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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
 FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, ECONOMIA, E CIÊNCIAS CONTÁBEIS-FAECC
           ACADEMIA DE POLICIA MILITAR COSTA VERDE - PMMT
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA-CEGEsP/CAO




        OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS E BOMBAS:

  NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UM GRUPO ESPECIALIZADO NA PMMT.




                BENEDITO LAURO DA SILVA-CAP PM




                           CUIABÁ – MT
                              2006
BENEDITO LAURO DA SILVA – CAP PM




          OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS E BOMBAS:

 NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UM GRUPO DE ESPECIALIZADO NA PMMT.




                                    Monografia apresentada à Coordenação
                                    do Curso de Especialização em Gestão de
                                    Segurança Pública – CEGEsP/CAO como
                                    requisito obrigatório para a conclusão do
                                    curso e obtenção do grau de Especialista
                                    em Gestão de Segurança Pública.




Orientador: Rhaygino Sarly Rodrigues Setúbal - Maj PM




                                 CUIABÁ – MT
                                    2006
OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS E BOMBAS:

   NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UM GRUPO ESPECIALIZADO NA PMMT.



                     BENEDITO LAURO DA SILVA – CAP PM



      Monografia submetida à Banca Examinadora, composta por professores do

Curso de Especialização em Gestão de Segurança Pública – CEGEsP/CAO, da

Faculdade de Administração, Economia e Ciências Contábeis da Universidade

Federal de Mato Grosso, e julgada adequada para a concessão do Grau de

ESPECIALISTA EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA.


Banca Examinadora:


                   Rhaygino Sarly Rodrigues Setúbal - Maj PM
                        Orientador/Presidente da Banca


                  Celso Henrique de Souza Barboza – Maj PM
                                   Membro


                     Edson Benedito Rondon Filho – Maj PM
                                   Membro


                        Prfª MsC Lúcia Regina de Souza
                                   Membro



Nota obtida pelo aluno ________




               Profª MsC MARIA EUNICE GONÇALVES AGUIAR
                          Coordenadora do Curso
DEDICATÓRIA

 Aos   meus    pais   pela   sabedoria,   verdadeiros
exemplos para a minha formação.
 Às minhas filhas Júlia e Isabella, verdadeiras jóias
raras, razão do meu esforço.
 Á minha namorada Carolina Bittencourt, a quem
tanto amo.
 A todos aqueles que de alguma forma colaboraram
na elaboração deste trabalho, em especial ao
GATE/PMESP.
 A todos os policiais militares honrados que labutam
dia a dia contra a criminalidade.
AGRADECIMENTO



 A Deus, Pai, Todo Poderoso, pela oportunidade de
ser um policial militar.
 Ao Sr. Ten Cel PM Jorge Catarino Moraes Ribeiro,
reconhecidamente       verdadeiro   baluarte   para   a
realização do CAO / CEGEsP.
 Aos meus mestres, em especial ao meu orientador
neste trabalho Sr. Maj PM Rhaygino Sarly Rodrigues
Setúbal, pela sabedoria, dedicação e paciência
durante os ensinamentos.
 Ao Sr. Maj Celso e Profª Msc Lúcia Regina,
coordenadores do CAO / CEGEsP, profissionais
dedicados e comprometidos com o ensino.
 A todas as pessoas que amo, que espero, se
reconheçam neste agradecimento.
EPÍGRAFE




 “A única coisa necessária para o triunfo do mal é
que os bons homens não façam nada”.
                                  Edmund Burke
RESUMO




        Este trabalho monográfico aborda o atendimento de ocorrências envolvendo
bombas e explosivos no Estado de Mato Grosso, avaliando a existência ou não de
procedimentos específicos na atuação policial. Num primeiro momento realiza um
passeio pela história dessa modalidade de ocorrência, que tem início com terrorismo
internacional, passando por fatos de nível nacional e fatos ocorridos em Mato
Grosso. Faz menção sobre o aspecto legal acerca do terrorismo e crimes
envolvendo explosivos, procurando conceituar explosivos e bombas, caracterizando-
os, bem como, reúne medidas preventivas no atendimento dessas ocorrências. Em
seguida, expõe sobre a necessidade de criação de um grupo especializado, a fim de
que os policiais militares, que porventura venham atuar no Grupo Antibomba,
apliquem de forma técnica e tática, conhecimento e recursos necessários para ações
de prevenção e resolução de ocorrências envolvendo localização de bombas e
explosivos, alcançando ao final, o melhor resultado possível que consiste na
preservação da vida, da integridade física das pessoas e do patrimônio.

       Palavras – chave: Terrorismo, Bombas e Grupo Especializado.
ABSTRACT




         This monographic work approaches the attendance of occurrences involving
bombs and explosives in the State of Mato Grosso, evaluating the existence or not of
specific procedures in the police performance. At a first moment it carries through a
stroll for the history of this modality of occurrence, that has beginning with
international terrorism, passing for facts of national level and facts occurred in Mato
Grosso. It makes mention on the legal aspect concerning the terrorism and crimes
involving explosive, looking for to appraise explosives and bombs, characterizing
them, as well as, it congregates writ of prevention in the attendance of these
occurrences. After that, it displays on the necessity of creation of a specialized
group, so that the military policemen, who porventura come to act in the Antibomb
Group, apply of form necessary technique and tactics, knowledge and resources for
action of prevention and resolution of occurrences involving localization of bombs
and explosives, reaching to the end, best resulted the possible one that consists of
the preservation of the life, of the physical integrity of the people and the patrimony.

        Words - key: Terrorism, Bombs and Specialized Group.
SUMÁRIO




LISTA DE FIGURAS.............................................................................................        x

LISTA DE ABREVIAÇÕES...................................................................................              xi

INTRODUÇÃO.......................................................................................................    12

1 TERRORISMO....................................................................................................     17
  1.1 Conceito de Terrorismo................................................................................         17
  1.2 Conjectura Histórica.....................................................................................      22
  1.3 Motivações do Terrorismo............................................................................           35
  1.4 Perfil dos Causadores de Ameaça em Termos Globais..............................                                36
  1.5 Tipos de Terrorismo.....................................................................................       37
  1.6 Características do Terrorismo Internacional................................................                    40
  1.7 Terrorismo no Brasil.....................................................................................      42
  1.8 Classificação do Terrorismo no Brasil..........................................................                44
  1.9 Neoterrorismo Brasileiro...............................................................................        45
  1.10 Os Incidentes com Bombas no Território Brasileiro...................................                          48

2 ASPECTOS LEGAIS..........................................................................................          51
  2.1 Direito Internacional.....................................................................................     51
  2.2 Constituição Federal....................................................................................       53
  2.3 Lei de Segurança Nacional..........................................................................            53
  2.4 Código Penal................................................................................................   54
  2.5 Lei das Contravenções Penais....................................................................               55
  2.6 Código Penal Militar.....................................................................................      56
  2.7 Estatuto da Criança e do Adolescente.........................................................                  56
  2.8 Diretriz de Ação Operacional da PMMT.......................................................                    57

3 OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS EM MATO GROSSO............                                                       59
   3.1 Prisão do foragido Maurício Domingos da Cruz, o “Raposão”.....................                                59
   3.2 Explosão no interior de veículo em Cáceres................................................                    60
   3.3 Indivíduos Presos no Terminal do bairro Morada da Serra.........................                              60
3.4 Falsa Bomba no Bairro Jardim Primavera...................................................                           61
   3.5 Vândalos Atearam Fogo em Motocicletas na Ciretran de Rondonópolis.....                                              62
   3.6 Bomba Deixada em Supermercado de Colíder...........................................                                 63
   3.7 Bomba Colocada em Banheiro de Escola em Cuiabá.................................                                     64
   3.8 Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos Sofre Ataque de Bomba........                                              65
   3.9 Novamente Ataque com Bomba à Unidade Prisional Regional Pascoal
   Ramos................................................................................................................   66
   3.10 Estudante Preso Tentando Armar Bomba no Banheiro de Escola em
   Rondonópolis.....................................................................................................       67
   3.11 Companhia de Polícia Comunitária do Jardim Vitória Sofre Ataque de
   Bomba................................................................................................................   68
   3.12 Após Explosão de Bomba Detentos Fogem da Cadeia Pública de
   Várzea Grande...................................................................................................        69
   3.13 Homem Mantém Familiares e Ex-esposa Reféns sob Ameaça de
   Explosivos..........................................................................................................    71
   3.14 Artefato Explosivo é Encontrado em Muro da Unidade Prisional
   Regional Pascoal Ramos...................................................................................               73
   3.15 Perfil dos Utilizadores de Bombas em Mato Grosso..................................                                 74
   3.16 Tipos de Explosivos Utilizados pelos Criminosos......................................                              75
   3.17 Finalidade da Utilização dos Explosivos....................................................                        76

4 BOMBAS............................................................................................................       77
  4.1 Conceitos de Explosivo................................................................................               77
  4.2 Classificação dos Explosivos.......................................................................                  78
  4.3 Características dos Explosivos....................................................................                   79
  4.4 Tipos dos Principais Explosivos...................................................................                   81
  4.5 Sistemas de Iniciação..................................................................................              83
  4.6 Conceito de Explosão..................................................................................               83
  4.7 Bombas........................................................................................................       85
  4.8 Utilização de Explosivos em Invasões e Remoção de Obstáculos..............                                           92

5 DO GRUPO ESPECIALIZADO EM EXPLOSIVOS E BOMBAS.......................                                                     94
  5.1 Composição e Estrutura dos Grupos Antibomba no Mundo........................                                         95
  5.2 Criação do Grupo Antibomba no Batalhão de Operações
  Especiais............................................................................................................     98
  5.3 Exigências Pessoais da Equipe de Bombas................................................                              102
  5.4 Estrutura do Grupo Antibomba....................................................................                     103
  5.5 Tipo de Trabalho Desenvolvido pelo Grupo Antibomba..............................                                     105
  5.6 Treinamento do Policial Militar.....................................................................                 105
  5.7 Equipamentos para o Grupo Antibomba......................................................                            106
  5.8 Procedimento Operacional em Ocorrências Envolvendo Explosivos e
  Bombas..............................................................................................................     114
CONCLUSÃO.......................................................................................................           129

SUGESTÕES......................................................................................................... 133

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................                            135

APENDICE I..........................................................................................................       139
x




                                          LISTA DE FIGURAS




FIGURA 1 – Divisão em quadrantes...................................................................        121

FIGURA 2 – Seqüência em espiral.....................................................................       122

FIGURA 3 – Zonas longitudinais.........................................................................    122

FIGURA 4 – Arcos capazes................................................................................   123

FIGURA 5 – Módulos de varredura.....................................................................       124
xi




                                 LISTA DE ABREVIATURA




BOPE – Batalhão de Operações Especiais
BPM – Batalhão de Polícia Militar
Cap – Capitão
Cel - Coronel
Cia - Companhia
COE – Companhia de Operações Especiais
CPA – Centro Político Administrativo
GATE – Grupo de Ações Táticas Especiais
GOE – Gerência de Operações Especiais
IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar
PMDF – Polícia Militar do Distrito Federal
PMESP – Polícia Militar do Estado de São Paulo
PMMT – Polícia Militar do Estado de Mato Grosso
PJC – Polícia Judiciária Civil
Ten – Tenente
Sd – Soldado
Sgt - Sargento
INTRODUÇÃO



        A presente pesquisa monográfica pretende realizar uma apreciação acerca

das ocorrências envolvendo bombas e artefatos explosivos no Estado de Mato

Grosso, cujo assunto pouco explorado, constitui de suma importância para a Polícia

Militar do Estado de Mato Grosso, principalmente, porque trata-se da proteção dos

bens jurídicos tutelados pelo Estado, qual seja a vida e a integridade física e moral,

seja do policial militar ou não.



        O terrorismo em várias partes do mundo utiliza substâncias explosivas e

bombas para impor o medo. O conceito, as principais características do terrorismo,

sua motivação e o perfil dos causadores são apresentados no início deste trabalho,

tendo sido traçado um panorama histórico a nível mundial e nacional.



        Os aspectos legais acerca do terrorismo e as diversas formas de crimes que

assemelham essa prática carecem de análise, desde sua interpretação a nível de

Direito Internacional até as diretrizes de procedimentos emanados pela Corporação,

considerando que o policial militar no atendimento de ocorrências desse nível, deve

conhecer os fundamentos de sua atuação.
13

        As principais ocorrências envolvendo explosivos e bombas nos últimos três

anos merecem destaque, cujos fatos representaram enormes riscos ou ameaças,

bem como, os respectivos níveis de resposta da atuação policial e pericial,

apresentando, ainda, a tipologia dos causadores da crise, os tipos dos artefatos

utilizados e sua finalidade.Conhecer uma bomba e as características de um artefato

explosivo se faz necessário. O conceito de explosivos e bombas é explorado na

quarta parte, em que são demonstrados tipos e características principais, tipos de

acionamento, conceito de explosão e seus efeitos, dando ainda um enfoque especial

à bomba caseira, principal causadora de acidentes causando lesões e até mortes.



        O problema abordado nesta pesquisa pode ser enunciado através de uma

análise da atuação da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso em ocorrências

envolvendo bombas, na qual o policial militar, no exercício de seu mister, se vê

submetido a enorme risco de morte ou de sofrer graves lesões. É com esse enfoque

que se formula o problema da presente pesquisa:



        Em caso de ocorrências envolvendo explosivos e bombas a Polícia Militar do

Estado de Mato Grosso está preparada para esse atendimento de forma segura?



        Diante de tal problema a hipótese levantada é a de que com a adoção de

conhecimentos específicos, padronização de procedimentos e aquisição de

equipamentos para agir adequada e tecnicamente diante de uma ocorrência

envolvendo explosivos e bombas, poder-se-á vislumbrar na PMMT a redução dos

riscos ao policial militar e outras pessoas, cujos resultados, além de técnicos, seriam

mais satisfatórios à resolução do evento crítico.
14

        O objetivo deste trabalho é o de sensibilizar o Comando da Corporação e,

em esfera maior, o Poder Executivo, para a atualidade e importância do tema e a

necessidade de investimentos em pessoal e equipamentos; profissionalizando e

otimizando esse     tipo   de atendimento,     obedecendo     aos   padrões técnicos

mundialmente consagrados; dotando o policial militar de conhecimento técnicos

básicos à uma atuação segura.



        A justificativa para esta pesquisa consiste na carência de atualizadas

padronizações no atendimento de ocorrências envolvendo bombas e explosivos, a

falta de equipamentos para uma atuação segura que, caso ocorra qualquer

incidente, pode colocar a imagem da Polícia Militar em xeque. As últimas

intervenções constituíram-se satisfatórias, no entanto, os valorosos policiais militares

envolvidos nessas operações submeteram-se a altos riscos.



        A metodologia utilizada foi escolhida pelo pesquisador posto que é a que

melhor contempla o caminho a percorrer os meandros da utilização de bombas,

traduzindo que necessário se faz também conhecer os diversos tipos de

equipamentos utilizados na prevenção e atuação policial em ocorrências envolvendo

artefatos explosivos. Desta forma, esta pesquisa baseia-se em pesquisas

bibliográficas sendo utilizados manuais com anotações de procedimentos padrão

seguidos a nível internacional como o da Brigada de Explosivos da Polícia de

Córdoba, Argentina, e adotados por diversas polícias co-irmãs, em especial a Polícia

Militar do Estado de São Paulo e Polícia Militar do Distrito Federal que os

manuseiam em cursos específicos da área. Legislações foram exploradas com a

finalidade de orientar o policial militar em sua atuação. Foram exploradas pesquisas

documentais através de consultas a jornais de grande circulação no Estado de Mato
15

Grosso, bem como, notícias-crimes extraídas de boletins de ocorrências atinentes a

intervenção em eventos envolvendo explosivos; consultas a diretriz de ação

operacional da PMMT foram feitas com a finalidade de verificar sua atualização

frente as diversas medidas adotadas internacionalmente nas ocorrências com

bombas. Consultas a sites da Internet se revelaram necessárias em decorrência de

melhor estabelecer e demonstrar as conjecturas históricas do terrorismo, elucidando

o perfil e as motivações terroristas. A experiência do autor desta pesquisa que

participou de instruções sobre Procedimentos Preventivos em Ocorrências com

Bombas e Artefatos Explosivos no Grupo de Ações Táticas Especiais da Polícia

Militar do Estado de São Paulo, tendo como finalidade demonstrar os fatos e

procedimentos policiais envolvendo explosivos no Estado.



       A delimitação cronológica do estudo abrange o período do ano de 2003 até

os dias atuais, em decorrência dos recentes registros históricos envolvendo

explosivos e bombas em Mato Grosso.



       A delimitação espacial restringe-se ao Estado de Mato Grosso que tem

vivido ocorrências envolvendo bombas e a avaliação da necessidade de criação de

um grupo especializado.



       A conclusão reforça a argumentação e propõe mecanismos para a criação

de um grupo especializado na PMMT, sobretudo no Batalhão de Operações

Especiais, tendo como parâmetros a doutrina, o bom senso, o profissionalismo e,

principalmente, a preservação da vida e do patrimônio.
16

       O assunto explosivo e bombas não pode ser tratado de forma improvisada

pelos diversos segmentos da polícia mato-grossense. Este trabalho procura

demonstrar a necessidade da criação de um grupo especializado em explosivos e

bombas e procura indicar, com base em doutrinas operacionais policiais de nível

internacional e nacional, uma padronização de procedimentos a serem adotados,

uma abordagem de caráter científico, evitando-se assim atitudes e desempenhos

tipicamente amadoristas que poderão ser catastróficas.



       Atualmente, o atendimento dessas ocorrências vem sendo realizado de uma

forma não ortodoxa, confiando na capacidade de improvisação, ao bom senso e

porque não dizer ao “jeitinho” ou à habilidade individual do policial encarregado de

solucionar as ocorrências envolvendo bombas.
17

1    TERRORISMO

       No mundo os explosivos tem sido o principal instrumento utilizado por

grupos que visem disseminar o terror, segundo assevera o manual de

Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos do Grupo de

Ações Táticas Especiais (GATE) da Polícia Militar do Estado de São Paulo1, de

modo que, vemo-nos impelidos a estudar os ataques em que se utilizaram

explosivos e bombas sob a ótica do terrorismo.




1.1 CONCEITO DE TERRORISMO

       O terrorismo ganhou uma dimensão inédita neste início de século, antes

restrita a regiões ou países com cismas sociais, econômicos, culturais, éticos ou

religiosos. Agora, o tema é colocado como pauta obrigatória na agenda das relações

internacionais. Porém, o ato terrorista, muitas vezes tem sido confundido, de modo

incauto ou premeditado, com ações de luta armada, movidas por idéias legítimas e

como reação ou resistência à repressão do agressor.



       Isso porque um poderoso e terrível ataque terrorista ocorreu na manhã do

dia 11 de Setembro de 2001 (exatamente às 8h48m e 9h03m locais), atingindo as

duas torres do maior conjunto comercial do mundo, o World Trade Center, em Nova

Iorque, que veio abaixo horas após ter sido parcialmente destruído por duas

aeronaves comerciais Boeing 767, com um total de 157 passageiros a bordo. Eles

haviam decolado de Boston às 7h58m com 65 passageiros e às 7h59m com 92

passageiros e ambos com destino a Los Angeles.


1
 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Procedimentos Preventivos em Ocorrências
Envolvendo Explosivos. GATE. São Paulo, p 5. 2005.
18

            Assim, após o 11 de Setembro de 2001, o terrorismo passou a ocupar o

centro das atenções da política de segurança nacional da nação hegemônica da

atualidade. O século XXI começa com mudanças no quadro geopolítico global, onde

as posições unilaterais dos EUA passam a ditar a nova ordem mundial.



            A ação supracitada foi atribuída à Al Quaida, sob o Comando de Osama Bin

Laden, e é considerado o maior atentado terrorista em escala global da história.

Nota-se que o atentado atingiu alvos com objetivos precisos: O Pentágono como

representante do poder militar; o World Trade Center como representante do poder

econômico e, a tentativa de atingir a Casa Branca, representando o poder político do

inimigo.



            Noutro     diapasão,     percebemos        que     as   definições     sobre     terrorismo

encontradas nas enciclopédias se mostram imprecisas e incompletas. Para

Larousse2, é o “Conjunto de atos de violência cometidos por grupos políticos ou

criminosos para combater o poder estabelecido ou praticar atos ilegais”, e também,

“Regime de violência instituído por um governo”. Para a Delta Universal3, o

“Terrorismo é o uso ou a ameaça de violência, com o objetivo de aterrorizar um povo

e enfraquecer sua resistência” e “entre os atos mais comuns de terrorismo estão o

assassinato, o bombardeio e o seqüestro”.




2
    Enciclopédia Larousse Cultural, vol. 23. São Paulo: Nova Cultura Ltda, 1998. p 238.
3
    Enciclopédia Delta Universal, Vol. 14. Rio de Janeiro: Editora Delta S/A, 1982. p 453.
19

        A Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) conceitua terrorismo com

sendo “todos os atos de caráter violento que provocam medo e pânico generalizado

na população como um todo”4.



        Percebe-se que para ser caracterizado como ato de terrorismo é necessário

o elemento da violência real ou presumida e o sentimento de insegurança

generalizada na população como um todo, achando-se vítima em potencial da

violência em qualquer local e momento, mesmo que não tenha sido afetada de

maneira direta, conforme define a Instrução Provisória Policial Militar para o

Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefatos Explosivos – IP–1-PM da

PMESP5.


                    6
        HOFFMAN         conceitua-o como sendo o “uso real ou ameaça de recorrer à

força e à violência com fins políticos, dirigido não só contra pessoas, mas também

grupos, cujo alcance transcende os limites nacionais”. Portanto o seu objetivo

implica uma ação levada a cabo por governos, unidades secretas ou irregulares, que

operam fora dos parâmetros habituais das guerras convencionais, tendo, às vezes,

como fim fomentar a revolução.



        Assim, mais que a realização de fins militares, o objetivo do terrorismo é a

propagação do pânico na comunidade alvo de sua violência. Conseqüentemente, a

comunidade se vê coagida a atuar de acordo com os desejos terroristas, que


4
  POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Procedimentos Preventivos em Ocorrências
Envolvendo Explosivos (bombas). GATE. São Paulo: p 09. 2005.
5
  POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar
para o Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefatos Explosivos (bombas). São Paulo:
CSM/Mln, artº 2º. 1996.
6
  HOFFMAN, Bruce. Terrorismo e Contraterrorismo Após o 11 de Setembro. Disponível em:
<http://usinfo.state.gov/journals/itps/1101/ijpp/ip110107.htm > Acesso em 01fev.2006.
20

buscam, por meio dessa atividade extrema, o início da desestabilização de um

Estado,    causando    o   maior   caos   possível,   para   possibilitar,   assim,   uma

transformação radical da ordem existente.



          Para TAMAYO7, o terrorismo consiste “no uso calculado da violência ou da

ameaça da violência para provocar o medo, na busca das metas que são

geralmente políticas, religiosas, ou ideológicas; forçando ou intimidando os governos

ou as sociedades”.



          Recorrendo ao dicionário comum, para um rápido exame etimológico, o

Novo Aurélio diz: “Modo de coagir, ameaçar ou influenciar outras pessoas ou impor-

lhes à vontade pelo uso sistemático do terror” e, em uma segunda definição se

aproxima das anteriores: “Forma de ação política que combate o poder estabelecido

mediante emprego da violência”.



          A luta armada contra o poder estabelecido não pode, a priori, ser

considerado como uma ação terrorista. O poder estabelecido pode ser totalmente

ilegítimo, usurpador, sem respaldo democrático ou das tradições e costumes do

povo que está submetido a este poder. Seguindo a definição enciclopédica, a

resistência Francesa, durante a II Guerra Mundial, seria classificada como uma

organização terrorista, visto que lutava contra o poder estabelecido pelos nazistas

na zona ocupada ao norte da França e o governo colaboracionista de Vichy.



          A definição de “praticar atos ilegais” como sendo característica da ação

terrorista também não se sustenta. A ordem legal institucional pode ser imposta por
7
   TAMAYO, Fabiola. Terrorismo. Disponível em: <http://www.monografias.com/trabajos6/terro
/terro.shtml> Acesso em 01fev.2006.
21

um poder ilegítimo e, portanto, como se pode exigir legalidade dentro da ilegalidade.

Outra confusão freqüente é aproximar o crime comum ao terrorismo. Assim,

teríamos autores de crimes contra o patrimônio ou contra a pessoa humana,

movidos por interesses pessoais ou passionais no mesmo naipe de crimes com

alvos discriminados ou indiscriminados, com motivos políticos e ideológicos

vitimando inocentes.



        Como método de coação ou ameaça para impor seus princípios, a ação

terrorista se encaixa nas definições mas, encontra sérios obstáculos, na

contrapartida da ação anti-terror, geralmente desencadeada por instituições

controladas pelo Estado. Neste caso, temos exemplos clássicos com a luta anti-

terrorista em relação ao IRA na Irlanda do Norte e ao ETA no País Basco.



        Para uma definição mais específica, o Dicionário do Pensamento Social do

Século XX8 classifica o terrorismo em dois tipos principais. No primeiro, o agente usa

um método de ação para atingir objetivos específicos. Para este caso, a violência

aplicada é pragmática, mais ou menos sob o controle do agente que, pode mudar de

estratégia, não necessariamente com uso de violência. No segundo tipo, o

terrorismo pode ser uma lógica de ação. Nesse caso, os fins justificam os meios, e o

agente apresenta através da repressão, prisão ou morte. Ainda segundo a obra,

existe uma tese corrente inspirada no funcionalismo, na qual, o terrorismo surge

quando existe uma crise, principalmente uma crise política.



        O terrorismo é o uso da violência sistemática, com objetivos políticos, contra

civis ou militares que não estão em operação de guerra. Existem muitas formas de
8
 OUTHWAITE, William e BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento social do Século XX.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
22

terrorismo. Os terroristas religiosos praticam atentados em nome de Deus; já os

mercenários recebem dinheiro por suas ações; os nacionalistas agem movidos por

um ideal patriótico. Há ainda os ideólogos, que armam bombas motivados por uma

determinada visão de mundo. E, muitas vezes, o que se vê é uma mistura de tudo

isso com desespero e ódio.




1.2 CONJECTURA HISTÓRICA

        Fazendo um breve retrospecto histórico, verifica-se que os atos de terror,

estão presentes desde o início da civilização. O fato mais surpreendente é que o

agente mais letal nas ações de terror foi o próprio Poder Estabelecido, ora contra

nações inimigas, ora contra seu próprio povo como forma de repressão. Para

CARR9, o Império Romano utilizou táticas de terrorismo contra os povos dominados,

com a finalidade de baixar o moral e enfraquecer a resistência das tropas inimigas.

O autor salienta que a expressão utilizada na época era “guerra punitiva” que, mais

tarde, foi substituída por “guerra destrutiva”. Entre os atos inomináveis praticados

pelas legiões romanas estavam os estupros e saques, como forma de recompensa

aos soldados, já que eram extremamente mal remunerados. Naturalmente,

complementa o autor, os romanos também sabiam gerenciar a pax romana, pois não

conseguiriam manter um império apenas com atos de violência.



        Apesar disso, percebe-se que o auge do terrorismo aconteceu durante os

anos da Guerra Fria, depois da Segunda Guerra Mundial, a qual pode ser descrita

como um sistema de equilíbrio entre dois blocos inimigos que se baseava no terror.

Afinal, o poder de destruição nuclear dos Estados Unidos e da União Soviética era
9
  CARR, Caleb. A Assustadora História do Terrorismo. São Paulo. Ediouro Publicações S. A.
2002.
23

tão grande que ninguém poderia iniciar uma guerra total. Seria o fim da espécie

humana.



        Essa mentalidade consagrou o terror como forma de relacionamento entre

Estados. Nesse sentido, a chamada "cultura da Guerra Fria" foi o grande estímulo à

multiplicação de grupos terroristas.



        Por outro lado, houve no século XX o crescimento do terrorismo de Estado,

em que é adotada a política de eliminação física de minorias étnicas ou de

adversários de um regime. Um exemplo é o regime racista da África do Sul,

responsável por ações terroristas contra a maioria negra do país até o fim do

apartheid, no início dos anos 90. Na América Latina, as ditaduras militares dos anos

60 e 70 promoveram o terrorismo de Estado contra seus opositores, torturando e

matando milhares de pessoas. No Oriente Médio, os palestinos de cidadania

israelense e os habitantes dos territórios de Gaza e Cisjordânia foram segregados e

sofreram ataques das forças armadas de Israel, entre 1967 e 1993. O terrorismo de

extremistas muçulmanos contra judeus de Israel, por sua vez, também aterrorizou e

matou pessoas inocentes, principalmente a partir da década de 80.



        Muitos historiadores e intelectuais avaliam que as bombas atômicas jogadas

pelos Estados Unidos sobre o Japão, em agosto de 45, foram o maior atentado

terrorista já praticado até hoje. Mais de 170 mil civis perderam a vida num ataque

que não tinha como objetivo vencer a guerra, mas fazer uma demonstração de força

para a União Soviética.
24

1.2.1    Violência e Terrorismo

         Muitas vezes ouvimos dizer que todo ato de violência é terrorismo, mas isso

é força de expressão. Nem sempre um ato de violência é terrorista, mesmo quando

a vítima é uma personalidade política. A tentativa de assassinato do presidente dos

Estados Unidos, Ronald Reagan, em 1981, é um exemplo de violência sem

conotação política, uma vez que o autor dos disparos, John Hinckley Jr., agiu

isoladamente, motivado por questões pessoais. Já o assassinato do premiê

israelense Yitzhak Rabin por um extremista judeu, em 1995, este sim, foi um ato

terrorista10.




1.2.2    Terrorismo na Era Contemporânea

         Na era contemporânea, a França conheceu o regime de terror implantado

pelos jacobinos de Robespierre a partir de 1793, pouco depois da Revolução

Francesa. Quase um século depois, em 1881, o czar Alexandre Segundo, da Rússia,

foi assassinado pela organização terrorista "Vontade do Povo". E, no início do século

XX, o estopim que deflagrou a Primeira Guerra Mundial foi o atentado mortal

promovido pelo estudante Gavrilo Prinzip, do grupo terrorista sérvio "Mão Negra"

contra o arquiduque austro-húngaro Francisco Ferdinando, em 1914.



         Até os anos 20, o terrorismo era um fenômeno no tempo e no espaço, de

dimensões relativamente pequenas, transitórias e restritas. Ele começou a ganhar




10
   O atentado contra Reagan não teve o objetivo de fazer propaganda política ou ideológica, ao passo
que a morte de Rabin fazia parte da estratégia política de uma organização radical. O objetivo era
interromper o processo de paz no Oriente Médio. De qualquer modo, atentados contra chefes de
Estado fazem parte de uma longa história de práticas terroristas mundo afora.
25

maior abrangência e importância com o surgimento dos regimes totalitários de Josef

Stalin11 e Adolf Hitler12.



         Os    dois   regimes     de   terror   tinham     algumas     características    muito

semelhantes: o culto à personalidade do dirigente, no caso Stalin e Hitler, e os

poderes absolutos da polícia política, no caso a KGB e a GESTAPO.




1.2.3    Terrorismo e Poderio Nuclear

         O desenvolvimento da tecnologia nuclear, a partir do fim da Segunda

Guerra, causou uma importante mudança na mentalidade das pessoas, do ponto de

vista psicológico e cultural. A morte deixou de ser uma conseqüência natural da vida

para se tornar uma questão política. A preservação da espécie humana passou a

depender da decisão das superpotências de iniciar ou não um confronto nuclear fatal

para o planeta. O mundo dos anos 50 não apresentava perspectivas muito

animadoras. Na primeira metade do século, guerras, revoluções e conflitos

localizados haviam consumido a vida de pelo menos 150 milhões de pessoas.



         Além disso, a tragédia atômica nas cidades japonesas de Hiroshima e

Nagasaki havia colocado o mundo sob a sombra permanente de um holocausto

nuclear. Isto porque, exatamente a 6 de agosto de 1945 o bombardeiro norte-

americano B-29 Enola Gay largava às 8:15 da manhã, sobre a cidade japonesa de

Hiroshima, a primeira bomba nuclear utilizada em situação de guerra, batizada "Little

11
   No final dos anos 20, Stalin enviava aos campos de concentração centenas de milhares de
opositores ao seu regime, sem contar os treze milhões de camponeses executados por resistirem à
coletivização de suas terras, entre 1929 e 1932.
12
   Na Alemanha dos anos 30, Hitler iniciou a perseguição aos comunistas, judeus, ciganos e outras
minorias étnicas. Até o final da Segunda Guerra, em 1945, seriam assassinados seis milhões de
seres humanos pela máquina nazista
26

Boy". 80 mil pessoas morreram instantaneamente, 48 mil dos 76 mil edifícios da

cidade foram destruídos (incluindo 52 dos 55 hospitais). Sem palavras ao ver o

cogumelo originado pela explosão (que provocou no seu epicentro uma onda de

calor 900 vezes superior à da superfície solar), que se elevou a 15 quilômetros de

altitude, o piloto do Enola Gay só conseguiu dizer: "My God, what have we done?"



        Três dias depois, o cenário apocalíptico de Hiroshima repetia-se em

Nagasaki. O Japão capitulava, o fim da Segunda Guerra Mundial aproximava-se, e o

mundo acordava para o pavor da era nuclear. Estima-se que perto de meio milhão

de pessoas tenha morrido nas duas explosões e nos cancros que originaram entre a

população das duas cidades.




1.2.4   Guerrilha e Terrorismo: Vertentes Distintas

        No final dos anos 50, o êxito da revolução cubana abriu novos horizontes

para uma juventude desiludida. A vitória de Fidel Castro, contra uma ditadura

corrupta sustentada pelos Estados Unidos, representou para muitos jovens a vitória

do idealismo. Militantes de todo o mundo ganharam nova disposição de luta. Muitos

jovens optaram pela vida clandestina, que oferece dois caminhos: a guerrilha e o

terrorismo. A guerrilha, de um modo geral, realiza ataques contra objetivos militares

e alvos estratégicos. Tenta conquistar a simpatia da população para formar seu

próprio exército e, eventualmente, tomar o poder. Os grupos terroristas utilizam o

método inverso, intimidando pessoas inocentes para alcançar seus objetivos.
27

1.2.5   Violência Política na América Latina

        No Brasil, a reação civil ao golpe militar de 64 desencadeou uma luta

armada que faria muitas vítimas até o início de abertura política, em 1977, sendo

que, muitos oposicionistas decidiram-se pela ação de guerrilha, inspirados na

revolução cubana. Um dos líderes mais célebres da luta armada nos anos 60 foi o

ex-capitão do Exército Carlos Lamarca, da Vanguarda Popular Revolucionária, morto

por soldados no interior da Bahia, em 197113.



        Agentes dos órgãos de segurança e dos serviços de informação das Forças

Armadas agiam à margem da lei com prisões arbitrárias, torturas e o assassinato de

opositores do regime militar. Em contrapartida, os grupos clandestinos de esquerda

financiavam suas atividades com dinheiro obtido em assaltos a banco e furtos de

automóveis. E praticavam seqüestros de diplomatas para negociar sua libertação em

troca de armas e da soltura de presos políticos.



        Uma das ações mais espetaculares foi o seqüestro do embaixador dos

Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, em setembro de 69. No início da década

de 70, seriam seqüestrados também o cônsul do Japão em São Paulo, Nobuo

Okuchi, e os embaixadores da Alemanha, Ehrenfried Von Holleben, e da Suíça,

Giovanni Bücher.



        Processos semelhantes ao brasileiro aconteceram em toda a América

Latina. No Chile, em 73, um golpe de Estado liderado pelo general Augusto Pinochet

depôs o presidente eleito Salvador Allende, inaugurando uma sangrenta ditadura
13
  Um ano especialmente conturbado foi o de 1968. Ações terroristas sacudiram o país. Grupos de
extrema-direita atacaram artistas, lançaram bombas contra entidades civis e intimidaram
personalidades de perfil humanista, como o arcebispo Dom Hélder Câmara, que teve sua casa
metralhada em Recife, em outubro de 68.
28

militar. Na Argentina, os militares implantaram a ditadura em 76, dando início a uma

"guerra suja" contra os oposicionistas, com um saldo de 30 mil desaparecidos em

sete anos.




1.2.6   Anos 60 e 70: Desilusão

        Em diversos países havia, além da repressão oficial, a tolerância dos

regimes autoritários em relação às ações ilegais de grupos paramilitares. Por outro

lado, nos anos 70 a atividade dos grupos terroristas atingia seu ponto máximo. Era

uma época de questionamento dos valores tradicionais e do "velho modo" de fazer

política, nos dois blocos. O escândalo de Watergate, em 72, e a derrota dos Estados

Unidos na Guerra do Vietnã, reconhecida em 75, acentuaram a decadência da

ordem política internacional.



        Na África, a independência havia sido conquistada em diversos países.

Inúmeras guerras tribais estimularam o tráfico de armas e a formação de grupos

paramilitares. Na Europa, grupos separatistas, como o IRA e a ETA, radicalizavam

as formas de luta. E no Oriente Médio o fervor religioso estimulava o surgimento de

grupos extremistas.




1.2.7   Extremismo Islâmico

        Apesar da violência em comum, existem diferenças entre os grupos

terroristas. O fundamentalismo islâmico, por exemplo, não tinha caráter terrorista na

época em que surgiu. A Irmandade Muçulmana apareceu em 1929, no Egito, com

preocupações sociais e propósitos religiosos. Mas a partir dos anos 30 foi
29

perseguida pelo Rei Fuad e por seu sucessor, o rei Faruk, favoráveis à dominação

britânica. A Irmandade partiu para a radicalização e o terrorismo no início dos anos

50, com a ascensão do líder nacionalista Gamal Abdel Nasser, acusado de defender

interesses ocidentais.



        A ação mais espetacular da Irmandade Muçulmana foi o assassinato do

presidente egípcio Anuar Sadat, em 1981. Sadat foi considerado traidor por ter

assinado os acordos de Camp David, em 78, que reconheciam o direito de

existência do Estado de Israel.




1.2.8   Organização para Libertação da Palestina x Israel

        A crise no Oriente Médio também fez surgir, em 1964, a Organização Para a

Libertação da Palestina, OLP, uma frente reunindo diversos grupos. A OLP, que

tinha como base a Al Fatah, facção liderada por Yasser Arafat, foi criada em

decorrência de um quadro político cada vez mais conturbado. Os ânimos na região

estavam acirrados desde a criação de Israel, em 1948. Com o apoio político,

econômico e militar de soviéticos e americanos, Israel promoveu guerras com alguns

vizinhos árabes para expandir seu território. Centenas de milhares de palestinos

foram expulsos de suas terras. Organizações terroristas judaicas, como a Irgun, a

Stern e a Haganah tiveram um papel importante na intimidação da população

palestina, chegando a massacrar aldeias inteiras.



        O problema palestino era um distúrbio indesejável na Guerra Fria. O Oriente

Médio, como quase todo o planeta, estava dividido em esferas de influência das

superpotências. Israel e alguns países árabes passaram para a esfera dos Estados
30

Unidos, enquanto outros países árabes ficaram sob influência soviética. A questão

palestina não se encaixava bem nesse jogo de equilíbrio.



        O isolamento dos palestinos no Ocidente e a hostilidade dos países árabes

acabaram fortalecendo a OLP e a opção de grupos radicais pelo terrorismo. Mas

nem todos os atos terroristas reivindicados pelos palestinos eram de autoria da OLP.




1.2.9   Terrorismo na Europa

        Outra organização que se especializou em ataques terroristas nos anos 70

foi o Exército Republicano Irlandês, o IRA. Ele foi formado em 1919 por grupos da

minoria católica que lutavam pela união da Irlanda do Norte à República da Irlanda.



        Na década de 60, os católicos foram às ruas pacificamente, contra leis

discriminatórias impostas pela maioria protestante. Aproveitando o clima de

insatisfação, um grupo de militantes relançou o IRA, dessa vez com um verniz

ideológico marxista. A fase pacífica do movimento terminou num domingo de janeiro

de 1972, quando tropas britânicas dispararam suas armas contra os manifestantes,

matando 13 pessoas. O incidente, que passou à história como "Domingo

Sangrento", desencadeou uma escalada do terrorismo. Durante os anos 70, mais de

duas mil pessoas morreram e milhares ficaram feridas em atentados a bomba

patrocinados pelo IRA e nos choques de rua entre manifestantes e forças de

segurança.



        Outros grupos surgiram com fins pacíficos e também foram empurrados para

o terror. É o caso da ETA, organização que luta pela autonomia do País Basco em
31

relação à Espanha. ETA, no idioma basco, são as iniciais de "Pátria Basca e

Liberdade". Criada em 1959 para difundir a cultura e os valores tradicionais do povo

basco, a ETA foi perseguida pela ditadura de Francisco Franco e entrou para a

clandestinidade e o terrorismo em 1966. O atentado mais ousado foi realizado em

73, quando a organização explodiu no centro de Madri o carro em que viajava o

primeiro-ministro franquista Luís Carrero Blanco.



        Na década de 70 houve também a ação de grupos terroristas sem vínculos

com lutas democráticas ou de libertação nacional, como o grupo Baader-Meinhoff,

na Alemanha, e as Brigadas Vermelhas, na Itália. Eram organizações formadas por

intelectuais e universitários que adotaram a violência em nome de uma genérica

"guerra contra a burguesia". Em setembro de 1977, o Baader-Meinhoff ganhou as

manchetes dos jornais com o seqüestro do industrial Hanss-Martin Schleyer, como

pressão pela libertação de presos políticos.



        Em março de 1978, outra ação espetacular na Europa: O seqüestro do

primeiro-ministro italiano Aldo Moro, uma ação audaciosa que surpreendeu o mundo.

Moro acabou executado pelos terroristas, apesar dos apelos do Papa e da opinião

pública internacional.




1.2.10 Terrorismo Xiita

        No final dos anos 70, o terrorismo ganhou um novo ingrediente religioso,

com a ascensão dos muçulmanos xiitas no Irã, em janeiro de 79. Sob o comando do

Aiatolá Khomeini, os xiitas derrubaram a ditadura do Xá Reza Pahlevi e implantaram

um sistema que fugia à lógica dos dois blocos econômicos, liderados por Estados
32

Unidos e União Soviética. A partir da revolução iraniana, foi implantado um sistema

de governo guiado por convicções religiosas radicais e inflexíveis. Khomeini

inaugurou a chamada "Jihad" em nossos dias, a Guerra Santa contra o Grande Satã,

representado pelo mundo não xiita. Daí para a prática do terrorismo foi um passo. O

inédito nessa história era o caráter oficial do terror, assumido claramente pelo regime

dos Aiatolás.



        A primeira demonstração radical de Khomeini foi em novembro de 1979

quando com o apoio do governo, estudantes iranianos invadiram a embaixada norte-

americana em Teerã, fazendo 66 reféns. Eles queriam a extradição do Xá Reza

Pahlevi, em tratamento de saúde nos Estados Unidos. Foi o início de uma longa

crise entre os dois países. Mesmo com a morte de Pahlevi em julho de 1980, vítima

de câncer, os estudantes não desocuparam a embaixada. O impasse prejudicou a

campanha de reeleição do presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, que

acabou derrotado pelo candidato republicano Ronald Reagan. Foram 444 dias de

expectativa. Em 20 de janeiro de 1981, dia da posse do novo presidente dos

Estados Unidos, os iranianos finalmente libertaram os reféns norte-americanos. Até

hoje são obscuras as condições sob as quais o presidente Reagan negociou o fim

da crise.



        Além da vitória de Khomeini no Irã, outro elemento viria a fortalecer a causa

dos xiitas: a reação à invasão do Afeganistão pelos soviéticos, em dezembro de 79.

Os afegãos, em sua maioria de fé muçulmana, sentiram sua religião ameaçada pela

presença do exército soviético. Vários grupos guerrilheiros proclamaram uma 'guerra

santa' contra o invasor.
33

        Com a revolução no Irã e a resistência dos rebeldes afegãos, a "Jihad" ficou

conhecida no Ocidente e ganhou força junto à população muçulmana de todo o

mundo. O apelo foi reforçado, em fevereiro de 89, com a sentença de morte

proferida por Khomeini contra o escritor anglo-indiano Salman Rushdie, autor do livro

"Versos Satânicos", considerado blasfemo pelos Aiatolás do Irã. Caçado pelos xiitas,

Rushdie passou a viver escondido na Inglaterra, sob proteção da Scotland Yard, a

polícia britânica.




1.2.11 Terrorismo no Líbano

        No começo dos anos 80, o Líbano tornou-se palco de inúmeros atentados.

Várias facções disputavam o poder apoiado por países vizinhos, especialmente,

Síria e Israel. A existência de áreas de refugiados palestinos na capital Beirute

aumentava a tensão e o clima de guerra civil. Uma das organizações acusadas com

mais freqüência de terrorismo era a OLP. Na tentativa de capturar ou eliminar o líder

Yasser Arafat e destruir bases militares palestinas, forças israelenses invadiram o

Líbano, em junho de 82. Durante vários dias, a capital libanesa transformou-se num

inferno. Milhares de civis foram mortos, entre eles mulheres, velhos e crianças. Os

israelenses não encontraram Arafat, mas expulsaram a OLP e deixaram o Líbano

em ruínas.



        Em setembro de 82, falanges cristãs libanesas, apoiadas por Israel,

atacaram os campos de refugiados de Sabra e Chatila, nos arredores de Beirute.

Mais de 2.500 civis palestinos e libaneses desarmados foram mortos. O massacre

chocou a opinião pública internacional. Foi nesse clima extremamente tenso que se

multiplicaram os grupos terroristas no Líbano nos anos 80.
34

       A ação terrorista mais famosa dessa época aconteceu em 83, quando dois

atentados simultâneos mataram mais de 250 fuzileiros navais americanos e mais de

50 soldados franceses, em Beirute. Mas os xiitas de Khomeini e os militantes de

grupos fanáticos, como o Hamas e o Hezbollah, não limitaram seus ataques ao

Oriente Médio: em nome da Guerra Santa, eles organizaram vários atentados na

Europa e nos Estados Unidos.




1.2.12 Fim da Guerra Fria: O Terrorismo Reflui

       No início dos anos 90, o fim da Guerra Fria e a abertura do diálogo no

Oriente Médio e na Irlanda do Norte fizeram o terrorismo refluir um pouco, abrindo

mais espaço para a negociação. Um sintoma dessa trégua foi à prisão, em 1994, de

Carlos, o Chacal, o terrorista mais procurado do mundo.



       O venezuelano Ilitch Ramirez Sanchez, nome verdadeiro do Chacal, foi

preso em agosto de 94 por agentes do serviço secreto francês. O terrorista, que agia

por dinheiro, é acusado da morte de 93 pessoas e de ferimentos em outras

duzentas, em 20 anos de atividades. Infelizmente, a prisão de terroristas famosos e

até mesmo o término da Guerra Fria não puseram um fim ao terrorismo

internacional, que continua transformando a vida de pessoas inocentes num

pesadelo, em diversos lugares do mundo.



       No Oriente Médio, extremistas matam e ferem para tentar atrapalhar as

negociações de paz entre Israel e os palestinos. Na Grã-Bretanha, grupos radicais

do IRA também apavoram inocentes, procurando reacender a violência dos anos 70.

E aqui e ali, fanáticos religiosos passam dos limites em nome do apocalipse. Talvez
35

a conclusão mais importante a que podemos chegar no final do programa de hoje é

a de que o terror gera o terror. Muitas vezes os governos gostam de taxar seus

inimigos de terroristas, mas se esquecem de suas próprias responsabilidades. O

terror existe e cresce sempre que o diálogo é impossível. E nunca o diálogo foi tão

sufocado como no período da Guerra Fria.




1.3 MOTIVAÇÕES DO TERRORISMO

        A IP – 1 – PM14 da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, descreve que

são vários os fatores motivadores dos atentados terroristas, mas que os principais

são alavancados por fatores políticos, religiosos, criminosos e psicopatológicos.



        A motivação política é aquela resultante de conflitos entre nações ou entre

lutas políticas internas, como a guerra revolucionária e insurreições.



        A motivação religiosa diverge da anterior à medida que resulta de conflitos

étnicos, sociais ou religiosos, sendo que esse tipo de terrorismo pode ser

considerado o mais violento e perigoso, devido aos extremos de fanatismo

provocados por determinados grupos religiosos e a doutrinação feita em seus

seguidores.



        A motivação criminosa resulta de conflitos sociais e policiais entre classes

marginais, narcotráfico e o crime organizado, podendo ser considerado também os




14
 . POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar
para o Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefatos Explosivos. São Paulo, CSM/Mln, artº
4º. 1996.
36

casos de vingança e crimes isolados cuja repercussão motivem indiretamente o

terrorismo.



         Nessa linha, encontramos, por fim a motivação psicopatológica que é

resultante de distúrbios psicológicos individuais, que motivem uma pessoa a

provocar atos de terror sem um motivo específico.



         SALVATIERRA15 diverge da idéia acima, a medida que entende serem três

as motivações do terrorismo quais sejam, o racional, o psicológico e o cultural.




1.4 PERFIL DOS CAUSADORES DE AMEAÇA EM TERMOS GLOBAIS

         A Instrução Provisória IP – 1 – PM16, estabelece que não existe um perfil ou

padrão pré-determinado para identificar uma pessoa terrorista.



         Porém, três fatores são característicos em todos os terroristas já

identificados ou detidos: Inteligência - São detentores de grande cultura e elevada

inteligência. Raramente se identificam terroristas pouco cultos, com exceção de

elementos úteis ou agentes de manobra. Fanatismo - São crentes em determinada

causa política, social, religiosa, etc. e acreditam que seus atos são as únicas formas

de atingir os objetivos a que predispõe a lutar ou defender. Desprezo à Vida - Não

possuem nenhum vínculo ou respeito com a vida das pessoas ou com sua própria




15
      SALVATIERRA,      Cesar    Cisneros.     Terrorismo     Internacional.      Lima    –    Perú.
<http://www.monografias.com/trabajos16/terrorismo-internacional/terrorismo-internacional.shtml>
Acesso em 10.02.06.
16
   POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar
para o Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefatos Explosivos. São Paulo, CSM/Mln, artº
5º. 1996.
37

vida, não se importando com os resultados de seus atos. Quanto menos respeito ou

vínculo com a vida humana tiver o terrorista, mais perigoso ele será.




1.5 TIPOS DE TERRORISMO

        São     três   os   mais   importantes   tipos de   terrorismo,   quais   sejam,

Narcoterrorismo, Nuclear e de Estado.




1.5.1   Narcoterrorismo

        É chamado desta maneira por conta do uso do tráfico de drogas para

promover os objetivos de determinados governos e organizações terroristas. O

narcoterrorismo atenta contra os direitos humanos, especialmente, contra o direito à

vida e à integridade física; a tranqüilidade e a honra; à participação política, à

liberdade de expressão e da comunicação, isso, para mencionar somente os mais

prejudicados.



        Atualmente, os jovens constituem o segmento da parte da população mais

afetada pela droga, pelo crime e pela violência, sabendo disso, as organizações de

narcotraficantes assediam-nos e utilizam seus serviços para alcançar os seus

objetivos.



        Motivo pelo qual em setembro de 1989, antes do Congresso Geral da ONU,

o representante Colombiano propôs um “Plano de ação global de combate à droga e

ao narcoterrorismo”.
38

1.5.2     Terrorismo Nuclear

          Este tipo de terrorismo será um dos mais preocupantes para a aldeia global

nos próximos anos. A Ex-União soviética é a principal fonte dessa preocupação, pois

nessa região podem ser encontrados resíduos de armas nucleares.



          Evitar o tráfico ilegal de material radioativo é muito importante porque essas

substâncias podem receber destinação militar na mão de terroristas e porque

podem, também, produzir um desastre sanitário.



          Nesse diapasão, vemos as Estações Nucleares como prováveis alvos

futuros de atentados terroristas.



          Durante os últimos anos, o mundo sentiu o aumento de atentados terroristas.

Tanto é verdade que em agosto de 1994, logo depois do ataque a Asociación Mutual

Esraelita Argentina – AMIA, situada em Buenos Aires, o Instituto de Controle Nuclear

dos Estados Unidos encaminhou uma recomendação para todas suas estações

advertindo-as quanto a real ameaça terrorista, recomendando a construção de

defesas de concreto contra possíveis ataques com carro-bomba.




1.5.3     Terrorismo de Estado

          O uso sistemático, por parte do Governo de um Estado de ameaças e

retaliações, incluídas ilegalmente em sua legislação, com a finalidade de impor a

obediência e colaboração ativa da população é característica do Terrorismo de

Estado.
39

        Entretanto, por sua natureza, o Terrorismo de Estado é de difícil

identificação e conceituação, por seus traços variarem de acordo com a época

histórica, região e cultura.



        Os regimes despóticos do passado usaram freqüentemente práticas deste

tipo, todavia, tais práticas são condenadas pela democracia moderna. Tendo esse

tipo de terrorismo, como exemplos mais fortes o Fascismo e o Comunismo,

ocorridos no século XX.



        Entretanto, vemos que a prática do terror pelo poder estatal se estendeu por

todo século XX, tanto em regimes militares ou militarizados como em democracias

formais.



        Os regimes totalitários foram caracterizados por um monopólio de meios de

comunicação, imposição de ideologias monolíticas, de exigência não somente de

obediência mas de participação ativa nas ações policiais de interesse do Estado, e

de um instrumento de polícia e de campos de concentração secretos com vista a

eliminar adversários e dissidentes. Os líderes potenciais da oposição eram presos,

exilados ou assassinados.



        Freqüentemente, os tentáculos do instrumento do Estado se estendem até o

estrangeiro e atacam os inimigos que estão exilados, como por exemplo, no

assassinato de Liev Trotski ocorrida no México pelas mãos de agentes stalinistas.



        Não raras vezes, integrantes de muitas organizações nacionais de

segurança e informação usam de métodos ilegais para enfrentarem adversários,
40

tanto dentro como fora do país. O que diferencia estes episódios de um sistema

onde se aplique o terrorismo de estado é a importância da operação e do endosso

total do líder da classe. De fato, os instrumentos do terror de estado e do partido no

governo são geralmente relacionados de uma maneira indissociáveis.



        O sistema acima termina freqüentemente por destruir os elementos de sua

própria cúpula, como aconteceu ao líder Ernst Röhm, chefe da Seção do Assalto

(SA), e ao chefe da polícia secreta soviética Lavrenti Beria, executado pelas

mesmas organizações que criaram ou dirigiram.



        Em um outro plano, alguns regimes recorreram a meios extralegais para

eliminar elementos específicos da população, em especial delinqüentes.




1.6 CARACTERÍSTICAS DO TERRORISMO INTERNACIONAL

        As Características chaves do terrorismo internacional são:



              • Violência indiscriminada - estendendo seus efeitos a totalidade da

      população;



              • Imprevisibilidade – utiliza o fator surpresa;



              • Imoralidade - produz sofrimento desnecessário às áreas mais

      vulneráveis.
41

               • É indireto – desvia o foco da população para um ponto diferente do

       alvo que pretendem atingir;



        Sabe-se que o terrorismo o internacional é um das formas de violência mais

difíceis de conter.



        Agora, enalteceremos alguns eventos promovidos por atos terroristas, com

vista demonstrar as tragédias causadas:



               •      A 17 de março de 1992, um carro bomba explode na Embaixada

       de Israel em Buenos Aires, tendo um saldo de 29 mortes e 250 feridos;



               •      Em fevereiro de 1994 uma bomba explode no Mercado Central

       de Sarajevo, tendo um saldo de 66 mortes;



               •      A 4 de fevereiro de 1994, três granadas caíram em Dobrinja nas

       pessoas que fizeram em uma fila de distribuição de alimento.



               •      Na cidade japonesa de Tókio, a 20 de março de 1995 foi lançado

       o gás Sarín no metrô, tendo como resultado, 11 mortos e 5000 feridos;



               •      E.T.A. atenta contra o presidente Jose Maria Aznar, em Madrid a

       19 de abril, este ataque deixou 15 pessoas feridas;



               •      Nos Estados Unidos, a 27 de julho 1996 explode uma bomba no

       Parque Olímpico, ocasião em que morreram 2 e se feriram 111 pessoas;
42

1.7 TERRORISMO NO BRASIL

        As ações terroristas de 11 de setembro não modificaram a estrutura das

 relações internacionais, contudo, pode-se afirmar que a dinâmica internacional

 sofreu profundas alterações. Para entender qual o papel brasileiro dentro das

 relações internacionais neste novo contexto, devemos analisar como o país

 reagiu aos atos de terror. O fundamental xadrez da diplomacia tomou contornos

 muitos definidos e extremamente importantes na nova agenda internacional.



        Antes de analisar a posição adotada pelo Brasil, devemos analisar o

 fenômeno do terrorismo dentro de sua abrangência legal. No Direito

 Internacional existe, embora de forma tímida, alguns tratados que discipline os

 atos de terror. O sistema internacional antiterrorista é formado por uma rede de

 convenções especializadas que versam desde a proteção física de materiais

 nucleares até o apoderamento ilícito de aeronaves. Destas, nem todas o Brasil é

 signatário. Algumas ainda se encontram em estudo no executivo e outras em

 tramitação no Congresso Nacional.



        As Nações Unidas perceberam o perigo que representava o regime

 Talibã ainda em 2000, quando emitiu a resolução 1333, de 19.12.200 em que

 conclama o bloqueio de recursos de Osama Bin Laden, bem como proíbe a

 venda de armas para o regime Talibã. O Brasil internalizou esta resolução

 mediante o decreto 3755 de 19.02.2001. Além desta, a ONU, em 30.07.2001,

 emitiu outra resolução, de número 1363, em que declara a ameaça da paz na

 região em razão do Afeganistão. Após os atentados, foram emitidas as

 resoluções 1368 (12.09.2001) e 1373 (28.09.2001) que reconhecem o direito de
43

resposta individual ou coletiva e versam sobre meios de evitar e suprimir ações

terroristas.



        No Brasil, após a manifestação de repulsa do presidente Fernando

Henrique Cardoso as ações terroristas, a posição diplomática foi à convocação

do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, mais conhecido como Tiar

(vale lembrar que o Tiar não é classificado com um tratado antiterror, mas de

cooperação) que apesar de ser um instrumento da guerra fria, no momento, foi

aquele que forneceu o respaldo jurídico internacional necessário para a posição

brasileira. Assim, na reunião extraordinária da OEA, onde se reuniu o órgão de

consulta do Tiar, em 21 de setembro, foi aprovada uma resolução acerca da

“ameaça terrorista nas Américas”. Neste momento, o Brasil, convocando um

tratado de identidade múltipla internacional, mostrou uma posição de liderança e

mobilização na região, além de preocupação com a legitimidade jurídica de sua

posição.



        Enquanto a ação militar aliada foi se desenvolvendo no Afeganistão em

busca da organização terrorista Al Qaeda, o Brasil declarou, por intermédio do

Chanceler Celso Lafer, que o país entende o exercício de autodefesa via as

ações militares americanas, entretanto, espera que sejam circunscritas e

limitadas. Na mesma linha, o presidente Fernando Henrique Cardoso discursou

na Assembléia Nacional da França. Já nos Estados Unidos, o Presidente, em

conversa com George W. Bush, defendeu ainda uma maior inclusão dos países

em desenvolvimento nas tomadas de decisões internacionais, especialmente no

Conselho de Segurança das Nações Unidas e no Grupo dos 8.
44

             Como podemos perceber, o Brasil possui uma preocupação em agir

     dentro dos meios legais com vistas a justificar suas posições. Neste sentido,

     acredita que todos os meios para combate ao terrorismo devem estar no âmbito

     da carta da ONU ou respaldado pelo Direito Internacional. O dia 11 de setembro

     inaugurou um novo tipo de terrorismo, com uma característica transnacional e

     multilateral. Penso que, talvez, para enfrentar este novo inimigo, novos

     instrumentos legais devem ser adotados, assim como uma possível definição

     acerca do terrorismo. O Brasil, seguindo o amparo das leis internacionais e da

     ONU, está trilhando um caminho digno dos países de tradição democrática e

     respeito às leis.




1.8 CLASSIFICAÇÃO DO TERRORISMO NO BRASIL

           Segundo Leão17, no Brasil pode-se classificar o terrorismo em três distintas

categorias, a saber: Subversivo, De Estado e Criminoso.



           O Terrorismo Subversivo ou Terrorismo Revolucionário compreende os atos

de terrorismo praticados pelos grupos políticos subversivos contra o Estado, durante

o período do regime militar, com intenções de promover a guerra revolucionária.



           Já o Terrorismo de Estado, também conhecido como Terrorismo Repressivo,

compreende os atos praticados por grupos de extrema direita e por órgãos

governamentais, de forma legal, contra pessoas suspeitas de serem subversivas e

contra a população como forma de desinformação, durante os períodos do regime

militar e da abertura da política.

17
     LEÃO, Décio J. A. Doutrina para Operações Antibomba. São Paulo, p. 216. 2000.
45

        Por fim, o Terrorismo Criminoso compreende o emprego sistemático de atos

de terror para fins de ganho material privado, como roubos, tráfico de drogas,

domínio de áreas, extorsões. Também devem ser incorporadas, nessa categoria, os

atos do chamado Terrorismo Subrevolucionário, que constituem em empregar o

terror por motivos políticos outros que não a revolução ou a repressão

governamental, como, por exemplo, forçar o governo a aprovar determinadas

políticas ou projetos, vinganças, atentados contra instituições ou autoridades

específicas, confronto entre organizações e outras ações de caráter regionalizado ou

particularizado.




1.9 NEOTERRORISMO BRASILEIRO

        Encerrando o período denominado “Ditadura Militar”, final da década de 70,

início dos anos 80, com o significativo empenho dos últimos presidentes militares em

preparar o país para a abertura política, auxiliados pelo “Movimento Diretas Já”, e

com a quebra do monopólio dos únicos partidos políticos brasileiros (a Aliança

Renovadora Nacional – ARENA – e o Movimento Democrático Brasileiro - MDB),

houve a eleição de um presidente civil, por meio do processo eletivo direto; antiga

aspiração dos políticos e da população brasileira, dando início à reforma política.

Surgiu, então, um novo panorama político com a criação de inúmeros novos

partidos.



        Assim, aqueles que em anos anteriores pregavam a luta armada, a violência

e todos os artifícios inerentes ao extremismo subversivo para a tomada do poder,

incluindo os atos de terrorismo, alteraram bruscamente o seu modo de agir,

adotando métodos e estratégias diversas daquelas usadas pelas organizações
46

subversivas do passado; porém, mesmo assim, continuaram a ocorrer atentados a

bombas, dessa vez, idealizados e praticados por seguimentos descontentes com a

abertura política que se avizinhava; ao estilo do atentado ocorrido no Riocentro em

1981.



        Portanto, alguns dos requisitos dos “Anos de Chumbo”, permaneceram

incrustados, tanto do lado militar como no da sua oposição, levando muitos dos

ativistas subversivos da época, os terroristas, denominados de “presos políticos”, a

cumprirem suas penas privativas de liberdade em estabelecimentos prisionais

destinados a criminosos comuns. Esse fato gerou um novo tipo de delinqüente; mais

esclarecido, mais politizado, mais sofisticado e violento; adepto ao uso dos requintes

de crueldade, com conhecimento de técnicas e táticas militares, de guerra não

convencional e explosivos.



        Surgiu então, de forma embrionária, no Presídio Estadual de Ilha Grande no

Rio de Janeiro, no final dos anos 70, um novo segmento de atividade criminal, o

“crime organizado”, que teve como sua primeira facção criminosa a “Falange

Vermelha”, precursora das modernas organizações criminais brasileiras da

atualidade, como o Comando Vermelho, o Terceiro Comando, o Comando Vermelho

Jovem, no Rio de Janeiro e o Primeiro Comando da Capital e suas dissidências em

São Paulo.



        Considerando o advento da “globalização” e o crescente acesso às

informações, a atividade criminal também foi influenciada por esse fenômeno,

aliando-se ao processo de banalização da violência. Foi apoiada e muitas vezes

patrocinada por organizações criminosas internacionais, “cartéis e máfias”, atuantes
47

nos ramos do narcotráfico, contrabando de todo gênero, principalmente o de

material bélico, falsificação e lavagem de dinheiro, entre outros.



           Conseqüentemente, houve o surgimento do crime organizado brasileiro,

composto basicamente das citadas organizações, atuante em inúmeros setores da

sociedade nacional, ligado a narcotráfico, roubo a bancos, roubo a cargas e roubo a

automóveis, seqüestros, contrabando e desvio de verba pública e toda sorte de

delitos.



           A marginalidade continuou a sofisticar-se e organizar-se a tal ponto, que,

ultimamente se constata a generalização do uso indiscriminado de bombas,

explosivos e engenhos militares, em diversos casos de roubos, seqüestros,

extorsões, rebeliões, fugas em estabelecimentos prisionais e confrontos com os

órgãos de segurança. A aquisição de equipamentos e armamentos modernos é uma

das máximas dessas organizações, pois, assim, demonstram sua ascendência e o

seu poder perante o mundo do crime, da sociedade organizada e do poder

constituído.



           A preocupação com a modernização e estruturação do crime chega às raias

do perfeccionismo, prevendo não só toda a logística e os equipamentos de

comunicação, como o treinamento, ministrado em muitas ocasiões por um “exército

de mercenários”, constituídos de ex-integrantes das Forças Armadas e ex-policiais;

ou, até mesmo, por corruptos integrantes da ativa desses contingentes.



           O crime organizado, a exemplo dos movimentos terroristas, utiliza sua força

e estrutura para intimidar, subjugar e coagir a população e as autoridades
48

constituídas, a fim de atingir suas metas; gerando o pânico e a sensação de

insegurança, objetivos clássicos do terrorismo. Portanto, pode-se afirmar que o

terrorismo está presente no território brasileiro, não em sua forma mais tradicional,

do fanatismo irracional e do radicalismo, inerentes aos atuais grupos “Xiitas” ultra-

radicais de orientação religiosa ou política, mas criminoso, violento, impetuoso e

sanguinolento, adaptado à realidade criminal e aos costumes brasileiros, à

ineficiência da lei penal e à ineficiência do falido sistema carcerário vigente.




1.10 OS INCIDENTES COM BOMBAS NO TERRITÓRIO BRASILEIRO

        No Brasil, atentados terroristas de grandes proporções nunca foram

registrados, no entanto, o país já possui um razoável histórico de incidentes com

bombas, apesar de ser considerado um país pacifista. O período no qual o

terrorismo merece destaque insere-se no transcorrer das décadas de 60 e 70, época

áurea dos governos militares e momento no qual a luta armada, os movimentos

subversivos e as guerrilhas urbana e rural intensificaram-se contra o governo.



        Houve, nessa época, combates fervorosos dos militares, que reprimiram

com vigor os movimentos subversivos. Nesse período, tornou-se comum à

realização de inúmeros atos de violência em nome da luta pelo poder e da conquista

dos direitos políticos, com a prática de roubos a unidades militares, bancos, veículos

de transporte de valores, atentados à bomba, seqüestros de todo gênero e diversos

homicídios contra integrantes das Forças Armadas e órgãos de Segurança Pública.



        No que concerne aos incidentes envolvendo explosivos ou bombas,

ocorridos em território nacional nos últimos 25 anos, é notória a ocorrência de
49

centenas deles; todavia, pode-se ressaltar que apenas uma pequena parcela do

total do seu universo foi colocada em evidência, ocupando maior destaque na mídia.

Até 1981, ocorreram com maior freqüência os de cunho eminentemente político e

com caráter subversivo, posteriormente, eclodiram as intercorrências relacionadas

com atos criminosos (modalidade moderna de delito, com o uso de explosivo para o

cometimento de outro crime, como a sabotagem, a extorsão, o roubo, o furto) e o

vandalismo, promovidos por motivos fúteis, com o objetivo exclusivo de causar

danos (modalidade muito utilizada atualmente).



          De 1966 até 1981, foram divulgadas pela imprensa, com relevância, 11

explosões de bombas caseiras, destacando-se as ocorridas no Aeroporto dos

Guararapes, Recife, matando 2 pessoas e ferindo outras 14, cujo alvo era o

Presidente da Republica, em julho de 1966, e a explosão de um carro-bomba no

Comando do II Exercito, em junho de 1968, quando um soldado foi mortalmente

ferido.



          Na década de 80, época da criação do GATE de São Paulo, houve grande

incremento aos incidentes com ameaças falsas e verdadeiras, além de várias

ocorrências envolvendo explosões, destacando-se as ocorridas no Riocentro, no Rio

de Janeiro, em 30 de abril de 1981, com a morte de um sargento do Serviço de

Informações do Exercito e, em junho de 1989, a ameaça falsa de bomba no Colégio

Pueri Domus, em São Paulo, quando as atividades escolares foram suspensas,

causando inúmeros embaraços.



          Nos anos 90, principalmente com a eclosão da Guerra do Golfo, o número

de incidentes cresceu vertiginosamente na capital paulista. Houve centenas de
50

ameaças falsas e verdadeiras, atentados a autoridades do Poder Executivo,

Legislativo e Judiciário, a companhias de aviação e inúmeras explosões, nos mais

variados locais e rincões do território brasileiro. Destaca-se, em 1991, a explosão no

Monumento ao Duque de Caxias em São Paulo, e o atentado contra o Juiz da 2ª

Vara Criminal, em Campos do Jordão, São Paulo. Em 1995, destacou-se o atentado

praticado no anexo do Itamaraty e, em julho de 1997, o incidente com o Focker 100

da TAM.



        Em seguida, vários outros incidentes se sucederam: a destruição de duas

estações repetidoras da Empresa Brasileira de Telecomunicações (EMBRATEL) e

das torres de transmissão de energia elétrica da bi-nacional de Itaipu, na região Sul,

em 1988; culminando, finalmente, com os incidentes de 2000 e 2001, cabendo

destacar o atentado na Seção Paulista da Anistia Internacional, a explosão no

Fórum Criminal João Mendes, no Ministério da Fazenda e no Posto Policial do

Comando de Policiamento de Trânsito (CPTRAN), em São Paulo, sempre

demonstrando maior grau de ousadia e sofisticação, denotando a chegada da

especialização no submundo do crime.
51

2     ASPECTOS LEGAIS

         Como a prática do terrorismo se expressa sob diversas formas, demanda

uma meticulosa análise para estabelecer uma perfeita definição jurídico-penal, uma

vez que muitas dessas ações são idênticas aos crimes que estão preconizadas de

forma autônoma, como homicídio, lesões graves, extorsões, explosão, incêndios,

seqüestros, genocídios, entre outros. Desta forma para uma perfeita tipificação

quanto à prática desse crime deve-se buscar subsídios no Direito Internacional para

o perfeito entendimento quanto a incriminação dessa conduta.




2.1 DIREITO INTERNACIONAL

         Desde a sua criação a Organização das Nações Unidas - ONU, baseando-

se nos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e na Carta Internacional

dos Direitos do Homem, tem elaborado diretrizes internacionais em matéria de

prevenção do crime e justiça penal. Dentre os princípios e propósitos da Carta das

Nações Unidas de 1945, está a manutenção da paz e a segurança internacional,

tomando coletivamente medidas efetivas para resolver problemas de âmbito

internacional de caráter econômico, social, cultural ou humanitário. Define a Carta18

que cabe ao Conselho de Segurança das Nações Unidas a recomendação ou

medidas a serem tomadas com a finalidade de manter ou restabelecer a paz e a

segurança internacional, que poderão incluir a interrupção completa ou parcial das

relações econômicas, dos meios de comunicação e transportes e o rompimento das

relações diplomáticas.




18
  MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Coletânea de Direito Internacional. 3 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, p. 42. 2005.
52

         A Convenção para Prevenir e Punir os Atos de Terrorismo Configurados em

Delitos Contra as Pessoas e a Extorsão Conexa, Quando Tiverem Eles

Transcendência Internacional de 197119, define que os Estados Contratantes

obrigam cooperar entre si, tomando medidas que visem à prevenção e punição dos

atos de terrorismo, em especial os atentados contra a vida e a integridade das

pessoas, a quem o Estado deve proteger.



         Preocupada com o aumento, em escala mundial, das mais diversas formas

das ações terroristas, dentre elas a utilização de explosivos e bombas, a Convenção

Internacional Sobre a Supressão de Atentados Terroristas com Bombas de 1988,

nos seus artigos 2º e seguintes20, define como praticante do crime de terrorismo em

nível internacional, qualquer pessoa, que de forma ilícita e intencionalmente utiliza

de explosivo ou outra substância mortífera em logradouro público, em instalação

estatal ou governamental, em sistema de transporte público ou uma instalação de

infra-estrutura com a intenção de causar mortes, graves lesões e destruição ou

possa causar grande prejuízo econômico. Destaca ainda a Convenção que também

constitui crime a forma tentada destes atos, bem como a organização e direção,

participação e contribuição para essa atividade.



         O Brasil na condição de Estado-membro da ONU deve reafirmar o seu

compromisso em respeitar os tratados internacionais existentes e sua adesão aos

princípios descritos na Carta das Nações Unidas e em outros instrumentos

internacionais relevantes, tomando medidas jurídicas e procedimentos eficazes de

prevenção e repressão contra a prática terrorista.

19
   MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Coletânea de Direito Internacional. 3 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, p. 121. 2005.
20
   Idem, p. 171 e 172.
53

2.2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL

        A Constituição Federal21 em seu artigo 4º, inciso VIII, destaca que as

relações internacionais da República Federativa do Brasil reger-se-ão pelo repúdio

ao terrorismo e ao racismo. Em seu artigo 5º, inciso XLIII, ainda acerca do terrorismo

preconiza que a prática constitui crime inafiançável e insuscetível de graça ou

anistia, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-

los, se omitirem. Este artigo constitucional possui sua eficácia limitada, uma vez que

necessita de uma legislação infraconstitucional para que sua eficácia se produza.




2.3 LEI DE SEGURANÇA NACIONAL



                                                                       22
                               Lei nº 7.170 de 14 de dezembro de 1983 .

                                Art. 20. Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter
                      em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar
                      atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para
                      obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas
                      clandestinas ou subversivas.
                                Pena – reclusão, de 3 a 10 anos.



        Atualmente este texto legal trata o terrorismo como crime dando

entendimento que trata-se de ações com objetivos políticos de infringir a ordem

democrática ou causar danos ao Estado democrático. Juristas entendem que o texto

acima encontra-se descrito de forma confusa e ambígua, insuficiente para

estabelecer uma perfeita definição jurídica do terrorismo, havendo a necessidade de

criação de uma lei que defina objetivamente, de forma clara e precisa, a conduta do

terrorismo.


21
   GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal. 5 ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 20 e 21. 2003.
22
   Idem, p. 673.
54

2.4 CÓDIGO PENAL

        Decreto-Lei 2.848 de 07 de dezembro de 1940.




2.4.1   Incêndio


                               Art. 250. Causar incêndio, expondo a vida, a integridade física ou
                      patrimônio de outrem.
                                                                            23
                               Pena – reclusão, de três a seis anos, e multa .




        O objeto jurídico desta norma visa a proteção da incolumidade pública, no

entanto se faz necessário que haja perigo concreto na provocação do fogo, e não

risco presumido.




2.4.2   Explosão



                              Art. 251. Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio
                      de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de
                      engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos.
                              Pena – reclusão, de três a seis anos, e multa24.



        Esta norma visa a proteção da coletividade diante da ameaça ou emprego

de engenhos de dinamite, bomba, artefato ou aparato de dinamite. Assim como no

crime de incêndio, deve ser demonstrado o perigo concreto.



2.4.3    Uso de Gás Tóxico ou Asfixiante

                               Art. 252. Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio
                      de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante.

23
   GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal. 5 ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 343. 2003.
24
   Idem, p. 343.
55

                               Pena – reclusão, de uma a quatro anos e multa25.


        Aqui visa a proteção da vida, da saúde e do patrimônio das pessoas,

havendo a necessidade de existir perigo efetivo ou concreta contra quaisquer

pessoas, em decorrência do uso de gás tóxico ou asfixiante capaz de expandir-se

indefinidamente, preenchendo o recipiente que a contém.



2.4.4   Fabrico, Fornecimento, Aquisição, Posse ou Transporte de Explosivos

ou Gás Tóxico, ou Asfixiante



                                Art. 253. Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem
                      licença da autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou
                      asfixiante, ou material destinado à sua fabricação. Pena – detenção, de seis
                      meses a dois anos, e multa26.


        As condutas alternativamente previstas nesta norma visam proteger a

incolumidade pública do perigo que representam os explosivos, gases tóxicos ou

asfixiantes. Diante da falta da licença da autoridade competente, aqui não se faz

necessário o perigo em concreto, bastando apenas a demonstração do perigo em

abstrato para a aplicação da norma penal.



2.5 LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS



                               Decreto-Lei 3.688 de 03 de outubro de 194127.

                                Falso Alarma
                                Art. 41. Provocar alarma, anunciando desastre ou perigo
                      inexistente, ou praticar qualquer ato capaz de produzir pânico ou tumulto.
                                Pena – prisão simples, de 15 dias a 6 meses, ou multa.




25
   GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal. 5 ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 344. 2003.
26
   Idem, p. 344. 2003.
27
   DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. 3 ed. Rio de Janeiro: Renovar, p. 586. 1991.
56

        Esta lei visa proteger o sentimento de segurança da coletividade e a

tranqüilidade pessoal em decorrência que um falso alarma possa provocar temor

generalizado nas pessoas.



2.6 CÓDIGO PENAL MILITAR



                               Decreto-Lei 1.001 de 21 de outubro de 1969.
                               3.5.1 Explosão28
                               Art. 269. Causar ou tentar causar explosão, em lugar sujeito à
                      administração militar, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o
                      patrimônio de outrem.
                               Pena – reclusão de até 4 anos.



        A norma castrense visa proteger a incolumidade das pessoas e o patrimônio

sob administração militar, em decorrência da tentativa ou ação de explosão.



2.7 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


                                                               29
                               LEI 8.069 de 13 de julho de 1990 .
                               Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar de
                      qualquer forma, à criança ou adolescente, arma, munição ou explosivo.
                               Pena – detenção de 6 meses a 2 anos, e multa.
                               Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de
                      qualquer forma a criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício,
                      exceto aquele que, pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de
                      provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida.
                                    Pena – detenção de 6 meses a 2 anos, e multa.



        Visa o legislador proteger a criança e o adolescente em decorrência de sua

fragilidade e vulnerabilidade, estando mais sujeitos a riscos de incidentes com

bombas e explosivos em decorrência do desconhecimento informativo e técnico

sobre artefatos, quanto as suas propriedades e funcionamento.

28
   LAZZARINI, Álvaro. Código Penal Militar, Código de Processo Penal Militar, Estatuto dos
Militares e Constituição Federal. 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 341. 2003.
29
   GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal. 5 ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 706. 2003.
57

2.8 DIRETRIZ DE AÇÃO OPERACIONAL DA PMMT

        D.A.O nº 026/PM-3/96 de 25 de abril de 1996.

        Acerca das ocorrências envolvendo bombas, no ano de 1996 a PMMT

estabeleceu normas de procedimento através da Diretriz de Ação Operacional nº

026/PM-3/9630, visando padronizar procedimentos relativos a atendimento de

ocorrências que impliquem no isolamento, retirada, desmonte ou desativação de

bombas e outros mecanismos explosivos. Trata-se da pioneira iniciativa registrada

até o momento na PMMT, sendo que esta Diretriz de Ação Operacional encontra-se

atualmente em vigor.



        Estabeleceu que os objetivos prioritários de ação para o pessoal PM e BM

que denunciem a presença de bombas ou artefatos explosivos, deverá ter em vista,

exclusivamente, a evacuação do local, o isolamento do prédio e o auxílio ao pessoal

técnico especializado das Instituições Polícia Federal, Forças Armadas ou Polícia

Civil, considerando que a Polícia Militar não possuía especialistas em explosivos.



        Esta Diretriz de Ação Operacional enfatiza não admitir iniciativas por parte

do pessoal da Polícia Militar visando tentativa de desmonte ou desativação de

bombas, sendo tal tarefa exclusiva dos especialistas da Polícia Federal, das Forças

Armadas ou da Polícia Civil, de acordo com a disponibilidade na área. Pela Diretriz

restou aos policiais militares concentrar seus esforços no sentido de proporcionar

segurança às pessoas que habitam, trabalham ou por qualquer motivo estejam no

local, além de oferecer todas as condições necessárias de segurança e proteção

aos técnicos, encarregados da desativação do artefato explosivo.


30
  POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO. Diretriz de Ação Operacional nº 026/PM-
3/96.
58

        Trazendo para a atual realidade, as assertivas prescritas nesta Diretriz não

correspondem com os atualizados estudos feitos por especialistas em explosivos e

bombas, cujos procedimentos padrão estaremos elencando nos próximos capítulos

desta pesquisa.



        Hoje no BOPE há policiais militares com treinamento em explosivos, com

destaque ao Cap PM Oliveira e o Sd PM Claudemir31 que, embora não sejam

explosivistas, de posse desse conhecimento, já atuaram em ocorrências desse nível,

obtendo êxito nas operações.




31
   O Cap PM Oliveira e o Sd PM Claudemir pertencem à Companhia de Operações Especiais do
BOPE. Ambos possuem o curso de Operações com Explosivos realizado na Academia de Polícia
Civil de Mato Grosso, tendo como instrutor o Cap PM Tabanez da PMDF. O Cap PM Oliveira possui
ainda o curso de Explosivos Não Convencionais oferecido pela IMBEL.
59

3    OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS EM MATO GROSSO

        Neste capítulo estão demonstradas ocorrências dos últimos cinco anos

envolvendo bombas e artefatos explosivos em Mato Grosso. Algumas de grande

repercussão outras nem tanto. Necessário se faz conhecer essas ocorrências e

tecer comentários técnicos a respeito.



3.1 PRISÃO DO FORAGIDO MAURÍCIO DOMINGOS DA CRUZ, O “RAPOSÃO”

        No ano de 2003, em operação conjunta, agentes do GCCO – Grupo de

Combate ao Crime Organizado e policiais militares do CIOE – Companhia

Independente de Operações Especiais realizaram a prisão do reeducando

conhecido pela alcunha de “Raposão”, fugitivo da Penitenciaria de Rondonópolis,

tendo sido encontrando em seu poder um revólver calibre .38 (trinta e oito), um

pistola calibre .40 (ponto quarenta), aparelhos celulares e sete bananas de

dinamites, conforme registrado na edição nº 10593 de 16 de abril de 2003 do jornal

Diário de Cuiabá32. A matéria jornalística enfatizou que as dinamites seriam

utilizadas para a explosão de um dos muros da Penitenciária da Mata Grande,

localizada no município de Rondonópolis, em Mato Grosso, cuja intenção era

resgatar o detento conhecido como “Sandro Louco”, além de outros dois presos

identificados como Daniel Rogério e Charles.



        O detendo Maurício Domingos da Cruz, o “Raposão” possui perfil criminoso

longa ficha na Justiça do Estado de Mato Grosso, pela prática de homicídios, tráfico

de drogas, liderança de rebeliões em presídios, fuga de presídios e delegacias,

participação em seqüestros-relâmpagos, roubos a estabelecimentos comerciais e


32
  NEVES, Patrícia. Plano de resgate tinha até dinamite. Diário de Cuiabá. Cuiabá, 16 abr. 2003.
Caderno Polícia.
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Monografia benedito lauro_da_silva

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, ECONOMIA, E CIÊNCIAS CONTÁBEIS-FAECC ACADEMIA DE POLICIA MILITAR COSTA VERDE - PMMT CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA-CEGEsP/CAO OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS E BOMBAS: NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UM GRUPO ESPECIALIZADO NA PMMT. BENEDITO LAURO DA SILVA-CAP PM CUIABÁ – MT 2006
  • 2. BENEDITO LAURO DA SILVA – CAP PM OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS E BOMBAS: NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UM GRUPO DE ESPECIALIZADO NA PMMT. Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Especialização em Gestão de Segurança Pública – CEGEsP/CAO como requisito obrigatório para a conclusão do curso e obtenção do grau de Especialista em Gestão de Segurança Pública. Orientador: Rhaygino Sarly Rodrigues Setúbal - Maj PM CUIABÁ – MT 2006
  • 3. OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS E BOMBAS: NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UM GRUPO ESPECIALIZADO NA PMMT. BENEDITO LAURO DA SILVA – CAP PM Monografia submetida à Banca Examinadora, composta por professores do Curso de Especialização em Gestão de Segurança Pública – CEGEsP/CAO, da Faculdade de Administração, Economia e Ciências Contábeis da Universidade Federal de Mato Grosso, e julgada adequada para a concessão do Grau de ESPECIALISTA EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Banca Examinadora: Rhaygino Sarly Rodrigues Setúbal - Maj PM Orientador/Presidente da Banca Celso Henrique de Souza Barboza – Maj PM Membro Edson Benedito Rondon Filho – Maj PM Membro Prfª MsC Lúcia Regina de Souza Membro Nota obtida pelo aluno ________ Profª MsC MARIA EUNICE GONÇALVES AGUIAR Coordenadora do Curso
  • 4. DEDICATÓRIA Aos meus pais pela sabedoria, verdadeiros exemplos para a minha formação. Às minhas filhas Júlia e Isabella, verdadeiras jóias raras, razão do meu esforço. Á minha namorada Carolina Bittencourt, a quem tanto amo. A todos aqueles que de alguma forma colaboraram na elaboração deste trabalho, em especial ao GATE/PMESP. A todos os policiais militares honrados que labutam dia a dia contra a criminalidade.
  • 5. AGRADECIMENTO A Deus, Pai, Todo Poderoso, pela oportunidade de ser um policial militar. Ao Sr. Ten Cel PM Jorge Catarino Moraes Ribeiro, reconhecidamente verdadeiro baluarte para a realização do CAO / CEGEsP. Aos meus mestres, em especial ao meu orientador neste trabalho Sr. Maj PM Rhaygino Sarly Rodrigues Setúbal, pela sabedoria, dedicação e paciência durante os ensinamentos. Ao Sr. Maj Celso e Profª Msc Lúcia Regina, coordenadores do CAO / CEGEsP, profissionais dedicados e comprometidos com o ensino. A todas as pessoas que amo, que espero, se reconheçam neste agradecimento.
  • 6. EPÍGRAFE “A única coisa necessária para o triunfo do mal é que os bons homens não façam nada”. Edmund Burke
  • 7. RESUMO Este trabalho monográfico aborda o atendimento de ocorrências envolvendo bombas e explosivos no Estado de Mato Grosso, avaliando a existência ou não de procedimentos específicos na atuação policial. Num primeiro momento realiza um passeio pela história dessa modalidade de ocorrência, que tem início com terrorismo internacional, passando por fatos de nível nacional e fatos ocorridos em Mato Grosso. Faz menção sobre o aspecto legal acerca do terrorismo e crimes envolvendo explosivos, procurando conceituar explosivos e bombas, caracterizando- os, bem como, reúne medidas preventivas no atendimento dessas ocorrências. Em seguida, expõe sobre a necessidade de criação de um grupo especializado, a fim de que os policiais militares, que porventura venham atuar no Grupo Antibomba, apliquem de forma técnica e tática, conhecimento e recursos necessários para ações de prevenção e resolução de ocorrências envolvendo localização de bombas e explosivos, alcançando ao final, o melhor resultado possível que consiste na preservação da vida, da integridade física das pessoas e do patrimônio. Palavras – chave: Terrorismo, Bombas e Grupo Especializado.
  • 8. ABSTRACT This monographic work approaches the attendance of occurrences involving bombs and explosives in the State of Mato Grosso, evaluating the existence or not of specific procedures in the police performance. At a first moment it carries through a stroll for the history of this modality of occurrence, that has beginning with international terrorism, passing for facts of national level and facts occurred in Mato Grosso. It makes mention on the legal aspect concerning the terrorism and crimes involving explosive, looking for to appraise explosives and bombs, characterizing them, as well as, it congregates writ of prevention in the attendance of these occurrences. After that, it displays on the necessity of creation of a specialized group, so that the military policemen, who porventura come to act in the Antibomb Group, apply of form necessary technique and tactics, knowledge and resources for action of prevention and resolution of occurrences involving localization of bombs and explosives, reaching to the end, best resulted the possible one that consists of the preservation of the life, of the physical integrity of the people and the patrimony. Words - key: Terrorism, Bombs and Specialized Group.
  • 9. SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS............................................................................................. x LISTA DE ABREVIAÇÕES................................................................................... xi INTRODUÇÃO....................................................................................................... 12 1 TERRORISMO.................................................................................................... 17 1.1 Conceito de Terrorismo................................................................................ 17 1.2 Conjectura Histórica..................................................................................... 22 1.3 Motivações do Terrorismo............................................................................ 35 1.4 Perfil dos Causadores de Ameaça em Termos Globais.............................. 36 1.5 Tipos de Terrorismo..................................................................................... 37 1.6 Características do Terrorismo Internacional................................................ 40 1.7 Terrorismo no Brasil..................................................................................... 42 1.8 Classificação do Terrorismo no Brasil.......................................................... 44 1.9 Neoterrorismo Brasileiro............................................................................... 45 1.10 Os Incidentes com Bombas no Território Brasileiro................................... 48 2 ASPECTOS LEGAIS.......................................................................................... 51 2.1 Direito Internacional..................................................................................... 51 2.2 Constituição Federal.................................................................................... 53 2.3 Lei de Segurança Nacional.......................................................................... 53 2.4 Código Penal................................................................................................ 54 2.5 Lei das Contravenções Penais.................................................................... 55 2.6 Código Penal Militar..................................................................................... 56 2.7 Estatuto da Criança e do Adolescente......................................................... 56 2.8 Diretriz de Ação Operacional da PMMT....................................................... 57 3 OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS EM MATO GROSSO............ 59 3.1 Prisão do foragido Maurício Domingos da Cruz, o “Raposão”..................... 59 3.2 Explosão no interior de veículo em Cáceres................................................ 60 3.3 Indivíduos Presos no Terminal do bairro Morada da Serra......................... 60
  • 10. 3.4 Falsa Bomba no Bairro Jardim Primavera................................................... 61 3.5 Vândalos Atearam Fogo em Motocicletas na Ciretran de Rondonópolis..... 62 3.6 Bomba Deixada em Supermercado de Colíder........................................... 63 3.7 Bomba Colocada em Banheiro de Escola em Cuiabá................................. 64 3.8 Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos Sofre Ataque de Bomba........ 65 3.9 Novamente Ataque com Bomba à Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos................................................................................................................ 66 3.10 Estudante Preso Tentando Armar Bomba no Banheiro de Escola em Rondonópolis..................................................................................................... 67 3.11 Companhia de Polícia Comunitária do Jardim Vitória Sofre Ataque de Bomba................................................................................................................ 68 3.12 Após Explosão de Bomba Detentos Fogem da Cadeia Pública de Várzea Grande................................................................................................... 69 3.13 Homem Mantém Familiares e Ex-esposa Reféns sob Ameaça de Explosivos.......................................................................................................... 71 3.14 Artefato Explosivo é Encontrado em Muro da Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos................................................................................... 73 3.15 Perfil dos Utilizadores de Bombas em Mato Grosso.................................. 74 3.16 Tipos de Explosivos Utilizados pelos Criminosos...................................... 75 3.17 Finalidade da Utilização dos Explosivos.................................................... 76 4 BOMBAS............................................................................................................ 77 4.1 Conceitos de Explosivo................................................................................ 77 4.2 Classificação dos Explosivos....................................................................... 78 4.3 Características dos Explosivos.................................................................... 79 4.4 Tipos dos Principais Explosivos................................................................... 81 4.5 Sistemas de Iniciação.................................................................................. 83 4.6 Conceito de Explosão.................................................................................. 83 4.7 Bombas........................................................................................................ 85 4.8 Utilização de Explosivos em Invasões e Remoção de Obstáculos.............. 92 5 DO GRUPO ESPECIALIZADO EM EXPLOSIVOS E BOMBAS....................... 94 5.1 Composição e Estrutura dos Grupos Antibomba no Mundo........................ 95 5.2 Criação do Grupo Antibomba no Batalhão de Operações Especiais............................................................................................................ 98 5.3 Exigências Pessoais da Equipe de Bombas................................................ 102 5.4 Estrutura do Grupo Antibomba.................................................................... 103 5.5 Tipo de Trabalho Desenvolvido pelo Grupo Antibomba.............................. 105 5.6 Treinamento do Policial Militar..................................................................... 105 5.7 Equipamentos para o Grupo Antibomba...................................................... 106 5.8 Procedimento Operacional em Ocorrências Envolvendo Explosivos e Bombas.............................................................................................................. 114 CONCLUSÃO....................................................................................................... 129 SUGESTÕES......................................................................................................... 133 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 135 APENDICE I.......................................................................................................... 139
  • 11. x LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Divisão em quadrantes................................................................... 121 FIGURA 2 – Seqüência em espiral..................................................................... 122 FIGURA 3 – Zonas longitudinais......................................................................... 122 FIGURA 4 – Arcos capazes................................................................................ 123 FIGURA 5 – Módulos de varredura..................................................................... 124
  • 12. xi LISTA DE ABREVIATURA BOPE – Batalhão de Operações Especiais BPM – Batalhão de Polícia Militar Cap – Capitão Cel - Coronel Cia - Companhia COE – Companhia de Operações Especiais CPA – Centro Político Administrativo GATE – Grupo de Ações Táticas Especiais GOE – Gerência de Operações Especiais IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar PMDF – Polícia Militar do Distrito Federal PMESP – Polícia Militar do Estado de São Paulo PMMT – Polícia Militar do Estado de Mato Grosso PJC – Polícia Judiciária Civil Ten – Tenente Sd – Soldado Sgt - Sargento
  • 13. INTRODUÇÃO A presente pesquisa monográfica pretende realizar uma apreciação acerca das ocorrências envolvendo bombas e artefatos explosivos no Estado de Mato Grosso, cujo assunto pouco explorado, constitui de suma importância para a Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, principalmente, porque trata-se da proteção dos bens jurídicos tutelados pelo Estado, qual seja a vida e a integridade física e moral, seja do policial militar ou não. O terrorismo em várias partes do mundo utiliza substâncias explosivas e bombas para impor o medo. O conceito, as principais características do terrorismo, sua motivação e o perfil dos causadores são apresentados no início deste trabalho, tendo sido traçado um panorama histórico a nível mundial e nacional. Os aspectos legais acerca do terrorismo e as diversas formas de crimes que assemelham essa prática carecem de análise, desde sua interpretação a nível de Direito Internacional até as diretrizes de procedimentos emanados pela Corporação, considerando que o policial militar no atendimento de ocorrências desse nível, deve conhecer os fundamentos de sua atuação.
  • 14. 13 As principais ocorrências envolvendo explosivos e bombas nos últimos três anos merecem destaque, cujos fatos representaram enormes riscos ou ameaças, bem como, os respectivos níveis de resposta da atuação policial e pericial, apresentando, ainda, a tipologia dos causadores da crise, os tipos dos artefatos utilizados e sua finalidade.Conhecer uma bomba e as características de um artefato explosivo se faz necessário. O conceito de explosivos e bombas é explorado na quarta parte, em que são demonstrados tipos e características principais, tipos de acionamento, conceito de explosão e seus efeitos, dando ainda um enfoque especial à bomba caseira, principal causadora de acidentes causando lesões e até mortes. O problema abordado nesta pesquisa pode ser enunciado através de uma análise da atuação da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso em ocorrências envolvendo bombas, na qual o policial militar, no exercício de seu mister, se vê submetido a enorme risco de morte ou de sofrer graves lesões. É com esse enfoque que se formula o problema da presente pesquisa: Em caso de ocorrências envolvendo explosivos e bombas a Polícia Militar do Estado de Mato Grosso está preparada para esse atendimento de forma segura? Diante de tal problema a hipótese levantada é a de que com a adoção de conhecimentos específicos, padronização de procedimentos e aquisição de equipamentos para agir adequada e tecnicamente diante de uma ocorrência envolvendo explosivos e bombas, poder-se-á vislumbrar na PMMT a redução dos riscos ao policial militar e outras pessoas, cujos resultados, além de técnicos, seriam mais satisfatórios à resolução do evento crítico.
  • 15. 14 O objetivo deste trabalho é o de sensibilizar o Comando da Corporação e, em esfera maior, o Poder Executivo, para a atualidade e importância do tema e a necessidade de investimentos em pessoal e equipamentos; profissionalizando e otimizando esse tipo de atendimento, obedecendo aos padrões técnicos mundialmente consagrados; dotando o policial militar de conhecimento técnicos básicos à uma atuação segura. A justificativa para esta pesquisa consiste na carência de atualizadas padronizações no atendimento de ocorrências envolvendo bombas e explosivos, a falta de equipamentos para uma atuação segura que, caso ocorra qualquer incidente, pode colocar a imagem da Polícia Militar em xeque. As últimas intervenções constituíram-se satisfatórias, no entanto, os valorosos policiais militares envolvidos nessas operações submeteram-se a altos riscos. A metodologia utilizada foi escolhida pelo pesquisador posto que é a que melhor contempla o caminho a percorrer os meandros da utilização de bombas, traduzindo que necessário se faz também conhecer os diversos tipos de equipamentos utilizados na prevenção e atuação policial em ocorrências envolvendo artefatos explosivos. Desta forma, esta pesquisa baseia-se em pesquisas bibliográficas sendo utilizados manuais com anotações de procedimentos padrão seguidos a nível internacional como o da Brigada de Explosivos da Polícia de Córdoba, Argentina, e adotados por diversas polícias co-irmãs, em especial a Polícia Militar do Estado de São Paulo e Polícia Militar do Distrito Federal que os manuseiam em cursos específicos da área. Legislações foram exploradas com a finalidade de orientar o policial militar em sua atuação. Foram exploradas pesquisas documentais através de consultas a jornais de grande circulação no Estado de Mato
  • 16. 15 Grosso, bem como, notícias-crimes extraídas de boletins de ocorrências atinentes a intervenção em eventos envolvendo explosivos; consultas a diretriz de ação operacional da PMMT foram feitas com a finalidade de verificar sua atualização frente as diversas medidas adotadas internacionalmente nas ocorrências com bombas. Consultas a sites da Internet se revelaram necessárias em decorrência de melhor estabelecer e demonstrar as conjecturas históricas do terrorismo, elucidando o perfil e as motivações terroristas. A experiência do autor desta pesquisa que participou de instruções sobre Procedimentos Preventivos em Ocorrências com Bombas e Artefatos Explosivos no Grupo de Ações Táticas Especiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo, tendo como finalidade demonstrar os fatos e procedimentos policiais envolvendo explosivos no Estado. A delimitação cronológica do estudo abrange o período do ano de 2003 até os dias atuais, em decorrência dos recentes registros históricos envolvendo explosivos e bombas em Mato Grosso. A delimitação espacial restringe-se ao Estado de Mato Grosso que tem vivido ocorrências envolvendo bombas e a avaliação da necessidade de criação de um grupo especializado. A conclusão reforça a argumentação e propõe mecanismos para a criação de um grupo especializado na PMMT, sobretudo no Batalhão de Operações Especiais, tendo como parâmetros a doutrina, o bom senso, o profissionalismo e, principalmente, a preservação da vida e do patrimônio.
  • 17. 16 O assunto explosivo e bombas não pode ser tratado de forma improvisada pelos diversos segmentos da polícia mato-grossense. Este trabalho procura demonstrar a necessidade da criação de um grupo especializado em explosivos e bombas e procura indicar, com base em doutrinas operacionais policiais de nível internacional e nacional, uma padronização de procedimentos a serem adotados, uma abordagem de caráter científico, evitando-se assim atitudes e desempenhos tipicamente amadoristas que poderão ser catastróficas. Atualmente, o atendimento dessas ocorrências vem sendo realizado de uma forma não ortodoxa, confiando na capacidade de improvisação, ao bom senso e porque não dizer ao “jeitinho” ou à habilidade individual do policial encarregado de solucionar as ocorrências envolvendo bombas.
  • 18. 17 1 TERRORISMO No mundo os explosivos tem sido o principal instrumento utilizado por grupos que visem disseminar o terror, segundo assevera o manual de Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) da Polícia Militar do Estado de São Paulo1, de modo que, vemo-nos impelidos a estudar os ataques em que se utilizaram explosivos e bombas sob a ótica do terrorismo. 1.1 CONCEITO DE TERRORISMO O terrorismo ganhou uma dimensão inédita neste início de século, antes restrita a regiões ou países com cismas sociais, econômicos, culturais, éticos ou religiosos. Agora, o tema é colocado como pauta obrigatória na agenda das relações internacionais. Porém, o ato terrorista, muitas vezes tem sido confundido, de modo incauto ou premeditado, com ações de luta armada, movidas por idéias legítimas e como reação ou resistência à repressão do agressor. Isso porque um poderoso e terrível ataque terrorista ocorreu na manhã do dia 11 de Setembro de 2001 (exatamente às 8h48m e 9h03m locais), atingindo as duas torres do maior conjunto comercial do mundo, o World Trade Center, em Nova Iorque, que veio abaixo horas após ter sido parcialmente destruído por duas aeronaves comerciais Boeing 767, com um total de 157 passageiros a bordo. Eles haviam decolado de Boston às 7h58m com 65 passageiros e às 7h59m com 92 passageiros e ambos com destino a Los Angeles. 1 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos. GATE. São Paulo, p 5. 2005.
  • 19. 18 Assim, após o 11 de Setembro de 2001, o terrorismo passou a ocupar o centro das atenções da política de segurança nacional da nação hegemônica da atualidade. O século XXI começa com mudanças no quadro geopolítico global, onde as posições unilaterais dos EUA passam a ditar a nova ordem mundial. A ação supracitada foi atribuída à Al Quaida, sob o Comando de Osama Bin Laden, e é considerado o maior atentado terrorista em escala global da história. Nota-se que o atentado atingiu alvos com objetivos precisos: O Pentágono como representante do poder militar; o World Trade Center como representante do poder econômico e, a tentativa de atingir a Casa Branca, representando o poder político do inimigo. Noutro diapasão, percebemos que as definições sobre terrorismo encontradas nas enciclopédias se mostram imprecisas e incompletas. Para Larousse2, é o “Conjunto de atos de violência cometidos por grupos políticos ou criminosos para combater o poder estabelecido ou praticar atos ilegais”, e também, “Regime de violência instituído por um governo”. Para a Delta Universal3, o “Terrorismo é o uso ou a ameaça de violência, com o objetivo de aterrorizar um povo e enfraquecer sua resistência” e “entre os atos mais comuns de terrorismo estão o assassinato, o bombardeio e o seqüestro”. 2 Enciclopédia Larousse Cultural, vol. 23. São Paulo: Nova Cultura Ltda, 1998. p 238. 3 Enciclopédia Delta Universal, Vol. 14. Rio de Janeiro: Editora Delta S/A, 1982. p 453.
  • 20. 19 A Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) conceitua terrorismo com sendo “todos os atos de caráter violento que provocam medo e pânico generalizado na população como um todo”4. Percebe-se que para ser caracterizado como ato de terrorismo é necessário o elemento da violência real ou presumida e o sentimento de insegurança generalizada na população como um todo, achando-se vítima em potencial da violência em qualquer local e momento, mesmo que não tenha sido afetada de maneira direta, conforme define a Instrução Provisória Policial Militar para o Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefatos Explosivos – IP–1-PM da PMESP5. 6 HOFFMAN conceitua-o como sendo o “uso real ou ameaça de recorrer à força e à violência com fins políticos, dirigido não só contra pessoas, mas também grupos, cujo alcance transcende os limites nacionais”. Portanto o seu objetivo implica uma ação levada a cabo por governos, unidades secretas ou irregulares, que operam fora dos parâmetros habituais das guerras convencionais, tendo, às vezes, como fim fomentar a revolução. Assim, mais que a realização de fins militares, o objetivo do terrorismo é a propagação do pânico na comunidade alvo de sua violência. Conseqüentemente, a comunidade se vê coagida a atuar de acordo com os desejos terroristas, que 4 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos (bombas). GATE. São Paulo: p 09. 2005. 5 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar para o Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefatos Explosivos (bombas). São Paulo: CSM/Mln, artº 2º. 1996. 6 HOFFMAN, Bruce. Terrorismo e Contraterrorismo Após o 11 de Setembro. Disponível em: <http://usinfo.state.gov/journals/itps/1101/ijpp/ip110107.htm > Acesso em 01fev.2006.
  • 21. 20 buscam, por meio dessa atividade extrema, o início da desestabilização de um Estado, causando o maior caos possível, para possibilitar, assim, uma transformação radical da ordem existente. Para TAMAYO7, o terrorismo consiste “no uso calculado da violência ou da ameaça da violência para provocar o medo, na busca das metas que são geralmente políticas, religiosas, ou ideológicas; forçando ou intimidando os governos ou as sociedades”. Recorrendo ao dicionário comum, para um rápido exame etimológico, o Novo Aurélio diz: “Modo de coagir, ameaçar ou influenciar outras pessoas ou impor- lhes à vontade pelo uso sistemático do terror” e, em uma segunda definição se aproxima das anteriores: “Forma de ação política que combate o poder estabelecido mediante emprego da violência”. A luta armada contra o poder estabelecido não pode, a priori, ser considerado como uma ação terrorista. O poder estabelecido pode ser totalmente ilegítimo, usurpador, sem respaldo democrático ou das tradições e costumes do povo que está submetido a este poder. Seguindo a definição enciclopédica, a resistência Francesa, durante a II Guerra Mundial, seria classificada como uma organização terrorista, visto que lutava contra o poder estabelecido pelos nazistas na zona ocupada ao norte da França e o governo colaboracionista de Vichy. A definição de “praticar atos ilegais” como sendo característica da ação terrorista também não se sustenta. A ordem legal institucional pode ser imposta por 7 TAMAYO, Fabiola. Terrorismo. Disponível em: <http://www.monografias.com/trabajos6/terro /terro.shtml> Acesso em 01fev.2006.
  • 22. 21 um poder ilegítimo e, portanto, como se pode exigir legalidade dentro da ilegalidade. Outra confusão freqüente é aproximar o crime comum ao terrorismo. Assim, teríamos autores de crimes contra o patrimônio ou contra a pessoa humana, movidos por interesses pessoais ou passionais no mesmo naipe de crimes com alvos discriminados ou indiscriminados, com motivos políticos e ideológicos vitimando inocentes. Como método de coação ou ameaça para impor seus princípios, a ação terrorista se encaixa nas definições mas, encontra sérios obstáculos, na contrapartida da ação anti-terror, geralmente desencadeada por instituições controladas pelo Estado. Neste caso, temos exemplos clássicos com a luta anti- terrorista em relação ao IRA na Irlanda do Norte e ao ETA no País Basco. Para uma definição mais específica, o Dicionário do Pensamento Social do Século XX8 classifica o terrorismo em dois tipos principais. No primeiro, o agente usa um método de ação para atingir objetivos específicos. Para este caso, a violência aplicada é pragmática, mais ou menos sob o controle do agente que, pode mudar de estratégia, não necessariamente com uso de violência. No segundo tipo, o terrorismo pode ser uma lógica de ação. Nesse caso, os fins justificam os meios, e o agente apresenta através da repressão, prisão ou morte. Ainda segundo a obra, existe uma tese corrente inspirada no funcionalismo, na qual, o terrorismo surge quando existe uma crise, principalmente uma crise política. O terrorismo é o uso da violência sistemática, com objetivos políticos, contra civis ou militares que não estão em operação de guerra. Existem muitas formas de 8 OUTHWAITE, William e BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento social do Século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
  • 23. 22 terrorismo. Os terroristas religiosos praticam atentados em nome de Deus; já os mercenários recebem dinheiro por suas ações; os nacionalistas agem movidos por um ideal patriótico. Há ainda os ideólogos, que armam bombas motivados por uma determinada visão de mundo. E, muitas vezes, o que se vê é uma mistura de tudo isso com desespero e ódio. 1.2 CONJECTURA HISTÓRICA Fazendo um breve retrospecto histórico, verifica-se que os atos de terror, estão presentes desde o início da civilização. O fato mais surpreendente é que o agente mais letal nas ações de terror foi o próprio Poder Estabelecido, ora contra nações inimigas, ora contra seu próprio povo como forma de repressão. Para CARR9, o Império Romano utilizou táticas de terrorismo contra os povos dominados, com a finalidade de baixar o moral e enfraquecer a resistência das tropas inimigas. O autor salienta que a expressão utilizada na época era “guerra punitiva” que, mais tarde, foi substituída por “guerra destrutiva”. Entre os atos inomináveis praticados pelas legiões romanas estavam os estupros e saques, como forma de recompensa aos soldados, já que eram extremamente mal remunerados. Naturalmente, complementa o autor, os romanos também sabiam gerenciar a pax romana, pois não conseguiriam manter um império apenas com atos de violência. Apesar disso, percebe-se que o auge do terrorismo aconteceu durante os anos da Guerra Fria, depois da Segunda Guerra Mundial, a qual pode ser descrita como um sistema de equilíbrio entre dois blocos inimigos que se baseava no terror. Afinal, o poder de destruição nuclear dos Estados Unidos e da União Soviética era 9 CARR, Caleb. A Assustadora História do Terrorismo. São Paulo. Ediouro Publicações S. A. 2002.
  • 24. 23 tão grande que ninguém poderia iniciar uma guerra total. Seria o fim da espécie humana. Essa mentalidade consagrou o terror como forma de relacionamento entre Estados. Nesse sentido, a chamada "cultura da Guerra Fria" foi o grande estímulo à multiplicação de grupos terroristas. Por outro lado, houve no século XX o crescimento do terrorismo de Estado, em que é adotada a política de eliminação física de minorias étnicas ou de adversários de um regime. Um exemplo é o regime racista da África do Sul, responsável por ações terroristas contra a maioria negra do país até o fim do apartheid, no início dos anos 90. Na América Latina, as ditaduras militares dos anos 60 e 70 promoveram o terrorismo de Estado contra seus opositores, torturando e matando milhares de pessoas. No Oriente Médio, os palestinos de cidadania israelense e os habitantes dos territórios de Gaza e Cisjordânia foram segregados e sofreram ataques das forças armadas de Israel, entre 1967 e 1993. O terrorismo de extremistas muçulmanos contra judeus de Israel, por sua vez, também aterrorizou e matou pessoas inocentes, principalmente a partir da década de 80. Muitos historiadores e intelectuais avaliam que as bombas atômicas jogadas pelos Estados Unidos sobre o Japão, em agosto de 45, foram o maior atentado terrorista já praticado até hoje. Mais de 170 mil civis perderam a vida num ataque que não tinha como objetivo vencer a guerra, mas fazer uma demonstração de força para a União Soviética.
  • 25. 24 1.2.1 Violência e Terrorismo Muitas vezes ouvimos dizer que todo ato de violência é terrorismo, mas isso é força de expressão. Nem sempre um ato de violência é terrorista, mesmo quando a vítima é uma personalidade política. A tentativa de assassinato do presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, em 1981, é um exemplo de violência sem conotação política, uma vez que o autor dos disparos, John Hinckley Jr., agiu isoladamente, motivado por questões pessoais. Já o assassinato do premiê israelense Yitzhak Rabin por um extremista judeu, em 1995, este sim, foi um ato terrorista10. 1.2.2 Terrorismo na Era Contemporânea Na era contemporânea, a França conheceu o regime de terror implantado pelos jacobinos de Robespierre a partir de 1793, pouco depois da Revolução Francesa. Quase um século depois, em 1881, o czar Alexandre Segundo, da Rússia, foi assassinado pela organização terrorista "Vontade do Povo". E, no início do século XX, o estopim que deflagrou a Primeira Guerra Mundial foi o atentado mortal promovido pelo estudante Gavrilo Prinzip, do grupo terrorista sérvio "Mão Negra" contra o arquiduque austro-húngaro Francisco Ferdinando, em 1914. Até os anos 20, o terrorismo era um fenômeno no tempo e no espaço, de dimensões relativamente pequenas, transitórias e restritas. Ele começou a ganhar 10 O atentado contra Reagan não teve o objetivo de fazer propaganda política ou ideológica, ao passo que a morte de Rabin fazia parte da estratégia política de uma organização radical. O objetivo era interromper o processo de paz no Oriente Médio. De qualquer modo, atentados contra chefes de Estado fazem parte de uma longa história de práticas terroristas mundo afora.
  • 26. 25 maior abrangência e importância com o surgimento dos regimes totalitários de Josef Stalin11 e Adolf Hitler12. Os dois regimes de terror tinham algumas características muito semelhantes: o culto à personalidade do dirigente, no caso Stalin e Hitler, e os poderes absolutos da polícia política, no caso a KGB e a GESTAPO. 1.2.3 Terrorismo e Poderio Nuclear O desenvolvimento da tecnologia nuclear, a partir do fim da Segunda Guerra, causou uma importante mudança na mentalidade das pessoas, do ponto de vista psicológico e cultural. A morte deixou de ser uma conseqüência natural da vida para se tornar uma questão política. A preservação da espécie humana passou a depender da decisão das superpotências de iniciar ou não um confronto nuclear fatal para o planeta. O mundo dos anos 50 não apresentava perspectivas muito animadoras. Na primeira metade do século, guerras, revoluções e conflitos localizados haviam consumido a vida de pelo menos 150 milhões de pessoas. Além disso, a tragédia atômica nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki havia colocado o mundo sob a sombra permanente de um holocausto nuclear. Isto porque, exatamente a 6 de agosto de 1945 o bombardeiro norte- americano B-29 Enola Gay largava às 8:15 da manhã, sobre a cidade japonesa de Hiroshima, a primeira bomba nuclear utilizada em situação de guerra, batizada "Little 11 No final dos anos 20, Stalin enviava aos campos de concentração centenas de milhares de opositores ao seu regime, sem contar os treze milhões de camponeses executados por resistirem à coletivização de suas terras, entre 1929 e 1932. 12 Na Alemanha dos anos 30, Hitler iniciou a perseguição aos comunistas, judeus, ciganos e outras minorias étnicas. Até o final da Segunda Guerra, em 1945, seriam assassinados seis milhões de seres humanos pela máquina nazista
  • 27. 26 Boy". 80 mil pessoas morreram instantaneamente, 48 mil dos 76 mil edifícios da cidade foram destruídos (incluindo 52 dos 55 hospitais). Sem palavras ao ver o cogumelo originado pela explosão (que provocou no seu epicentro uma onda de calor 900 vezes superior à da superfície solar), que se elevou a 15 quilômetros de altitude, o piloto do Enola Gay só conseguiu dizer: "My God, what have we done?" Três dias depois, o cenário apocalíptico de Hiroshima repetia-se em Nagasaki. O Japão capitulava, o fim da Segunda Guerra Mundial aproximava-se, e o mundo acordava para o pavor da era nuclear. Estima-se que perto de meio milhão de pessoas tenha morrido nas duas explosões e nos cancros que originaram entre a população das duas cidades. 1.2.4 Guerrilha e Terrorismo: Vertentes Distintas No final dos anos 50, o êxito da revolução cubana abriu novos horizontes para uma juventude desiludida. A vitória de Fidel Castro, contra uma ditadura corrupta sustentada pelos Estados Unidos, representou para muitos jovens a vitória do idealismo. Militantes de todo o mundo ganharam nova disposição de luta. Muitos jovens optaram pela vida clandestina, que oferece dois caminhos: a guerrilha e o terrorismo. A guerrilha, de um modo geral, realiza ataques contra objetivos militares e alvos estratégicos. Tenta conquistar a simpatia da população para formar seu próprio exército e, eventualmente, tomar o poder. Os grupos terroristas utilizam o método inverso, intimidando pessoas inocentes para alcançar seus objetivos.
  • 28. 27 1.2.5 Violência Política na América Latina No Brasil, a reação civil ao golpe militar de 64 desencadeou uma luta armada que faria muitas vítimas até o início de abertura política, em 1977, sendo que, muitos oposicionistas decidiram-se pela ação de guerrilha, inspirados na revolução cubana. Um dos líderes mais célebres da luta armada nos anos 60 foi o ex-capitão do Exército Carlos Lamarca, da Vanguarda Popular Revolucionária, morto por soldados no interior da Bahia, em 197113. Agentes dos órgãos de segurança e dos serviços de informação das Forças Armadas agiam à margem da lei com prisões arbitrárias, torturas e o assassinato de opositores do regime militar. Em contrapartida, os grupos clandestinos de esquerda financiavam suas atividades com dinheiro obtido em assaltos a banco e furtos de automóveis. E praticavam seqüestros de diplomatas para negociar sua libertação em troca de armas e da soltura de presos políticos. Uma das ações mais espetaculares foi o seqüestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, em setembro de 69. No início da década de 70, seriam seqüestrados também o cônsul do Japão em São Paulo, Nobuo Okuchi, e os embaixadores da Alemanha, Ehrenfried Von Holleben, e da Suíça, Giovanni Bücher. Processos semelhantes ao brasileiro aconteceram em toda a América Latina. No Chile, em 73, um golpe de Estado liderado pelo general Augusto Pinochet depôs o presidente eleito Salvador Allende, inaugurando uma sangrenta ditadura 13 Um ano especialmente conturbado foi o de 1968. Ações terroristas sacudiram o país. Grupos de extrema-direita atacaram artistas, lançaram bombas contra entidades civis e intimidaram personalidades de perfil humanista, como o arcebispo Dom Hélder Câmara, que teve sua casa metralhada em Recife, em outubro de 68.
  • 29. 28 militar. Na Argentina, os militares implantaram a ditadura em 76, dando início a uma "guerra suja" contra os oposicionistas, com um saldo de 30 mil desaparecidos em sete anos. 1.2.6 Anos 60 e 70: Desilusão Em diversos países havia, além da repressão oficial, a tolerância dos regimes autoritários em relação às ações ilegais de grupos paramilitares. Por outro lado, nos anos 70 a atividade dos grupos terroristas atingia seu ponto máximo. Era uma época de questionamento dos valores tradicionais e do "velho modo" de fazer política, nos dois blocos. O escândalo de Watergate, em 72, e a derrota dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, reconhecida em 75, acentuaram a decadência da ordem política internacional. Na África, a independência havia sido conquistada em diversos países. Inúmeras guerras tribais estimularam o tráfico de armas e a formação de grupos paramilitares. Na Europa, grupos separatistas, como o IRA e a ETA, radicalizavam as formas de luta. E no Oriente Médio o fervor religioso estimulava o surgimento de grupos extremistas. 1.2.7 Extremismo Islâmico Apesar da violência em comum, existem diferenças entre os grupos terroristas. O fundamentalismo islâmico, por exemplo, não tinha caráter terrorista na época em que surgiu. A Irmandade Muçulmana apareceu em 1929, no Egito, com preocupações sociais e propósitos religiosos. Mas a partir dos anos 30 foi
  • 30. 29 perseguida pelo Rei Fuad e por seu sucessor, o rei Faruk, favoráveis à dominação britânica. A Irmandade partiu para a radicalização e o terrorismo no início dos anos 50, com a ascensão do líder nacionalista Gamal Abdel Nasser, acusado de defender interesses ocidentais. A ação mais espetacular da Irmandade Muçulmana foi o assassinato do presidente egípcio Anuar Sadat, em 1981. Sadat foi considerado traidor por ter assinado os acordos de Camp David, em 78, que reconheciam o direito de existência do Estado de Israel. 1.2.8 Organização para Libertação da Palestina x Israel A crise no Oriente Médio também fez surgir, em 1964, a Organização Para a Libertação da Palestina, OLP, uma frente reunindo diversos grupos. A OLP, que tinha como base a Al Fatah, facção liderada por Yasser Arafat, foi criada em decorrência de um quadro político cada vez mais conturbado. Os ânimos na região estavam acirrados desde a criação de Israel, em 1948. Com o apoio político, econômico e militar de soviéticos e americanos, Israel promoveu guerras com alguns vizinhos árabes para expandir seu território. Centenas de milhares de palestinos foram expulsos de suas terras. Organizações terroristas judaicas, como a Irgun, a Stern e a Haganah tiveram um papel importante na intimidação da população palestina, chegando a massacrar aldeias inteiras. O problema palestino era um distúrbio indesejável na Guerra Fria. O Oriente Médio, como quase todo o planeta, estava dividido em esferas de influência das superpotências. Israel e alguns países árabes passaram para a esfera dos Estados
  • 31. 30 Unidos, enquanto outros países árabes ficaram sob influência soviética. A questão palestina não se encaixava bem nesse jogo de equilíbrio. O isolamento dos palestinos no Ocidente e a hostilidade dos países árabes acabaram fortalecendo a OLP e a opção de grupos radicais pelo terrorismo. Mas nem todos os atos terroristas reivindicados pelos palestinos eram de autoria da OLP. 1.2.9 Terrorismo na Europa Outra organização que se especializou em ataques terroristas nos anos 70 foi o Exército Republicano Irlandês, o IRA. Ele foi formado em 1919 por grupos da minoria católica que lutavam pela união da Irlanda do Norte à República da Irlanda. Na década de 60, os católicos foram às ruas pacificamente, contra leis discriminatórias impostas pela maioria protestante. Aproveitando o clima de insatisfação, um grupo de militantes relançou o IRA, dessa vez com um verniz ideológico marxista. A fase pacífica do movimento terminou num domingo de janeiro de 1972, quando tropas britânicas dispararam suas armas contra os manifestantes, matando 13 pessoas. O incidente, que passou à história como "Domingo Sangrento", desencadeou uma escalada do terrorismo. Durante os anos 70, mais de duas mil pessoas morreram e milhares ficaram feridas em atentados a bomba patrocinados pelo IRA e nos choques de rua entre manifestantes e forças de segurança. Outros grupos surgiram com fins pacíficos e também foram empurrados para o terror. É o caso da ETA, organização que luta pela autonomia do País Basco em
  • 32. 31 relação à Espanha. ETA, no idioma basco, são as iniciais de "Pátria Basca e Liberdade". Criada em 1959 para difundir a cultura e os valores tradicionais do povo basco, a ETA foi perseguida pela ditadura de Francisco Franco e entrou para a clandestinidade e o terrorismo em 1966. O atentado mais ousado foi realizado em 73, quando a organização explodiu no centro de Madri o carro em que viajava o primeiro-ministro franquista Luís Carrero Blanco. Na década de 70 houve também a ação de grupos terroristas sem vínculos com lutas democráticas ou de libertação nacional, como o grupo Baader-Meinhoff, na Alemanha, e as Brigadas Vermelhas, na Itália. Eram organizações formadas por intelectuais e universitários que adotaram a violência em nome de uma genérica "guerra contra a burguesia". Em setembro de 1977, o Baader-Meinhoff ganhou as manchetes dos jornais com o seqüestro do industrial Hanss-Martin Schleyer, como pressão pela libertação de presos políticos. Em março de 1978, outra ação espetacular na Europa: O seqüestro do primeiro-ministro italiano Aldo Moro, uma ação audaciosa que surpreendeu o mundo. Moro acabou executado pelos terroristas, apesar dos apelos do Papa e da opinião pública internacional. 1.2.10 Terrorismo Xiita No final dos anos 70, o terrorismo ganhou um novo ingrediente religioso, com a ascensão dos muçulmanos xiitas no Irã, em janeiro de 79. Sob o comando do Aiatolá Khomeini, os xiitas derrubaram a ditadura do Xá Reza Pahlevi e implantaram um sistema que fugia à lógica dos dois blocos econômicos, liderados por Estados
  • 33. 32 Unidos e União Soviética. A partir da revolução iraniana, foi implantado um sistema de governo guiado por convicções religiosas radicais e inflexíveis. Khomeini inaugurou a chamada "Jihad" em nossos dias, a Guerra Santa contra o Grande Satã, representado pelo mundo não xiita. Daí para a prática do terrorismo foi um passo. O inédito nessa história era o caráter oficial do terror, assumido claramente pelo regime dos Aiatolás. A primeira demonstração radical de Khomeini foi em novembro de 1979 quando com o apoio do governo, estudantes iranianos invadiram a embaixada norte- americana em Teerã, fazendo 66 reféns. Eles queriam a extradição do Xá Reza Pahlevi, em tratamento de saúde nos Estados Unidos. Foi o início de uma longa crise entre os dois países. Mesmo com a morte de Pahlevi em julho de 1980, vítima de câncer, os estudantes não desocuparam a embaixada. O impasse prejudicou a campanha de reeleição do presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, que acabou derrotado pelo candidato republicano Ronald Reagan. Foram 444 dias de expectativa. Em 20 de janeiro de 1981, dia da posse do novo presidente dos Estados Unidos, os iranianos finalmente libertaram os reféns norte-americanos. Até hoje são obscuras as condições sob as quais o presidente Reagan negociou o fim da crise. Além da vitória de Khomeini no Irã, outro elemento viria a fortalecer a causa dos xiitas: a reação à invasão do Afeganistão pelos soviéticos, em dezembro de 79. Os afegãos, em sua maioria de fé muçulmana, sentiram sua religião ameaçada pela presença do exército soviético. Vários grupos guerrilheiros proclamaram uma 'guerra santa' contra o invasor.
  • 34. 33 Com a revolução no Irã e a resistência dos rebeldes afegãos, a "Jihad" ficou conhecida no Ocidente e ganhou força junto à população muçulmana de todo o mundo. O apelo foi reforçado, em fevereiro de 89, com a sentença de morte proferida por Khomeini contra o escritor anglo-indiano Salman Rushdie, autor do livro "Versos Satânicos", considerado blasfemo pelos Aiatolás do Irã. Caçado pelos xiitas, Rushdie passou a viver escondido na Inglaterra, sob proteção da Scotland Yard, a polícia britânica. 1.2.11 Terrorismo no Líbano No começo dos anos 80, o Líbano tornou-se palco de inúmeros atentados. Várias facções disputavam o poder apoiado por países vizinhos, especialmente, Síria e Israel. A existência de áreas de refugiados palestinos na capital Beirute aumentava a tensão e o clima de guerra civil. Uma das organizações acusadas com mais freqüência de terrorismo era a OLP. Na tentativa de capturar ou eliminar o líder Yasser Arafat e destruir bases militares palestinas, forças israelenses invadiram o Líbano, em junho de 82. Durante vários dias, a capital libanesa transformou-se num inferno. Milhares de civis foram mortos, entre eles mulheres, velhos e crianças. Os israelenses não encontraram Arafat, mas expulsaram a OLP e deixaram o Líbano em ruínas. Em setembro de 82, falanges cristãs libanesas, apoiadas por Israel, atacaram os campos de refugiados de Sabra e Chatila, nos arredores de Beirute. Mais de 2.500 civis palestinos e libaneses desarmados foram mortos. O massacre chocou a opinião pública internacional. Foi nesse clima extremamente tenso que se multiplicaram os grupos terroristas no Líbano nos anos 80.
  • 35. 34 A ação terrorista mais famosa dessa época aconteceu em 83, quando dois atentados simultâneos mataram mais de 250 fuzileiros navais americanos e mais de 50 soldados franceses, em Beirute. Mas os xiitas de Khomeini e os militantes de grupos fanáticos, como o Hamas e o Hezbollah, não limitaram seus ataques ao Oriente Médio: em nome da Guerra Santa, eles organizaram vários atentados na Europa e nos Estados Unidos. 1.2.12 Fim da Guerra Fria: O Terrorismo Reflui No início dos anos 90, o fim da Guerra Fria e a abertura do diálogo no Oriente Médio e na Irlanda do Norte fizeram o terrorismo refluir um pouco, abrindo mais espaço para a negociação. Um sintoma dessa trégua foi à prisão, em 1994, de Carlos, o Chacal, o terrorista mais procurado do mundo. O venezuelano Ilitch Ramirez Sanchez, nome verdadeiro do Chacal, foi preso em agosto de 94 por agentes do serviço secreto francês. O terrorista, que agia por dinheiro, é acusado da morte de 93 pessoas e de ferimentos em outras duzentas, em 20 anos de atividades. Infelizmente, a prisão de terroristas famosos e até mesmo o término da Guerra Fria não puseram um fim ao terrorismo internacional, que continua transformando a vida de pessoas inocentes num pesadelo, em diversos lugares do mundo. No Oriente Médio, extremistas matam e ferem para tentar atrapalhar as negociações de paz entre Israel e os palestinos. Na Grã-Bretanha, grupos radicais do IRA também apavoram inocentes, procurando reacender a violência dos anos 70. E aqui e ali, fanáticos religiosos passam dos limites em nome do apocalipse. Talvez
  • 36. 35 a conclusão mais importante a que podemos chegar no final do programa de hoje é a de que o terror gera o terror. Muitas vezes os governos gostam de taxar seus inimigos de terroristas, mas se esquecem de suas próprias responsabilidades. O terror existe e cresce sempre que o diálogo é impossível. E nunca o diálogo foi tão sufocado como no período da Guerra Fria. 1.3 MOTIVAÇÕES DO TERRORISMO A IP – 1 – PM14 da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, descreve que são vários os fatores motivadores dos atentados terroristas, mas que os principais são alavancados por fatores políticos, religiosos, criminosos e psicopatológicos. A motivação política é aquela resultante de conflitos entre nações ou entre lutas políticas internas, como a guerra revolucionária e insurreições. A motivação religiosa diverge da anterior à medida que resulta de conflitos étnicos, sociais ou religiosos, sendo que esse tipo de terrorismo pode ser considerado o mais violento e perigoso, devido aos extremos de fanatismo provocados por determinados grupos religiosos e a doutrinação feita em seus seguidores. A motivação criminosa resulta de conflitos sociais e policiais entre classes marginais, narcotráfico e o crime organizado, podendo ser considerado também os 14 . POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar para o Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefatos Explosivos. São Paulo, CSM/Mln, artº 4º. 1996.
  • 37. 36 casos de vingança e crimes isolados cuja repercussão motivem indiretamente o terrorismo. Nessa linha, encontramos, por fim a motivação psicopatológica que é resultante de distúrbios psicológicos individuais, que motivem uma pessoa a provocar atos de terror sem um motivo específico. SALVATIERRA15 diverge da idéia acima, a medida que entende serem três as motivações do terrorismo quais sejam, o racional, o psicológico e o cultural. 1.4 PERFIL DOS CAUSADORES DE AMEAÇA EM TERMOS GLOBAIS A Instrução Provisória IP – 1 – PM16, estabelece que não existe um perfil ou padrão pré-determinado para identificar uma pessoa terrorista. Porém, três fatores são característicos em todos os terroristas já identificados ou detidos: Inteligência - São detentores de grande cultura e elevada inteligência. Raramente se identificam terroristas pouco cultos, com exceção de elementos úteis ou agentes de manobra. Fanatismo - São crentes em determinada causa política, social, religiosa, etc. e acreditam que seus atos são as únicas formas de atingir os objetivos a que predispõe a lutar ou defender. Desprezo à Vida - Não possuem nenhum vínculo ou respeito com a vida das pessoas ou com sua própria 15 SALVATIERRA, Cesar Cisneros. Terrorismo Internacional. Lima – Perú. <http://www.monografias.com/trabajos16/terrorismo-internacional/terrorismo-internacional.shtml> Acesso em 10.02.06. 16 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar para o Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefatos Explosivos. São Paulo, CSM/Mln, artº 5º. 1996.
  • 38. 37 vida, não se importando com os resultados de seus atos. Quanto menos respeito ou vínculo com a vida humana tiver o terrorista, mais perigoso ele será. 1.5 TIPOS DE TERRORISMO São três os mais importantes tipos de terrorismo, quais sejam, Narcoterrorismo, Nuclear e de Estado. 1.5.1 Narcoterrorismo É chamado desta maneira por conta do uso do tráfico de drogas para promover os objetivos de determinados governos e organizações terroristas. O narcoterrorismo atenta contra os direitos humanos, especialmente, contra o direito à vida e à integridade física; a tranqüilidade e a honra; à participação política, à liberdade de expressão e da comunicação, isso, para mencionar somente os mais prejudicados. Atualmente, os jovens constituem o segmento da parte da população mais afetada pela droga, pelo crime e pela violência, sabendo disso, as organizações de narcotraficantes assediam-nos e utilizam seus serviços para alcançar os seus objetivos. Motivo pelo qual em setembro de 1989, antes do Congresso Geral da ONU, o representante Colombiano propôs um “Plano de ação global de combate à droga e ao narcoterrorismo”.
  • 39. 38 1.5.2 Terrorismo Nuclear Este tipo de terrorismo será um dos mais preocupantes para a aldeia global nos próximos anos. A Ex-União soviética é a principal fonte dessa preocupação, pois nessa região podem ser encontrados resíduos de armas nucleares. Evitar o tráfico ilegal de material radioativo é muito importante porque essas substâncias podem receber destinação militar na mão de terroristas e porque podem, também, produzir um desastre sanitário. Nesse diapasão, vemos as Estações Nucleares como prováveis alvos futuros de atentados terroristas. Durante os últimos anos, o mundo sentiu o aumento de atentados terroristas. Tanto é verdade que em agosto de 1994, logo depois do ataque a Asociación Mutual Esraelita Argentina – AMIA, situada em Buenos Aires, o Instituto de Controle Nuclear dos Estados Unidos encaminhou uma recomendação para todas suas estações advertindo-as quanto a real ameaça terrorista, recomendando a construção de defesas de concreto contra possíveis ataques com carro-bomba. 1.5.3 Terrorismo de Estado O uso sistemático, por parte do Governo de um Estado de ameaças e retaliações, incluídas ilegalmente em sua legislação, com a finalidade de impor a obediência e colaboração ativa da população é característica do Terrorismo de Estado.
  • 40. 39 Entretanto, por sua natureza, o Terrorismo de Estado é de difícil identificação e conceituação, por seus traços variarem de acordo com a época histórica, região e cultura. Os regimes despóticos do passado usaram freqüentemente práticas deste tipo, todavia, tais práticas são condenadas pela democracia moderna. Tendo esse tipo de terrorismo, como exemplos mais fortes o Fascismo e o Comunismo, ocorridos no século XX. Entretanto, vemos que a prática do terror pelo poder estatal se estendeu por todo século XX, tanto em regimes militares ou militarizados como em democracias formais. Os regimes totalitários foram caracterizados por um monopólio de meios de comunicação, imposição de ideologias monolíticas, de exigência não somente de obediência mas de participação ativa nas ações policiais de interesse do Estado, e de um instrumento de polícia e de campos de concentração secretos com vista a eliminar adversários e dissidentes. Os líderes potenciais da oposição eram presos, exilados ou assassinados. Freqüentemente, os tentáculos do instrumento do Estado se estendem até o estrangeiro e atacam os inimigos que estão exilados, como por exemplo, no assassinato de Liev Trotski ocorrida no México pelas mãos de agentes stalinistas. Não raras vezes, integrantes de muitas organizações nacionais de segurança e informação usam de métodos ilegais para enfrentarem adversários,
  • 41. 40 tanto dentro como fora do país. O que diferencia estes episódios de um sistema onde se aplique o terrorismo de estado é a importância da operação e do endosso total do líder da classe. De fato, os instrumentos do terror de estado e do partido no governo são geralmente relacionados de uma maneira indissociáveis. O sistema acima termina freqüentemente por destruir os elementos de sua própria cúpula, como aconteceu ao líder Ernst Röhm, chefe da Seção do Assalto (SA), e ao chefe da polícia secreta soviética Lavrenti Beria, executado pelas mesmas organizações que criaram ou dirigiram. Em um outro plano, alguns regimes recorreram a meios extralegais para eliminar elementos específicos da população, em especial delinqüentes. 1.6 CARACTERÍSTICAS DO TERRORISMO INTERNACIONAL As Características chaves do terrorismo internacional são: • Violência indiscriminada - estendendo seus efeitos a totalidade da população; • Imprevisibilidade – utiliza o fator surpresa; • Imoralidade - produz sofrimento desnecessário às áreas mais vulneráveis.
  • 42. 41 • É indireto – desvia o foco da população para um ponto diferente do alvo que pretendem atingir; Sabe-se que o terrorismo o internacional é um das formas de violência mais difíceis de conter. Agora, enalteceremos alguns eventos promovidos por atos terroristas, com vista demonstrar as tragédias causadas: • A 17 de março de 1992, um carro bomba explode na Embaixada de Israel em Buenos Aires, tendo um saldo de 29 mortes e 250 feridos; • Em fevereiro de 1994 uma bomba explode no Mercado Central de Sarajevo, tendo um saldo de 66 mortes; • A 4 de fevereiro de 1994, três granadas caíram em Dobrinja nas pessoas que fizeram em uma fila de distribuição de alimento. • Na cidade japonesa de Tókio, a 20 de março de 1995 foi lançado o gás Sarín no metrô, tendo como resultado, 11 mortos e 5000 feridos; • E.T.A. atenta contra o presidente Jose Maria Aznar, em Madrid a 19 de abril, este ataque deixou 15 pessoas feridas; • Nos Estados Unidos, a 27 de julho 1996 explode uma bomba no Parque Olímpico, ocasião em que morreram 2 e se feriram 111 pessoas;
  • 43. 42 1.7 TERRORISMO NO BRASIL As ações terroristas de 11 de setembro não modificaram a estrutura das relações internacionais, contudo, pode-se afirmar que a dinâmica internacional sofreu profundas alterações. Para entender qual o papel brasileiro dentro das relações internacionais neste novo contexto, devemos analisar como o país reagiu aos atos de terror. O fundamental xadrez da diplomacia tomou contornos muitos definidos e extremamente importantes na nova agenda internacional. Antes de analisar a posição adotada pelo Brasil, devemos analisar o fenômeno do terrorismo dentro de sua abrangência legal. No Direito Internacional existe, embora de forma tímida, alguns tratados que discipline os atos de terror. O sistema internacional antiterrorista é formado por uma rede de convenções especializadas que versam desde a proteção física de materiais nucleares até o apoderamento ilícito de aeronaves. Destas, nem todas o Brasil é signatário. Algumas ainda se encontram em estudo no executivo e outras em tramitação no Congresso Nacional. As Nações Unidas perceberam o perigo que representava o regime Talibã ainda em 2000, quando emitiu a resolução 1333, de 19.12.200 em que conclama o bloqueio de recursos de Osama Bin Laden, bem como proíbe a venda de armas para o regime Talibã. O Brasil internalizou esta resolução mediante o decreto 3755 de 19.02.2001. Além desta, a ONU, em 30.07.2001, emitiu outra resolução, de número 1363, em que declara a ameaça da paz na região em razão do Afeganistão. Após os atentados, foram emitidas as resoluções 1368 (12.09.2001) e 1373 (28.09.2001) que reconhecem o direito de
  • 44. 43 resposta individual ou coletiva e versam sobre meios de evitar e suprimir ações terroristas. No Brasil, após a manifestação de repulsa do presidente Fernando Henrique Cardoso as ações terroristas, a posição diplomática foi à convocação do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, mais conhecido como Tiar (vale lembrar que o Tiar não é classificado com um tratado antiterror, mas de cooperação) que apesar de ser um instrumento da guerra fria, no momento, foi aquele que forneceu o respaldo jurídico internacional necessário para a posição brasileira. Assim, na reunião extraordinária da OEA, onde se reuniu o órgão de consulta do Tiar, em 21 de setembro, foi aprovada uma resolução acerca da “ameaça terrorista nas Américas”. Neste momento, o Brasil, convocando um tratado de identidade múltipla internacional, mostrou uma posição de liderança e mobilização na região, além de preocupação com a legitimidade jurídica de sua posição. Enquanto a ação militar aliada foi se desenvolvendo no Afeganistão em busca da organização terrorista Al Qaeda, o Brasil declarou, por intermédio do Chanceler Celso Lafer, que o país entende o exercício de autodefesa via as ações militares americanas, entretanto, espera que sejam circunscritas e limitadas. Na mesma linha, o presidente Fernando Henrique Cardoso discursou na Assembléia Nacional da França. Já nos Estados Unidos, o Presidente, em conversa com George W. Bush, defendeu ainda uma maior inclusão dos países em desenvolvimento nas tomadas de decisões internacionais, especialmente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e no Grupo dos 8.
  • 45. 44 Como podemos perceber, o Brasil possui uma preocupação em agir dentro dos meios legais com vistas a justificar suas posições. Neste sentido, acredita que todos os meios para combate ao terrorismo devem estar no âmbito da carta da ONU ou respaldado pelo Direito Internacional. O dia 11 de setembro inaugurou um novo tipo de terrorismo, com uma característica transnacional e multilateral. Penso que, talvez, para enfrentar este novo inimigo, novos instrumentos legais devem ser adotados, assim como uma possível definição acerca do terrorismo. O Brasil, seguindo o amparo das leis internacionais e da ONU, está trilhando um caminho digno dos países de tradição democrática e respeito às leis. 1.8 CLASSIFICAÇÃO DO TERRORISMO NO BRASIL Segundo Leão17, no Brasil pode-se classificar o terrorismo em três distintas categorias, a saber: Subversivo, De Estado e Criminoso. O Terrorismo Subversivo ou Terrorismo Revolucionário compreende os atos de terrorismo praticados pelos grupos políticos subversivos contra o Estado, durante o período do regime militar, com intenções de promover a guerra revolucionária. Já o Terrorismo de Estado, também conhecido como Terrorismo Repressivo, compreende os atos praticados por grupos de extrema direita e por órgãos governamentais, de forma legal, contra pessoas suspeitas de serem subversivas e contra a população como forma de desinformação, durante os períodos do regime militar e da abertura da política. 17 LEÃO, Décio J. A. Doutrina para Operações Antibomba. São Paulo, p. 216. 2000.
  • 46. 45 Por fim, o Terrorismo Criminoso compreende o emprego sistemático de atos de terror para fins de ganho material privado, como roubos, tráfico de drogas, domínio de áreas, extorsões. Também devem ser incorporadas, nessa categoria, os atos do chamado Terrorismo Subrevolucionário, que constituem em empregar o terror por motivos políticos outros que não a revolução ou a repressão governamental, como, por exemplo, forçar o governo a aprovar determinadas políticas ou projetos, vinganças, atentados contra instituições ou autoridades específicas, confronto entre organizações e outras ações de caráter regionalizado ou particularizado. 1.9 NEOTERRORISMO BRASILEIRO Encerrando o período denominado “Ditadura Militar”, final da década de 70, início dos anos 80, com o significativo empenho dos últimos presidentes militares em preparar o país para a abertura política, auxiliados pelo “Movimento Diretas Já”, e com a quebra do monopólio dos únicos partidos políticos brasileiros (a Aliança Renovadora Nacional – ARENA – e o Movimento Democrático Brasileiro - MDB), houve a eleição de um presidente civil, por meio do processo eletivo direto; antiga aspiração dos políticos e da população brasileira, dando início à reforma política. Surgiu, então, um novo panorama político com a criação de inúmeros novos partidos. Assim, aqueles que em anos anteriores pregavam a luta armada, a violência e todos os artifícios inerentes ao extremismo subversivo para a tomada do poder, incluindo os atos de terrorismo, alteraram bruscamente o seu modo de agir, adotando métodos e estratégias diversas daquelas usadas pelas organizações
  • 47. 46 subversivas do passado; porém, mesmo assim, continuaram a ocorrer atentados a bombas, dessa vez, idealizados e praticados por seguimentos descontentes com a abertura política que se avizinhava; ao estilo do atentado ocorrido no Riocentro em 1981. Portanto, alguns dos requisitos dos “Anos de Chumbo”, permaneceram incrustados, tanto do lado militar como no da sua oposição, levando muitos dos ativistas subversivos da época, os terroristas, denominados de “presos políticos”, a cumprirem suas penas privativas de liberdade em estabelecimentos prisionais destinados a criminosos comuns. Esse fato gerou um novo tipo de delinqüente; mais esclarecido, mais politizado, mais sofisticado e violento; adepto ao uso dos requintes de crueldade, com conhecimento de técnicas e táticas militares, de guerra não convencional e explosivos. Surgiu então, de forma embrionária, no Presídio Estadual de Ilha Grande no Rio de Janeiro, no final dos anos 70, um novo segmento de atividade criminal, o “crime organizado”, que teve como sua primeira facção criminosa a “Falange Vermelha”, precursora das modernas organizações criminais brasileiras da atualidade, como o Comando Vermelho, o Terceiro Comando, o Comando Vermelho Jovem, no Rio de Janeiro e o Primeiro Comando da Capital e suas dissidências em São Paulo. Considerando o advento da “globalização” e o crescente acesso às informações, a atividade criminal também foi influenciada por esse fenômeno, aliando-se ao processo de banalização da violência. Foi apoiada e muitas vezes patrocinada por organizações criminosas internacionais, “cartéis e máfias”, atuantes
  • 48. 47 nos ramos do narcotráfico, contrabando de todo gênero, principalmente o de material bélico, falsificação e lavagem de dinheiro, entre outros. Conseqüentemente, houve o surgimento do crime organizado brasileiro, composto basicamente das citadas organizações, atuante em inúmeros setores da sociedade nacional, ligado a narcotráfico, roubo a bancos, roubo a cargas e roubo a automóveis, seqüestros, contrabando e desvio de verba pública e toda sorte de delitos. A marginalidade continuou a sofisticar-se e organizar-se a tal ponto, que, ultimamente se constata a generalização do uso indiscriminado de bombas, explosivos e engenhos militares, em diversos casos de roubos, seqüestros, extorsões, rebeliões, fugas em estabelecimentos prisionais e confrontos com os órgãos de segurança. A aquisição de equipamentos e armamentos modernos é uma das máximas dessas organizações, pois, assim, demonstram sua ascendência e o seu poder perante o mundo do crime, da sociedade organizada e do poder constituído. A preocupação com a modernização e estruturação do crime chega às raias do perfeccionismo, prevendo não só toda a logística e os equipamentos de comunicação, como o treinamento, ministrado em muitas ocasiões por um “exército de mercenários”, constituídos de ex-integrantes das Forças Armadas e ex-policiais; ou, até mesmo, por corruptos integrantes da ativa desses contingentes. O crime organizado, a exemplo dos movimentos terroristas, utiliza sua força e estrutura para intimidar, subjugar e coagir a população e as autoridades
  • 49. 48 constituídas, a fim de atingir suas metas; gerando o pânico e a sensação de insegurança, objetivos clássicos do terrorismo. Portanto, pode-se afirmar que o terrorismo está presente no território brasileiro, não em sua forma mais tradicional, do fanatismo irracional e do radicalismo, inerentes aos atuais grupos “Xiitas” ultra- radicais de orientação religiosa ou política, mas criminoso, violento, impetuoso e sanguinolento, adaptado à realidade criminal e aos costumes brasileiros, à ineficiência da lei penal e à ineficiência do falido sistema carcerário vigente. 1.10 OS INCIDENTES COM BOMBAS NO TERRITÓRIO BRASILEIRO No Brasil, atentados terroristas de grandes proporções nunca foram registrados, no entanto, o país já possui um razoável histórico de incidentes com bombas, apesar de ser considerado um país pacifista. O período no qual o terrorismo merece destaque insere-se no transcorrer das décadas de 60 e 70, época áurea dos governos militares e momento no qual a luta armada, os movimentos subversivos e as guerrilhas urbana e rural intensificaram-se contra o governo. Houve, nessa época, combates fervorosos dos militares, que reprimiram com vigor os movimentos subversivos. Nesse período, tornou-se comum à realização de inúmeros atos de violência em nome da luta pelo poder e da conquista dos direitos políticos, com a prática de roubos a unidades militares, bancos, veículos de transporte de valores, atentados à bomba, seqüestros de todo gênero e diversos homicídios contra integrantes das Forças Armadas e órgãos de Segurança Pública. No que concerne aos incidentes envolvendo explosivos ou bombas, ocorridos em território nacional nos últimos 25 anos, é notória a ocorrência de
  • 50. 49 centenas deles; todavia, pode-se ressaltar que apenas uma pequena parcela do total do seu universo foi colocada em evidência, ocupando maior destaque na mídia. Até 1981, ocorreram com maior freqüência os de cunho eminentemente político e com caráter subversivo, posteriormente, eclodiram as intercorrências relacionadas com atos criminosos (modalidade moderna de delito, com o uso de explosivo para o cometimento de outro crime, como a sabotagem, a extorsão, o roubo, o furto) e o vandalismo, promovidos por motivos fúteis, com o objetivo exclusivo de causar danos (modalidade muito utilizada atualmente). De 1966 até 1981, foram divulgadas pela imprensa, com relevância, 11 explosões de bombas caseiras, destacando-se as ocorridas no Aeroporto dos Guararapes, Recife, matando 2 pessoas e ferindo outras 14, cujo alvo era o Presidente da Republica, em julho de 1966, e a explosão de um carro-bomba no Comando do II Exercito, em junho de 1968, quando um soldado foi mortalmente ferido. Na década de 80, época da criação do GATE de São Paulo, houve grande incremento aos incidentes com ameaças falsas e verdadeiras, além de várias ocorrências envolvendo explosões, destacando-se as ocorridas no Riocentro, no Rio de Janeiro, em 30 de abril de 1981, com a morte de um sargento do Serviço de Informações do Exercito e, em junho de 1989, a ameaça falsa de bomba no Colégio Pueri Domus, em São Paulo, quando as atividades escolares foram suspensas, causando inúmeros embaraços. Nos anos 90, principalmente com a eclosão da Guerra do Golfo, o número de incidentes cresceu vertiginosamente na capital paulista. Houve centenas de
  • 51. 50 ameaças falsas e verdadeiras, atentados a autoridades do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, a companhias de aviação e inúmeras explosões, nos mais variados locais e rincões do território brasileiro. Destaca-se, em 1991, a explosão no Monumento ao Duque de Caxias em São Paulo, e o atentado contra o Juiz da 2ª Vara Criminal, em Campos do Jordão, São Paulo. Em 1995, destacou-se o atentado praticado no anexo do Itamaraty e, em julho de 1997, o incidente com o Focker 100 da TAM. Em seguida, vários outros incidentes se sucederam: a destruição de duas estações repetidoras da Empresa Brasileira de Telecomunicações (EMBRATEL) e das torres de transmissão de energia elétrica da bi-nacional de Itaipu, na região Sul, em 1988; culminando, finalmente, com os incidentes de 2000 e 2001, cabendo destacar o atentado na Seção Paulista da Anistia Internacional, a explosão no Fórum Criminal João Mendes, no Ministério da Fazenda e no Posto Policial do Comando de Policiamento de Trânsito (CPTRAN), em São Paulo, sempre demonstrando maior grau de ousadia e sofisticação, denotando a chegada da especialização no submundo do crime.
  • 52. 51 2 ASPECTOS LEGAIS Como a prática do terrorismo se expressa sob diversas formas, demanda uma meticulosa análise para estabelecer uma perfeita definição jurídico-penal, uma vez que muitas dessas ações são idênticas aos crimes que estão preconizadas de forma autônoma, como homicídio, lesões graves, extorsões, explosão, incêndios, seqüestros, genocídios, entre outros. Desta forma para uma perfeita tipificação quanto à prática desse crime deve-se buscar subsídios no Direito Internacional para o perfeito entendimento quanto a incriminação dessa conduta. 2.1 DIREITO INTERNACIONAL Desde a sua criação a Organização das Nações Unidas - ONU, baseando- se nos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e na Carta Internacional dos Direitos do Homem, tem elaborado diretrizes internacionais em matéria de prevenção do crime e justiça penal. Dentre os princípios e propósitos da Carta das Nações Unidas de 1945, está a manutenção da paz e a segurança internacional, tomando coletivamente medidas efetivas para resolver problemas de âmbito internacional de caráter econômico, social, cultural ou humanitário. Define a Carta18 que cabe ao Conselho de Segurança das Nações Unidas a recomendação ou medidas a serem tomadas com a finalidade de manter ou restabelecer a paz e a segurança internacional, que poderão incluir a interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de comunicação e transportes e o rompimento das relações diplomáticas. 18 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Coletânea de Direito Internacional. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 42. 2005.
  • 53. 52 A Convenção para Prevenir e Punir os Atos de Terrorismo Configurados em Delitos Contra as Pessoas e a Extorsão Conexa, Quando Tiverem Eles Transcendência Internacional de 197119, define que os Estados Contratantes obrigam cooperar entre si, tomando medidas que visem à prevenção e punição dos atos de terrorismo, em especial os atentados contra a vida e a integridade das pessoas, a quem o Estado deve proteger. Preocupada com o aumento, em escala mundial, das mais diversas formas das ações terroristas, dentre elas a utilização de explosivos e bombas, a Convenção Internacional Sobre a Supressão de Atentados Terroristas com Bombas de 1988, nos seus artigos 2º e seguintes20, define como praticante do crime de terrorismo em nível internacional, qualquer pessoa, que de forma ilícita e intencionalmente utiliza de explosivo ou outra substância mortífera em logradouro público, em instalação estatal ou governamental, em sistema de transporte público ou uma instalação de infra-estrutura com a intenção de causar mortes, graves lesões e destruição ou possa causar grande prejuízo econômico. Destaca ainda a Convenção que também constitui crime a forma tentada destes atos, bem como a organização e direção, participação e contribuição para essa atividade. O Brasil na condição de Estado-membro da ONU deve reafirmar o seu compromisso em respeitar os tratados internacionais existentes e sua adesão aos princípios descritos na Carta das Nações Unidas e em outros instrumentos internacionais relevantes, tomando medidas jurídicas e procedimentos eficazes de prevenção e repressão contra a prática terrorista. 19 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Coletânea de Direito Internacional. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 121. 2005. 20 Idem, p. 171 e 172.
  • 54. 53 2.2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL A Constituição Federal21 em seu artigo 4º, inciso VIII, destaca que as relações internacionais da República Federativa do Brasil reger-se-ão pelo repúdio ao terrorismo e ao racismo. Em seu artigo 5º, inciso XLIII, ainda acerca do terrorismo preconiza que a prática constitui crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá- los, se omitirem. Este artigo constitucional possui sua eficácia limitada, uma vez que necessita de uma legislação infraconstitucional para que sua eficácia se produza. 2.3 LEI DE SEGURANÇA NACIONAL 22 Lei nº 7.170 de 14 de dezembro de 1983 . Art. 20. Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas. Pena – reclusão, de 3 a 10 anos. Atualmente este texto legal trata o terrorismo como crime dando entendimento que trata-se de ações com objetivos políticos de infringir a ordem democrática ou causar danos ao Estado democrático. Juristas entendem que o texto acima encontra-se descrito de forma confusa e ambígua, insuficiente para estabelecer uma perfeita definição jurídica do terrorismo, havendo a necessidade de criação de uma lei que defina objetivamente, de forma clara e precisa, a conduta do terrorismo. 21 GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 20 e 21. 2003. 22 Idem, p. 673.
  • 55. 54 2.4 CÓDIGO PENAL Decreto-Lei 2.848 de 07 de dezembro de 1940. 2.4.1 Incêndio Art. 250. Causar incêndio, expondo a vida, a integridade física ou patrimônio de outrem. 23 Pena – reclusão, de três a seis anos, e multa . O objeto jurídico desta norma visa a proteção da incolumidade pública, no entanto se faz necessário que haja perigo concreto na provocação do fogo, e não risco presumido. 2.4.2 Explosão Art. 251. Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos. Pena – reclusão, de três a seis anos, e multa24. Esta norma visa a proteção da coletividade diante da ameaça ou emprego de engenhos de dinamite, bomba, artefato ou aparato de dinamite. Assim como no crime de incêndio, deve ser demonstrado o perigo concreto. 2.4.3 Uso de Gás Tóxico ou Asfixiante Art. 252. Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante. 23 GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 343. 2003. 24 Idem, p. 343.
  • 56. 55 Pena – reclusão, de uma a quatro anos e multa25. Aqui visa a proteção da vida, da saúde e do patrimônio das pessoas, havendo a necessidade de existir perigo efetivo ou concreta contra quaisquer pessoas, em decorrência do uso de gás tóxico ou asfixiante capaz de expandir-se indefinidamente, preenchendo o recipiente que a contém. 2.4.4 Fabrico, Fornecimento, Aquisição, Posse ou Transporte de Explosivos ou Gás Tóxico, ou Asfixiante Art. 253. Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação. Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa26. As condutas alternativamente previstas nesta norma visam proteger a incolumidade pública do perigo que representam os explosivos, gases tóxicos ou asfixiantes. Diante da falta da licença da autoridade competente, aqui não se faz necessário o perigo em concreto, bastando apenas a demonstração do perigo em abstrato para a aplicação da norma penal. 2.5 LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS Decreto-Lei 3.688 de 03 de outubro de 194127. Falso Alarma Art. 41. Provocar alarma, anunciando desastre ou perigo inexistente, ou praticar qualquer ato capaz de produzir pânico ou tumulto. Pena – prisão simples, de 15 dias a 6 meses, ou multa. 25 GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 344. 2003. 26 Idem, p. 344. 2003. 27 DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. 3 ed. Rio de Janeiro: Renovar, p. 586. 1991.
  • 57. 56 Esta lei visa proteger o sentimento de segurança da coletividade e a tranqüilidade pessoal em decorrência que um falso alarma possa provocar temor generalizado nas pessoas. 2.6 CÓDIGO PENAL MILITAR Decreto-Lei 1.001 de 21 de outubro de 1969. 3.5.1 Explosão28 Art. 269. Causar ou tentar causar explosão, em lugar sujeito à administração militar, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem. Pena – reclusão de até 4 anos. A norma castrense visa proteger a incolumidade das pessoas e o patrimônio sob administração militar, em decorrência da tentativa ou ação de explosão. 2.7 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 29 LEI 8.069 de 13 de julho de 1990 . Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar de qualquer forma, à criança ou adolescente, arma, munição ou explosivo. Pena – detenção de 6 meses a 2 anos, e multa. Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma a criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aquele que, pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida. Pena – detenção de 6 meses a 2 anos, e multa. Visa o legislador proteger a criança e o adolescente em decorrência de sua fragilidade e vulnerabilidade, estando mais sujeitos a riscos de incidentes com bombas e explosivos em decorrência do desconhecimento informativo e técnico sobre artefatos, quanto as suas propriedades e funcionamento. 28 LAZZARINI, Álvaro. Código Penal Militar, Código de Processo Penal Militar, Estatuto dos Militares e Constituição Federal. 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 341. 2003. 29 GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 706. 2003.
  • 58. 57 2.8 DIRETRIZ DE AÇÃO OPERACIONAL DA PMMT D.A.O nº 026/PM-3/96 de 25 de abril de 1996. Acerca das ocorrências envolvendo bombas, no ano de 1996 a PMMT estabeleceu normas de procedimento através da Diretriz de Ação Operacional nº 026/PM-3/9630, visando padronizar procedimentos relativos a atendimento de ocorrências que impliquem no isolamento, retirada, desmonte ou desativação de bombas e outros mecanismos explosivos. Trata-se da pioneira iniciativa registrada até o momento na PMMT, sendo que esta Diretriz de Ação Operacional encontra-se atualmente em vigor. Estabeleceu que os objetivos prioritários de ação para o pessoal PM e BM que denunciem a presença de bombas ou artefatos explosivos, deverá ter em vista, exclusivamente, a evacuação do local, o isolamento do prédio e o auxílio ao pessoal técnico especializado das Instituições Polícia Federal, Forças Armadas ou Polícia Civil, considerando que a Polícia Militar não possuía especialistas em explosivos. Esta Diretriz de Ação Operacional enfatiza não admitir iniciativas por parte do pessoal da Polícia Militar visando tentativa de desmonte ou desativação de bombas, sendo tal tarefa exclusiva dos especialistas da Polícia Federal, das Forças Armadas ou da Polícia Civil, de acordo com a disponibilidade na área. Pela Diretriz restou aos policiais militares concentrar seus esforços no sentido de proporcionar segurança às pessoas que habitam, trabalham ou por qualquer motivo estejam no local, além de oferecer todas as condições necessárias de segurança e proteção aos técnicos, encarregados da desativação do artefato explosivo. 30 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO. Diretriz de Ação Operacional nº 026/PM- 3/96.
  • 59. 58 Trazendo para a atual realidade, as assertivas prescritas nesta Diretriz não correspondem com os atualizados estudos feitos por especialistas em explosivos e bombas, cujos procedimentos padrão estaremos elencando nos próximos capítulos desta pesquisa. Hoje no BOPE há policiais militares com treinamento em explosivos, com destaque ao Cap PM Oliveira e o Sd PM Claudemir31 que, embora não sejam explosivistas, de posse desse conhecimento, já atuaram em ocorrências desse nível, obtendo êxito nas operações. 31 O Cap PM Oliveira e o Sd PM Claudemir pertencem à Companhia de Operações Especiais do BOPE. Ambos possuem o curso de Operações com Explosivos realizado na Academia de Polícia Civil de Mato Grosso, tendo como instrutor o Cap PM Tabanez da PMDF. O Cap PM Oliveira possui ainda o curso de Explosivos Não Convencionais oferecido pela IMBEL.
  • 60. 59 3 OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS EM MATO GROSSO Neste capítulo estão demonstradas ocorrências dos últimos cinco anos envolvendo bombas e artefatos explosivos em Mato Grosso. Algumas de grande repercussão outras nem tanto. Necessário se faz conhecer essas ocorrências e tecer comentários técnicos a respeito. 3.1 PRISÃO DO FORAGIDO MAURÍCIO DOMINGOS DA CRUZ, O “RAPOSÃO” No ano de 2003, em operação conjunta, agentes do GCCO – Grupo de Combate ao Crime Organizado e policiais militares do CIOE – Companhia Independente de Operações Especiais realizaram a prisão do reeducando conhecido pela alcunha de “Raposão”, fugitivo da Penitenciaria de Rondonópolis, tendo sido encontrando em seu poder um revólver calibre .38 (trinta e oito), um pistola calibre .40 (ponto quarenta), aparelhos celulares e sete bananas de dinamites, conforme registrado na edição nº 10593 de 16 de abril de 2003 do jornal Diário de Cuiabá32. A matéria jornalística enfatizou que as dinamites seriam utilizadas para a explosão de um dos muros da Penitenciária da Mata Grande, localizada no município de Rondonópolis, em Mato Grosso, cuja intenção era resgatar o detento conhecido como “Sandro Louco”, além de outros dois presos identificados como Daniel Rogério e Charles. O detendo Maurício Domingos da Cruz, o “Raposão” possui perfil criminoso longa ficha na Justiça do Estado de Mato Grosso, pela prática de homicídios, tráfico de drogas, liderança de rebeliões em presídios, fuga de presídios e delegacias, participação em seqüestros-relâmpagos, roubos a estabelecimentos comerciais e 32 NEVES, Patrícia. Plano de resgate tinha até dinamite. Diário de Cuiabá. Cuiabá, 16 abr. 2003. Caderno Polícia.