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O IMPERATIVO DA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO DE PAZ
Fernando Alcoforado*
As guerras e revoluções cresceram em escala jamais vista, tanto em quantidade como
em intensidade, no século XX sem paralelo na história, que continuam também no
século 21. Michael Klare, professor de estudos sobre paz e segurança mundiais no
Hampshire College, em Amherst, Masachusetts, e autor do recém-lançado Rising
powers, shrinking planet; the new geopolitics of energy, publicado nos Estados Unidos
pela Metropolitan Books, e no Reino Unido pela One World Publications, afirma em
artigo de sua autoria Washington analisa cenários para uma “guerra aberta”,
publicado no website <http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=2167>, que
conflitos significativos dos Estados Unidos contra potências nucleares como a Rússia e
a China é o que os estrategistas ocidentais vislumbram no futuro.
Segundo Klare, hoje, existe aumento das tensões nas relações entre a Rússia e o
Ocidente, cada um observando o outro na espera de um enfrentamento. Em Bruxelas,
como em Washington, durante muitos anos a Rússia deixou de ser uma prioridade nos
programas de defesa. Mas esse não será mais o caso no futuro. Hoje, os Estados Unidos
e a União Europeia consideram que é preciso concentrar novamente as preocupações na
eventualidade de um confronto com a Rússia. O novo orçamento militar dos Estados
Unidos marca uma mudança de orientação principal. Enquanto nos últimos anos os
Estados Unidos davam prioridade às “operações anti-insurrecionais em grande escala”,
eles devem agora se preparar para um “retorno da rivalidade entre grandes potências”,
sem descartar a possibilidade de um conflito aberto com um “inimigo de envergadura”,
como a Rússia ou a China.
A Rússia e a China são os “principais rivais” dos Estados Unidos, segundo Klare,
porque eles possuem armas muito sofisticadas para neutralizar algumas das vantagens
dos norte-americanos que precisa mostrar que tem a capacidade de causar perdas
intoleráveis a um agressor bem equipado, para dissuadi-lo de executar manobras
provocadoras ou fazê-lo se arrepender amargamente caso venha a lançá-las. Tal objetivo
exige reforço da capacidade norte-americana de se contrapor a um hipotético ataque
russo às posições da Otan no Leste Europeu. A instalação de quatro batalhões na
Polônia e nos países bálticos é ainda mais notável quando se pensa que será a primeira
guarnição semipermanente de forças multinacionais da OTAN no território da ex-União
Soviética.
Da mesma forma, ao transformar recifes e atóis do Mar da China Meridional em ilhotas
suscetíveis de abrigar instalações importantes, Pequim provocou surpresa e preocupação
nos Estados Unidos, que por muito tempo consideraram essa zona um “lago norte-
americano”. Os ocidentais estão impressionados com a potência crescente do Exército
chinês. Washington desfruta hoje uma superioridade naval e aérea na região, mas a
audácia das manobras chinesas sugere que Pequim se tornou um rival que não pode ser
negligenciado. Os estrategistas não enxergam nenhum outro recurso senão preservar
uma ampla superioridade a fim de impedir futuros concorrentes potenciais de prejudicar
os interesses norte-americanos. Daí as ameaças insistentes de um conflito maior, que
justificariam as despesas suplementares no armamento hipersofisticado que um
“inimigo de envergadura” exige.
É bastante improvável que Donald Trump renuncie à preparação de um conflito com a
China ou a Rússia. Trump repetiu várias vezes que pretende reconstruir as capacidades
2
militares “esgotadas” do país. A intimidação e os treinamentos militares em zonas
sensíveis como o Leste Europeu e o Mar da China Meridional podem se tornar a nova
norma, com os riscos de escalada involuntária que isso implica. Washington, Moscou e
Pequim, de qualquer forma, anunciaram que instalariam nessas regiões forças
suplementares e conduziriam exercícios ali.
Além do possível conflito dos Estados Unidos contra a Rússia e a China, há, também, a
guerra civil na Síria na qual estão envolvidos os Estados Unidos e a Rússia que tem esta
como aliada do governo sírio e os primeiros como oponente. Há ainda conflitos entre
Palestina e Israel e entre Irã e Israel nos quais estão envolvidas as grandes potências
mundiais (Estados Unidos como aliados de Israel e Rússia e China como aliados da
Palestina e Irã). Outro conflito de grande proporção é o que existe entre os povos
muçulmanos e as potências ocidentais no que é denominado por Samuel Huntington de
choque de civilizações. Os atentados terroristas em países do Ocidente praticados por
fundamentalistas islâmicos e o surgimento do Estado Islâmico no Iraque e na Síria
representam a reação muçulmana à agressão permanente praticada pelos Estados Unidos
contra o Iraque, Líbia e Síria.
No livro de sua autoria Ascensão e Queda das Grandes Potências: Transformação
Econômica e Conflito Militar de 1500 a 2000 (Rio de Janeiro: Editora Campus, 1989),
Paul Keynnedy afirma que a riqueza é, geralmente, necessária ao poderio militar. Se,
porém, proporção demasiado grande dos recursos do país é desviada da criação de
riqueza e atribuída a fins militares, como vem ocorrendo com os Estados Unidos desde
o final da Segunda Guerra Mundial, torna-se então provável que isso leve ao
enfraquecimento do poderio norte-americano, em longo prazo, como já vem ocorrendo.
Kennedy afirma ainda que, se o país excede estrategicamente, por exemplo, pela
conquista de territórios extensos ou em guerras onerosas, corre o risco de ver as
vantagens potenciais da expansão externa superadas pelas grandes despesas exigidas.
Este dilema se torna agudo se o país em questão tiver entrado em período de declínio
econômico relativo como é o caso dos Estados Unidos. É o declínio econômico dos
Estados Unidos que faz com que sejam abertos espaços para que a China e a Rússia se
transformem em grandes protagonistas da cena mundial.
Outros conflitos que podem acontecer no século 21 no mundo dizem respeito às guerras
pela posse dos recursos naturais como minérios, entre os quais se insere o petróleo, e
pelo controle dos recursos hídricos. Sobre os conflitos pelos recursos hídricos, em 2003,
a UNESCO publicou um relatório identificando as bacias hidrográficas com maior
potencial de gerar conflitos internacionais. Entre os locais citados pela Unesco estão a
bacia do Prata, que pode gerar disputas entre Bolívia, Argentina, Uruguai, Paraguai e
Brasil, a construção de usinas hidrelétricas no rio Madeira pelo Brasil que é contestada
pelo governo boliviano alegando impactos ambientais, a bacia do Rio Nilo em que nove
países da África (Egito, Sudão, Uganda, Tanzânia, Ruanda, Quênia, República
Democrática do Congo, Burundi e Etiópia) discutem o aproveitamento de suas águas, as
Colinas de Golã que colocam em confronto Israel e Síria na disputa pelas nascentes do
Rio Jordão, fundamental para o abastecimento de água do Oriente Médio, os dois
aquíferos que abastecem Israel e os territórios palestinos os quais têm diminuído e
colocam em confronto o Estado de Israel e a Autoridade Palestina e as águas dos rios
que cortam a Turquia, Síria, Iraque, Líbano e Jordânia que apresentam diminuição do
volume de água podendo gerar conflitos entre estes países pelo controle dos recursos
hídricos.
3
Para cessar os conflitos que se multiplicam em todo o planeta é preciso que haja uma
governança democrática do mundo. Está demonstrado pelos exemplos da história que
nenhuma nação por mais poderosa que seja poderá assegurar o ordenamento da
economia mundial e a paz e a estabilidade nas relações internacionais. A constituição
de um governo mundial visaria não apenas o ordenamento econômico em escala
mundial, mas, sobretudo, criar as condições para enfrentar os grandes desafios da
humanidade no Século XXI os quais consistem em: 1) Guerras em cascata; 2) Crises
econômicas e financeiras em cadeia; 3) Revoluções e contrarrevoluções sociais em todo
o globo; 4) Superpopulação mundial; 5) Pandemia mortal; 6) Mudanças climáticas
extremas; 7) Crime organizado; e, 8) Ameaças vindas do espaço, cujas ações de caráter
global para neutralizá-las são impossíveis de serem levadas avante pelos estados
nacionais isoladamente e pelas instituições internacionais atuais.
*Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do
Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social
(Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas,
Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet
(http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br.

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O imperativo da construção de um mundo de paz

  • 1. 1 O IMPERATIVO DA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO DE PAZ Fernando Alcoforado* As guerras e revoluções cresceram em escala jamais vista, tanto em quantidade como em intensidade, no século XX sem paralelo na história, que continuam também no século 21. Michael Klare, professor de estudos sobre paz e segurança mundiais no Hampshire College, em Amherst, Masachusetts, e autor do recém-lançado Rising powers, shrinking planet; the new geopolitics of energy, publicado nos Estados Unidos pela Metropolitan Books, e no Reino Unido pela One World Publications, afirma em artigo de sua autoria Washington analisa cenários para uma “guerra aberta”, publicado no website <http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=2167>, que conflitos significativos dos Estados Unidos contra potências nucleares como a Rússia e a China é o que os estrategistas ocidentais vislumbram no futuro. Segundo Klare, hoje, existe aumento das tensões nas relações entre a Rússia e o Ocidente, cada um observando o outro na espera de um enfrentamento. Em Bruxelas, como em Washington, durante muitos anos a Rússia deixou de ser uma prioridade nos programas de defesa. Mas esse não será mais o caso no futuro. Hoje, os Estados Unidos e a União Europeia consideram que é preciso concentrar novamente as preocupações na eventualidade de um confronto com a Rússia. O novo orçamento militar dos Estados Unidos marca uma mudança de orientação principal. Enquanto nos últimos anos os Estados Unidos davam prioridade às “operações anti-insurrecionais em grande escala”, eles devem agora se preparar para um “retorno da rivalidade entre grandes potências”, sem descartar a possibilidade de um conflito aberto com um “inimigo de envergadura”, como a Rússia ou a China. A Rússia e a China são os “principais rivais” dos Estados Unidos, segundo Klare, porque eles possuem armas muito sofisticadas para neutralizar algumas das vantagens dos norte-americanos que precisa mostrar que tem a capacidade de causar perdas intoleráveis a um agressor bem equipado, para dissuadi-lo de executar manobras provocadoras ou fazê-lo se arrepender amargamente caso venha a lançá-las. Tal objetivo exige reforço da capacidade norte-americana de se contrapor a um hipotético ataque russo às posições da Otan no Leste Europeu. A instalação de quatro batalhões na Polônia e nos países bálticos é ainda mais notável quando se pensa que será a primeira guarnição semipermanente de forças multinacionais da OTAN no território da ex-União Soviética. Da mesma forma, ao transformar recifes e atóis do Mar da China Meridional em ilhotas suscetíveis de abrigar instalações importantes, Pequim provocou surpresa e preocupação nos Estados Unidos, que por muito tempo consideraram essa zona um “lago norte- americano”. Os ocidentais estão impressionados com a potência crescente do Exército chinês. Washington desfruta hoje uma superioridade naval e aérea na região, mas a audácia das manobras chinesas sugere que Pequim se tornou um rival que não pode ser negligenciado. Os estrategistas não enxergam nenhum outro recurso senão preservar uma ampla superioridade a fim de impedir futuros concorrentes potenciais de prejudicar os interesses norte-americanos. Daí as ameaças insistentes de um conflito maior, que justificariam as despesas suplementares no armamento hipersofisticado que um “inimigo de envergadura” exige. É bastante improvável que Donald Trump renuncie à preparação de um conflito com a China ou a Rússia. Trump repetiu várias vezes que pretende reconstruir as capacidades
  • 2. 2 militares “esgotadas” do país. A intimidação e os treinamentos militares em zonas sensíveis como o Leste Europeu e o Mar da China Meridional podem se tornar a nova norma, com os riscos de escalada involuntária que isso implica. Washington, Moscou e Pequim, de qualquer forma, anunciaram que instalariam nessas regiões forças suplementares e conduziriam exercícios ali. Além do possível conflito dos Estados Unidos contra a Rússia e a China, há, também, a guerra civil na Síria na qual estão envolvidos os Estados Unidos e a Rússia que tem esta como aliada do governo sírio e os primeiros como oponente. Há ainda conflitos entre Palestina e Israel e entre Irã e Israel nos quais estão envolvidas as grandes potências mundiais (Estados Unidos como aliados de Israel e Rússia e China como aliados da Palestina e Irã). Outro conflito de grande proporção é o que existe entre os povos muçulmanos e as potências ocidentais no que é denominado por Samuel Huntington de choque de civilizações. Os atentados terroristas em países do Ocidente praticados por fundamentalistas islâmicos e o surgimento do Estado Islâmico no Iraque e na Síria representam a reação muçulmana à agressão permanente praticada pelos Estados Unidos contra o Iraque, Líbia e Síria. No livro de sua autoria Ascensão e Queda das Grandes Potências: Transformação Econômica e Conflito Militar de 1500 a 2000 (Rio de Janeiro: Editora Campus, 1989), Paul Keynnedy afirma que a riqueza é, geralmente, necessária ao poderio militar. Se, porém, proporção demasiado grande dos recursos do país é desviada da criação de riqueza e atribuída a fins militares, como vem ocorrendo com os Estados Unidos desde o final da Segunda Guerra Mundial, torna-se então provável que isso leve ao enfraquecimento do poderio norte-americano, em longo prazo, como já vem ocorrendo. Kennedy afirma ainda que, se o país excede estrategicamente, por exemplo, pela conquista de territórios extensos ou em guerras onerosas, corre o risco de ver as vantagens potenciais da expansão externa superadas pelas grandes despesas exigidas. Este dilema se torna agudo se o país em questão tiver entrado em período de declínio econômico relativo como é o caso dos Estados Unidos. É o declínio econômico dos Estados Unidos que faz com que sejam abertos espaços para que a China e a Rússia se transformem em grandes protagonistas da cena mundial. Outros conflitos que podem acontecer no século 21 no mundo dizem respeito às guerras pela posse dos recursos naturais como minérios, entre os quais se insere o petróleo, e pelo controle dos recursos hídricos. Sobre os conflitos pelos recursos hídricos, em 2003, a UNESCO publicou um relatório identificando as bacias hidrográficas com maior potencial de gerar conflitos internacionais. Entre os locais citados pela Unesco estão a bacia do Prata, que pode gerar disputas entre Bolívia, Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil, a construção de usinas hidrelétricas no rio Madeira pelo Brasil que é contestada pelo governo boliviano alegando impactos ambientais, a bacia do Rio Nilo em que nove países da África (Egito, Sudão, Uganda, Tanzânia, Ruanda, Quênia, República Democrática do Congo, Burundi e Etiópia) discutem o aproveitamento de suas águas, as Colinas de Golã que colocam em confronto Israel e Síria na disputa pelas nascentes do Rio Jordão, fundamental para o abastecimento de água do Oriente Médio, os dois aquíferos que abastecem Israel e os territórios palestinos os quais têm diminuído e colocam em confronto o Estado de Israel e a Autoridade Palestina e as águas dos rios que cortam a Turquia, Síria, Iraque, Líbano e Jordânia que apresentam diminuição do volume de água podendo gerar conflitos entre estes países pelo controle dos recursos hídricos.
  • 3. 3 Para cessar os conflitos que se multiplicam em todo o planeta é preciso que haja uma governança democrática do mundo. Está demonstrado pelos exemplos da história que nenhuma nação por mais poderosa que seja poderá assegurar o ordenamento da economia mundial e a paz e a estabilidade nas relações internacionais. A constituição de um governo mundial visaria não apenas o ordenamento econômico em escala mundial, mas, sobretudo, criar as condições para enfrentar os grandes desafios da humanidade no Século XXI os quais consistem em: 1) Guerras em cascata; 2) Crises econômicas e financeiras em cadeia; 3) Revoluções e contrarrevoluções sociais em todo o globo; 4) Superpopulação mundial; 5) Pandemia mortal; 6) Mudanças climáticas extremas; 7) Crime organizado; e, 8) Ameaças vindas do espaço, cujas ações de caráter global para neutralizá-las são impossíveis de serem levadas avante pelos estados nacionais isoladamente e pelas instituições internacionais atuais. *Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br.