Apresentação projeto encontro de saberes para sedf
1. PROJETO ENCONTRO DE SABERES:
A INTEGRAÇÃO DOS OFÍCIOS E DAS ARTES TRADICIONAIS NO UNIVERSO
ACADÊMICO
APRESENTAÇÃO
O projeto Encontro de Saberes é uma iniciativa inovadora na promoção de
diálogos sistemáticos entre os saberes acadêmicos e os saberes indígenas, afro-
brasileiros, populares e de outras comunidades tradicionais. O objetivo central do
projeto é incluir no ensino superior como docentes os mestres e mestras representantes
da rica diversidade de saberes e práticas tradicionais em todas as áreas do conhecimento
(arte, tecnologia, saúde, psicologia, cuidado com o meio ambiente, cosmologia,
espiritualidade) e assim reconhecer plenamente o valor desses saberes e o protagonismo
de seus mestres como sujeitos da arte e do pensamento humanos.
A proposta do Encontro de Saberes envolve, portanto, o registro, a transmissão
e a reprodução de sistemas e métodos de ensino tradicionais no diálogo com as
estruturas convencionais do meio acadêmico, possibilitando aprendizados mútuos, a
partir da realização de cursos regulares nas universidades e de outras ações
interculturais. Trata-se de abrir um espaço de ensino e pesquisa em que possam transitar
livremente todas as artes e todos os saberes válidos produzidos na sociedade brasileira
baseado em uma perspectiva pedagógica que integra o pensar com o sentir e o fazer,
para além do foco exclusivo no mero produto final (na maioria das vezes, apenas
intelectualizado) de um conteúdo acadêmico já normatizado e legitimado.
Esse projeto-piloto é o resultado de uma parceria entre a Universidade de
Brasília (UnB), por meio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de
Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa, do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), com o Ministério da Cultura (MinC).
2. O projeto Encontro de Saberes já convidou para esse diálogo mestres de artes e
ofícios populares representativos das regiões e saberes tradicionais do país: o mestre de
teatro popular de Cavalo Marinho de Pernambuco, Biu Alexandre; o mestre do Congado
do Vale do Paraíba, Zé Jerome; a mestra raizeira quilombola do estado de Goiás, Lucely
Pio, ligada à Articulação Pacari de Plantas Medicinais do Cerrado; o mestre
ManiwaKamayurá, representante dos povos indígenas do Alto Xingu, especialista em
construção da residência tradicional kamayurá; o mestre BenkiAshaninka; representante
do povo ashaninka do Acre, que desenvolve um trabalho de conhecimento da floresta
comprometido com a proteção ambiental; o mestre Antônio Bispo dos Santos, poeta,
escritor, intelectual e liderança quilombola; mestre Badia Medeiros,
cantor, compositor, violeiro, dançarino e guia de festejos populares; os mestres
indígenas Casimiro e Álvaro Tukano, que ensinaram sobre os saberes indígenas,
política, xamanismo e mitologia tukano; e os mestres Arturos, que desenvolvem um
trabalho ancorado em tradições culturais das festas e rituais sagrados do Reinado de
Nossa Senhora do Rosário em sua comunidade.
A eles se agregam professores parceiros da Universidade de Brasília das áreas de
Artes Cênicas, Música, Arquitetura, Saúde e Educação Ambiental e Ciências Sociais.
Assim, com a exposição do projeto e a interação com os docentes acadêmicos,
interesses em comum, epistemes convergentes e prováveis desafios vêm sendo
inicialmente situados.
A primeira etapa do projeto foi a realização de um Seminário Temático
Preparatório na Universidade de Brasília, para reunir a contribuição das experiências
nacionais e internacionais em curso na área de inclusão de protagonistas de
conhecimentos tradicionais no ensino superior e para apresentar a proposta do projeto
em um clima de diálogo entre mestres acadêmicos e mestres tradicionais. O seminário
contou também com a participação enriquecedora de um grande número de mestres
tradicionais, além dos participantes do projeto-piloto. Foram ainda realizadas oficinas
preparatórias com cinco mestres do projeto com o objetivo de que os métodos de ensino
tradicional pudessem ser introduzidos e adaptados ao contexto universitário.
O projeto teve ainda duas etapas adicionais. Os mestres convidados passaram
uma semana realizando atividades de residência na Universidade de Brasília, com
3. acesso aos espaços acadêmicos e a aulas, acompanhados de membros da comunidade
onde vivem e atuam. Neste período, tiveram a oportunidade de se adaptar e de, em
conjunto com os professores parceiros, identificar interesses comuns e possíveis
resistências geradas em cada grupo e propor adaptações (específicas para cada saber
tradicional) dos espaços e das convenções temporais do ensino acadêmico. A partir daí,
começaram a preparar, junto com os professores parceiros, a metodologia e os recursos
didáticos necessários para que pudessem, na etapa final, ministrar a disciplina Artes e
Ofícios dos Saberes Tradicionais.
Em 2011 foi efetivado um Termo de Cooperação entre o Ministério da
Culturaatravésda Secretaria de Politicas Culturais e a Universidade de Brasília visando
o desenvolvimentode ações para a formação de professores do ensino fundamental e
médio das escolas públicas. Neste termo de parceria a experiência do Encontro de
Saberes se direciona àinclusão do ofícios tradicionais no currículo escolar.
A disciplina já foi ofertada por três anos consecutivos a estudantes universitários
de todos os cursos da Universidade de Brasília (UnB) e caminha para sua quarta edição
em 2013. Está estruturada em seis módulos sucessivos, com uma carga semanal de 6
horas (por turno), ao longo de 13 semanas. Serão oferecidas duas turmas este ano: uma
pela manhã (de 10:00h às 12:00h) e outra à tarde (de 16:00h às 18:00h). A matéria faz
parte da grade horária regular do curso de graduação do departamento de antropologia
da UnB, contabilizando créditos na categoria de módulo livre. Durante todo o processo,
os mestres estão em constante diálogo com os professores parceiros e com a
coordenação do projeto.
Nossa expectativa é expandir a proposta, de maneira que seja
viabilizadaaformação de professores de nível fundamental e médio da rede pública
durante a oferta dadisciplina na grade curricular na UnBno segundo período letivo de
2013. Desta forma conseguiremos potencializar a proposta inicial e integrar as ações
deforma a otimizar a equipe do projeto que se amplia para conseguir atender a todas
asnecessidades para a efetivação das ações propostas.
4. São oferecidos aos alunos não apenas um conteúdo disciplinar específico, mas
também uma prática imbuída de sentidos e ensinamentos que agrega valor e visibilidade
ao saber tradicional. Nesse processo é priorizada a reconstrução no diálogo entre os
saberes do conceito de aprendiz, igualmente perdido ou mesmo descartado no ensino
universitário vigente. A realização desta disciplina proporciona, acreditamos, mais um
passo na superação deste conceito meramente industrial de produtividade que
possibilitou aumentar o fosso entre os saberes populares tradicionais e os saberes
eurocêntricos atualmente hegemônicos nas nossas universidades.
Justamente por ser concebido como uma pedagogia do encontro o projeto
propicia aos professores da UnB que mantenham afinidade e interesse pelas áreas de
saberes do curso, uma oportunidade rara de estabelecer contato próximo e intenso com
os mestres tradicionais. Eles podem, assim, compreender como foram construídas
trajetórias artísticas e saberes que prescindiram inteiramente da formação curricular
letrada. Por outro lado, os mestres tradicionais também aprendem com seus parceiros
letrados outras dimensões de conhecimentos e saberes aos quais não tiveram acesso. O
Encontro de Saberes é assim um espaço epistêmico e experiencial de diálogos e trocas
dentro do qual, acreditamos, todos haverão de sair positivamente transformados.
Esperamos que esta experiência inovadora seja capaz de inspirar iniciativas
semelhantes em várias outras universidades brasileiras e não apenas por meio de
projetos de extensão (dos quais já contamos com alguns precedentes), mas de um modo
consistente, como no caso presente da UnB, que colocará os mestres dos saberes
tradicionais na condição de professores da grade regular da graduação. Mais ainda,
contamos com que este Encontro de Saberes possa idealmente evoluir para um modelo
de abertura de várias Cátedras Livres de Ofícios e Artes Tradicionais que venham a ser
oferecidas em universidades públicas e privadas brasileiras, bem como em escolas de
ensino médio e fundamental.
Para maiores informações visite o site:
http://www.inctinclusao.com.br