Este artigo tem como objetivo explanar os fatores que motivam desenvolvedores a contribuírem em iniciativas Open Source. Fundamentando-se em pesquisas recentes, e em teorias de Motivação,é aprensentado um conjunto de fatores motivadores categorizados de acordo com as necessidades mais primitivas dos desenvolvedores de software Open Source.
Open Source: o que está por trás da motivação dos desenvolvedores? Revista es magazine monteiro e franca 2012
1. Engenharia de Software
Open Source: o que está por trás
da motivação dos
desenvolvedores?
A. César C. França
cesarfranca@gmail.com
Mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Pernambuco e
Doutorando em Ciência da Computação pela mesma instituição, bolsista CNPq.
Integrante do grupo de pesquisa HASE – HumanAspects in Software Engineering.
Autor do livro “Um estudo sobre motivação em integrantes de equipes de
desenvolvimento de software”, da Ed. UFPE, 2010. Na FAFICA (Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru), é professor de diversas disciplinas relacionadas
à Engenharia de Software e pesquisador pelo NUPESQ.
Danilo Monteiro Ribeiro
danilomonteiroo@gmail.com
Graduado em Sistemas de Informação na Universidade de Pernambuco, é Ex-bolsista de
Iniciação Científica do PIBIC/CNPQ e Membro do Grupo de Pesquisa: GREAT(GRupo
de Estudos Avançados em Tecnologia da Informação e Comunicação) atuando
principalmente nos seguintes temas: Desenvolvimento MOBILE(Especialmente
ANDROID), metodologias ágeis, Linha de Produto de Software,Gerenciamento de
Portfólio de projetos em TI e Motivação de Engenheiros de Software.
De que trata o artigo:
Este artigo tem como objetivo explanar os fatores que motivam desenvolvedores a
contribuírem em iniciativas Open Source. Fundamentando-se em pesquisas recentes, e
2. em teorias de Motivação, apresentamos o conjunto de fatores motivadores categorizados
de acordo com as necessidades mais primitivas dos desenvolvedores de software Open
Source.
Para que serve:
Este artigo serve para apresentar alguns fatores motivadores que atuam principalmente
no contexto Open Source e torná-los mais claros para os interessados.
Em que situação o tema útil:
Este tema é útil para todos que já estão envolvidos e para aqueles que querem se
envolver com projetos Open Source .
No livro "Drive: The surprising true about what motivates us" (Drive: a
verdade surpreendente sobre o que nos motiva), o autor Daniel Pink levanta a
seguinte questão: há 15 anos, a enciclopédia Microsoft Encarta dominava o
mercado das enciclopédias eletrônicas. Ela era desenvolvida por uma equipe
altamente qualificada, devidamente remunerada, e administrada de uma forma
que os esforços individuais fossem recompensados pela empresa na qual
trabalhavam. O projeto aparentemente preenchia todos os requisitos
motivacionais de um projeto de sucesso, para o entendimento da época. Quem
diria que tal sucesso seria desbancado por uma enciclopédia gratuita, de acesso
livre, e construída por pessoas que nem mesmo são remuneradas pelo trabalho?
Era uma previsão muito pouco provável, mas foi exatamente isso que aconteceu
com a chegada da Wikipédia.
O mesmo fenômeno pode ser atualmente evidenciado em outros produtos
de software Open Source, tais como o Mozilla Firefox1, Linux2, Eclipse IDE3,
Apache Server4, Blender5, entre vários outros. No entanto, os fatores que levam
programadores a contribuírem efetivamente para estas iniciativas
aparentemente continuam sendo uma questão em aberto para a ciência. Por que
desenvolvedores de software aplicam uma fatia considerável do seu tempo
produtivo, desenvolvendo produtos pelos quais eles não serão necessariamente
remunerados? Seria a "Ideologia da Liberdade", como descrito por Stallman
(2002), suficiente para explicar este fenômeno?
A motivação de desenvolvedores de software, em si, é um fenômeno que
vem sendo estudado desde a década de 80. Comunidades Open Source, ao
mesmo tempo, são objetos de pesquisa desde o final da década de 90. Estudos
como o de von Krogh (2008) e Oreg e Nov (2007) se propuseram a investigar de
forma extensiva a motivação de engenheiros de software em projetos Open
1
http://www.mozilla.org/
2
http://www.linux.org/
3
http://www.eclipse.org
4
http://www.apache.org/
5
http://www.blender.org/
3. Source e neste artigo, nós apresentamos uma síntese da literatura técnica-
científica que investiga o fenômeno da motivação nestas comunidades,
fundamentando os nossos argumentos através de duas teorias principais: a
teoria da Expectativa, de Victor Vroom (1964), e a teoria de Valores Universais,
de Shalom Schwartz (1994).
Como resultado, apresentamos uma descrição de quatro estereótipos
baseados nos valores que substanciam o comportamento motivado de
desenvolvedores de comunidades Open Source. A principal revelação neste
artigo é que, na pesquisa científica como um todo, a ideologia do
desenvolvimento Open Source aparece apenas como um coadjuvante no
processo de motivação destes desenvolvedores.
Nas Seções iniciais deste artigo, apresentamos uma definição do que é
motivação e como são organizadas as comunidades Open Source. Em seguida,
apresentamos uma síntese dos fatores que a literatura apresenta como
motivadores para este tipo de desenvolvedor e, por fim, apresentamos uma
reflexão sobre tais motivadores.
Motivação, em essência
Por que motivar é importante?
A forma como a motivação é trabalhada dentro de um projeto Open Source
pode afetar diretamente o comportamento de participação e retenção dos
membros, é o que dizem as pesquisas relacionadas com este tema (OREG e
NOV, 2007; WU, GERLACH e YOUNG, 2007; von KROG et al., 2008), por
diversas razões. Ao mesmo tempo, para uma empresa de grande porte decidir
adotar um produto Open Source, ela precisa de garantias de que o produto
continuará sendo evoluído – o que depende diretamente da frequência de
participação dos membros. Além disso, a retenção dos membros faz com que o
conhecimento sobre o produto seja retido dentro do projeto, e se desenvolva de
forma incremental – afetando também a qualidade do produto.
Logo, administrar a motivação da equipe pode trazer benefícios não
somente relacionados com a frequência e qualidade da contribuição dos
membros da comunidade Open Source, mas também pode determinar a
qualidade do produto final.
O que é motivação?
As primeiras investigações focando na motivação no ambiente de trabalho
datam da década de 40 (Da SILVA e FRANÇA, 2011). Ao longo do tempo,
diversas teorias diferentes se propuseram a explicar o fenômeno da motivação
humana no trabalho, originadas no campo das ciências humanas, e sociais. Isso
fez com que, na prática, variados significados fossem atribuídos à motivação,
gerando uma grande confusão ao redor do termo (Da SILVA e FRANÇA, 2011).
4. Segundo Luthans (2001, tradução nossa), a motivação no contexto do
trabalho deve ser entendida basicamente como "um conjunto de forças internas
ao indivíduo que energizam, canalizam e sustentam o esforço voluntário para a
realização de uma atividade de objetivo específico". Couger e Zawacki (1980)
explicam o funcionamento da motivação no trabalho baseando-se na teoria da
Expectativa de Vroom (1964), da seguinte maneira (Figura 1):
Necessidades Ação
Avaliação
Figura 1 - Ciclo da Motivação
Necessidades são os elementos que guiam o início do processo de
motivação. Em suma, ela traduz os elementos que o indivíduo
precisa, acredita que precisa, prefere, deseja, ou tem mais interesse
em alcançar. Estas necessidades podem ser selecionadas de forma
consciente ou simplesmente inconsciente.
Ação é a estratégia escolhida pelo indivíduo para suprir a suas
necessidades, dentre as N possíveis maneiras de suprir aquela
necessidade. Para citar um exemplo bem simples, se o indivíduo
está com sede (necessidade), ele pode optar por beber um copo de
água (ação). Da mesma forma, se alguma organização tem uma
necessidade por informação, ela pode optar por desenvolver um
software.
Por fim, o indivíduo faz uma Avaliação para julgar se o resultado
daquela ação foi suficiente para satisfazer a sua necessidade, como
era esperado. Se não foi, o ciclo tende a continuar. Em caso positivo,
uma nova necessidade aflora, e o ciclo continua a fim de resolver
desta vez uma necessidade diferente.
A ação na qual estamos interessados centralmente neste artigo é a
contribuição para o software Open Source. Logo, a pergunta que norteia
este artigo é: Que necessidades levam desenvolvedores de software a
decidirem contribuir em comunidades Open Source?
O que não é motivação
Palestras motivacionais é uma ferramenta comumente em muitas
empresas com o objetivo de “motivar” a sua equipe. No entanto, estas palestras
são capazes apenas de energizar temporariamente o esforço dos participantes,
afetando apenas a sua autoestima e o seu entusiasmo, e não a motivação de fato
– que por sua vez está intimamente ligada à sustentação do comportamento ao
longo do tempo.
5. A motivação também é frequentemente associada a estratégias de
compensação, financeira e não financeira, em empresas. Por exemplo, “aquele
desenvolvedor que produzir a maior quantidade de Linhas de Código pode
receber um bônus no salário no final do mês”, ou “se a equipe resolver todas as
Change Requests até o final da semana será recompensada com um almoço num
restaurante especial”. Este tipo de estratégia de compensação é eventualmente
eficaz para canalizar o esforço dos membros de uma equipe para um objetivo
pontual. Porém, segundo Pink (2009), este tipo de oferta pode gerar diversos
comportamentos maléficos para o ambiente de trabalho, por exemplo:
A oferta pode estimular a busca por atalhos e/ou por
comportamento não ético, dada a competição entre os membros do
grupo. Por exemplo, liberar o software com bugs, de propósito,
apenas para cumprir o cronograma;
Podem gerar vício/dependência – ou seja, das próximas vezes, a
equipe só terá ânimo para resolver todas as Change Requests se a
recompensa for pelo menos tão boa quanto a anterior;
Podem encurtar a perspectiva de tempo do desenvolvedor, e
incentivar a adoção de gambiarras. Por exemplo, já que o mais
importante – para o desenvolvedor - é atingir a recompensa, o
importante é fazer funcionar... algum dia “alguém” normatiza ou
refatora aquele código.
Estrutura de valores universais
Logo, para entender a motivação, em essência, é preciso olhar para o que
está por trás das necessidades dos desenvolvedores – que é o que Schwartz
(1994) chama de valores. Segundo Schwartz (1994) valores são definidos como
critérios ou metas que transcendem situações específicas, que são ordenados
por sua importância, que servem como princípios que guiam a vida do
indivíduo, e que determinam o seu caráter. A Teoria de Valores Humanos de
Schwartz (1994), afirma que existem dez valores distintos que são derivados das
exigências humanas universais (Figura 2):
6. Figura 2 – Estrutura de Valores Universais de Schwartz (1994)
Autodireção: Independência no pensamento e na tomada de
decisão, criação e exploração (criatividade, independente,
liberdade).
Estimulação: Ter excitação, novidade e mudança na vida.
Hedonismo:Prazer ou gratificação para a própria pessoa.
Realização: Êxito pessoal como resultado da demonstração de
competência segundo as normas sociais.
Poder: Posição e prestígio social, controle ou domínio sobre pessoas
e recursos.
Benevolência: Preservar e reforçar o bem-estar das pessoas
próximas com quem se tem um contato pessoal frequente e não
casual
Conformidade: Limitar as ações, inclinações e impulsos que
possam prejudicar a outros e violar expectativas ou normas sociais.
Tradição: Respeitar, comprometer- se e aceitar os costumes e as
ideias que a cultura tradicional ou a religião impõem à pessoa.
Segurança: Conseguir segurança, harmonia e estabilidade na
sociedade, nas relações interpessoais e na própria pessoa.
Universalismo: Compreensão, apreço, tolerância e proteção em
direção ao bem-estar de toda a gente e da natureza.
Os indivíduos tendem a atribuir diferentes graus de importância aos
valores. Sendo assim, quando em conflito, os valores que vão determinar de
fato o comportamento do indivíduo são aqueles aos quais os indivíduos
atribuem maior grau de importância.
Antes de entender o que de fato motiva a contribuição de desenvolvedores
de software a comunidades Open Source, é importante descrever em mais
detalhes o que são e como se organizam estas comunidades.
7. Comunidades Open Source e suas Caraterísticas
Comunidades Open Source têm sido estudadas igualmente tanto na
Engenharia de Software quanto em outros campos de conhecimento, como na
pesquisa Organizacional e na Economia (ERENKRANTZ e TAYLOR 2003;
LANGLOIS e GARZARELLI, 2008). Feller et al (2005) descrevem quatro tipos
diferentes de comunidades Open Source de acordo com o seu grau de
maturidade:
Comunidades Ad-hoc: pequenas, adotam práticas informais de
colaboração, e realizam projetos de tamanho limitado. É totalmente
baseada em colaboração através da internet, e tem seus projetos
hospedados em um servidor “na nuvem” (ex. SourceForge6,
GoogleCode7). Utilizam pouca documentação, e os usuários dos
seus produtos são, em maior parte, os próprios desenvolvedores.
Comunidades padronizadas: são comunidades um pouco mais
maduras e estáveis, que seguem métodos mais formais e padrões
de desenvolvimento, e são responsáveis por projetos de maiores
dimensões. Os objetivos são determinados em grupo, e a
preocupação com a qualidade do produto é maior. Padronização e
documentação são as chaves dos métodos e processos adotados.
Usuários são geralmente outros desenvolvedores.
Comunidades organizadas: são comunidades de práticas muito
maduras, legalmente estabelecidas. Hospedam seus próprios
projetos e possuem uma identidade própria. Alguns membros
encontram-se possivelmente co-localizados, embora maior parte da
colaboração ocorra pela internet. Os produtos tem “vida própria”,
independente de seus membros. Os processos são formalizados e o
gerenciamento de projetos também é formalizado. Usuários-finais
não se limitam a desenvolvedores.
Organizações comerciais: comunidades estabelecidas dentro de
organizações formais com fins lucrativos. Hospedam seus próprios
projetos e também tem uma identidade própria. Vários membros
encontram-se co-localizados. A estrutura organizacional se mistura
com a estrutura de comunicação e gerenciamento da própria
organização. O objetivo é utilizar práticas Open Source para
interagir com outras comunidades e gerar valor para a própria
organização. São altamente padronizadas e documentadas, e os
usuários são tratados como consumidores.
Independentemente do seu grau de maturidade, as comunidades Open
Source são constituídas de diferentes papéis de participantes, como mostra a
Figura 3. Porém, esta divisão é mais evidente nas comunidades mais
desenvolvidas. Nas comunidades menos maduras existe uma sobreposição
6
http://sourceforge.net
7
http://code.google.com
8. destes papéis, principalmente porque os usuários finais são geralmente os
próprios desenvolvedores ativos do projeto.
Figura 3 - Perfis de Participantes de Ye e Kishida (2003)
Todos estes membros interagem regularmente com os outros através de
uma estrutura de colaboração. Portanto, é natural que a principal característica
do comportamento motivado em uma comunidade Open Source seja percebida
como a qualidade da participação. Qualidade da participação não se refere
apenas à frequência de troca de mensagens, mas também à utilidade destas
mensagens para os objetivos finais do projeto, relevância para os outros
membros, e velocidade de resposta, seja para reportar bugs, ou para ajudar
outros membros a resolverem seus próprios problemas.
Mas embora exista esta estrutura de colaboração, é razoável assumir que
em cada um dos diferentes tipos de comunidades Open Source, os
desenvolvedores são dirigidos por necessidades diferentes. No mesmo sentido,
é razoável assumir também que os diferentes perfis de participantes são
atraídos a contribuírem na comunidade por diferentes motivos. Na próxima
seção, exploraremos alguns destes motivos em detalhes.
O que motiva desenvolvedores Open Source?
Stallman (2002) afirma que o objetivo do software Open Source é produzir
software poderoso e de alta qualidade, e que isso é um objetivo louvável, mas
não o mais importante. O mais importante, para ele, é que o software siga as
premissas do software livre, que são: liberdade para qualquer pessoa executar,
modificar, e distribuir o software original e/ou modificado. Porém, os estudos
sobre motivação de desenvolvedores Open Source evidenciam que são variados
os motivos que de fato dirigem o comportamento dos desenvolvedores, e que a
ideologia da liberdade é apenas um deles.
Na Tabela 1, nós apresentamos a síntese dos fatores motivadores
apresentados em estudos científicos relevantes. É importante destacar que nem
todos os fatores aparecem em todas as pesquisas. Por outro lado, pesquisas
9. descrevem fatores semelhantes utilizando nomenclaturas diferentes. Nesta
síntese, fazemos uma sugestão tentativa para integrar estes fatores baseando-se
na descrição semântica como apresentada nos seus artigos de origem.
Tabela 1: Síntese dos fatores motivadores
Fator Definição Fonte(s)
Ideologia Acreditar que o software deve ser livre Von Krogh et al(2008);
para todos, ou que o código aberto deve Benbya e Belbaly (2010).
substituir o software proprietário.
Altruismo Preocupação com o bem-estar do von Krogh et al(2008);
próximo, vontade de prover soluções de Oreg e Nov (2007);
software que vão ajudar a outras pessoas Wu, Gerlach, Young (2007);
a resolver os seus problemas. Bitzer, Schrettl, Schröder (2007);
Ke e Zhang (2010).
Prazer e Divertir-se com a própria atividade de von Krogh et al(2008);
Diversão passar tempo desenvolvendo software, Bitzer, Schrettl, Schröder (2007).
brincando com o código.
Reputação Ser reconhecido pela comunidade pela von Krogh et al(2008);
competência como programador e/ou Oreg e Nov (2007);
pelo seu esforço, responsabilidade e Ke e Zhang (2010).
outras características técnicas e
pessoais.
Reciprocidade Sentimento de responsabilidade e/ou von Krogh et al(2008);
dívida, para “devolver” para a Benbya e Belbaly (2010).
comunidade aquilo que outrora foi
consumido. Economia através da troca.
Aprendizado Vontade de aprender novas tecnologias, von Krogh et al(2008);
técnicas, habilidades para desenvolver Oreg e Nov (2007);
software, para manter-se atualizado e Subramanyian e Xia (2008);
tornar-se um melhor programador. Wu, Gerlach, Young (2007);
Benbya e Belbaly (2010);
Ye e Kishida (2003);
Roberts, Hann, Slaughter (2006).
Uso próprio Contribuir para a evolução de um von Krogh et al(2008);
produto no sentido de resolver algum Subramanyian and Xia(2008);
problema particular, adaptando o Wu, Gerlach, Young (2007);
software para a própria realidade. Bitzer, Schrettl, Schröder (2007);
Roberts, Hann, Slaughter (2006).
Carreira Estabelecer contatos profissionais e von Krogh et al(2008);
aprender tecnologias que possam, num Wu, Gerlach, Young (2007).
momento futuro, garantir um avanço na
sua carreira através de promoção, ou
novas oportunidades de emprego.
Remuneração Refere-se àquela minoria que é von Krogh et al(2008);
remunerada para contribuir com Subramanyian and Xia (2008).
projetos Open Source, e àqueles
empreendedores cujo modelo de
negócio são construídos em cima de
comunidades Open Source.
10. Autonomia Liberdade de não seguir ordens, de Ke e Zhang (2010).
tomar decisões sobre o próprio trabalho
e definir os seus próprios objetivos.
O que está por trás da motivação dos desenvolvedores Open
Source?
Após refletir sobre as necessidades que dirigem a motivação dos
desenvolvedores Open Source, utilizamos a Teoria de Valores Humanos de
Schwartz (1994) para propor um conjunto de estereótipos para estes
desenvolvedores, de acordo com o seu perfil e com os valores que mais
fortemente substanciam o seu comportamento motivado. Abaixo, descrevemos
em detalhes estes estereótipos.
Autotranscedência
Autotranscedência é um valor que está voltado para o bem-estar e
aprimoramento do próximo, em detrimento do próprio indivíduo. Ele é
traduzido por altos graus de importância para valores como benevolência e
universalismo.
Desenvolvedores com alto grau de autotranscedência são aqueles guiados
fortemente pela ideologia, pois acreditam que o Open Source é uma forma mais
justa de desenvolvimento e que, consequentemente, ao produzir este tipo de
software, estão ajudando as pessoas e contribuindo de alguma forma para um
mundo mais justo. Geralmente indivíduos como este assumem algum papel de
liderança em comunidades organizadas, principalmente aquelas sem fins
comerciais.
Para desenvolvedores que atendem a este estereótipo, o tema do projeto é
um fator extremamente importante. Projetos que se propõem a oferecer algum
bem social ou benefício à população em geral são provavelmente atrativos para
este desenvolvedor. Quanto mais significante fora da comunidade seja o
projeto, mais interessado o desenvolvedor estará em oferecer a sua
contribuição, como uma forma de sentir-se útil para a sociedade.
O desenvolvedor autotranscendente também tem um papel fundamental
no suporte técnico aos parceiros de desenvolvimento. Dada a sua forte lealdade,
e responsabilidade com a comunidade, a oportunidade para ajudar os outros
também atua como um forte motivador.
Abertura a Novas Experiências
Abertura a novas experiências é o valor que guia aqueles desenvolvedores
interessados na diversão, liberdade e autonomia propiciadas pelo
desenvolvimento em comunidades Open Source, e que geralmente participam
destas com um baixo nível de envolvimento e responsabilidade.
11. Dois motivadores relevantes para este estereótipo são: a independência e o
uso-próprio. A independência é o que leva estes desenvolvedores a escolherem
o Open Source como paradigma de desenvolvimento, pela liberdade de
estabelecimento dos seus próprios objetivos que esta filosofia permite. Já o uso-
próprio estimula estes desenvolvedores a aplicar bastante esforço e tempo para
criar suas próprias soluções, ou adaptar projetos existentes às suas próprias
necessidades, principalmente em projetos que julga serem mais excitantes e
divertidos.
Estes desenvolvedores tem estímulo suficiente para criar e liderar
comunidades ad-hoc, mas também é possível encontrar desenvolvedores com
este perfil contribuindo apenas na periferia de comunidades mais estabelecidas.
As regras e protocolos de comunidades padronizadas ou organizadas fazem
com que o interesse deste tipo de desenvolvedor seja reduzido apenas para um
curto tempo de participação. Ou seja, a liberdade atrai e a burocracia repele este
tipo de desenvolvedor.
Auto aprimoramento
Desenvolvedores guiados pelo auto aprimoramento estão nas
comunidades Open Source basicamente buscando aprendizado contínuo e o
desenvolvimento das suas habilidades e competências no que diz respeito ao
domínio de novas tecnologias, métodos e técnicas. Os principais fatores que
levam este desenvolvedor a escolher a comunidade com a qual vai contribuir
são dois: a tecnologia e o ferramental de processos.
Comunidades ad-hoc, que possuem pouco ferramental de processos,
geralmente atraem desenvolvedores deste tipo, mas interessados em aprender
ou aprofundar-se na linguagem que está sendo utilizada e, consequentemente,
com pouca ou nenhuma experiência de desenvolvimento naquela tecnologia.
Já comunidades organizadas atraem desenvolvedores deste tipo
interessados em adquirir experiência com mecanismos mais refinados de
engenharia de software, como métodos, padrões de programação, configuração,
documentação, etc. Um processo maduro de desenvolvimento de software Open
Source naturalmente envolve um mecanismo de revisão de pares, e através
deste processo os colaboradores recebem feedback e podem obter sugestões de
estilos de programação e lógicas para melhorar suas habilidades profissionais
(Oreg e Nov, 2007).
Para este tipo de desenvolvedor, o tema do projeto é menos importante,
servindo apenas como um plano de fundo para praticar as suas habilidades.
Este desenvolvedor preocupa-se mais com a complexidade e o desafio da
funcionalidade que está desenvolvendo, do que com os benefícios que aquela
funcionalidade vai de fato representar para o usuário final. Ter objetivos bem
definidos é importante para este perfil de desenvolvedor. Atingir estes objetivos
é mais importante ainda, pois se trata de um perfil com ambição alta. A
ineficácia ao tentar resolver problemas pode levar estes desenvolvedores a se
12. afastar da comunidade, pois despertam um sentimento indesejado de
incapacidade.
Este tipo de desenvolvedor descreve o padrão motivacional de uma parte
representativa dos desenvolvedores ativos e periféricos de comunidades Open
Source padronizadas, organizadas e comerciais.
Autopromoção
Desenvolvedores com este perfil poderiam representar a erva-daninha da
ideologia do software Open Source, pois atuam nestas comunidades única e
exclusivamente por motivos individualistas. Porém, eles são extremamente
importantes para o ecossistema de desenvolvimento Open Source. Em
comunidades de tira-dúvidas, por exemplo, especialmente aquelas que
fornecem algum tipo de premiação, mesmo que não financeira, para os
participantes que respondem as dúvidas dos outros, são eles os maiores
interessados em ajudar os colegas.
A necessidade principal deste perfil motivacional é o seu reconhecimento
pela comunidade, pois através do desenvolvimento da sua própria imagem e
reputação, o desenvolvedor pode ter acesso a oportunidades de negócio
propiciadas pelos parceiros da comunidade. Além disso, a sua rede de contatos
pode também ser útil para conseguir promoções e empregos melhores fora da
comunidade.
Para este tipo de desenvolvedor, também é importante contribuir projetos
Open Source de marcas reconhecidas, como é o caso da maioria das organizações
comerciais. Remuneração, inclusive, pode ser um motivador altamente eficaz
para atrair este tipo de desenvolvedor. Porém, a possibilidade de alcançar um
status de liderança e autoridade sobre o projeto e sobre os desenvolvedores é
ainda mais eficaz para este tipo de desenvolver.
Estes desenvolvedores são geralmente muito experientes nas tecnologias
utilizadas pela comunidade e, quando assumem alguma posição de liderança,
são guiados por algum modelo de negócio que se sustentam naquele software
Open Source, ou que dependem deste, para continuarem rentáveis. No entanto,
é comum utilizarem a ideologia do movimento Open Source como plano de
fundo para atraírem outros desenvolvedores para o seu projeto.
Conclusão
Por que desenvolvedores de software aplicam uma fatia considerável do
seu tempo produtivo, desenvolvendo produtos pelos quais eles não serão
necessariamente remunerados? Embora seja prematuro afirmar que estes são os
únicos motivos existentes, as pesquisas científicas disponíveis apontam
basicamente para quatro motivos essenciais: autotranscedência, abertura a
novas experiências, auto aprimoramento e autopromoção.
Os resultados apresentados neste artigo devem ser úteis tanto para
orientar os desenvolvedores que estão considerando a possibilidade de
13. contribuírem voluntariamente para projetos Open Source, quanto para um
melhor autoconhecimento daqueles que já participam ativamente destas
comunidades. Estes resultados devem ainda ser de fundamental importância
para aqueles desenvolvedores que assumem papel de liderança e
eventualmente estão encarregados de administrar a motivação dos outros
participantes do projeto.
Por outro lado, esta questão deve continuar estimulando pesquisadores
em busca de novas ou mais completas respostas que sejam capazes de explicar
mais amplamente o comportamento dos desenvolvedores que contribuem com
comunidades Open Source. Apesar desta pesquisa ter sido baseada em revisões
sistemáticas da literatura, executadas cuidadosamente e com alto rigor técnico-
metodológico, não é possível garantir que todos os estudos disponíveis foram
cobertos na nossa síntese. Além disso, também não é possível garantir que a
própria ciência já revelou todos os motivadores que de fato guiam o
comportamento destes desenvolvedores. Portanto, neste artigo, apresentamos
apenas os resultados iniciais de um esforço de longo prazo que deverá nos
ajudar a aprofundar o entendimento sobre o comportamento de
desenvolvedores em comunidades Open Source.
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