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A Marte, se passa pela Lua.
E para amar-te, por onde passo?
Se a Lua é linda, é barreira. É casada, cobiçada.
Mas quero outra, quero Marte.
Lá, sem naves ou foguetes, chego rápido.
Fecho olhos. E confundo tudo descobrindo o nada.
Pois,
Para amar-te, olho pra dentro, fujo de luas
Para amar-me, assalto a razão, abuso das palavras
Só assim, descubro que a Marte não é longe como dizem
Mas um simples cálculo de letras, que nos separa por um
hífen.
Imaginou?
O querer não é distante.
Se o objetivo é agora... 'já conquistei'
Por isso, imaginando até o hoje, chego onde ninguém foi.
A Marte!
Francisco Trigo – jornalista
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Ilustração: Thiago Teixeira de Souza
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PQNP: Qual foi o seu primeiro contato com a poesia?
Drummond, na faculdade. O preferido? Manoel de Barros.
PQNP: A quem foi direcionada esta poesia? Conte-nos
um pouco sobre a história da sua elaboração.
À minha namorada. Num dia comum, o pai dela, que é
músico, resolveu compor uma letra na minha frente.
Construímos uma estrofe, apenas. Não quis deixá-la
morrer, mais por ter sido ideia minha do que por afeição à
poesia ou àquela comunhão com o sogro gente boa. No
dia seguinte, terminei a poesia, que sinceramente não me
agrada mais.
PQNP: Considerando a fragilidade das relações humanas
na atualidade, você acha que amar as pessoas está tão
difícil quanto ir a Marte?
Considerando a impossibilidade física de pessoas
visitarem Marte, sou obrigado a discordar. Ainda vejo
muitas pessoas amando sem contrapartida. Amor, por
enquanto, sobrevive, e visita várias relações. A
comparação cabe, apenas, em poesia, espaço da lógica
irracional, da precisão hiperbólica, onde a graça é se
envolver sem de fato compreender. Lá, humanos visitam
Marte com a mesma frequência com que amam
humanos. Só lá. Em Marte? Se a poesia for de Marte, em
Marte.
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Há um sentimento que move algumas pessoas a lutar.
Não poderia nomeá-lo, pois ele recebe diversos nomes.
Seria difícil localizá-lo, ele renasce sempre e em toda
parte.
É impossível contê-lo, nem a mais baixa violência jamais
conseguiu.
Esse sentimento cresce e cresce, especialmente quando
trocamos olhares cúmplices,
nesses momentos sabemos que não importa o quão difícil
seja, esse sentimento criará um mundo.
Malu Sartor – professora
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Ilustração: João Francisco Gomes da Costa
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PQNP: Essa foi a primeira poesia que você escreveu na
sua vida?
Essa não foi a primeira poesia que escrevi. Quando era
adolescente costumava escrever bastante coisa, textos
pequenos, poesias...
PQNP: Agressões de diversas categorias combatem
cotidianamente este sentimento tão arrebatador. O que
fazer para preservá-lo?
Sou ativista e sou mulher, assim, as violências cotidianas
dessa sociedade baseada na competição, no consumo, na
alienação, na falta de amor e solidariedade, me impactam
de maneira devastadora. Em alguns momentos, quando a
injustiça beira o inacreditável, ou quando o cansaço não
permite nem um sorriso esperançoso, uma das principais
fontes de força, que faz com que esse sentimento renasça
é a companhia das pessoas que lutam comigo. Pequenas
alegrias da vida e a consciência de que ela é pueril e bela
também fazem esse sentimento ganhar força. Quando a
violência é muito arrebatadora o carinho e a alegria dxs
amigxs que lutam é fundamental para ajudar o
sentimento a continuar.
PQNP: O quanto a militância política ajuda na criação
desse novo mundo?
Milito desde adolescente e já me perguntei algumas vezes
porque faço isso. Sempre acabo por concluir que é
justamente através dessa opção politica pela
transformação que podemos criar um mundo diferente,
um mundo mais bonito a partir do que vivemos. Se não
fizermos a opção de consciente e ativamente tentar forjar
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a sociedade que queremos, seremos sempre moldados
pelos opressivos moldes da sociedade atual.
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A fábrica secreta de molas
Não é simples de se achar.
Nem fim de arco-íris é tão fascinante quanto este lugar.
Lá não se mora,
mas há vida.
As religiões se apropriaram da energia local para
consolidarem seus impérios.
Consome-se dali uma força inigualável,
fazendo com que pessoas tomem medidas impensáveis
até então.
A magnitude da energia nativa
faz com que não seja difícil retirá-la,
já que seu ímpeto é se exteriorizar.
O que não quer dizer que todos consigam.
Alguns dizem que ela é composta de chamas da Fênix.
Outros cravam, sem pestanejar, que ela se localiza no
coração,
mas acredito que não.
O coração só possui 12 centímetros de comprimento por
9 de largura.
O que sinto não cabe em um lugar desses.
Raphael Alberti – Professor
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Ilustração: Sérgio Alberti
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PQNP: Como se dá o ímpeto da poesia? É o querer dizer
alguma coisa específica ou fagulha que vem e precisa
exteriorizar?
A poesia se dá no esporro. Ela se manifesta naquele
momento em que as ideias e emoções se movimentam de
forma incessante e desgovernada dentro de você e só te
dão sossego quando as transformam em textos. Você se
sente obrigado a se libertar daquilo. Não é algo
premeditado. É como uma criança que te cutuca
repetidamente, querendo atenção. A beleza da
experiência só vem com a paciência. Aliás, isso dá uma
poesia!
PQNP: Qual foi a sua motivação para escrever esta
poesia?
Tentar entender, especificamente, de onde vem a força
interna do ser humano que permite a superação de
situações consideradas irreversíveis. Passava por uma
situação delicada em que não conseguia achar soluções
para os problemas daquela época e começava a crer que
não acharia alternativas para resolvê-las.
PQNP: O amor é uma figura abstrata. Mas seria ela
melhor representada por outra coisa que não o coração?
O amor vem do cérebro?
Não afirmaria que vem do cérebro, pois nem sempre
tomamos medidas puramente racionais, e em certos
casos, agimos por impulso. Entretanto, a minha maior
preocupação não consiste em desvendar as origens
fisiológicas do amor, mas sim em obter a disciplina de
amar. O amor subjetivo, de boca pra fora, somente lírico e
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não político perde o sentido se não é acompanhado de
algo concreto. Mais do que saber de onde vem o amor é
preciso se atentar para onde irá o nosso amar.
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Remember, remember…
Sometimes we forget
that the simpler things
are not always easy to see
Sometimes we forget
that, the more we learn,
the more alert we should be
Sometimes we forget
that everything we know
is more likely a grain in infinity
Sometimes we forget
and we fall…
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Tente lembrar...
Às vezes, a gente se esquece
que as coisas mais simples
não são tão fáceis de ver.
Às vezes, a gente se esquece
que, quanto mais aprendemos,
mais cuidado devemos ter.
Às vezes, a gente se esquece
que, por mais que saibamos,
beira o nada, nosso saber.
Às vezes, a gente se esquece,
e cai...
Rômulo Coutinho – “rs. Não sou engenheiro...sei
lá,...empresário...estudante.”
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Ilustração: Rafael Pereira
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PQNP: O livro “Sidarta” de Hermann Hesse foi uma
inspiração para a elaboração desse poema?
RC: Acho que escrevi antes do Sidarta. Então, diria que
não.
PQNP: Por que escrever poesias em inglês?
É verdade que o inglês ainda está longe de ser uma
linguagem universal. Mas, com o crescimento e a
popularização da internet, o inglês tem cada vez mais
alcance. Principalmente na minha área profissional. Como
supostamente disse Sócrates: "O grande segredo para a
plenitude (e por que não da imortalidade?) é muito
simples: compartilhar.". E, a meu ver, o inglês potencializa
esse compartilhar.
PQNP: O que você acha que é constantemente lembrado
por nossa sociedade? E o que as pessoas costumam ter
memória curta?
A sociedade constantemente nos lembra e nos cobra o
caminho comum. Como se existisse algo de comum na
individualidade do homem. Mas a cobrança só é
verdadeira a partir do momento que nós mesmos a
aceitamos. A individualidade é, afinal, a única saída. Pois,
se fosse verdade que todos devessem trilhar o mesmo
caminho e ter as mesmas conquistas, é certo que
ninguém chegaria a lugar algum.
Por outro lado, não acredito exatamente em uma
memória seletiva da sociedade. A questão é que as
cobranças, sejam pessoais ou da sociedade, sempre vão
existir. As cobranças e as insatisfações não devem deixar
de existir nunca. Logo que alcançamos um objetivo,
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outros surgem de imediato. Afinal, é isso que nos move.
Assim, não é diferente do ponto de vista da sociedade.
Uma vez que cumprimos algo que é esperado, outras
expectativas hão de surgir. Mas, no fim, a nossa própria
memória é o que importa. E nela residem as verdadeiras
cobranças.
Mas por ser cumulativa, a memória traz um perigo. O
conhecimento se acumula e se aproxima da vaidade. E
disso não se deve esquecer. É preciso lembrar que
existem incontáveis pontos de vista. E não importa o
quanto se sabe, sempre existe um lado novo a se
conhecer.
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Abre os olhos para o sol nascer
Pois não há nuvem núbia
Onde há o sorriso seu
Abre os braços para acolher
Quem vem daqui
E não quer te esquecer
Não há explicação
Pra ter escrito essa canção
Para você
Alegria incontida
Em forma de menina
Que hoje habita os sonhos meus
E não quer se afastar
Ou não quero que se afaste
Já que o sonho é meu
Seja exposto em estandarte
Com lastro fincado em ilusão
Que se vai pela manhã
Quando eu abro os olhos
Quando eu acordo
Meu céu não encontra seu sol
Meu sim não aceita seu não
Rafael Beltrão – Coordenador financeiro
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Ilustração: Lorena Lima
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PQNP: Explica para gente a história do “Meu céu não
encontra seu sol”.
Certa vez, nas areias de Búzios me deparei com uma
menina de olhos castanhos tão claros que chegavam a ser
amarelos e aquilo me chamou muita atenção. Fiquei com
aquilo na cabeça de tal forma que no dia seguinte acordei
com uma musica pronta e apenas passei para o papel em
alguns poucos minutos. Apesar de todos acharem que a
dona dos olhos amarelos e eu tivemos um affair, a gente
só conversou 2 minutos no máximo e no dia seguinte,
esbarrei com ela. Nessa ocasião peguei um guardanapo,
escrevi a letra dessa música, dei a ela e agradeci pela
inspiração. Só isso.
PQNP: Mais que uma poesia, estes versos viraram uma
canção. Por que não gravou esta música já que você já
teve uma banda? Não se arriscaria nem a gravá-la de
forma amadora, já que tem o costume de colocar vídeos
de suas músicas na internet?
Na época em que compus essa música estava em ritmo
acelerado com a banda que era de um estilo
completamente diferente dessa música, portanto nunca
toquei com uma banda inteira. Sobre gravar agora... As
músicas que componho não costumam sair do meu lar, e
os vídeos que estão na internet foram postados apenas
porque não conseguiria mostrar pessoalmente as músicas
que fiz para aquelas pessoas que me serviram de
inspiração. Talvez se por alguma obra do destino eu
esbarrar com a dona dos olhos amarelos eu mande pra
ela um vídeo com a música, mas acho difícil, pois lembro
que ela comentou que era de Brasília. (risos)
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PQNP: Como a poesia pode contribuir de alguma forma
para a sua profissão?
Poesia é a arte de escolher palavras pra dizer algo sabido
de outra forma. Em outras palavras, é saber se comunicar.
Isso me ajuda na vida, inclusive no trabalho, onde preciso
saber exatamente que palavras posso usar, com que
pessoas, dar feedbacks, saber conversar, desde o
estagiário até o presidente.
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La ra ra
O samba é só, é junto e pede companhia.
Ele é em coral, alto, vem baixinho aos ouvidos e arrepia.
Samba é amor, pede perdão sem vergonha.
Na roda,
respeito é para todos,
mas o mais respeitado é o que mais chora.
Sambista não envelhece,
sambista morre.
Porque corações não perdem ritmo,
simplesmente dormem.
Todo dia é dia de samba
e eu saio daqui com versos no ar
porque samba que é samba,
ninguém termina,
Emenda no lararara…
Patricia Silveira – “Marketeira de formação e roteirista de
coração”
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Ilustração: Sérgio Campos
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- 31 -
PQNP: O que é que o samba tem (que os outros ritmos
não tem)?
Qualquer gênero musical é desenvolvido para que aqueles
que ouçam a música sintam o que ela quer transmitir. No
caso do samba, ele não transmite, ele mesmo sente
sozinho.
PQNP: O que você acha do processo de elitização do
samba? A rapidez na levada dos sambas-enredos, a
quantidade exorbitante de camarotes na Marquês de
Sapucaí e a série de regras impostas pela Prefeitura do
Rio para o desfile dos blocos de rua na cidade não estão
descaracterizando este gênero musical?
O samba é cultura, a cultura está inserida em uma
sociedade e esta sociedade é capitalista. Não há
descaracterização, mas um caminho a ser percorrido.
Uma evolução que possa suportar inclusive a
popularização do carnaval. É claro que a gente sente uma
coisinha ruim ao ver o carnaval mudar, mas não chamaria
de descaracterização, mas de nostalgia.
PQNP: O que você diria para as pessoas que tem
vergonha de divulgar suas poesias?
Que não há porque ter vergonha de mostrar aos outros o
que você sente.
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Aqui jaz uma praça
“A praça é do povo, como o céu é do condor!”
Dos moradores
Que ao subirem o Barroso
Não a encontram mais
Local onde ecoavam os gritos
onde o pagode corria solto
onde surgiam estrelas
que perderam seu céu
(as crianças perderam um céu de estrelas)
A resistência aconteceu
O povo brigou
mas dessa vez não teve jeito
ela foi tomada
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Mas diferente do seu concreto
que à caveirões, escavadeiras e fuzis
eles nos tiraram
os sonhos, as lembranças e os ideais
estes
permanecem em cada um de nós.
Marcela Rabello – Cientista Social
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Ilustração: Luana dos Santos Vidal (educanda-educadora
do Espaço Livre de Educação Popular - ELEPP)
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PQNP: Como você enxerga o projeto de “revitalização”
da Zona Portuária do Rio de Janeiro que atingiu de forma
marcante o Morro da Providência?
Essa ideia de “revitalização” é algo que, só no nome, já
traduz muito da intencionalidade desses projetos – que
estão por toda a cidade e não somente na Zona Portuária.
Essa ideia de ‘trazer vida’ para lugares que já são
habitados é a maior furada. Na verdade eles querem é se
apropriar desses espaços nos quais moram a população
mais pobre e transformá-lo em um lugar de circulação de
capital, de especulação imobiliária e de turismo para os
gringos e os endinheirados.
Na Providência não é diferente. Nenhuma discussão e
consulta prévia foi feita antes das obras do Morar Carioca,
do Porto Maravilha etc. O direito à moradia é
completamente ignorado, as pessoas acordam com suas
casas marcadas pela sigla da SMH e um número – e isto
significa que elas serão removidas. Já pensou nisso? É um
absurdo sem tamanho! Outro dia eu estava no Cruzeiro
(uma parte do Morro que muitos brincam) conversando
com algumas crianças e vi um dos alunos entrando em
sua casa, marcada com a sigla da SMH. É muito triste.
Mas a resistência acontece. Seja pelo Fórum Comunitário
do Porto, pela Comissão de Moradores ou por projetos de
educação popular que atuam no local, seguimos
resistindo. Tiraram a praça pra construir teleférico, mas
acredito que mesmo com toda violência e todas as
atrocidades cometidas, não vão apagar nossos sonhos,
nem nos calar.
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PQNP: Como colaboradora do ELEPP (Espaço Livre de
Educação Popular da Providência), já usou a poesia como
atividade educativa para as crianças?
Usei algumas vezes em atividades voltadas para
compreensão escrita, para trabalhar as diferentes
interpretações de um determinado texto. Geralmente
pegávamos poesias de autores conhecidos e
trabalhávamos no dia. No entanto, a experiência mais
significativa para mim foi quando fizemos uma atividade
sobre consciência negra, na qual iniciamos com uma
dramatização sobre escravidão, racismo, discriminação
entre outros, seguida de uma conversa. No final, fomos
falando palavras e versos que nos vinham à cabeça depois
da discussão e o resultado foi simplesmente sensacional!
Criamos coletivamente (os colaboradores e as crianças)
um rap chamado “Rap das Menozada”. A letra ficou muito
forte, sem pudores e muito bonita. Esse dia foi uma das
minhas experiências mais incríveis em educação popular.
PQNP: Existe algum tema específico que te dê vontade
de fazer um poema e não tenha feito ainda?
Não sei. Já tinha feito algumas poesias sobre amor,
sofrimento. Mas essa foi a primeira com um caráter mais
político. Tenho vontade de escrever mais sobre esse
tema. Talvez escrever alguma coisa também sobre o ‘ser
criança’.
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Antônio de Portinari
Houve um tempo em que Antônio era feliz!
Festas com fogueiras, comidas, brincadeiras...
Comemoravam o seu nome em todo o país.
Mas Antônio, sem conhecer o mundo,
Decidiu sair sem destino.
Queria viver e experimentar de tudo.
Em sua busca pela vida.
Viu coisas lindas: flores, mares e amores.
Viu também rancores, destruição e dores.
Hoje Antônio vive triste.
No seu olhar, onde antes havia vontade.
Agora há refletida a maldade que conheceu.
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Mas Antônio vai vivendo.
Esperando que um dia a felicidade volte correndo
Para o lugar que ela nunca deveria ter saído
E então, seus olhos voltarão a encarar os que para ele
olham
E estes saberão que Antônio de Portinari
Somente viveu!
E nessa vida que é vivida
Sem certezas...
O que existe é sempre a espera, sim a espera do retorno
De tudo como começou!
Fabiana Malha – historiadora
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Ilustração: Rafael Pereira
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PQNP: Antônio Cândido Portinari fez um quadro de
Santo Antônio como forma de agradecimento ao santo
pela cura de uma doença do seu filho. Em sua opinião, a
poesia também tem um poder de cura? De que
especificamente?
Sim, a poesia tem poder, inclusive de cura! Penso que a
poesia, como toda arte, é também um veículo através do
qual expressamos o que sentimos e, nesse movimento,
reorganizamos sentimentos. No caso dessa poesia, a força
do olhar do santo desencadeou em mim sentimentos
como angústia e dor. Imaginar uma possibilidade para
além do momento retratado na tela no qual o que haverá,
será a libertação desses sentimentos, faz com que eu
também imagine, sinta e acredite que esse momento
existirá. Então, a cura, especificamente, é da dor.
PQNP: A poesia pode ser uma ferramenta para o
historiador na formulação de aulas e no incremento da
narrativa histórica?
Sim, sem dúvida, o texto poético é sempre marcado pelo
tempo histórico no qual foi produzido, pelas questões e
angústias do período, portanto, o seu uso em aulas de
história agrega na compreensão do aluno sobre a
existência de fontes variadas para o ofício do historiador.
Em especial, sobre a narrativa histórica, penso que a
poesia privilegia a estética no texto, nesse sentido,
quando utilizada no texto histórico, contribui com uma
apresentação mais sofisticada do argumento.
PQNP: É a sua primeira poesia? Por que optava por
crônicas como passatempo?
Sabe, há muito tempo... num passado remoto... gostava
de ler poesias e escrevia poesias também. Era uma
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prática, um costume, um estilo que deixei de lado...
Passaram alguns anos e comecei a me interessar pelas
crônicas! Passei a ler as crônicas e a imaginar como seria
se fosse escrever textos assim. Disparou em mim um
olhar atento aos acontecimentos corriqueiros e isso me
fez feliz, então me deu vontade de escrever sobre essas
percepções do cotidiano. Respondendo, essa não é a
minha primeira poesia e as crônicas hoje me ajudam a
estar atenta aos fatos, a pensar sobre eles com mais
profundidade do que se apresentam. E em que isso é mais
atraente do que as poesias? Poderia ser uma pergunta.
Bem, a poesia, para mim, tem uma força maior voltada
para a minha subjetividade, ao contrário das crônicas, que
me colocam sempre em relação ao conjunto da sociedade
na qual estou inserida.
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tempo: presente
O sorriso denunciou:
era amor de criança que ela sentia.
Reluzentes, os dentes riam,
como sólidas pedras brancas
afogadas no vermelho grosso dos lábios.
Esqueceu-se do tempo -
chata premência de tediosos amanhãs -,
e ali ficou,
estagnada no riso.
Embriagou-se do instante -
infinito presente -,
e debaixo da pérgola
confundiu céu e mar,
constelação de navegantes
encalhados entre negras brancas
inexistentes nuvens rochosas,
arredondadas como os dentes.
Imaginou o mundo,
como fez no dia em que
rompeu esferas azuis
e cutucou com os pés
pequenas estrelas,
rápidas dançarinas
daquela noite eterna
no balanço de madeira.
Gustavo Cunha – jornalista
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Ilustração: Lorena Lima
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PQNP: É interessante observar que mesmo a sua poesia
tendo traços do Romantismo, ela não cai em um
sentimentalismo barato. Atualmente, você acha que
ainda há espaços na poesia para uma exaltação piegas
do ser amado, nos moldes do “eu não valho nada e você
é perfeita”?
Acredito que sempre haverá espaço para tudo. E acho que
a poesia é mesmo tudo: ela está num piscar de olhos, na
tristeza de não estar feliz, na beleza do voo dos pássaros.
Tem um poema do Manoel de Barros bem bonito em que
ele diz exatamente isso: "Tudo aquilo que nos leva a coisa
nenhuma / e que você não pode vender no mercado/
como, por exemplo, o coração verde / dos pássaros, /
serve para poesia", diz um trecho. O poema está no livro
"Matéria de Poesia". Na verdade, não chego a ter grandes
identificações com o Romantismo, vejo a beleza na
importância do movimento. Escrevi esse texto depois de
uma bela noite de sorrisos entre pessoas das quais gosto
muito - e que sempre me fazem bem. Os versos acabaram
me procurando...
PQNP: Quando chegar a terceira idade, o que
certamente fará você rir por horas numa cadeira de
balanço?
É difícil saber... (Risos). Mas são sempre as outras pessoas
que nos fazem rir. Os melhores risos são aqueles com
companhia. A própria expressão "terceira idade" me fez
rir agora. Não gosto muito dessas numerações. A vida tem
infinitas idades!
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PQNP: Em que a poesia te auxilia no dia-a-dia?
Acho que a poesia nos ajuda a descomplicar as
complicações que criamos ao longo da vida. Qualquer
verso nunca é óbvio. Às vezes, é bom ler algo que não
entendemos de primeira vez, mas que sabemos que nos
lançou alguma dúvida no ser. O entendível inentendível é
poesia. É gostoso demais viajar sobre um único verso,
poucas palavras, e, com isso, pensar e repensar o mundo.
Da mesma forma, é muito bom escrever sem pretensão,
pela necessidade em tentar arranjar ou desarranjar as
complexidades da mente.
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Te admiro como se fosse uma escultura
Uma escultura do mais belo sorriso
Uma escultura onipotente
Uma escultura da distância e da solidão
Te admiro só em te olhar
Te admiro em te admirar
Faço de mim, uma especialista de seus detalhes e olhares
Faço de mim, uma observadora de você
Sua estátua me confunde, me desarma e me assombra
Sua beleza se faz presente nos detalhes
Seu silêncio me desarma perante todo o meu desejo de
continuar minha contemplação
Uma singela e inocente contemplação de você
Sou metáfora, fogo e gelo diante da sua figura
Imagem, escultura e estátua, que me perseguem
Sou só vontade de me fazer existir diante de você
Vejo-me e me assisto
Às vezes me assusto
Outras vezes não me reconheço
Sou invadida pelo não ser
Não me acho e não me vejo
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Sou uma não existência de mim
Um profundo conflito entre o vento e a areia
Deslizo entre a beleza e o medo de não existir
Sou uma imagem relegada a própria sorte de tudo que me
é estranho
Sou uma escultura de areia
Sou incerta, móvel e rala...
Sou meu próprio escultor
Me moldo e desmoldo
Assumo silhuetas ao meu bel prazer
Sou apenas uma escultura de areia, lutando para existir...
Priscila Cupello – historiadora
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Ilustração: Rafael Pereira
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PQNP: Uma escultura de areia na sua poesia é descrita
como “Um profundo conflito entre o vento e a areia”. E
em relação ao ser humano? Que elementos se
degladiam para que ele se molde ao longo do tempo?
A metáfora da escultura de areia é justamente para
pensar como as pessoas vão se transformando com o
passar do tempo por agentes externos, no caso o vento.
E, às vezes as esculturas mudam de forma sem quererem
mudar, mas existe algo que está para além do nosso
controle. É uma metáfora para pensar a existência. Tem
mil coisas na nossa vida que não podemos mudar e somos
atingidos pelo mundo. O mundo nos transforma, as
pessoas... tudo a nossa volta e no final estamos lutando
para existir e manter quem somos, mas é cada vez mais
difícil se definir e dizer quem somos.
PQNP: Como começou o seu gosto por poesias?
Eu comecei a escrever poesias como uma válvula de
escape. É uma forma de transformar sentimentos em
alguma outra coisa que não fosse só conflito interno. Mas
acho que escrever é inspiração. Às vezes, simplesmente
você não consegue escrever nada.
PQNP: Por que o gênero poético é cada vez menos lido
por jovens, atualmente?
Acho que hoje em dia, os jovens têm sempre mil coisas
pra fazer, estudar, passar no vestibular, garantir sua vida
financeiramente, além de se divertir e sair com os amigos,
que a poesia acaba aparecendo em segundo plano, fica
sem espaço, nesse tempo do rápido, do agora. Pouco
sobrou do romantismo, acho que isso abala o espírito da
.............
- 50 -
poesia, a poesia é sentimento, é paixão, hoje ninguém
mais quer se apegar a nada, as pessoas sabem que as
relações são líquidas, não há solidez, então, torna-se
difícil a sobrevivência das poesias. As poesias se baseiam
na ilusão, na fantasia, não dá para racionalizar um
sentimento, ou querer uma lógica, enfim, são outros
tempos e outras gerações de jovens, diria eu, uma
geração que falta poesia.
.............
- 51 -
Pá furada
A poesia grita em duelos nas ruas
povoadas de almas desertas
que se desconhecem
mas já se viram n'outras noites e carnavais
Não sei se tem mais poeta
ou vendedor de amendoim
no pouco espaço entre as mesas e corpos
Não sei se eles têm mais fome
de comida ou de voz
Não sei se eu tenho mais culpa
ou sede
Sei é que um pouco de arte passa
Aos borbotões
nas calçadas sujas de suor e solidão
Não sei se é mais fome ou angústia
Não sei se ele põe mais orégano
ou desenhos de capa
se faz promoção-três-por-cinco
ou declama alto pr'as menininhas
cheias de vontade que alguém lhes diga
qualquer coisa que pareça vida
e eles dizem
mesmo que seja essa vida parca,
esses dias consecutivos,
esses brindes aguados em copos vazios,
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- 52 -
esse tesão forjado,
essa teatralidade canastrona,
essa chuva que cai dos olhos
no verso mais cliché
que se diz com lascívia.
com seus livretos curtos
de papel xerocado na gráfica da esquina
- aquela mesma dos balcões antigos -,
com seus cones de papéis coloridos
e higiene duvidosa
eles jogam uma pá de terra
na culpa
e uma pá de letra
na cara dura
Eliza Vianna – historiadora
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Ilustração: João Paulo Centelhas
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PQNP: Qual tipo de poesia mais te agrada? E autores?
Não saberia dizer se existe um tipo. Acho que poesia,
assim como os outros tipos de arte, precisa tocar a alma.
Quanto aos autores, destaco Drummond (como diz uma
amiga: é meu pastor e nada me faltará), Fernando Pessoa
e Manuel Bandeira. Clássicos, mas essenciais.
PQNP: Uma das formas de divulgação feita por poetas
iniciantes é esse corpo-a-corpo. Vender livretos na porta
de centros culturais, divulgar seu blog para amigos em
conversas na Internet e mencionar seus feitos literários
em mesas de bar são algumas dessas práticas. Como
fazer isso sem ser impertinente ou parecer convencido?
Não sei se existe uma fórmula para isso. Confesso que sou
leitora de poetas de rua, desde que eu não seja abordada
pela famosa frase "você gosta de poesia", que eu
considero bastante pretensiosa. Acho que uma das
vantagens da poesia no corpo a corpo é a possibilidade de
transcender o papel e virar voz. Vejo uma beleza absurda
na poesia falada, as palavras ganham mais vida e o gelo
desse contato meio 'publicitário' pode ser quebrado sem
ser abusivo.
PQNP: As perguntas existentes neste livro revelam um
pouco desta “fome de voz”?
Eu acho que a gente vive um tempo estranho e
contraditório em relação ao individualismo. Somos
constantemente estimulados a construir um personagem
e vendê-lo, mas ao mesmo tempo, isso é muito restrito ao
que pode ser estampado - e consumido. Sinto que, em um
sentido mais profundo, não há muito espaço para
construirmos coisas (ideias, pensamentos, sentimentos?)
.............
- 55 -
mais profundas, assim como não há espaço para dizê-las -
ou dizer esse silêncio, esse vazio, sei lá. Já me disseram
que essa coisa do poeta de rua é uma característica do Rio
de Janeiro. Não conheço tantas capitais do Brasil para
saber se isso é verdade, mas acho que, quando se fala em
voz, nossa cidade tem características muito específicas
relacionadas aos autoritarismos que vivemos.
.............
- 56 -
Encanto
Feitiço difuso e esperto,
o encanto toma conta
do sujeito, bem discreto,
e assopra lá pra longe
a tristeza que há nas coisas,
arrumando o espaço vago
pras lembranças boas,
pras vontades tantas.
O encanto faz dessas
travessuras com a gente.
Quando se vê, já se sente.
E surpreende sua vítima
ao revelar-se casado
com a matéria, com a vida.
No final das contas,
a magia das coisas mundanas
é a mesma das coisas mágicas.
O encanto acalanta meu peito
cansado das batalhas.
Faz ninar as inquietações
e abarca meus pensamentos
quando o mundo ameaça
me pintar de preto e branco.
Não,
se, pelo encanto,
me torno dotado
de um colorido
tom desorientado
que não diz a que veio
e nem pra onde vai
.............
- 57 -
mas que me deixa cheio
de ai-ais.
E o resultado são
esses versos bobos,
o sorriso estampado
e a resposta negativa
ao convite dissimulado
da velha melancolia,
abandonado fardo.
Bárbara Araújo – historiadora
.............
- 58 -
Ilustração: Sérgio Alberti
.............
- 59 -
PQNP: Em muitos casos, é no sofrimento que
conseguimos enxergar problemas, rever posturas e
superar nossos limites. É possível um encanto pela
melancolia?
Tenho impressão de que o encanto pela melancolia é um
mal que acomete a nossa geração. Na verdade, e mais
precisamente, uma parte dela (a "meio intelectual, meio
de esquerda, rs). Só que a melancolia não é como um
sofrimento da vida, algo que acontece e que se supera,
deixando ensinamentos. Ela é uma tristeza crônica. E eu
resolvi que isso não é útil nem produtivo, é muito mais
agradável ser feliz.
PQNP: Que estratégias devemos traçar para aumentar o
número de leitores de poesias?
Acho que o lance é mostrar que poesia não é uma coisa
complicada e erudita, não é só um estilo literário que se
mora nas bibliotecas. Poesia está no mundo e nas coisas
que todo mundo vive. Um jeito legal de mostrar isso, pra
mim, são os saraus públicos, onde a poesia pode ser
ouvida, o que é uma experiência totalmente diferente de
quando lida, e as intervenções urbanas. Nada é mais lindo
do que estar caminhando e ver um verso pintado num
muro, coisa simples, mas que marca a gente
profundamente.
PQNP: Como funciona o seu processo criativo? É do tipo
de escritora que no momento em que tem a ideia,
escreve independentemente de onde estiver ou prefere
guardá-la na mente para, posteriormente, escrever em
casa ou em um lugar silencioso?
.............
- 60 -
Eu costumo trabalhar com ideias e não exatamente com
palavras. Tem gente que pensa em jogos de palavras, em
rimas e tal. Eu penso numa coisa que tenho vontade de
dizer, uma coisa que seja bonita, penso em metáforas
sobre ela. Aliás, me amarro em metáforas, elas me
ajudam a viver. Então fico pensando nessa coisa, às vezes
esboço pra não esquecer e eventualmente escrevo o
poema. Mas não sou de revisar muito não.
.............
- 61 -
Vai mulher!
Oito crianças comeram, beberam, e aprenderam por tua
causa.
Teu leite, teu sangue, teu suor
Teu amor infinito, teu colo.
Teu útero!
Quatro crianças do teu sangue
Quatro crianças do teu ventre.
Ventre em que me geraste
Agora vai mulher!
Tua missão acabou.
Vai ser leve e feliz na vida.
Vai descobrir a letra e o prazer.
Vai agora tú, aprender a ler.
Suelem Assunção – “pode por atriz, contadora de
história, bonequeira... e gestora”.
.............
- 62 -
Ilustração: Pedro Paulo de Jesus
.............
- 63 -
PQNP: Atualmente, você acha que pais e mães ao terem
filhos, se preocupam exclusivamente em satisfazer um
sonho pessoal (“ser pai” ou “ser mãe”) ou já se
preparam anteriormente, para as necessidades
emocionais e financeiras que estas crianças irão
demandar?
Isso depende muito da família. Não sou muito ligada em
estatísticas, nem nada. O que vejo, hoje em dia, são
realidades muito diferentes. Mas de uma forma geral, as
pessoas tem sido bem displicentes. Tendo filhos sem
muita responsabilidade, sem muito planejamento. Um
filho é algo muito importante, requer muita dedicação.
Muitas pessoas têm filhos sem estarem realmente
preparadas.
PQNP: Levando em conta o atual panorama educacional,
é fácil para um adulto ser alfabetizado, no Brasil?
Acho que hoje em dia esta mais fácil do que uns dez anos
atrás. Surgiram programas do governo de alfabetização de
Jovens e adultos e outras oportunidades em instituições
privadas com preços bem acessíveis.
PQNP: O que a poesia significa na sua vida?
Comecei a escrever as poesias quando era bem pequena.
Nunca as divulgava. Gostava de ler depois de algum
tempo. Era como se eu me revisitasse. Gosto de escrever.
Mas faço para mim mesma. Uma forma de expressão de
colocar pra fora o que estou sentindo. Uma forma de
extravasar a dor ou a felicidade.
.............
- 64 -
Sobre o tempo...
Não é tão importante a idade fixa!
Melhor, é a idade itinerante:
aquela que te remete a momentos,
que se revezam em um só instante...
Instante é saber que estou por um triz,
que a vida é intensa e se despede sem graça,
que o triz se vai, como a hora que passa,
e não sei se estou sabendo ser feliz.
Sei que sou livre, e desperto,
e que o tempo propício é sempre o agora!
O agora é que mora no tempo certo,
liberto dos tempos de outrora...
Margot Cunha
.............
- 65 -
Ilustração: Célio Silva
.............
- 66 -
PQNP: Concorda com a associação imediata que muitos
escritores fazem da infância com a felicidade e da idade
adulta ou terceira idade como um período de angústias e
sofrimentos constantes? A infância é realmente a
melhor fase de nossas vidas?
Penso que a associação da infância com uma fase feliz,
embora não sem angústias, é essencialmente natural,
assim como a fase adulta é essencialmente mais
angustiante. Mas não creio que essas associações sejam
necessariamente como um paradigma dentro do gênero.
O exercício do viver é fascinante, surpreendente e
complexo. Nem sempre as melhores lembranças estão na
infância. Os que vivem à prova de um cotidiano árduo,
possivelmente verão na infância a melhor fase de suas
vidas; já os que experimentaram nesta fase muitas
dificuldades, poderão encontrar felicidade na fase adulta,
ou numa etapa de maior amadurecimento. A melhor fase
é com certeza a em que a vida flui bem, ou a em que
conseguimos lidar melhor com as limitações.
PQNP: “Sobre o tempo...” é tipicamente uma poesia
para se ler em voz alta. O ritmo, a estrutura e as rimas
presentes corroboram com esta afirmação. Uma
autêntica poesia precisa da junção desses e de outros
elementos do gênero poético para se afirmar como tal
ou a preocupação em respeitar essas características na
risca vai na contramão do que a poesia se propõe?
Como um estilo literário que é, entendo que a poesia
deva agregar elementos que a caracterizam. Mas acredito
que a essência da poesia vem expressa pela sensibilidade,
pela forma como o autor transpõe em palavras a sua
subjetividade, traduz emoções, angústias, belezas, o
.............
- 67 -
espanto; acordando-nos, instigando-nos, ou fazendo-nos
sentir extasiados, trazendo e acrescentando uma nova
percepção aos nossos sentidos. A obrigatoriedade de
conter todos os elementos característicos deste gênero,
pode sim tirar a espontaneidade e a naturalidade do que
se quer expressar. Poesia presa à técnica pode tornar-se
uma construção mecânica. Para mim, a poesia deve
nascer da inspiração, e até pode ser trabalhada, mas deve
manter-se livre dentro do gênero, privilegiando a
emoção.
PQNP: O que você faz para que os erros do passado e a
ansiedade pelo futuro não tenham tanta interferência
nas decisões que toma na sua vida no presente?
O grande desafio do presente é saber administrar o
tempo. Minha maior dificuldade é viver cada dia, sem
culpa por não ter conseguido realizar metade do que
pretendia; o que não é um "privilégio" apenas meu, em
tempos de velocidade de comunicação e informação:
Aumentamos a quantidade de atividades diárias,
tornando nosso tempo cada vez mais curto.
Fundamentalmente tento ter em mente que tenho sido
aquilo que consegui e pude ser, como resultado da
evolução que tive, e das experiências que vivi. Dentro
dessa perspectiva, sigo adiante sem apego às questões do
passado; mas não sem um grau de ansiedade no futuro.
.............
- 68 -
Sem título, sem nó
Ser eu
ser só
sem nó
sem dó
ser eu
ser meu
e só
Marina Rotenberg Saraiva – Comunicadora Social
.............
- 69 -
Ilustração: Célio Silva
.............
- 70 -
PQNP: Existem momentos em que nos sentimos
sozinhos mesmo com a presença de outras pessoas. É
mais difícil de encarar este tipo de solidão ou, digamos, a
“solidão tradicional”?
Temos medo de encarar a solidão por aquilo que ela
representa para os outros, e não só para nós mesmos. Os
julgamentos e as regras impostas nos levam a acreditar
que ser só é algo ruim, quando muitas vezes pode ser se
conhecer, se aceitar e refletir. Mais difícil do que encarar
a solidão é encarar ser visto como uma pessoa solitária.
PQNP: O que representa para ti colocar no papel aquilo
que tu sentes por dentro?
Representa dar a oportunidade de o pensamento se
transformar em palavra, recurso mais poderoso que se
tem.
PQNP: Tendo em vista o trabalho que realiza para o
Terceiro Setor, que tipo(s) de projeto(s) relacionado à
poesia deve(m) ser direcionado(s) para as comunidades
com altos índices de pobreza e violência?
A poesia, e a arte em geral, devem ser utilizadas como
meio para a reflexão, ampliação de repertório e
autoconhecimento. A poesia nos tira do lugar comum, nos
transporta para outros planos e nos desloca da realidade
que nos é imposta. Precisamos refletir sobre a nossa e as
demais realidades para entendermos nosso papel, nossos
sonhos, nossos direitos. Em comunidades com altos
índices de pobreza e violência é preciso oportunizar e
estimular o pensamento crítico e a auto-reflexão. A poesia
é um caminho e um instrumento para que se pense e crie
novos mundos, novos sonhos e novas realidades.
.............
- 71 -
Contatos
Poetas:
Patrícia Silveira: https://decifre.wordpress.com
Bárbara Araújo: http://oubarbarie.wordpress.com
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Rômulo Coutinho: rvcoutinho.com
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- 72 -
Ilustradores:
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Pedro Paulo Jesus: 9692-8486/ 9861-8839 (Aos
domingos, na Feira Hippie de Ipanema de 09:00 às 18:00)
João Francisco Gomes da Costa: 9907-4620;
jfgomesdacosta@bol.com.br (Aos domingos, na Feira
Hippie de Ipanema de 09:00 às 18:00)
Célio Silva – 3764-3079 (No primeiro domingo do mês na
Feira da Lavradio e ocasionalmente, de segunda a sexta-
feira, a partir das 20:00, no calçadão de Copacabana, em
frente a Feira Hippie de Copacabana)
João Paulo Centelhas - joaocentelhas@yahoo.com.br

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POESIAS DE QUEM NÃO SE ACHA POETA - Miolo

  • 1. ............. - 9 - A Marte, se passa pela Lua. E para amar-te, por onde passo? Se a Lua é linda, é barreira. É casada, cobiçada. Mas quero outra, quero Marte. Lá, sem naves ou foguetes, chego rápido. Fecho olhos. E confundo tudo descobrindo o nada. Pois, Para amar-te, olho pra dentro, fujo de luas Para amar-me, assalto a razão, abuso das palavras Só assim, descubro que a Marte não é longe como dizem Mas um simples cálculo de letras, que nos separa por um hífen. Imaginou? O querer não é distante. Se o objetivo é agora... 'já conquistei' Por isso, imaginando até o hoje, chego onde ninguém foi. A Marte! Francisco Trigo – jornalista ............. - 10 - Ilustração: Thiago Teixeira de Souza
  • 2. ............. - 11 - PQNP: Qual foi o seu primeiro contato com a poesia? Drummond, na faculdade. O preferido? Manoel de Barros. PQNP: A quem foi direcionada esta poesia? Conte-nos um pouco sobre a história da sua elaboração. À minha namorada. Num dia comum, o pai dela, que é músico, resolveu compor uma letra na minha frente. Construímos uma estrofe, apenas. Não quis deixá-la morrer, mais por ter sido ideia minha do que por afeição à poesia ou àquela comunhão com o sogro gente boa. No dia seguinte, terminei a poesia, que sinceramente não me agrada mais. PQNP: Considerando a fragilidade das relações humanas na atualidade, você acha que amar as pessoas está tão difícil quanto ir a Marte? Considerando a impossibilidade física de pessoas visitarem Marte, sou obrigado a discordar. Ainda vejo muitas pessoas amando sem contrapartida. Amor, por enquanto, sobrevive, e visita várias relações. A comparação cabe, apenas, em poesia, espaço da lógica irracional, da precisão hiperbólica, onde a graça é se envolver sem de fato compreender. Lá, humanos visitam Marte com a mesma frequência com que amam humanos. Só lá. Em Marte? Se a poesia for de Marte, em Marte. ............. - 12 - Há um sentimento que move algumas pessoas a lutar. Não poderia nomeá-lo, pois ele recebe diversos nomes. Seria difícil localizá-lo, ele renasce sempre e em toda parte. É impossível contê-lo, nem a mais baixa violência jamais conseguiu. Esse sentimento cresce e cresce, especialmente quando trocamos olhares cúmplices, nesses momentos sabemos que não importa o quão difícil seja, esse sentimento criará um mundo. Malu Sartor – professora
  • 3. ............. - 13 - Ilustração: João Francisco Gomes da Costa ............. - 14 - PQNP: Essa foi a primeira poesia que você escreveu na sua vida? Essa não foi a primeira poesia que escrevi. Quando era adolescente costumava escrever bastante coisa, textos pequenos, poesias... PQNP: Agressões de diversas categorias combatem cotidianamente este sentimento tão arrebatador. O que fazer para preservá-lo? Sou ativista e sou mulher, assim, as violências cotidianas dessa sociedade baseada na competição, no consumo, na alienação, na falta de amor e solidariedade, me impactam de maneira devastadora. Em alguns momentos, quando a injustiça beira o inacreditável, ou quando o cansaço não permite nem um sorriso esperançoso, uma das principais fontes de força, que faz com que esse sentimento renasça é a companhia das pessoas que lutam comigo. Pequenas alegrias da vida e a consciência de que ela é pueril e bela também fazem esse sentimento ganhar força. Quando a violência é muito arrebatadora o carinho e a alegria dxs amigxs que lutam é fundamental para ajudar o sentimento a continuar. PQNP: O quanto a militância política ajuda na criação desse novo mundo? Milito desde adolescente e já me perguntei algumas vezes porque faço isso. Sempre acabo por concluir que é justamente através dessa opção politica pela transformação que podemos criar um mundo diferente, um mundo mais bonito a partir do que vivemos. Se não fizermos a opção de consciente e ativamente tentar forjar
  • 4. ............. - 15 - a sociedade que queremos, seremos sempre moldados pelos opressivos moldes da sociedade atual. ............. - 16 - A fábrica secreta de molas Não é simples de se achar. Nem fim de arco-íris é tão fascinante quanto este lugar. Lá não se mora, mas há vida. As religiões se apropriaram da energia local para consolidarem seus impérios. Consome-se dali uma força inigualável, fazendo com que pessoas tomem medidas impensáveis até então. A magnitude da energia nativa faz com que não seja difícil retirá-la, já que seu ímpeto é se exteriorizar. O que não quer dizer que todos consigam. Alguns dizem que ela é composta de chamas da Fênix. Outros cravam, sem pestanejar, que ela se localiza no coração, mas acredito que não. O coração só possui 12 centímetros de comprimento por 9 de largura. O que sinto não cabe em um lugar desses. Raphael Alberti – Professor
  • 5. ............. - 17 - Ilustração: Sérgio Alberti ............. - 18 - PQNP: Como se dá o ímpeto da poesia? É o querer dizer alguma coisa específica ou fagulha que vem e precisa exteriorizar? A poesia se dá no esporro. Ela se manifesta naquele momento em que as ideias e emoções se movimentam de forma incessante e desgovernada dentro de você e só te dão sossego quando as transformam em textos. Você se sente obrigado a se libertar daquilo. Não é algo premeditado. É como uma criança que te cutuca repetidamente, querendo atenção. A beleza da experiência só vem com a paciência. Aliás, isso dá uma poesia! PQNP: Qual foi a sua motivação para escrever esta poesia? Tentar entender, especificamente, de onde vem a força interna do ser humano que permite a superação de situações consideradas irreversíveis. Passava por uma situação delicada em que não conseguia achar soluções para os problemas daquela época e começava a crer que não acharia alternativas para resolvê-las. PQNP: O amor é uma figura abstrata. Mas seria ela melhor representada por outra coisa que não o coração? O amor vem do cérebro? Não afirmaria que vem do cérebro, pois nem sempre tomamos medidas puramente racionais, e em certos casos, agimos por impulso. Entretanto, a minha maior preocupação não consiste em desvendar as origens fisiológicas do amor, mas sim em obter a disciplina de amar. O amor subjetivo, de boca pra fora, somente lírico e
  • 6. ............. - 19 - não político perde o sentido se não é acompanhado de algo concreto. Mais do que saber de onde vem o amor é preciso se atentar para onde irá o nosso amar. ............. - 20 - Remember, remember… Sometimes we forget that the simpler things are not always easy to see Sometimes we forget that, the more we learn, the more alert we should be Sometimes we forget that everything we know is more likely a grain in infinity Sometimes we forget and we fall…
  • 7. ............. - 21 - Tente lembrar... Às vezes, a gente se esquece que as coisas mais simples não são tão fáceis de ver. Às vezes, a gente se esquece que, quanto mais aprendemos, mais cuidado devemos ter. Às vezes, a gente se esquece que, por mais que saibamos, beira o nada, nosso saber. Às vezes, a gente se esquece, e cai... Rômulo Coutinho – “rs. Não sou engenheiro...sei lá,...empresário...estudante.” ............. - 22 - Ilustração: Rafael Pereira
  • 8. ............. - 23 - PQNP: O livro “Sidarta” de Hermann Hesse foi uma inspiração para a elaboração desse poema? RC: Acho que escrevi antes do Sidarta. Então, diria que não. PQNP: Por que escrever poesias em inglês? É verdade que o inglês ainda está longe de ser uma linguagem universal. Mas, com o crescimento e a popularização da internet, o inglês tem cada vez mais alcance. Principalmente na minha área profissional. Como supostamente disse Sócrates: "O grande segredo para a plenitude (e por que não da imortalidade?) é muito simples: compartilhar.". E, a meu ver, o inglês potencializa esse compartilhar. PQNP: O que você acha que é constantemente lembrado por nossa sociedade? E o que as pessoas costumam ter memória curta? A sociedade constantemente nos lembra e nos cobra o caminho comum. Como se existisse algo de comum na individualidade do homem. Mas a cobrança só é verdadeira a partir do momento que nós mesmos a aceitamos. A individualidade é, afinal, a única saída. Pois, se fosse verdade que todos devessem trilhar o mesmo caminho e ter as mesmas conquistas, é certo que ninguém chegaria a lugar algum. Por outro lado, não acredito exatamente em uma memória seletiva da sociedade. A questão é que as cobranças, sejam pessoais ou da sociedade, sempre vão existir. As cobranças e as insatisfações não devem deixar de existir nunca. Logo que alcançamos um objetivo, ............. - 24 - outros surgem de imediato. Afinal, é isso que nos move. Assim, não é diferente do ponto de vista da sociedade. Uma vez que cumprimos algo que é esperado, outras expectativas hão de surgir. Mas, no fim, a nossa própria memória é o que importa. E nela residem as verdadeiras cobranças. Mas por ser cumulativa, a memória traz um perigo. O conhecimento se acumula e se aproxima da vaidade. E disso não se deve esquecer. É preciso lembrar que existem incontáveis pontos de vista. E não importa o quanto se sabe, sempre existe um lado novo a se conhecer.
  • 9. ............. - 25 - Abre os olhos para o sol nascer Pois não há nuvem núbia Onde há o sorriso seu Abre os braços para acolher Quem vem daqui E não quer te esquecer Não há explicação Pra ter escrito essa canção Para você Alegria incontida Em forma de menina Que hoje habita os sonhos meus E não quer se afastar Ou não quero que se afaste Já que o sonho é meu Seja exposto em estandarte Com lastro fincado em ilusão Que se vai pela manhã Quando eu abro os olhos Quando eu acordo Meu céu não encontra seu sol Meu sim não aceita seu não Rafael Beltrão – Coordenador financeiro ............. - 26 - Ilustração: Lorena Lima
  • 10. ............. - 27 - PQNP: Explica para gente a história do “Meu céu não encontra seu sol”. Certa vez, nas areias de Búzios me deparei com uma menina de olhos castanhos tão claros que chegavam a ser amarelos e aquilo me chamou muita atenção. Fiquei com aquilo na cabeça de tal forma que no dia seguinte acordei com uma musica pronta e apenas passei para o papel em alguns poucos minutos. Apesar de todos acharem que a dona dos olhos amarelos e eu tivemos um affair, a gente só conversou 2 minutos no máximo e no dia seguinte, esbarrei com ela. Nessa ocasião peguei um guardanapo, escrevi a letra dessa música, dei a ela e agradeci pela inspiração. Só isso. PQNP: Mais que uma poesia, estes versos viraram uma canção. Por que não gravou esta música já que você já teve uma banda? Não se arriscaria nem a gravá-la de forma amadora, já que tem o costume de colocar vídeos de suas músicas na internet? Na época em que compus essa música estava em ritmo acelerado com a banda que era de um estilo completamente diferente dessa música, portanto nunca toquei com uma banda inteira. Sobre gravar agora... As músicas que componho não costumam sair do meu lar, e os vídeos que estão na internet foram postados apenas porque não conseguiria mostrar pessoalmente as músicas que fiz para aquelas pessoas que me serviram de inspiração. Talvez se por alguma obra do destino eu esbarrar com a dona dos olhos amarelos eu mande pra ela um vídeo com a música, mas acho difícil, pois lembro que ela comentou que era de Brasília. (risos) ............. - 28 - PQNP: Como a poesia pode contribuir de alguma forma para a sua profissão? Poesia é a arte de escolher palavras pra dizer algo sabido de outra forma. Em outras palavras, é saber se comunicar. Isso me ajuda na vida, inclusive no trabalho, onde preciso saber exatamente que palavras posso usar, com que pessoas, dar feedbacks, saber conversar, desde o estagiário até o presidente.
  • 11. ............. - 29 - La ra ra O samba é só, é junto e pede companhia. Ele é em coral, alto, vem baixinho aos ouvidos e arrepia. Samba é amor, pede perdão sem vergonha. Na roda, respeito é para todos, mas o mais respeitado é o que mais chora. Sambista não envelhece, sambista morre. Porque corações não perdem ritmo, simplesmente dormem. Todo dia é dia de samba e eu saio daqui com versos no ar porque samba que é samba, ninguém termina, Emenda no lararara… Patricia Silveira – “Marketeira de formação e roteirista de coração” ............. - 30 - Ilustração: Sérgio Campos
  • 12. ............. - 31 - PQNP: O que é que o samba tem (que os outros ritmos não tem)? Qualquer gênero musical é desenvolvido para que aqueles que ouçam a música sintam o que ela quer transmitir. No caso do samba, ele não transmite, ele mesmo sente sozinho. PQNP: O que você acha do processo de elitização do samba? A rapidez na levada dos sambas-enredos, a quantidade exorbitante de camarotes na Marquês de Sapucaí e a série de regras impostas pela Prefeitura do Rio para o desfile dos blocos de rua na cidade não estão descaracterizando este gênero musical? O samba é cultura, a cultura está inserida em uma sociedade e esta sociedade é capitalista. Não há descaracterização, mas um caminho a ser percorrido. Uma evolução que possa suportar inclusive a popularização do carnaval. É claro que a gente sente uma coisinha ruim ao ver o carnaval mudar, mas não chamaria de descaracterização, mas de nostalgia. PQNP: O que você diria para as pessoas que tem vergonha de divulgar suas poesias? Que não há porque ter vergonha de mostrar aos outros o que você sente. ............. - 32 - Aqui jaz uma praça “A praça é do povo, como o céu é do condor!” Dos moradores Que ao subirem o Barroso Não a encontram mais Local onde ecoavam os gritos onde o pagode corria solto onde surgiam estrelas que perderam seu céu (as crianças perderam um céu de estrelas) A resistência aconteceu O povo brigou mas dessa vez não teve jeito ela foi tomada
  • 13. ............. - 33 - Mas diferente do seu concreto que à caveirões, escavadeiras e fuzis eles nos tiraram os sonhos, as lembranças e os ideais estes permanecem em cada um de nós. Marcela Rabello – Cientista Social ............. - 34 - Ilustração: Luana dos Santos Vidal (educanda-educadora do Espaço Livre de Educação Popular - ELEPP)
  • 14. ............. - 35 - PQNP: Como você enxerga o projeto de “revitalização” da Zona Portuária do Rio de Janeiro que atingiu de forma marcante o Morro da Providência? Essa ideia de “revitalização” é algo que, só no nome, já traduz muito da intencionalidade desses projetos – que estão por toda a cidade e não somente na Zona Portuária. Essa ideia de ‘trazer vida’ para lugares que já são habitados é a maior furada. Na verdade eles querem é se apropriar desses espaços nos quais moram a população mais pobre e transformá-lo em um lugar de circulação de capital, de especulação imobiliária e de turismo para os gringos e os endinheirados. Na Providência não é diferente. Nenhuma discussão e consulta prévia foi feita antes das obras do Morar Carioca, do Porto Maravilha etc. O direito à moradia é completamente ignorado, as pessoas acordam com suas casas marcadas pela sigla da SMH e um número – e isto significa que elas serão removidas. Já pensou nisso? É um absurdo sem tamanho! Outro dia eu estava no Cruzeiro (uma parte do Morro que muitos brincam) conversando com algumas crianças e vi um dos alunos entrando em sua casa, marcada com a sigla da SMH. É muito triste. Mas a resistência acontece. Seja pelo Fórum Comunitário do Porto, pela Comissão de Moradores ou por projetos de educação popular que atuam no local, seguimos resistindo. Tiraram a praça pra construir teleférico, mas acredito que mesmo com toda violência e todas as atrocidades cometidas, não vão apagar nossos sonhos, nem nos calar. ............. - 36 - PQNP: Como colaboradora do ELEPP (Espaço Livre de Educação Popular da Providência), já usou a poesia como atividade educativa para as crianças? Usei algumas vezes em atividades voltadas para compreensão escrita, para trabalhar as diferentes interpretações de um determinado texto. Geralmente pegávamos poesias de autores conhecidos e trabalhávamos no dia. No entanto, a experiência mais significativa para mim foi quando fizemos uma atividade sobre consciência negra, na qual iniciamos com uma dramatização sobre escravidão, racismo, discriminação entre outros, seguida de uma conversa. No final, fomos falando palavras e versos que nos vinham à cabeça depois da discussão e o resultado foi simplesmente sensacional! Criamos coletivamente (os colaboradores e as crianças) um rap chamado “Rap das Menozada”. A letra ficou muito forte, sem pudores e muito bonita. Esse dia foi uma das minhas experiências mais incríveis em educação popular. PQNP: Existe algum tema específico que te dê vontade de fazer um poema e não tenha feito ainda? Não sei. Já tinha feito algumas poesias sobre amor, sofrimento. Mas essa foi a primeira com um caráter mais político. Tenho vontade de escrever mais sobre esse tema. Talvez escrever alguma coisa também sobre o ‘ser criança’.
  • 15. ............. - 37 - Antônio de Portinari Houve um tempo em que Antônio era feliz! Festas com fogueiras, comidas, brincadeiras... Comemoravam o seu nome em todo o país. Mas Antônio, sem conhecer o mundo, Decidiu sair sem destino. Queria viver e experimentar de tudo. Em sua busca pela vida. Viu coisas lindas: flores, mares e amores. Viu também rancores, destruição e dores. Hoje Antônio vive triste. No seu olhar, onde antes havia vontade. Agora há refletida a maldade que conheceu. ............. - 38 - Mas Antônio vai vivendo. Esperando que um dia a felicidade volte correndo Para o lugar que ela nunca deveria ter saído E então, seus olhos voltarão a encarar os que para ele olham E estes saberão que Antônio de Portinari Somente viveu! E nessa vida que é vivida Sem certezas... O que existe é sempre a espera, sim a espera do retorno De tudo como começou! Fabiana Malha – historiadora
  • 16. ............. - 39 - Ilustração: Rafael Pereira ............. - 40 - PQNP: Antônio Cândido Portinari fez um quadro de Santo Antônio como forma de agradecimento ao santo pela cura de uma doença do seu filho. Em sua opinião, a poesia também tem um poder de cura? De que especificamente? Sim, a poesia tem poder, inclusive de cura! Penso que a poesia, como toda arte, é também um veículo através do qual expressamos o que sentimos e, nesse movimento, reorganizamos sentimentos. No caso dessa poesia, a força do olhar do santo desencadeou em mim sentimentos como angústia e dor. Imaginar uma possibilidade para além do momento retratado na tela no qual o que haverá, será a libertação desses sentimentos, faz com que eu também imagine, sinta e acredite que esse momento existirá. Então, a cura, especificamente, é da dor. PQNP: A poesia pode ser uma ferramenta para o historiador na formulação de aulas e no incremento da narrativa histórica? Sim, sem dúvida, o texto poético é sempre marcado pelo tempo histórico no qual foi produzido, pelas questões e angústias do período, portanto, o seu uso em aulas de história agrega na compreensão do aluno sobre a existência de fontes variadas para o ofício do historiador. Em especial, sobre a narrativa histórica, penso que a poesia privilegia a estética no texto, nesse sentido, quando utilizada no texto histórico, contribui com uma apresentação mais sofisticada do argumento. PQNP: É a sua primeira poesia? Por que optava por crônicas como passatempo? Sabe, há muito tempo... num passado remoto... gostava de ler poesias e escrevia poesias também. Era uma
  • 17. ............. - 41 - prática, um costume, um estilo que deixei de lado... Passaram alguns anos e comecei a me interessar pelas crônicas! Passei a ler as crônicas e a imaginar como seria se fosse escrever textos assim. Disparou em mim um olhar atento aos acontecimentos corriqueiros e isso me fez feliz, então me deu vontade de escrever sobre essas percepções do cotidiano. Respondendo, essa não é a minha primeira poesia e as crônicas hoje me ajudam a estar atenta aos fatos, a pensar sobre eles com mais profundidade do que se apresentam. E em que isso é mais atraente do que as poesias? Poderia ser uma pergunta. Bem, a poesia, para mim, tem uma força maior voltada para a minha subjetividade, ao contrário das crônicas, que me colocam sempre em relação ao conjunto da sociedade na qual estou inserida. ............. - 42 - tempo: presente O sorriso denunciou: era amor de criança que ela sentia. Reluzentes, os dentes riam, como sólidas pedras brancas afogadas no vermelho grosso dos lábios. Esqueceu-se do tempo - chata premência de tediosos amanhãs -, e ali ficou, estagnada no riso. Embriagou-se do instante - infinito presente -, e debaixo da pérgola confundiu céu e mar, constelação de navegantes encalhados entre negras brancas inexistentes nuvens rochosas, arredondadas como os dentes. Imaginou o mundo, como fez no dia em que rompeu esferas azuis e cutucou com os pés pequenas estrelas, rápidas dançarinas daquela noite eterna no balanço de madeira. Gustavo Cunha – jornalista
  • 18. ............. - 43 - Ilustração: Lorena Lima ............. - 44 - PQNP: É interessante observar que mesmo a sua poesia tendo traços do Romantismo, ela não cai em um sentimentalismo barato. Atualmente, você acha que ainda há espaços na poesia para uma exaltação piegas do ser amado, nos moldes do “eu não valho nada e você é perfeita”? Acredito que sempre haverá espaço para tudo. E acho que a poesia é mesmo tudo: ela está num piscar de olhos, na tristeza de não estar feliz, na beleza do voo dos pássaros. Tem um poema do Manoel de Barros bem bonito em que ele diz exatamente isso: "Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma / e que você não pode vender no mercado/ como, por exemplo, o coração verde / dos pássaros, / serve para poesia", diz um trecho. O poema está no livro "Matéria de Poesia". Na verdade, não chego a ter grandes identificações com o Romantismo, vejo a beleza na importância do movimento. Escrevi esse texto depois de uma bela noite de sorrisos entre pessoas das quais gosto muito - e que sempre me fazem bem. Os versos acabaram me procurando... PQNP: Quando chegar a terceira idade, o que certamente fará você rir por horas numa cadeira de balanço? É difícil saber... (Risos). Mas são sempre as outras pessoas que nos fazem rir. Os melhores risos são aqueles com companhia. A própria expressão "terceira idade" me fez rir agora. Não gosto muito dessas numerações. A vida tem infinitas idades!
  • 19. ............. - 45 - PQNP: Em que a poesia te auxilia no dia-a-dia? Acho que a poesia nos ajuda a descomplicar as complicações que criamos ao longo da vida. Qualquer verso nunca é óbvio. Às vezes, é bom ler algo que não entendemos de primeira vez, mas que sabemos que nos lançou alguma dúvida no ser. O entendível inentendível é poesia. É gostoso demais viajar sobre um único verso, poucas palavras, e, com isso, pensar e repensar o mundo. Da mesma forma, é muito bom escrever sem pretensão, pela necessidade em tentar arranjar ou desarranjar as complexidades da mente. ............. - 46 - Te admiro como se fosse uma escultura Uma escultura do mais belo sorriso Uma escultura onipotente Uma escultura da distância e da solidão Te admiro só em te olhar Te admiro em te admirar Faço de mim, uma especialista de seus detalhes e olhares Faço de mim, uma observadora de você Sua estátua me confunde, me desarma e me assombra Sua beleza se faz presente nos detalhes Seu silêncio me desarma perante todo o meu desejo de continuar minha contemplação Uma singela e inocente contemplação de você Sou metáfora, fogo e gelo diante da sua figura Imagem, escultura e estátua, que me perseguem Sou só vontade de me fazer existir diante de você Vejo-me e me assisto Às vezes me assusto Outras vezes não me reconheço Sou invadida pelo não ser Não me acho e não me vejo
  • 20. ............. - 47 - Sou uma não existência de mim Um profundo conflito entre o vento e a areia Deslizo entre a beleza e o medo de não existir Sou uma imagem relegada a própria sorte de tudo que me é estranho Sou uma escultura de areia Sou incerta, móvel e rala... Sou meu próprio escultor Me moldo e desmoldo Assumo silhuetas ao meu bel prazer Sou apenas uma escultura de areia, lutando para existir... Priscila Cupello – historiadora ............. - 48 - Ilustração: Rafael Pereira
  • 21. ............. - 49 - PQNP: Uma escultura de areia na sua poesia é descrita como “Um profundo conflito entre o vento e a areia”. E em relação ao ser humano? Que elementos se degladiam para que ele se molde ao longo do tempo? A metáfora da escultura de areia é justamente para pensar como as pessoas vão se transformando com o passar do tempo por agentes externos, no caso o vento. E, às vezes as esculturas mudam de forma sem quererem mudar, mas existe algo que está para além do nosso controle. É uma metáfora para pensar a existência. Tem mil coisas na nossa vida que não podemos mudar e somos atingidos pelo mundo. O mundo nos transforma, as pessoas... tudo a nossa volta e no final estamos lutando para existir e manter quem somos, mas é cada vez mais difícil se definir e dizer quem somos. PQNP: Como começou o seu gosto por poesias? Eu comecei a escrever poesias como uma válvula de escape. É uma forma de transformar sentimentos em alguma outra coisa que não fosse só conflito interno. Mas acho que escrever é inspiração. Às vezes, simplesmente você não consegue escrever nada. PQNP: Por que o gênero poético é cada vez menos lido por jovens, atualmente? Acho que hoje em dia, os jovens têm sempre mil coisas pra fazer, estudar, passar no vestibular, garantir sua vida financeiramente, além de se divertir e sair com os amigos, que a poesia acaba aparecendo em segundo plano, fica sem espaço, nesse tempo do rápido, do agora. Pouco sobrou do romantismo, acho que isso abala o espírito da ............. - 50 - poesia, a poesia é sentimento, é paixão, hoje ninguém mais quer se apegar a nada, as pessoas sabem que as relações são líquidas, não há solidez, então, torna-se difícil a sobrevivência das poesias. As poesias se baseiam na ilusão, na fantasia, não dá para racionalizar um sentimento, ou querer uma lógica, enfim, são outros tempos e outras gerações de jovens, diria eu, uma geração que falta poesia.
  • 22. ............. - 51 - Pá furada A poesia grita em duelos nas ruas povoadas de almas desertas que se desconhecem mas já se viram n'outras noites e carnavais Não sei se tem mais poeta ou vendedor de amendoim no pouco espaço entre as mesas e corpos Não sei se eles têm mais fome de comida ou de voz Não sei se eu tenho mais culpa ou sede Sei é que um pouco de arte passa Aos borbotões nas calçadas sujas de suor e solidão Não sei se é mais fome ou angústia Não sei se ele põe mais orégano ou desenhos de capa se faz promoção-três-por-cinco ou declama alto pr'as menininhas cheias de vontade que alguém lhes diga qualquer coisa que pareça vida e eles dizem mesmo que seja essa vida parca, esses dias consecutivos, esses brindes aguados em copos vazios, ............. - 52 - esse tesão forjado, essa teatralidade canastrona, essa chuva que cai dos olhos no verso mais cliché que se diz com lascívia. com seus livretos curtos de papel xerocado na gráfica da esquina - aquela mesma dos balcões antigos -, com seus cones de papéis coloridos e higiene duvidosa eles jogam uma pá de terra na culpa e uma pá de letra na cara dura Eliza Vianna – historiadora
  • 23. ............. - 53 - Ilustração: João Paulo Centelhas ............. - 54 - PQNP: Qual tipo de poesia mais te agrada? E autores? Não saberia dizer se existe um tipo. Acho que poesia, assim como os outros tipos de arte, precisa tocar a alma. Quanto aos autores, destaco Drummond (como diz uma amiga: é meu pastor e nada me faltará), Fernando Pessoa e Manuel Bandeira. Clássicos, mas essenciais. PQNP: Uma das formas de divulgação feita por poetas iniciantes é esse corpo-a-corpo. Vender livretos na porta de centros culturais, divulgar seu blog para amigos em conversas na Internet e mencionar seus feitos literários em mesas de bar são algumas dessas práticas. Como fazer isso sem ser impertinente ou parecer convencido? Não sei se existe uma fórmula para isso. Confesso que sou leitora de poetas de rua, desde que eu não seja abordada pela famosa frase "você gosta de poesia", que eu considero bastante pretensiosa. Acho que uma das vantagens da poesia no corpo a corpo é a possibilidade de transcender o papel e virar voz. Vejo uma beleza absurda na poesia falada, as palavras ganham mais vida e o gelo desse contato meio 'publicitário' pode ser quebrado sem ser abusivo. PQNP: As perguntas existentes neste livro revelam um pouco desta “fome de voz”? Eu acho que a gente vive um tempo estranho e contraditório em relação ao individualismo. Somos constantemente estimulados a construir um personagem e vendê-lo, mas ao mesmo tempo, isso é muito restrito ao que pode ser estampado - e consumido. Sinto que, em um sentido mais profundo, não há muito espaço para construirmos coisas (ideias, pensamentos, sentimentos?)
  • 24. ............. - 55 - mais profundas, assim como não há espaço para dizê-las - ou dizer esse silêncio, esse vazio, sei lá. Já me disseram que essa coisa do poeta de rua é uma característica do Rio de Janeiro. Não conheço tantas capitais do Brasil para saber se isso é verdade, mas acho que, quando se fala em voz, nossa cidade tem características muito específicas relacionadas aos autoritarismos que vivemos. ............. - 56 - Encanto Feitiço difuso e esperto, o encanto toma conta do sujeito, bem discreto, e assopra lá pra longe a tristeza que há nas coisas, arrumando o espaço vago pras lembranças boas, pras vontades tantas. O encanto faz dessas travessuras com a gente. Quando se vê, já se sente. E surpreende sua vítima ao revelar-se casado com a matéria, com a vida. No final das contas, a magia das coisas mundanas é a mesma das coisas mágicas. O encanto acalanta meu peito cansado das batalhas. Faz ninar as inquietações e abarca meus pensamentos quando o mundo ameaça me pintar de preto e branco. Não, se, pelo encanto, me torno dotado de um colorido tom desorientado que não diz a que veio e nem pra onde vai
  • 25. ............. - 57 - mas que me deixa cheio de ai-ais. E o resultado são esses versos bobos, o sorriso estampado e a resposta negativa ao convite dissimulado da velha melancolia, abandonado fardo. Bárbara Araújo – historiadora ............. - 58 - Ilustração: Sérgio Alberti
  • 26. ............. - 59 - PQNP: Em muitos casos, é no sofrimento que conseguimos enxergar problemas, rever posturas e superar nossos limites. É possível um encanto pela melancolia? Tenho impressão de que o encanto pela melancolia é um mal que acomete a nossa geração. Na verdade, e mais precisamente, uma parte dela (a "meio intelectual, meio de esquerda, rs). Só que a melancolia não é como um sofrimento da vida, algo que acontece e que se supera, deixando ensinamentos. Ela é uma tristeza crônica. E eu resolvi que isso não é útil nem produtivo, é muito mais agradável ser feliz. PQNP: Que estratégias devemos traçar para aumentar o número de leitores de poesias? Acho que o lance é mostrar que poesia não é uma coisa complicada e erudita, não é só um estilo literário que se mora nas bibliotecas. Poesia está no mundo e nas coisas que todo mundo vive. Um jeito legal de mostrar isso, pra mim, são os saraus públicos, onde a poesia pode ser ouvida, o que é uma experiência totalmente diferente de quando lida, e as intervenções urbanas. Nada é mais lindo do que estar caminhando e ver um verso pintado num muro, coisa simples, mas que marca a gente profundamente. PQNP: Como funciona o seu processo criativo? É do tipo de escritora que no momento em que tem a ideia, escreve independentemente de onde estiver ou prefere guardá-la na mente para, posteriormente, escrever em casa ou em um lugar silencioso? ............. - 60 - Eu costumo trabalhar com ideias e não exatamente com palavras. Tem gente que pensa em jogos de palavras, em rimas e tal. Eu penso numa coisa que tenho vontade de dizer, uma coisa que seja bonita, penso em metáforas sobre ela. Aliás, me amarro em metáforas, elas me ajudam a viver. Então fico pensando nessa coisa, às vezes esboço pra não esquecer e eventualmente escrevo o poema. Mas não sou de revisar muito não.
  • 27. ............. - 61 - Vai mulher! Oito crianças comeram, beberam, e aprenderam por tua causa. Teu leite, teu sangue, teu suor Teu amor infinito, teu colo. Teu útero! Quatro crianças do teu sangue Quatro crianças do teu ventre. Ventre em que me geraste Agora vai mulher! Tua missão acabou. Vai ser leve e feliz na vida. Vai descobrir a letra e o prazer. Vai agora tú, aprender a ler. Suelem Assunção – “pode por atriz, contadora de história, bonequeira... e gestora”. ............. - 62 - Ilustração: Pedro Paulo de Jesus
  • 28. ............. - 63 - PQNP: Atualmente, você acha que pais e mães ao terem filhos, se preocupam exclusivamente em satisfazer um sonho pessoal (“ser pai” ou “ser mãe”) ou já se preparam anteriormente, para as necessidades emocionais e financeiras que estas crianças irão demandar? Isso depende muito da família. Não sou muito ligada em estatísticas, nem nada. O que vejo, hoje em dia, são realidades muito diferentes. Mas de uma forma geral, as pessoas tem sido bem displicentes. Tendo filhos sem muita responsabilidade, sem muito planejamento. Um filho é algo muito importante, requer muita dedicação. Muitas pessoas têm filhos sem estarem realmente preparadas. PQNP: Levando em conta o atual panorama educacional, é fácil para um adulto ser alfabetizado, no Brasil? Acho que hoje em dia esta mais fácil do que uns dez anos atrás. Surgiram programas do governo de alfabetização de Jovens e adultos e outras oportunidades em instituições privadas com preços bem acessíveis. PQNP: O que a poesia significa na sua vida? Comecei a escrever as poesias quando era bem pequena. Nunca as divulgava. Gostava de ler depois de algum tempo. Era como se eu me revisitasse. Gosto de escrever. Mas faço para mim mesma. Uma forma de expressão de colocar pra fora o que estou sentindo. Uma forma de extravasar a dor ou a felicidade. ............. - 64 - Sobre o tempo... Não é tão importante a idade fixa! Melhor, é a idade itinerante: aquela que te remete a momentos, que se revezam em um só instante... Instante é saber que estou por um triz, que a vida é intensa e se despede sem graça, que o triz se vai, como a hora que passa, e não sei se estou sabendo ser feliz. Sei que sou livre, e desperto, e que o tempo propício é sempre o agora! O agora é que mora no tempo certo, liberto dos tempos de outrora... Margot Cunha
  • 29. ............. - 65 - Ilustração: Célio Silva ............. - 66 - PQNP: Concorda com a associação imediata que muitos escritores fazem da infância com a felicidade e da idade adulta ou terceira idade como um período de angústias e sofrimentos constantes? A infância é realmente a melhor fase de nossas vidas? Penso que a associação da infância com uma fase feliz, embora não sem angústias, é essencialmente natural, assim como a fase adulta é essencialmente mais angustiante. Mas não creio que essas associações sejam necessariamente como um paradigma dentro do gênero. O exercício do viver é fascinante, surpreendente e complexo. Nem sempre as melhores lembranças estão na infância. Os que vivem à prova de um cotidiano árduo, possivelmente verão na infância a melhor fase de suas vidas; já os que experimentaram nesta fase muitas dificuldades, poderão encontrar felicidade na fase adulta, ou numa etapa de maior amadurecimento. A melhor fase é com certeza a em que a vida flui bem, ou a em que conseguimos lidar melhor com as limitações. PQNP: “Sobre o tempo...” é tipicamente uma poesia para se ler em voz alta. O ritmo, a estrutura e as rimas presentes corroboram com esta afirmação. Uma autêntica poesia precisa da junção desses e de outros elementos do gênero poético para se afirmar como tal ou a preocupação em respeitar essas características na risca vai na contramão do que a poesia se propõe? Como um estilo literário que é, entendo que a poesia deva agregar elementos que a caracterizam. Mas acredito que a essência da poesia vem expressa pela sensibilidade, pela forma como o autor transpõe em palavras a sua subjetividade, traduz emoções, angústias, belezas, o
  • 30. ............. - 67 - espanto; acordando-nos, instigando-nos, ou fazendo-nos sentir extasiados, trazendo e acrescentando uma nova percepção aos nossos sentidos. A obrigatoriedade de conter todos os elementos característicos deste gênero, pode sim tirar a espontaneidade e a naturalidade do que se quer expressar. Poesia presa à técnica pode tornar-se uma construção mecânica. Para mim, a poesia deve nascer da inspiração, e até pode ser trabalhada, mas deve manter-se livre dentro do gênero, privilegiando a emoção. PQNP: O que você faz para que os erros do passado e a ansiedade pelo futuro não tenham tanta interferência nas decisões que toma na sua vida no presente? O grande desafio do presente é saber administrar o tempo. Minha maior dificuldade é viver cada dia, sem culpa por não ter conseguido realizar metade do que pretendia; o que não é um "privilégio" apenas meu, em tempos de velocidade de comunicação e informação: Aumentamos a quantidade de atividades diárias, tornando nosso tempo cada vez mais curto. Fundamentalmente tento ter em mente que tenho sido aquilo que consegui e pude ser, como resultado da evolução que tive, e das experiências que vivi. Dentro dessa perspectiva, sigo adiante sem apego às questões do passado; mas não sem um grau de ansiedade no futuro. ............. - 68 - Sem título, sem nó Ser eu ser só sem nó sem dó ser eu ser meu e só Marina Rotenberg Saraiva – Comunicadora Social
  • 31. ............. - 69 - Ilustração: Célio Silva ............. - 70 - PQNP: Existem momentos em que nos sentimos sozinhos mesmo com a presença de outras pessoas. É mais difícil de encarar este tipo de solidão ou, digamos, a “solidão tradicional”? Temos medo de encarar a solidão por aquilo que ela representa para os outros, e não só para nós mesmos. Os julgamentos e as regras impostas nos levam a acreditar que ser só é algo ruim, quando muitas vezes pode ser se conhecer, se aceitar e refletir. Mais difícil do que encarar a solidão é encarar ser visto como uma pessoa solitária. PQNP: O que representa para ti colocar no papel aquilo que tu sentes por dentro? Representa dar a oportunidade de o pensamento se transformar em palavra, recurso mais poderoso que se tem. PQNP: Tendo em vista o trabalho que realiza para o Terceiro Setor, que tipo(s) de projeto(s) relacionado à poesia deve(m) ser direcionado(s) para as comunidades com altos índices de pobreza e violência? A poesia, e a arte em geral, devem ser utilizadas como meio para a reflexão, ampliação de repertório e autoconhecimento. A poesia nos tira do lugar comum, nos transporta para outros planos e nos desloca da realidade que nos é imposta. Precisamos refletir sobre a nossa e as demais realidades para entendermos nosso papel, nossos sonhos, nossos direitos. Em comunidades com altos índices de pobreza e violência é preciso oportunizar e estimular o pensamento crítico e a auto-reflexão. A poesia é um caminho e um instrumento para que se pense e crie novos mundos, novos sonhos e novas realidades.
  • 32. ............. - 71 - Contatos Poetas: Patrícia Silveira: https://decifre.wordpress.com Bárbara Araújo: http://oubarbarie.wordpress.com Margot Cunha: margowtcs@hotmail.com; https://www.facebook.com/margot.cunhasergio Twitter: @margowt Francisco Trigo: http://semserifa.blogspot.com.br Raphael Alberti: oabsurdista.blogspot.com.br Suelem Assunção: suelemc@hotmail.com Marcela Rabello: elepprovidencia.blogspot.com Priscila Cupello: cupello.priscila@gmail.com Gustavo Cunha: gust.b.cunha@gmail.com Fabiana Malha: fabianamalha@gmail.com Malu Sartor: alfabetizacao.gep@gmail.com Rômulo Coutinho: rvcoutinho.com Marina Saraiva: mrotenbergs@gmail.com ............. - 72 - Ilustradores: Sergio Campos: sergiocampos46@gmail.com; http://www.facebook.com/Conjuntopoesias Sérgio Alberti: sergioalberti.com; facebook.com/s.a.alberti; Twitter: @sergioalberti; sergioalberti@gmail.com Rafael Pereira: rafaelp.carbonmade.com; rafaelpereira41@gmail.com; 97603012/ 22616493 Pedro Paulo Jesus: 9692-8486/ 9861-8839 (Aos domingos, na Feira Hippie de Ipanema de 09:00 às 18:00) João Francisco Gomes da Costa: 9907-4620; jfgomesdacosta@bol.com.br (Aos domingos, na Feira Hippie de Ipanema de 09:00 às 18:00) Célio Silva – 3764-3079 (No primeiro domingo do mês na Feira da Lavradio e ocasionalmente, de segunda a sexta- feira, a partir das 20:00, no calçadão de Copacabana, em frente a Feira Hippie de Copacabana) João Paulo Centelhas - joaocentelhas@yahoo.com.br