O documento discute a observação como um elemento construtor e regulador de sistemas. A observação envolve denominar fenômenos e distinguí-los de outros, formando um círculo regulador. Observadores constroem suas próprias realidades através de distinções que criam, as quais só podem ser observadas por outras distinções. A observação de segunda ordem revela como os observadores constroem suas perspectivas.
2. Observar, denominar, distinguir
• Observar: denominar um fenômeno e
distinguí-lo, assim, de outros fenômenos
• Simultaneamente com a distinção se produz
uma denominação
• Não há denominação sem uma distinção na
qual se baseia, e vice-versa
• Observar, denominar e distinguir formam
um círculo regulador
• Observar = forma de distinguir
3. A distinção tem dois lados
– Lado Y: a denominação („mulher“)
– Lado X:discriminação („homem não!“)
– Um dos lados é sempre excluido
– A distinção usa „homens“ como objetos de
discriminação para a denominação de
„mulheres“.
– Distinguir é cíclico: homens em distinção a
mulheres, por sua vez em distinção a homens.
5. Formas
Observação acontece
– quando sistemas discriminam e reagem a suas
próprias discriminações („discernir“).
– quando pensamentos fixam algo e o distinguem
de outro pensamento menos fixo („distinguir“)
– Social: quando compreensão é produzida por
um ato de informação. („compreender“).
6. Selecionar
– Observar: tres níveis de selecionar
– emoções seletivas: „o volume do ciúme“
– percepção seletiva: „olhando só aquilo“
– memória seletiva: „poxa, me esqueci!“
– Observadores escolhem interesses em certos
aspectos, negligenciando outros.
– Esta escolha já é uma pré-seletiva
7. Observar: distorções
– Observadores fornecem descrições
incompletas, distorcidas pelo observador:
– Ele troca facilmente as medidas do seu julgamento,
– Sobrevaloriza primeiras impressões,
– Completa lacunas,
– Aplana contradições,
– Cria ordem e sentido, onde antes nâo existia,
– Tudo isso dependendo do seu estar (motivações).
– A observação como método sabe disso (?).
8. Distingir é uma aventura
– Observadores denominam o mundo com
distinções diferentes, dependendo do ponto de
vista. Isso é certo. O certo é isso.
– Distinções não são observáveis no momento de
sua aplicação. Elas sâo observadas só depois,
atravês de outras distinções.
– Fazer distinções é sempre uma aventura: sâo
feitas de forma ingênua, cega, ignorante. Só
depois se sabe o grau de ingenuidade, cegueira
e ignorância aplicadas.
9. O „ponto cego“ (blind spot)
– Cada observação tem seu “ponto cego" (blind
spot): ela não pode ver a si própria. Ela é
ingênua (genuina)
– Mas ela pode ser observada com outras
observações, elas mesmas com pontos cegos
– O observador tem a sua visão de mundo graças
à sua cegueira.
– "Não me tirem meu ponto cego, por favor!“
– „O maior cego é aquele que nâo quer enxergar“
10. Observaçâo de segunda ordem
– Ao observar o observador, a distinção anterior -
quem observa, quem é observado - entra em
colapso, e com ele o observador de 1a. Ordem.
– Ela é distinta da observaçâo de primeira ordem:
ela percebe a si própria como um primeira
– o distinguido reentra na distinção atual. re-entry
– a „ingenuidade“ está rompida, mas nâo
totalmente: sempre há também a primeira
enesima vez. („Hoje é a primeira vez que lhes
vejo de 4a. vez“)
11. O medium “sentido“
• O observador utiliza para suas operações
um medium (meio)que coloca um
• „espaço semântico“ criativo à disposição
para suas operações de observação.
• Sistemas socias e sistemas de consciência
usam para sua autopoises o meio "sentido“
• Eles têm acesso ao mundo apenas por esta
via. („Se nâo tiver sentido, nâo interessa“)
12. Realidade construida
em autopoiesis
• O observador opera no medium "sentido"
que ele mesmo constroi. No decorrer desta
construção ele mesmo de distingue dela.
• O sistema cria sua propria área de operação
que ele denomina de „realidade“ (autopoiesis)
• Essa pode-lhe parecer completamente
externa, denominando-a de „circunstâncias“
• A observação de 2a. Ordem revela esta
construção de um „mundo próprio“
13. Autopoiese: aspectos I
• 1. Nãda „existe“, tudo se move (reproduz).
• 2. O processo de (re)produção ocorre num
medium (em sistemas sociais: sentido).
• 3. Para um sistema se reproduzir, necessita
de estruturas ...
• ...que fornecem possibilidades de conexão
(em sistemas de sentido: expectativas).
14. Autopoiese: aspectos II
• 4. Operações conectam com operações.
Surge sistema que se delimita, nas suas
operaçôes, do resto do mundo (se diferencia
do seu ambiente).
• 5. Um sistema autopoiético é autônomo.
• Ele trata sua experiência com lingagem
operativa própria.
• O que vem de fora é transformado para ser
compatível como modus operandi do
sistema. (p.e. imagens em palavras)
15. Autopoiesis e decisâo
– Por causa do seu fechamento operacional e
operação autoreferencial, os sistemas agem em
contato consigo próprio.
– Eles imaginam um exterior, ignorando que se
trata de uma construção interna
– A complexidade força os sistemas a agirem
seletivamente.
– Por isso tomam decisões em situações
indefinidas.
16. Contato externo: acoplamento
• Ele ocorre em certos pontos onde o sistema
é receptível para irritações
• Um sistema coloca a outro sua estrutura à
disposiçâo, transformada em uma operação
própria do sistema receptor.
• A autopoiese precisa da estimulação de
fora, traduzida para um código próprio.
17. Acomplamento estrutural entre
indivíduo e sociedade
• O sistema psícico põe à disposição do
sistema social o seu conjunto de operações
e seus resultados;
• O sistema social usa esta estrutura sem
precisar reproduzir as operações de
consciência, próprias ao sistema psíquico.
• E vice- versa: o enuncidado (ss) passa a ser
o pensado (sp). Um círculo se move.
18. Consequências métodicas
• A compreensão clássica do método ...
– ... pressupõe ordem externa ou mundo comum,
existente antes de qualquer percepção ou ação.
– Assim, a „objetividade“ foi procurada a ser
ancorada nalguma instância externa, „destino“,
„deusas/deuses“, ou em „terapia/consultoria“.
– A teoria sistêmica, a cibernética de 2a. ordem e
o construtivismo, ao retirar estas âncoras
externas, dispôe de âncoras internas.
19. Instância externa eliminada
– Na forma sistémica de validação não há mais
uma instância externa, independente, e não há
mais nenhum critério que distinga entre válido
ou não, verdadeiros ou não, corretos ou nâo.
– Todos os critérios de verdadeiro ou correto ou
válido são produzidos relativos ao sistema. Eles
ficam dependentes de observação, e por isso
ficam contingentes.
20. Diferença entre métodos pré-
construtivistas e construtivistas
– Na visão pré-construtivista o problema
consistia na descrição a mais exata possível da
realidade.
– A meta era levar a realidade e sua descrição a
uma relação de correspondência.
– Para tal, a observação de 1a. ordem é suficiente.
– Ela pensa encontrar o mundo imediatamente,
ignora portanto o esforço de construção do
observador.
21. Construtivismo
– Métodos não construtivistas se esforçam por
objetividade.
– Métodos construtivisatas colocam em jogo o
observador de 2a. ordem. A ação metodológica
ganha um dimensão reflexiva.
– O observador 2a. ordem vê como é que ele
produz seu ponto de vista.
– Ele já não pode atribui-lo ao „mundo“, mas à
sua própria escolha .
22. Da Intersubjetividade para a
comunicação I
– Fechamento operacional impede
intersubjetividade.
– Atores não dispõem de uma realidade comum
e/ou objetiva para classificar seus contatos.
– Tal "realidade" tem de ser generada com
sistemas de descrição próprios,...
– ... sem a garantia que funcionem também em
outros sistemas de descrição.
23. Da intersubjetividade para a
comunicação II
– Intersubjetividade pressupõe um pré-
entendimento dos parceiros interagentes
– Comunicação revela as condições precárias
deste entendimento (de coisas, processos,
argumentos, comportamentos etc.), e as torna
assim controláveis metodologicamente.
– A comunicação produz sua própria
compreensão conectando-se a outras
comunicações, no tempo e no espaço.
24. Autocontrole metodológico:
produzir o externo internamente
– Comunicação revela o que intersubjetividade
esconde: o controle metdológico começa com
autocontrole:
– O ator/observador tenta "compreender" dados e
sinais que o outro produz em palavras e atos.
– A interpretação de "irritações" externas se
baseia nas suas operações internas
– Ele tem de produzir o externo internamente!
25. Observar cientificamente
– Nas ciências, a observação vale como um
método empírico, ao lado do experimento.
– Há observação aberta e coberta,
– participante e não participante,
– sistemática e não sistemática,
– em situações naturais e artificiais,
– autoobservação e observação alheia.
26. O modelo „buraco-da-fechadura“
– O observador pensa operar fora da área
observada por ele.
– Ele tenta observar os fenômenos diretamente e
imediatamente.
– Ele se esforça de minimizar a sua influência em
cima do fenômeno,
– Ele tenta limpar seu observar de influências
"subjetivas", ganhando "objetividade".
27. O modelo participativo
– O observador é parte daquilo que ele observa.
– Sua observação não é absoluta, mas relativa ao
seu ponto de vista (Einstein);
– Suas observações influenciam o observado
(Heisenberg);
– Suas observações criam o observado (Spencer
Brown);
– O mundo não é descoberto pelo observador,
mas inventado.
28. Pesquisa empírica
• Compreensão observadora (do outro)
significa para um observador sistémico ver
como um outro sistema maneja a diferença
entre sistema e ambiente.
– Ele compreende um outro sistema a partir das
relações deste com o seu ambiente.
– A observação se volta para o processo de
comunicação e para as estruturas que o
orientam.
29. Questionamentos
– Como é que comunicação produz conexões?
– Que é que comunicação faz com o tema?
– Como comunicação produz causalidades?
– Como comunicação produz problemas?
– Como ela resolve problemas?
– Como ela se relaciona com pessoas?
– Como compreender comunicações à nível
supra-indivídual?