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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ”
        DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DO SOLO




                   Pedro Ernesto Ronzani




PROJETO DE EXPLORAÇÃO DE FAZENDA NA REGIÃO SUL
                   DO PIAUÍ




   0111000 - Trabalho de Conclusão de Curso em Engenharia
                        Agronômica




                     PIRACICABA - SP
                           2012
PEDRO ERNESTO RONZANI




PROJETO DE EXPLORAÇÃO DE FAZENDA NA REGIÃO SUL
                   DO PIAUÍ




                            Monografia apresentada ao Departamento
                            de Ciências do Solo como parte das
                            exigências da disciplina 0111000 -
                            Trabalho de Conclusão de Curso em
                            Engenharia Agronômica da Escola
                            Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
                            – Universidade de São Paulo.

                        Orientador:
                        Prof. Dr. José Alexandre Melo Demattê




                PIRACICABA - SP
                     2012


                                                                   ii
PEDRO ERNESTO RONZANI




  PROJETO DE EXPLORAÇÃO DE FAZENDA NA REGIÃO SUL
                     DO PIAUÍ




                  _________________________________
                          Pedro Ernesto Ronzani




Orientador:       _________________________________
                  Prof. Dr. José Alexandre Melo Demattê
              Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
                        Universidade de São Paulo




                           PIRACICABA - SP
                            Dezembro de 2012




                                                                 iii
AGRADECIMENTOS:



           À minha família, em especial meus pais, Hélio e Bernadete, que sempre me
deram todo o apoio e base necessários à minha formação pessoal e profissional. Por
serem um modelo de honestidade e perseverança que eu sempre seguirei e admirarei.

           Aos meus irmãos, João e Estêvão, que sempre me suportaram nos quesitos
mais “tecnológicos”, assim como são parte integrante da minha formação pessoal. Foi
com eles que comecei a aprender como conviver com as diferenças, ainda muito novo.

           À minha namorada Priscila que durante a minha graduação e meu estágio
em São Paulo esteve ao meu lado, dando sempre conforto e incentivo nos momentos
mais difíceis, me auxiliando e sempre me instigando a buscar mais e fazer melhor.

           A todos os meus amigos de universidade, em especial à minha segunda
família, a República Vira-Latas, com quem amadureci e me tornei quem sou hoje.
Muito obrigado pelas intermináveis horas de estudo e diversão, pelo suporte, e por
suprirem a ausência que sentia da minha família.

           À ESALQ, por me proporcionar uma graduação, vivência e oportunidades
muito maiores do que eu esperava, bem como ao seu corpo docente muito bem
qualificado e, na maioria das vezes, extremamente prestativo às minhas solicitações.

           Ao professor Demattê, que me proporcionou o mais breve, porém mais
construtivo estágio dentro da ESALQ durante a minha graduação, agradeço por toda a
paciência e tempo confiados em mim, pelo treinamento recebido no uso das ferramentas
utilizadas durante o estágio, e todo o suporte e prestatividade durante meu estágio
profissionalizante e também na elaboração deste trabalho.

           Ao Guilherme Asai, que deu todo o suporte necessário para o meu
desenvolvimento profissional nesses meses de convivência e aprendizado que tive ao
seu lado em São Paulo, na TibaAgro.




                                                                                       iv
RESUMO



       A agricultura provê ao mundo não só a maior parcela do alimento e boa parcela
das fibras consumidas, como inúmerous outro produtos, como energia e está cada vez
mais gerando produtos industrias capazes de competir com os vindos de fontes fósseis
não renováveis. Nesse contexto, a agricultura, mais especificamente a sojicultura,
assume papel essencial, uma vez que a demanda por esse produto vêm crescendo a taxas
altas, independentemente de crises econômicas, e a produção tem que acompanhar esse
crescimento. A produção agrícola no Brasil é reconhecida como uma das melhores do
mundo, e ainda temos áreas inexploradas ou sub-exploradas em nosso território. Esse
trabalho tem como objetivo fazer uma revisão sobre o status da agricultura numa das
últimas frentes de desenvolvimento disponíveis no Brasil, a região sul do Piauí, usando
ferramentas de SIG no mapeamento do uso do solo, bem como conhecimentos
agronômicos em geral para visualizar a questão da sojicultura na região e a prosperidade
e perspectivas econômicas da atividade no sul do Piauí. A revisão e o mapeamento
apresentaram resultados esperados como, por exemplo, a oferta considerável de áreas
ainda não exploradas na região e também a rentabilidade que essas terras podem
proporcionar a investidores individuais ou fundos. Além disso, o modelo de exploração
adotado, embora não seja democrático, provê benefícios ambientais a sociais
incontestáveis.



Palavras-chave: uso do solo, Sul do Piauí, mercado de terras, cerrado.




                                                                                      v
Índice
LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................vii
1.      Introdução.................................................................................................................. 1
2.      Objetivo ..................................................................................................................... 7
3.      Análise externa .......................................................................................................... 7
     3.1.      Infraestrutura disponível .................................................................................... 7
     3.2.      Logística............................................................................................................. 7
     3.3. Comportamento e expectativas para os mercados de Soja e de terras –
     contextualização geral ................................................................................................... 9
4.      Caracterização Geral Da Base Física Agrícola ....................................................... 12
     4.1.      Climática e balanço hídrico ............................................................................. 12
     4.2.      Relevo .............................................................................................................. 20
     4.3.      Solos................................................................................................................. 21
     4.4.      A cultura da Soja .............................................................................................. 24
        a.     Classificação botânica e variedade(s) .............................................................. 24
        b.     Justificativas técnicas e de comercialização .................................................... 25
        c.     Recomendações Agronômicas ......................................................................... 25
5.      Mapeamento a Nível Regional ................................................................................ 36
     5.1.      Material e Métodos .......................................................................................... 37
     5.2.      Resultados e Discussão .................................................................................... 40
6.      Descrição da Fazenda .............................................................................................. 47
     6.1.      Solos................................................................................................................. 47
     6.2.      Produção .......................................................................................................... 49
7.      Conclusão ................................................................................................................ 52
8.      Referências Bibliográficas ...................................................................................... 53




                                                                                                                                     vi
Lista de Figuras


Figura 1 – Distribuição da Produção Nacional de Soja entre 1976 e 2011. Fonte:
CONAB, elaboração própria. ........................................................................................... 3
Figura 2 - Distribuição da Área Nacional plantada com Soja entre 1990 e 2011. Fonte:
IBGE, elaboração própria ................................................................................................. 4
Figura 3 - Distribuição da produção municipal de soja no Piauí. Fonte: IBGE ............... 6
Figura 4 - Área plantada, produção e produtividade de soja no estado do Piauí. Fonte:
CONAB ............................................................................................................................ 6
Figura 5 - Preços médios da soja no Paraná. Fonte: CEPEA. ........................................ 10
Figura 6 – Comportamento do mercado internacional e regional de soja, e do Dólar.
Fonte: CBOT, BM&F, Safras e Mercado e Banco central do Brasil ............................. 10
Figura 7 - Valorização anual de terras – CAGR – Bom Jesus ....................................... 11
Figura 8 - Evolução do Preços de terras – região de Bom Jesus .................................... 12
Figura 9 - Balanço hídrico climatológico de Bom Jesus, PI. INMET. ........................... 13
Figura 10 - Cidades do Piauí, biomas e isoietas da região. ............................................ 15
Figura 11 - Distribuição de chuvas da 4 estações meteorológicas disponíveis no banco
de dados da ANA............................................................................................................ 16
Figura 12 - Comportamento climático em Bom Jesus x ocorrência e intensidade de el-
noños e la-niñas. Fonte: NOAA, ANA e INPE. Elaboração própria.............................. 19
Figura 13 - Relevo na região da Fazenda São João. ....................................................... 20
Figura 14- Mapa de solos do Brasil. Fonte: Projeto SomaBrasil ................................... 22
Figura 15 - Mapa exploratório de Solos de Bom Jesus. ................................................. 22
Figura 16 - Coloração do latossolo da região. ................................................................ 23
Figura 17 - Exemplo de afloramento de petroplintita nas proximidades das escarpas... 24
Figura 18 - Renda líquida esperada para diferentes intervalos de semeadura em
Piracicaba, SP ................................................................................................................. 26
Figura 19 - Curvas espectrais dos horizontes A e B de de um Latossolo Amarelo ácrico
típico. Adaptado de Dalmolin et al., 2005 ...................................................................... 37
Figura 20 - Extraída de < http://www.life.illinois.edu/govindjee/paper/fig5.gif> ......... 38
Figura 21 - Mapeamento da elevação do terreno, destacando as áreas "potencias",
circundadas em amarelo. ................................................................................................ 41
Figura 22 - Fonte: INPE, ResourceSat. Órbita 329, ponto 82. 27/08/2012. ................... 42
Figura 23 - Imagem temática da região após a classificação ......................................... 45
Figura 24- Distrubuição espacial das áreas classificadas no sul do Piauí. ..................... 46




                                                                                                                                vii
1. Introdução

       A região sul do Piauí é descrita como a última fronteira agrícola do Brasil.
Pertence ao mesmo eixo de expansão do oeste baiano e sul maranhense, na medida em
que os grupos econômicos são os mesmos e adotam mecanismos semelhantes de
territorialização do capital (Alves, 2005).
       O cerrado piauiense possui 11,86 milhões de hectares, correspondente a 46% da
área do estado (5,9% do cerrado braisleiro). Este bioma faz limite com a caatinga, tanto
que Aguiar & Monteiro, 2005, calculam uma área de 3,5 milhões de hectares no estado
composta pelo ecótono cerrado-caatinga. Segundo Sano et al. (2008), em 2002 a área
com agricultura correspondia a menos de 2% dos 11,86 milhões de ha.
       De fato, a concentração de áreas de cerrado agrícola ainda não exploradas no sul
do Piauí é a maior do país, caracterizando essa região como uma recente fronteira
agrícola. Um fator intrínseco a esse tipo de área é a carência de infraestrutura. Essa
carência freia o desenvolvimento, não só do agronegócio, como dos demais setores da
economia. Com a superação desse tipo de desafio, a atividade agrícola pode ser muito
rentável, devido principalmente ao baixo valor comparativo das áreas disponíveis.

       O Instituto Desert (1998, p. 125), apud Reydon & Cornelio (2006), define o
cerrado do Piauí como:

                                  [...] geomorfologicamente o que se chama de “cerrados” piauienses
                         são, na verdade, estruturas tabulares em forma de chapadões, caracterizados
                         por uma superfície plana ou levemente ondulada, com inclinação para
                         noroeste da ordem de 2 m a 3 m/km, encontrandose limitadas por escarpas
                         abruptas que chegam a atingir mais de 100 metros de altura. Essas estruturas
                         tabulares ou chapadões possuem altitudes em torno de 600 metros e recebem
                         a denominação de “serras” (Uruçuí, Mundo Novo, do Gongo, Calhaus, etc.),
                         sendo resultantes do processo erosivo de esculturação do relevo devido,
                         principalmente, aos diferentes graus de resistência e inclinação dos
                         sedimentos, aliados ao trabalho erosivo dos rios.



       A ocupação da região se deu, historicamente, pelos bandeirantes, que
começaram a colonização do estado no sentido do interior para o litoral, caso único no
Nordeste. Desde esses tempos, a exploração do potencial agropecuário da região se deu
num sistema extremamente primitivo, onde as áreas “colonizadas” se concentravam nos
arredores dos cursos d’água, e o cerrado era explorado para a pecuária no período das
águas, através da queima da vegetação durante o período seco, para que o gado se


                                                                                                   1
alimentasse das brotções de cerrado nas águas. Estas vastas fazendas de Gado foram
formadas por colonos vindos de lugares como, pricipalmente, a Bahia, São Paulo, além
de bandeirantes e sesmeiros.

       A partir da década de 70 o governo estadual passou a promover a colonização da
região sudoeste do Piauí tendo em vista grandes empresas que levassem
desenvolvimento agrário à região.Esse arcabouço institucional provido pelo governo
estadual atraiu empresas e investidores individuais para a região. Esses empreendedores
vieram principalmente, segundo Reydon & Cornelio (2006), do Rio Grande do Sul,
Pernambuco, São Paulo e Mato Grosso.

       A análise do cerrado como um sistema estratégico para a produçaõa agrícola do
Brasil se deu na mesma época, entre as décadas de 60 e 70. A inserção da agricultura na
contexto’ de desenvolvimento geral do Brasil começou no governo de Juscelino
Kibitschek, no seu conhecido “Plano de Metas” (SILVA, 2000). Porém, a intervenção
do estado na região dos cerrados (mais especificamente em MS e GO) começou ainda
no governo Vargas, através do Projeto De Colonização Dos Cerrados.

       A intervenção institucional só foi realmente efetiva e eficaz quando se traduziu
na facilitação de aquisição de terras e criação de planos de financiamento para
empreendimentos com projetos para o Cerrado. Os principais programas levantados por
Silva, 2000, foram: o Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba - PADAP;
o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados - POLOCENTRO; e o Programa de
Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvolvimento dos Cerrados – PRODECER.

       A agricultura, mais especificamente a sojicultura, para ser contextualizada no
estado do Piauí, deve primeiramente ser abordada no contexto nacional. Há números
importantes, disponibilizados pela CONAB, que devem ser aqui citados. A área
plantada no Brasil com a cultura, desde a safra 1976/77 aumenta, em média, 4% ao ano,
saindo de 6,9 milhões de hectares na safra supracitada, para uma projeção de 27 milhões
de hectares na safra 2012/13. A produção também aumentou, no período, em média 7%
ao ano, porém a sua variabilidade é muito alta. O desvio padrão dos números de
produção são da ordem de 16%.




                                                                                     2
Figura 1 – Distribuição da Produção Nacional de Soja entre 1976 e 2011. Fonte: CONAB, elaboração própria.




                                                                                                            3
Figura 2 - Distribuição da Área Nacional plantada com Soja entre 1990 e 2011. Fonte: IBGE, elaboração própria




                                                                                                                4
Nas páginas anteriores é possivel ver a evolução não só da produção nacional
de soja, como também a distribuição reginal dessa produção. Fica evidente o ganho
de expressividade da região Centro-Oeste, que, a partir da safra 1998/99 passou a ser
a região com a maior produção do grão no país, e desde então se mantém nessa
posição de líder nacional. Porém, em termos relativos, o crescimento anual da
produção no CO no período analisado foi de 14%, com um CAGR (Compound
annual growth rate – indicador que homogeneiza o crescimento de uma série ao
primeiro e último valor, excluindo a variabilidade) 13%, enquanto no nordeste
tivemos números da ordem de 78% de crescimento médio anual, e um CAGR de
28%, numa série que começou na safra 1979/80, ano em que há o registro da
primeira colheita de soja na região.

       Trazendo esses dados para a realidade do estado do Piauí, o primeiro registro
de colheita foi na safra 1993/94. Esse tipo de dados evidencia a recente exploração
da região para fins agrícolas no modelo já usado nos cerrado do CO, BA e MA há
mais tempo.

       Os principais municípios produtores de grão são: Uruçuí, Baixa Grande do
Ribeiro, Santa Filomena, Ribeiro Gonçalves e Bom Jesus. Todos esses municípios
estão no extremo oeste do estado, fazendo divisa ou muito próximos do Maranhão,
com excessão de Bom Jesus. Segundo os dados da Produção Agrícola Municipal
(PAM), disponibilizados pelo IBGE, a distribuição da produção no PI fica da
seguinte forma:




                                                                                   5
Distribuição da Produção do Soja no PI
                     1400

                     1200
 milhares de toneladas


                     1000

                         800

                         600

                         400

                         200

                          0



                               Uruçuí                      Baixa Grande do Ribeiro       Ribeiro Gonçalves

                               Santa Filomena              Outros                        Bom Jesus
Figura 3 - Distribuição da produção municipal de soja no Piauí. Fonte: IBGE




Figura 4 - Área plantada, produção e produtividade de soja no estado do Piauí. Fonte: CONAB




                                                                                                             6
2. Objetivo


       Determinar a viabilidade de produção agropecuária em uma real fazenda
localizada no sul do Piauí, descrita como Fazenda São João, bem como descrever as
etapas envolvidas na conversão dessa área em terra produtiva, destacando aspectos
positivos e negativos do modelo de exploração adotado e da região escolhida.




3. Análise externa

   3.1.        Infraestrutura disponível

       O local conta com estrutura deficitária em termos agrícolas e sociais. Os
centros de distribuição já consolidados para compra de implementos, máquinas e
insumos estão localizados nos municípios de Barreiras, BA, e Balsas, MA. Os
municipios ficam distantes, respectivamente, 450 e 520 km de Bom Jesus, PI.
       Entretanto, a localidade está em franca expansão agrícola, e toda a
movimentação gerada atrai empreendimentos que visam sanar essa carência em
todos os setores. Já há varias revendas de insumos e máquinas no município, embora
os centros de distribuição se localizem geralmente nos outros municípios citados. O
destino da produção agropecuária, em especial da soja, é essencialmente o município
de Uruçuí. Lá está instalada uma esmagadora do grão pertencente à Bunge.
       Na cidade existem duas universidades públicas, a UFPI e a Universidade do
Estado do Piauí. O público atraído pelas universidades e pela dinamização da
economia regional é mais exigente e demanda maiores esforços públicos para sanar
as carências de habitação, saúde, transporte, comércio, etc. existentes.


   3.2.        Logística

       Como citado anteriormente, os polos agrícolas regionais são Balsas e
Barreiras. No estado do Piauí, os municipios de Uruçuí e Bom Jesus são os destaque
na região sudoeste em relação ao desenvolvimento agrário.




                                                                                 7
O escoamento da soja em grão destinada ao consumo interno é feito para a
    cidade de Uruçuí, e o restante da produção é exportada através do Porto de Itaqui.
    Segundo reportagem publicada no site http://imirante.globo.com/1, a Vale assinou
    contrato de longo prazo com a Ceagro Agronegócios - empresa sediada em Balsas
    (MA) que atua no chamado Corredor Norte de Exportação e que recentemente
    iniciou suas operações internacionais, com a exportação de grãos - para transporte e
    embarque marítimo de 240 mil toneladas de grãos por ano, pela Estrada de Ferro
    Carajás (EFC) e Ferrovia Norte-Sul (FNS). Esse contrato é um indício não só da
    maior abertura do porto de Itaqui à exportação de grãos, bem como da própria
    ferrovia de Carajás ao seu transporte.

             Como a exportação de grãos pelo porto ainda é relativamente incipiente, em
    comparação a todo o potencial que a região tem, essas rotas não estão consolidadas.
    A consolidação depende da ampliação da capacidade do porto e também sua
    tecnificação para exportação de grãos. Esse crescimento deve acontecer muito em
    breve, já que as obras da ferrovia norte-sul estão ocorrendo, e haverá uma área
    produtora de grãos muito grande englobada pelo empreendimento. Regiões que hoje
    exportam sua produção por Santos e Paranaguá, deverão usar a ferrovia. Ela
    beneficiará as áreas produtoras do vale do araguaia no MT, e os estados do TO, BA,
    GO, MA e PI assim que sua estrutura estiver pronta para tal.

             As opções de transporte no NE, porém, não se limitam apenas ao porto de
    Itaqui. Há ainda grandes portos como o de Suape, em Pernambuco, e o de Pecém, no
    Ceará.

             Esses dois portos estão contemplados no plano de expansão da ferrovia
    transnordestina, que, embora esteja atrasado, deverá ser concluído ainda nessa
    década. A princípio, a ferrovia ligará os dois portos ao município de Eliseu Martins,
    no Piauí, distante 147 km de Bom Jesus.




             As principais distâncias das rotas de escoamento citadas anteriormente , tanto
    da fazenda quanto de Bom Jesus, estão resumidas na tabela 1.




1
 Disponível em: http://imirante.globo.com/noticias/pagina226094.shtml
                                                                                         8
2
 Disponível em: http://www.ceagro.net/home.htm
Tabela 1 - Matriz de distâncias da fazenda e de Bom Jesus, PI.
                                Faz. São João                    Bom Jesus   Eliseu Martins
  Faz. São João                        -                             -              -
    Bom Jesus                       48 Km                            -              -
  Eliseu Martins                   195 Km                         147 Km            -
       Itaqui                     1.588 Km                       1.540 Km           -
       Suape                      1.326 Km                       1.278 Km       1.131 Km
      Pecém                       1.098 Km                       1.050 Km        903 Km


         Além dos destinos de importação, o mercado interno consome grande parte
do grão produzido na região sul do Piauí, por isso, um dos principais destinos da soja
regional é a esmagadora localizada em Uruçuí, como citado anteriormente.
Enfatizam essa informação os dados divulgados pelo IBGE no estudo “Destino da
Produção Agropecuária”, onde constatam-se mais de 10 municípios onde o destino
da soja é Uruçuí.

         O acesso para a cidade, em rota vinda do centro sul, pode ser por Brasília –
Barreiras, de carro, ou, no caso de transporte aéreo, as cidades mais próximas com
aeroportos e vôos comerciais são Teresina (600km) e Barreiras (450km).




    3.3.     Comportamento e expectativas para os mercados de
        Soja e de terras – contextualização geral

         O mercado de grãos, mais especificamente o de soja e o de milho, atingiu
cotações recordes esse ano, tanto para venda futura quanto para o mercado spot,
como podemos ver no gráfico a seguir, elaborado com dados do CEPEA.




                                                                                              9
Soja Spot Paraná
        R$90
        R$80
        R$70
        R$60
        R$50
        R$40
        R$30
        R$20
        R$10
                   R$-
                          07/97
                                  04/98
                                          01/99
                                                  10/99
                                                          07/00
                                                                  04/01
                                                                          01/02
                                                                                  10/02
                                                                                          07/03
                                                                                                  04/04
                                                                                                          01/05
                                                                                                                  10/05
                                                                                                                          07/06
                                                                                                                                  04/07
                                                                                                                                           01/08
                                                                                                                                                   10/08
                                                                                                                                                           07/09
                                                                                                                                                                   04/10
                                                                                                                                                                           01/11
                                                                                                                                                                                   10/11
                                                                                                                                                                                           07/12
Figura 5 - Preços médios da soja no Paraná. Fonte: CEPEA.

                         Já para o mercado reginal (Uruçuí), é visível certa variabilidade de preços
que, em certos momentos, se descola do mercado internacional. Isso se deve a
variações regionais de oferta e demanda de soja.


                                                          Soja Futura - Vencimento em 05/13                                                                                        2,1
                         39
                                                                                                                                                                                   2,05
                         37
Cotação (US$/sc)




                         35                                                                                                                                                        2




                                                                                                                                                                                                   Dólar
                         33
                                                                                                                                                                                   1,95
                         31
                                                                                                                                                                                   1,9
                         29
                                                                                                                                                                                   1,85
                         27

                         25                                                                                                                                                        1,8
                              1/4                  1/5                    1/6                1/7                  1/8                     1/9               1/10

                                                          CBOT                            BM&F                            Uruçuí - Spot                              Dólar

Figura 6 – Comportamento do mercado internacional e regional de soja, e do Dólar. Fonte: CBOT, BM&F, Safras
e Mercado e Banco central do Brasil.

                     A tendência é, como pode-se observar no gráfico relativo aos preços futuros,
que o mercado de soja se mantenha estável em altos patamares até a colheita da
próxima safra norte americana que, caso seja dentro dos padrões esperados, deve
promover a normalização da relação estoque/consumo mundial de soja.
                     Por outro lado, o mercado de terras, indexado ao preço da saca de soja, também
se beneficiou da valorização do grão. Na região do sul do Piauí, onde a presença de


                                                                                                                                                                                           10
fundos de investimento e grandes investidores individuais é marcante, a especulação
gerada pelo mercado de soja deve se somar à especulação “natural” observada na
região, alavancando exponencialmente os preços das terras agrícolas.
       O mercado de terras tem ficado em grande visibilidade nos últimos tempos,
devido à sua valorização constante e progressiva, mesmo com a crise internacional.
No Brasil, mais especificamente na região de Bom Jesus, PI, temos a seguinte
situação:




Figura 7 - Valorização anual de terras – CAGR – Bom Jesus. Fonte: Relatório anual de terras, FNP. Elaboração
própria.

       O mercado de terras na região de Bom Jesus apresenta, dentro da série
analisada (2002 – 2012) , uma média anual de valorização na ordem de 25%. As
terras agrícolas valorizaram, na média, cerca de 22% a.a., e o cerrado agrícola teve
ganhos anuais médios da ordem de 34%. Em termos absolutos, é graficamente
visível o salto de preços ocorrido entre 2007 e 2008, especialmente nas terras
agrícolas de alta produtividade, onde a valorização foi de cerca de R$2.000/ha no
período. Hoje vivenciamos outra fase de escalada dos preços de terras agrícolas,
devido à alta cotação da soja e do milho.




                                                                                                           11
Figura 8 - Evolução do Preços de terras – região de Bom Jesus. Fonte: Relatório anual de terras, FNP. Elaboração
própria.




         As perspectivas são de que a valorização continue no mesmo ritmo ou se
acelere, uma vez que a franca expansão da região traz facilidades e infraestrutura que
antes não haviam. Terras de alta produtividade em em Balsas, MA, chegam a valer
R$8.000 ha-1, e em Luíz Eduardo Magalhães (LEM) passam dos R$14.000 ha-1.
Embora a região do sul do Piauí apresente menor pluviometria do que Balsas e LEM,
e não tenha potencial de irrigação nas chapadas, como em LEM, está claro que ainda
há um bom espaço para a valorização das terras em questão.
         Além disso, o ganho com a transformação do cerrado em terra agrícola é
considerável, além de proporcionar ganhos com a produção agrícola em si.


4. Caracterização Geral Da Base Física Agrícola

    4.1.           Climática e balanço hídrico

         Segundo a classificação climática de Köppen (KÖPPEN E GEIGER, 1928), o
clima de Bom Jesus é o Aw, ou seja, clima de savanas, com inverno seco e chuvas
máximas no verão, presente nas regiões N, CO e parte do SE. A cidade está, assim
como 99% do estado do Piauí (ANA, 2012), inserida na bacia hidrográfica do rio
Parnaíba. A bacia ocupa mais de 344 mil km², ou 3,9% do território nacional.



                                                                                                             12
Porém, do ponto de vista agrometeorológico, Burgos (apud Rolim et al. 2007)
diz que classificações descritivas, tal qual a de a de Köppen, são mais voltadas a
estudos geográficos e climatológicos, pois ela necessita de poucos parâmetros,
omitindo situações complexas da relação do clima com as culturas agrícolas.
         A partir disso, podemos concluir que os sistemas agrícolas demandam uma
classificação mais detalhada do clima, que explicite a influência do clima sobre as
culturas. Hoje, o sistema mais adotado é o que foi proposto por Thornthwaite &
Mather (1955) onde o balanço hídrico pode ser utilizado para caracterização da
disponibilidade hídrica e da distribuição de chuvas ao longo do ano.
         Abaixo segue figura com o balanço hídrico relativo à normal climatológica de
1961-90, de Bom Jesus, PI.




Figura 9 - Balanço hídrico climatológico de Bom Jesus, PI. Fonte: INMET.




       Os dados usados na confecção desse balanço hídrico normal foram os que
constam na tablea 2, e estão disponíveis na Embrapa monitormento por satélite:




                                                                                  13
Tabela 2 - Balanço Hídrico normal de Bom Jesus - PI
     Mês                 T           P           ETP    ARM     ETR     DEF     EXC
                       (°C)        (mm)                 (mm)    (mm)    (mm)    (mm)
    Jan                25,8          173          127      93     127       0        0
    Fev                25,6          175          114     100     114       0      55
   Mar                 25,5          182          122     100     122       0      60
   Abr                 25,7          138          119     100     119       0      19
   Mai                 26,1           26          127      36      90      38        0
    Jun                25,7            5          115      12      29      86        0
    Jul                25,9            6          122       4      14     107        0
   Ago                 27,7            5          158       1       8     150        0
    Set                28,9           20          183       0      21     162        0
    Out                28,2           99          176       0      99      77        0
   Nov                 26,8          146          144       2     144       0        0
    Dez                26,1          181          136      47     136       0        0
  TOTAIS              318,0        1.156        1.641     496   1.022     620     134
  MÉDIAS               26,5           96          137      41      85      52       11

         De maneira geral, fica evidente que a disponibilidade de água no solo vai dos
meses de Novembro até Abril, sendo o restante do ano muito seco, com déficit
hídrico no mês mais seco (setembro) passando dos 150mm.
         Dados que corroboram com a Figura 9 podem ser obtidos na base de dados da
Agência Nacional de Águas (Hidroweb – ANA), e estão resumidos na figura 11.
Com relação aos demais municípios da região sudoeste do Piauí, é facilmente
identificável a faixa onde a precipitação anual de 1.000mm anuais acaba e começa a
decair, conforme a figura 10. Nela constam a divisão mesorreginal do Piauí e outros
estados vizinhos, feita pelo IBGE, e as isoietas de precipitação do Brasil,
disponibilizadas pelo CPRM (Serviço Geológico do Brasil). Além disso o mapa
contém as divisões de biomas na região, onde se evidencia que Bom Jesus está bem
próximo da divisa oficial entre os biomas caatinga e cerrado. Como sabemos que os
biomas não se dividem numa linha, mas sim em uma faixa de transição (ecótono),
portanto, o município em questão já apresenta regiões onde a Caatinga é a vegetação
predominante, principalmente em áreas de solos rasos, frequentes nos “baixões”.




                                                                                   14
Figura 10 - Cidades do Piauí, biomas e isoietas da região. Fonte: IBGE e CPRM. Elaboração própria.



                                                                                                     15
Fazenda São João




Figura 11 - Distribuição de chuvas da 4 estações meteorológicas disponíveis no banco de dados da ANA




                                                                                                       16
   Risco Climático em Bom Jesus

       A análise de risco climático visa apenas avaliar a ocorrência de veranicos na
região em questão. Estudos sobre o zoneamento de risco já foram realizados, e
apresentam conclusão bastante clara, principalmente sobre a época de semeadura para a
soja. Segundo Andrade Júnior et al. (2001), a região do cerrado piauiense é favorável
para o cultivo de milho e de soja em diferentes combinações entre municípios, épocas
de semeadura e tipo de solo. O autor estimou diversos índices e usou como base o
Índice de Satisfação da Necessidade de Água (ISNA) observado entre as fases de
floração e enchimento de graõs (estádios R1 até R5-R6), período em que o coeficiente
de cultura (Kc) está mais alto, ou seja, a planta tem o máximo de IAF e,
consequentemente, alta demanda de água. Portanto, essa é a época em que a espécie está
na sua fase mais sensível ao déficit hídrico, e é um bom indicativo para a visualização
do risco climático associado à data de semeadura.

       Doss et al., 1974 (apud Farias, 2001, p. 417), reitera os argumentos expostos
anteriormente afirmando que quando o déficit hídrico ocorre nos primeiros estádios de
desenvolvimento vegetativo, a soja recupera-se melhor do que outras culturas. Ela pode
tolerar curtos períodos de déficit pois tem sistema radicular profundo e período de
florescimento relativamente longo (MOTA, 1983).

       O ISNA é calculado como a razão entre a evapotranspiração máxima (ETm -
independe do teor de água no solo, usa apenas variáveis atmosféricas e geográficas) e a
evapotranspiração real (ETr - estimada com base no teor de água no solo), portanto:




       Segundo STEINMETZ et al. (1985), há três classes de ISNA para a cultura da
soja, que são:

   ISNA ≥ 0,65 – Região agroclimática favorável, com pequeno risco climático;

   ISNA ≥ 0,55 e < 0,65 – Região agroclimática intermediária, com médio risco
      climático;

   ISNA < 0,55 – Região agroclimática desfavorável, com alto risco climático.




                                                                                      17
Para o zoneamento de risco feito pelo Ministério da Agricultura (MAPA),
relativo às épocas de semeadura de soja e outras culturas anuais, é usado um ISNA
superior a 0,55 em 80% dos anos estudados. A forma mais correta para se avaliar o risco
climático de certa cultura em determinada região é efetuar a modelagem da
produtividade da cultura com base no efeito do déficit hídrico.

       Dentre as séries de dados usadas no estudo climático, três têm mais de 30 anos,
porém há anos com falhas, sendo que as séries mais extensas têm 28, 27 e 29 anos sem
falhas (Conceição, Barra Verde e Bom Jesus, respectivamente).

       Para a análise dos dados da ANA foi feito um balanço hídrico sequencial com o
registro de chuvas mantido pela fazenda, relativo à safra 2011/12, onde e possível
observar que, para um solo fértil de textura média (CAD = 0,8mm/cm e Z = 40cm), o
período sem precipitação necessário para que o ISNA, com a soja em fase reprodutiva,
caia para menos de 0,55 é de cerca de 7 dias. Esse valor de ISNA durante os estádios R 1
(florescimento) até o início de R6 (grãos cheios ou completos) impacta diretamente na
produtividade, é é um ótimo indicador de risco. Para cultivares de ciclo médio, o
período citado, com semeadura ocorrendo em novembro, vai do último terço de
dezembro até o primeiro terço de abril. Esse foi o período em que a ocorrência de 7 ou
mais dias consecutivos sem chuva foi avaliado.

       Nas três séries a frequência de veranicos de 7 ou mais dias na época citada ficou
entre 1,8 e 2,4 por ano-safra. Portanto, fica evidente que a região apresenta com
altíssima frequência esse tipo de evento adverso ao desenvolvimento da cultura. Como o
suprimento de água via irrigação não é possível, o único método de aumentar o período
em que a cultura pode ficar sem precipitação é o aumento da profundidade do sistema
radicular (Z). Fica claro que um perfil de 40cm é insuficiente para mitigar os riscos
climáticos implicitos à região. Um perfil de 60cm já eleva a estimativa do período em
que o ISNA fica superior a 0,55 para 10 dias consecutivos sem reposição hídrica.

       Além disso, o fenômeno el-niño tem, geralmente, impactos diretos sobre as
precipitações da região. O el-niño causa mudanças na circulação atmosférica global que,
via de regra, ocasionam secas severas na região nordeste, incluido o sul do Piauí. O seu
efeito antagônico, conhecido como la niña, geralmente interfere de maneira oposta o
regime hídrico da região, aumentando-o. O que causa essas mudanças é o deslocamento
das células de circulação atmosféricas do semi-árido e da amazônia. A figura 12 retrata


                                                                                     18
essa relação entre a temperatura superficial do Oceano Pacífico e a pluviometria de
Bom Jesus.




Figura 12 - Comportamento climático em Bom Jesus x ocorrência e intensidade de el-niños e la-niñas. Fonte: NOAA,
ANA e INPE. Elaboração própria.

         O Niño 3.4 é um idicador usado pelo NOAA (national oceanic and atmosferic
administration – EUA) para se referir à temperatura superficial média da água de uma
determinada fração do oceano pacífico, situada nas proximidades da Oceania, dentro de
determinado mês. Esse índice é usado para compor o ONI - oscilation niño index - que
consiste na média móvel de três meses do Niño 3.4.

         O índice ENOS, divulgado pelo INMET, é a classificação da intensidade com
que o fenômeno ocorreu em determinados anos (-3 a 3, de la niñas intensos a el niños
intensos). Na figura 12 estão representadas as anomalias de precipitação mensal de cada
uma das 4 estações em questão em relação à normal climatológica de 1961-1990 de
Bom Jesus (BJ, BJ2, BJ3 e BJ4).

         As séries estudadas apresentaram correlação de Pearson bem fraca (<19%) com
as anomalias de temperatura no Pacífico, usando-se tanto o Niño 3.4 quanto o ENOS.
Porém, verificou-se que essas correlações são negativas, o que nos induz a pensar que,
de modo geral, quanto mais alto o Niño 3.4, mais negativas tendem a ser as anomalias
de precipitação em Bom Jesus. Ao mesmo tempo, a correlação de Pearson encontrada
usando-se as precipitações de cada talhão da fazenda ficou, na média, em -18%.
Portanto, seria necessário fazer um estudo com outras sérias, de preferência sem falhas e
longas, com outros indicadores relacionados às anomalias da temperatura superficial do


                                                                                                            19
oceano Pacífico (Niño 1+2, Niño 3 e Niño 4), para inferirmos sobre a relação entre
precipitações em Bom Jesus e o fenômeno el niño.




    4.2.          Relevo

       O relevo da região foi determinado em função das imagens obtidas pelo radar
SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) e tratadas pela Embrapa Monitoramento
por Satélite. A resolução espacial original das imagens é de 90 metros.

       A partir delas foram gerados mapas de elevação e declividade. O mapeamento do
relevo é essencial para a agricultura de alta tecnologia, já que a mecanização é
intimamente relacionada a esse fator. Ele é usado na determinação das classes de
aptidão agrícola, que, por sua vez, têm papel direto na tomada de decisão com relação
ao uso do solo em cada área.




Figura 13 - Relevo na região da Fazenda São João.




                                                                                  20
Foram determinadas sete classes de declividade para a área, baseadas no que foi
proposto por Ramalho Filho & Beek (1995), associado com o relevo apto para colheita
mecanizada da cana, cultura muito afetada por relevos desfavoráveis à sua mecanização.




      Tabela 3 - Graus de limitação por susceptibilidade à erosão conforme Ramalho Filho & Beek (1995).
                   Níveis de declive                    Grau de limitação
                          0 a 3%                    Plano/praticamente plano
                          3 a 8%                          Suave ondulado
                         8 a 13%                    Moderadamente ondulado
                        13 a 20%                              Ondulado
                        20 a 45%                           Forte ondulado
                       45 a 100%                             Montanhoso
                          >100%                               Escarpado
                Fonte: Filho & Beek (1995) apud Fink et al.

       A declividade da região foi estimada no software QuantumGis através de um
modelo numérico de terreno (MNT) gerado pera a área analisada. Na região, os locais
de chapada possuem declividade média inferior a 3%, apenas nas proximidades das
escarpas as declividades ultrapassam esse limite, mas não chegam a mais de 8%.


   4.3.         Solos

       Os solos predominantes na região das chapadas são os latossolos amarelos
distróficos, podendo ocorrer associações com neossolos quartzarênicos. Esses solos se
modificam conforme a proximidade com as escarpas, evoluindo, muitas vezes, para
plintossolos. As concreções litoplínticas abundantes caracterizam esses solos, de acordo
com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, como Plintossolos pétricos
concrecionários, sem uso agrícola. Nas porções chamadas de “baixões”, há ocorrência
de Argissolos, Cambissolos e Neossolos litólicos, além de manchas com neossolos
quartzarênicos e outros tipos de solos, muitas vezes com presença de salinidade elevada.




                                                                                                          21
Figura 14- Mapa de solos do Brasil. Extraído do Projeto SomaBrasil.

         E, mais especificamente, o mapa de solos de Bom Jesus, PI:




Figura 15 - Mapa exploratório de Solos de Bom Jesus.


                                                                      22
Na figura a seguir podemos ver um Latossolo amarelo típico, com horizonte A
em tonalidade mais escura devido à presença de matéria orgânica, e a fração mais
profunda em tonalidade amarela. Embora não houvesse uma carta de Munsell à ocasião
das visitas, acredita-se que o matiz do horizonte B inteiro seja igual ou maior do que
7,5YR.




Figura 16 - Coloração do latossolo da região.




                                                                                   23
Figura 17 - Exemplo de afloramento de petroplintita nas proximidades das escarpas.



    4.4.           A cultura da Soja

                   a. Classificação botânica e variedade(s)

                   A soja é uma espécie originária de uma região da China denominada de
Manchúria, sendo considerada uma das culturas mais antigas a serem cultivadas
(EMBRAPA 2003). No decorrer do tempo, o cultivo da soja foi sendo disseminado pelo
mundo por intermédio dos viajantes ingleses e por imigrantes japoneses e chineses.
          A soja pertence à classe das dicotiledôneas, família Leguminoseae e subfamília
Papilionoides. A espécie cultivada é designada com o nome científico de Glycine max
(L.) Merr.. A soja apresenta um sistema radicular do tipo pivotante, com uma raiz
principal bem desenvolvida e raízes secundárias em grande número, capazes de se
associar simbioticamente a bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico formando
pequenas protuberâncias nas superfícies dessas raízes, que são conhecidos como
nódulos. Essas bactérias são, via de regra, estirpes da espécie Bradyrhizobium
japonicum.




                                                                                     24
O caule é herbáceo, ereto e com porte variável de 0,60 cm a 1,50 m, pubescentes
de pelos brancos, pardacentos ou tostados. O caule ainda é bastante ramificado, com os
ramos inferiores mais alongados e todos os ramos formando ângulos variáveis com
haste principal.



               b. Justificativas técnicas e de comercialização

       A soja é a principal cultura produzida pela agricultura brasileira, com a maioria
da produção destinada à alimentação animal por ser uma alimento proteíco. O estado do
Piauí produz mais de 400 mil hectares de soja e está se consolidando no cultivo da
oleaginosa.
       Para a região de Bom Jesus a comercialização pode ser feita por meio de duas
principais tradings, que são a Bunge, localizada na serra do quilombo, e a Ceagro,
localizada em frente à Bunge. Como o Nordeste é o segundo maior mercado
consumidor do país, boa parte do grão é processada na região para consumo interno, e
uma parte é exportada pelo porto de Itaqui, em São Luís, no Maranhão. O porto citado
serve principalmente à Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que escoa o minério de
ferro extraído da serra de Carajás através dele para os principais centros consumidores
mundiais. A Ceagro Agronegócios firmou contrato para transporte e embarque marítmo
de cerca de 240 mil toneladas anuais de grãos. Esse assunto será abordado novamento
no tópico Logística.



               c. Recomendações Agronômicas
       Época de Semeadura
       Os fatores mais importantes para determinação da data de plantio são: foto
período, temperatura e a precipitação.
       Para o estado o Piauí o período mais viável para a semeadura da soja situa-se,
segundo Andrade Júnior et al. (2001), entre os dias 10 de novembro e 20 de dezembro,
para solos de textura média a arenosa, com uma janela útil de aproximadamente 40 dias
para efetuar o plantio. Esse período e importante, pois segundo BALASTREIRE (1987),
a inadequação da capacidade das máquinas em realizar a operação dentro dos prazos
está associada ao conceito de pontualidade definido pela "capacidade de efetuar as
operações na época em que a qualidade e/ou quantidade de um produto são otimizadas”.


                                                                                     25
Nesse contexto, recomenda-se que o dimensionamento do parque de máquinas
seja feito com base na estimativa de produtividade da cultura conforme a data de sua
semeadura. Ao isolar o fator “data de semadura” na composição da produtividade da
soja, podemos inferir os ganhos intrinsecos às melhores épocas de semeadura. Isso
possibilita estimar um volume de maquinário que maximize os ganhos do produtor,
onde se tenha noção do limite em que os ganhos de produtividade não jusitificariam o
incremento do parque de máquinas.
         Um exemplo dessa modelagem pode ser visto na figura 18, realizado para a
região de Piracicaba, São Paulo.




       Figura 18 - Renda líquida esperada em função de diferentes intervalos de semeadura em Piracicaba, SP.

         Essa estimativa demanda uma série de dados sobre a área semeada e os
conjuntos mecanizados (trator + semeadora) disponíveis, como: área semeada (ha);
textura do solo; preço do trator em função da potência demandada; preço da semeadora;
espaçamento entre linhas; vida útil das máquinas; capacidade operacional das máquinas;
custo da mão de obra; preço do combustível; preço da saca de soja, etc.


         População de Plantas
         Para a região de Bom Jesus, é recomendada uma população de 10 a 12 plantas
  -1
m , o que deverá totalizar algo entre 220 e 260 mil plantas.ha-¹, dependendo das
características de cada cultivar, época de semeadura, fertilidade e textura do solo e
finalidade da cultura.
         Para cultivares de ciclo tardio, com maior intensidade de ramificação que os
precoces, é recomendada a semeadura em espaçamentos maiores, com menor




                                                                                                               26
distribuição de plantas por metro, já para plantas precoces é recomendado o plantio mais
adensado.
       De um modo geral, quando um espaçamento é reduzido, deve-se diminuir o
número de plantas por metro de sulco e, com isso, podemos favorecer o plantio em
velocidades pouco maiores que o recomendado para espaçamentos maiores, visto que a
linha da semeadora irá trabalhar em menor rotação no disco em caso de diminuição do
numero de sementes.


       Fertilização
       A adubação nitrogenada não é recomendada para a soja já que se faz inoculação
das sementes. A simbiose e a mineralização da materia orgânica conseguem suprir a
necessidade de nitrogênio da cultura, a adubação só seria justificada em solos ácidos
com baixo teor de material orgânico.
       A adubação de fósforo é necessária especialmente nos nossos solos de cerrado,
onde os teores de fósforo disponível são baixos. Uma medida muito tomada na
atualidade é a adubação de fósforo à lanço e realização da semeadura apenas com
sementes, não necessitando da caixa adubadora, aumentando assim a eficiência da
operação de plantio. Uma das principais características do fósforo usado como
fertilizante é sua alta reatividade com as argilas intemperizadas, tais como a caulinita e
os óxidos de ferro e alumínio, que resulta na fixação desse nutriente pelos minerais de
argila e indisponibilidade da maioria do fósforo às plantas.
       Portanto, a prática citada, conhecida como fosfatagem, é extremamente
ineficiente, além de ser feita em solos naturalmente pobres neste elemento, o que agrava
ainda mais aa perdas de produtividade devidas à operação de adubação fosfatada em
pré-semeadura a lanço.
       O potássio é elemento importante na soja e deve ser fornecido no sulco de
plantio e em solos arenosos ou para altas doses deve-se utilizar adubação de cobertura
em V4 ou potassagem em pré-plantio.




                                                                                       27
Tabela 4 - Extração dos principais macronutrientes para a soja. Vitti (2010)
Parte da Planta           N               P2O5            K2O             Ca     Mg    S
                          kg/t
Grãos                     51              10              20              3      2     5.4
Restos Culturais          32              5.4             18              9.2    4.7   10
Total                     83              15.4            38              12.2   6.7   15.4
% Exportada               61              65              53              25     30    35


         Preparo do solo


         A semente de soja, com germinação epígea e com teor de umidade próximo a
50%, exige um bom preparo de solo para garantir a emergência da plântula. O preparo
do solo deve adequar o terreno para que haja a garantia do contato solo - semente. Caso
na análise de solo obtida da área a saturação por bases (V%) esteja menor que 50%,
recomenda-se a aplicação de calcário.



         Onde:
         Nc = Necessidade de calagem
         Vd = Saturação por bases desejada
         Va = Saturação por bases atual
         PRNT = Poder de reatividade do calcário.
         O sistema adotado de preparo será o convenrcional, com uma aração
relativamente profunda (15-20 cm) seguida por duas gradagens niveladoras efetuadas
próximas a semeadura com o objetivo de destorroar o solo, eliminar as sementes de
plantas daninhas, uniformizar o terreno e incorporar o calcário aplicado.
         A princípio, toma-se a V% de 50% como a desejada, embora níveis entre 60 e
70% sejam os mais recomendados, devido aos altos custos de correção do solo que um
aumento dessa magnitude na saturação por bases imporia.




                                                                                              28
Semeadura


       É a prática agrícola que consiste em distribuir uma quantidade determinada de
sementes na superfície do solo, em sulcos, com o objetivo de proporcionar boas
condições para a germinação e estabelecimento de uma lavoura.
       A base para uma boa produção está na distribuição de quantidades adequada de
sementes, profundidade uniforme e específica, para aproveitamento máximo das
características do ambiente.


       Sementes


       A utilização de boas sementes é fundamental para o estabelecimento da cultura e
colheita de produções elevadas, deve-se adquirir sementes certificadas ou fiscalizadas,
com produção efetuada sob normas rígidas.
       O tratamento das sementes com fungicidas, inseticidas e micronutrientes deve
ser realizado antes do plantio, não tratar e armazenar o produto. Os produtos devem
usados podem interferir na próxima etapa, a inoculação das sementes, por isso deve-se
dar preferência aos produtos que menos prejudiquem a bactéria.


       Inoculação


       A Fixação biológica do nitrogênio (FBN) é a principal fonte de N para a cultura
da soja. Bactérias do gênero Bradyrhizobium (mais especificamente B. Japonicum),
quando em contato com as raízes da soja, infectam as raízes, via pelos radiculares,
formando os nódulos. A FBN pode, dependendo de sua eficiência, fornecer todo o N
que a soja necessita. Para tal deve-se tomar alguns cuidados como fazer a inoculação à
sombra e efetuar a semeadura no mesmo dia, especialmente se a semente for tratada
com fungicidas e micronutrientes, mantendo a semente inoculada protegida do sol e do
calor excessivo; evitar o aquecimento das sementes durante o processo.


       Semeadura propriamente dita


       As semeadora devem distribuir uniformemente as sementes no sulco, que deve
possuir profundidade média de 5 cm, (pode-se aprofundar a semeadura em caso de


                                                                                    29
semeadura em épocas de menor disponibilidade de água). A distribuição deve garantir
as condições idéias de germinação à semente de soja, com uma cobertura de terra de 2 a
3cm, uma boa semeadora não causa danos à semente e aplica o adubo de modo que não
haja contato entre adubo e semente.
       A estimativa da quantidade necessária de sementes pode ser efetuada de acordo
com a seguinte formula:



       Onde:
       Q = Quantidade de sementes (Kg)
       P = peso de 100 sementes (g)
       A = Area cultivada (ha)
       D = Numero desejável de plantas por metro de sulco
       G = Germinação
       E = Espaçamento
       O consumo médio de sementes é em torno de 35 a 50 kg.ha-¹.


       Cultivares


       Há uma série de cultivares disponíveis e já testados na região. Empresas como a
Monsanto, Pioneer, e a próprie Embrapa já tem recomendações de cultivares específicos
para o Sul do Piauí.


       Cultivo


       O controle de plantas daninhas é uma prática de elevada importância para a
obtenção de altos rendimentos em qualquer exploração agrícola e tão antiga quanto a
própria agricultura.
       As plantas daninhas constituem grande problema para a cultura da soja e a
necessidade de controlá-las é um imperativo. Conforme a espécie, a densidade e a
distribuição da invasora na lavoura, as perdas são significativas. A invasora prejudica a
cultura, porque com ela compete pela luz solar, pela água e pelos nutrientes podendo, a
depender do nível de infestação e da espécie, dificultar a operação de colheita e




                                                                                      30
comprometer a qualidade do grão, resultando em deságio no momento da
comercialização.
       Os métodos normalmente utilizados para controlar as invasoras são o mecânico,
o químico e o cultural. É sempre aconselhável utilizar a combinação de dois ou mais
métodos.
       O controle cultural consiste na utilização de técnicas de manejo da cultura
(época de semeadura, espaçamento, densidade, adubação, cultivar, etc.) que propiciem o
desenvolvimento da soja, em detrimento ao da planta daninha.
       O método mais utilizado para controlar as invasoras é o químico, isto é, o uso de
herbicidas. Suas vantagens são a economia de mão de obra e a rapidez na aplicação.
Para que a aplicação dos herbicidas seja segura, eficiente e econômica, exigem-se
técnicas apropriadas.
       A eficiência dos herbicidas aumenta quando aplicados em condições favoráveis.
É fundamental que se conheçam as especificações do produto antes de sua utilização e
que se regule corretamente o equipamento de pulverização para evitar riscos de
toxicidade ao homem e à cultura.
       O manejo de entressafra das invasoras requer a utilização de produtos a base de
paraquat, paraquat + diuron, glyphosate, 2-4-D, chlorimuron e carfentrazone. O número
de aplicações e as doses a serem utilizadas irão variar, em função da comunidade
presente na área e seu estádio de desenvolvimento. O Paraquat requer a mistura com
surfactante não iônico na base de 0,1% a 0,2% v/v.
       No caso de espécies perenizadas, como o capim-amargoso e o capim-brachiaria,
a dose de glyphosate poderá chegar a 5 L ha-1. Nessa situação, recomenda-se
inicialmente o manejo mecânico (roçadeira, triturador) visando remover a folhagem
velha e forçar a rebrota intensa, que deverá ter pelo menos 30 cm de altura no momento
da dessecação.
       O 2,4-D, indicado para o controle de plantas com folhas largas (dicotiledôneas),
deve ser utilizado na formulação amina, com carência de 10 dias entre a aplicação e a
semeadura da soja. Aplicações que não obedeçam às recomendações técnicas podem
provocar danos às culturas suscetíveis, como videira, algodão, feijão, café e a própria
soja. A utilização de espécies que propiciem cobertura morta é uma alternativa que tem
possibilitado a substituição ou a redução no uso de herbicidas em semeadura direta.
       Em semeadura direta sobre pastagem, na integração lavoura-pecuária, o período
entre a dessecação e a semeadura da soja irá variar de 30 a 60 dias. Para espécies como


                                                                                      31
Brachiaria decumbens e Brachiaria brizanta, 30 dias de antecedência poderão ser
suficientes. Para Paspalum notatum, conhecida como grama-batatais, o período irá
variar de 40 a 60 dias. A dose variará entre 5 e 6 litros de glyphosate ou de sulfosate.
       Tem sido constatada a resistência de certas plantas daninhas como Buva, Capim
Amargoso, Brachiaria plantaginea, Bidens pilosa, Bidens subalternans a herbicidas
utilizados em algumas lavouras de soja, especialmente os dois primeiros nas lavouras de
soja RR. Há ainda espécies com tolerância ao herbicida citado, dentre as quais se
destacam a corda de viola (Ipomoea spp.) e o leiteiro (Euphorbia heterofila).
       Prevenir a disseminação e a seleção de espécies resistentes são estratégias
fundamentais para evitar-se esse tipo de problema. A utilização e a rotação de produtos
com diferentes mecanismos de ação, além da adoção do manejo integrado (rotação de
culturas, uso de vários métodos de controle, etc) fazem parte do conjunto de indicações
para um eficiente controle das invasoras.


       Tratamento Fitossanitário


       A cultura da soja está sujeita, durante todo o seu ciclo, ao ataque de diferentes
espécies de insetos. Embora esses insetos tenham suas populações reduzidas por
predadores, parasitóides e doenças, em níveis dependentes das condições ambientais e
do manejo de pragas que se pratica, quando atingem populações elevadas, capazes de
causar perdas significativas no rendimento da cultura, precisam ser controlados.
       O controle das principais pragas da soja deve ser feito com base nos princípios
do "Manejo Integrado de Pragas". Ele consiste em tomadas de decisão de controle com
base no nível de ataque, no número e tamanho dos insetos-pragas e no estádio de
desenvolvimento da soja, informações essas obtidas em inspeções regulares na lavoura
com esse fim. Nos casos das lagartas desfolhadoras e dos percevejos, as amostragens
devem ser realizadas com um pano-de-batida.
       As plantas das duas fileiras devem ser sacudidas vigorosamente sobre o mesmo,
promovendo a queda dos insetos, que deverão ser contados. Esse procedimento deve ser
repetido em vários pontos da lavoura, considerando, como resultado, a média de todos
os pontos amostrados. Dependendo do tamanho da lavoura, esse monitoramento e o
manejo deve ser feito por talhão.
       Especificamente para os percevejos, as amostragens devem seguir as seguintes
indicações: a) ser realizadas nos períodos mais frescos do dia, quando os percevejos se


                                                                                           32
movimentam menos; b) ser feitas com maior intensidade nas bordas da lavoura, onde,
em geral, os percevejos iniciam seu ataque; c) ser repetidas, de preferência, todas as
semanas, do início da formação de vagens (R3) até a maturação fisiológica (R7); e d) em
lavouras com espaçamento reduzido entre as linhas, bater sobre o pano apenas as
plantas de uma fileira (nesse caso, reduzir a população crítica para a metade. A simples
observação visual sobre as plantas não expressa a população real presente na lavoura,
especialmente dos percevejos.


              Principais espécies de insetos que atacam a soja e seu controle.


       Lagartas desfolhadoras (A. gemmatalis e P. includens) - Devem ser
controladas quando forem encontradas, em média, 40 lagartas grandes (>1,5 cm) por
pano-de-batida (duas fileiras de plantas), ou com menor número se a desfolha atingir
30%, antes da floração, e 15% tão logo apareçam as primeiras flores. Para controle com
Baculovírus anticarsia, considerar como limites máximos 40 lagartas pequenas (no fio)
ou 30 lagartas pequenas e 10 lagartas grandes por pano-de-batida. Em condição de seca
prolongada e com plantas menores de 50 cm de altura, reduzir esses níveis para a
metade, para a aplicação de Baculovírus (ver Folder nº 02/2001 "Controle da lagarta da
soja com Baculovírus, um inseticida biológico").
       Percevejos - O controle deve ser iniciado quando forem encontrados quatro
percevejos adultos ou ninfas com mais de 0,5 cm por pano-de-batida. Em campos de
produção de sementes, o nível deve ser reduzido para dois percevejos por pano-de-
batida. Se forem contados os insetos das plantas de apenas um metro de fileira, reduzir a
população crítica para a metade (dois e um percevejos, respectivamente).
       Broca das axilas - Controlar quando a lavoura apresentar em torno de 25% a
30% de plantas com ponteiros atacados. Para escolha do produto, levar em consideração
a toxicidade, o efeito sobre inimigos naturais e o custo por hectare. Atentar para as
doses indicadas, utilizar EPI (equipamento de proteção individual) durante o preparo e a
aplicação dos defensivos e dar o destino correto às embalagens, conforme legislação
vigente.
       "Tamanduá-da-soja" - É um gorgulho de aproximadamente 8 mm de
comprimento, de cor preta com listras amarelas no dorso da cabeça e nas asas. Os danos
são causados tanto pelos adultos, que raspam o caule e desfiam os tecidos, como pelas
larvas, brocando e provocando o surgimento de galha.


                                                                                      33
Controle - A rotação de culturas é a técnica mais eficiente para o seu manejo,
mas sempre associada a outras estratégias, como plantas-iscas e controle químico na
bordadura da lavoura e/ou na lavoura inteira.


       Colheita
       A colheita é a operação de retirar do campo o produto desejado, representa
parcela considerável dos custos de produção e exerce influencia significativa sobre a
qualidade do produto.
       É recomendado a colheita da soja quando as semente atingirem teor de umidade
em torno de 14-16%, sendo que injurias aos grãos aumentam com umidade superior a
18% ou inferior a 13%. No momento indicado para a colheita, a planta apresenta-se sem
folhas e com as vagens secas. Uma alternativa para acelerar a época de colheita,
diminuir perdas e dispensar a secagem artificial é a aplicação de desecantes, porem sua
aplicação deve ser feita com cautela, pois se feita antes do ponto de maturidade
fisiológica pode causar perdas significativas de produção.

              Perdas anteriores à colheita

       Ocorre antes de iniciar qualquer operação relacionada com a colheita
propriamente dita. Em geral devem-se a deiscência natural das vagens, retardamento do
inicio da colheita, hastes soltas, em geral são minimizadas pela condição adequada da
cultura e momento de colheita adequado.

              Perdas na plataforma de corte

       Devem-se a falha de ação do molinete e lamina de corte, a baixa adaptação da
lavoura para a colheita mecânica, ao momento inadequado para a colheita e teor de
umidade dos grãos.
       É possível a utilização de uma barra de corte flexível e flutuante, que trabalha
junto ao solo e acompanha os desníveis do terreno.
       Dentre as características da planta de soja que afetam a colheita mecânica estão:
a altura das plantas e da inserção das primeiras vagens; numero de ramificações, pois
quanto maior o numero de ramificações maior a quantidade de perdas e acamamento,
onde plantas deitadas não são recolhidas pela máquina.




                                                                                     34
Perdas na debulha

       A velocidade de deslocamento da maquina e a velocidade do cilindro debulhador
estão intimamente relacionadas no que diz respeito a trilhagem dos grãos. Velocidades
baixas de deslocamento da colhedora podem ocasionar quebras dos grãos, pois não há
um acolchoamento normal, e velocidades maiores fazem com que haja quantidade de
material superior a capacidade de trabalho do cilindro batedor e muita vagens não são
debulhadas.
       A abertura excessiva da distancia cilindro-concavo e a roatação lenta do cilindro
também provocam trilhagem incompleta e a abertura pequena e velocidade excessiva
causam injurias as sementes e obstrução dos orifícios das peneiras de limpeza.

              Perdas na separação e limpeza

       As quantidades perdidas sobre o saca-palhas são devidas a sua velocidade
excessiva, à sobrecarga de palha e a velocidade exagerada de cilindro-debulhador.
       A regulagem inadequada das peneiras e do ventilador também provoca perdas de
grãos, que são eliminados juntamente com a palha.

              Redução das perdas na colheita

       A redução de perdas na colheita compreende o manejo da lavoura, com
espaçamento adequado para que não ocorram plantas muito pequenas e nem
acamamento de plantas. Assim como o manejo da fertilidade e a época de semeadura.
       A regulagem das maquinas é de fundamental importância, adequando velocidade
de deslocamento, molinete, barra de corte, cilindro batedor, saca palhas, peneiras e
ventilador.
       A dessecação da soja é uma prática que pode ser utilizada somente em área de
produção de grãos, com o objetivo de controlar as plantas daninhas ou uniformizar as
plantas com problemas de haste verde/retenção foliar.
       Sendo necessária a dessecação em pré-colheita, é importante observar a época
apropriada para executá-la. Aplicações realizadas antes da cultura atingir o estádio
reprodutivo R7 provocam perdas no rendimento. Esse estádio é caracterizado pelo início
da maturação (apresenta uma vagem amarronzada ou bronzeada na haste principal -
Fehr & Caviness, 1981). Os produtos utilizados são o paraquat (Gramoxone, na dose de
1,5-2,0 L ha-1 do produto comercial, classe toxicológica II) ou diquat (Reglone, na dose



                                                                                     35
de 1,5-2,0 L ha-1 do produto comercial, classe toxicológica II). Doses mais elevadas
devem ser utilizadas em áreas com maior massa foliar. No caso de predominância de
gramíneas, utilizar o Gramoxone. Quando houver predominância de folhas largas,
principalmente corda-de-viola (Ipomoea spp.), utilizar o Reglone.
       Para evitar que ocorram resíduos no grão colhido, deve-se observar o intervalo
mínimo de sete dias entre a aplicação do produto e a colheita.


5. Mapeamento a Nível Regional

       A classificação do uso do solo na região é informação de suma importância, uma
vez que esse tipo de dado permite a tomada de decisões com embasamento técnico para
tal.
       A relação entre o valor da terra na região com o seu nível de exploração permite
prever, quando num contexto histórico, a evolução dos valores da terra no local. Como
os baixos preços iniciais se devem, entre outro fatores, à incipiência do
desenvolvimento econômico e social observados no sul do Piauí, a provisão desse tipo
de carência deve estar diretamente relacionada com a valorização dos imóveis rurais,
entre outros imóveis, serviços, etc.
       Foram citados os benefícios que instituições e investidores privados podem ter
com esse tipo de informação, porém, é provável que ela seja tão útil quanto ou até mais
para orgãos públicos responsáveis pelo monitoramento da atividade agrícola, do
desmatamento e também de planejamento reginal. O ritmo de crescimento, aliado ao
levantamento do perfil dos produtores, permite a definição das diretrizes públicas a
serem seguidas para os próximos anos. É possível estimar, acima de tudo, o volume de
produção que será escoado pelas rotas disponíveis, bem como a movimentação e a
demanda dos insumos necessários à produção agropecuária na região, o volume de
dinheiro necessário para viabilizar a exploração das atividades agrícola e pecuária e,
consequentemente, a arrecadação pública pública a nível estadual e federal.
       Com a consolidação dos proprietários das terras da região, é possível também a
checagem do passivo/ativo ambiental de cada produtor, bem como desmates irregulares,
tudo isso com uma frequência mensal, a nível de fazenda.




                                                                                    36
5.1.          Material e Métodos

         A classificação do uso do solo na região sul do Piauí foi feita através de
softwares especializados para o tratamento das imagens e sua posterior classificação.
         As imagens utilizadas foram retiradas do site do INPE, e captadas pelo sensor
LISS 3 IRS do satélite indiano ResourceSat 1. A escolha desse satélite se deu em função
de: disponibilidade de imagens gratuitas; média resolução espacial (23,5m); alta
frequência temporal (~30 dias) e resolução espectral compreendendo as bandas 2, 3, 4 e
5, indo respectivamente do comprimento de onda verde até o infra-vermelho médio.
         Essas imagens foram compostas de tal modo que se pudesse avaliar a melhor
combinação de bandas para fins de classificação supervisionada. De maneira geral a
composição de bandas 432 (RGB) é tida como a que melhor evidencia a cobertura do
solo, devido à grande reflectância da banda 2 (verde) pela cobertura vegetal associada
com a alta absorbância da banda 3 (vermelha). Além disso, os solos da região
(predominancia absoluta de latossolos amarelos associados a neossolos quartzarênicos)
apresentam comportamento espectral de alta reflectância nas bandas do vermelho e
infra-vermelho próximo. Foram testadas, além dessa composição, as composições de
bandas 453 – RGB, uma composição modificada das bandas 4 e 2, que foram
trabalhadas de maneira a gerar uma tonalidade em “falso azul” e “falso verde”, e a
classificação com as quatro bandas.




Figura 19 - Curvas espectrais dos horizontes A e B de de um Latossolo Amarelo ácrico típico. Adaptado de Dalmolin
et al., 2005.




                                                                                                             37
A composição em cores naturais através da geração de bandas sintéticas,
especialmente a azul (0,45 – 0,52 nm), foi feita por meio de um algoritmo que relaciona
as bandas verde e infra-vermelha para estimar o que seria o comportamento espectral
para o comporimento de onda do azul na imagem. Foram encontradas descrições de dois
algoritmos para a criação e realce de bandas. Essa metodologia foi utilizada para as
imagens vindas do satélite Spot-5, com resolução espectral semelhante à da camera
LISS 3 IRS do ResourceSat 1, fonte das imagens utilizadas nesse estudo.




Figura 20 - Extraída de < http://www.life.illinois.edu/govindjee/paper/fig5.gif>.

         Os algoritmos propostos são os seguintes, considerando as Bandas Azul, Verde,
Vermelho e Infra-vermelho próximo como, respectivamente, B1, B2, B3 e B4. Os




                                                                                    38
cálculos para a banda verde –B21 – são de realce, e para a banda azul – B1 – para a
estimativa da banda:
           Algoritmo 1:




           Algoritmo 2:




       Dentre as duas opções, foi usada apenas a segunda no teste, uma vez que foram
encontradas referências e exemplos de seu uso para o ResourceSat1.
       A diferença visual entre as composições é bastante grande.
       Após as combinações de bandas serem feitas conforme descrito acima, as
imagens compostas foram georreferenciadas no software QuantumGis, plataforma livre
com todas as funcionalidades básicas demandadas de um Sistema de Informações
Geográficas (SIG), usando como base o Google Earth.
       O próximo passo foi a definição das localidades a serem analisadas. A
metodologia foi bastante simples. Foram determinados os limites das chapadas, onde se
pratica a agricultura intensiva na região, e esse foi considerado como o limite máximo
de área com potencial para agricultura intensiva.
       Com esses perímetros definidos, as imagens em questão foram recortadas de
modo que apenas a área classificada como potencial fosse posteriormente classificada.
       A classificação dessa área foi feita em outro software livre, o MultiSpec® versão
1.0.0.1., através do algoritmo de Máxima Verossimilhança Gaussiana (MAXVER).
Segundo Erbert, 2001, esse algoritmo é o mais utilizado em sensoriamento remoto, no
contexto estatístico. O método é considerado paramétrico, uma vez que envolve
parâmetros como o vetor média e matriz de covariância da distribuição gaussiana
multivariada e também é supervisionado, uma vez que depende de amostragem feita



                                                                                     39
pelo classificador para a estimativa desses parâmetros. Porém, o algoritmo não
considera a distribuição espacial dos pixels, parâmetro considerado por outros
mecanismos mais sofisticados de classificação supervisionada, tais como os de redes
neurais.


   5.2.       Resultados e Discussão

       O resultado do Maxver é tanto melhor quanto maior o número de pixels numa
amostra de treinamento para implementá-los na matriz de covariância (PREVIDELLI,
2004). Corroborando com isso, CRÓSTA (1993), argumenta que o método Maxver
deve ser aplicado quando o analista conhece bem a imagem a ser classificada, para que
possa definir classes que sejam representativas.
       O programa gera indicadores de qualidade da classificação como: Índice Kappa,
Matriz de Confusão e Acurácia por classe e global.
       A região foi sub-dividida em outras 7 áreas, e dentro de cada qual foi delimitado
um perímetro tido como de área potencial para a agricultura intensiva. Essa marcação de
perímetro foi feita com base no Google Earth, devido à alta resolução de suas imagens.




                                                                                     40
Uruçuí




                                                                                                Leste

                                        Baixa Grande

                                                                   Cotrirosa




                                                                      Pirajá



            Santa Filomena


                                          Quilombo




Figura 21 - Mapeamento da elevação do terreno, destacando as áreas "potencias", circundadas em amarelo.



         A seguir segue um exemplo de área classificada, com composição realçada 543,
a delimitação da área do “cluster” Baixa Grande do Ribeiro (em vermelho) e área
potencial (em amarelo):




                                                                                                          41
Figura 22 - Fonte: INPE, ResourceSat. Órbita 329, ponto 82. 27/08/2012.




         Para termos uma idéia da qualidade da classificação através do algoritmo de
máxima verossimilhança, num comparativo entre diferentes composições de bandas (
além de classificação usando uma imagem criada através de NDVI - Normalized
difference vegetation index - e outro através da criação de uma banda azul e uma banda



                                                                                   42
verde sintética, conforme descrito pelo algitmo “b”, citado anteriormente), a tabela 5
resume os indicadores de qualidade para cada composição..

Tabela 5 - Estatística Kappa e OCP (overall class performance) para as diferentes composições de bandas analisadas.
                  Composição                        Kappa (%)                        OCP (%)
                         543                              98                            99,2
                         321                             96,1                           98,4
                         432                             96,1                           98,5
                       NDVI                               8,2                           16,1
                        5432                             98,1                           99,2



       A matriz de confusão gerada pela classificação, assim como os demais
indicadores de desempenho estão tabulados a seguir:



                                            Tabela 6 - Matriz de confusão.
                                                           543
TRAINING CLASS PERFORMANCE (Resubstitution Method)

  Project           Reference             Number of Samples in Class
  Class             Class     Accuracy+ Number         1          2     3       4       5                  6        7
  Name              Number (%)          Samples Lavoura Milheto Solo Exposto
                                                                           Queimada Fundo             Desmate Cerrado

  Lavoura                   1   98.0        16327      15999       202        126       0         0        0        0
  Milheto                   2   99.7         9315         27      9286          0       0         0        2        0
  Solo Exposto              3   99.6         2051          9         0       2042       0         0        0        0
  Queimada                  4   98.6          663          0         7          0     654         0        2        0
  Fundo                     5   100.0      145905          0         0          0       0    145905        0        0
  Desmate                   6   92.5        13844         21       165          0       0         0    12801      857
  Cerrado                   7   96.9         5640          0         0          0       0         0      175     5465

         TOTAL                              193745      16056     9660    2168         654   145905    12980    6322
          Reliability Accuracy (%)*                     99.6     96.1    94.2       100.0    100.0     98.6    86.4
   OVERALL CLASS PERFORMANCE (192152 / 193745 ) = 99.2%
   Kappa Statistic (X100) = 98.0%. Kappa Variance = 0.000000.




            Por fim, usando a composição 543, obtivemos a seguinte distribuição de áreas na
figura analisada:




                                                                                                                 43
Tabela 7 - Distribuiçao das áreas classificadas na imagem.
                                             543
                            CLASS DISTRIBUTION FOR SELECTED AREA

                                   Number
                      Class        Samples              Percent Area (Hectares)
                   1 Lavoura       1.635.929             7.34          96.959,13
                   2 Milheto       1.840.309             8.25         109.072,44
                   3 Solo Exposto    665.660             2.99          39.452,70
                   4 Queimada        113.314             0.51           6.715,96
                   5 Fundo        12.605.459             56.54        747.107,22
                   6 Desmate       2.482.217             11.13        147.117,39
                   7 Cerrado       2.950.520             13.23        174.873,03

                     Total               22.293.408 100.00                1.321.297,86

       A tabela 7 contem a classificação do uso do solo na área determinada como
potencial, para a região de Baixa Grande do Ribeiro. A área descrita como “fundo” é
nada mais do que os pixels sem valor na imagem, representados pela área recortada.

       Portanto, de uma área total de aproximadamente 575 mil hectares classificada
como potencial para a agricultura, o uso do solo que conota esse tipo de exploração
(Solo Exposto, Milheto e Palhada) é de aproximadamente 245 mil hectares, segundo a
classificação supervisionada gerada. A área em vias de exploração agrícola ou pecuária
é de pouco mais que 150 mil hectares (desmatada e queimadas), e a de cerrado bruto é
de 174,9 mil hectares.

       Fica evidente que, apesar haverem confusões, como entre área desmatada e área
de cerrado, a classificação geral ficou muito boa, com índices superando os 95% de
confiabilidade.




                                                                                         44
Figura 23 - Imagem temática da região após a classificação




         A figura acima retrata como o programa classificou cada pixel da área analisada.
É possível ver que, de maneira geral, a qualidade ficou fiel à realidade, porém há
inúmeros pixels, principalmente entre os Grupos “cerrado” e “desmate” que estão com
classificação errada. Isso se dá pelo fato de o algoritmo usado não levar em conta a
distribuição espacial desses pixels, portanto, caso fosse usado um software com soporte
a algoritmos de redes neurais, esse tipo de problema seria drásticamente minimizado.




                                                                                       45
De maneira geral, foram delimitadas 7 grandes regiões geográficas com
potencial agropecuário intensivo, denominadas como:

                Baixa Grande do Ribeiro (exemplo usado); Cotrirosa; Leste; Uruçuí;
                 Serra do Pirajá; Serra do Quilombo; e Santa Filomena.

       A seguir segue uma tabela com os resultados da classificação supervisionada
realizada em cada um destes agrupamentos, classificação esta que contempla: área de
lavoura; área em processo de conversão à lavoura; e área bruta, seja de cerrado ou de
caatinga arbórea:

           Tabela 8 - Distribuição de áreas conforme os agrupamentos regionais feitos no sul do Piauí.
                                                                  Área em            Área           Área
                         OCP          Kappa       Área bruta
                                                               sistematização consolidada Potencial
    Baixa Grande        99,2%          98,0%       174.873 ha      153.833 ha 245.484 ha 574.191 ha
      Cotrirosa         99,7%          98,5%       139.883 ha       78.146 ha 106.496 ha 324.524 ha
        Leste           98,4%          97,5%       100.488 ha       89.778 ha       29.609 ha 219.875 ha
        Pirajá          96,8%          95,7%        86.611 ha       47.638 ha       58.616 ha 192.865 ha
   Santa Filomena       99,3%          99,0%       120.130 ha       30.317 ha 114.180 ha 264.627 ha
     Quilombo           98,8%          98,4%        53.523 ha       98.132 ha 114.537 ha 266.193 ha
       Uruçuí           99,0%          95,3%        87.660 ha       91.229 ha 118.235 ha 297.124 ha
        Total          98,7%          97,5%        763.169 ha       589.073 ha      787.158 ha 2.139.400 ha
         %                -              -           36%             28%              37%         100%


       Distribuidas espacialmente conforme a figura 24:




                    Figura 24- Distrubuição espacial das áreas classificadas no sul do Piauí.




                                                                                                              46
Portanto, conclui-se que a região apresenta uma grande área com potencial
agrícola, de topografia plana a suave ondulada, regime pluviométrico que permite pelo
menos uma safra por ano, com alta probabilidade de ocorrência de veranicos, além de
certa relação entre a ocorrência de secas severas e o fenômeno el niño. A região sul do
Piauí possui cerca de 2,14 milhões de hectares de chapadas com as características
descritas acima, dentre as quais a porção “leste” é a que tem maiores restrições hídricas,
e a região da Baixa Grande do Ribeiro conta com a maior área agrícola. Em termos
proporcionais, as regiões da Serra do Quilombo, Santa Filomena e Baixa Grande do
Ribeiro possuem a maior área explorada, cerca de 43% cada, porém se considerarmos
junto com esse número a área em sistematização, a Serra do Quilombo está em vias de
explorar 80% de seu potencial.


6. Descrição da Fazenda


       A área em questão é real, e é denominada como Fazenda São João. A fazenda
possui pouco menos de 30 mil hectares, dos quais, entre reserva legal, APP’s e áreas
não aproveitáveis, a área máxima estimada para exploração é de 17 mil hectares.


   6.1.       Solos

       A fertilidade dos solos agrícolas da fazenda é típica de solos tropicais, mais
especificamente latossolos, caracterizando-se como fortemente ácidos, altamente
saturados por alumínio e com baixo porcentual de bases na CTC (distróficos), baixo
teor de argila, sendo, geralmente, de textura arenosa a média, teor muito baixo de
fósforo disponível, comumente girando em torno de 1 ppm. São solos profundos e
muito bem drenados, de maneira geral, são ótimos do ponto de vista físico, e limitantes
sob a ótica química, quando em seu estado natural. Há diversos tipos de solos na região,
sendo que os solos agrícolas encontrados nas chapadas são os latossolos (vermelho-
amarelos e amarelos) e neossolos quartzarênicos.

       Como o teor de argila é baixo, e composto por argilas de baixa atividade, como
caulinita e óxidos de Fe e Al, a matéria orgânica (MO), encontrada naturalmente em
pequenos teores nesses solos, torna-se essencial para a manutenção de sua fertilidade.




                                                                                         47
Matias et al. (2009) observaram os benefícios que um sistema de manejo
conservacionista pode trazer para esse solos, uma vez que os teores de MO observados
em um latossolo amarelo da região de Uruçuí revelam que o sistema de plantio direto
acumula, em profundidades variando entre 5 e 40cm, mais MO do que o próprio cerrado
(vegetação nativa), diferença ainda maior é observada quando se comparam os sistemas
de plantio convencional e direto.

       Portanto, antes da exploração agrícola, e, se possível, concomitantemente às
operações de abertura e preparo das áreas de cerrado, deve-se promover a correção
química desses solos, visando o aumento do pH, da saturação por bases, e diminuição
dos teores de Al tóxico às raízes. Isso é feito através da aplicação de calcário sobre as
áreas, sendo que a correção em subsuperfície deve ser feita com gesso agrícola (sulfato
de cálcio dihidratado). As fontes de calcário e gesso mais próxima evidenciam uma
qualidade baixa dos produtos. O calcário extraído nas proximidades de Bom Jesus tem
baixa PRNT e é calcítico, com teor de Mg inferior a 5%. Já as fontes de gesso são
restritas ao gesso mineral, proveniente de gipsita extraída do estado de Pernambuco. A
baixa reatividade de ambos os corretivos exige maiores dosagens para a correção efetiva
do perfil do solo, além de maior tempo para sua reação com o solo. O manejo agrícola
do solo deve ser o mais conservacionista possível, de modo a preservar e, se possível,
incrementar o teor de matéria orgânica das áreas exploradas.




                                                                                      48
Projeto de exploração agrícola no sul do Piauí
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Projeto de exploração agrícola no sul do Piauí

  • 1. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ” DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DO SOLO Pedro Ernesto Ronzani PROJETO DE EXPLORAÇÃO DE FAZENDA NA REGIÃO SUL DO PIAUÍ 0111000 - Trabalho de Conclusão de Curso em Engenharia Agronômica PIRACICABA - SP 2012
  • 2. PEDRO ERNESTO RONZANI PROJETO DE EXPLORAÇÃO DE FAZENDA NA REGIÃO SUL DO PIAUÍ Monografia apresentada ao Departamento de Ciências do Solo como parte das exigências da disciplina 0111000 - Trabalho de Conclusão de Curso em Engenharia Agronômica da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Universidade de São Paulo. Orientador: Prof. Dr. José Alexandre Melo Demattê PIRACICABA - SP 2012 ii
  • 3. PEDRO ERNESTO RONZANI PROJETO DE EXPLORAÇÃO DE FAZENDA NA REGIÃO SUL DO PIAUÍ _________________________________ Pedro Ernesto Ronzani Orientador: _________________________________ Prof. Dr. José Alexandre Melo Demattê Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” Universidade de São Paulo PIRACICABA - SP Dezembro de 2012 iii
  • 4. AGRADECIMENTOS: À minha família, em especial meus pais, Hélio e Bernadete, que sempre me deram todo o apoio e base necessários à minha formação pessoal e profissional. Por serem um modelo de honestidade e perseverança que eu sempre seguirei e admirarei. Aos meus irmãos, João e Estêvão, que sempre me suportaram nos quesitos mais “tecnológicos”, assim como são parte integrante da minha formação pessoal. Foi com eles que comecei a aprender como conviver com as diferenças, ainda muito novo. À minha namorada Priscila que durante a minha graduação e meu estágio em São Paulo esteve ao meu lado, dando sempre conforto e incentivo nos momentos mais difíceis, me auxiliando e sempre me instigando a buscar mais e fazer melhor. A todos os meus amigos de universidade, em especial à minha segunda família, a República Vira-Latas, com quem amadureci e me tornei quem sou hoje. Muito obrigado pelas intermináveis horas de estudo e diversão, pelo suporte, e por suprirem a ausência que sentia da minha família. À ESALQ, por me proporcionar uma graduação, vivência e oportunidades muito maiores do que eu esperava, bem como ao seu corpo docente muito bem qualificado e, na maioria das vezes, extremamente prestativo às minhas solicitações. Ao professor Demattê, que me proporcionou o mais breve, porém mais construtivo estágio dentro da ESALQ durante a minha graduação, agradeço por toda a paciência e tempo confiados em mim, pelo treinamento recebido no uso das ferramentas utilizadas durante o estágio, e todo o suporte e prestatividade durante meu estágio profissionalizante e também na elaboração deste trabalho. Ao Guilherme Asai, que deu todo o suporte necessário para o meu desenvolvimento profissional nesses meses de convivência e aprendizado que tive ao seu lado em São Paulo, na TibaAgro. iv
  • 5. RESUMO A agricultura provê ao mundo não só a maior parcela do alimento e boa parcela das fibras consumidas, como inúmerous outro produtos, como energia e está cada vez mais gerando produtos industrias capazes de competir com os vindos de fontes fósseis não renováveis. Nesse contexto, a agricultura, mais especificamente a sojicultura, assume papel essencial, uma vez que a demanda por esse produto vêm crescendo a taxas altas, independentemente de crises econômicas, e a produção tem que acompanhar esse crescimento. A produção agrícola no Brasil é reconhecida como uma das melhores do mundo, e ainda temos áreas inexploradas ou sub-exploradas em nosso território. Esse trabalho tem como objetivo fazer uma revisão sobre o status da agricultura numa das últimas frentes de desenvolvimento disponíveis no Brasil, a região sul do Piauí, usando ferramentas de SIG no mapeamento do uso do solo, bem como conhecimentos agronômicos em geral para visualizar a questão da sojicultura na região e a prosperidade e perspectivas econômicas da atividade no sul do Piauí. A revisão e o mapeamento apresentaram resultados esperados como, por exemplo, a oferta considerável de áreas ainda não exploradas na região e também a rentabilidade que essas terras podem proporcionar a investidores individuais ou fundos. Além disso, o modelo de exploração adotado, embora não seja democrático, provê benefícios ambientais a sociais incontestáveis. Palavras-chave: uso do solo, Sul do Piauí, mercado de terras, cerrado. v
  • 6. Índice LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................vii 1. Introdução.................................................................................................................. 1 2. Objetivo ..................................................................................................................... 7 3. Análise externa .......................................................................................................... 7 3.1. Infraestrutura disponível .................................................................................... 7 3.2. Logística............................................................................................................. 7 3.3. Comportamento e expectativas para os mercados de Soja e de terras – contextualização geral ................................................................................................... 9 4. Caracterização Geral Da Base Física Agrícola ....................................................... 12 4.1. Climática e balanço hídrico ............................................................................. 12 4.2. Relevo .............................................................................................................. 20 4.3. Solos................................................................................................................. 21 4.4. A cultura da Soja .............................................................................................. 24 a. Classificação botânica e variedade(s) .............................................................. 24 b. Justificativas técnicas e de comercialização .................................................... 25 c. Recomendações Agronômicas ......................................................................... 25 5. Mapeamento a Nível Regional ................................................................................ 36 5.1. Material e Métodos .......................................................................................... 37 5.2. Resultados e Discussão .................................................................................... 40 6. Descrição da Fazenda .............................................................................................. 47 6.1. Solos................................................................................................................. 47 6.2. Produção .......................................................................................................... 49 7. Conclusão ................................................................................................................ 52 8. Referências Bibliográficas ...................................................................................... 53 vi
  • 7. Lista de Figuras Figura 1 – Distribuição da Produção Nacional de Soja entre 1976 e 2011. Fonte: CONAB, elaboração própria. ........................................................................................... 3 Figura 2 - Distribuição da Área Nacional plantada com Soja entre 1990 e 2011. Fonte: IBGE, elaboração própria ................................................................................................. 4 Figura 3 - Distribuição da produção municipal de soja no Piauí. Fonte: IBGE ............... 6 Figura 4 - Área plantada, produção e produtividade de soja no estado do Piauí. Fonte: CONAB ............................................................................................................................ 6 Figura 5 - Preços médios da soja no Paraná. Fonte: CEPEA. ........................................ 10 Figura 6 – Comportamento do mercado internacional e regional de soja, e do Dólar. Fonte: CBOT, BM&F, Safras e Mercado e Banco central do Brasil ............................. 10 Figura 7 - Valorização anual de terras – CAGR – Bom Jesus ....................................... 11 Figura 8 - Evolução do Preços de terras – região de Bom Jesus .................................... 12 Figura 9 - Balanço hídrico climatológico de Bom Jesus, PI. INMET. ........................... 13 Figura 10 - Cidades do Piauí, biomas e isoietas da região. ............................................ 15 Figura 11 - Distribuição de chuvas da 4 estações meteorológicas disponíveis no banco de dados da ANA............................................................................................................ 16 Figura 12 - Comportamento climático em Bom Jesus x ocorrência e intensidade de el- noños e la-niñas. Fonte: NOAA, ANA e INPE. Elaboração própria.............................. 19 Figura 13 - Relevo na região da Fazenda São João. ....................................................... 20 Figura 14- Mapa de solos do Brasil. Fonte: Projeto SomaBrasil ................................... 22 Figura 15 - Mapa exploratório de Solos de Bom Jesus. ................................................. 22 Figura 16 - Coloração do latossolo da região. ................................................................ 23 Figura 17 - Exemplo de afloramento de petroplintita nas proximidades das escarpas... 24 Figura 18 - Renda líquida esperada para diferentes intervalos de semeadura em Piracicaba, SP ................................................................................................................. 26 Figura 19 - Curvas espectrais dos horizontes A e B de de um Latossolo Amarelo ácrico típico. Adaptado de Dalmolin et al., 2005 ...................................................................... 37 Figura 20 - Extraída de < http://www.life.illinois.edu/govindjee/paper/fig5.gif> ......... 38 Figura 21 - Mapeamento da elevação do terreno, destacando as áreas "potencias", circundadas em amarelo. ................................................................................................ 41 Figura 22 - Fonte: INPE, ResourceSat. Órbita 329, ponto 82. 27/08/2012. ................... 42 Figura 23 - Imagem temática da região após a classificação ......................................... 45 Figura 24- Distrubuição espacial das áreas classificadas no sul do Piauí. ..................... 46 vii
  • 8. 1. Introdução A região sul do Piauí é descrita como a última fronteira agrícola do Brasil. Pertence ao mesmo eixo de expansão do oeste baiano e sul maranhense, na medida em que os grupos econômicos são os mesmos e adotam mecanismos semelhantes de territorialização do capital (Alves, 2005). O cerrado piauiense possui 11,86 milhões de hectares, correspondente a 46% da área do estado (5,9% do cerrado braisleiro). Este bioma faz limite com a caatinga, tanto que Aguiar & Monteiro, 2005, calculam uma área de 3,5 milhões de hectares no estado composta pelo ecótono cerrado-caatinga. Segundo Sano et al. (2008), em 2002 a área com agricultura correspondia a menos de 2% dos 11,86 milhões de ha. De fato, a concentração de áreas de cerrado agrícola ainda não exploradas no sul do Piauí é a maior do país, caracterizando essa região como uma recente fronteira agrícola. Um fator intrínseco a esse tipo de área é a carência de infraestrutura. Essa carência freia o desenvolvimento, não só do agronegócio, como dos demais setores da economia. Com a superação desse tipo de desafio, a atividade agrícola pode ser muito rentável, devido principalmente ao baixo valor comparativo das áreas disponíveis. O Instituto Desert (1998, p. 125), apud Reydon & Cornelio (2006), define o cerrado do Piauí como: [...] geomorfologicamente o que se chama de “cerrados” piauienses são, na verdade, estruturas tabulares em forma de chapadões, caracterizados por uma superfície plana ou levemente ondulada, com inclinação para noroeste da ordem de 2 m a 3 m/km, encontrandose limitadas por escarpas abruptas que chegam a atingir mais de 100 metros de altura. Essas estruturas tabulares ou chapadões possuem altitudes em torno de 600 metros e recebem a denominação de “serras” (Uruçuí, Mundo Novo, do Gongo, Calhaus, etc.), sendo resultantes do processo erosivo de esculturação do relevo devido, principalmente, aos diferentes graus de resistência e inclinação dos sedimentos, aliados ao trabalho erosivo dos rios. A ocupação da região se deu, historicamente, pelos bandeirantes, que começaram a colonização do estado no sentido do interior para o litoral, caso único no Nordeste. Desde esses tempos, a exploração do potencial agropecuário da região se deu num sistema extremamente primitivo, onde as áreas “colonizadas” se concentravam nos arredores dos cursos d’água, e o cerrado era explorado para a pecuária no período das águas, através da queima da vegetação durante o período seco, para que o gado se 1
  • 9. alimentasse das brotções de cerrado nas águas. Estas vastas fazendas de Gado foram formadas por colonos vindos de lugares como, pricipalmente, a Bahia, São Paulo, além de bandeirantes e sesmeiros. A partir da década de 70 o governo estadual passou a promover a colonização da região sudoeste do Piauí tendo em vista grandes empresas que levassem desenvolvimento agrário à região.Esse arcabouço institucional provido pelo governo estadual atraiu empresas e investidores individuais para a região. Esses empreendedores vieram principalmente, segundo Reydon & Cornelio (2006), do Rio Grande do Sul, Pernambuco, São Paulo e Mato Grosso. A análise do cerrado como um sistema estratégico para a produçaõa agrícola do Brasil se deu na mesma época, entre as décadas de 60 e 70. A inserção da agricultura na contexto’ de desenvolvimento geral do Brasil começou no governo de Juscelino Kibitschek, no seu conhecido “Plano de Metas” (SILVA, 2000). Porém, a intervenção do estado na região dos cerrados (mais especificamente em MS e GO) começou ainda no governo Vargas, através do Projeto De Colonização Dos Cerrados. A intervenção institucional só foi realmente efetiva e eficaz quando se traduziu na facilitação de aquisição de terras e criação de planos de financiamento para empreendimentos com projetos para o Cerrado. Os principais programas levantados por Silva, 2000, foram: o Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba - PADAP; o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados - POLOCENTRO; e o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvolvimento dos Cerrados – PRODECER. A agricultura, mais especificamente a sojicultura, para ser contextualizada no estado do Piauí, deve primeiramente ser abordada no contexto nacional. Há números importantes, disponibilizados pela CONAB, que devem ser aqui citados. A área plantada no Brasil com a cultura, desde a safra 1976/77 aumenta, em média, 4% ao ano, saindo de 6,9 milhões de hectares na safra supracitada, para uma projeção de 27 milhões de hectares na safra 2012/13. A produção também aumentou, no período, em média 7% ao ano, porém a sua variabilidade é muito alta. O desvio padrão dos números de produção são da ordem de 16%. 2
  • 10. Figura 1 – Distribuição da Produção Nacional de Soja entre 1976 e 2011. Fonte: CONAB, elaboração própria. 3
  • 11. Figura 2 - Distribuição da Área Nacional plantada com Soja entre 1990 e 2011. Fonte: IBGE, elaboração própria 4
  • 12. Nas páginas anteriores é possivel ver a evolução não só da produção nacional de soja, como também a distribuição reginal dessa produção. Fica evidente o ganho de expressividade da região Centro-Oeste, que, a partir da safra 1998/99 passou a ser a região com a maior produção do grão no país, e desde então se mantém nessa posição de líder nacional. Porém, em termos relativos, o crescimento anual da produção no CO no período analisado foi de 14%, com um CAGR (Compound annual growth rate – indicador que homogeneiza o crescimento de uma série ao primeiro e último valor, excluindo a variabilidade) 13%, enquanto no nordeste tivemos números da ordem de 78% de crescimento médio anual, e um CAGR de 28%, numa série que começou na safra 1979/80, ano em que há o registro da primeira colheita de soja na região. Trazendo esses dados para a realidade do estado do Piauí, o primeiro registro de colheita foi na safra 1993/94. Esse tipo de dados evidencia a recente exploração da região para fins agrícolas no modelo já usado nos cerrado do CO, BA e MA há mais tempo. Os principais municípios produtores de grão são: Uruçuí, Baixa Grande do Ribeiro, Santa Filomena, Ribeiro Gonçalves e Bom Jesus. Todos esses municípios estão no extremo oeste do estado, fazendo divisa ou muito próximos do Maranhão, com excessão de Bom Jesus. Segundo os dados da Produção Agrícola Municipal (PAM), disponibilizados pelo IBGE, a distribuição da produção no PI fica da seguinte forma: 5
  • 13. Distribuição da Produção do Soja no PI 1400 1200 milhares de toneladas 1000 800 600 400 200 0 Uruçuí Baixa Grande do Ribeiro Ribeiro Gonçalves Santa Filomena Outros Bom Jesus Figura 3 - Distribuição da produção municipal de soja no Piauí. Fonte: IBGE Figura 4 - Área plantada, produção e produtividade de soja no estado do Piauí. Fonte: CONAB 6
  • 14. 2. Objetivo Determinar a viabilidade de produção agropecuária em uma real fazenda localizada no sul do Piauí, descrita como Fazenda São João, bem como descrever as etapas envolvidas na conversão dessa área em terra produtiva, destacando aspectos positivos e negativos do modelo de exploração adotado e da região escolhida. 3. Análise externa 3.1. Infraestrutura disponível O local conta com estrutura deficitária em termos agrícolas e sociais. Os centros de distribuição já consolidados para compra de implementos, máquinas e insumos estão localizados nos municípios de Barreiras, BA, e Balsas, MA. Os municipios ficam distantes, respectivamente, 450 e 520 km de Bom Jesus, PI. Entretanto, a localidade está em franca expansão agrícola, e toda a movimentação gerada atrai empreendimentos que visam sanar essa carência em todos os setores. Já há varias revendas de insumos e máquinas no município, embora os centros de distribuição se localizem geralmente nos outros municípios citados. O destino da produção agropecuária, em especial da soja, é essencialmente o município de Uruçuí. Lá está instalada uma esmagadora do grão pertencente à Bunge. Na cidade existem duas universidades públicas, a UFPI e a Universidade do Estado do Piauí. O público atraído pelas universidades e pela dinamização da economia regional é mais exigente e demanda maiores esforços públicos para sanar as carências de habitação, saúde, transporte, comércio, etc. existentes. 3.2. Logística Como citado anteriormente, os polos agrícolas regionais são Balsas e Barreiras. No estado do Piauí, os municipios de Uruçuí e Bom Jesus são os destaque na região sudoeste em relação ao desenvolvimento agrário. 7
  • 15. O escoamento da soja em grão destinada ao consumo interno é feito para a cidade de Uruçuí, e o restante da produção é exportada através do Porto de Itaqui. Segundo reportagem publicada no site http://imirante.globo.com/1, a Vale assinou contrato de longo prazo com a Ceagro Agronegócios - empresa sediada em Balsas (MA) que atua no chamado Corredor Norte de Exportação e que recentemente iniciou suas operações internacionais, com a exportação de grãos - para transporte e embarque marítimo de 240 mil toneladas de grãos por ano, pela Estrada de Ferro Carajás (EFC) e Ferrovia Norte-Sul (FNS). Esse contrato é um indício não só da maior abertura do porto de Itaqui à exportação de grãos, bem como da própria ferrovia de Carajás ao seu transporte. Como a exportação de grãos pelo porto ainda é relativamente incipiente, em comparação a todo o potencial que a região tem, essas rotas não estão consolidadas. A consolidação depende da ampliação da capacidade do porto e também sua tecnificação para exportação de grãos. Esse crescimento deve acontecer muito em breve, já que as obras da ferrovia norte-sul estão ocorrendo, e haverá uma área produtora de grãos muito grande englobada pelo empreendimento. Regiões que hoje exportam sua produção por Santos e Paranaguá, deverão usar a ferrovia. Ela beneficiará as áreas produtoras do vale do araguaia no MT, e os estados do TO, BA, GO, MA e PI assim que sua estrutura estiver pronta para tal. As opções de transporte no NE, porém, não se limitam apenas ao porto de Itaqui. Há ainda grandes portos como o de Suape, em Pernambuco, e o de Pecém, no Ceará. Esses dois portos estão contemplados no plano de expansão da ferrovia transnordestina, que, embora esteja atrasado, deverá ser concluído ainda nessa década. A princípio, a ferrovia ligará os dois portos ao município de Eliseu Martins, no Piauí, distante 147 km de Bom Jesus. As principais distâncias das rotas de escoamento citadas anteriormente , tanto da fazenda quanto de Bom Jesus, estão resumidas na tabela 1. 1 Disponível em: http://imirante.globo.com/noticias/pagina226094.shtml 8 2 Disponível em: http://www.ceagro.net/home.htm
  • 16. Tabela 1 - Matriz de distâncias da fazenda e de Bom Jesus, PI. Faz. São João Bom Jesus Eliseu Martins Faz. São João - - - Bom Jesus 48 Km - - Eliseu Martins 195 Km 147 Km - Itaqui 1.588 Km 1.540 Km - Suape 1.326 Km 1.278 Km 1.131 Km Pecém 1.098 Km 1.050 Km 903 Km Além dos destinos de importação, o mercado interno consome grande parte do grão produzido na região sul do Piauí, por isso, um dos principais destinos da soja regional é a esmagadora localizada em Uruçuí, como citado anteriormente. Enfatizam essa informação os dados divulgados pelo IBGE no estudo “Destino da Produção Agropecuária”, onde constatam-se mais de 10 municípios onde o destino da soja é Uruçuí. O acesso para a cidade, em rota vinda do centro sul, pode ser por Brasília – Barreiras, de carro, ou, no caso de transporte aéreo, as cidades mais próximas com aeroportos e vôos comerciais são Teresina (600km) e Barreiras (450km). 3.3. Comportamento e expectativas para os mercados de Soja e de terras – contextualização geral O mercado de grãos, mais especificamente o de soja e o de milho, atingiu cotações recordes esse ano, tanto para venda futura quanto para o mercado spot, como podemos ver no gráfico a seguir, elaborado com dados do CEPEA. 9
  • 17. Soja Spot Paraná R$90 R$80 R$70 R$60 R$50 R$40 R$30 R$20 R$10 R$- 07/97 04/98 01/99 10/99 07/00 04/01 01/02 10/02 07/03 04/04 01/05 10/05 07/06 04/07 01/08 10/08 07/09 04/10 01/11 10/11 07/12 Figura 5 - Preços médios da soja no Paraná. Fonte: CEPEA. Já para o mercado reginal (Uruçuí), é visível certa variabilidade de preços que, em certos momentos, se descola do mercado internacional. Isso se deve a variações regionais de oferta e demanda de soja. Soja Futura - Vencimento em 05/13 2,1 39 2,05 37 Cotação (US$/sc) 35 2 Dólar 33 1,95 31 1,9 29 1,85 27 25 1,8 1/4 1/5 1/6 1/7 1/8 1/9 1/10 CBOT BM&F Uruçuí - Spot Dólar Figura 6 – Comportamento do mercado internacional e regional de soja, e do Dólar. Fonte: CBOT, BM&F, Safras e Mercado e Banco central do Brasil. A tendência é, como pode-se observar no gráfico relativo aos preços futuros, que o mercado de soja se mantenha estável em altos patamares até a colheita da próxima safra norte americana que, caso seja dentro dos padrões esperados, deve promover a normalização da relação estoque/consumo mundial de soja. Por outro lado, o mercado de terras, indexado ao preço da saca de soja, também se beneficiou da valorização do grão. Na região do sul do Piauí, onde a presença de 10
  • 18. fundos de investimento e grandes investidores individuais é marcante, a especulação gerada pelo mercado de soja deve se somar à especulação “natural” observada na região, alavancando exponencialmente os preços das terras agrícolas. O mercado de terras tem ficado em grande visibilidade nos últimos tempos, devido à sua valorização constante e progressiva, mesmo com a crise internacional. No Brasil, mais especificamente na região de Bom Jesus, PI, temos a seguinte situação: Figura 7 - Valorização anual de terras – CAGR – Bom Jesus. Fonte: Relatório anual de terras, FNP. Elaboração própria. O mercado de terras na região de Bom Jesus apresenta, dentro da série analisada (2002 – 2012) , uma média anual de valorização na ordem de 25%. As terras agrícolas valorizaram, na média, cerca de 22% a.a., e o cerrado agrícola teve ganhos anuais médios da ordem de 34%. Em termos absolutos, é graficamente visível o salto de preços ocorrido entre 2007 e 2008, especialmente nas terras agrícolas de alta produtividade, onde a valorização foi de cerca de R$2.000/ha no período. Hoje vivenciamos outra fase de escalada dos preços de terras agrícolas, devido à alta cotação da soja e do milho. 11
  • 19. Figura 8 - Evolução do Preços de terras – região de Bom Jesus. Fonte: Relatório anual de terras, FNP. Elaboração própria. As perspectivas são de que a valorização continue no mesmo ritmo ou se acelere, uma vez que a franca expansão da região traz facilidades e infraestrutura que antes não haviam. Terras de alta produtividade em em Balsas, MA, chegam a valer R$8.000 ha-1, e em Luíz Eduardo Magalhães (LEM) passam dos R$14.000 ha-1. Embora a região do sul do Piauí apresente menor pluviometria do que Balsas e LEM, e não tenha potencial de irrigação nas chapadas, como em LEM, está claro que ainda há um bom espaço para a valorização das terras em questão. Além disso, o ganho com a transformação do cerrado em terra agrícola é considerável, além de proporcionar ganhos com a produção agrícola em si. 4. Caracterização Geral Da Base Física Agrícola 4.1. Climática e balanço hídrico Segundo a classificação climática de Köppen (KÖPPEN E GEIGER, 1928), o clima de Bom Jesus é o Aw, ou seja, clima de savanas, com inverno seco e chuvas máximas no verão, presente nas regiões N, CO e parte do SE. A cidade está, assim como 99% do estado do Piauí (ANA, 2012), inserida na bacia hidrográfica do rio Parnaíba. A bacia ocupa mais de 344 mil km², ou 3,9% do território nacional. 12
  • 20. Porém, do ponto de vista agrometeorológico, Burgos (apud Rolim et al. 2007) diz que classificações descritivas, tal qual a de a de Köppen, são mais voltadas a estudos geográficos e climatológicos, pois ela necessita de poucos parâmetros, omitindo situações complexas da relação do clima com as culturas agrícolas. A partir disso, podemos concluir que os sistemas agrícolas demandam uma classificação mais detalhada do clima, que explicite a influência do clima sobre as culturas. Hoje, o sistema mais adotado é o que foi proposto por Thornthwaite & Mather (1955) onde o balanço hídrico pode ser utilizado para caracterização da disponibilidade hídrica e da distribuição de chuvas ao longo do ano. Abaixo segue figura com o balanço hídrico relativo à normal climatológica de 1961-90, de Bom Jesus, PI. Figura 9 - Balanço hídrico climatológico de Bom Jesus, PI. Fonte: INMET. Os dados usados na confecção desse balanço hídrico normal foram os que constam na tablea 2, e estão disponíveis na Embrapa monitormento por satélite: 13
  • 21. Tabela 2 - Balanço Hídrico normal de Bom Jesus - PI Mês T P ETP ARM ETR DEF EXC (°C) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) Jan 25,8 173 127 93 127 0 0 Fev 25,6 175 114 100 114 0 55 Mar 25,5 182 122 100 122 0 60 Abr 25,7 138 119 100 119 0 19 Mai 26,1 26 127 36 90 38 0 Jun 25,7 5 115 12 29 86 0 Jul 25,9 6 122 4 14 107 0 Ago 27,7 5 158 1 8 150 0 Set 28,9 20 183 0 21 162 0 Out 28,2 99 176 0 99 77 0 Nov 26,8 146 144 2 144 0 0 Dez 26,1 181 136 47 136 0 0 TOTAIS 318,0 1.156 1.641 496 1.022 620 134 MÉDIAS 26,5 96 137 41 85 52 11 De maneira geral, fica evidente que a disponibilidade de água no solo vai dos meses de Novembro até Abril, sendo o restante do ano muito seco, com déficit hídrico no mês mais seco (setembro) passando dos 150mm. Dados que corroboram com a Figura 9 podem ser obtidos na base de dados da Agência Nacional de Águas (Hidroweb – ANA), e estão resumidos na figura 11. Com relação aos demais municípios da região sudoeste do Piauí, é facilmente identificável a faixa onde a precipitação anual de 1.000mm anuais acaba e começa a decair, conforme a figura 10. Nela constam a divisão mesorreginal do Piauí e outros estados vizinhos, feita pelo IBGE, e as isoietas de precipitação do Brasil, disponibilizadas pelo CPRM (Serviço Geológico do Brasil). Além disso o mapa contém as divisões de biomas na região, onde se evidencia que Bom Jesus está bem próximo da divisa oficial entre os biomas caatinga e cerrado. Como sabemos que os biomas não se dividem numa linha, mas sim em uma faixa de transição (ecótono), portanto, o município em questão já apresenta regiões onde a Caatinga é a vegetação predominante, principalmente em áreas de solos rasos, frequentes nos “baixões”. 14
  • 22. Figura 10 - Cidades do Piauí, biomas e isoietas da região. Fonte: IBGE e CPRM. Elaboração própria. 15
  • 23. Fazenda São João Figura 11 - Distribuição de chuvas da 4 estações meteorológicas disponíveis no banco de dados da ANA 16
  • 24. Risco Climático em Bom Jesus A análise de risco climático visa apenas avaliar a ocorrência de veranicos na região em questão. Estudos sobre o zoneamento de risco já foram realizados, e apresentam conclusão bastante clara, principalmente sobre a época de semeadura para a soja. Segundo Andrade Júnior et al. (2001), a região do cerrado piauiense é favorável para o cultivo de milho e de soja em diferentes combinações entre municípios, épocas de semeadura e tipo de solo. O autor estimou diversos índices e usou como base o Índice de Satisfação da Necessidade de Água (ISNA) observado entre as fases de floração e enchimento de graõs (estádios R1 até R5-R6), período em que o coeficiente de cultura (Kc) está mais alto, ou seja, a planta tem o máximo de IAF e, consequentemente, alta demanda de água. Portanto, essa é a época em que a espécie está na sua fase mais sensível ao déficit hídrico, e é um bom indicativo para a visualização do risco climático associado à data de semeadura. Doss et al., 1974 (apud Farias, 2001, p. 417), reitera os argumentos expostos anteriormente afirmando que quando o déficit hídrico ocorre nos primeiros estádios de desenvolvimento vegetativo, a soja recupera-se melhor do que outras culturas. Ela pode tolerar curtos períodos de déficit pois tem sistema radicular profundo e período de florescimento relativamente longo (MOTA, 1983). O ISNA é calculado como a razão entre a evapotranspiração máxima (ETm - independe do teor de água no solo, usa apenas variáveis atmosféricas e geográficas) e a evapotranspiração real (ETr - estimada com base no teor de água no solo), portanto: Segundo STEINMETZ et al. (1985), há três classes de ISNA para a cultura da soja, que são: ISNA ≥ 0,65 – Região agroclimática favorável, com pequeno risco climático; ISNA ≥ 0,55 e < 0,65 – Região agroclimática intermediária, com médio risco climático; ISNA < 0,55 – Região agroclimática desfavorável, com alto risco climático. 17
  • 25. Para o zoneamento de risco feito pelo Ministério da Agricultura (MAPA), relativo às épocas de semeadura de soja e outras culturas anuais, é usado um ISNA superior a 0,55 em 80% dos anos estudados. A forma mais correta para se avaliar o risco climático de certa cultura em determinada região é efetuar a modelagem da produtividade da cultura com base no efeito do déficit hídrico. Dentre as séries de dados usadas no estudo climático, três têm mais de 30 anos, porém há anos com falhas, sendo que as séries mais extensas têm 28, 27 e 29 anos sem falhas (Conceição, Barra Verde e Bom Jesus, respectivamente). Para a análise dos dados da ANA foi feito um balanço hídrico sequencial com o registro de chuvas mantido pela fazenda, relativo à safra 2011/12, onde e possível observar que, para um solo fértil de textura média (CAD = 0,8mm/cm e Z = 40cm), o período sem precipitação necessário para que o ISNA, com a soja em fase reprodutiva, caia para menos de 0,55 é de cerca de 7 dias. Esse valor de ISNA durante os estádios R 1 (florescimento) até o início de R6 (grãos cheios ou completos) impacta diretamente na produtividade, é é um ótimo indicador de risco. Para cultivares de ciclo médio, o período citado, com semeadura ocorrendo em novembro, vai do último terço de dezembro até o primeiro terço de abril. Esse foi o período em que a ocorrência de 7 ou mais dias consecutivos sem chuva foi avaliado. Nas três séries a frequência de veranicos de 7 ou mais dias na época citada ficou entre 1,8 e 2,4 por ano-safra. Portanto, fica evidente que a região apresenta com altíssima frequência esse tipo de evento adverso ao desenvolvimento da cultura. Como o suprimento de água via irrigação não é possível, o único método de aumentar o período em que a cultura pode ficar sem precipitação é o aumento da profundidade do sistema radicular (Z). Fica claro que um perfil de 40cm é insuficiente para mitigar os riscos climáticos implicitos à região. Um perfil de 60cm já eleva a estimativa do período em que o ISNA fica superior a 0,55 para 10 dias consecutivos sem reposição hídrica. Além disso, o fenômeno el-niño tem, geralmente, impactos diretos sobre as precipitações da região. O el-niño causa mudanças na circulação atmosférica global que, via de regra, ocasionam secas severas na região nordeste, incluido o sul do Piauí. O seu efeito antagônico, conhecido como la niña, geralmente interfere de maneira oposta o regime hídrico da região, aumentando-o. O que causa essas mudanças é o deslocamento das células de circulação atmosféricas do semi-árido e da amazônia. A figura 12 retrata 18
  • 26. essa relação entre a temperatura superficial do Oceano Pacífico e a pluviometria de Bom Jesus. Figura 12 - Comportamento climático em Bom Jesus x ocorrência e intensidade de el-niños e la-niñas. Fonte: NOAA, ANA e INPE. Elaboração própria. O Niño 3.4 é um idicador usado pelo NOAA (national oceanic and atmosferic administration – EUA) para se referir à temperatura superficial média da água de uma determinada fração do oceano pacífico, situada nas proximidades da Oceania, dentro de determinado mês. Esse índice é usado para compor o ONI - oscilation niño index - que consiste na média móvel de três meses do Niño 3.4. O índice ENOS, divulgado pelo INMET, é a classificação da intensidade com que o fenômeno ocorreu em determinados anos (-3 a 3, de la niñas intensos a el niños intensos). Na figura 12 estão representadas as anomalias de precipitação mensal de cada uma das 4 estações em questão em relação à normal climatológica de 1961-1990 de Bom Jesus (BJ, BJ2, BJ3 e BJ4). As séries estudadas apresentaram correlação de Pearson bem fraca (<19%) com as anomalias de temperatura no Pacífico, usando-se tanto o Niño 3.4 quanto o ENOS. Porém, verificou-se que essas correlações são negativas, o que nos induz a pensar que, de modo geral, quanto mais alto o Niño 3.4, mais negativas tendem a ser as anomalias de precipitação em Bom Jesus. Ao mesmo tempo, a correlação de Pearson encontrada usando-se as precipitações de cada talhão da fazenda ficou, na média, em -18%. Portanto, seria necessário fazer um estudo com outras sérias, de preferência sem falhas e longas, com outros indicadores relacionados às anomalias da temperatura superficial do 19
  • 27. oceano Pacífico (Niño 1+2, Niño 3 e Niño 4), para inferirmos sobre a relação entre precipitações em Bom Jesus e o fenômeno el niño. 4.2. Relevo O relevo da região foi determinado em função das imagens obtidas pelo radar SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) e tratadas pela Embrapa Monitoramento por Satélite. A resolução espacial original das imagens é de 90 metros. A partir delas foram gerados mapas de elevação e declividade. O mapeamento do relevo é essencial para a agricultura de alta tecnologia, já que a mecanização é intimamente relacionada a esse fator. Ele é usado na determinação das classes de aptidão agrícola, que, por sua vez, têm papel direto na tomada de decisão com relação ao uso do solo em cada área. Figura 13 - Relevo na região da Fazenda São João. 20
  • 28. Foram determinadas sete classes de declividade para a área, baseadas no que foi proposto por Ramalho Filho & Beek (1995), associado com o relevo apto para colheita mecanizada da cana, cultura muito afetada por relevos desfavoráveis à sua mecanização. Tabela 3 - Graus de limitação por susceptibilidade à erosão conforme Ramalho Filho & Beek (1995). Níveis de declive Grau de limitação 0 a 3% Plano/praticamente plano 3 a 8% Suave ondulado 8 a 13% Moderadamente ondulado 13 a 20% Ondulado 20 a 45% Forte ondulado 45 a 100% Montanhoso >100% Escarpado Fonte: Filho & Beek (1995) apud Fink et al. A declividade da região foi estimada no software QuantumGis através de um modelo numérico de terreno (MNT) gerado pera a área analisada. Na região, os locais de chapada possuem declividade média inferior a 3%, apenas nas proximidades das escarpas as declividades ultrapassam esse limite, mas não chegam a mais de 8%. 4.3. Solos Os solos predominantes na região das chapadas são os latossolos amarelos distróficos, podendo ocorrer associações com neossolos quartzarênicos. Esses solos se modificam conforme a proximidade com as escarpas, evoluindo, muitas vezes, para plintossolos. As concreções litoplínticas abundantes caracterizam esses solos, de acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, como Plintossolos pétricos concrecionários, sem uso agrícola. Nas porções chamadas de “baixões”, há ocorrência de Argissolos, Cambissolos e Neossolos litólicos, além de manchas com neossolos quartzarênicos e outros tipos de solos, muitas vezes com presença de salinidade elevada. 21
  • 29. Figura 14- Mapa de solos do Brasil. Extraído do Projeto SomaBrasil. E, mais especificamente, o mapa de solos de Bom Jesus, PI: Figura 15 - Mapa exploratório de Solos de Bom Jesus. 22
  • 30. Na figura a seguir podemos ver um Latossolo amarelo típico, com horizonte A em tonalidade mais escura devido à presença de matéria orgânica, e a fração mais profunda em tonalidade amarela. Embora não houvesse uma carta de Munsell à ocasião das visitas, acredita-se que o matiz do horizonte B inteiro seja igual ou maior do que 7,5YR. Figura 16 - Coloração do latossolo da região. 23
  • 31. Figura 17 - Exemplo de afloramento de petroplintita nas proximidades das escarpas. 4.4. A cultura da Soja a. Classificação botânica e variedade(s) A soja é uma espécie originária de uma região da China denominada de Manchúria, sendo considerada uma das culturas mais antigas a serem cultivadas (EMBRAPA 2003). No decorrer do tempo, o cultivo da soja foi sendo disseminado pelo mundo por intermédio dos viajantes ingleses e por imigrantes japoneses e chineses. A soja pertence à classe das dicotiledôneas, família Leguminoseae e subfamília Papilionoides. A espécie cultivada é designada com o nome científico de Glycine max (L.) Merr.. A soja apresenta um sistema radicular do tipo pivotante, com uma raiz principal bem desenvolvida e raízes secundárias em grande número, capazes de se associar simbioticamente a bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico formando pequenas protuberâncias nas superfícies dessas raízes, que são conhecidos como nódulos. Essas bactérias são, via de regra, estirpes da espécie Bradyrhizobium japonicum. 24
  • 32. O caule é herbáceo, ereto e com porte variável de 0,60 cm a 1,50 m, pubescentes de pelos brancos, pardacentos ou tostados. O caule ainda é bastante ramificado, com os ramos inferiores mais alongados e todos os ramos formando ângulos variáveis com haste principal. b. Justificativas técnicas e de comercialização A soja é a principal cultura produzida pela agricultura brasileira, com a maioria da produção destinada à alimentação animal por ser uma alimento proteíco. O estado do Piauí produz mais de 400 mil hectares de soja e está se consolidando no cultivo da oleaginosa. Para a região de Bom Jesus a comercialização pode ser feita por meio de duas principais tradings, que são a Bunge, localizada na serra do quilombo, e a Ceagro, localizada em frente à Bunge. Como o Nordeste é o segundo maior mercado consumidor do país, boa parte do grão é processada na região para consumo interno, e uma parte é exportada pelo porto de Itaqui, em São Luís, no Maranhão. O porto citado serve principalmente à Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que escoa o minério de ferro extraído da serra de Carajás através dele para os principais centros consumidores mundiais. A Ceagro Agronegócios firmou contrato para transporte e embarque marítmo de cerca de 240 mil toneladas anuais de grãos. Esse assunto será abordado novamento no tópico Logística. c. Recomendações Agronômicas Época de Semeadura Os fatores mais importantes para determinação da data de plantio são: foto período, temperatura e a precipitação. Para o estado o Piauí o período mais viável para a semeadura da soja situa-se, segundo Andrade Júnior et al. (2001), entre os dias 10 de novembro e 20 de dezembro, para solos de textura média a arenosa, com uma janela útil de aproximadamente 40 dias para efetuar o plantio. Esse período e importante, pois segundo BALASTREIRE (1987), a inadequação da capacidade das máquinas em realizar a operação dentro dos prazos está associada ao conceito de pontualidade definido pela "capacidade de efetuar as operações na época em que a qualidade e/ou quantidade de um produto são otimizadas”. 25
  • 33. Nesse contexto, recomenda-se que o dimensionamento do parque de máquinas seja feito com base na estimativa de produtividade da cultura conforme a data de sua semeadura. Ao isolar o fator “data de semadura” na composição da produtividade da soja, podemos inferir os ganhos intrinsecos às melhores épocas de semeadura. Isso possibilita estimar um volume de maquinário que maximize os ganhos do produtor, onde se tenha noção do limite em que os ganhos de produtividade não jusitificariam o incremento do parque de máquinas. Um exemplo dessa modelagem pode ser visto na figura 18, realizado para a região de Piracicaba, São Paulo. Figura 18 - Renda líquida esperada em função de diferentes intervalos de semeadura em Piracicaba, SP. Essa estimativa demanda uma série de dados sobre a área semeada e os conjuntos mecanizados (trator + semeadora) disponíveis, como: área semeada (ha); textura do solo; preço do trator em função da potência demandada; preço da semeadora; espaçamento entre linhas; vida útil das máquinas; capacidade operacional das máquinas; custo da mão de obra; preço do combustível; preço da saca de soja, etc. População de Plantas Para a região de Bom Jesus, é recomendada uma população de 10 a 12 plantas -1 m , o que deverá totalizar algo entre 220 e 260 mil plantas.ha-¹, dependendo das características de cada cultivar, época de semeadura, fertilidade e textura do solo e finalidade da cultura. Para cultivares de ciclo tardio, com maior intensidade de ramificação que os precoces, é recomendada a semeadura em espaçamentos maiores, com menor 26
  • 34. distribuição de plantas por metro, já para plantas precoces é recomendado o plantio mais adensado. De um modo geral, quando um espaçamento é reduzido, deve-se diminuir o número de plantas por metro de sulco e, com isso, podemos favorecer o plantio em velocidades pouco maiores que o recomendado para espaçamentos maiores, visto que a linha da semeadora irá trabalhar em menor rotação no disco em caso de diminuição do numero de sementes. Fertilização A adubação nitrogenada não é recomendada para a soja já que se faz inoculação das sementes. A simbiose e a mineralização da materia orgânica conseguem suprir a necessidade de nitrogênio da cultura, a adubação só seria justificada em solos ácidos com baixo teor de material orgânico. A adubação de fósforo é necessária especialmente nos nossos solos de cerrado, onde os teores de fósforo disponível são baixos. Uma medida muito tomada na atualidade é a adubação de fósforo à lanço e realização da semeadura apenas com sementes, não necessitando da caixa adubadora, aumentando assim a eficiência da operação de plantio. Uma das principais características do fósforo usado como fertilizante é sua alta reatividade com as argilas intemperizadas, tais como a caulinita e os óxidos de ferro e alumínio, que resulta na fixação desse nutriente pelos minerais de argila e indisponibilidade da maioria do fósforo às plantas. Portanto, a prática citada, conhecida como fosfatagem, é extremamente ineficiente, além de ser feita em solos naturalmente pobres neste elemento, o que agrava ainda mais aa perdas de produtividade devidas à operação de adubação fosfatada em pré-semeadura a lanço. O potássio é elemento importante na soja e deve ser fornecido no sulco de plantio e em solos arenosos ou para altas doses deve-se utilizar adubação de cobertura em V4 ou potassagem em pré-plantio. 27
  • 35. Tabela 4 - Extração dos principais macronutrientes para a soja. Vitti (2010) Parte da Planta N P2O5 K2O Ca Mg S kg/t Grãos 51 10 20 3 2 5.4 Restos Culturais 32 5.4 18 9.2 4.7 10 Total 83 15.4 38 12.2 6.7 15.4 % Exportada 61 65 53 25 30 35 Preparo do solo A semente de soja, com germinação epígea e com teor de umidade próximo a 50%, exige um bom preparo de solo para garantir a emergência da plântula. O preparo do solo deve adequar o terreno para que haja a garantia do contato solo - semente. Caso na análise de solo obtida da área a saturação por bases (V%) esteja menor que 50%, recomenda-se a aplicação de calcário. Onde: Nc = Necessidade de calagem Vd = Saturação por bases desejada Va = Saturação por bases atual PRNT = Poder de reatividade do calcário. O sistema adotado de preparo será o convenrcional, com uma aração relativamente profunda (15-20 cm) seguida por duas gradagens niveladoras efetuadas próximas a semeadura com o objetivo de destorroar o solo, eliminar as sementes de plantas daninhas, uniformizar o terreno e incorporar o calcário aplicado. A princípio, toma-se a V% de 50% como a desejada, embora níveis entre 60 e 70% sejam os mais recomendados, devido aos altos custos de correção do solo que um aumento dessa magnitude na saturação por bases imporia. 28
  • 36. Semeadura É a prática agrícola que consiste em distribuir uma quantidade determinada de sementes na superfície do solo, em sulcos, com o objetivo de proporcionar boas condições para a germinação e estabelecimento de uma lavoura. A base para uma boa produção está na distribuição de quantidades adequada de sementes, profundidade uniforme e específica, para aproveitamento máximo das características do ambiente. Sementes A utilização de boas sementes é fundamental para o estabelecimento da cultura e colheita de produções elevadas, deve-se adquirir sementes certificadas ou fiscalizadas, com produção efetuada sob normas rígidas. O tratamento das sementes com fungicidas, inseticidas e micronutrientes deve ser realizado antes do plantio, não tratar e armazenar o produto. Os produtos devem usados podem interferir na próxima etapa, a inoculação das sementes, por isso deve-se dar preferência aos produtos que menos prejudiquem a bactéria. Inoculação A Fixação biológica do nitrogênio (FBN) é a principal fonte de N para a cultura da soja. Bactérias do gênero Bradyrhizobium (mais especificamente B. Japonicum), quando em contato com as raízes da soja, infectam as raízes, via pelos radiculares, formando os nódulos. A FBN pode, dependendo de sua eficiência, fornecer todo o N que a soja necessita. Para tal deve-se tomar alguns cuidados como fazer a inoculação à sombra e efetuar a semeadura no mesmo dia, especialmente se a semente for tratada com fungicidas e micronutrientes, mantendo a semente inoculada protegida do sol e do calor excessivo; evitar o aquecimento das sementes durante o processo. Semeadura propriamente dita As semeadora devem distribuir uniformemente as sementes no sulco, que deve possuir profundidade média de 5 cm, (pode-se aprofundar a semeadura em caso de 29
  • 37. semeadura em épocas de menor disponibilidade de água). A distribuição deve garantir as condições idéias de germinação à semente de soja, com uma cobertura de terra de 2 a 3cm, uma boa semeadora não causa danos à semente e aplica o adubo de modo que não haja contato entre adubo e semente. A estimativa da quantidade necessária de sementes pode ser efetuada de acordo com a seguinte formula: Onde: Q = Quantidade de sementes (Kg) P = peso de 100 sementes (g) A = Area cultivada (ha) D = Numero desejável de plantas por metro de sulco G = Germinação E = Espaçamento O consumo médio de sementes é em torno de 35 a 50 kg.ha-¹. Cultivares Há uma série de cultivares disponíveis e já testados na região. Empresas como a Monsanto, Pioneer, e a próprie Embrapa já tem recomendações de cultivares específicos para o Sul do Piauí. Cultivo O controle de plantas daninhas é uma prática de elevada importância para a obtenção de altos rendimentos em qualquer exploração agrícola e tão antiga quanto a própria agricultura. As plantas daninhas constituem grande problema para a cultura da soja e a necessidade de controlá-las é um imperativo. Conforme a espécie, a densidade e a distribuição da invasora na lavoura, as perdas são significativas. A invasora prejudica a cultura, porque com ela compete pela luz solar, pela água e pelos nutrientes podendo, a depender do nível de infestação e da espécie, dificultar a operação de colheita e 30
  • 38. comprometer a qualidade do grão, resultando em deságio no momento da comercialização. Os métodos normalmente utilizados para controlar as invasoras são o mecânico, o químico e o cultural. É sempre aconselhável utilizar a combinação de dois ou mais métodos. O controle cultural consiste na utilização de técnicas de manejo da cultura (época de semeadura, espaçamento, densidade, adubação, cultivar, etc.) que propiciem o desenvolvimento da soja, em detrimento ao da planta daninha. O método mais utilizado para controlar as invasoras é o químico, isto é, o uso de herbicidas. Suas vantagens são a economia de mão de obra e a rapidez na aplicação. Para que a aplicação dos herbicidas seja segura, eficiente e econômica, exigem-se técnicas apropriadas. A eficiência dos herbicidas aumenta quando aplicados em condições favoráveis. É fundamental que se conheçam as especificações do produto antes de sua utilização e que se regule corretamente o equipamento de pulverização para evitar riscos de toxicidade ao homem e à cultura. O manejo de entressafra das invasoras requer a utilização de produtos a base de paraquat, paraquat + diuron, glyphosate, 2-4-D, chlorimuron e carfentrazone. O número de aplicações e as doses a serem utilizadas irão variar, em função da comunidade presente na área e seu estádio de desenvolvimento. O Paraquat requer a mistura com surfactante não iônico na base de 0,1% a 0,2% v/v. No caso de espécies perenizadas, como o capim-amargoso e o capim-brachiaria, a dose de glyphosate poderá chegar a 5 L ha-1. Nessa situação, recomenda-se inicialmente o manejo mecânico (roçadeira, triturador) visando remover a folhagem velha e forçar a rebrota intensa, que deverá ter pelo menos 30 cm de altura no momento da dessecação. O 2,4-D, indicado para o controle de plantas com folhas largas (dicotiledôneas), deve ser utilizado na formulação amina, com carência de 10 dias entre a aplicação e a semeadura da soja. Aplicações que não obedeçam às recomendações técnicas podem provocar danos às culturas suscetíveis, como videira, algodão, feijão, café e a própria soja. A utilização de espécies que propiciem cobertura morta é uma alternativa que tem possibilitado a substituição ou a redução no uso de herbicidas em semeadura direta. Em semeadura direta sobre pastagem, na integração lavoura-pecuária, o período entre a dessecação e a semeadura da soja irá variar de 30 a 60 dias. Para espécies como 31
  • 39. Brachiaria decumbens e Brachiaria brizanta, 30 dias de antecedência poderão ser suficientes. Para Paspalum notatum, conhecida como grama-batatais, o período irá variar de 40 a 60 dias. A dose variará entre 5 e 6 litros de glyphosate ou de sulfosate. Tem sido constatada a resistência de certas plantas daninhas como Buva, Capim Amargoso, Brachiaria plantaginea, Bidens pilosa, Bidens subalternans a herbicidas utilizados em algumas lavouras de soja, especialmente os dois primeiros nas lavouras de soja RR. Há ainda espécies com tolerância ao herbicida citado, dentre as quais se destacam a corda de viola (Ipomoea spp.) e o leiteiro (Euphorbia heterofila). Prevenir a disseminação e a seleção de espécies resistentes são estratégias fundamentais para evitar-se esse tipo de problema. A utilização e a rotação de produtos com diferentes mecanismos de ação, além da adoção do manejo integrado (rotação de culturas, uso de vários métodos de controle, etc) fazem parte do conjunto de indicações para um eficiente controle das invasoras. Tratamento Fitossanitário A cultura da soja está sujeita, durante todo o seu ciclo, ao ataque de diferentes espécies de insetos. Embora esses insetos tenham suas populações reduzidas por predadores, parasitóides e doenças, em níveis dependentes das condições ambientais e do manejo de pragas que se pratica, quando atingem populações elevadas, capazes de causar perdas significativas no rendimento da cultura, precisam ser controlados. O controle das principais pragas da soja deve ser feito com base nos princípios do "Manejo Integrado de Pragas". Ele consiste em tomadas de decisão de controle com base no nível de ataque, no número e tamanho dos insetos-pragas e no estádio de desenvolvimento da soja, informações essas obtidas em inspeções regulares na lavoura com esse fim. Nos casos das lagartas desfolhadoras e dos percevejos, as amostragens devem ser realizadas com um pano-de-batida. As plantas das duas fileiras devem ser sacudidas vigorosamente sobre o mesmo, promovendo a queda dos insetos, que deverão ser contados. Esse procedimento deve ser repetido em vários pontos da lavoura, considerando, como resultado, a média de todos os pontos amostrados. Dependendo do tamanho da lavoura, esse monitoramento e o manejo deve ser feito por talhão. Especificamente para os percevejos, as amostragens devem seguir as seguintes indicações: a) ser realizadas nos períodos mais frescos do dia, quando os percevejos se 32
  • 40. movimentam menos; b) ser feitas com maior intensidade nas bordas da lavoura, onde, em geral, os percevejos iniciam seu ataque; c) ser repetidas, de preferência, todas as semanas, do início da formação de vagens (R3) até a maturação fisiológica (R7); e d) em lavouras com espaçamento reduzido entre as linhas, bater sobre o pano apenas as plantas de uma fileira (nesse caso, reduzir a população crítica para a metade. A simples observação visual sobre as plantas não expressa a população real presente na lavoura, especialmente dos percevejos. Principais espécies de insetos que atacam a soja e seu controle. Lagartas desfolhadoras (A. gemmatalis e P. includens) - Devem ser controladas quando forem encontradas, em média, 40 lagartas grandes (>1,5 cm) por pano-de-batida (duas fileiras de plantas), ou com menor número se a desfolha atingir 30%, antes da floração, e 15% tão logo apareçam as primeiras flores. Para controle com Baculovírus anticarsia, considerar como limites máximos 40 lagartas pequenas (no fio) ou 30 lagartas pequenas e 10 lagartas grandes por pano-de-batida. Em condição de seca prolongada e com plantas menores de 50 cm de altura, reduzir esses níveis para a metade, para a aplicação de Baculovírus (ver Folder nº 02/2001 "Controle da lagarta da soja com Baculovírus, um inseticida biológico"). Percevejos - O controle deve ser iniciado quando forem encontrados quatro percevejos adultos ou ninfas com mais de 0,5 cm por pano-de-batida. Em campos de produção de sementes, o nível deve ser reduzido para dois percevejos por pano-de- batida. Se forem contados os insetos das plantas de apenas um metro de fileira, reduzir a população crítica para a metade (dois e um percevejos, respectivamente). Broca das axilas - Controlar quando a lavoura apresentar em torno de 25% a 30% de plantas com ponteiros atacados. Para escolha do produto, levar em consideração a toxicidade, o efeito sobre inimigos naturais e o custo por hectare. Atentar para as doses indicadas, utilizar EPI (equipamento de proteção individual) durante o preparo e a aplicação dos defensivos e dar o destino correto às embalagens, conforme legislação vigente. "Tamanduá-da-soja" - É um gorgulho de aproximadamente 8 mm de comprimento, de cor preta com listras amarelas no dorso da cabeça e nas asas. Os danos são causados tanto pelos adultos, que raspam o caule e desfiam os tecidos, como pelas larvas, brocando e provocando o surgimento de galha. 33
  • 41. Controle - A rotação de culturas é a técnica mais eficiente para o seu manejo, mas sempre associada a outras estratégias, como plantas-iscas e controle químico na bordadura da lavoura e/ou na lavoura inteira. Colheita A colheita é a operação de retirar do campo o produto desejado, representa parcela considerável dos custos de produção e exerce influencia significativa sobre a qualidade do produto. É recomendado a colheita da soja quando as semente atingirem teor de umidade em torno de 14-16%, sendo que injurias aos grãos aumentam com umidade superior a 18% ou inferior a 13%. No momento indicado para a colheita, a planta apresenta-se sem folhas e com as vagens secas. Uma alternativa para acelerar a época de colheita, diminuir perdas e dispensar a secagem artificial é a aplicação de desecantes, porem sua aplicação deve ser feita com cautela, pois se feita antes do ponto de maturidade fisiológica pode causar perdas significativas de produção. Perdas anteriores à colheita Ocorre antes de iniciar qualquer operação relacionada com a colheita propriamente dita. Em geral devem-se a deiscência natural das vagens, retardamento do inicio da colheita, hastes soltas, em geral são minimizadas pela condição adequada da cultura e momento de colheita adequado. Perdas na plataforma de corte Devem-se a falha de ação do molinete e lamina de corte, a baixa adaptação da lavoura para a colheita mecânica, ao momento inadequado para a colheita e teor de umidade dos grãos. É possível a utilização de uma barra de corte flexível e flutuante, que trabalha junto ao solo e acompanha os desníveis do terreno. Dentre as características da planta de soja que afetam a colheita mecânica estão: a altura das plantas e da inserção das primeiras vagens; numero de ramificações, pois quanto maior o numero de ramificações maior a quantidade de perdas e acamamento, onde plantas deitadas não são recolhidas pela máquina. 34
  • 42. Perdas na debulha A velocidade de deslocamento da maquina e a velocidade do cilindro debulhador estão intimamente relacionadas no que diz respeito a trilhagem dos grãos. Velocidades baixas de deslocamento da colhedora podem ocasionar quebras dos grãos, pois não há um acolchoamento normal, e velocidades maiores fazem com que haja quantidade de material superior a capacidade de trabalho do cilindro batedor e muita vagens não são debulhadas. A abertura excessiva da distancia cilindro-concavo e a roatação lenta do cilindro também provocam trilhagem incompleta e a abertura pequena e velocidade excessiva causam injurias as sementes e obstrução dos orifícios das peneiras de limpeza. Perdas na separação e limpeza As quantidades perdidas sobre o saca-palhas são devidas a sua velocidade excessiva, à sobrecarga de palha e a velocidade exagerada de cilindro-debulhador. A regulagem inadequada das peneiras e do ventilador também provoca perdas de grãos, que são eliminados juntamente com a palha. Redução das perdas na colheita A redução de perdas na colheita compreende o manejo da lavoura, com espaçamento adequado para que não ocorram plantas muito pequenas e nem acamamento de plantas. Assim como o manejo da fertilidade e a época de semeadura. A regulagem das maquinas é de fundamental importância, adequando velocidade de deslocamento, molinete, barra de corte, cilindro batedor, saca palhas, peneiras e ventilador. A dessecação da soja é uma prática que pode ser utilizada somente em área de produção de grãos, com o objetivo de controlar as plantas daninhas ou uniformizar as plantas com problemas de haste verde/retenção foliar. Sendo necessária a dessecação em pré-colheita, é importante observar a época apropriada para executá-la. Aplicações realizadas antes da cultura atingir o estádio reprodutivo R7 provocam perdas no rendimento. Esse estádio é caracterizado pelo início da maturação (apresenta uma vagem amarronzada ou bronzeada na haste principal - Fehr & Caviness, 1981). Os produtos utilizados são o paraquat (Gramoxone, na dose de 1,5-2,0 L ha-1 do produto comercial, classe toxicológica II) ou diquat (Reglone, na dose 35
  • 43. de 1,5-2,0 L ha-1 do produto comercial, classe toxicológica II). Doses mais elevadas devem ser utilizadas em áreas com maior massa foliar. No caso de predominância de gramíneas, utilizar o Gramoxone. Quando houver predominância de folhas largas, principalmente corda-de-viola (Ipomoea spp.), utilizar o Reglone. Para evitar que ocorram resíduos no grão colhido, deve-se observar o intervalo mínimo de sete dias entre a aplicação do produto e a colheita. 5. Mapeamento a Nível Regional A classificação do uso do solo na região é informação de suma importância, uma vez que esse tipo de dado permite a tomada de decisões com embasamento técnico para tal. A relação entre o valor da terra na região com o seu nível de exploração permite prever, quando num contexto histórico, a evolução dos valores da terra no local. Como os baixos preços iniciais se devem, entre outro fatores, à incipiência do desenvolvimento econômico e social observados no sul do Piauí, a provisão desse tipo de carência deve estar diretamente relacionada com a valorização dos imóveis rurais, entre outros imóveis, serviços, etc. Foram citados os benefícios que instituições e investidores privados podem ter com esse tipo de informação, porém, é provável que ela seja tão útil quanto ou até mais para orgãos públicos responsáveis pelo monitoramento da atividade agrícola, do desmatamento e também de planejamento reginal. O ritmo de crescimento, aliado ao levantamento do perfil dos produtores, permite a definição das diretrizes públicas a serem seguidas para os próximos anos. É possível estimar, acima de tudo, o volume de produção que será escoado pelas rotas disponíveis, bem como a movimentação e a demanda dos insumos necessários à produção agropecuária na região, o volume de dinheiro necessário para viabilizar a exploração das atividades agrícola e pecuária e, consequentemente, a arrecadação pública pública a nível estadual e federal. Com a consolidação dos proprietários das terras da região, é possível também a checagem do passivo/ativo ambiental de cada produtor, bem como desmates irregulares, tudo isso com uma frequência mensal, a nível de fazenda. 36
  • 44. 5.1. Material e Métodos A classificação do uso do solo na região sul do Piauí foi feita através de softwares especializados para o tratamento das imagens e sua posterior classificação. As imagens utilizadas foram retiradas do site do INPE, e captadas pelo sensor LISS 3 IRS do satélite indiano ResourceSat 1. A escolha desse satélite se deu em função de: disponibilidade de imagens gratuitas; média resolução espacial (23,5m); alta frequência temporal (~30 dias) e resolução espectral compreendendo as bandas 2, 3, 4 e 5, indo respectivamente do comprimento de onda verde até o infra-vermelho médio. Essas imagens foram compostas de tal modo que se pudesse avaliar a melhor combinação de bandas para fins de classificação supervisionada. De maneira geral a composição de bandas 432 (RGB) é tida como a que melhor evidencia a cobertura do solo, devido à grande reflectância da banda 2 (verde) pela cobertura vegetal associada com a alta absorbância da banda 3 (vermelha). Além disso, os solos da região (predominancia absoluta de latossolos amarelos associados a neossolos quartzarênicos) apresentam comportamento espectral de alta reflectância nas bandas do vermelho e infra-vermelho próximo. Foram testadas, além dessa composição, as composições de bandas 453 – RGB, uma composição modificada das bandas 4 e 2, que foram trabalhadas de maneira a gerar uma tonalidade em “falso azul” e “falso verde”, e a classificação com as quatro bandas. Figura 19 - Curvas espectrais dos horizontes A e B de de um Latossolo Amarelo ácrico típico. Adaptado de Dalmolin et al., 2005. 37
  • 45. A composição em cores naturais através da geração de bandas sintéticas, especialmente a azul (0,45 – 0,52 nm), foi feita por meio de um algoritmo que relaciona as bandas verde e infra-vermelha para estimar o que seria o comportamento espectral para o comporimento de onda do azul na imagem. Foram encontradas descrições de dois algoritmos para a criação e realce de bandas. Essa metodologia foi utilizada para as imagens vindas do satélite Spot-5, com resolução espectral semelhante à da camera LISS 3 IRS do ResourceSat 1, fonte das imagens utilizadas nesse estudo. Figura 20 - Extraída de < http://www.life.illinois.edu/govindjee/paper/fig5.gif>. Os algoritmos propostos são os seguintes, considerando as Bandas Azul, Verde, Vermelho e Infra-vermelho próximo como, respectivamente, B1, B2, B3 e B4. Os 38
  • 46. cálculos para a banda verde –B21 – são de realce, e para a banda azul – B1 – para a estimativa da banda: Algoritmo 1: Algoritmo 2: Dentre as duas opções, foi usada apenas a segunda no teste, uma vez que foram encontradas referências e exemplos de seu uso para o ResourceSat1. A diferença visual entre as composições é bastante grande. Após as combinações de bandas serem feitas conforme descrito acima, as imagens compostas foram georreferenciadas no software QuantumGis, plataforma livre com todas as funcionalidades básicas demandadas de um Sistema de Informações Geográficas (SIG), usando como base o Google Earth. O próximo passo foi a definição das localidades a serem analisadas. A metodologia foi bastante simples. Foram determinados os limites das chapadas, onde se pratica a agricultura intensiva na região, e esse foi considerado como o limite máximo de área com potencial para agricultura intensiva. Com esses perímetros definidos, as imagens em questão foram recortadas de modo que apenas a área classificada como potencial fosse posteriormente classificada. A classificação dessa área foi feita em outro software livre, o MultiSpec® versão 1.0.0.1., através do algoritmo de Máxima Verossimilhança Gaussiana (MAXVER). Segundo Erbert, 2001, esse algoritmo é o mais utilizado em sensoriamento remoto, no contexto estatístico. O método é considerado paramétrico, uma vez que envolve parâmetros como o vetor média e matriz de covariância da distribuição gaussiana multivariada e também é supervisionado, uma vez que depende de amostragem feita 39
  • 47. pelo classificador para a estimativa desses parâmetros. Porém, o algoritmo não considera a distribuição espacial dos pixels, parâmetro considerado por outros mecanismos mais sofisticados de classificação supervisionada, tais como os de redes neurais. 5.2. Resultados e Discussão O resultado do Maxver é tanto melhor quanto maior o número de pixels numa amostra de treinamento para implementá-los na matriz de covariância (PREVIDELLI, 2004). Corroborando com isso, CRÓSTA (1993), argumenta que o método Maxver deve ser aplicado quando o analista conhece bem a imagem a ser classificada, para que possa definir classes que sejam representativas. O programa gera indicadores de qualidade da classificação como: Índice Kappa, Matriz de Confusão e Acurácia por classe e global. A região foi sub-dividida em outras 7 áreas, e dentro de cada qual foi delimitado um perímetro tido como de área potencial para a agricultura intensiva. Essa marcação de perímetro foi feita com base no Google Earth, devido à alta resolução de suas imagens. 40
  • 48. Uruçuí Leste Baixa Grande Cotrirosa Pirajá Santa Filomena Quilombo Figura 21 - Mapeamento da elevação do terreno, destacando as áreas "potencias", circundadas em amarelo. A seguir segue um exemplo de área classificada, com composição realçada 543, a delimitação da área do “cluster” Baixa Grande do Ribeiro (em vermelho) e área potencial (em amarelo): 41
  • 49. Figura 22 - Fonte: INPE, ResourceSat. Órbita 329, ponto 82. 27/08/2012. Para termos uma idéia da qualidade da classificação através do algoritmo de máxima verossimilhança, num comparativo entre diferentes composições de bandas ( além de classificação usando uma imagem criada através de NDVI - Normalized difference vegetation index - e outro através da criação de uma banda azul e uma banda 42
  • 50. verde sintética, conforme descrito pelo algitmo “b”, citado anteriormente), a tabela 5 resume os indicadores de qualidade para cada composição.. Tabela 5 - Estatística Kappa e OCP (overall class performance) para as diferentes composições de bandas analisadas. Composição Kappa (%) OCP (%) 543 98 99,2 321 96,1 98,4 432 96,1 98,5 NDVI 8,2 16,1 5432 98,1 99,2 A matriz de confusão gerada pela classificação, assim como os demais indicadores de desempenho estão tabulados a seguir: Tabela 6 - Matriz de confusão. 543 TRAINING CLASS PERFORMANCE (Resubstitution Method) Project Reference Number of Samples in Class Class Class Accuracy+ Number 1 2 3 4 5 6 7 Name Number (%) Samples Lavoura Milheto Solo Exposto Queimada Fundo Desmate Cerrado Lavoura 1 98.0 16327 15999 202 126 0 0 0 0 Milheto 2 99.7 9315 27 9286 0 0 0 2 0 Solo Exposto 3 99.6 2051 9 0 2042 0 0 0 0 Queimada 4 98.6 663 0 7 0 654 0 2 0 Fundo 5 100.0 145905 0 0 0 0 145905 0 0 Desmate 6 92.5 13844 21 165 0 0 0 12801 857 Cerrado 7 96.9 5640 0 0 0 0 0 175 5465 TOTAL 193745 16056 9660 2168 654 145905 12980 6322 Reliability Accuracy (%)* 99.6 96.1 94.2 100.0 100.0 98.6 86.4 OVERALL CLASS PERFORMANCE (192152 / 193745 ) = 99.2% Kappa Statistic (X100) = 98.0%. Kappa Variance = 0.000000. Por fim, usando a composição 543, obtivemos a seguinte distribuição de áreas na figura analisada: 43
  • 51. Tabela 7 - Distribuiçao das áreas classificadas na imagem. 543 CLASS DISTRIBUTION FOR SELECTED AREA Number Class Samples Percent Area (Hectares) 1 Lavoura 1.635.929 7.34 96.959,13 2 Milheto 1.840.309 8.25 109.072,44 3 Solo Exposto 665.660 2.99 39.452,70 4 Queimada 113.314 0.51 6.715,96 5 Fundo 12.605.459 56.54 747.107,22 6 Desmate 2.482.217 11.13 147.117,39 7 Cerrado 2.950.520 13.23 174.873,03 Total 22.293.408 100.00 1.321.297,86 A tabela 7 contem a classificação do uso do solo na área determinada como potencial, para a região de Baixa Grande do Ribeiro. A área descrita como “fundo” é nada mais do que os pixels sem valor na imagem, representados pela área recortada. Portanto, de uma área total de aproximadamente 575 mil hectares classificada como potencial para a agricultura, o uso do solo que conota esse tipo de exploração (Solo Exposto, Milheto e Palhada) é de aproximadamente 245 mil hectares, segundo a classificação supervisionada gerada. A área em vias de exploração agrícola ou pecuária é de pouco mais que 150 mil hectares (desmatada e queimadas), e a de cerrado bruto é de 174,9 mil hectares. Fica evidente que, apesar haverem confusões, como entre área desmatada e área de cerrado, a classificação geral ficou muito boa, com índices superando os 95% de confiabilidade. 44
  • 52. Figura 23 - Imagem temática da região após a classificação A figura acima retrata como o programa classificou cada pixel da área analisada. É possível ver que, de maneira geral, a qualidade ficou fiel à realidade, porém há inúmeros pixels, principalmente entre os Grupos “cerrado” e “desmate” que estão com classificação errada. Isso se dá pelo fato de o algoritmo usado não levar em conta a distribuição espacial desses pixels, portanto, caso fosse usado um software com soporte a algoritmos de redes neurais, esse tipo de problema seria drásticamente minimizado. 45
  • 53. De maneira geral, foram delimitadas 7 grandes regiões geográficas com potencial agropecuário intensivo, denominadas como:  Baixa Grande do Ribeiro (exemplo usado); Cotrirosa; Leste; Uruçuí; Serra do Pirajá; Serra do Quilombo; e Santa Filomena. A seguir segue uma tabela com os resultados da classificação supervisionada realizada em cada um destes agrupamentos, classificação esta que contempla: área de lavoura; área em processo de conversão à lavoura; e área bruta, seja de cerrado ou de caatinga arbórea: Tabela 8 - Distribuição de áreas conforme os agrupamentos regionais feitos no sul do Piauí. Área em Área Área OCP Kappa Área bruta sistematização consolidada Potencial Baixa Grande 99,2% 98,0% 174.873 ha 153.833 ha 245.484 ha 574.191 ha Cotrirosa 99,7% 98,5% 139.883 ha 78.146 ha 106.496 ha 324.524 ha Leste 98,4% 97,5% 100.488 ha 89.778 ha 29.609 ha 219.875 ha Pirajá 96,8% 95,7% 86.611 ha 47.638 ha 58.616 ha 192.865 ha Santa Filomena 99,3% 99,0% 120.130 ha 30.317 ha 114.180 ha 264.627 ha Quilombo 98,8% 98,4% 53.523 ha 98.132 ha 114.537 ha 266.193 ha Uruçuí 99,0% 95,3% 87.660 ha 91.229 ha 118.235 ha 297.124 ha Total 98,7% 97,5% 763.169 ha 589.073 ha 787.158 ha 2.139.400 ha % - - 36% 28% 37% 100% Distribuidas espacialmente conforme a figura 24: Figura 24- Distrubuição espacial das áreas classificadas no sul do Piauí. 46
  • 54. Portanto, conclui-se que a região apresenta uma grande área com potencial agrícola, de topografia plana a suave ondulada, regime pluviométrico que permite pelo menos uma safra por ano, com alta probabilidade de ocorrência de veranicos, além de certa relação entre a ocorrência de secas severas e o fenômeno el niño. A região sul do Piauí possui cerca de 2,14 milhões de hectares de chapadas com as características descritas acima, dentre as quais a porção “leste” é a que tem maiores restrições hídricas, e a região da Baixa Grande do Ribeiro conta com a maior área agrícola. Em termos proporcionais, as regiões da Serra do Quilombo, Santa Filomena e Baixa Grande do Ribeiro possuem a maior área explorada, cerca de 43% cada, porém se considerarmos junto com esse número a área em sistematização, a Serra do Quilombo está em vias de explorar 80% de seu potencial. 6. Descrição da Fazenda A área em questão é real, e é denominada como Fazenda São João. A fazenda possui pouco menos de 30 mil hectares, dos quais, entre reserva legal, APP’s e áreas não aproveitáveis, a área máxima estimada para exploração é de 17 mil hectares. 6.1. Solos A fertilidade dos solos agrícolas da fazenda é típica de solos tropicais, mais especificamente latossolos, caracterizando-se como fortemente ácidos, altamente saturados por alumínio e com baixo porcentual de bases na CTC (distróficos), baixo teor de argila, sendo, geralmente, de textura arenosa a média, teor muito baixo de fósforo disponível, comumente girando em torno de 1 ppm. São solos profundos e muito bem drenados, de maneira geral, são ótimos do ponto de vista físico, e limitantes sob a ótica química, quando em seu estado natural. Há diversos tipos de solos na região, sendo que os solos agrícolas encontrados nas chapadas são os latossolos (vermelho- amarelos e amarelos) e neossolos quartzarênicos. Como o teor de argila é baixo, e composto por argilas de baixa atividade, como caulinita e óxidos de Fe e Al, a matéria orgânica (MO), encontrada naturalmente em pequenos teores nesses solos, torna-se essencial para a manutenção de sua fertilidade. 47
  • 55. Matias et al. (2009) observaram os benefícios que um sistema de manejo conservacionista pode trazer para esse solos, uma vez que os teores de MO observados em um latossolo amarelo da região de Uruçuí revelam que o sistema de plantio direto acumula, em profundidades variando entre 5 e 40cm, mais MO do que o próprio cerrado (vegetação nativa), diferença ainda maior é observada quando se comparam os sistemas de plantio convencional e direto. Portanto, antes da exploração agrícola, e, se possível, concomitantemente às operações de abertura e preparo das áreas de cerrado, deve-se promover a correção química desses solos, visando o aumento do pH, da saturação por bases, e diminuição dos teores de Al tóxico às raízes. Isso é feito através da aplicação de calcário sobre as áreas, sendo que a correção em subsuperfície deve ser feita com gesso agrícola (sulfato de cálcio dihidratado). As fontes de calcário e gesso mais próxima evidenciam uma qualidade baixa dos produtos. O calcário extraído nas proximidades de Bom Jesus tem baixa PRNT e é calcítico, com teor de Mg inferior a 5%. Já as fontes de gesso são restritas ao gesso mineral, proveniente de gipsita extraída do estado de Pernambuco. A baixa reatividade de ambos os corretivos exige maiores dosagens para a correção efetiva do perfil do solo, além de maior tempo para sua reação com o solo. O manejo agrícola do solo deve ser o mais conservacionista possível, de modo a preservar e, se possível, incrementar o teor de matéria orgânica das áreas exploradas. 48