As lições do bambu e o conceito de vazio na filosofia oriental
1. A maior qualidade do bambu é o vazio interior
As lições do bambu
“…Se o bambu tivesse o talo maciço, ele seria pesado, rígido, inflexível. Com isso, os
taoístas perceberam que é o vazio que garante as qualidades do bambu. O vazio é um
dos conceitos fundamentais do pensamento oriental.
Para a maior parte das pessoas, o vazio tem um sentido negativo. Significa nulidade,
inexistência, zero. Para os orientais é o oposto. Se o bambu tem suas virtudes por causa
do caule oco, então o vazio tem um sentido positivo. O vazio é a origem de boas
qualidades, é algo que se valoriza e permite a existência das coisas. Basta pensarmos
de modo inverso. Se o elevador estiver lotado, não podemos entrar. Se nossa mente
estiver entulhada de preocupações, não podemos pensar direito.
É dessa forma que os sábios antigos viam o vazio. Não pela ausência, mas sim pelas
possibilidades que ele abre, pelos benefícios que ele traz. É uma visão positiva e não
negativa. Um antigo texto chinês, o Tao Te Ching, diz: “O vaso é feito de argila, mas é
o vazio que o torna útil. Abrem-se portas e janelas nas paredes de uma casa, mas é o
vazio que a torna habitável”.
O vazio é invisível. Apesar de óbvio, esse detalhe é fundamental porque mostra que as
coisas mais importantes são invisíveis. Os sábios sabem que existem coisas mais
profundas do que as aparências. Para os mestres orientais, o vazio é universal,
onipresente. Percebiam que o Sol flutuava no céu, no vazio, que a lua flutuava no
escuro da noite, no vazio. Para os mestres orientais, “universo”, “o todo” e “vazio”
são conceitos correspondentes. Tudo nasce no (e do) vazio e tudo volta para o vazio. O
mesmo vazio do bambu…”