// de São Carlos. 2007. Monografia (Especialização em www.dpi.inpe.br/spring. Acesso em: 1996. Geoprocessamento) – Núcleo de Geoprocessamento, MELO, J. C. Planejamento dos transportes. São Paulo: Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. McGraw-Hill, 1975. BRUTON, M. J. Introduction to transportation planning. RAIA Jr., A. A. Acessibilidade e mobilidade na estimativa Londres: Hutchinson, 1985. de um índice de potencial de viagens utilizando redes CALIPER. TransCAD transportation GIS software: User’s neurais artificiais e Sistemas de Informações Geográficas. Guide. Version 4.8. Massachusetts: Academic License, 2000. Tese (Doutorado) – EESC/USP, São Carlos. Newton, 2007. RICHARDSON, A. J.; AMPT, E. S.; MEYBURG, A. H. DHINGRA, S. L.; SHRIVASTAVA, P. Application of advanced Survey methods for transport planning, Parkville, Australia: techniques to urban transportation mobility planning. In: Eucalyptus Press, 1995. INTERNATIONAL CONFERENCE ON MODELING AND SILVA, A. N. R. Sistemas de Informações Geográficas para MANAGEMENT IN TRANSPORTATION, 1999, Cracóvia. planejamento de transportes. São Carlos. 1998. Tese (Livre- Proceedings… Cracóvia: University of Technology, 1999. Docência) – EESC/USP, São Carlos. v. I, p. 45-55. THILL, J.-C. Geographic Information Systems for FLETCHER, D. R. Geographic Information Systems for transportation in perspective. In: J.-C. Thill (Ed.). Geographic transportation: a look forward. In: TRB STANDING Information Systems in transportation research. Oxford: COMMITTEES. Transportation in the new millennium: state Pergamon, 2000. of the art and future directions. Washington, D.C.: National Research Council, 2000. CD-ROM. Minerva, 5(2): 159-167