SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 368
Baixar para ler offline
Uma Prosposta de Integração Ensino-Serviço




    AÇÕES DE ENFERMAGEM
          PARA O
    CONTROLE DO CÂNCER




                    2ª Edição

              Ministério da Saúde
           Instituto Nacional de Câncer
MINISTÉRIO DA SAÚDE
  Barjas Negri

  SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE
  Renílson Rehem de Souza

  INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER
  Jacob Kligerman

  VICE-DIRETORIA
  José Kogut

  COORDENAÇÃO DE ENSINO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
  Maria Alice Sigaud Machado Coelho




  COORDENAÇÃO
  Maria Bernadete Alves Barbosa - Coordenação de Ensino e Divulgação Científica
  Maria Alice Sigaud M. Coelho - Coordenação de Ensino e Divulgação Científica
  Marcos André Felix da Silva - Centro de Suporte Terapêutico Oncológico

  DESIGN E PRODUÇÃO GRÁFICA
  Marcelo Mello Madeira - Coordenação de Ensino e Divulgação Científica

  COPIDESQUE
  Ulisses Maciel

  BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL
  Silvia Cristina Olivier Dalston - Coordenação de Ensino e Divulgação Científica

  FOTOS
  José Antônio Campos - Coordenação de Ensino e Divulgação Científica
  Carlos Augusto Sousa Leite - Coordenação de Ensino e Divulgação Científica

  FOTOLITOS E IMPRESSÃO
  Imprinta

                                                 Ficha catalográfica

              B823a

                  BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer.
                   Ações de enfermagem para o controle do câncer: uma proposta de integração
                  ensino - serviço. 2.ed. - Rio de Janeiro: INCA, 2002.

                  380p. : il.

                  Bibliografia
                  Índice de assunto
                  ISBN 85-7318-078-1

                  1. Enfermagem oncológica. 2. Política de saúde. 3. Ensino. 4. Prevenção e controle.
                  5. Programas nacionais de saúde. 6. Brasil. I. Título.

                                                                            CDD-610.736 98


TIRAGEM
1000 exemplares
 2002 - É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.
Uma Prosposta de Integração Ensino-Serviço




       AÇÕES DE ENFERMAGEM
              PARA O
        CONTROLE DO CÂNCER
AUTORES
Angela Coe Camargo da Silva                Marcos André Félix da Silva
Ailse Rodrigues Bittencourt                Marcos José Pereira Renni
Alexandre Ferreira de Souza                Mariângela Freitas da Silva Lavor
Alexandre José Donato                      Maria Bernadete Alves Barbosa
Antônio Augusto de Freitas Peregrino       Maria das Graças Vieira de Abreu
Ana Lúcia Amaral Eisenberg                 Maria Gaby Ribeiro de Gutiérrez
Carlos Alberto Esteves Adão                Maria Inez Pordeus Gadelha
Cecília Ferreira da Silva Borges           Maria Teresa dos Santos Guedes
Claudete Ferreira Reis Albuquerque         Nelson Cardoso de Almeida
Cristiane de Souza Lourenço                Nilce Piva Adami
Edilson Sebastião Pimentel                 Regina Frauzino
Edjane Faria de Amorin (in memorium)       Regina Moreira Ferreira
Élida Cabral Cunha                         Ricardo Henrique Sampaio Meireles
Emília Rebelo Pinto                        Rosa Aparecida Pimenta de Castro
Evaldo de Abreu                            Selma dos Santos Barcelos
Lucília Reis Pinheiro                      Simone Guimarães de Amorim
Luisa Mercedes da Costa e Silva Goldfarb   Tânia Maria Cavalcante
Luiz Eduardo Atalécio Araújo               Valdete Oliveira Santos
Marcelo Gurgel Carlos da Silva             Valéria Cunha de Oliveira
Marceli de Oliveira Santos                 Vera Lúcia Gomes de Andrade
Uma Prosposta de Integração Ensino-Serviço

COLABORADORES
Adelemara Mattoso Allonzi
Carlos Eduardo Alves dos Santos
Carlos Joelcio de Moraes Santana
Célia Regina de Andrade Costa
Cláudia Naylor
Dolival Lobão Veras Filho
Ellen do Socorro Paixão
Inez Rocha Moita
Ivano Humbert Marchesi
José Vicente Paya
Luciana Santoro Peçanha
Luis Felipe Leite Martins
Márcia Regina Dias Alves
Marcos Valadão (in memorium)
Maria da Penha Schwartz
Maria Lúcia Monteiro da Silva
Marléia Chagas Moreira
Maurício Alves Martins
Mirian Aparecida Teixeira
Paulo Antonio de Paiva Rebelo
Pedro Luiz Fernandes
Sandro Alan Ramos Rabelo
Tânia Chalhub de Oliveira
Tereza Caldas Camargo
Walter Corrêa Souza

REVISÃO DOS TEXTOS ORIGINAIS E REDAÇÃO DO TEXTO FINAL
Alexandre José Donato
Célia Regina de Andrade Costa
Luiz Eduardo Atalécio Araújo
Marcos André Felix da Silva
Maria Bernadete Alves Barbosa
Ricardo Henrique Sampaio Meireles
Tânia Maria Cavalcante
Valéria Cunha de Oliveira

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Eliana Cláudia de Otero Ribeiro
Euclydes Etienne Miranda Arreguy
Maria Alice Sigaud Machado Coelho
Maria Bernadete Alves Barbosa
Apresentação

       O Instituto Nacional de Câncer (INCA) / Ministério da Saúde publica e distribui
nas Universidades de Enfermagem e Hospitais-Escola do Brasil, esta 2ª edição do
livro "Ações de Enfermagem para o Controle do Câncer", em formato de CD-Rom e
livro texto, voltado para estudantes, profissionais e professores de enfermagem, visan-
do à integração Ensino-Serviço. Este material educativo vem atender a uma deman-
da dos profissionais e docentes para ampliar o Ensino de Enfermagem Oncológica
nacionalmente. A carência de material de pesquisa e ensino vinculados à
Enfermagem Oncológica mostra-se cada vez maior conforme nos é apontado pelo
crescente número de solicitações das diferentes Escolas de Enfermagem e Unidades
de Serviço do INCA. O trabalho para composição do presente livro foi árduo e
contou com a contribuição de Enfermeiros e outros profissionais de saúde do INCA;
como também de outros Serviços e Faculdades de Enfermagem. É com muita
satisfação que apresentamos depois de sete anos a 2ª edição do presente trabalho.
Esta 2ª edição contém os seguintes capítulos:
      O capítulo 1 traz informações do Problema de Câncer no Brasil, especificando
os Determinantes Sociais, incluindo dados do Impacto Econômico e Social,
dissertando sobre a Epidemiologia do Câncer e Fatores de Risco.
      O capítulo 2 descreve a Fisiopatologia, referindo-se à Oncogênese, detalhando
a Biologia Tumoral, colocando dados importantes sobre a Imunologia Tumoral,
esclarecendo a Relação entre o Tumor e o Hospedeiro, explicando a Classificação e
Nomenclatura dos Tumores, colocando a evolução da Graduação e Estadiamento dos
Tumores Malignos, como também as Lesões Proliferativas Controladas e Lesões
Pré-Neoplásicas.
      O capítulo 3 contempla as Ações de Prevenção Primária e Secundária no
Controle do Câncer, Ações de Enfermagem na Prevenção Primária e Secundária dos
Principais Tipos de Câncer, e para ilustrar a Prevenção Secundária desses cânceres
são apresentados estudos de casos que facilitarão naturalmente o raciocínio do
estudante, profissional e do professor que por ventura esteja utilizando este livro.
       O capítulo 4 apresenta a Política de Saúde que nos mostra sua perspectiva
histórica, o Sistema Único de Saúde (SUS) e sua reorganização atual, e a Política de
Controle do Câncer, comentando ainda sobre o Rumo a uma Política Nacional de
Combate ao Câncer até a organização atual do INCA, finalizando com a Política do
Controle do Câncer no Brasil, e seus Programas: Centro de Alta Complexidade em
Oncologia (CACON), Viva Mulher, Controle do Tabagismo e Seus Fatores de Risco,
e o Programa de Integração Docente Assistencial na Área do Câncer
(PIDAAC-Enfermagem).
      O capítulo 5 é composto didaticamente de Casos Clínicos oncológicos; onde
prioriza-se a consulta e a suspeita diagnóstica de enfermagem, discussão dos casos
clínicos, encaminhamentos, observação das condutas terapêuticas e comentários sobre
o tratamento indicado (clínico ou cirúrgico) procurando nortear o ensino dos
profissionais com vários casos de diversos tipos de câncer, contando também
com ilustrações e com discussões didáticas na área oncológica.
      O capítulo 6 fala sobre as Bases do Tratamento do Câncer, Radioterapia,
Iodoterapia, Quimioterapia e suas Normas Técnicas para o Manuseio Seguro de
Agentes Quimioterápicos e o Tratamento Cirúrgico.
     Apresenta-se também os Anexos que se referem aos Exames de Mamas,
Colo do Útero, Pele, Boca, Fisiopatologia da Dor em Câncer e Estomaterapia.
     Espera-se que realmente este livro venha contribuir para ampliar os co-
nhecimentos dos profissionais de Enfermagem na área oncológica.




                                 Jacob Kligerman
                    Diretor Geral do Instituto Nacional de Câncer
Introdução

       A partir da constatação de que o câncer é um problema de saúde pública no
Brasil, passa a ser importante o conhecimento da sua magnitude para que se possa ter
bases referentes a seu controle, seja por meio de programas de prevenção e detecção
precoce, seja pela organização e financiamento da rede assistencial para o
tratamento e reabilitação da população. O Sistema de Informação sobre Mortalidade
(SIM) registrou 106.990 mortes por câncer, número superado apenas pelos óbitos ocor-
ridos por doenças cardiovasculares e por causas externas (Ministério da Saúde, 1999),
o que torna as neoplasias malignas o terceiro grupo de mortalidade por causas conhe-
cidas. Assim, o câncer constitui-se na segunda causa de morte por doença no Brasil.
Ressalta-se ainda que o câncer é um problema inserido em um quadro sanitário em
que se combinam doenças ligadas à pobreza e doenças crônico-degenerativas,
questões estas que se encontram comumente em países em processo de
desenvolvimento como é o caso do Brasil.
      O câncer é uma doença com localizações e aspectos clínico-patológicos
múltiplos e não possui sintomas ou sinais patognomônicos, podendo ser detectado em
vários estágios de evolução histopatológica e clínica. Destes fatos resulta, em grande
parte, a dificuldade do seu diagnóstico e a afirmativa de que a suspeita de câncer
pode surgir diante de sintomas os mais variados possíveis.
      Ações voltadas para o diagnóstico precoce das lesões pré-malignas são de fun-
damental importância para a resposta terapêutica. É de competência do enfermeiro
neste momento fazer a suspeita diagnóstica e encaminhar ao clínico para afirmativa.
      No Brasil, muito ainda tem que ser feito para que os profissionais assumam a
responsabilidade que lhes cabe quanto à prevenção e ao controle do câncer. A atuação
deste profissional, a sua agilidade no encaminhamento do paciente à adequação das
condutas diagnósticas e terapêuticas diante da suspeita diagnóstica, irá repercutir sobre
a sobrevida, qualidade de vida e cura do mesmo. Desta forma, procurou-se incluir
neste livro uma variedade de casos que exemplificassem diferentes níveis de
complexidade do diagnóstico e bases sobre o tratamento do câncer.
       Portanto, este livro tem como proposta integrar o Ensino-Serviço, a partir das
informações acima citadas, oferecendo uma oportunidade a estudantes, profissionais
e professores de enfermagem de se aprofundarem nas questões sobre o câncer, a sua
fisiologia, ações de prevenção primária e secundária, a política de saúde e a política
nacional de controle ao câncer.
Capítulo 1
O PROBLEMA DO CÂNCER
      NO BRASIL
17
                                                   O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1



INTRODUÇÃO

         O    Brasil apresenta um quadro sanitário em que se combinam doen-
ças ligadas à pobreza, típicas dos países em desenvolvimento, e doenças crônico-
degenerativas, características dos países mais afluentes. Essa situação reflete,
inquestionavelmente, as contradições do processo de desenvolvimento do País.
          Analisando-se a distribuição da mortalidade pelas principais causas de
morte nas macrorregiões do Brasil, percebe-se que a posição relativa da morta-
lidade por câncer figura sempre entre as primeiras daquelas causas, ao lado das
doenças do aparelho circulatório, das causas externas, das doenças do aparelho
respiratório, das afecções do período perinatal e das doenças infecciosas e para-
sitárias. Vale ressaltar que, apesar de muito melhor, a qualidade do registro do
óbito pelo câncer ainda fica comprometida pela classificação do mesmo como
causa mal definida. No Brasil, em 1998, a mortalidade por causas mal definidas
era a segunda causa de morte (15%). A análise por macrorregião revela que nas
regiões Norte e Nordeste as causas mal definidas ocupavam a primeira posição,
responsáveis por 24% e 30% do registro dos óbitos, respectivamente. Na região
Centro-Oeste as causas mal definidas encontravam-se na quarta posição (11%)
e nas regiões Sul e Sudeste essas causas ocupavam a quinta colocação, atribu-
indo-se a elas 8% e 10% do registro dos óbitos, respectivamente.
         Excluindo-se as causas mal definidas, o câncer constitui a terceira causa
de morte no Brasil, atrás somente das doenças do aparelho circulatório e das
causas externas, sendo assim a segunda causa de morte por doença. Em 1998,
os neoplasmas foram responsáveis por 11,92% dos 929.023 óbitos registrados,
sendo que 54,21% dos óbitos por neoplasia ocorreram entre os homens e 45,74%,
entre as mulheres. Considerando-se somente as mortes por doença (ou seja, ex-
cluindo-se as causas externas), as neoplasias representam a segunda causa de
morte em todas as regiões do país. Os neoplasmas seguem-se às doenças
cardiovasculares como causa de morte, e sua proporcionalidade aumenta à me-
dida que se desloca para o sul: 7,45% (região Nordeste), 8,52% (região Norte);
11,22% (região Centro-Oeste), 13,05% (região Sudeste) e 16,06% (região Sul).
         Através da análise dos determinantes sociais e indicadores
epidemiológicos do câncer, este livro procura ressaltar a importância dessa
doença como um problema de saúde pública em nosso país e também discutir o
seu impacto social e econômico. Partindo dessa análise, procede-se à discussão
sobre a importância da identificação dos grupos e dos fatores de risco de desen-
volvimento do câncer. Como será evidenciado ao longo do texto, a identificação
desses fatores e grupos orienta os programas de prevenção e controle e norteia o
raciocínio clínico.
18
                  Ações de enfermagem para o controle do câncer




                  1 - DETERMINANTES SOCIAIS DO CÂNCER

                             A urbanização, a industrialização e a maior expectativa de vida da
                  população são os principais fatores que contribuem para o aumento da incidên-
                  cia das doenças crônico-degenerativas, entre elas o câncer, visto que aqueles
                  fatores contribuem para o aumento de agentes cancerígenos ambientais ou para
                  uma maior e mais prolongada exposição dos seres humanos a esses agentes.


                  1.1- Aumento da expectativa de vida

                           O crescimento da população idosa é um fenômeno que ocorre não só
                  nos países desenvolvidos, mas também se verifica, de modo crescente, nos paí-
                  ses em desenvolvimento.
                           A expectativa de vida ao nascer, no Brasil, aumentou progressivamente
                  no século XX (Figura 1.1). No início daquele século, o brasileiro tinha uma ex-
                  pectativa de vida de menos de 35 anos. No final do século XX, ela estava para
                  mais de 70 anos. Como se verá adiante, a redução das taxas de natalidade e de
                  mortalidade tem modificado a estrutura etária da população, tornando-a mais
                  velha do ponto de vista demográfico.
                            O envelhecimento da população brasileira está retratado na Tabela 1.1,
                  onde se nota que a população correspondente aos menores de 14 anos diminuiu,
                  enquanto o contingente populacional das demais faixas etárias aumentou. Nes-
                  se intervalo de tempo, a população de idosos (65 ou mais anos) mais do que dupli-
                  cou a sua proporção.


                            Figura 1.1 - Expectativa de vida ao nascer para ambos os
                                         sexos, no Brasil, entre 1900 e 2020.



     Idade Média
       80

       60

       40

       20

        0
             1900         1920        1940         1960         1980         2020                        ANO

       Fonte: De 1900 a 1950, Santos JLF, Demografia: estimativa e projeções. São Paulo, Fauusp, 1978.
       De 1960 a 2020, United Nations, Periodical on Ageing 84, v. 1, n.1, 1985
19
                                                               O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1



           Tabela 1.1- Composição etária relativa (%) da contagem
                           populacional de 1996.




Fonte: IBGE/Contagem populacional.


        Contudo, existem disparidades na esperança de vida ao nascer, entre
os sexos e entre as populações das diversas regiões brasileiras. A Tabela 1.2
mostra como a expectativa de vida é menor nas regiões Norte e Nordeste e
maior entre as mulheres.


        Tabela 1.2 - Expectativa de vida ao nascer, em anos, por sexo e
                   segundo as grandes regiões, Brasil, 2000.




Fonte: IBGE/DPE/Departamento de População e Indicadores Sociais.
        Divisão de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica.
        Projeto UNFPA/BRASIL (BRA/98/P08) - Sistema Integrado de Projeções e Estimativas
        Populacionais e Indicadores Sociodemográficos.



         Duas são as variáveis biológicas que modificam as populações: a mor-
talidade e a fecundidade. Um país de população jovem apresenta altas taxas de
mortalidade e de fecundidade; quando em fase de explosão demográfica, esta
caracteriza-se por uma taxa de mortalidade declinante e uma alta taxa de ferti-
lidade; quando em fase de transição demográfica, a taxa de mortalidade é baixa
e a de fecundidade é gradualmente decrescente. A Tabela 1.3 demonstra a
redução progressiva dessas taxas entre a população brasileira, distribuídas por
décadas, no decorrer de mais de um século (de 1891 a 2000): a taxa de natalida-
de caiu em 56,3% e a de mortalidade, em 75,2%, verificando-se, assim, que a
nossa população já entrou na fase da transição.
20
     Ações de enfermagem para o controle do câncer




               Vê-se, assim, que modificações importantes ocorreram na estrutura da
     população brasileira. Adianta-se que a redução da taxa de mortalidade decor-
     reu, especialmente, da diminuição dos óbitos por doenças infecciosas. Embora
     sem a caracterização biológica, a migração é outra variável que também altera
     a composição populacional de uma cidade, região ou país. Adiante, ver-se-á
     como a migração interna contribuiu substancialmente para a modificação do
     perfil das doenças e das causas de morte no Brasil.


       Tabela 1.3 - Taxas brutas de natalidade e mortalidade no Brasil, 1990-2000.




     Fonte: IBGE
            (a) Dados do extinto Laboratório Estatístico do IBGE.
            (b) Censos demográficos.
            (c) IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de População e Indicadores Sociais.
            Nota: Dados referentes ao Anuário Estatístico do Brasil, 1995.



     1.2 - Industrialização e urbanização

              A revolução industrial, originada na Inglaterra na segunda metade do
     século XVIII, constituiu um dos grandes marcos da história da humanidade, im-
     primindo sérias modificações nos padrões de vida e nas relações sociais vigen-
     tes até então.
              No Brasil, o processo de industrialização acelerou-se após a Segunda
     Guerra Mundial. Desenvolveu-se em ritmos diferentes nas diversas regiões do
     País, ocorrendo uma maior concentração industrial na região Sudeste.
     São justamente nas regiões de maior industrialização que, atualmente, se verifi-
     cam as maiores taxas de mortalidade por câncer.
              Baseado no conhecimento de que cerca de 80% dos casos de câncer
     seriam direta ou indiretamente relacionáveis a fatores exógenos, Verhasselt (1977)
     enfatiza a importância das condições ambientais no desenvolvimento dessa
     doença. Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) a respeito dos
     efeitos das substâncias químicas sobre a saúde humana estima que, dos quatro
     milhões de substâncias naturais ou sintéticas já isoladas, sessenta mil estão em
     uso cotidiano. Entre estas, cinco mil são usadas como aditivos alimentares e
     1.500 são utilizadas na preparação de pesticidas. É importante salientar que a
     maioria dos produtos químicos atualmente em uso nunca foi devidamente testa-
     da quanto à sua toxicidade crônica e aos seus efeitos carcinogênicos.
              Algumas substâncias, como os hidrocarbonetos policíclicos aromáti-
     cos, o níquel, o asbesto e o ácido vinil-clorídrico, estão relacionadas a diversos
     cânceres ocupacionais. Como no Brasil os instrumentos legais de proteção à
     saúde do trabalhador são frágeis, e aqueles destinados a resguardar os interesses
21
                                                             O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1



e direitos do consumidor são de recente implantação e utilização, há condições
amplamente favoráveis à disseminação de carcinógenos de origem industrial.
Isto tem trazido, e continuará a trazer mais ainda, prejuízos de monta à saúde da
população brasileira.
         A questão da poluição ambiental não pode ser omitida, ainda que seu
efeito carcinogênico não esteja bem estabelecido. Resíduos industriais, a maior
parte das vezes sem o tratamento adequado, são emanados e disseminados pelo
ar ou despejados em cursos d’água, alcançando, inclusive, populações e áreas
bem distantes da fonte poluidora. Compromete-se, assim, a saúde da atual popu-
lação e das futuras gerações.
         Observa-se séria omissão no que diz respeito à aplicação dos procedi-
mentos cabíveis e necessários ao controle dos poluentes ambientais. Entre as
razões principais desta omissão, encontra-se a resistência dos empresários em
despender recursos para o controle da poluição e a displicência quanto à fisca-
lização do cumprimento das leis de proteção ambiental pelas empresas.
          A urbanização, fenômeno que freqüentemente caminha ao lado do pro-
cesso de industrialização, tem sido relacionada com uma maior ocorrência de
câncer. Verhasselt (1977) afirma que, em escala mundial, tem sido identificada
forte correlação entre a importância da mortalidade proporcional por câncer e o
grau de urbanização.
         Nos últimos dois séculos, vem ocorrendo sensível aumento na urbani-
zação. No começo do século XIX, somente 3% da população mundial viviam
em cidades; na década de 1970, essa proporção alcançava 40%, e a perspecti-
va era de que, na virada do milênio, a taxa de urbanização atingisse 80%, nos
países desenvolvidos.
        A Figura 1.2 mostra a evolução da composição populacional rural e
urbana no Brasil, para o período de 1940 a 1997, revelando a magnitude do
fenômeno de urbanização ocorrido no país.

                       Figura 1.2 - Evolução da composição populacional
                                    urbana e rural, no Brasil, de 1940 a 1997.



        %
      100
       80
                                                                                 RURAL
       60
                                                                                 URBANO
       40
       20
        0                                                               ANO
        1940         1950        1960       1970        1980        1997
        Fonte: Ministério da Saúde. Cadernos. Doenças Crônico-Degenerativas:
        Evolução e Tendências Atuais I. Brasília, Centro de Documentação do Ministério da
        Saúde, 1997.
22
     Ações de enfermagem para o controle do câncer




              A urbanização, comumente, é acompanhada de modificações nos hábi-
     tos de vida das pessoas. Os aspectos concernentes ao estilo de vida das popula-
     ções devem receber atenção quanto à gênese dos tumores, pois a persistência, a
     acentuação ou a introdução de novos hábitos pode induzir ou propiciar o desen-
     volvimento das neoplasias malignas. Entre esses hábitos, o tabagismo aparece
     como um dos mais importantes, estando diretamente relacionado com os cânce-
     res de pulmão, boca, laringe e bexiga.
             Em escala mundial, a expansão do tabagismo data da Primeira Guerra
     Mundial, e a maior generalização do vício foi notada após a Segunda Grande
     Guerra. Nos Estados Unidos, o consumo anual médio de cigarros, por adulto, em
     1920, era de 750 e elevou-se a 3.900, em 1960. Uma tendência oposta vem se
     desenvolvendo nas últimas duas décadas, na maioria dos países desenvolvidos,
     onde a proporção de fumantes e a quantidade do produto consumido vêm decli-
     nando substancialmente.
              Como resposta à retração da demanda de cigarros nos países industria-
     lizados, as indústrias de cigarro têm ampliado suas investidas em países do cha-
     mado Terceiro Mundo, para assegurarem a continuidade de seus negócios, me-
     diante a incorporação de novos mercados ou a expansão dos já existentes. Uma
     investigação conduzida pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) em
     oito cidades da América Latina, em 1970, acusou uma prevalência de tabagis-
     mo de 45% entre os homens e de 18% entre as mulheres, nas faixas etárias de
     15 a 74 anos. Verificou-se, porém, que a proporção entre homens e mulheres
     fumantes diminuiu de 1971 a 1988, principalmente no Brasil e no Chile.
              No Brasil, a epidemia tabagística se acelerou vertiginosamente, a partir
     de 1970. No período entre 1970 e 1980, o consumo de cigarros cresceu 132%,
     enquanto a população de 20 anos ou mais cresceu 37% e a população geral,
     28%. Na segunda metade de 1970, havia 25 milhões de fumantes; em 1987,
     contava-se, nas capitais brasileiras, com cerca de 33 milhões, o que implica um
     crescimento da ordem de 32% em dez anos (Rosemberg, 1987). Em 1989, uma
     pesquisa realizada em 363 municípios brasileiros possibilitou a estimativa de
     que existiam no Brasil 30,6 milhões de fumantes, ou seja, 23,9% dos maiores de
     5 anos de idade (Brasil, 1992).
               O Brasil é, desde 1993, em termos mundiais, o maior exportador e o
     terceiro produtor de tabaco. O recolhimento dos impostos que incidem sobre os
     produtos industrializados do tabaco muito significa para a economia do País,
     embora os prejuízos ambientais, sanitários e econômicos, vistos a longo prazo,
     superem as aparentes e imediatas vantagens econômicas. Aqui, um maço de
     cigarros é taxado em 74%, enquanto, nos países desenvolvidos, o imposto chega
     a representar até 85% do preço do maço.
              Sabe-se que o aumento da taxação é acompanhado por uma diminui-
     ção do consumo de cigarros. Ao mesmo tempo que caminha nesse sentido, pare-
     ce que o Brasil ainda vive as contradições entre a arrecadação de impostos e os
     custos sociais e econômicos do tabagismo: enquanto em 1974 os produtos do
23
                                                  O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1



tabaco participavam com 28% da arrecadação do Imposto sobre Produtos Indus-
trializados (IPI), em 1977 este já somava 36%. Em 1979, os tributos incidentes
sobre o tabaco e seus derivados compunham cerca de 10% do total da receita
federal. Em 1991, 69,4% do preço final do cigarro correspondiam à tributação
governamental (Brasil, 1992).
          Estes últimos dados explicam por que o combate ao tabagismo encon-
tra tantos obstáculos e enfrenta tantas contradições, que se superam na medida
em que se demonstra o seu impacto negativo sobre a vida e a saúde das pessoas,
individual e coletivamente. O câncer de pulmão é um exemplo incontestável
de como essa influência nefasta se instala e se sustenta, ao longo de décadas.
Sabe-se que, num dado país, a mortalidade por este tumor é diretamente propor-
cional ao consumo per capita de cigarros ou similares ali medido. No Brasil,
como em muitos outros países, este consumo tem sido sistematicamente progres-
sivo, a partir de 1945. Tomando-se a mortalidade por câncer de pulmão no Rio
Grande do Sul, onde se observam os maiores índices nacionais de produção e
consumo per capita de tabaco, verifica-se que, de 1935 a 1990, as taxas de
mortalidade por câncer de pulmão, entre os homens, ascenderam abruptamente
a 15/100.000 habitantes, a partir de 1975, e ultrapassaram 30/100.000 habitan-
tes, em 1990 (ou seja, respectivamente, 30 e 45 anos depois da explosão da
oferta e do consumo de cigarros verificada no mercado brasileiro). Tendência
semelhante, ainda que com ângulos menos agudos, observa-se no grupo das
mulheres gaúchas, entre as quais a taxa era de 5/100.000, em 1980, e em 1990
estava quase duplicada. Deve ser ressaltado que isto ocorreu, respectivamen-
te, 20 e 30 anos após a revolução sexual, que se deu na década de 1960 e que
resultou na incorporação da mulher ao mercado de trabalho, fazendo com que
ela assumisse hábitos e costumes até então predominantemente masculinos, entre
eles, o tabagismo.


1.3 - Avanço tecnológico no setor da saúde

         Nas seções anteriores, discutiram-se alguns fenômenos de ordem soci-
al que têm contribuído para o aumento da incidência do câncer. Nesta seção,
será examinado como a disponibilidade de recursos tecnológicos mais avança-
dos se relaciona com o diagnóstico e controle do câncer.
          O aumento da mortalidade proporcional por câncer não se deve, ne-
cessariamente, ao aumento real da doença. O avanço da ciência e da tecnologia
possibilitou a melhoria dos meios de diagnóstico e de tratamento. A utilização
destes recursos, aliada ao desenvolvimento socioeconômico, contribuiu para o
declínio da mortalidade por enfermidades controláveis, como a tuberculose, a
desnutrição, o diabetes melito e outras afecções, em várias regiões do mundo. A
mortalidade dos que escapam destas doenças é desviada para os dois principais
grupos das que ainda não foram controladas: as doenças cardiovasculares e as
neoplásicas. A importância do câncer vem, assim, aumentando, à medida que
ocorre o controle progressivo de outras enfermidades.
24
     Ações de enfermagem para o controle do câncer




              Os progressos tecnológicos observados na Medicina, nas últimas déca-
     das, proporcionaram o aprimoramento dos meios propedêuticos e, por conse-
     guinte, a maior acuidade diagnóstica para o câncer. Esta condição explica parte
     do aumento verificado na prevalência dessa doença.
              É oportuno considerar que o impacto da melhoria dos recursos de diag-
     nóstico e de tratamento não pode ser avaliado sem que se analise o acesso da
     população aos serviços de saúde. Também, há que se considerar que os custos
     da assistência médico-hospitalar aumentam com a incorporação de novas
     tecnologias, ao contrário do que ocorre em outras áreas do conhecimento huma-
     no e do mercado de bens e serviços.
              Segundo levantamento recente, realizado em maio de 2001, existem
     no Brasil 149 hospitais credenciados como CACON – Centro de Alta Complexi-
     dade em Oncologia - especializados no tratamento do câncer no Brasil. Desses
     Centros, 4% estão localizados na Região Norte, 6% na Região Centro-Oeste,
     19% na Região Nordeste, 21% na Região Sul e 51% na Região Sudeste. Ressal-
     te-se a grande concentração na região Sudeste. Há, portanto, uma razoável
     disponibilidade de recursos para tratamento do câncer neste nível do sistema de
     saúde.
25
                                                     O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1



 2 - IMPACTO ECONÔMICO E SOCIAL

         Uma nova distribuição demográfica reduz as pressões advindas de
uma população infantil e jovem sobre os sistemas educacional e sanitário mas,
por outro lado, aumenta, significativamente, a pressão para a assistência médi-
co-social aos idosos.
         O envelhecimento cursa com uma maior suscetibilidade às doenças, o
que torna os indivíduos idosos usuários assíduos dos serviços de saúde. Por sua
vez, as doenças que mais os afligem, as crônico-degenerativas, implicam con-
sultas regulares, exames complementares múltiplos e repetidos e tratamentos
longos e custosos.
           O Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, é formado por dois grandes
subsetores: o subsetor privado, composto por empresas, com ou sem fins lucra-
tivos (filantrópicas), contratadas ou credenciadas para prestação de serviço ao
SUS; empresas de assistência médica e de seguro saúde, clínicas e hospitais
particulares. O outro é o subsetor público, composto por instituições municipais,
estaduais e federais, presentes majoritariamente nos níveis primário e secundá-
rio e nas áreas de alto custo do nível terciário, pelos hospitais universitários e
pelos serviços de saúde dos ministérios militares, que possuem clientela, orça-
mento e regulamentação próprias.
         Já pela composição do sistema de saúde, pode-se deduzir o quão difícil
é calcular os custos reais da assistência médica no Brasil. Isto mais se complica,
na área do câncer, pela multiplicidade de procedimentos (de baixa e alta com-
plexidade) e ações (da prevenção à paliação) requeridos, e que permeiam todos
os níveis de um sistema que possui setores estanques e desintegrados, do qual
não se dispõe da informação sobre a duplicação de ações e sobre os custos de
todos os setores.
         Porém, como o SUS representa o maior deles, em estrutura e número de
usuários e, por isso, certamente também em orçamento, os seus gastos podem
sugerir a magnitude dos custos com a saúde e a doença dos brasileiros. Só em
dezembro de 1996, o DATASUS processou 914.637 internações (Sistema de
Internações Hospitalares - SIH / SUS) e 99.514.572 procedimentos ambulatoriais (Sis-
tema de Informações Ambulatoriais - SIA / SUS), pelo que se pagou, respectivamente,
R$ 246.897.454,28 e R$ 276.965.883,98, num total mensal de R$ 523.863.338,26.
A isto não se somam os gastos do Ministério da Saúde com pessoal, o repasse de
verbas para a Fundação Nacional de Saúde e nem os custos dos hospitais próprios
do Ministério da Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz, da Central de Medicamen-
tos, dos hospitais das universidades federais e da gestão semiplena.
        Entre as internações hospitalares mais onerosas, em média, naquele
mês, destacam-se as devidas anomalias congênitas (R$ 1.045,56), neoplasias
(R$ 516,69), doenças do aparelho circulatório (R$ 434,49), transtornos mentais
(R$ 427,43) e afecções perinatais (R$ 399, 48). A comparação dos custos médios
26
     Ações de enfermagem para o controle do câncer




     das internações efetuadas nos anos de 1991 e 1996 (Tabela 1.4), demonstra que,
     neste intervalo de cinco anos, exceto pelos transtornos mentais, a média dos
     custos dos procedimentos ascendeu em todos os demais grupos. Duas deduções
     se impõem, a partir dessa comparação. Primeira, a política de
     desinstitucionalização dos doentes mentais, aplicada no Brasil, nos últimos anos
     (o que também pode explicar o aumento do custo médio das internações por
     anomalias congênitas); segunda: o quanto pode a incorporação tecnológica,
     que, repete-se, sempre aumenta os custos médico-hospitalares, por irracional e
     indiscriminadamente aplicada, estar-se somando ao custo médio observado nos
     demais grupos de causas listados na Tabela 1.4.


        Tabela 1.4 - Custo médio (em dólares) das internações mais onerosas
                 distribuídas por grupos de causas e ano, no Brasil.




     Fonte: Ministério da Saúde - Cenepi - 1993 e DataSus - 1997.


              Vale informar que, sob a rubrica neoplasias, incluem-se somente as
     internações relativas a procedimentos codificados como oncológicos, ou seja,
     terapêuticos, a maioria cirúrgicos, e que cerca de 80% dos pacientes com cân-
     cer são atendidos e tratados ambulatorialmente. Do que se pode deduzir em
     quanto seriam majorados os custos da assistência na área do câncer, caso fos-
     sem computados todos os procedimentos e exames de prevenção, diagnóstico,
     estadiamento, tratamento, paliação e acompanhamento dos pacientes.
              É justo salientar que o câncer não é problema de saúde pública exclu-
     sivo dos países industrializados, posto que seus efeitos podem ser percebidos em
     regiões mais pobres ou subdesenvolvidas, com o agravante de que estas áreas
     apresentam outros sérios problemas de saúde, como as doenças infecciosas e a
     desnutrição.
               Embora não sejam comumente discutidas, as repercussões de ordem
     econômica e social do câncer são de grande monta. Para Rice & Hodgson (1980),
     as implicações para os doentes, a família e a sociedade em geral são a dor, o
     sofrimento, a incapacidade e a morte; representam milhões de anos de vida per-
     didos, uma vasta quantidade de recursos destinados à detecção, ao diagnóstico
     e ao tratamento e, ainda, recursos econômicos desperdiçados, devido à redução
     do potencial de trabalho humano.
27
                                                    O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1



         Os custos sociais do câncer, ainda que sejam de difícil quantificação,
são, seguramente, bastante elevados. Eles são classificados em diretos e indiretos.
Entre os custos diretos, estão os gastos com a prevenção, o diagnóstico e o trata-
mento. Nos custos indiretos são computadas as perdas de produção, decorren-
tes do tempo potencial do trabalho perdido por causa da mortalidade, morbidade
e incapacidade provocadas por essa doença.
         Fica evidente o seu alto custo econômico, se for levado em conta que
ela é de natureza crônica, pode provocar invalidez e exige internação hospita-
lar e acompanhamento ambulatorial freqüentes, e que seu diagnóstico e trata-
mento são realizados por equipe multiprofissional, altamente especializada e de
formação e manutenção onerosas, empregando geralmente tecnologia sofistica-
da e dispendiosa .
         É fácil depreender a relação direta que há entre recursos despendidos e
o estádio em que o câncer é diagnosticado. A Tabela 1.5, usando como exem-
plos os cânceres de mama e de colo do útero, exemplifica e quantifica bem essa
relação, e até a extrapola, uma vez que, quanto mais avançado o estágio da
doença, maior o número dos procedimentos de diagnóstico e terapêuticos apli-
cáveis, que se multiplicam quando se observa a recidiva tumoral; em
contraposição, a sobrevida das mulheres é progressivamente reduzida.
        O investimento nas áreas de prevenção e diagnóstico precoce traz,
assim, maior benefício social e econômico do que o custeio do tratamento da
doença em fase avançada.
         Os custos indiretos das neoplasias malignas são também muito expres-
sivos. Vale observar, por exemplo, que o peso da mortalidade por câncer em
Fortaleza, em dois anos, pode ser expresso em aproximadamente 15.894 anos
de vida média ativa potencial perdidos. Considerando-se as faixas etárias em
que ocorrem os óbitos, a mediana de renda por faixa etária e algumas premissas
de econometria, as perdas econômicas futuras estimadas seriam da ordem de
505.487 salários mínimos (Silva, 1987).
28
     Ações de enfermagem para o controle do câncer




        Tabela 1.5 - Relações entre o benefício e o custo direto* das ações de
                   controle do câncer cérvico-uterino e de mama.

                                  CÂNCER DE COLO DO ÚTERO




           (1)
             União Internacional de Controle do Câncer (UICC) - 1989.
           (2)
            Sistema Único de Saúde - Ministério da Saúde - 1994.
           Obs: Sem os custos de procedimentos paliativos aplicados ao estádio IV (p.e., RT anti-
           hemorrágica).



                                       CÂNCER DE MAMA




           *Média dos procedimentos diagnósticos e terapêuticas aplicáveis sem repetição
           dos procedimentos unitários previstos.
           (1)
               Médias de fontes internacionais.
           (2)
               Sistema Único de Saúde - Ministério da Saúde - 1995.



                 Vale também discutir como a dependência tecnológica pune os países
     em desenvolvimento, cujo cidadão paga cem vezes mais que um estadunidense
     para tratar um caso de câncer, independentemente da localização primária des-
     te (Tabela 1.6). Deve-se considerar, porém, que o alto percentual de casos de
     doença avançada, verificados correntemente em países subdesenvolvidos, tam-
     bém influencia o custo final do tratamento. Quando é feita a correlação entre
     esse custo e o benefício que ele traz ao paciente, medida pelo custo por anos de
     vida ganhos, verifica-se que ele é variável não só com a idade do paciente ao
     diagnóstico, mas também com a localização primária do tumor (Tabela 1.7).
29
                                                          O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1


    Tabela 1.6 - Custo* por caso tratado nos Estados Unidos da América
        e em países em desenvolvimento, de acordo com algumas
                     localizações primárias de câncer.




Fonte: Cromwell, 1969/71 (In: Barnum; Greenberg, 1989).
       * % per capita do PIB (números subestimados).



      Tabela 1.7 - Custo* por anos de vida ganhos de casos tratados**
                             no nível terciário.




 Fontes: Barnum; Greenberg, 1989.
          * % per capita do PIB (números subestimados).
         **Média de todos os estádios.



       Os dados anteriormente descritos evidenciam o tributo pago pela socie-
dade, como conseqüência das neoplasias malignas, justificando a urgência da
adoção de medidas eficazes para seu controle.
30
     Ações de enfermagem para o controle do câncer




     3 - A EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER


              A epidemiologia permite o estudo da distribuição das várias formas de
     câncer entre a população, a observação e análise das variações de sua ocorrên-
     cia em diferentes grupos ou comunidades e os fatores de risco a que eles se
     expõem.
            Mediante a correlação existente entre os dados de morbidade e mortali-
     dade e as diferenças verificadas nas condições ambientais, hábitos de vida ou
     de constituição genética observadas entre esses grupos, é possível se estabele-
     cerem hipóteses sobre as prováveis causas do câncer.
             Como este não representa uma única moléstia, mas sim um processo
     comum a um grupo heterogêneo de doenças que diferem em sua etiologia,
     freqüência e manifestações clínicas, é necessário estabelecer critérios de clas-
     sificação para o seu estudo. Usualmente, em Cancerologia, utilizam-se classifi-
     cações segundo a localização primária, o tipo histopatológico e a extensão
     anatômica dos tumores.
              Os estudos comparativos de freqüência do câncer devem considerar sem-
     pre a cobertura e a qualidade dos serviços de diagnóstico, na medida em que as
     variações observadas entre as diferentes regiões do território nacional podem
     refletir apenas esses componentes. A comparabilidade dos dados dependerá sem-
     pre também da utilização uniforme dos critérios adotados em diferentes regiões,
     instituições e até entre profissionais de um mesmo serviço de saúde.


     3.1 - Conceitos e definições

            Para se medir a freqüência das doenças e a mortalidade por elas
     provocada, utilizam-se taxas, ou coeficientes, que têm três elementos
     essenciais:
              • grupo de população exposto ao risco de adoecer ou morrer;
              • o fator tempo; e
              • o número de casos, de doenças, ou de mortes ocorridos na população
                exposta, em um certo período de tempo.

           Assim, a taxa de mortalidade por câncer é expressa pela seguinte
     equação:

          Taxa de mortalidade geral =       N.º de mortes por câncer, local, período         X 100.000
                 por câncer             População exposta ao risco, local, meio do período




             As taxas de mortalidade podem ser específicas para várias características,
     tais como sexo, idade, tipo ou localização de tumores, etc., permitindo compara-
     ções entre diferentes subgrupos de uma mesma população.
31
                                                            O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1



       A morbidade pode ser expressa pelas taxas de incidência e prevalência,
assim definidas:


   Incidência

   Taxa de incidência =      N.º de casos novos da doença, local, período       X 100.000
                           População exposta ao risco, local, meio do período



   Prevalência

   Taxa de prevalência =        N.º de casos da doença, local, período          X 100.000
                                 População no meio do período, local



       A incidência expressa o risco de uma determinada população desenvol-
ver uma doença. A prevalência é a quantidade de casos existentes de uma do-
ença (casos novos e antigos), relacionando-se, portanto, com a incidência e com
a duração da doença. Doenças agudas e fatais como a raiva, por exemplo, têm,
assim, incidência e prevalência semelhantes.
        As taxas são utilizadas para comparar dados de diferentes populações.
Entretanto, a análise comparativa entre taxas deve ser cuidadosa. Diferenças
entre elas podem refletir, por exemplo, apenas diferenças na composição etária
das populações estudadas. Por esta razão, utiliza-se o recurso da padronização
de taxas por idade, visando a anular o efeito, neste caso, da diferença observada
na estrutura etária das populações. A padronização das taxas por idade permite
a comparabilidade dos coeficientes de distintos Registros de Câncer ou países,
mesmo que as populações tenham diferentes distribuições etárias.
        A Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC, sigla em
Inglês), em suas publicações sobre a incidência do câncer nos cinco continen-
tes, tem adotado três populações-modelo de padronização: africana, mundial e
européia. A primeira é representativa de uma população jovem; a terceira, típi-
ca de uma população idosa; enquanto a segunda representa um padrão interme-
diário entre os dois extremos de modelos (Waterhouse et al, 1987).
       A Tabela 1.8 mostra, a título de ilustração, a mortalidade e a incidência
brutas por câncer, segundo o sexo, em Fortaleza, em 1985, e as taxas ajustadas
por idade, segundo a população padrão mundial de 1960. Como Fortaleza tem
uma população predominantemente jovem, a padronização com o modelo mun-
dial aumenta em muito as taxas da capital cearense.
32
     Ações de enfermagem para o controle do câncer




           Tabela 1.8 - Comparação das taxas* bruta e padronizada** de
          mortalidade e incidência de câncer, por sexo, em Fortaleza, 1985.




      Fonte: Registro de Câncer de Base Populacional de Fortaleza, 1985.
     * Por 100.000 habitantes ** pela população mundial de 1960.


             Para limitar-se a influência da idade, também pode ser usada a compara-
     ção restrita ao grupo etário compreendido entre os 35 e 64 anos, compondo-se a
     chamada população “truncada”. Na Tabela 1.9, figuram taxas de incidência de
     câncer, padronizadas pela população mundial, inclusive a truncada, comparan-
     do-se dados de registros selecionados no mundo. Foram selecionados os Registros
     de Câncer com as 10 maiores taxas, as 10 intermediárias e as 10 menores. As
     taxas para os Registros de Câncer brasileiros foram inseridas segundo a sua po-
     sição relativa na tabela. A primeira coluna indica o ranque correspondente ao
     Registro de Câncer. Tal comparação mostra que as taxas de incidência brasilei-
     ras encontram-se num nível intermediário. Dentre os Registros de Câncer brasi-
     leiros presentes nesta publicação, Porto Alegre apresenta as maiores taxas
     (24a posição), seguido de Goiânia (72a posição) e por último Belém (147a posição).


     3.2 - Mortalidade

             Como os coeficientes de mortalidade são calculados a partir dos dados
     contidos nos atestados de óbito, a precisão dessas informações interfere nos
     coeficientes de mortalidade obtidos.
              Em 1975, o Ministério da Saúde promoveu em Brasília uma reunião com
     o objetivo de implantar um Sistema de Vigilância Epidemiológica a nível nacio-
     nal, quando foi aprovado o modelo único de Declaração de Óbito e Declaração
     de Óbito Fetal. Esta padronização permitiu a implantação do SIM – Sistema de
     Informação de Mortalidade, um sistema pioneiro no emprego de um documento
     individualizado e padronizado (Declaração de Óbito – DO) para a coleta de
     informações sobre óbitos. Houve um grande avanço com a implantação do SIM,
     pois, no período anterior, diversas unidades da federação possuíam distintas for-
     mas de atestado médico da morte, e várias não seguiam a padronização interna-
     cional de coleta de dados proposta pela Organização Mundial de Saúde - OMS.
              A declaração de óbito é um documento em grande parte pré-codificado,
     o que permitiu a padronização da coleta de variáveis, facilitando o processamento
     e a análise da consistência das informações captadas. Na década de 1990, com
     a utilização da informática, foi possível a descentralização das ações e o fortale-
     cimento do SIM. Com o avanço da descentralização da produção das informa-
33
                                                               O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1



ções em saúde, os níveis estadual e federal desempenharão um novo papel na
gestão dos sistemas de informação. No seu novo papel, estes níveis deverão
desenvolver atividades dirigidas ao controle da qualidade dos sistemas e forne-
cer suporte técnico aos municípios. A descentralização da informação poderá
trazer grandes vantagens para o aprimoramento da qualidade da informação e
permitirá um maior e melhor monitoramento da coleta de dados (Almeida,1998).


   Tabela 1.9 -Taxas padronizadas de incidência de câncer, por 100.000
        habitantes, segundo o sexo, em diversas regiões do mundo.




Fonte: Cancer Incidence in five Continents, Vol. VII - IARC.
34
     Ações de enfermagem para o controle do câncer




              Nas Tabelas 1.10 e 1.11, estão retratadas, segundo o sexo, as taxas
     brutas de mortalidade por câncer, dos óbitos registrados no período entre 1979 e
     1998, para alguns tumores selecionados. A taxa bruta de mortalidade expressa a
     medida do risco a que uma determinada população está submetida. Percebe-se
     que, à exceção do câncer de estômago, houve um acréscimo do risco durante o
     período estudado, tanto para homens quanto para as mulheres. No sexo mascu-
     lino, os tumores que tiveram aumento mais expressivo na taxa de mortalidade
     foram: próstata, pulmão e cólon e reto. Já para o sexo feminino, os tumores
     foram mama, pulmão e cólon e reto.
            Vale ressaltar que o aumento observado também reflete a melhoria da
     qualidade da informação, o acesso aos serviços de saúde e a qualidade dos
     serviços de diagnóstico.


       Tabela 1.10 - Taxas brutas de mortalidade para topografias selecionadas,
                             homens, Brasil, 1979 a 1998.




     Fontes: Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM/DATASUS/MS.
               Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
               Divisão de Epidemiologia e Avaliação - CONPREV/INCA/MS.




       Tabela 1.11 - Taxas brutas de mortalidade para topografias selecionadas,
                            mulheres, Brasil, 1979 a 1998.




     Fontes: Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM/DATASUS/MS.
             Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
             Divisão de Epidemiologia e Avaliação - CONPREV/INCA/MS.
35
                                                                                                 O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1



      Utilizando-se como parâmetro de análise o coeficiente ajustado por idade
(taxa padronizada) para descontar o efeito da estrutura etária da população e
permitir a comparabilidade dos dados, observa-se que, nas mulheres, a
mortalidade por câncer do colo uterino, no período de 1979 a 1998 (Figura 1.3),
é quase estacionária e a por câncer de estômago apresenta um decréscimo
importante. Já a mortalidade devida aos cânceres de mama e pulmão está em
franca ascensão. No que se refere aos homens, para este mesmo período
(Figura 1.4), observa-se um expressivo declínio na mortalidade por câncer de
estômago. A mortalidade por câncer de próstata teve também um aumento
expressivo nestas duas décadas. A mortalidade por câncer de pulmão teve o
maior crescimento entre 1979 e 1987. No período entre 1988 e 1998, este
crescimento diminuiu o ritmo.


                                       Figura 1.3 - Coeficientes de mortalidade ajustado (1) por idade (por
                                                    100.000 hab.), por meio do método direto, para as
                                                    neoplasias malignas selecionadas, Mulheres – Brasil, 1979
                                                    a 1998.

                                     Coeficiente de mortalidade
                                     14,00



                                     12,00
     Coeficientes por 100.000 hab.




                                     10,00



                                      8,00



                                      6,00



                                      4,00



                                      2,00



                                      0,00
                                               19   19    19   19    19     19   19  19   19   19   19   19   19   19    19   19   19    19    19    19
                                               1979 80
                                               79    1980 81
                                                           198182198283 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 199495199596
                                                                            84   85  86   87   88   89   90   91   92    93   94          1996 97
                                                                                                                                                1997 98
                                                                                                                                                     1998   Ano

                                                      mama              colo do útero           estômago              pulmão


                                         (1)
                                           População padrão mundial, modificada por Doll et al. (1966).
                                         Fontes: Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM/DATASUS/MS.
                                                 Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
                                                 Divisão de Epidemiologia e Avaliação - CONPREV/INCA/MS.
36
                                            Ações de enfermagem para o controle do câncer




                                                         Figura 1.4 - Coeficientes de mortalidade ajustado por idade (1) (por
                                                                      100.000 hab.), por meio do método direto, para as
                                                                      neoplasias malignas selecionadas, homens, Brasil,
                                                                      1979 a 1998.



                                     Coeficiente bruto
     Coeficientes por 100.000 hab.




                                                                                                                                Ano




                       (1)
                         População padrão mundial, modificada por Doll et al. (1996).
                       Fontes: Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM/DATASUS/MS.
                               Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
                               Divisão de Epidemiologia e Avaliação - CONPREV/INCA/MS.




                                                    Os coeficientes de mortalidade por neoplasias malignas traçam uma
                                            tendência firmemente ascendente com o avanço da faixa etária. Na Figura 1.5,
                                            distribuem-se os coeficientes de mortalidade por neoplasia maligna em homens
                                            e mulheres, em 1998, de acordo com a faixa etária. Nota-se como, para ambos
                                            os sexos, a partir dos 30 anos de idade, os coeficientes aumentam abrupta e
                                            progressivamente, significando que, se o câncer é uma doença que muito mata
                                            idosos, também mata muitos adultos jovens, no Brasil. Ressalte-se ainda que,
                                            apesar de ambas as curvas possuírem o mesmo formato, a curva referente ao
                                            sexo masculino é muito mais acentuada, evidenciando riscos diferentes de mor-
                                            te por sexo.
37
                                                                                        O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1


                                              Figura 1.5 - Coeficientes de mortalidade para todas
                                                           as neoplasias malignas, por faixa etária,
                                                           para homens e mulheres, Brasil, 1998.


                             Coeficiente de mortalidade
   Coeficiente por 100.000 hab.




                                                                                                                Faixa
                                                                                                                etária




                                    Fontes: Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM/DATASUS/MS.
                                            Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
                                            Divisão de Epidemiologia e Avaliação - CONPREV/INCA/MS.




       Importa considerar-se, também, a mortalidade proporcional geral, que
permite avaliar a proporção representada pelas mortes por câncer em relação
às demais causas de morte. A Figura 1.6 apresenta a mortalidade proporcional
pelos principais grupos de doenças, distribuída por macrorregiões brasileiras,
dos 929.023 óbitos registrados em 1998. De um modo geral, observa-se que a
contribuição das doenças neoplásicas para a mortalidade, no Brasil, é maior nas
regiões economicamente mais desenvolvidas do que nas subdesenvolvidas, ser-
vindo estes dados como expressão dos contrastes regionais que marcam o nosso
país.
       Chama a atenção a contribuição cada vez maior da mortalidade devida
a causas externas (acidentes, violências, etc), que está entre as primeiras causas
de morte. Outro destaque fica por conta das causas mal definidas que variam
desde a primeira até a quinta posição, evidenciando, assim, a diferença da qua-
lidade do registro do óbito nas diferentes macrorregiões do país.
        As tendências demográficas e epidemiológicas sugerem que, em trinta
anos, mantidas as condições atuais, mais de 85% dos brasileiros estarão vivendo
em áreas urbanas, e os menores de 14 anos de idade constituirão, até o ano
2000, cerca de 32% da população. O número de idosos terá dobrado, e 12% da
população terão 60 ou mais anos de idade. As doenças cardiovasculares, o
câncer e as causas externas serão, conjuntamente, responsáveis por 75% dos
óbitos.
38
                 Ações de enfermagem para o controle do câncer




                                  Figura 1.6 - Mortalidade proporcional, em 1998, distribuí-
                                               da por grupos de causas selecionados e
                                               macroregiões brasileiras.


     %




                                                                                               Causas por
                                                                                               regiões




     Fontes: Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM/DATASUS/MS.
               Divisão de Epidemiologia e Avaliação - CONPREV/INCA/MS.




                 3.3 - Morbidade

                         As fontes para a obtenção de dados da morbidade por câncer são os
                 inquéritos epidemiológicos, os Registros Hospitalares de Câncer (RHC) e os
                 Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP).
                         No Brasil, comparado a outras doenças, o câncer é relativamente bem
                 dotado de informações específicas, contando-se, atualmente, com cerca de
                 cinqüenta RHC, implantados em hospitais especializados no tratamento do cân-
                 cer, credenciados como CACON. Com relação aos RCBP, sete estão em fase de
                 produção de dados, localizados em Belém-PA, Goiânia-GO, Fortaleza-CE, Sal-
                 vador-BA, São Paulo-SP, Campinas-SP e Porto Alegre-RS. Outros treze RCBP estão
                 implantados ou em fase de implantação. São eles: Manaus-AM, Palmas-TO,
                 Natal–RN, Recife-PE, Aracaju-SE, João Pessoa-PB, Teresina-PI, Vitória-ES, Rio
                 de Janeiro-RJ, Belo Horizonte-MG, Curitiba-PR, Brasília-DF e Cuiabá-MT.
                         Os RCBP dedicam-se à coleta contínua e sistemática da ocorrência e das
                 características de todos os casos novos de câncer, em uma população geografi-
                 camente definida, representando, portanto, registros de incidência de câncer.
39
                                                                    O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1



         O RHC, recomendado para todos os hospitais, especializados ou não no
tratamento do câncer, tem como principal objetivo o registro do atendimento e
do seguimento dos casos, a partir das informações coletadas do prontuário médi-
co, acumulando informações que permitem a avaliação da extensão e da quali-
dade da sobrevida dos doentes de câncer tratados na respectiva instituição. Sis-
tematiza, igualmente, os dados que possibilitam e estimulam outros tipos de in-
vestigação clínica e epidemiológica sobre aspectos relacionados com as carac-
terísticas dos pacientes, da doença e da intervenção médica. O Instituto Nacio-
nal de Câncer - INCA - tem procurado incentivar a criação e o funcionamento de
registros de câncer nos outros centros de tratamento, sejam especializados no
tratamento do câncer ou não. Atualmente, repete-se, há cerca de cinqüenta RHC
implantados em todo o Brasil.
       As informações mais atualizadas dos RCBP podem ser vistas na
Figura 1.7, em que se apresenta a taxa de incidência padronizada de todas as
neoplasias das seis cidades brasileiras com dados publicados.
       As taxas de incidência de câncer, obtidas desses seis RCBPs revelaram-
se bastante diferenciadas entre as regiões. Porto Alegre, Goiânia e São Paulo
apresentam as maiores taxas de incidência padronizada de todas as formas de
câncer.



                         Figura 1.7 - Taxas de incidência de câncer, padroni-
                                      zadas pela população mundial, nas
                                      cidades brasileiras onde existe RCBP.


     Taxas de incidência




                                                                                                     RCBP




                  1
         Fonte:       IARC - Cancer incidence in five continents - vol. VII +
                  2
                      Câncer no Brasil - Dados dos registros de base populacional vol. II.
                  3
                      Câncer em Goiânia - Tendências - 1988 a 1997.
40
                           Ações de enfermagem para o controle do câncer




                                  Quando comparadas por sexo (Figuras 1.8 e 1.9), observa-se que em Belém
                           o tumor mais incidente é o de colo do útero, enquanto que, para as demais loca-
                           lidades, a maior incidência é dos tumores de mama, sendo as maiores taxas
                           encontradas em São Paulo e Porto Alegre. Já para o sexo masculino, observa-se
                           em Belém e Fortaleza o tumor de estômago como sendo o mais incidente. Em
                           Campinas, Goiânia e São Paulo, o tumor mais incidente é o de próstata. Chama
                           a atenção, em Porto Alegre, o câncer de pulmão como a principal incidência em
                           homens.
                                    O câncer de pele, que não o melanoma cutâneo, é um tipo de tumor de
                           difícil estudo epidemiológico, tendo em vista que, na quase totalidade dos casos,
                           é de bom prognóstico, sendo tratado mais em ambulatórios, consultórios, clíni-
                           cas ou hospitais gerais, por conseguinte, apresentando grande subnotificação.
                           Os RCBP coletam os dados sobre o câncer de pele, sendo recomendável apre-
                           sentar as publicações com as informações sobre o total de tumores incluindo-os
                           ou não. As Figuras 1.8 e 1.9, apresentam as taxas de incidência das principais
                           localizações anatômicas de câncer, nas seis cidades brasileiras com RCBP com
                           dados publicados recentemente. Excluído o câncer de pele, observa-se que,
                           para o sexo masculino, os cânceres de estômago, pulmão e próstata alternam-se
                           nas três primeiras posições. Nas mulheres, esta alternância se dá entre as
                           neoplasias do colo uterino e de mama.


                                                     Figura 1.8 -Taxas de incidência* das localizações
                                                                 mais frequentes nas cidades brasileiras
                                                                 com RCBP, sexo masculino.


     Taxas de incidência




                                                                                                              Causas por
                                                                                                              regiões




                                    1
                           Fonte:     IARC/Cancer incidence in five continents - vol. VII.
                                    2
                                       Câncer no Brasil - Dados dos registros de base populacional vol. II.
                                    3
                                       Câncer em Goiânia - Tendências - 1998 a 1997.
                                    4
                                       Incidência de câncer do município de São Paulo, 1983-1998-1993.
                                    - Padronizada pela população mundial.
41
                                                                   O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1


                    Figura 1.9 - Taxas de incidência* das localizações de câncer mais
                                 freqüentes nas cidades brasileiras com Registro de
                                 Câncer de Base Populacional, sexo feminino.
 Taxas de incidência




                                                                                                    Causas por
                                                                                                    regiões


                1
       Fonte:     IARC/Cancer incidence in five continents - vol. VII.
                2
                   Câncer no Brasil - Dados dos registros de base populacional vol. II.
                3
                   Câncer em Goiânia - Tendências - 1998 a 1997.
                4
                   Incidência de câncer do município de São Paulo, 1983-1998-1993.
                * Padronizada pela população mundial.



       O câncer do colo uterino se destaca em relação a outros tipos de câncer,
nas cidades de Belém e Fortaleza, havendo, nas outras cidades, o predomínio do
câncer de mama. O de estômago é o terceiro câncer mais freqüente, entre as
mulheres, nas cidades estudadas.
         Relacionando-se os dados de incidência e mortalidade, nota-se que a
distribuição das localizações primárias, nos dados de incidência, não corresponde
à distribuição da mortalidade, o que se deve às diferenças dos padrões de sobre-
vivência observados entre os diferentes tumores.
        O câncer de pele, por exemplo, que tem uma incidência alta, não consta
da Tabela 1.10, por ter uma baixa letalidade. O câncer de estômago, ao contrá-
rio, por ser diagnosticado tardiamente, no Brasil, mostra alta incidência (Figuras
1.8 e 1.9) e mortalidade (Tabela 1.10), o que demonstra a curta sobrevivência
dos pacientes, razão pela qual a mortalidade por câncer de estômago tende a
igualar-se à sua incidência. Desse modo, uma idéia sobre a incidência do cân-
cer em algumas localizações anatômicas pode ser inferida a partir de dados de
mortalidade.



                     Constata-se que as maiores taxas de incidência dos
                    cânceres de esôfago, próstata e pulmão referem-se ao
                       Rio Grande do Sul. Formule uma hipótese que
                        explique este achado e discuta-a com os seus
                                      professores e colegas.
42
     Ações de enfermagem para o controle do câncer




             Analisando-se os dados mais recentemente divulgados por RHC brasilei-
     ros (Figuras 1.10 e 1.11), observa-se que, entre as dez localizações mais
     freqüentes, colo uterino, mama feminina, pele, estômago, próstata, linfonodos e
     esôfago são locais primários de tumor encontrados em ambos os registros. As
     três restantes variam em localização e em classificação. Pode-se observar, tam-
     bém, que o porcentual de casos não estadiáveis ou de estádio desconhecido é
     predominante (55,1%) em um dos RHC (sem informação) e menor (15,1%) no
     outro (tratamento prévio, não estadiável ou sem estádio). Dos casos estadiados,
     é de ressaltar-se a proporção de estádios avançados da doença (III e IV). Consi-
     derando-se que o colo do útero, a mama, a pele, a boca, a tireóide, o olho, o
     corpo do útero e a próstata são localizações acessíveis ao exame físico, que
     dispensam ambiente e equipamentos sofisticados para serem examinadas, e que
     o pulmão, o esôfago, o estômago e os ossos podem ser examinados por meio de
     equipamentos e tecnologia já há muito incorporados à prática médica brasileira,
     os dados desses dois RHC sugerem uma deficiência considerável no diagnóstico
     do câncer, feito nos pacientes que chegam para serem atendidos nesses hospi-
     tais. Desta análise excluiu-se a localização linfonodos, constante entre as dez
     mais freqüentes localizações nesses dois RHC, uma vez que eles podem referir-
     se a leucemias, linfomas ou metástases linfáticas, cuja exigência é variável en-
     tre estes diagnósticos, em termos médicos e tecnológicos.
             Ressalta-se que os dados de um RHC representam a realidade institucional:
     a freqüência relativa dos casos, distribuídos por locais primários, pode significar
     apenas que a instituição oferece um serviço de boa (freqüência elevada) ou má
     (freqüência baixa) qualidade, em alguma subespecialidade oncológica; se é, ou
     não, um centro de referência para o encaminhamento de pacientes com deter-
     minados tipos de câncer (por exemplo, tumores da cabeça e pescoço, tumores
     genitais femininos, tumores próprios da infância, etc.); se representa uma institui-
     ção de abrangência local, regional ou nacional; ou se constitui ou não a alterna-
     tiva de atendimento especializado para uma determinada população.
            A comparação entre os dados das Figuras 1.10 e 1.11 demonstra como a
     realidade das duas instituições difere, em termos da localização primária do
     tumor, da freqüência relativa dos tumores comuns aos dois RHC e da distribui-
     ção dos estádios ou da extensão da doença.
             Nota-se a presença do estômago e da próstata, entre as dez principais
     localizações primárias de tumores registrados, em ambos os RHC mostrados,
     porém em porcentuais mais baixos do que os presumíveis, tendo-se em vista as
     altas taxas de mortalidade (Tabela 1.10 e Figura 1.4) e incidência (Figura 1.8)
     observadas, mesmo que os dados desses RHC não se superponham, obrigatoria-
     mente, àquelas taxas. Porém, considerando-se o câncer da mama feminina e o
     do colo uterino, pode-se inferir como os dados hospitalares os classificam tão
     mais altos, como o fazem os de mortalidade e de incidência.
43
                                                             O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1



        Isto pode significar que os pacientes com câncer prostático, por exem-
plo, estejam sendo atendidos e tratados em serviços de Urologia de hospitais
gerais, sem que os casos sejam adequadamente registrados e analisados, mor-
mente se eles não ocorrem em cidades que dispõem de RCBP, embora se possa
incluir entre os óbitos registrados, na eventualidade da morte dos pacientes.

             Figura 1.10 - Distribuição porcentual topográfica e por estádios dos
                           dez tumores mais freqüentes no Hospital Aristides
                           Maltez, Salvador-BA, de 1991 a 1994.


                Topografia




                                                                                                %

                       Fonte: Registro do Hospital Aristides Maltez.




             Figura 1.11 - Distribuição porcentual topográfica e por está-
                           dios dos dez tumores mais freqüentes no
                           Hospital A. C. Camargo, São Paulo-SP, 1994.


               Topografia




                            0%       2%       4%        6%        8%      10%       12%   14%
                      Fonte: Registro do Hospital A. C. Camargo – 1996.
44
     Ações de enfermagem para o controle do câncer




            Veja-se que os dados do Hospital do Câncer do INCA (Figura 1.12) desta-
     cam que, para os 503 casos de câncer de próstata, atendidos de 1990 a 1994,
     ocorreu um decréscimo de 15% dos casos classificados em estádio D (com
     metástases) e um aumento de 10%, para os classificados nos estádios A, B e C.
     Em contrapartida, observou-se um incremento de 35% de casos registrados sem
     a informação sobre o estádio da doença.

                        Figura 1.12 - Casos de câncer de próstata atendidos no
                                      Hospital do Câncer / INCA, de 1990 a 1994,
                                      distribuídos pelos estádios clínicos do tumor.




          Fonte: Registro do Hospital do Câncer/INCA/MS.




            Os RHC constituem uma fonte de aferição da qualidade do diagnóstico e
     da assistência prestada aos pacientes com câncer atendidos nos hospitais. So-
     mente por meio de um RHC eficaz e atuante, pode-se assegurar o seguimento
     sistemático de pacientes tratados, estabelecendo-se, assim, a abrangência e a
     confiabilidade necessárias aos dados que permitirão o cálculo da sua sobrevida,
     que, em última análise, guarda relação com a localização e histologia do tumor
     primário, o tempo em que se chegou ao diagnóstico do tumor e do tipo de trata-
     mento aplicado.
             Como os RHC brasileiros são de implantação recente, inexistem dados
     nacionais sobre o tempo e a qualidade da sobrevida de pacientes tratados de
     câncer, visto que essa análise necessita de longos períodos de acompanhamen-
     to, que, dependendo do tipo tumoral, serão, no mínimo, de cinco ou dez anos.
            A partir da Figura 1.13, e recordando-se que, quanto mais avançada a
     doença, pior será o prognóstico dos pacientes, pode-se imaginar o quanto preju-
     dicada é a sobrevida destes. A condição dos estádios dispostos na figura é ainda
     mais inaceitável, quando se recorda que os órgãos em questão (boca, colo uterino
     e mama) são de fácil acesso ao auto-exame ou ao exame físico, e que já se
     contam com critérios, técnicas e métodos de detecção muito bem estabelecidos
     para esses tipos de câncer.
45
                                                         O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1



       De imediato, os dados de um RHC demonstram a qualidade do prontuá-
rio médico, sua única fonte de dados. Como ocorre com os atestados de óbito, o
preenchimento correto e, no caso dos prontuários, as anotações sistemáticas
sobre os quadros clínico e cirúrgico dos pacientes, a incorporação dos resulta-
dos dos exames complementares realizados e a manutenção de um prontuário
organizado dependem do médico, sendo ele o principal agente determinante da
qualidade dos dados levantados e publicados. Parte da Figura 1.10 atesta a po-
breza de dados de prontuários médicos, relativos a uma doença cujos tratamen-
to e prognóstico devem basear-se em critérios bem definidos de avaliação da
sua extensão, ou seja, no seu estadiamento.
       É também função do RHC contribuir para que dados completos e confiáveis
sejam produzidos pelo corpo médico do hospital, o que, por sua vez, pode levar
à melhoria da assistência prestada.

              Figura 1.13 -Distribuição por estádios clínicos dos ca-
                           sos de câncer de boca, de colo do útero e
                           de mama, atendidos no Hospital do
                           Câncer / INCA, em 1993.


    Câncer de boca
                       %




                                                                                  Estádios

    Câncer de colo do útero
                       %




                                                                                  Estádios
    Câncer de mama
                        %




                                                                                  Estádios


                            Fonte: Registro Hospitalar de Câncer do INCA - 1993
46
     Ações de enfermagem para o controle do câncer




     3.4 - Epidemiologia dos tumores da criança e do adolescente

              Desde 1970, vem-se observando um aumento linear das taxas de cura
     dos tumores na infância, estando estas, atualmente, variando entre 70% e 90%
     dos casos, nos Estados Unidos. No Brasil, as crianças e jovens com leucemia
     linfática aguda (LLA) curam-se em 70% a 80% dos casos.
              Paralelamente, tem-se verificado um aumento progressivo, e também li-
     near, das taxas de incidência dos tumores da criança, sobretudo a LLA, os tumo-
     res do sistema nervoso central (SNC), os linfomas não Hodgkin e o tumor de
     Wilms e outros tumores renais. Por exemplo, de dez a quinze casos de câncer,
     entre indivíduos com menos de quinze anos de idade, no Brasil, quatro são de
     LLA.
            Supostamente, a criança tem mais anos a perder, ou a ganhar, uma vez
     que a sua expectativa de vida é maior do que a do adulto. Atualmente, o índice
     de anos de vida ganhos para as crianças com câncer só não é maior do que para
     as mulheres com câncer de mama.
             Quando se tenta interpretar as tendências das taxas relativas aos tumores
     na infância, encontram-se duas principais dificuldades: a primeira, a raridade da
     ocorrência do câncer nesta fase da vida e, a segunda, a utilização de modelos
     mais aplicáveis ao câncer de adultos - embora já haja modelos mais apropriados
     à avaliação estatística do câncer da criança, em alguns países ou regiões.
             A maioria dos registros de câncer apresenta seus dados dispostos em ca-
     tegorias de idade com intervalos de cinco anos e por localização primária do
     tumor. Apesar de este formato ser satisfatório para a maioria dos tumores do
     adulto, ele se mostra inadequado para a área infantil, visto que, exceto pelos
     tumores do SNC, os tumores da criança se classificam por tipo cito ou
     histopatológico, e não pela topografia do tumor primário. Ademais, há grandes
     variações nas taxas específicas por idade, ano a ano, e muitos padrões
     demográficos infantis podem não se expressar, à utilização de intervalos de tem-
     po tão longos, relativamente às crianças. Uma forma de se superar esta distorção
     seria a distribuição de dados por ano e por milhão de pessoas (e não por 100.000
     habitantes, como se costumam calcular as taxas, o que exclui os cânceres mais
     raros, como o são os tumores na infância).
             Outra dificuldade relevante se deve ao fato de os censos demográficos
     realizarem-se a cada dez anos, o que faz com que as taxas de incidência e
     mortalidade sejam calculadas com base em populações intercensitárias estima-
     das. Este artifício matemático induz a erros, sobretudo quando o numerador se
     constitui de números muito pequenos, caso dos tumores na infância.
            Vale considerar, também, que, a cada dia, as classificações desses tumo-
     res ganham mais detalhamento, por conta dos avanços continuamente observa-
     dos nas técnicas laboratoriais, que se baseiam na Biologia Molecular, na
     Imunologia e na Genética Celular. A incorporação dos novos conhecimentos e
     tecnologias disponíveis tem-se tornado essencial aos estudos sobre a etiologia
47
                                                   O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1



dos tumores na infância e à prática da Oncologia Pediátrica - o diagnóstico dos
tumores e o tratamento e acompanhamento, a longo prazo, das crianças deles
tratadas.
       Faz-se necessário, assim, que os registros de câncer disponham os seus
dados de modo a permitir que estes sejam classisficados, por subgrupos etários e
por morfologia tumoral.
        Levando-se em consideração as limitações anteriormente ressaltadas,
tentar-se-á, a seguir, apresentar e discutir alguns aspectos das taxas de incidên-
cia e de mortalidade por câncer, entre as crianças e adolescentes brasileiros.
Para tanto, utilizar-se-ão os últimos dados publicados, referentes a cinco RCBP:
Campinas (1992), Goiânia (1991), Porto Alegre (1991), Belém (1989) e Fortaleza
(1985).
       As taxas brutas foram calculadas para os cinco tipos tumorais mais
freqüentes em cada registro, com base no denominador de três faixas etárias - 0
a 4 anos, 5 a 9 anos e 10 a 14 anos, exceto as de mortalidade, em Belém, cujos
dados distribuem-se em apenas duas faixas, de 0 a 9 anos e de 10 a 19 anos
(Tabela 1.12).
        Os dados de incidência (Tabela 1.13) não coincidem inteiramente com
os da literatura internacional, como se verá a seguir.
         Os casos incluídos sob a rubrica “Outros linfomas”, que se refere a casos
classificados como linfoma não Hodgkin ou Doença de Hodgkin, encontram-se
entre os mais incidentes, nos registros de Campinas, Belém e Porto Alegre.
        Em Campinas, chama a atenção, também, a alta incidência de tumores
do tecido conjuntivo. São igualmente atípicas as taxas da leucemia mielóide,
em Fortaleza e em Porto Alegre, e as de tumores de “Glândulas outras que não a
tiróide”, em Goiânia.
       Por outro lado, a classificação de “Tumor de olho”, entre os mais inciden-
tes em Belém, vem corroborar dados de registros hospitalares, que apontam para
uma alta ocorrência de casos de retinoblastoma no Brasil, se comparada com a
encontrada em países da Europa e da América do Norte.
        Já a classificação da incidência das leucemias linfóides e dos tumores
encefálicos, entre o grupo dos cinco tumores mais freqüentes, nos cinco registros
ora analisados, é acorde com os dados de registros de outros países, o que indica
que, a despeito das dificuldades metodológicas já apontadas no início desta seção,
o modelo serve para demonstrar os grupos de casos mais marcantes.
        Já as taxas de mortalidade (Tabela 1.12) mostram que a LLA, em todos os
registros, põe-se entre as cinco primeiras causas de morte por câncer, de forma
variável entre os sexos e as faixas etárias, e que entre essas cinco não se encon-
tram os tumores encefálicos em Belém (o que é de se estranhar, visto que a taxa
de incidência destes tumores é maior do que a calculada para os demais registros).
48
     Ações de enfermagem para o controle do câncer




            A presença de “Tumor de olho” entre as cinco primeiras causas de morte
     no registro de Campinas, também pode ter a mesma interpretação, dada a inci-
     dência maior deste tumor no Brasil, novamente corroborando dados de registros
     hospitalares de câncer.
            Por outro lado, o achado de “Tumores de faringe” em Campinas, de “Cau-
     sas mal definidas” em Goiânia e de “Tumores de traquéia, brônquios e pulmão”
     em Belém, mais provavelmente se deva à distorção, já discutida anteriormente,
     que a inadequação da distribuição topográfica e cronológica dos tumores, utili-
     zada nos registros de câncer, traz à classificação dos tumores das crianças e
     adolescentes.
             As dificuldades metodológicas, a especificidade de tumores e as ressal-
     vas, feitas a partir dos dados apresentados anteriormente, demandam a adoção
     de métodos e técnicas apropriados à coleta e análise dos dados de incidência e
     mortalidade dos tumores de ocorrência na infância e na adolescência. Da mes-
     ma maneira, requer-se de uma metodologia específica para a análise dos dados
     do seguimento feito com os pacientes tratados, de modo a oferecer-se uma
     metodologia igualmente adequada para o estudo analítico das conseqüências,
     através dos anos, dos tratamentos aplicados.
49
                                                  O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1


   Tabela 1.12 - Taxas brutas de mortalidade por cânceres na infância e
    adolescência, distribuídas por faixa etária e sexo, em anos diversos.




Fonte: Registro de Câncer de Base Populacional.
50
     Ações de enfermagem para o controle do câncer




          Tabela 1.13 - Taxas brutas de incidência de cânceres na infância e
          adolescência, distribuídas por faixa etária e sexo, em anos diversos.




     Fonte: Registro de Câncer de Base Populacional.
51
                                                  O problema do câncer no Brasil
Capítulo 1


3.5 - Estimativa de incidência e mortalidade por câncer no Brasil

       Os dados de projeção exercem um papel importante como orientadores
de decisões e base de planejamento, mesmo que impliquem com um pequeno
grau de imprecisão. O uso do método matemático de estimativa da ocorrência
de doenças e óbitos pressupõe que a tendência de crescimento da população
em estudo é regular e que as características da composição social e econômica
da população futura serão iguais, quando não resultado de uma evolução
gradual.
        A Tabela 1.14 mostra o número total de novos casos e óbitos por câncer
estimados para o Brasil, em 2001, distribuídos por sexo e localização primária:
serão, no total, 305.330 casos novos e 117.550 óbitos.
       Da sua análise e pelo que já foi estudado até agora, pode-se deduzir que
ações de prevenção, detecção e diagnóstico são tão importantes quanto as tera-
pêuticas, se se pretende modificar o quadro de morbi-mortalidade por câncer,
que já se prolonga por décadas no Brasil.


   Tabela 1.14 - Estimativas para o ano 2001 do número de casos novos
       e dos óbitos por câncer, entre homens e mulheres, segundo
                      localização primária, no Brasil.




Fonte: INCA/MS.
Capítulo 2
FISIOPATOLOGIA DO CÂNCER
55
                                                            Fisiopatologia do Câncer
Capítulo 2



INTRODUÇÃO

       Neste capítulo, pretende-se abordar de forma sintética as alterações
morfológicas e funcionais apresentadas pelas células dos tumores malignos. Para
tanto, com o propósito de facilitar a compreensão dessas alterações, assinalam-
se alguns postulados referentes ao comportamento biológico das células normais.
        As células normais de todo organismo vivo coexistem em perfeita har-
monia citológica, histológica e funcional, harmonia esta orientada no sentido da
manutenção da vida. De acordo com suas características morfológicas e funci-
onais, determinadas pelos seus próprios códigos genéticos, e com sua especificidade,
as células estão agrupadas em tecidos, os quais formam os órgãos.
        Os mecanismos que regulam o contato e a permanência de uma célula
ao lado de outra, bem como os de controle do seu crescimento, ainda
constituem uma das áreas menos conhecidas da biologia. Sabe-se que o contato
e a permanência de uma célula junto à outra são controlados por substâncias
intracitoplasmáticas, mas ainda é pouco compreendido o mecanismo que man-
tém as células normais agregadas em tecidos. Ao que parece, elas se reconhe-
cem umas às outras por processos de superfície, os quais ditam que células
semelhantes permaneçam juntas e que determinadas células interajam para
executarem determinada função orgânica.
        Sabe-se também que o crescimento celular responde às necessidades
específicas do corpo e é um processo cuidadosamente regulado. Esse cresci-
mento envolve o aumento da massa celular, duplicação do ácido
desoxirribonucléico (ADN) e divisão física da célula em duas células filhas idên-
ticas (mitose). Tais eventos se processam por meio de fases conhecidas como
G1 - S - G2 - M, que integram o ciclo celular.
        Nas células normais, restrições à mitose são impostas por estímulos re-
guladores que agem sobre a superfície celular, estímulos estes que podem resul-
tar tanto do contato com as demais células como da redução na produção ou
disponibilidade de certos fatores de crescimento. Fatores celulares específicos
parecem ser essenciais para o crescimento celular, mas poucos deles são real-
mente conhecidos.
        É certo que fatores de crescimento e hormônios, de alguma forma, esti-
mulam as células para se dividir. Entretanto, eles não têm valor nutriente para
as células nem desempenham um papel conhecido no metabolismo.
Presumivelmente, apenas sua capacidade de ligar-se a receptores específicos de
superfície celular os capacita a controlar os processos celulares.
        O mecanismo de controle do crescimento celular parece estar na depen-
dência de fatores estimulantes e inibidores e ele normalmente estaria em equilí-
brio até o surgimento de um estímulo de crescimento efetivo, sem ativação do
mecanismo inibidor. Tal estímulo ocorre quando há exigências especiais como,
56
     Ações de enfermagem para o controle do câncer




     por exemplo, para reparo de uma alteração tissular. As células sobreviventes se
     multiplicam até que o tecido se recomponha e, a partir daí, quando ficam em
     íntimo contato umas com as outras, o processo é paralisado.
             Em algumas ocasiões, entretanto, ocorre uma ruptura dos mecanismos re-
     guladores da multiplicação celular e, sem que seja necessário ao tecido, uma
     célula começa a crescer e a dividir-se desordenadamente. Pode resultar daí um
     clone de células descendentes, herdeiras dessa propensão ao crescimento e divi-
     são anômalos, insensíveis aos mecanismos reguladores normais, que resulta na
     formação do que se chama tumor ou neoplasia, que pode ser benigna ou maligna.
     A carcinogênese refere-se ao desenvolvimento de tumores malignos, estudada
     com base nos fatores e mecanismos a ela relacionados.
57
                                                         Fisiopatologia do Câncer
Capítulo 2



1 - ONCOGÊNESE

       O    organismo humano encontra-se exposto a múltiplos fatores
carcinogênicos, com efeitos aditivos ou multiplicativos. Sabe-se que a predis-
posição individual tem um papel decisivo na resposta final, porém não é possí-
vel definir em que grau ela influencia a relação entre a dose e o tempo de
exposição ao carcinógeno e a resposta individual à exposição.
       Independentemente da exposição a carcinógenos, as células sofrem pro-
cessos de mutação espontânea, que não alteram o desenvolvimento normal da
população celular como um todo. Estes fenômenos incluem danos oxidativos,
erros de ação das polimerases e das recombinases e redução e reordenamento
cromossômico. Há também que se considerar a vigilância imunológica como
mecanismo de correção ou exclusão das células mutantes.
       Os fenômenos de mutação espontânea podem condicionar uma maior
ou menor instabilidade genômica, que pode ser crucial nos processos iniciais da
carcinogênese, como conseqüência de aneuploidia e amplificações genéticas.
       Em síntese, a carcinogênese pode iniciar-se de forma espontânea ou ser
provocada pela ação de agentes carcinogênicos (químicos, físicos ou biológi-
cos). Em ambos os casos, verifica-se a indução de alterações mutagênicas e não
mutagênicas ou epigenéticas nas células.
        A incidência, a distribuição geográfica e o comportamento de tipos es-
pecíficos de cânceres estão relacionados com múltiplos fatores, incluindo sexo,
idade, raça, predisposição genética e exposição a carcinógenos ambientais.
Destes fatores, os ambientais são, provavelmente, os mais importantes. Os
carcinógenos químicos (particularmente aqueles presentes no tabaco e resul-
tantes de sua combustão e metabolismo), bem como determinados agentes, como
os azocorantes, aflatoxinas e benzeno, foram claramente implicados na indução
de câncer no homem e animais.
       Certos vírus de ADN do grupo herpes e papiloma, bem como vírus de
ácido ribonucléico (ARN) do tipo C, foram também implicados como agentes
produtores de câncer em animais, podendo ser igualmente responsáveis por
alguns cânceres no homem.
        O tempo para a carcinogênese ser completada é indeterminável, poden-
do ser necessários muitos anos para que se verifique o aparecimento do tumor.
Teoricamente, a carcinogênese pode ser interrompida em qualquer uma das
etapas, se o organismo for capaz de reprimir a proliferação celular e de reparar
o dano causado ao genoma. Seria redundante salientar que a suspensão da
exposição a agentes carcinogênicos é condição sine qua non para a interrup-
ção da carcinogênese. A Figura 2.1 busca sintetizar as diversas etapas da
carcinogênese.
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA
CANCER DE MAMA

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

05 artigo-significado-dos-cuidados-paliativos-para-a-qualidade-da-sobrevivenc...
05 artigo-significado-dos-cuidados-paliativos-para-a-qualidade-da-sobrevivenc...05 artigo-significado-dos-cuidados-paliativos-para-a-qualidade-da-sobrevivenc...
05 artigo-significado-dos-cuidados-paliativos-para-a-qualidade-da-sobrevivenc...Leonel Santos
 
Acolhimento classificaao risco_servico_urgencia(1)
Acolhimento classificaao risco_servico_urgencia(1)Acolhimento classificaao risco_servico_urgencia(1)
Acolhimento classificaao risco_servico_urgencia(1)Cassio Luiz Barbosa
 
Diretrizes para prevenção e controle da dengue
Diretrizes para prevenção e controle da dengueDiretrizes para prevenção e controle da dengue
Diretrizes para prevenção e controle da dengueadrianomedico
 
Anais do XIX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica 2015
Anais do XIX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica 2015Anais do XIX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica 2015
Anais do XIX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica 2015Francisco H C Felix
 
PREMATURO: seguimento ambulatorial (Follow-up). Manual da SBP
PREMATURO: seguimento ambulatorial (Follow-up). Manual da SBPPREMATURO: seguimento ambulatorial (Follow-up). Manual da SBP
PREMATURO: seguimento ambulatorial (Follow-up). Manual da SBPProf. Marcus Renato de Carvalho
 
Orientacoes coleta analise_dados_antropometricos
Orientacoes coleta analise_dados_antropometricosOrientacoes coleta analise_dados_antropometricos
Orientacoes coleta analise_dados_antropometricosAlinebrauna Brauna
 
Anais XV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica 2016
Anais XV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica 2016Anais XV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica 2016
Anais XV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica 2016Francisco H C Felix
 
Saúde e infância: a EBBS e a construção da PNAISC - conceitos e experiências:...
Saúde e infância: a EBBS e a construção da PNAISC - conceitos e experiências:...Saúde e infância: a EBBS e a construção da PNAISC - conceitos e experiências:...
Saúde e infância: a EBBS e a construção da PNAISC - conceitos e experiências:...Prof. Marcus Renato de Carvalho
 
Saúde Mental - Dr. Paulo R. Rapsod
Saúde Mental - Dr. Paulo R. RapsodSaúde Mental - Dr. Paulo R. Rapsod
Saúde Mental - Dr. Paulo R. RapsodMarco Aurélio Dias
 
Demografia medica no brasil 2018
Demografia medica no brasil 2018Demografia medica no brasil 2018
Demografia medica no brasil 2018Edward Lange
 
Capacitacao a distancia para atencao basica diabetes dentista
Capacitacao a distancia para atencao basica diabetes dentistaCapacitacao a distancia para atencao basica diabetes dentista
Capacitacao a distancia para atencao basica diabetes dentistamanoelramosdeoliveir1
 
Temáticas em Saúde Sociedade e Ambiente - 2013
Temáticas em Saúde Sociedade e Ambiente - 2013Temáticas em Saúde Sociedade e Ambiente - 2013
Temáticas em Saúde Sociedade e Ambiente - 2013Angelina Lessa
 
Redução da Violência obstétrica através da assistência de enfermagem
Redução da Violência obstétrica através da assistência de enfermagemRedução da Violência obstétrica através da assistência de enfermagem
Redução da Violência obstétrica através da assistência de enfermagemEstephane ingrid Souza Pessoa
 
Plano acoes enfrent_dcnt_2011
Plano acoes enfrent_dcnt_2011Plano acoes enfrent_dcnt_2011
Plano acoes enfrent_dcnt_2011gisa_legal
 
Mudanças simples podem ser eficazes na prevençao do cancer
Mudanças simples podem ser eficazes na prevençao do cancerMudanças simples podem ser eficazes na prevençao do cancer
Mudanças simples podem ser eficazes na prevençao do cancerMinistério da Saúde
 

Mais procurados (17)

05 artigo-significado-dos-cuidados-paliativos-para-a-qualidade-da-sobrevivenc...
05 artigo-significado-dos-cuidados-paliativos-para-a-qualidade-da-sobrevivenc...05 artigo-significado-dos-cuidados-paliativos-para-a-qualidade-da-sobrevivenc...
05 artigo-significado-dos-cuidados-paliativos-para-a-qualidade-da-sobrevivenc...
 
Acolhimento classificaao risco_servico_urgencia(1)
Acolhimento classificaao risco_servico_urgencia(1)Acolhimento classificaao risco_servico_urgencia(1)
Acolhimento classificaao risco_servico_urgencia(1)
 
Diretrizes para prevenção e controle da dengue
Diretrizes para prevenção e controle da dengueDiretrizes para prevenção e controle da dengue
Diretrizes para prevenção e controle da dengue
 
Anais do XIX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica 2015
Anais do XIX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica 2015Anais do XIX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica 2015
Anais do XIX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica 2015
 
PREMATURO: seguimento ambulatorial (Follow-up). Manual da SBP
PREMATURO: seguimento ambulatorial (Follow-up). Manual da SBPPREMATURO: seguimento ambulatorial (Follow-up). Manual da SBP
PREMATURO: seguimento ambulatorial (Follow-up). Manual da SBP
 
Plano dengue 2016
Plano dengue 2016Plano dengue 2016
Plano dengue 2016
 
Orientacoes coleta analise_dados_antropometricos
Orientacoes coleta analise_dados_antropometricosOrientacoes coleta analise_dados_antropometricos
Orientacoes coleta analise_dados_antropometricos
 
Anais XV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica 2016
Anais XV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica 2016Anais XV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica 2016
Anais XV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica 2016
 
Saúde e infância: a EBBS e a construção da PNAISC - conceitos e experiências:...
Saúde e infância: a EBBS e a construção da PNAISC - conceitos e experiências:...Saúde e infância: a EBBS e a construção da PNAISC - conceitos e experiências:...
Saúde e infância: a EBBS e a construção da PNAISC - conceitos e experiências:...
 
Saúde Mental - Dr. Paulo R. Rapsod
Saúde Mental - Dr. Paulo R. RapsodSaúde Mental - Dr. Paulo R. Rapsod
Saúde Mental - Dr. Paulo R. Rapsod
 
Abcad12
Abcad12Abcad12
Abcad12
 
Demografia medica no brasil 2018
Demografia medica no brasil 2018Demografia medica no brasil 2018
Demografia medica no brasil 2018
 
Capacitacao a distancia para atencao basica diabetes dentista
Capacitacao a distancia para atencao basica diabetes dentistaCapacitacao a distancia para atencao basica diabetes dentista
Capacitacao a distancia para atencao basica diabetes dentista
 
Temáticas em Saúde Sociedade e Ambiente - 2013
Temáticas em Saúde Sociedade e Ambiente - 2013Temáticas em Saúde Sociedade e Ambiente - 2013
Temáticas em Saúde Sociedade e Ambiente - 2013
 
Redução da Violência obstétrica através da assistência de enfermagem
Redução da Violência obstétrica através da assistência de enfermagemRedução da Violência obstétrica através da assistência de enfermagem
Redução da Violência obstétrica através da assistência de enfermagem
 
Plano acoes enfrent_dcnt_2011
Plano acoes enfrent_dcnt_2011Plano acoes enfrent_dcnt_2011
Plano acoes enfrent_dcnt_2011
 
Mudanças simples podem ser eficazes na prevençao do cancer
Mudanças simples podem ser eficazes na prevençao do cancerMudanças simples podem ser eficazes na prevençao do cancer
Mudanças simples podem ser eficazes na prevençao do cancer
 

Destaque

Trab prac computacion
Trab prac computacionTrab prac computacion
Trab prac computacioncars12
 
Capstone Executive Summary
Capstone Executive SummaryCapstone Executive Summary
Capstone Executive SummarySharon Mclean
 
A história do homem que não se irritava
A história do homem que não se irritavaA história do homem que não se irritava
A história do homem que não se irritavasedf
 
ApresentaçãO Mordomias
ApresentaçãO MordomiasApresentaçãO Mordomias
ApresentaçãO Mordomiasdinaandre
 
Giancarlos trabajo de computacion pc.
Giancarlos trabajo de computacion pc.Giancarlos trabajo de computacion pc.
Giancarlos trabajo de computacion pc.Josce88
 
BICBANCO - Apresentação Institucional - Junho 2008
BICBANCO - Apresentação Institucional - Junho 2008BICBANCO - Apresentação Institucional - Junho 2008
BICBANCO - Apresentação Institucional - Junho 2008BICBANCO
 
Etica Informatica
Etica InformaticaEtica Informatica
Etica InformaticaChalo Tejer
 
Trab prac computacion
Trab prac computacionTrab prac computacion
Trab prac computacioncars12
 
De Idea en Idea
De Idea en IdeaDe Idea en Idea
De Idea en Ideanatyos5
 
Como planear una herramienta multimedia
Como planear una herramienta multimediaComo planear una herramienta multimedia
Como planear una herramienta multimediaHeulimar Perez Ladera
 
Servicios adicionales a nuestros clientes
Servicios adicionales a nuestros clientesServicios adicionales a nuestros clientes
Servicios adicionales a nuestros clientescalmortigo
 
Olhos De Gato Magico
Olhos De Gato MagicoOlhos De Gato Magico
Olhos De Gato Magicocafejava
 

Destaque (20)

Matriz teste 4 9 c
Matriz teste 4 9 cMatriz teste 4 9 c
Matriz teste 4 9 c
 
Trab prac computacion
Trab prac computacionTrab prac computacion
Trab prac computacion
 
Examen t.i.c
Examen t.i.cExamen t.i.c
Examen t.i.c
 
Capstone Executive Summary
Capstone Executive SummaryCapstone Executive Summary
Capstone Executive Summary
 
A história do homem que não se irritava
A história do homem que não se irritavaA história do homem que não se irritava
A história do homem que não se irritava
 
ApresentaçãO Mordomias
ApresentaçãO MordomiasApresentaçãO Mordomias
ApresentaçãO Mordomias
 
Giancarlos trabajo de computacion pc.
Giancarlos trabajo de computacion pc.Giancarlos trabajo de computacion pc.
Giancarlos trabajo de computacion pc.
 
Pentecostés
PentecostésPentecostés
Pentecostés
 
BICBANCO - Apresentação Institucional - Junho 2008
BICBANCO - Apresentação Institucional - Junho 2008BICBANCO - Apresentação Institucional - Junho 2008
BICBANCO - Apresentação Institucional - Junho 2008
 
Etica Informatica
Etica InformaticaEtica Informatica
Etica Informatica
 
Capacitación de TICS
Capacitación de TICSCapacitación de TICS
Capacitación de TICS
 
Trab prac computacion
Trab prac computacionTrab prac computacion
Trab prac computacion
 
Ejercicio paso a paso
Ejercicio paso a pasoEjercicio paso a paso
Ejercicio paso a paso
 
De Idea en Idea
De Idea en IdeaDe Idea en Idea
De Idea en Idea
 
Institucion
InstitucionInstitucion
Institucion
 
Como planear una herramienta multimedia
Como planear una herramienta multimediaComo planear una herramienta multimedia
Como planear una herramienta multimedia
 
Imágenes
ImágenesImágenes
Imágenes
 
Auditoria !!
Auditoria !!Auditoria !!
Auditoria !!
 
Servicios adicionales a nuestros clientes
Servicios adicionales a nuestros clientesServicios adicionales a nuestros clientes
Servicios adicionales a nuestros clientes
 
Olhos De Gato Magico
Olhos De Gato MagicoOlhos De Gato Magico
Olhos De Gato Magico
 

Semelhante a CANCER DE MAMA

Manual de recomendações tuberculose
Manual de recomendações tuberculoseManual de recomendações tuberculose
Manual de recomendações tuberculoseArquivo-FClinico
 
2017 65 14109 (1) cancer de pele 7
2017 65 14109 (1) cancer de pele 72017 65 14109 (1) cancer de pele 7
2017 65 14109 (1) cancer de pele 7Dany Guedes
 
Simulação Clínica: ensino e avaliação nas diferentes áreas da Medicina e Enfe...
Simulação Clínica: ensino e avaliação nas diferentes áreas da Medicina e Enfe...Simulação Clínica: ensino e avaliação nas diferentes áreas da Medicina e Enfe...
Simulação Clínica: ensino e avaliação nas diferentes áreas da Medicina e Enfe...ArthurMachado55
 
Boletim Epidemiologico- tuberculose-v44n2-2014
Boletim Epidemiologico- tuberculose-v44n2-2014Boletim Epidemiologico- tuberculose-v44n2-2014
Boletim Epidemiologico- tuberculose-v44n2-2014jaciremagoncalves
 
Livro protocolo - atencao basica enfermagem - montes claros
Livro   protocolo - atencao basica enfermagem - montes clarosLivro   protocolo - atencao basica enfermagem - montes claros
Livro protocolo - atencao basica enfermagem - montes clarosKatia Calandrine
 
Caderno-4-Medidas-de-Prevenção-de-Infecção-Relacionada-à-Assistência-à-Saúde.pdf
Caderno-4-Medidas-de-Prevenção-de-Infecção-Relacionada-à-Assistência-à-Saúde.pdfCaderno-4-Medidas-de-Prevenção-de-Infecção-Relacionada-à-Assistência-à-Saúde.pdf
Caderno-4-Medidas-de-Prevenção-de-Infecção-Relacionada-à-Assistência-à-Saúde.pdfhervora araujo
 
Caderno 2 critérios diagnósticos de infecção relacionada à assistência à sa...
Caderno 2   critérios diagnósticos de infecção relacionada à assistência à sa...Caderno 2   critérios diagnósticos de infecção relacionada à assistência à sa...
Caderno 2 critérios diagnósticos de infecção relacionada à assistência à sa...Vanessa Maia
 
Falando sobre câncer de colo de útero
Falando sobre câncer de colo de úteroFalando sobre câncer de colo de útero
Falando sobre câncer de colo de úteroLetícia Spina Tapia
 
Protocolotrauma mg.pdf iraja noite
Protocolotrauma mg.pdf iraja noiteProtocolotrauma mg.pdf iraja noite
Protocolotrauma mg.pdf iraja noiteEdison Santos
 
Diretrizes agravos veiculacao_hidrica
Diretrizes agravos veiculacao_hidricaDiretrizes agravos veiculacao_hidrica
Diretrizes agravos veiculacao_hidricalomantoscrj
 
estimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf
estimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdfestimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf
estimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdfCristina Costa
 

Semelhante a CANCER DE MAMA (20)

Manual de recomendações tuberculose
Manual de recomendações tuberculoseManual de recomendações tuberculose
Manual de recomendações tuberculose
 
2017 65 14109 (1) cancer de pele 7
2017 65 14109 (1) cancer de pele 72017 65 14109 (1) cancer de pele 7
2017 65 14109 (1) cancer de pele 7
 
Abc do cancer
Abc do cancerAbc do cancer
Abc do cancer
 
Abc do cancer_2ed
Abc do cancer_2edAbc do cancer_2ed
Abc do cancer_2ed
 
Simulação Clínica: ensino e avaliação nas diferentes áreas da Medicina e Enfe...
Simulação Clínica: ensino e avaliação nas diferentes áreas da Medicina e Enfe...Simulação Clínica: ensino e avaliação nas diferentes áreas da Medicina e Enfe...
Simulação Clínica: ensino e avaliação nas diferentes áreas da Medicina e Enfe...
 
Boletim Epidemiologico- tuberculose-v44n2-2014
Boletim Epidemiologico- tuberculose-v44n2-2014Boletim Epidemiologico- tuberculose-v44n2-2014
Boletim Epidemiologico- tuberculose-v44n2-2014
 
Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero
Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do ÚteroDiretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero
Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero
 
Estratégia Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade
Estratégia Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade Estratégia Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade
Estratégia Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade
 
Livro protocolo - atencao basica enfermagem - montes claros
Livro   protocolo - atencao basica enfermagem - montes clarosLivro   protocolo - atencao basica enfermagem - montes claros
Livro protocolo - atencao basica enfermagem - montes claros
 
SaudedaMulher23092015.pdf
SaudedaMulher23092015.pdfSaudedaMulher23092015.pdf
SaudedaMulher23092015.pdf
 
Caderno-4-Medidas-de-Prevenção-de-Infecção-Relacionada-à-Assistência-à-Saúde.pdf
Caderno-4-Medidas-de-Prevenção-de-Infecção-Relacionada-à-Assistência-à-Saúde.pdfCaderno-4-Medidas-de-Prevenção-de-Infecção-Relacionada-à-Assistência-à-Saúde.pdf
Caderno-4-Medidas-de-Prevenção-de-Infecção-Relacionada-à-Assistência-à-Saúde.pdf
 
Iras.anvisa.2017
Iras.anvisa.2017Iras.anvisa.2017
Iras.anvisa.2017
 
Caderno 2 critérios diagnósticos de infecção relacionada à assistência à sa...
Caderno 2   critérios diagnósticos de infecção relacionada à assistência à sa...Caderno 2   critérios diagnósticos de infecção relacionada à assistência à sa...
Caderno 2 critérios diagnósticos de infecção relacionada à assistência à sa...
 
Falando sobre câncer de colo de útero
Falando sobre câncer de colo de úteroFalando sobre câncer de colo de útero
Falando sobre câncer de colo de útero
 
Protocolotrauma mg.pdf iraja noite
Protocolotrauma mg.pdf iraja noiteProtocolotrauma mg.pdf iraja noite
Protocolotrauma mg.pdf iraja noite
 
Diretrizes agravos veiculacao_hidrica
Diretrizes agravos veiculacao_hidricaDiretrizes agravos veiculacao_hidrica
Diretrizes agravos veiculacao_hidrica
 
estimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf
estimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdfestimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf
estimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf
 
Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero
Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do ÚteroDiretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero
Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero
 
Livro abc do_cancer
Livro abc do_cancerLivro abc do_cancer
Livro abc do_cancer
 
Modulo 5 -_investigação_de_eventos
Modulo 5 -_investigação_de_eventosModulo 5 -_investigação_de_eventos
Modulo 5 -_investigação_de_eventos
 

Mais de sedf

Curso de-tarot-nivel-iniciante-para-relacionamentos
Curso de-tarot-nivel-iniciante-para-relacionamentosCurso de-tarot-nivel-iniciante-para-relacionamentos
Curso de-tarot-nivel-iniciante-para-relacionamentossedf
 
Adequaçao de temporalidade modelo de ata
Adequaçao de temporalidade   modelo de ataAdequaçao de temporalidade   modelo de ata
Adequaçao de temporalidade modelo de atasedf
 
70% dos adultos brasileiros não conseguem aplicar
70% dos adultos brasileiros não conseguem aplicar70% dos adultos brasileiros não conseguem aplicar
70% dos adultos brasileiros não conseguem aplicarsedf
 
Atraso cognitivo
Atraso cognitivoAtraso cognitivo
Atraso cognitivosedf
 
Alfabetizacao guia didatico
Alfabetizacao guia didaticoAlfabetizacao guia didatico
Alfabetizacao guia didaticosedf
 
Adequaocurricularec303 110708115335-phpapp02
Adequaocurricularec303 110708115335-phpapp02Adequaocurricularec303 110708115335-phpapp02
Adequaocurricularec303 110708115335-phpapp02sedf
 
Adaptaescurriculares 110729101049-phpapp02
Adaptaescurriculares 110729101049-phpapp02Adaptaescurriculares 110729101049-phpapp02
Adaptaescurriculares 110729101049-phpapp02sedf
 
A subjetivação do deficiente no interior da escola
A subjetivação do deficiente no interior da escolaA subjetivação do deficiente no interior da escola
A subjetivação do deficiente no interior da escolasedf
 
A escola dos bichos
A escola dos bichosA escola dos bichos
A escola dos bichossedf
 
A defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educacao da cr anormal
A defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educacao da cr anormalA defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educacao da cr anormal
A defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educacao da cr anormalsedf
 
Alfabeto dos animais
Alfabeto dos animaisAlfabeto dos animais
Alfabeto dos animaissedf
 
dificuldade de aprendizagem
dificuldade de aprendizagemdificuldade de aprendizagem
dificuldade de aprendizagemsedf
 
Behavorismo
BehavorismoBehavorismo
Behavorismosedf
 
Adequação curricular estudo 2
Adequação curricular estudo 2Adequação curricular estudo 2
Adequação curricular estudo 2sedf
 
Adequação curricular ec 303
Adequação curricular ec 303Adequação curricular ec 303
Adequação curricular ec 303sedf
 
Adcurricgdf
AdcurricgdfAdcurricgdf
Adcurricgdfsedf
 
Adaptacoes de acesso_ao_curriculo_modulo_ii
Adaptacoes de acesso_ao_curriculo_modulo_iiAdaptacoes de acesso_ao_curriculo_modulo_ii
Adaptacoes de acesso_ao_curriculo_modulo_iisedf
 
A maior qualidade do bambu é o vazio interior
A maior qualidade do bambu é o vazio interiorA maior qualidade do bambu é o vazio interior
A maior qualidade do bambu é o vazio interiorsedf
 
Abordabem
AbordabemAbordabem
Abordabemsedf
 
A luz
A luzA luz
A luzsedf
 

Mais de sedf (20)

Curso de-tarot-nivel-iniciante-para-relacionamentos
Curso de-tarot-nivel-iniciante-para-relacionamentosCurso de-tarot-nivel-iniciante-para-relacionamentos
Curso de-tarot-nivel-iniciante-para-relacionamentos
 
Adequaçao de temporalidade modelo de ata
Adequaçao de temporalidade   modelo de ataAdequaçao de temporalidade   modelo de ata
Adequaçao de temporalidade modelo de ata
 
70% dos adultos brasileiros não conseguem aplicar
70% dos adultos brasileiros não conseguem aplicar70% dos adultos brasileiros não conseguem aplicar
70% dos adultos brasileiros não conseguem aplicar
 
Atraso cognitivo
Atraso cognitivoAtraso cognitivo
Atraso cognitivo
 
Alfabetizacao guia didatico
Alfabetizacao guia didaticoAlfabetizacao guia didatico
Alfabetizacao guia didatico
 
Adequaocurricularec303 110708115335-phpapp02
Adequaocurricularec303 110708115335-phpapp02Adequaocurricularec303 110708115335-phpapp02
Adequaocurricularec303 110708115335-phpapp02
 
Adaptaescurriculares 110729101049-phpapp02
Adaptaescurriculares 110729101049-phpapp02Adaptaescurriculares 110729101049-phpapp02
Adaptaescurriculares 110729101049-phpapp02
 
A subjetivação do deficiente no interior da escola
A subjetivação do deficiente no interior da escolaA subjetivação do deficiente no interior da escola
A subjetivação do deficiente no interior da escola
 
A escola dos bichos
A escola dos bichosA escola dos bichos
A escola dos bichos
 
A defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educacao da cr anormal
A defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educacao da cr anormalA defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educacao da cr anormal
A defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educacao da cr anormal
 
Alfabeto dos animais
Alfabeto dos animaisAlfabeto dos animais
Alfabeto dos animais
 
dificuldade de aprendizagem
dificuldade de aprendizagemdificuldade de aprendizagem
dificuldade de aprendizagem
 
Behavorismo
BehavorismoBehavorismo
Behavorismo
 
Adequação curricular estudo 2
Adequação curricular estudo 2Adequação curricular estudo 2
Adequação curricular estudo 2
 
Adequação curricular ec 303
Adequação curricular ec 303Adequação curricular ec 303
Adequação curricular ec 303
 
Adcurricgdf
AdcurricgdfAdcurricgdf
Adcurricgdf
 
Adaptacoes de acesso_ao_curriculo_modulo_ii
Adaptacoes de acesso_ao_curriculo_modulo_iiAdaptacoes de acesso_ao_curriculo_modulo_ii
Adaptacoes de acesso_ao_curriculo_modulo_ii
 
A maior qualidade do bambu é o vazio interior
A maior qualidade do bambu é o vazio interiorA maior qualidade do bambu é o vazio interior
A maior qualidade do bambu é o vazio interior
 
Abordabem
AbordabemAbordabem
Abordabem
 
A luz
A luzA luz
A luz
 

CANCER DE MAMA

  • 1. Uma Prosposta de Integração Ensino-Serviço AÇÕES DE ENFERMAGEM PARA O CONTROLE DO CÂNCER 2ª Edição Ministério da Saúde Instituto Nacional de Câncer
  • 2. MINISTÉRIO DA SAÚDE Barjas Negri SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE Renílson Rehem de Souza INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER Jacob Kligerman VICE-DIRETORIA José Kogut COORDENAÇÃO DE ENSINO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Maria Alice Sigaud Machado Coelho COORDENAÇÃO Maria Bernadete Alves Barbosa - Coordenação de Ensino e Divulgação Científica Maria Alice Sigaud M. Coelho - Coordenação de Ensino e Divulgação Científica Marcos André Felix da Silva - Centro de Suporte Terapêutico Oncológico DESIGN E PRODUÇÃO GRÁFICA Marcelo Mello Madeira - Coordenação de Ensino e Divulgação Científica COPIDESQUE Ulisses Maciel BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL Silvia Cristina Olivier Dalston - Coordenação de Ensino e Divulgação Científica FOTOS José Antônio Campos - Coordenação de Ensino e Divulgação Científica Carlos Augusto Sousa Leite - Coordenação de Ensino e Divulgação Científica FOTOLITOS E IMPRESSÃO Imprinta Ficha catalográfica B823a BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Ações de enfermagem para o controle do câncer: uma proposta de integração ensino - serviço. 2.ed. - Rio de Janeiro: INCA, 2002. 380p. : il. Bibliografia Índice de assunto ISBN 85-7318-078-1 1. Enfermagem oncológica. 2. Política de saúde. 3. Ensino. 4. Prevenção e controle. 5. Programas nacionais de saúde. 6. Brasil. I. Título. CDD-610.736 98 TIRAGEM 1000 exemplares  2002 - É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.
  • 3. Uma Prosposta de Integração Ensino-Serviço AÇÕES DE ENFERMAGEM PARA O CONTROLE DO CÂNCER AUTORES Angela Coe Camargo da Silva Marcos André Félix da Silva Ailse Rodrigues Bittencourt Marcos José Pereira Renni Alexandre Ferreira de Souza Mariângela Freitas da Silva Lavor Alexandre José Donato Maria Bernadete Alves Barbosa Antônio Augusto de Freitas Peregrino Maria das Graças Vieira de Abreu Ana Lúcia Amaral Eisenberg Maria Gaby Ribeiro de Gutiérrez Carlos Alberto Esteves Adão Maria Inez Pordeus Gadelha Cecília Ferreira da Silva Borges Maria Teresa dos Santos Guedes Claudete Ferreira Reis Albuquerque Nelson Cardoso de Almeida Cristiane de Souza Lourenço Nilce Piva Adami Edilson Sebastião Pimentel Regina Frauzino Edjane Faria de Amorin (in memorium) Regina Moreira Ferreira Élida Cabral Cunha Ricardo Henrique Sampaio Meireles Emília Rebelo Pinto Rosa Aparecida Pimenta de Castro Evaldo de Abreu Selma dos Santos Barcelos Lucília Reis Pinheiro Simone Guimarães de Amorim Luisa Mercedes da Costa e Silva Goldfarb Tânia Maria Cavalcante Luiz Eduardo Atalécio Araújo Valdete Oliveira Santos Marcelo Gurgel Carlos da Silva Valéria Cunha de Oliveira Marceli de Oliveira Santos Vera Lúcia Gomes de Andrade
  • 4. Uma Prosposta de Integração Ensino-Serviço COLABORADORES Adelemara Mattoso Allonzi Carlos Eduardo Alves dos Santos Carlos Joelcio de Moraes Santana Célia Regina de Andrade Costa Cláudia Naylor Dolival Lobão Veras Filho Ellen do Socorro Paixão Inez Rocha Moita Ivano Humbert Marchesi José Vicente Paya Luciana Santoro Peçanha Luis Felipe Leite Martins Márcia Regina Dias Alves Marcos Valadão (in memorium) Maria da Penha Schwartz Maria Lúcia Monteiro da Silva Marléia Chagas Moreira Maurício Alves Martins Mirian Aparecida Teixeira Paulo Antonio de Paiva Rebelo Pedro Luiz Fernandes Sandro Alan Ramos Rabelo Tânia Chalhub de Oliveira Tereza Caldas Camargo Walter Corrêa Souza REVISÃO DOS TEXTOS ORIGINAIS E REDAÇÃO DO TEXTO FINAL Alexandre José Donato Célia Regina de Andrade Costa Luiz Eduardo Atalécio Araújo Marcos André Felix da Silva Maria Bernadete Alves Barbosa Ricardo Henrique Sampaio Meireles Tânia Maria Cavalcante Valéria Cunha de Oliveira ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA Eliana Cláudia de Otero Ribeiro Euclydes Etienne Miranda Arreguy Maria Alice Sigaud Machado Coelho Maria Bernadete Alves Barbosa
  • 5. Apresentação O Instituto Nacional de Câncer (INCA) / Ministério da Saúde publica e distribui nas Universidades de Enfermagem e Hospitais-Escola do Brasil, esta 2ª edição do livro "Ações de Enfermagem para o Controle do Câncer", em formato de CD-Rom e livro texto, voltado para estudantes, profissionais e professores de enfermagem, visan- do à integração Ensino-Serviço. Este material educativo vem atender a uma deman- da dos profissionais e docentes para ampliar o Ensino de Enfermagem Oncológica nacionalmente. A carência de material de pesquisa e ensino vinculados à Enfermagem Oncológica mostra-se cada vez maior conforme nos é apontado pelo crescente número de solicitações das diferentes Escolas de Enfermagem e Unidades de Serviço do INCA. O trabalho para composição do presente livro foi árduo e contou com a contribuição de Enfermeiros e outros profissionais de saúde do INCA; como também de outros Serviços e Faculdades de Enfermagem. É com muita satisfação que apresentamos depois de sete anos a 2ª edição do presente trabalho. Esta 2ª edição contém os seguintes capítulos: O capítulo 1 traz informações do Problema de Câncer no Brasil, especificando os Determinantes Sociais, incluindo dados do Impacto Econômico e Social, dissertando sobre a Epidemiologia do Câncer e Fatores de Risco. O capítulo 2 descreve a Fisiopatologia, referindo-se à Oncogênese, detalhando a Biologia Tumoral, colocando dados importantes sobre a Imunologia Tumoral, esclarecendo a Relação entre o Tumor e o Hospedeiro, explicando a Classificação e Nomenclatura dos Tumores, colocando a evolução da Graduação e Estadiamento dos Tumores Malignos, como também as Lesões Proliferativas Controladas e Lesões Pré-Neoplásicas. O capítulo 3 contempla as Ações de Prevenção Primária e Secundária no Controle do Câncer, Ações de Enfermagem na Prevenção Primária e Secundária dos Principais Tipos de Câncer, e para ilustrar a Prevenção Secundária desses cânceres são apresentados estudos de casos que facilitarão naturalmente o raciocínio do estudante, profissional e do professor que por ventura esteja utilizando este livro. O capítulo 4 apresenta a Política de Saúde que nos mostra sua perspectiva histórica, o Sistema Único de Saúde (SUS) e sua reorganização atual, e a Política de Controle do Câncer, comentando ainda sobre o Rumo a uma Política Nacional de Combate ao Câncer até a organização atual do INCA, finalizando com a Política do Controle do Câncer no Brasil, e seus Programas: Centro de Alta Complexidade em Oncologia (CACON), Viva Mulher, Controle do Tabagismo e Seus Fatores de Risco, e o Programa de Integração Docente Assistencial na Área do Câncer (PIDAAC-Enfermagem). O capítulo 5 é composto didaticamente de Casos Clínicos oncológicos; onde prioriza-se a consulta e a suspeita diagnóstica de enfermagem, discussão dos casos clínicos, encaminhamentos, observação das condutas terapêuticas e comentários sobre o tratamento indicado (clínico ou cirúrgico) procurando nortear o ensino dos
  • 6. profissionais com vários casos de diversos tipos de câncer, contando também com ilustrações e com discussões didáticas na área oncológica. O capítulo 6 fala sobre as Bases do Tratamento do Câncer, Radioterapia, Iodoterapia, Quimioterapia e suas Normas Técnicas para o Manuseio Seguro de Agentes Quimioterápicos e o Tratamento Cirúrgico. Apresenta-se também os Anexos que se referem aos Exames de Mamas, Colo do Útero, Pele, Boca, Fisiopatologia da Dor em Câncer e Estomaterapia. Espera-se que realmente este livro venha contribuir para ampliar os co- nhecimentos dos profissionais de Enfermagem na área oncológica. Jacob Kligerman Diretor Geral do Instituto Nacional de Câncer
  • 7. Introdução A partir da constatação de que o câncer é um problema de saúde pública no Brasil, passa a ser importante o conhecimento da sua magnitude para que se possa ter bases referentes a seu controle, seja por meio de programas de prevenção e detecção precoce, seja pela organização e financiamento da rede assistencial para o tratamento e reabilitação da população. O Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) registrou 106.990 mortes por câncer, número superado apenas pelos óbitos ocor- ridos por doenças cardiovasculares e por causas externas (Ministério da Saúde, 1999), o que torna as neoplasias malignas o terceiro grupo de mortalidade por causas conhe- cidas. Assim, o câncer constitui-se na segunda causa de morte por doença no Brasil. Ressalta-se ainda que o câncer é um problema inserido em um quadro sanitário em que se combinam doenças ligadas à pobreza e doenças crônico-degenerativas, questões estas que se encontram comumente em países em processo de desenvolvimento como é o caso do Brasil. O câncer é uma doença com localizações e aspectos clínico-patológicos múltiplos e não possui sintomas ou sinais patognomônicos, podendo ser detectado em vários estágios de evolução histopatológica e clínica. Destes fatos resulta, em grande parte, a dificuldade do seu diagnóstico e a afirmativa de que a suspeita de câncer pode surgir diante de sintomas os mais variados possíveis. Ações voltadas para o diagnóstico precoce das lesões pré-malignas são de fun- damental importância para a resposta terapêutica. É de competência do enfermeiro neste momento fazer a suspeita diagnóstica e encaminhar ao clínico para afirmativa. No Brasil, muito ainda tem que ser feito para que os profissionais assumam a responsabilidade que lhes cabe quanto à prevenção e ao controle do câncer. A atuação deste profissional, a sua agilidade no encaminhamento do paciente à adequação das condutas diagnósticas e terapêuticas diante da suspeita diagnóstica, irá repercutir sobre a sobrevida, qualidade de vida e cura do mesmo. Desta forma, procurou-se incluir neste livro uma variedade de casos que exemplificassem diferentes níveis de complexidade do diagnóstico e bases sobre o tratamento do câncer. Portanto, este livro tem como proposta integrar o Ensino-Serviço, a partir das informações acima citadas, oferecendo uma oportunidade a estudantes, profissionais e professores de enfermagem de se aprofundarem nas questões sobre o câncer, a sua fisiologia, ações de prevenção primária e secundária, a política de saúde e a política nacional de controle ao câncer.
  • 9. O PROBLEMA DO CÂNCER NO BRASIL
  • 10. 17 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 INTRODUÇÃO O Brasil apresenta um quadro sanitário em que se combinam doen- ças ligadas à pobreza, típicas dos países em desenvolvimento, e doenças crônico- degenerativas, características dos países mais afluentes. Essa situação reflete, inquestionavelmente, as contradições do processo de desenvolvimento do País. Analisando-se a distribuição da mortalidade pelas principais causas de morte nas macrorregiões do Brasil, percebe-se que a posição relativa da morta- lidade por câncer figura sempre entre as primeiras daquelas causas, ao lado das doenças do aparelho circulatório, das causas externas, das doenças do aparelho respiratório, das afecções do período perinatal e das doenças infecciosas e para- sitárias. Vale ressaltar que, apesar de muito melhor, a qualidade do registro do óbito pelo câncer ainda fica comprometida pela classificação do mesmo como causa mal definida. No Brasil, em 1998, a mortalidade por causas mal definidas era a segunda causa de morte (15%). A análise por macrorregião revela que nas regiões Norte e Nordeste as causas mal definidas ocupavam a primeira posição, responsáveis por 24% e 30% do registro dos óbitos, respectivamente. Na região Centro-Oeste as causas mal definidas encontravam-se na quarta posição (11%) e nas regiões Sul e Sudeste essas causas ocupavam a quinta colocação, atribu- indo-se a elas 8% e 10% do registro dos óbitos, respectivamente. Excluindo-se as causas mal definidas, o câncer constitui a terceira causa de morte no Brasil, atrás somente das doenças do aparelho circulatório e das causas externas, sendo assim a segunda causa de morte por doença. Em 1998, os neoplasmas foram responsáveis por 11,92% dos 929.023 óbitos registrados, sendo que 54,21% dos óbitos por neoplasia ocorreram entre os homens e 45,74%, entre as mulheres. Considerando-se somente as mortes por doença (ou seja, ex- cluindo-se as causas externas), as neoplasias representam a segunda causa de morte em todas as regiões do país. Os neoplasmas seguem-se às doenças cardiovasculares como causa de morte, e sua proporcionalidade aumenta à me- dida que se desloca para o sul: 7,45% (região Nordeste), 8,52% (região Norte); 11,22% (região Centro-Oeste), 13,05% (região Sudeste) e 16,06% (região Sul). Através da análise dos determinantes sociais e indicadores epidemiológicos do câncer, este livro procura ressaltar a importância dessa doença como um problema de saúde pública em nosso país e também discutir o seu impacto social e econômico. Partindo dessa análise, procede-se à discussão sobre a importância da identificação dos grupos e dos fatores de risco de desen- volvimento do câncer. Como será evidenciado ao longo do texto, a identificação desses fatores e grupos orienta os programas de prevenção e controle e norteia o raciocínio clínico.
  • 11. 18 Ações de enfermagem para o controle do câncer 1 - DETERMINANTES SOCIAIS DO CÂNCER A urbanização, a industrialização e a maior expectativa de vida da população são os principais fatores que contribuem para o aumento da incidên- cia das doenças crônico-degenerativas, entre elas o câncer, visto que aqueles fatores contribuem para o aumento de agentes cancerígenos ambientais ou para uma maior e mais prolongada exposição dos seres humanos a esses agentes. 1.1- Aumento da expectativa de vida O crescimento da população idosa é um fenômeno que ocorre não só nos países desenvolvidos, mas também se verifica, de modo crescente, nos paí- ses em desenvolvimento. A expectativa de vida ao nascer, no Brasil, aumentou progressivamente no século XX (Figura 1.1). No início daquele século, o brasileiro tinha uma ex- pectativa de vida de menos de 35 anos. No final do século XX, ela estava para mais de 70 anos. Como se verá adiante, a redução das taxas de natalidade e de mortalidade tem modificado a estrutura etária da população, tornando-a mais velha do ponto de vista demográfico. O envelhecimento da população brasileira está retratado na Tabela 1.1, onde se nota que a população correspondente aos menores de 14 anos diminuiu, enquanto o contingente populacional das demais faixas etárias aumentou. Nes- se intervalo de tempo, a população de idosos (65 ou mais anos) mais do que dupli- cou a sua proporção. Figura 1.1 - Expectativa de vida ao nascer para ambos os sexos, no Brasil, entre 1900 e 2020. Idade Média 80 60 40 20 0 1900 1920 1940 1960 1980 2020 ANO Fonte: De 1900 a 1950, Santos JLF, Demografia: estimativa e projeções. São Paulo, Fauusp, 1978. De 1960 a 2020, United Nations, Periodical on Ageing 84, v. 1, n.1, 1985
  • 12. 19 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 Tabela 1.1- Composição etária relativa (%) da contagem populacional de 1996. Fonte: IBGE/Contagem populacional. Contudo, existem disparidades na esperança de vida ao nascer, entre os sexos e entre as populações das diversas regiões brasileiras. A Tabela 1.2 mostra como a expectativa de vida é menor nas regiões Norte e Nordeste e maior entre as mulheres. Tabela 1.2 - Expectativa de vida ao nascer, em anos, por sexo e segundo as grandes regiões, Brasil, 2000. Fonte: IBGE/DPE/Departamento de População e Indicadores Sociais. Divisão de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica. Projeto UNFPA/BRASIL (BRA/98/P08) - Sistema Integrado de Projeções e Estimativas Populacionais e Indicadores Sociodemográficos. Duas são as variáveis biológicas que modificam as populações: a mor- talidade e a fecundidade. Um país de população jovem apresenta altas taxas de mortalidade e de fecundidade; quando em fase de explosão demográfica, esta caracteriza-se por uma taxa de mortalidade declinante e uma alta taxa de ferti- lidade; quando em fase de transição demográfica, a taxa de mortalidade é baixa e a de fecundidade é gradualmente decrescente. A Tabela 1.3 demonstra a redução progressiva dessas taxas entre a população brasileira, distribuídas por décadas, no decorrer de mais de um século (de 1891 a 2000): a taxa de natalida- de caiu em 56,3% e a de mortalidade, em 75,2%, verificando-se, assim, que a nossa população já entrou na fase da transição.
  • 13. 20 Ações de enfermagem para o controle do câncer Vê-se, assim, que modificações importantes ocorreram na estrutura da população brasileira. Adianta-se que a redução da taxa de mortalidade decor- reu, especialmente, da diminuição dos óbitos por doenças infecciosas. Embora sem a caracterização biológica, a migração é outra variável que também altera a composição populacional de uma cidade, região ou país. Adiante, ver-se-á como a migração interna contribuiu substancialmente para a modificação do perfil das doenças e das causas de morte no Brasil. Tabela 1.3 - Taxas brutas de natalidade e mortalidade no Brasil, 1990-2000. Fonte: IBGE (a) Dados do extinto Laboratório Estatístico do IBGE. (b) Censos demográficos. (c) IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de População e Indicadores Sociais. Nota: Dados referentes ao Anuário Estatístico do Brasil, 1995. 1.2 - Industrialização e urbanização A revolução industrial, originada na Inglaterra na segunda metade do século XVIII, constituiu um dos grandes marcos da história da humanidade, im- primindo sérias modificações nos padrões de vida e nas relações sociais vigen- tes até então. No Brasil, o processo de industrialização acelerou-se após a Segunda Guerra Mundial. Desenvolveu-se em ritmos diferentes nas diversas regiões do País, ocorrendo uma maior concentração industrial na região Sudeste. São justamente nas regiões de maior industrialização que, atualmente, se verifi- cam as maiores taxas de mortalidade por câncer. Baseado no conhecimento de que cerca de 80% dos casos de câncer seriam direta ou indiretamente relacionáveis a fatores exógenos, Verhasselt (1977) enfatiza a importância das condições ambientais no desenvolvimento dessa doença. Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) a respeito dos efeitos das substâncias químicas sobre a saúde humana estima que, dos quatro milhões de substâncias naturais ou sintéticas já isoladas, sessenta mil estão em uso cotidiano. Entre estas, cinco mil são usadas como aditivos alimentares e 1.500 são utilizadas na preparação de pesticidas. É importante salientar que a maioria dos produtos químicos atualmente em uso nunca foi devidamente testa- da quanto à sua toxicidade crônica e aos seus efeitos carcinogênicos. Algumas substâncias, como os hidrocarbonetos policíclicos aromáti- cos, o níquel, o asbesto e o ácido vinil-clorídrico, estão relacionadas a diversos cânceres ocupacionais. Como no Brasil os instrumentos legais de proteção à saúde do trabalhador são frágeis, e aqueles destinados a resguardar os interesses
  • 14. 21 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 e direitos do consumidor são de recente implantação e utilização, há condições amplamente favoráveis à disseminação de carcinógenos de origem industrial. Isto tem trazido, e continuará a trazer mais ainda, prejuízos de monta à saúde da população brasileira. A questão da poluição ambiental não pode ser omitida, ainda que seu efeito carcinogênico não esteja bem estabelecido. Resíduos industriais, a maior parte das vezes sem o tratamento adequado, são emanados e disseminados pelo ar ou despejados em cursos d’água, alcançando, inclusive, populações e áreas bem distantes da fonte poluidora. Compromete-se, assim, a saúde da atual popu- lação e das futuras gerações. Observa-se séria omissão no que diz respeito à aplicação dos procedi- mentos cabíveis e necessários ao controle dos poluentes ambientais. Entre as razões principais desta omissão, encontra-se a resistência dos empresários em despender recursos para o controle da poluição e a displicência quanto à fisca- lização do cumprimento das leis de proteção ambiental pelas empresas. A urbanização, fenômeno que freqüentemente caminha ao lado do pro- cesso de industrialização, tem sido relacionada com uma maior ocorrência de câncer. Verhasselt (1977) afirma que, em escala mundial, tem sido identificada forte correlação entre a importância da mortalidade proporcional por câncer e o grau de urbanização. Nos últimos dois séculos, vem ocorrendo sensível aumento na urbani- zação. No começo do século XIX, somente 3% da população mundial viviam em cidades; na década de 1970, essa proporção alcançava 40%, e a perspecti- va era de que, na virada do milênio, a taxa de urbanização atingisse 80%, nos países desenvolvidos. A Figura 1.2 mostra a evolução da composição populacional rural e urbana no Brasil, para o período de 1940 a 1997, revelando a magnitude do fenômeno de urbanização ocorrido no país. Figura 1.2 - Evolução da composição populacional urbana e rural, no Brasil, de 1940 a 1997. % 100 80 RURAL 60 URBANO 40 20 0 ANO 1940 1950 1960 1970 1980 1997 Fonte: Ministério da Saúde. Cadernos. Doenças Crônico-Degenerativas: Evolução e Tendências Atuais I. Brasília, Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 1997.
  • 15. 22 Ações de enfermagem para o controle do câncer A urbanização, comumente, é acompanhada de modificações nos hábi- tos de vida das pessoas. Os aspectos concernentes ao estilo de vida das popula- ções devem receber atenção quanto à gênese dos tumores, pois a persistência, a acentuação ou a introdução de novos hábitos pode induzir ou propiciar o desen- volvimento das neoplasias malignas. Entre esses hábitos, o tabagismo aparece como um dos mais importantes, estando diretamente relacionado com os cânce- res de pulmão, boca, laringe e bexiga. Em escala mundial, a expansão do tabagismo data da Primeira Guerra Mundial, e a maior generalização do vício foi notada após a Segunda Grande Guerra. Nos Estados Unidos, o consumo anual médio de cigarros, por adulto, em 1920, era de 750 e elevou-se a 3.900, em 1960. Uma tendência oposta vem se desenvolvendo nas últimas duas décadas, na maioria dos países desenvolvidos, onde a proporção de fumantes e a quantidade do produto consumido vêm decli- nando substancialmente. Como resposta à retração da demanda de cigarros nos países industria- lizados, as indústrias de cigarro têm ampliado suas investidas em países do cha- mado Terceiro Mundo, para assegurarem a continuidade de seus negócios, me- diante a incorporação de novos mercados ou a expansão dos já existentes. Uma investigação conduzida pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) em oito cidades da América Latina, em 1970, acusou uma prevalência de tabagis- mo de 45% entre os homens e de 18% entre as mulheres, nas faixas etárias de 15 a 74 anos. Verificou-se, porém, que a proporção entre homens e mulheres fumantes diminuiu de 1971 a 1988, principalmente no Brasil e no Chile. No Brasil, a epidemia tabagística se acelerou vertiginosamente, a partir de 1970. No período entre 1970 e 1980, o consumo de cigarros cresceu 132%, enquanto a população de 20 anos ou mais cresceu 37% e a população geral, 28%. Na segunda metade de 1970, havia 25 milhões de fumantes; em 1987, contava-se, nas capitais brasileiras, com cerca de 33 milhões, o que implica um crescimento da ordem de 32% em dez anos (Rosemberg, 1987). Em 1989, uma pesquisa realizada em 363 municípios brasileiros possibilitou a estimativa de que existiam no Brasil 30,6 milhões de fumantes, ou seja, 23,9% dos maiores de 5 anos de idade (Brasil, 1992). O Brasil é, desde 1993, em termos mundiais, o maior exportador e o terceiro produtor de tabaco. O recolhimento dos impostos que incidem sobre os produtos industrializados do tabaco muito significa para a economia do País, embora os prejuízos ambientais, sanitários e econômicos, vistos a longo prazo, superem as aparentes e imediatas vantagens econômicas. Aqui, um maço de cigarros é taxado em 74%, enquanto, nos países desenvolvidos, o imposto chega a representar até 85% do preço do maço. Sabe-se que o aumento da taxação é acompanhado por uma diminui- ção do consumo de cigarros. Ao mesmo tempo que caminha nesse sentido, pare- ce que o Brasil ainda vive as contradições entre a arrecadação de impostos e os custos sociais e econômicos do tabagismo: enquanto em 1974 os produtos do
  • 16. 23 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 tabaco participavam com 28% da arrecadação do Imposto sobre Produtos Indus- trializados (IPI), em 1977 este já somava 36%. Em 1979, os tributos incidentes sobre o tabaco e seus derivados compunham cerca de 10% do total da receita federal. Em 1991, 69,4% do preço final do cigarro correspondiam à tributação governamental (Brasil, 1992). Estes últimos dados explicam por que o combate ao tabagismo encon- tra tantos obstáculos e enfrenta tantas contradições, que se superam na medida em que se demonstra o seu impacto negativo sobre a vida e a saúde das pessoas, individual e coletivamente. O câncer de pulmão é um exemplo incontestável de como essa influência nefasta se instala e se sustenta, ao longo de décadas. Sabe-se que, num dado país, a mortalidade por este tumor é diretamente propor- cional ao consumo per capita de cigarros ou similares ali medido. No Brasil, como em muitos outros países, este consumo tem sido sistematicamente progres- sivo, a partir de 1945. Tomando-se a mortalidade por câncer de pulmão no Rio Grande do Sul, onde se observam os maiores índices nacionais de produção e consumo per capita de tabaco, verifica-se que, de 1935 a 1990, as taxas de mortalidade por câncer de pulmão, entre os homens, ascenderam abruptamente a 15/100.000 habitantes, a partir de 1975, e ultrapassaram 30/100.000 habitan- tes, em 1990 (ou seja, respectivamente, 30 e 45 anos depois da explosão da oferta e do consumo de cigarros verificada no mercado brasileiro). Tendência semelhante, ainda que com ângulos menos agudos, observa-se no grupo das mulheres gaúchas, entre as quais a taxa era de 5/100.000, em 1980, e em 1990 estava quase duplicada. Deve ser ressaltado que isto ocorreu, respectivamen- te, 20 e 30 anos após a revolução sexual, que se deu na década de 1960 e que resultou na incorporação da mulher ao mercado de trabalho, fazendo com que ela assumisse hábitos e costumes até então predominantemente masculinos, entre eles, o tabagismo. 1.3 - Avanço tecnológico no setor da saúde Nas seções anteriores, discutiram-se alguns fenômenos de ordem soci- al que têm contribuído para o aumento da incidência do câncer. Nesta seção, será examinado como a disponibilidade de recursos tecnológicos mais avança- dos se relaciona com o diagnóstico e controle do câncer. O aumento da mortalidade proporcional por câncer não se deve, ne- cessariamente, ao aumento real da doença. O avanço da ciência e da tecnologia possibilitou a melhoria dos meios de diagnóstico e de tratamento. A utilização destes recursos, aliada ao desenvolvimento socioeconômico, contribuiu para o declínio da mortalidade por enfermidades controláveis, como a tuberculose, a desnutrição, o diabetes melito e outras afecções, em várias regiões do mundo. A mortalidade dos que escapam destas doenças é desviada para os dois principais grupos das que ainda não foram controladas: as doenças cardiovasculares e as neoplásicas. A importância do câncer vem, assim, aumentando, à medida que ocorre o controle progressivo de outras enfermidades.
  • 17. 24 Ações de enfermagem para o controle do câncer Os progressos tecnológicos observados na Medicina, nas últimas déca- das, proporcionaram o aprimoramento dos meios propedêuticos e, por conse- guinte, a maior acuidade diagnóstica para o câncer. Esta condição explica parte do aumento verificado na prevalência dessa doença. É oportuno considerar que o impacto da melhoria dos recursos de diag- nóstico e de tratamento não pode ser avaliado sem que se analise o acesso da população aos serviços de saúde. Também, há que se considerar que os custos da assistência médico-hospitalar aumentam com a incorporação de novas tecnologias, ao contrário do que ocorre em outras áreas do conhecimento huma- no e do mercado de bens e serviços. Segundo levantamento recente, realizado em maio de 2001, existem no Brasil 149 hospitais credenciados como CACON – Centro de Alta Complexi- dade em Oncologia - especializados no tratamento do câncer no Brasil. Desses Centros, 4% estão localizados na Região Norte, 6% na Região Centro-Oeste, 19% na Região Nordeste, 21% na Região Sul e 51% na Região Sudeste. Ressal- te-se a grande concentração na região Sudeste. Há, portanto, uma razoável disponibilidade de recursos para tratamento do câncer neste nível do sistema de saúde.
  • 18. 25 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 2 - IMPACTO ECONÔMICO E SOCIAL Uma nova distribuição demográfica reduz as pressões advindas de uma população infantil e jovem sobre os sistemas educacional e sanitário mas, por outro lado, aumenta, significativamente, a pressão para a assistência médi- co-social aos idosos. O envelhecimento cursa com uma maior suscetibilidade às doenças, o que torna os indivíduos idosos usuários assíduos dos serviços de saúde. Por sua vez, as doenças que mais os afligem, as crônico-degenerativas, implicam con- sultas regulares, exames complementares múltiplos e repetidos e tratamentos longos e custosos. O Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, é formado por dois grandes subsetores: o subsetor privado, composto por empresas, com ou sem fins lucra- tivos (filantrópicas), contratadas ou credenciadas para prestação de serviço ao SUS; empresas de assistência médica e de seguro saúde, clínicas e hospitais particulares. O outro é o subsetor público, composto por instituições municipais, estaduais e federais, presentes majoritariamente nos níveis primário e secundá- rio e nas áreas de alto custo do nível terciário, pelos hospitais universitários e pelos serviços de saúde dos ministérios militares, que possuem clientela, orça- mento e regulamentação próprias. Já pela composição do sistema de saúde, pode-se deduzir o quão difícil é calcular os custos reais da assistência médica no Brasil. Isto mais se complica, na área do câncer, pela multiplicidade de procedimentos (de baixa e alta com- plexidade) e ações (da prevenção à paliação) requeridos, e que permeiam todos os níveis de um sistema que possui setores estanques e desintegrados, do qual não se dispõe da informação sobre a duplicação de ações e sobre os custos de todos os setores. Porém, como o SUS representa o maior deles, em estrutura e número de usuários e, por isso, certamente também em orçamento, os seus gastos podem sugerir a magnitude dos custos com a saúde e a doença dos brasileiros. Só em dezembro de 1996, o DATASUS processou 914.637 internações (Sistema de Internações Hospitalares - SIH / SUS) e 99.514.572 procedimentos ambulatoriais (Sis- tema de Informações Ambulatoriais - SIA / SUS), pelo que se pagou, respectivamente, R$ 246.897.454,28 e R$ 276.965.883,98, num total mensal de R$ 523.863.338,26. A isto não se somam os gastos do Ministério da Saúde com pessoal, o repasse de verbas para a Fundação Nacional de Saúde e nem os custos dos hospitais próprios do Ministério da Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz, da Central de Medicamen- tos, dos hospitais das universidades federais e da gestão semiplena. Entre as internações hospitalares mais onerosas, em média, naquele mês, destacam-se as devidas anomalias congênitas (R$ 1.045,56), neoplasias (R$ 516,69), doenças do aparelho circulatório (R$ 434,49), transtornos mentais (R$ 427,43) e afecções perinatais (R$ 399, 48). A comparação dos custos médios
  • 19. 26 Ações de enfermagem para o controle do câncer das internações efetuadas nos anos de 1991 e 1996 (Tabela 1.4), demonstra que, neste intervalo de cinco anos, exceto pelos transtornos mentais, a média dos custos dos procedimentos ascendeu em todos os demais grupos. Duas deduções se impõem, a partir dessa comparação. Primeira, a política de desinstitucionalização dos doentes mentais, aplicada no Brasil, nos últimos anos (o que também pode explicar o aumento do custo médio das internações por anomalias congênitas); segunda: o quanto pode a incorporação tecnológica, que, repete-se, sempre aumenta os custos médico-hospitalares, por irracional e indiscriminadamente aplicada, estar-se somando ao custo médio observado nos demais grupos de causas listados na Tabela 1.4. Tabela 1.4 - Custo médio (em dólares) das internações mais onerosas distribuídas por grupos de causas e ano, no Brasil. Fonte: Ministério da Saúde - Cenepi - 1993 e DataSus - 1997. Vale informar que, sob a rubrica neoplasias, incluem-se somente as internações relativas a procedimentos codificados como oncológicos, ou seja, terapêuticos, a maioria cirúrgicos, e que cerca de 80% dos pacientes com cân- cer são atendidos e tratados ambulatorialmente. Do que se pode deduzir em quanto seriam majorados os custos da assistência na área do câncer, caso fos- sem computados todos os procedimentos e exames de prevenção, diagnóstico, estadiamento, tratamento, paliação e acompanhamento dos pacientes. É justo salientar que o câncer não é problema de saúde pública exclu- sivo dos países industrializados, posto que seus efeitos podem ser percebidos em regiões mais pobres ou subdesenvolvidas, com o agravante de que estas áreas apresentam outros sérios problemas de saúde, como as doenças infecciosas e a desnutrição. Embora não sejam comumente discutidas, as repercussões de ordem econômica e social do câncer são de grande monta. Para Rice & Hodgson (1980), as implicações para os doentes, a família e a sociedade em geral são a dor, o sofrimento, a incapacidade e a morte; representam milhões de anos de vida per- didos, uma vasta quantidade de recursos destinados à detecção, ao diagnóstico e ao tratamento e, ainda, recursos econômicos desperdiçados, devido à redução do potencial de trabalho humano.
  • 20. 27 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 Os custos sociais do câncer, ainda que sejam de difícil quantificação, são, seguramente, bastante elevados. Eles são classificados em diretos e indiretos. Entre os custos diretos, estão os gastos com a prevenção, o diagnóstico e o trata- mento. Nos custos indiretos são computadas as perdas de produção, decorren- tes do tempo potencial do trabalho perdido por causa da mortalidade, morbidade e incapacidade provocadas por essa doença. Fica evidente o seu alto custo econômico, se for levado em conta que ela é de natureza crônica, pode provocar invalidez e exige internação hospita- lar e acompanhamento ambulatorial freqüentes, e que seu diagnóstico e trata- mento são realizados por equipe multiprofissional, altamente especializada e de formação e manutenção onerosas, empregando geralmente tecnologia sofistica- da e dispendiosa . É fácil depreender a relação direta que há entre recursos despendidos e o estádio em que o câncer é diagnosticado. A Tabela 1.5, usando como exem- plos os cânceres de mama e de colo do útero, exemplifica e quantifica bem essa relação, e até a extrapola, uma vez que, quanto mais avançado o estágio da doença, maior o número dos procedimentos de diagnóstico e terapêuticos apli- cáveis, que se multiplicam quando se observa a recidiva tumoral; em contraposição, a sobrevida das mulheres é progressivamente reduzida. O investimento nas áreas de prevenção e diagnóstico precoce traz, assim, maior benefício social e econômico do que o custeio do tratamento da doença em fase avançada. Os custos indiretos das neoplasias malignas são também muito expres- sivos. Vale observar, por exemplo, que o peso da mortalidade por câncer em Fortaleza, em dois anos, pode ser expresso em aproximadamente 15.894 anos de vida média ativa potencial perdidos. Considerando-se as faixas etárias em que ocorrem os óbitos, a mediana de renda por faixa etária e algumas premissas de econometria, as perdas econômicas futuras estimadas seriam da ordem de 505.487 salários mínimos (Silva, 1987).
  • 21. 28 Ações de enfermagem para o controle do câncer Tabela 1.5 - Relações entre o benefício e o custo direto* das ações de controle do câncer cérvico-uterino e de mama. CÂNCER DE COLO DO ÚTERO (1) União Internacional de Controle do Câncer (UICC) - 1989. (2) Sistema Único de Saúde - Ministério da Saúde - 1994. Obs: Sem os custos de procedimentos paliativos aplicados ao estádio IV (p.e., RT anti- hemorrágica). CÂNCER DE MAMA *Média dos procedimentos diagnósticos e terapêuticas aplicáveis sem repetição dos procedimentos unitários previstos. (1) Médias de fontes internacionais. (2) Sistema Único de Saúde - Ministério da Saúde - 1995. Vale também discutir como a dependência tecnológica pune os países em desenvolvimento, cujo cidadão paga cem vezes mais que um estadunidense para tratar um caso de câncer, independentemente da localização primária des- te (Tabela 1.6). Deve-se considerar, porém, que o alto percentual de casos de doença avançada, verificados correntemente em países subdesenvolvidos, tam- bém influencia o custo final do tratamento. Quando é feita a correlação entre esse custo e o benefício que ele traz ao paciente, medida pelo custo por anos de vida ganhos, verifica-se que ele é variável não só com a idade do paciente ao diagnóstico, mas também com a localização primária do tumor (Tabela 1.7).
  • 22. 29 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 Tabela 1.6 - Custo* por caso tratado nos Estados Unidos da América e em países em desenvolvimento, de acordo com algumas localizações primárias de câncer. Fonte: Cromwell, 1969/71 (In: Barnum; Greenberg, 1989). * % per capita do PIB (números subestimados). Tabela 1.7 - Custo* por anos de vida ganhos de casos tratados** no nível terciário. Fontes: Barnum; Greenberg, 1989. * % per capita do PIB (números subestimados). **Média de todos os estádios. Os dados anteriormente descritos evidenciam o tributo pago pela socie- dade, como conseqüência das neoplasias malignas, justificando a urgência da adoção de medidas eficazes para seu controle.
  • 23. 30 Ações de enfermagem para o controle do câncer 3 - A EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER A epidemiologia permite o estudo da distribuição das várias formas de câncer entre a população, a observação e análise das variações de sua ocorrên- cia em diferentes grupos ou comunidades e os fatores de risco a que eles se expõem. Mediante a correlação existente entre os dados de morbidade e mortali- dade e as diferenças verificadas nas condições ambientais, hábitos de vida ou de constituição genética observadas entre esses grupos, é possível se estabele- cerem hipóteses sobre as prováveis causas do câncer. Como este não representa uma única moléstia, mas sim um processo comum a um grupo heterogêneo de doenças que diferem em sua etiologia, freqüência e manifestações clínicas, é necessário estabelecer critérios de clas- sificação para o seu estudo. Usualmente, em Cancerologia, utilizam-se classifi- cações segundo a localização primária, o tipo histopatológico e a extensão anatômica dos tumores. Os estudos comparativos de freqüência do câncer devem considerar sem- pre a cobertura e a qualidade dos serviços de diagnóstico, na medida em que as variações observadas entre as diferentes regiões do território nacional podem refletir apenas esses componentes. A comparabilidade dos dados dependerá sem- pre também da utilização uniforme dos critérios adotados em diferentes regiões, instituições e até entre profissionais de um mesmo serviço de saúde. 3.1 - Conceitos e definições Para se medir a freqüência das doenças e a mortalidade por elas provocada, utilizam-se taxas, ou coeficientes, que têm três elementos essenciais: • grupo de população exposto ao risco de adoecer ou morrer; • o fator tempo; e • o número de casos, de doenças, ou de mortes ocorridos na população exposta, em um certo período de tempo. Assim, a taxa de mortalidade por câncer é expressa pela seguinte equação: Taxa de mortalidade geral = N.º de mortes por câncer, local, período X 100.000 por câncer População exposta ao risco, local, meio do período As taxas de mortalidade podem ser específicas para várias características, tais como sexo, idade, tipo ou localização de tumores, etc., permitindo compara- ções entre diferentes subgrupos de uma mesma população.
  • 24. 31 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 A morbidade pode ser expressa pelas taxas de incidência e prevalência, assim definidas: Incidência Taxa de incidência = N.º de casos novos da doença, local, período X 100.000 População exposta ao risco, local, meio do período Prevalência Taxa de prevalência = N.º de casos da doença, local, período X 100.000 População no meio do período, local A incidência expressa o risco de uma determinada população desenvol- ver uma doença. A prevalência é a quantidade de casos existentes de uma do- ença (casos novos e antigos), relacionando-se, portanto, com a incidência e com a duração da doença. Doenças agudas e fatais como a raiva, por exemplo, têm, assim, incidência e prevalência semelhantes. As taxas são utilizadas para comparar dados de diferentes populações. Entretanto, a análise comparativa entre taxas deve ser cuidadosa. Diferenças entre elas podem refletir, por exemplo, apenas diferenças na composição etária das populações estudadas. Por esta razão, utiliza-se o recurso da padronização de taxas por idade, visando a anular o efeito, neste caso, da diferença observada na estrutura etária das populações. A padronização das taxas por idade permite a comparabilidade dos coeficientes de distintos Registros de Câncer ou países, mesmo que as populações tenham diferentes distribuições etárias. A Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC, sigla em Inglês), em suas publicações sobre a incidência do câncer nos cinco continen- tes, tem adotado três populações-modelo de padronização: africana, mundial e européia. A primeira é representativa de uma população jovem; a terceira, típi- ca de uma população idosa; enquanto a segunda representa um padrão interme- diário entre os dois extremos de modelos (Waterhouse et al, 1987). A Tabela 1.8 mostra, a título de ilustração, a mortalidade e a incidência brutas por câncer, segundo o sexo, em Fortaleza, em 1985, e as taxas ajustadas por idade, segundo a população padrão mundial de 1960. Como Fortaleza tem uma população predominantemente jovem, a padronização com o modelo mun- dial aumenta em muito as taxas da capital cearense.
  • 25. 32 Ações de enfermagem para o controle do câncer Tabela 1.8 - Comparação das taxas* bruta e padronizada** de mortalidade e incidência de câncer, por sexo, em Fortaleza, 1985. Fonte: Registro de Câncer de Base Populacional de Fortaleza, 1985. * Por 100.000 habitantes ** pela população mundial de 1960. Para limitar-se a influência da idade, também pode ser usada a compara- ção restrita ao grupo etário compreendido entre os 35 e 64 anos, compondo-se a chamada população “truncada”. Na Tabela 1.9, figuram taxas de incidência de câncer, padronizadas pela população mundial, inclusive a truncada, comparan- do-se dados de registros selecionados no mundo. Foram selecionados os Registros de Câncer com as 10 maiores taxas, as 10 intermediárias e as 10 menores. As taxas para os Registros de Câncer brasileiros foram inseridas segundo a sua po- sição relativa na tabela. A primeira coluna indica o ranque correspondente ao Registro de Câncer. Tal comparação mostra que as taxas de incidência brasilei- ras encontram-se num nível intermediário. Dentre os Registros de Câncer brasi- leiros presentes nesta publicação, Porto Alegre apresenta as maiores taxas (24a posição), seguido de Goiânia (72a posição) e por último Belém (147a posição). 3.2 - Mortalidade Como os coeficientes de mortalidade são calculados a partir dos dados contidos nos atestados de óbito, a precisão dessas informações interfere nos coeficientes de mortalidade obtidos. Em 1975, o Ministério da Saúde promoveu em Brasília uma reunião com o objetivo de implantar um Sistema de Vigilância Epidemiológica a nível nacio- nal, quando foi aprovado o modelo único de Declaração de Óbito e Declaração de Óbito Fetal. Esta padronização permitiu a implantação do SIM – Sistema de Informação de Mortalidade, um sistema pioneiro no emprego de um documento individualizado e padronizado (Declaração de Óbito – DO) para a coleta de informações sobre óbitos. Houve um grande avanço com a implantação do SIM, pois, no período anterior, diversas unidades da federação possuíam distintas for- mas de atestado médico da morte, e várias não seguiam a padronização interna- cional de coleta de dados proposta pela Organização Mundial de Saúde - OMS. A declaração de óbito é um documento em grande parte pré-codificado, o que permitiu a padronização da coleta de variáveis, facilitando o processamento e a análise da consistência das informações captadas. Na década de 1990, com a utilização da informática, foi possível a descentralização das ações e o fortale- cimento do SIM. Com o avanço da descentralização da produção das informa-
  • 26. 33 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 ções em saúde, os níveis estadual e federal desempenharão um novo papel na gestão dos sistemas de informação. No seu novo papel, estes níveis deverão desenvolver atividades dirigidas ao controle da qualidade dos sistemas e forne- cer suporte técnico aos municípios. A descentralização da informação poderá trazer grandes vantagens para o aprimoramento da qualidade da informação e permitirá um maior e melhor monitoramento da coleta de dados (Almeida,1998). Tabela 1.9 -Taxas padronizadas de incidência de câncer, por 100.000 habitantes, segundo o sexo, em diversas regiões do mundo. Fonte: Cancer Incidence in five Continents, Vol. VII - IARC.
  • 27. 34 Ações de enfermagem para o controle do câncer Nas Tabelas 1.10 e 1.11, estão retratadas, segundo o sexo, as taxas brutas de mortalidade por câncer, dos óbitos registrados no período entre 1979 e 1998, para alguns tumores selecionados. A taxa bruta de mortalidade expressa a medida do risco a que uma determinada população está submetida. Percebe-se que, à exceção do câncer de estômago, houve um acréscimo do risco durante o período estudado, tanto para homens quanto para as mulheres. No sexo mascu- lino, os tumores que tiveram aumento mais expressivo na taxa de mortalidade foram: próstata, pulmão e cólon e reto. Já para o sexo feminino, os tumores foram mama, pulmão e cólon e reto. Vale ressaltar que o aumento observado também reflete a melhoria da qualidade da informação, o acesso aos serviços de saúde e a qualidade dos serviços de diagnóstico. Tabela 1.10 - Taxas brutas de mortalidade para topografias selecionadas, homens, Brasil, 1979 a 1998. Fontes: Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM/DATASUS/MS. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Divisão de Epidemiologia e Avaliação - CONPREV/INCA/MS. Tabela 1.11 - Taxas brutas de mortalidade para topografias selecionadas, mulheres, Brasil, 1979 a 1998. Fontes: Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM/DATASUS/MS. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Divisão de Epidemiologia e Avaliação - CONPREV/INCA/MS.
  • 28. 35 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 Utilizando-se como parâmetro de análise o coeficiente ajustado por idade (taxa padronizada) para descontar o efeito da estrutura etária da população e permitir a comparabilidade dos dados, observa-se que, nas mulheres, a mortalidade por câncer do colo uterino, no período de 1979 a 1998 (Figura 1.3), é quase estacionária e a por câncer de estômago apresenta um decréscimo importante. Já a mortalidade devida aos cânceres de mama e pulmão está em franca ascensão. No que se refere aos homens, para este mesmo período (Figura 1.4), observa-se um expressivo declínio na mortalidade por câncer de estômago. A mortalidade por câncer de próstata teve também um aumento expressivo nestas duas décadas. A mortalidade por câncer de pulmão teve o maior crescimento entre 1979 e 1987. No período entre 1988 e 1998, este crescimento diminuiu o ritmo. Figura 1.3 - Coeficientes de mortalidade ajustado (1) por idade (por 100.000 hab.), por meio do método direto, para as neoplasias malignas selecionadas, Mulheres – Brasil, 1979 a 1998. Coeficiente de mortalidade 14,00 12,00 Coeficientes por 100.000 hab. 10,00 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 1979 80 79 1980 81 198182198283 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 199495199596 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 1996 97 1997 98 1998 Ano mama colo do útero estômago pulmão (1) População padrão mundial, modificada por Doll et al. (1966). Fontes: Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM/DATASUS/MS. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Divisão de Epidemiologia e Avaliação - CONPREV/INCA/MS.
  • 29. 36 Ações de enfermagem para o controle do câncer Figura 1.4 - Coeficientes de mortalidade ajustado por idade (1) (por 100.000 hab.), por meio do método direto, para as neoplasias malignas selecionadas, homens, Brasil, 1979 a 1998. Coeficiente bruto Coeficientes por 100.000 hab. Ano (1) População padrão mundial, modificada por Doll et al. (1996). Fontes: Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM/DATASUS/MS. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Divisão de Epidemiologia e Avaliação - CONPREV/INCA/MS. Os coeficientes de mortalidade por neoplasias malignas traçam uma tendência firmemente ascendente com o avanço da faixa etária. Na Figura 1.5, distribuem-se os coeficientes de mortalidade por neoplasia maligna em homens e mulheres, em 1998, de acordo com a faixa etária. Nota-se como, para ambos os sexos, a partir dos 30 anos de idade, os coeficientes aumentam abrupta e progressivamente, significando que, se o câncer é uma doença que muito mata idosos, também mata muitos adultos jovens, no Brasil. Ressalte-se ainda que, apesar de ambas as curvas possuírem o mesmo formato, a curva referente ao sexo masculino é muito mais acentuada, evidenciando riscos diferentes de mor- te por sexo.
  • 30. 37 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 Figura 1.5 - Coeficientes de mortalidade para todas as neoplasias malignas, por faixa etária, para homens e mulheres, Brasil, 1998. Coeficiente de mortalidade Coeficiente por 100.000 hab. Faixa etária Fontes: Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM/DATASUS/MS. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Divisão de Epidemiologia e Avaliação - CONPREV/INCA/MS. Importa considerar-se, também, a mortalidade proporcional geral, que permite avaliar a proporção representada pelas mortes por câncer em relação às demais causas de morte. A Figura 1.6 apresenta a mortalidade proporcional pelos principais grupos de doenças, distribuída por macrorregiões brasileiras, dos 929.023 óbitos registrados em 1998. De um modo geral, observa-se que a contribuição das doenças neoplásicas para a mortalidade, no Brasil, é maior nas regiões economicamente mais desenvolvidas do que nas subdesenvolvidas, ser- vindo estes dados como expressão dos contrastes regionais que marcam o nosso país. Chama a atenção a contribuição cada vez maior da mortalidade devida a causas externas (acidentes, violências, etc), que está entre as primeiras causas de morte. Outro destaque fica por conta das causas mal definidas que variam desde a primeira até a quinta posição, evidenciando, assim, a diferença da qua- lidade do registro do óbito nas diferentes macrorregiões do país. As tendências demográficas e epidemiológicas sugerem que, em trinta anos, mantidas as condições atuais, mais de 85% dos brasileiros estarão vivendo em áreas urbanas, e os menores de 14 anos de idade constituirão, até o ano 2000, cerca de 32% da população. O número de idosos terá dobrado, e 12% da população terão 60 ou mais anos de idade. As doenças cardiovasculares, o câncer e as causas externas serão, conjuntamente, responsáveis por 75% dos óbitos.
  • 31. 38 Ações de enfermagem para o controle do câncer Figura 1.6 - Mortalidade proporcional, em 1998, distribuí- da por grupos de causas selecionados e macroregiões brasileiras. % Causas por regiões Fontes: Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM/DATASUS/MS. Divisão de Epidemiologia e Avaliação - CONPREV/INCA/MS. 3.3 - Morbidade As fontes para a obtenção de dados da morbidade por câncer são os inquéritos epidemiológicos, os Registros Hospitalares de Câncer (RHC) e os Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP). No Brasil, comparado a outras doenças, o câncer é relativamente bem dotado de informações específicas, contando-se, atualmente, com cerca de cinqüenta RHC, implantados em hospitais especializados no tratamento do cân- cer, credenciados como CACON. Com relação aos RCBP, sete estão em fase de produção de dados, localizados em Belém-PA, Goiânia-GO, Fortaleza-CE, Sal- vador-BA, São Paulo-SP, Campinas-SP e Porto Alegre-RS. Outros treze RCBP estão implantados ou em fase de implantação. São eles: Manaus-AM, Palmas-TO, Natal–RN, Recife-PE, Aracaju-SE, João Pessoa-PB, Teresina-PI, Vitória-ES, Rio de Janeiro-RJ, Belo Horizonte-MG, Curitiba-PR, Brasília-DF e Cuiabá-MT. Os RCBP dedicam-se à coleta contínua e sistemática da ocorrência e das características de todos os casos novos de câncer, em uma população geografi- camente definida, representando, portanto, registros de incidência de câncer.
  • 32. 39 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 O RHC, recomendado para todos os hospitais, especializados ou não no tratamento do câncer, tem como principal objetivo o registro do atendimento e do seguimento dos casos, a partir das informações coletadas do prontuário médi- co, acumulando informações que permitem a avaliação da extensão e da quali- dade da sobrevida dos doentes de câncer tratados na respectiva instituição. Sis- tematiza, igualmente, os dados que possibilitam e estimulam outros tipos de in- vestigação clínica e epidemiológica sobre aspectos relacionados com as carac- terísticas dos pacientes, da doença e da intervenção médica. O Instituto Nacio- nal de Câncer - INCA - tem procurado incentivar a criação e o funcionamento de registros de câncer nos outros centros de tratamento, sejam especializados no tratamento do câncer ou não. Atualmente, repete-se, há cerca de cinqüenta RHC implantados em todo o Brasil. As informações mais atualizadas dos RCBP podem ser vistas na Figura 1.7, em que se apresenta a taxa de incidência padronizada de todas as neoplasias das seis cidades brasileiras com dados publicados. As taxas de incidência de câncer, obtidas desses seis RCBPs revelaram- se bastante diferenciadas entre as regiões. Porto Alegre, Goiânia e São Paulo apresentam as maiores taxas de incidência padronizada de todas as formas de câncer. Figura 1.7 - Taxas de incidência de câncer, padroni- zadas pela população mundial, nas cidades brasileiras onde existe RCBP. Taxas de incidência RCBP 1 Fonte: IARC - Cancer incidence in five continents - vol. VII + 2 Câncer no Brasil - Dados dos registros de base populacional vol. II. 3 Câncer em Goiânia - Tendências - 1988 a 1997.
  • 33. 40 Ações de enfermagem para o controle do câncer Quando comparadas por sexo (Figuras 1.8 e 1.9), observa-se que em Belém o tumor mais incidente é o de colo do útero, enquanto que, para as demais loca- lidades, a maior incidência é dos tumores de mama, sendo as maiores taxas encontradas em São Paulo e Porto Alegre. Já para o sexo masculino, observa-se em Belém e Fortaleza o tumor de estômago como sendo o mais incidente. Em Campinas, Goiânia e São Paulo, o tumor mais incidente é o de próstata. Chama a atenção, em Porto Alegre, o câncer de pulmão como a principal incidência em homens. O câncer de pele, que não o melanoma cutâneo, é um tipo de tumor de difícil estudo epidemiológico, tendo em vista que, na quase totalidade dos casos, é de bom prognóstico, sendo tratado mais em ambulatórios, consultórios, clíni- cas ou hospitais gerais, por conseguinte, apresentando grande subnotificação. Os RCBP coletam os dados sobre o câncer de pele, sendo recomendável apre- sentar as publicações com as informações sobre o total de tumores incluindo-os ou não. As Figuras 1.8 e 1.9, apresentam as taxas de incidência das principais localizações anatômicas de câncer, nas seis cidades brasileiras com RCBP com dados publicados recentemente. Excluído o câncer de pele, observa-se que, para o sexo masculino, os cânceres de estômago, pulmão e próstata alternam-se nas três primeiras posições. Nas mulheres, esta alternância se dá entre as neoplasias do colo uterino e de mama. Figura 1.8 -Taxas de incidência* das localizações mais frequentes nas cidades brasileiras com RCBP, sexo masculino. Taxas de incidência Causas por regiões 1 Fonte: IARC/Cancer incidence in five continents - vol. VII. 2 Câncer no Brasil - Dados dos registros de base populacional vol. II. 3 Câncer em Goiânia - Tendências - 1998 a 1997. 4 Incidência de câncer do município de São Paulo, 1983-1998-1993. - Padronizada pela população mundial.
  • 34. 41 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 Figura 1.9 - Taxas de incidência* das localizações de câncer mais freqüentes nas cidades brasileiras com Registro de Câncer de Base Populacional, sexo feminino. Taxas de incidência Causas por regiões 1 Fonte: IARC/Cancer incidence in five continents - vol. VII. 2 Câncer no Brasil - Dados dos registros de base populacional vol. II. 3 Câncer em Goiânia - Tendências - 1998 a 1997. 4 Incidência de câncer do município de São Paulo, 1983-1998-1993. * Padronizada pela população mundial. O câncer do colo uterino se destaca em relação a outros tipos de câncer, nas cidades de Belém e Fortaleza, havendo, nas outras cidades, o predomínio do câncer de mama. O de estômago é o terceiro câncer mais freqüente, entre as mulheres, nas cidades estudadas. Relacionando-se os dados de incidência e mortalidade, nota-se que a distribuição das localizações primárias, nos dados de incidência, não corresponde à distribuição da mortalidade, o que se deve às diferenças dos padrões de sobre- vivência observados entre os diferentes tumores. O câncer de pele, por exemplo, que tem uma incidência alta, não consta da Tabela 1.10, por ter uma baixa letalidade. O câncer de estômago, ao contrá- rio, por ser diagnosticado tardiamente, no Brasil, mostra alta incidência (Figuras 1.8 e 1.9) e mortalidade (Tabela 1.10), o que demonstra a curta sobrevivência dos pacientes, razão pela qual a mortalidade por câncer de estômago tende a igualar-se à sua incidência. Desse modo, uma idéia sobre a incidência do cân- cer em algumas localizações anatômicas pode ser inferida a partir de dados de mortalidade. Constata-se que as maiores taxas de incidência dos cânceres de esôfago, próstata e pulmão referem-se ao Rio Grande do Sul. Formule uma hipótese que explique este achado e discuta-a com os seus professores e colegas.
  • 35. 42 Ações de enfermagem para o controle do câncer Analisando-se os dados mais recentemente divulgados por RHC brasilei- ros (Figuras 1.10 e 1.11), observa-se que, entre as dez localizações mais freqüentes, colo uterino, mama feminina, pele, estômago, próstata, linfonodos e esôfago são locais primários de tumor encontrados em ambos os registros. As três restantes variam em localização e em classificação. Pode-se observar, tam- bém, que o porcentual de casos não estadiáveis ou de estádio desconhecido é predominante (55,1%) em um dos RHC (sem informação) e menor (15,1%) no outro (tratamento prévio, não estadiável ou sem estádio). Dos casos estadiados, é de ressaltar-se a proporção de estádios avançados da doença (III e IV). Consi- derando-se que o colo do útero, a mama, a pele, a boca, a tireóide, o olho, o corpo do útero e a próstata são localizações acessíveis ao exame físico, que dispensam ambiente e equipamentos sofisticados para serem examinadas, e que o pulmão, o esôfago, o estômago e os ossos podem ser examinados por meio de equipamentos e tecnologia já há muito incorporados à prática médica brasileira, os dados desses dois RHC sugerem uma deficiência considerável no diagnóstico do câncer, feito nos pacientes que chegam para serem atendidos nesses hospi- tais. Desta análise excluiu-se a localização linfonodos, constante entre as dez mais freqüentes localizações nesses dois RHC, uma vez que eles podem referir- se a leucemias, linfomas ou metástases linfáticas, cuja exigência é variável en- tre estes diagnósticos, em termos médicos e tecnológicos. Ressalta-se que os dados de um RHC representam a realidade institucional: a freqüência relativa dos casos, distribuídos por locais primários, pode significar apenas que a instituição oferece um serviço de boa (freqüência elevada) ou má (freqüência baixa) qualidade, em alguma subespecialidade oncológica; se é, ou não, um centro de referência para o encaminhamento de pacientes com deter- minados tipos de câncer (por exemplo, tumores da cabeça e pescoço, tumores genitais femininos, tumores próprios da infância, etc.); se representa uma institui- ção de abrangência local, regional ou nacional; ou se constitui ou não a alterna- tiva de atendimento especializado para uma determinada população. A comparação entre os dados das Figuras 1.10 e 1.11 demonstra como a realidade das duas instituições difere, em termos da localização primária do tumor, da freqüência relativa dos tumores comuns aos dois RHC e da distribui- ção dos estádios ou da extensão da doença. Nota-se a presença do estômago e da próstata, entre as dez principais localizações primárias de tumores registrados, em ambos os RHC mostrados, porém em porcentuais mais baixos do que os presumíveis, tendo-se em vista as altas taxas de mortalidade (Tabela 1.10 e Figura 1.4) e incidência (Figura 1.8) observadas, mesmo que os dados desses RHC não se superponham, obrigatoria- mente, àquelas taxas. Porém, considerando-se o câncer da mama feminina e o do colo uterino, pode-se inferir como os dados hospitalares os classificam tão mais altos, como o fazem os de mortalidade e de incidência.
  • 36. 43 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 Isto pode significar que os pacientes com câncer prostático, por exem- plo, estejam sendo atendidos e tratados em serviços de Urologia de hospitais gerais, sem que os casos sejam adequadamente registrados e analisados, mor- mente se eles não ocorrem em cidades que dispõem de RCBP, embora se possa incluir entre os óbitos registrados, na eventualidade da morte dos pacientes. Figura 1.10 - Distribuição porcentual topográfica e por estádios dos dez tumores mais freqüentes no Hospital Aristides Maltez, Salvador-BA, de 1991 a 1994. Topografia % Fonte: Registro do Hospital Aristides Maltez. Figura 1.11 - Distribuição porcentual topográfica e por está- dios dos dez tumores mais freqüentes no Hospital A. C. Camargo, São Paulo-SP, 1994. Topografia 0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% Fonte: Registro do Hospital A. C. Camargo – 1996.
  • 37. 44 Ações de enfermagem para o controle do câncer Veja-se que os dados do Hospital do Câncer do INCA (Figura 1.12) desta- cam que, para os 503 casos de câncer de próstata, atendidos de 1990 a 1994, ocorreu um decréscimo de 15% dos casos classificados em estádio D (com metástases) e um aumento de 10%, para os classificados nos estádios A, B e C. Em contrapartida, observou-se um incremento de 35% de casos registrados sem a informação sobre o estádio da doença. Figura 1.12 - Casos de câncer de próstata atendidos no Hospital do Câncer / INCA, de 1990 a 1994, distribuídos pelos estádios clínicos do tumor. Fonte: Registro do Hospital do Câncer/INCA/MS. Os RHC constituem uma fonte de aferição da qualidade do diagnóstico e da assistência prestada aos pacientes com câncer atendidos nos hospitais. So- mente por meio de um RHC eficaz e atuante, pode-se assegurar o seguimento sistemático de pacientes tratados, estabelecendo-se, assim, a abrangência e a confiabilidade necessárias aos dados que permitirão o cálculo da sua sobrevida, que, em última análise, guarda relação com a localização e histologia do tumor primário, o tempo em que se chegou ao diagnóstico do tumor e do tipo de trata- mento aplicado. Como os RHC brasileiros são de implantação recente, inexistem dados nacionais sobre o tempo e a qualidade da sobrevida de pacientes tratados de câncer, visto que essa análise necessita de longos períodos de acompanhamen- to, que, dependendo do tipo tumoral, serão, no mínimo, de cinco ou dez anos. A partir da Figura 1.13, e recordando-se que, quanto mais avançada a doença, pior será o prognóstico dos pacientes, pode-se imaginar o quanto preju- dicada é a sobrevida destes. A condição dos estádios dispostos na figura é ainda mais inaceitável, quando se recorda que os órgãos em questão (boca, colo uterino e mama) são de fácil acesso ao auto-exame ou ao exame físico, e que já se contam com critérios, técnicas e métodos de detecção muito bem estabelecidos para esses tipos de câncer.
  • 38. 45 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 De imediato, os dados de um RHC demonstram a qualidade do prontuá- rio médico, sua única fonte de dados. Como ocorre com os atestados de óbito, o preenchimento correto e, no caso dos prontuários, as anotações sistemáticas sobre os quadros clínico e cirúrgico dos pacientes, a incorporação dos resulta- dos dos exames complementares realizados e a manutenção de um prontuário organizado dependem do médico, sendo ele o principal agente determinante da qualidade dos dados levantados e publicados. Parte da Figura 1.10 atesta a po- breza de dados de prontuários médicos, relativos a uma doença cujos tratamen- to e prognóstico devem basear-se em critérios bem definidos de avaliação da sua extensão, ou seja, no seu estadiamento. É também função do RHC contribuir para que dados completos e confiáveis sejam produzidos pelo corpo médico do hospital, o que, por sua vez, pode levar à melhoria da assistência prestada. Figura 1.13 -Distribuição por estádios clínicos dos ca- sos de câncer de boca, de colo do útero e de mama, atendidos no Hospital do Câncer / INCA, em 1993. Câncer de boca % Estádios Câncer de colo do útero % Estádios Câncer de mama % Estádios Fonte: Registro Hospitalar de Câncer do INCA - 1993
  • 39. 46 Ações de enfermagem para o controle do câncer 3.4 - Epidemiologia dos tumores da criança e do adolescente Desde 1970, vem-se observando um aumento linear das taxas de cura dos tumores na infância, estando estas, atualmente, variando entre 70% e 90% dos casos, nos Estados Unidos. No Brasil, as crianças e jovens com leucemia linfática aguda (LLA) curam-se em 70% a 80% dos casos. Paralelamente, tem-se verificado um aumento progressivo, e também li- near, das taxas de incidência dos tumores da criança, sobretudo a LLA, os tumo- res do sistema nervoso central (SNC), os linfomas não Hodgkin e o tumor de Wilms e outros tumores renais. Por exemplo, de dez a quinze casos de câncer, entre indivíduos com menos de quinze anos de idade, no Brasil, quatro são de LLA. Supostamente, a criança tem mais anos a perder, ou a ganhar, uma vez que a sua expectativa de vida é maior do que a do adulto. Atualmente, o índice de anos de vida ganhos para as crianças com câncer só não é maior do que para as mulheres com câncer de mama. Quando se tenta interpretar as tendências das taxas relativas aos tumores na infância, encontram-se duas principais dificuldades: a primeira, a raridade da ocorrência do câncer nesta fase da vida e, a segunda, a utilização de modelos mais aplicáveis ao câncer de adultos - embora já haja modelos mais apropriados à avaliação estatística do câncer da criança, em alguns países ou regiões. A maioria dos registros de câncer apresenta seus dados dispostos em ca- tegorias de idade com intervalos de cinco anos e por localização primária do tumor. Apesar de este formato ser satisfatório para a maioria dos tumores do adulto, ele se mostra inadequado para a área infantil, visto que, exceto pelos tumores do SNC, os tumores da criança se classificam por tipo cito ou histopatológico, e não pela topografia do tumor primário. Ademais, há grandes variações nas taxas específicas por idade, ano a ano, e muitos padrões demográficos infantis podem não se expressar, à utilização de intervalos de tem- po tão longos, relativamente às crianças. Uma forma de se superar esta distorção seria a distribuição de dados por ano e por milhão de pessoas (e não por 100.000 habitantes, como se costumam calcular as taxas, o que exclui os cânceres mais raros, como o são os tumores na infância). Outra dificuldade relevante se deve ao fato de os censos demográficos realizarem-se a cada dez anos, o que faz com que as taxas de incidência e mortalidade sejam calculadas com base em populações intercensitárias estima- das. Este artifício matemático induz a erros, sobretudo quando o numerador se constitui de números muito pequenos, caso dos tumores na infância. Vale considerar, também, que, a cada dia, as classificações desses tumo- res ganham mais detalhamento, por conta dos avanços continuamente observa- dos nas técnicas laboratoriais, que se baseiam na Biologia Molecular, na Imunologia e na Genética Celular. A incorporação dos novos conhecimentos e tecnologias disponíveis tem-se tornado essencial aos estudos sobre a etiologia
  • 40. 47 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 dos tumores na infância e à prática da Oncologia Pediátrica - o diagnóstico dos tumores e o tratamento e acompanhamento, a longo prazo, das crianças deles tratadas. Faz-se necessário, assim, que os registros de câncer disponham os seus dados de modo a permitir que estes sejam classisficados, por subgrupos etários e por morfologia tumoral. Levando-se em consideração as limitações anteriormente ressaltadas, tentar-se-á, a seguir, apresentar e discutir alguns aspectos das taxas de incidên- cia e de mortalidade por câncer, entre as crianças e adolescentes brasileiros. Para tanto, utilizar-se-ão os últimos dados publicados, referentes a cinco RCBP: Campinas (1992), Goiânia (1991), Porto Alegre (1991), Belém (1989) e Fortaleza (1985). As taxas brutas foram calculadas para os cinco tipos tumorais mais freqüentes em cada registro, com base no denominador de três faixas etárias - 0 a 4 anos, 5 a 9 anos e 10 a 14 anos, exceto as de mortalidade, em Belém, cujos dados distribuem-se em apenas duas faixas, de 0 a 9 anos e de 10 a 19 anos (Tabela 1.12). Os dados de incidência (Tabela 1.13) não coincidem inteiramente com os da literatura internacional, como se verá a seguir. Os casos incluídos sob a rubrica “Outros linfomas”, que se refere a casos classificados como linfoma não Hodgkin ou Doença de Hodgkin, encontram-se entre os mais incidentes, nos registros de Campinas, Belém e Porto Alegre. Em Campinas, chama a atenção, também, a alta incidência de tumores do tecido conjuntivo. São igualmente atípicas as taxas da leucemia mielóide, em Fortaleza e em Porto Alegre, e as de tumores de “Glândulas outras que não a tiróide”, em Goiânia. Por outro lado, a classificação de “Tumor de olho”, entre os mais inciden- tes em Belém, vem corroborar dados de registros hospitalares, que apontam para uma alta ocorrência de casos de retinoblastoma no Brasil, se comparada com a encontrada em países da Europa e da América do Norte. Já a classificação da incidência das leucemias linfóides e dos tumores encefálicos, entre o grupo dos cinco tumores mais freqüentes, nos cinco registros ora analisados, é acorde com os dados de registros de outros países, o que indica que, a despeito das dificuldades metodológicas já apontadas no início desta seção, o modelo serve para demonstrar os grupos de casos mais marcantes. Já as taxas de mortalidade (Tabela 1.12) mostram que a LLA, em todos os registros, põe-se entre as cinco primeiras causas de morte por câncer, de forma variável entre os sexos e as faixas etárias, e que entre essas cinco não se encon- tram os tumores encefálicos em Belém (o que é de se estranhar, visto que a taxa de incidência destes tumores é maior do que a calculada para os demais registros).
  • 41. 48 Ações de enfermagem para o controle do câncer A presença de “Tumor de olho” entre as cinco primeiras causas de morte no registro de Campinas, também pode ter a mesma interpretação, dada a inci- dência maior deste tumor no Brasil, novamente corroborando dados de registros hospitalares de câncer. Por outro lado, o achado de “Tumores de faringe” em Campinas, de “Cau- sas mal definidas” em Goiânia e de “Tumores de traquéia, brônquios e pulmão” em Belém, mais provavelmente se deva à distorção, já discutida anteriormente, que a inadequação da distribuição topográfica e cronológica dos tumores, utili- zada nos registros de câncer, traz à classificação dos tumores das crianças e adolescentes. As dificuldades metodológicas, a especificidade de tumores e as ressal- vas, feitas a partir dos dados apresentados anteriormente, demandam a adoção de métodos e técnicas apropriados à coleta e análise dos dados de incidência e mortalidade dos tumores de ocorrência na infância e na adolescência. Da mes- ma maneira, requer-se de uma metodologia específica para a análise dos dados do seguimento feito com os pacientes tratados, de modo a oferecer-se uma metodologia igualmente adequada para o estudo analítico das conseqüências, através dos anos, dos tratamentos aplicados.
  • 42. 49 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 Tabela 1.12 - Taxas brutas de mortalidade por cânceres na infância e adolescência, distribuídas por faixa etária e sexo, em anos diversos. Fonte: Registro de Câncer de Base Populacional.
  • 43. 50 Ações de enfermagem para o controle do câncer Tabela 1.13 - Taxas brutas de incidência de cânceres na infância e adolescência, distribuídas por faixa etária e sexo, em anos diversos. Fonte: Registro de Câncer de Base Populacional.
  • 44. 51 O problema do câncer no Brasil Capítulo 1 3.5 - Estimativa de incidência e mortalidade por câncer no Brasil Os dados de projeção exercem um papel importante como orientadores de decisões e base de planejamento, mesmo que impliquem com um pequeno grau de imprecisão. O uso do método matemático de estimativa da ocorrência de doenças e óbitos pressupõe que a tendência de crescimento da população em estudo é regular e que as características da composição social e econômica da população futura serão iguais, quando não resultado de uma evolução gradual. A Tabela 1.14 mostra o número total de novos casos e óbitos por câncer estimados para o Brasil, em 2001, distribuídos por sexo e localização primária: serão, no total, 305.330 casos novos e 117.550 óbitos. Da sua análise e pelo que já foi estudado até agora, pode-se deduzir que ações de prevenção, detecção e diagnóstico são tão importantes quanto as tera- pêuticas, se se pretende modificar o quadro de morbi-mortalidade por câncer, que já se prolonga por décadas no Brasil. Tabela 1.14 - Estimativas para o ano 2001 do número de casos novos e dos óbitos por câncer, entre homens e mulheres, segundo localização primária, no Brasil. Fonte: INCA/MS.
  • 47. 55 Fisiopatologia do Câncer Capítulo 2 INTRODUÇÃO Neste capítulo, pretende-se abordar de forma sintética as alterações morfológicas e funcionais apresentadas pelas células dos tumores malignos. Para tanto, com o propósito de facilitar a compreensão dessas alterações, assinalam- se alguns postulados referentes ao comportamento biológico das células normais. As células normais de todo organismo vivo coexistem em perfeita har- monia citológica, histológica e funcional, harmonia esta orientada no sentido da manutenção da vida. De acordo com suas características morfológicas e funci- onais, determinadas pelos seus próprios códigos genéticos, e com sua especificidade, as células estão agrupadas em tecidos, os quais formam os órgãos. Os mecanismos que regulam o contato e a permanência de uma célula ao lado de outra, bem como os de controle do seu crescimento, ainda constituem uma das áreas menos conhecidas da biologia. Sabe-se que o contato e a permanência de uma célula junto à outra são controlados por substâncias intracitoplasmáticas, mas ainda é pouco compreendido o mecanismo que man- tém as células normais agregadas em tecidos. Ao que parece, elas se reconhe- cem umas às outras por processos de superfície, os quais ditam que células semelhantes permaneçam juntas e que determinadas células interajam para executarem determinada função orgânica. Sabe-se também que o crescimento celular responde às necessidades específicas do corpo e é um processo cuidadosamente regulado. Esse cresci- mento envolve o aumento da massa celular, duplicação do ácido desoxirribonucléico (ADN) e divisão física da célula em duas células filhas idên- ticas (mitose). Tais eventos se processam por meio de fases conhecidas como G1 - S - G2 - M, que integram o ciclo celular. Nas células normais, restrições à mitose são impostas por estímulos re- guladores que agem sobre a superfície celular, estímulos estes que podem resul- tar tanto do contato com as demais células como da redução na produção ou disponibilidade de certos fatores de crescimento. Fatores celulares específicos parecem ser essenciais para o crescimento celular, mas poucos deles são real- mente conhecidos. É certo que fatores de crescimento e hormônios, de alguma forma, esti- mulam as células para se dividir. Entretanto, eles não têm valor nutriente para as células nem desempenham um papel conhecido no metabolismo. Presumivelmente, apenas sua capacidade de ligar-se a receptores específicos de superfície celular os capacita a controlar os processos celulares. O mecanismo de controle do crescimento celular parece estar na depen- dência de fatores estimulantes e inibidores e ele normalmente estaria em equilí- brio até o surgimento de um estímulo de crescimento efetivo, sem ativação do mecanismo inibidor. Tal estímulo ocorre quando há exigências especiais como,
  • 48. 56 Ações de enfermagem para o controle do câncer por exemplo, para reparo de uma alteração tissular. As células sobreviventes se multiplicam até que o tecido se recomponha e, a partir daí, quando ficam em íntimo contato umas com as outras, o processo é paralisado. Em algumas ocasiões, entretanto, ocorre uma ruptura dos mecanismos re- guladores da multiplicação celular e, sem que seja necessário ao tecido, uma célula começa a crescer e a dividir-se desordenadamente. Pode resultar daí um clone de células descendentes, herdeiras dessa propensão ao crescimento e divi- são anômalos, insensíveis aos mecanismos reguladores normais, que resulta na formação do que se chama tumor ou neoplasia, que pode ser benigna ou maligna. A carcinogênese refere-se ao desenvolvimento de tumores malignos, estudada com base nos fatores e mecanismos a ela relacionados.
  • 49. 57 Fisiopatologia do Câncer Capítulo 2 1 - ONCOGÊNESE O organismo humano encontra-se exposto a múltiplos fatores carcinogênicos, com efeitos aditivos ou multiplicativos. Sabe-se que a predis- posição individual tem um papel decisivo na resposta final, porém não é possí- vel definir em que grau ela influencia a relação entre a dose e o tempo de exposição ao carcinógeno e a resposta individual à exposição. Independentemente da exposição a carcinógenos, as células sofrem pro- cessos de mutação espontânea, que não alteram o desenvolvimento normal da população celular como um todo. Estes fenômenos incluem danos oxidativos, erros de ação das polimerases e das recombinases e redução e reordenamento cromossômico. Há também que se considerar a vigilância imunológica como mecanismo de correção ou exclusão das células mutantes. Os fenômenos de mutação espontânea podem condicionar uma maior ou menor instabilidade genômica, que pode ser crucial nos processos iniciais da carcinogênese, como conseqüência de aneuploidia e amplificações genéticas. Em síntese, a carcinogênese pode iniciar-se de forma espontânea ou ser provocada pela ação de agentes carcinogênicos (químicos, físicos ou biológi- cos). Em ambos os casos, verifica-se a indução de alterações mutagênicas e não mutagênicas ou epigenéticas nas células. A incidência, a distribuição geográfica e o comportamento de tipos es- pecíficos de cânceres estão relacionados com múltiplos fatores, incluindo sexo, idade, raça, predisposição genética e exposição a carcinógenos ambientais. Destes fatores, os ambientais são, provavelmente, os mais importantes. Os carcinógenos químicos (particularmente aqueles presentes no tabaco e resul- tantes de sua combustão e metabolismo), bem como determinados agentes, como os azocorantes, aflatoxinas e benzeno, foram claramente implicados na indução de câncer no homem e animais. Certos vírus de ADN do grupo herpes e papiloma, bem como vírus de ácido ribonucléico (ARN) do tipo C, foram também implicados como agentes produtores de câncer em animais, podendo ser igualmente responsáveis por alguns cânceres no homem. O tempo para a carcinogênese ser completada é indeterminável, poden- do ser necessários muitos anos para que se verifique o aparecimento do tumor. Teoricamente, a carcinogênese pode ser interrompida em qualquer uma das etapas, se o organismo for capaz de reprimir a proliferação celular e de reparar o dano causado ao genoma. Seria redundante salientar que a suspensão da exposição a agentes carcinogênicos é condição sine qua non para a interrup- ção da carcinogênese. A Figura 2.1 busca sintetizar as diversas etapas da carcinogênese.