1. Guerra de Canudos
Imagem coletada de:
http://www.meionorte.com/danielcristovao,3,data,2009-3-21.html
A chamada Guerra de Canudos, revolução de Canudos ou insurreição
de Canudos, foi o confronto entre um movimento popular de fundo
sócio-religioso e o Exército da República, que durou de 1896 a 1897,
na então comunidade de Canudos, no interior do estado da Bahia, no
Brasil.
O episódio foi fruto de uma série de fatores como a grave crise
econômica e social em que encontrava a região à época,
historicamente caracterizada pela presença de latifúndios
improdutivos, situação essa agravada pela ocorrência de secas
cíclicas, de desemprego crônico; pela crença numa salvação
milagrosa que pouparia os humildes habitantes do sertão dos flagelos
do clima e da exclusão econômica e social.
Inicialmente, em Canudos, os sertanejos não contestavam o regime
republicano recém-adotado no país; houve apenas mobilizações
esporádicas contra a municipalização da cobrança de impostos. A
imprensa, o clero e os latifundiários da região incomodaram-se com
uma nova cidade independente e com a constante migração de
pessoas e valores para aquele novo local passaram a acusá-los disso,
ganhando, desse modo, o apoio da opinião pública do país para
2. justificar a guerra movida contra o arraial de Canudos e os seus
habitantes.
Aos poucos, construiu-se em torno de Antônio Conselheiro e seus
adeptos uma imagem equivocada de que todos eram quot;perigosos
monarquistasquot; a serviço de potências estrangeiras, querendo
restaurar no país o regime imperial, devido, entre outros ao fato de o
Exército Brasileiro sair derrotado em três expedições, incluindo uma
comandada pelo Coronel Antônio Moreira César, também conhecido
como quot;corta-cabeçasquot; pela fama de ter mandado executar mais de
cem pessoas na repressão à Revolução Federalista em Santa
Catarina, expedição que contou com mais de mil homens. A derrota
das tropas do Exército nas primeiras expedições contra o povoado
apavorou o país, e deu legitimidade para a perpetração deste
massacre que culminou com a morte de mais de seis mil sertanejos.
Todas as casas foram queimadas e destruídas.
O conflito foi retratado no livro quot;Os Sertõesquot; de Euclides da Cunha,
que o testemunhou como repórter do jornal O Estado de S. Paulo.
Guerra de Canudos
Mapa de localização de Canudos
3. Data 7 de novembro de
1896 - 6 de
outubro de 1897
Local Interior do sertão
Bahiano
Resultado Vitória das Tropas
federais e
destruição total do
arraial
Combatentes
Conselheiristas Tropas estaduais e
federais
Comandantes
Antônio Ten. Manoel da
Conselheiro Silva Pires Ferreira
João Abade Maj. Febronio de
Pajeú Brito
Cel. Antônio
Moreira César
Gal. Artur Oscar
Forças
25.000 12.000
Baixas
20.000 5.000
História
Antecedentes
Canudos era uma pequena aldeia que surgiu durante o século 18 às
margens do rio Vaza-Barris. Com a chegada de Antônio Conselheiro
em 1893 passou a crescer vertiginosamente, em poucos anos
chegando a contar por volta de 25 000 habitantes. Antônio
Conselheiro rebatizou o local de Belo Monte, apesar de estar situado
num vale, entre colinas.
A situação na região, à época, era muito precária devido às secas, à
fome, à pobreza e à violência social. Esse quadro, somado à elevada
religiosidade dos sertanejos, deflagrou uma série de distúrbios
sociais, os quais, diante da incapacidade dos poderes constituídos em
debelá-los, conduziram a um conflito de maiores proporções.
Introdução
4. Para entendermos a Guerra dos Canudos e a violência com que foi
esmagada a revolta camponesa é preciso restabelecer o cenário
histórico em que ela ocorreu. Não pode-se entender Canudos
isoladamente, sem conhecer as circunstâncias históricas e políticas
que a provocaram.
O Brasil estava em permanente ebulição, desde 13 de maio de 1888
com a assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel, acontecimentos
espetaculares e traumáticos se sucediam um ao outro. A Questão
Militar que vinha se arrastando desde 1883, com o debate em torno
da doutrina do soldado-cidadão, que defendia a participação dos
oficiais nas questões políticas e sociais do país, teve uma conclusão
repentina, com o golpe militar republicano de 15 de novembro de
1889.
A derrubada da Monarquia, que de imediato foi sem derramamento
de sangue, terminou por provocar reações anti-republicanas. Uma
nova constituição foi aprovada em 1891, tornando o Brasil uma
república federativa e presidencialista no modelo norte-americano.
Separou-se o estado da Igreja (o que vai provocar a indignação de
Antônio Conselheiro) e ampliou-se o direito de voto (aboliu-se o
sistema censitário existente no Império e permitiu-se que todo o
cidadão alfabetizado pudesse tornar-se cidadão).
As dificuldades políticas da implantação da República se aceleraram
com a crise inflacionária provocada pelo Encilhamento, quando o
Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, autorizou um aumento de 75% na
emissão de papel-moeda nacional. Houve muito desgaste do novo
regime devido ao clima de especulação e de multiplicação de
empresas sem lastro (mais de 300 em um ano apenas). O presidente
da República, Mal. Deodoro da Fonseca chegou a fechar o Congresso,
o que serviu de pretexto para a Marinha de Guerra rebelar-se
exigindo e conseguindo sua renúncia , o que ocorreu em 23 de
novembro de 1891. Deodoro doente retirou-se, sendo substituído
pelo vice-presidente Mal. Floriano Peixoto.
Em fevereiro de 1893 estoura no Rio Grande do Sul a revolução
federalista, quando maragatos insurgem-se contra o governo de Júlio
de Castilhos, conduzindo o estado a uma dolosa guerra civil. Neste
mesmo ano em setembro, ocorre o segundo levante da Armada,
novamente liderado pelo Al. Custódio de Melo, seguida pela adesão
do Al. Saldanha da Gama, que chega a bombardear o Rio de Janeiro,
Floriano Peixoto mobiliza a população para a defesa da capital e
Custodio de Melo resolve abandonar a baía da Guanabara para
juntar-se aos maragatos que haviam ocupado Desterro (em Santa
Catarina). A guerra no sul militarmente se encerra com a morte de
5. Gumercindo Saraiva o guerrilheiro maragato em 1894, e com derrota
da incursão do Al. Saldanha da Gama na fronteira do Rio Grande do
Sul com o Uruguai em 1895. A guerra tinha produzido mais de 12 mil
mortos em uma parte deles havia sido vítima de degolas de parte a
parte. Coube ao novo presidente, Prudente de Morais, alcançar a
pacificação que é assinada em Pelotas em agosto de 1895.
Foi nesse pano de fundo turbulento, marcado por transformações
repentinas e radicais, pela abolição da escravidão, pelo golpe
republicano, pelo fechamento do Congresso, pelo estado de sítio, por
dois levantes da Armada e por uma cruel Guerra Civil, que a
população urbana ouviu com espanto a notícia, em novembro de
1896, de que uma expedição de 100 soldados havia sido derrotada
pelos jagunços do interior da Bahia. Começava então a Guerra de
Canudos.
A Guerra de Canudos (1896-1897)
Provavelmente se o quadro político brasileiro dos primeiros anos de
República não fosse tão conturbado talvez os episódios de Canudos
tivessem outro desenlace. Mas a notícia de que tropas regulares
haviam sido desbaratadas pêlos fiéis do Conselheiro fez com que as
autoridades e a própria população dos grandes centros urbanos,
particularmente do Rio de Janeiro, visse naquilo a mão ardilosa dos
monarquistas.
Se por um lado era evidente que o Conselheiro pregava contra a
república, estimulando a que não se lhe pagassem tributos e até
espantasse os funcionários que representavam a justiça e o
casamento civil, não pode-se negar seu conteúdo religioso. Canudos
assemelha-se às incontáveis rebeliões religiosas, lideradas por
fanáticos, chamados de profetas, que se dizem enviados ou
mensageiros dos céus. Reúnem ao seu redor um bando de crentes
aos quais é assegurada não só a salvação como muitas vezes a
imortalidade.
Repudiam o mundo ao seu redor, denunciado como corrupto e de
estar a serviço das forças demoníacas. Só os justos se salvarão. Só
aqueles que se dedicam inteiramente as rezas e a comunidade dos
crentes serão os eleitos. Seu comportamento erradio e agressivo para
com os outros e seu fanatismo militante faz com que se indisponham
com o resto da sociedade. Os atritos daí decorrentes, fazem com que
a polícia ou a milícia termine por se envolver com eles. As tentativas
de apaziguamento fracassam. Eles resistem a qualquer de dispersar.
Ao contrário, a presença das autoridades faz com que se aglutinem
com maior fervor em torno do profeta. Armam-se. O profeta lhes
assegura que caso morram na defesa da Nova Jerusalém, Jesus lhes
garantirá a vida por mais mil anos ainda.
6. A Figura de Antônio Conselheiro
Desenho representando Antônio Conselheiro (imagem coletada de:
http://www.cce.ufsc.br/nupill/literatura/sertoes.html).
Antônio Vicente Mendes Maciel, apelidado de quot;Antônio Conselheiroquot;,
nascido em Quixeramobim (CE) a 13 de março de 1830, de
tradicional família que vivia nos sertões entre Quixeramobim e Boa
Viagem, fora comerciante, professor e advogado prático nos sertões
de Ipu e Sobral. Após a sua esposa tê-lo abandonado em favor de um
sargento da força pública, passou a vagar pelos sertões em uma
andança de vinte e cinco anos. Chegou a Canudos em 1893,
tornando-se líder do arraial e atraindo milhares de pessoas.
Acreditava que era um enviado de Deus para acabar com as
diferenças sociais e com a cobrança de tributos. Acreditava ainda que
a quot;Repúblicaquot; (então recém-implantada no país) era a materialização
do reino do quot;Anti-Cristoquot; na Terra, uma vez que o governo laico seria
uma profanação da autoridade da Igreja Católica para legitimar os
governantes. A cobrança de impostos efetuada de forma violenta, a
7. celebração do casamento civil, a separação entre Igreja e Estado
eram provas cabais da proximidade do quot;fim do mundoquot;.
A escravidão havia acabado poucos anos antes no país, e pelas
estradas e sertões, grupos de ex-escravos vagavam, excluídos do
acesso à terra e com reduzidas oportunidades de trabalho. Assim
como os caboclos sertanejos, essa gente paupérrima agrupou-se em
torno do discurso do peregrino quot;Bom Jesusquot; (outro apelido de
Conselheiro), que sobrevivia de esmolas, e viajava pelo Sertão
coberto com um manto de brim azul, caminhando com um cajado,
barba e cabelos longos.
O governo da República, recém-instalado, queria dinheiro para
materializar seus planos, e só se fazia presente pela cobrança de
impostos. Para Conselheiro e para a maioria das pessoas que viviam
nesta área, o mundo estava próximo do fim. Com estas idéias em
mente, Conselheiro reunia em torno de si um grande número de
seguidores que acreditavam que ele realmente poderia libertá-los da
situação de extrema pobreza ou garantir-lhes a salvação eterna na
outra vida.
Campanha Militar
A primeira reação oficial do governo da Bahia deu-se em outubro de
1896, quando as autoridades de Juazeiro apelaram para o governo
estadual baiano em busca de uma solução. Este, em novembro,
mandou contra o arraial um destacamento policial de cem praças, sob
o comando do tenente Manuel da Silva Pires Ferreira. Os
conselheiristas, vindo ao encontro dos atacantes, surpreenderam a
tropa em Uauá, em 21 de novembro, obrigando-a a se retirar com
vários mortos. Enquanto aguardavam uma nova investida do
governo, os jagunços fortificavam os acessos ao arraial.
Comandada pelo major Febrônio de Brito, em janeiro de 1897, depois
de atravessar a serra de Cambaio, uma segunda expedição militar
contra Canudos foi atacada no dia 18 e repelida com pesadas baixas
pelos jagunços, que se abasteciam com as armas abandonadas ou
tomadas à tropa. Os sertanejos mostravam grande coragem e
habilidade militar, enquanto Antônio Conselheiro ocupava-se da
esfera civil e religiosa.
Na capital do país, o governo federal ante este fato e a pressão de
políticos florianistas que viam em Canudos um perigoso foco
monarquista, assumiu a repressão, preparando a primeira expedição
regular, cujo comando confiou ao coronel Antônio Moreira César. A
notícia da chegada de tropas militares à região atraiu para lá grande
número de pessoas, que partiam de várias áreas do Nordeste e iam
8. em defesa do quot;homem Santoquot;. Em 2 de março, depois de ter sofrido
pesadas baixas, causadas pela guerra de guerrilhas na travessia das
serras, a força, que inicialmente se compunha de 1.300 homens,
assaltou o arraial. Moreira César foi mortalmente ferido e passou o
comando para o coronel Pedro Nunes Batista Ferreira Tamarindo.
Abalada, a expedição foi obrigada a retroceder. Entre os chefes
militares sertanejos destacaram-se Pajeú, Pedrão, que depois
comandou os conselheiristas na travessia de Cocorobó, Joaquim
Macambira e João Abade, braço direito de Antônio Conselheiro, que
comandou os jagunços em Uauá.
A
Povoação de Canudos, Bahia, Brasil.
No Rio de Janeiro, a repercussão da derrota foi enorme,
principalmente porque se atribuía ao Conselheiro a intenção de
restaurar a monarquia. Jornais monarquistas foram empastelados e
Gentil José de Castro, gerente de dois deles, assassinado. Em abril de
1897 então, providenciou-se a quarta e última expedição, sob o
comando do general Artur Oscar de Andrade Guimarães, composta de
duas colunas, comandadas pelos generais João da Silva Barbosa e
Cláudio do Amaral Savaget, ambas com mais de quatro mil soldados
equipados com as mais modernas armas da época. No decorrer da
luta, o próprio ministro da Guerra, marechal Carlos Machado
Bittencourt, seguiu para o sertão baiano e se instalou em Monte
Santo, base das operações.
9. O primeiro combate verificou-se em Cocorobó, em 25 de junho, com
a coluna Savaget. No dia 27, depois de sofrerem perdas
consideráveis, os atacantes chegaram a Canudos. Após várias
batalhas, a tropa conseguiu dominar os jagunços, apertando o cerco
sobre o arraial. Depois da morte de Conselheiro (supõe-se que em
decorrência da desinteria), em 22 de setembro, parte da população
de mulheres, crianças e idosos foi colocada à disposição das tropas
federais, enquanto um último reduto resistia na praça central do
povoado.
C
aricatura na Revista Ilustrada, retratando Antônio Conselheiro, com um séquito de
bufões armados com antigos bacamartes, tentando quot;barrarquot; a República.
Em tal momento de rendição, há relatos de que foi instituída,
suspeitadamente por oficiais de baixa patente do exército, o que se
denominou de pena da quot;gravata vermelhaquot; - execução sumária de
prisioneiros já subjugados, que eram posicionados de joelhos e
degolados. Estima-se que parte da população civil rendida, que ainda
não havia sido dizimada pela fome e pelas doenças no arraial, e não
somente os prisioneiros combatentes, tenha sido executada dessa
10. forma por tropas federais, o que constituiu num dos maiores crimes
já praticados em território brasileiro.
O arraial resistiu até 5 de outubro de 1897, quando morreram os
quatro derradeiros defensores. O cadáver de Antônio Conselheiro foi
exumado e sua cabeça decepada a faca. No dia 6, quando o arraial
foi arrasado e incendiado, o Exército registrou ter contado 5.200
casebres.
Consequências
O conflito de Canudos mobilizou aproximadamente doze mil soldados
oriundos de dezessete estados brasileiros, distribuídos em quatro
expedições militares. Em 1897, na quarta incursão, os militares
incendiaram o arraial, mataram grande parte da população e
degolaram centenas de prisioneiros. Estima-se que morreram ao todo
por volta de 25 mil pessoas, culminando com a destruição total da
povoação.
Euclides da Cunha imortalizou a Guerra de Canudos na sua obra Os
Sertões, publicada em 1902, e que inspirou Mario Vargas Llosa a
escrever seu romance quot;A Guerra do Fim do Mundoquot;, 1980. Além
disso, a guerra inspirou muitos filmes, entre eles o de longa-
metragem Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende, 1997.
Bibliografia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Canudos
http://www.algosobre.com.br/historia/guerra-de-
canudos.html
http://indoafundo.com