O documento descreve a história de uma jovem escrava que trabalha em uma fazenda de café no Brasil nos anos 1980. Sua mãe se casa com o dono da fazenda, Kennedy Mackenzie, para desgosto da filha. A narrativa descreve as difíceis condições de trabalho dos escravos e a indiferença que a mãe agora demonstra pela filha.
3. Folhas de
OUTONO Os dias passavam, minhas mãos
estavam agora, cheias de doloridas
feridas feitas pelo trabalho no campo. Já
fazia alguns dias que não via minha pobre
mãe, isso me corroia por dentro, será que
ela estava bem? Era o que perguntava a
mim mesma.
4. Folhas de
OUTONO O sol escaldante nos castigava
enquanto colhíamos os grãos de café,
tentávamos nos proteger com grandes
chapéus de palha, que não adiantavam
para nada, pois os raios do sol atingiam
nossas cabeças mesmo assim.
5. Folhas de
OUTONO O trabalho então é interrompido
com um grande tumulto em frente à
grande casa que ficava ao centro do
cafezal, todos os escravos correm em
direção até lá, para ver o que estava
ocorrendo, eu faço o mesmo. O tumulto
se intensifica, e com grande dificuldade
tento ver o que estava acontecendo, vejo
senhor Mackenzie trajado de um elegante
terno de uma famosa marca Italiana,
6. Folhas de
OUTONO
se parecia com aquele grotesco homem
qual havia nos buscado na praia e menos
ainda com um homem que vive com o
tráfico de pessoas e trabalho escravo em
plenos anos 80. Ele esta acompanhado
de uma elegante mulher, trajada com um
lindo vestido branco com delicadas
rendas, semelhante a um vestido de
noiva, seu rosto esta coberta com um
delicado véu branco e em suas mãos esta
um lindo buquê de dedaleiras.
7. Folhas de
OUTONO Tudo indicava que aquilo era
uma breve cerimônia de
casamento, aliás, os dois estavam
ajoelhados em frente a um velho homem
trajado como um típico padre da igreja
católica.
8. Folhas de
OUTONO Após breves palavras, uma
desagradável surpresa ocorre, uma
pequena brisa levanta o delicado véu da
dama, revelando ser minha própria mãe.
No mesmo momento, meus olhos
prontamente se enchem de lágrimas,
como ela poderia ter se entregado a um
homem tão horrível, que merecia arder no
fogo do inferno por toda a eternidade? Era
o que achava, mesmo não crendo em
céu, inferno, Deus ou Diabo.
9. Folhas de
OUTONO Ela, no mesmo instante, olha
brevemente para mim, já eu, deixo o local
no mesmo momento, uma mulher
independente, guerreira, que batalhou por
toda a vida para ganhar míseras migalhas
de pão, hoje, se torna submissa a uma
criatura tão desagradável como Kennedy
Mackenzie, merecia apenas um
sentimento de minha parte, o desprezo.
10. Folhas de
OUTONO O dia passa, a noite chega, e
todos nós seguimos a uma espécie de
senzala, onde permanecíamos até o
amanhecer do dia seguinte.
A noite era o único momento que
se podia refletir, aliás todos estavam
dormindo e o silêncio dominava o local.
11. Folhas de
OUTONO A insônia não me permitia
adormecer, insônia causada pelo ocorrido
há algumas horas atrás, mesmo com a
decepção que havia sofrido, não sei se
era certo desprezar a mulher que tanto
zelou por mim, mas o que ela havia feito
era imperdoável, sei que estava agindo
como uma criança mimada, mas não
conseguia mudar meu modo de pensar.
.
12. Folhas de
OUTONO Dias, semanas, meses se
passavam, a época do café havia
terminado, sem trabalho para fazer,
Senhor Mackenzie nos ocupava nos
dando tarefas para a preservação das
boas condições de sua enorme fazenda.
.
13. Folhas de
OUTONO Eram raras às vezes em que via
Sra. Mackenzie – passei a chamá-la
assim depois que se casou com aquele
horrível homem – só a via quando esta
inspecionava nosso trabalho, passava nos
cafezais no lugar dos capatazes pelo
menos uma vez a cada quinzena, sem
nenhum motivo aparente, talvez por puro
prazer de ver pessoas acatando suas
ordens.
.
14. Folhas de
OUTONO Confesso que nunca imaginaria
que minha mãe um dia se tornaria uma
pessoa tão diferente, tratava a todos,
inclusive a mim, como verdadeiros súditos
– Aliás, não passávamos disso – mas o
que me doía, era a indiferença por parte
dela a mim, parecíamos duas verdadeiras
desconhecidas..
15. Folhas de
OUTONO Havia completado sete anos,
confesso que nem me importava mais
com aniversários, já havia passado um
ano desde que havia chegado naquele
lugar, e neste um ano perdi
completamente a fé e o amor pela vida,
aliás, como poderia amar uma vida tão
cruel? Não tinha cabimento.