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REVISTA 
2
REVISTA 
2
Revista Santuários 
Cultura, Arte, Romarias, Peregrinações, Paisagens e Pessoas 
Volume 1, Número 2, julho–dezembro 2014, ISSN 2183-3184 
Cadernos Vox Musei 
Revista Internacional com comissão científica e revisão por 
pares (sistema de double blind review) 
Periodicidade: Semestral 
Revisão de submissões: arbitragem duplamente cega por 
pares académicos 
Direção: Luís Jorge Gonçalves, Mila Simões de Abreu, Ana 
Paula Fitas, João Paulo Queiroz, Moisés Espírito Santo, Jorge 
do Reis, Cláudia Matos Pereira, Leonardo Caravana Guelman, 
Manuel Calado 
Relações Públicas: Isabel Nunes 
Logística: Lurdes Santos 
Gestão financeira: Cristina Fernandes, Isabel Pereira, 
Andreia Tavares 
Propriedade: Faculdade de Belas-Artes da Universidade 
de Lisboa 
Capa: Desenho em grafite sobre papel, baseado em cabeça 
que pode representar o deus Endovélico, e o pedestal com 
parte da epígrafe dedicado a este deus. 
Ilustração: Cláudia Matos Pereira, 2014. 
Contracapa: Ara dedicada ao deus Endovélico 
(Original no Museu Nacional de Arqueologia, foto José 
Pessoa) 
Ante Rosto: Augusto Prima Porta (Museus do Vaticano). 
Por ocasião dos dois mil anos da morte de Augusto (19 
de Agosto de 14) que promoveu a fusão entre romanos e 
indígenas e de que resultou o santuário ao deus Endovélico 
Logo do Congresso: Jorge dos Reis 
Projeto Gráfico: Jorge dos Reis 
Paginação: Inês Chambel 
Impressão: Editorial do Min. da Educação e Ciência 
Tiragem: 350 exemplares 
Depósito legal: 379932/14 
PVP: 10€ 
ISSN: 2183-3184 
ISBN: 978-989-8771-02-5 
Edição 
Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa 
(FBAUL) / Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes 
(CIEBA) 
Instituto de Sociologia e Etnolgia das Religiões da Faculdade 
de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de 
Lisboa (ISER-FCSH-UNL) 
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) 
Instituto de Artes e Comunicação Social da Universidade 
Federal Fluminense (IACS-UFF) Laboratório de 
Observação de Artes e Saberes (LOAS) 
Centro de Estudos do Endovelico (CEE) 
Câmara Municipal do Alandroal (CMA)/ Fórum Cultural 
Transfronteiriço 
Apoio 
Turismo do Alentejo 
+ informações: 
santuarios.fba.ul.pt 
Organizadores: Apoio:
REVISTA 
2
Comissão Executiva 
Luís Jorge Gonçalves, Portugal, Faculdade de 
Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos 
e de Investigação em Belas-Artes 
Mila Simões de Abreu, Portugal, Universidade de Trás-os- 
-Montes e Alto Douro, Vila Real 
Ana Paula Fitas, Portugal, Coordenadora do Centro de 
Estudos do Endovélico, Alandroal 
João Paulo Queiroz, Portugal, Faculdade de 
Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos 
e de Investigação em Belas-Artes 
Moisés Espírito Santo, Portugal, Faculdade de Ciências 
Socais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa 
Jorge dos Reis, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, 
Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de 
Investigação em Belas-Artes 
Cláudia Matos Pereira, Brasil, Escola de Belas-Artes, 
Universidade Federal do Rio de Janeiro 
Leonardo Caravana Guelman, Brasil, Instituto de Artes e 
Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense 
Manuel Calado, Brasil, IEPA — Instituto de Pesquisa 
Científica e Tecnológica do Estado do Amapá 
Panayiotis Saraneopoulos, Grécia/Portugal, Centro de 
Investigação e Estudos em Belas-Artes 
Conselho Editorial/Comissão Científica 
Ana Paula Fitas, Portugal, Coordenadora do Centro de 
Estudos do Endovélico, Alandroal 
António Delgado, Portugal, Escola Superior de Arte e 
Design, Instituto Politécnico de Leiria 
Artur Ramos, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, 
Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de 
Investigação em Belas-Artes 
Cláudia Matos Pereira, Brasil, Escola de Belas-Artes, 
Universidade Federal do Rio de Janeiro 
Cristiane de Andrade Buco, Brasil, IPHAN-Fortaleza 
Fernando António Baptista Pereira, Faculdade de 
Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos 
e de Investigação em Belas-Artes 
Federico Trolleti, Itália, Universidade de Trento 
Ilídio Salteiro, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, 
Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de 
Investigação em Belas-Artes 
Javier Marcos Arévalo, Espanha, Universidade da 
Estremadura 
João Brigola, Portugal, Universidade de Évora 
João Paulo Queiroz, Portugal, Faculdade de 
Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos 
e de Investigação em Belas-Artes 
Jorge do Reis, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, 
Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de 
Investigação em Belas-Artes 
José Ignacio Homobono, Espanha, Universidade do País Basco 
José Júlio Garcia Arranz, Espanha, Universidade da 
Estremadura 
Leonardo Caravana Guelman, Brasil, Instituto de Artes e 
Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense 
Luís Jorge Gonçalves, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, 
Universidade de Lisboa / Centro de Estudos 
e de Investigação em Belas-Artes 
Manuel Calado, Brasil, IEPA — Instituto de Pesquisa 
Científica e Tecnológica do Estado do Amapá 
Maristela Salvatori, Brasil, Instituto de Artes, 
Universidade Federal de Rio Grande do Sul 
Mila Simões de Abreu, Portugal, Universidade de Trás-os- 
-Montes e Alto Douro, Vila Real 
Mirtes Barros, Brasil, Universidade Federal do Maranhão 
Moisés Espírito Santo, Portugal, Faculdade de Ciências 
Socais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa 
Nuno Sacramento, Reino Unido (Escócia), Scottish 
Sculpture Workshop, Aberdeen 
Panayiotis Saraneopoulos, Grécia/Portugal, Centro de 
Investigação e Estudos em Belas-Artes 
Paula Ramos, Brasil, Instituto de Artes, Universidade 
Federal de Rio Grande do Sul 
Paulo Caetano, Portugal, Faculdade de Ciências 
e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa 
Ruy Ventura, Portugal, Investigador 
Salvador Rodríguez Becerra, Espanha, Universidade 
de Sevilha
Santuários: Cultura, Arte, 
Romaria, Peregrinações, Paisagens 
e Pessoas 
Luís Jorge Gonçalves 
13-15 
1. Artigos 
Reflexão Teórica sobre os 
aspectos simbólico e ritual 
durante a interpretação dos 
processos de produção de 
manufatos obtidos de matéria 
dura de origem animal 
Giacoma Petrullo & Jefferson 
Crescencio Neri 
17-23 
Emblemas y jeroglíficos 
en la azulejería religiosa 
portuguesa del siglo XVIII: 
un ejemplo en la iglesia de 
Nossa Senhora da Conceição, 
en Vila Viçosa (Portugal) 
José Julio García Arranz 
24-33 
Nuevas tradiciones en el ámbito 
festivo transmoderno de Bilbao: 
del Santuario a la Ría del Nervión 
Juan António Rubio-Ardanaz 
34-44 
Museologia do cotidiano: 
a morada e o santuário. 
Entre a autoconsagração 
e o dar-se ao outro 
na mediação do Sagrado 
Leonardo Caravana Guelman 
45-52 
Santuários: Cultura, Arte, 
Romaria, Peregrinações, 
Paisagens e Pessoas 
Luís Jorge Gonçalves 
13-15 
1. Artigos 
Theoretical reflection into the 
symbolic and ritual interpretation 
of production processes of 
artifacts from hard raw 
materials animals 
Giacoma Petrullo & Jefferson 
Crescencio Neri 
17-23 
Emblems and hieroglyphics in 
Portuguese religious tilework of 
the 18th century: an example in 
the Church of Nossa Senhora 
da Conceição, in Vila Viçosa 
(Portugal) 
José Julio García Arranz 
24-33 
New Traditions in the Trans-modern 
Festive Field: From the Sanctuary 
to the Stuary of Nervion 
Juan António Rubio-Ardanaz 
34-44 
Museology of the everyday: the 
home and the sanctuary. Between 
self consecration and dedication 
to the other in the mediation of 
the sacred 
Leonardo Caravana Guelman 
45-52
“Pé de Deus”, hoje gravura, 
ontem efeito das intempéries 
Luana Campos & 
Cristiane de Andrade Buco 
53-58 
O culto e devoção à virgem mártir 
santa Eufémia no seu santuário em 
Penedono 
Luciano Moreira 
59-64 
Uma Paisagem Sagrada: 
as cubas da “kûra” de Beja 
Luís Ferro 
65-74 
Santuário do Endovélico: 
espaço de encontro de indígenas 
e romanos 
Luís Jorge Gonçalves 
75-81 
Tïhtakariwaïn: 
um santuário rupestre no 
Tumucumaque brasileiro 
Manuel Calado 
82-96 
Romeiros de São Francisco 
do Canindé 
Maria das Graças Tavares Silva, 
Adriano de Araújo Lima, Nagylla 
Dias Oliveira, Maria Esterlian 
Ferreira da Silva Alves & 
Cinthia Moreira 
97-101 
The “Pé-de-Deus” (“Foot-of-God”) 
engraving in Oeiras, Piauí, Brazil 
Luana Campos & 
Cristiane de Andrade Buco 
53-58 
The worship and devotion to the 
holy virgin martyr Euphemia in 
his sanctuary in Penedono 
Luciano Moreira 
59-64 
A Sacred Landscape: The Cubas 
from the Kûra of Beja 
Luís Ferro 
65-74 
Sanctuary of Endovelicus: 
meeting space for indigenous 
and Roman 
Luís Jorge Gonçalves 
75-81 
Tïhtakariwaïn: rock art santuary 
in brazilien Tumucumaque 
Manuel Calado 
82-96 
Pilgrims from São Francisco 
do Canindé 
Maria das Graças Tavares Silva, 
Adriano de Araújo Lima, Nagylla 
Dias Oliveira, Maria Esterlian 
Ferreira da Silva Alves & 
Cinthia Moreira 
97-101
Comunidade Quilombola de 
São Sebastião dos Pretos: 
A religiosidade de um povo 
expressada nas batidas dos 
tambores da Umbanda 
Maria Esterlian Alves, Elane Sousa, 
Cleber Lima do Nascimento, Gilva 
Alves Leitão & Cintya Moreira 
102-106 
Uma visão prospectiva na paisagem 
do Vale do Tejo 
Mário Monteiro Benjamim 
107-113 
Caminhos do sagrado nas artes 
visuais: algumas anotações 
Maristela Salvatori & 
Bernard Paquet 
114-117 
Alguns apontamentos sobre a 
imagem do javali e o “Berrão” de 
Carlão, Alijó, Douro 
Mila Simões de Abreu 
118-132 
A natureza como Santuário na 
visão do caçador krikati 
MIRTES BAROS 
133-138 
Descoberta de um santuário 
lusitano-fenício a partir da 
toponímia, em Aljubarrota 
Moisés Espírito Santo 
139-144 
O santuário de S. Pedro em 
Portel: um exemplo de 
sincretismo religioso? 
Natália Maria Lopes Nunes 
145-149 
Quilombola community of São 
Sebastião dos Pretos: the religion 
of a people expressed in beats of 
drums of Umbanda 
Maria Esterlian Alves, Elane Sousa, 
Cleber Lima do Nascimento, Gilva 
Alves Leitão & Cintya Moreira 
102-106 
A prospective view of the 
landscape of the Tagus Valley 
Mário Monteiro Benjamim 
107-113 
Sacred Paths of the visual arts: 
some notes 
Maristela Salvatori & 
Bernard Paquet 
114-117 
Some notes on the image of the 
boar and the “Berrão” of Carlão, 
Alijó, Vila Real, Portugal 
Mila Simões de Abreu 
118-132 
The nature as sanctuary in vision 
hunter krikati 
MIRTES BAROS 
133-138 
Discovery of a Sanctuary Lusitano- 
Phoenician from toponymy, 
in Aljubarrota 
Moisés Espírito Santo 
139-144 
The Sanctuary of Saint Peter 
in Portel, an example of 
religious syncretism? 
Natália Maria Lopes Nunes 
145-149
Folia de Reis: Território sacrário 
Neide Marinho 
150-155 
Pragmatismo e Robustez: 
marca das igrejas 
luso-brasileiras no 
Rio Grande do Sul, Brasil 
Paula Ramos 
156-161 
Um Santuário Suíço nos Açores: 
Dos lagos suíços para a lagoa 
das Furnas, a migração de uma 
paisagem 
Pedro Maurício de Loureiro 
Costa Borges 
162-170 
Uma imagem é uma imagem, 
mas…O processo de humanização 
das imagens da Senhora da Saúde 
Pedro Pereira 
171-175 
Religiosidade e espacialidade 
no Sertão da Bahia - Brasil: o 
exemplo do Santuário da Santa 
Cruz de Monte Santo 
Raimundo Pinheiro Venancio Filho & 
Maria Helena Ochi Flexor 
176-183 
Tradição e cultura na escolha 
do lugar da cerimônia 
do casamento 
Raquel Lage Tuma, Maria 
Elisabeth Alves Mesquita, Carlos 
Eduardo Santos Maia 
184-188 
Folia de Reis: Territory tabernacle 
Neide Marinho 
150-155 
Pragmatism and Robustness 
(Strength): marks of Luso- 
Brazilian churches in 
Rio Grande do Sul 
Paula Ramos 
156-161 
A Swiss sanctuary in the Azores: 
From the Swiss lakes to Furna´s 
lagoon, the migration 
of a lanscape 
Pedro Maurício de Loureiro 
Costa Borges 
162-170 
An image is an image, but… 
The process of humanization of 
images of Lady of Health 
Pedro Pereira 
171-175 
Religiosity and spatiality in the 
backwoods of Bahia-Brazil: the 
example of the sanctuary of 
Santa Cruz de Monte Santo 
Raimundo Pinheiro Venancio Filho & 
Maria Helena Ochi Flexor 
176-183 
Tradition and culture in choice of 
place of wedding ceremony 
Raquel Lage Tuma, Maria 
Elisabeth Alves Mesquita, Carlos 
Eduardo Santos Maia 
184-188
Sagres – o Promontorium 
Sacrum: uma petrificada 
paisagem sagrada 
Ricardo Soares 
189-197 
Salve Rainha: Maria entre a vida 
e o dogma através da arte 
Rodrigo Portella 
198-208 
A lenda do Senhor das Chagas 
e a “construção” do santuário 
de Sesimbra 
Ruy Ventura 
209-222 
Santuarios y apariciones marianas 
en Andalucía (España) 
Salvador Rodríguez Becerra 
223-226 
Desenho, Memória e Simplicidade 
Visual: O Painel de Desenhos de 
Siza Vieira sobre S. Pedro e S. 
Paulo, na Basílica da Santíssima 
Trindade do Santuário de Fátima 
Shakil Yussuf Rahim & Ana Leonor 
Madeira Rodrigues 
227-235 
A procissão de São Cristóvão em 
um local sui generis 
Sigrid Hoppe 
236-239 
O Santuário de Frei Damião de 
Bozzano no Convento de São 
Félix da Cantalice, em 
Recife- Pernambuco-Brasil 
Sylvana Brandão de Aguiar 
240-244 
Sagres – the Promontorium 
Sacrum: a petrified 
sacred landscape 
Ricardo Soares 
189-197 
Hail Queen: Mary between life 
and dogma through art 
Rodrigo Portella 
198-208 
The legend of Senhor das Chagas 
and the built of 
Sesimbra’s santuary 
Ruy Ventura 
209-222 
Shrines and Marian Apparitions 
in Andalusia (Spain) 
Salvador Rodríguez Becerra 
223-226 
Drawing, Memory and Visual 
Simplicity: Drawings Panel 
of Siza Vieira about St. Peter 
and St. Paul, in the Basilica 
of the Most Holy Trinity of the 
Sanctuary of Fátima 
Shakil Yussuf Rahim & Ana Leonor 
Madeira Rodrigues 
227-235 
The procession of Saint 
Christopher in a sui generis site 
Sigrid Hoppe 
236-239 
The Sanctuary of Fray Damian 
Bozzano in the Convent of St. 
Felix of Cantalice in 
Recife-Pernambuco-Brazil 
Sylvana Brandão de Aguiar 
240-244
Festas e ofícios, entre uma e 
outra romaria incelenças são 
entoadas afirmando identidades 
Valdir Nunes dos Santos 
245-249 
Os Santuários como espaços de 
devoção: São José de Ribamar, 
no Maranhão 
Wherlyshe Morais 
250-254 
2. Estudos 
Centro de Estudos do Endovélico. 
Classificação do vale sagrado do 
Lucefecit: Teatro de Santuários 
(Endovélico e Boa Nova) 
MANUEL Lapão 
256-257 
3. Santuários, 
instruções aos autores 
Manual de estilo da 
Santuários — meta-artigo 
259-268 
Chamada de trabalhos: 
II Congresso Santuários 2015 
269-272 
Festivals and crafts, between 
one and another pilgrimage 
“incelenças” between are sung 
affirming identities 
Valdir Nunes dos Santos 
245-249 
The Sanctuaries as places of 
devotion: São José de Ribamar, 
no Maranhão 
Wherlyshe Morais 
250-254 
2. Estudos 
Studies Center of Endovélico. 
Sacred valley Lucefecit 
classification: theatre of sanctuary 
(Endovélico and Boa Nova) 
MANUEL Lapão 
256-257 
3. Santuários, 
instructions to authors 
Style guide of Santuários 
— meta-paper 
259-268 
Call for papers: II Santuários 
Congress 2015 
269-272
189 
Sagres – o Promontorium 
Sacrum: uma petrificada 
paisagem sagrada 
Sagres – the Promontorium Sacrum: 
a petrified sacred landscape 
Ricardo Soares* 
*Portugal, Arqueólogo, Câmara Municipal de Vila 
do Bispo. E-mail: arqueo.mike@gmail.com 
Artigo completo submetido a 3 de junho 
e aceite a 14 de junho de 2014 
Resumo: O território do Promontório de Sagres (Sa-gres, 
Vila do Bispo) manifesta uma remota, intensa e 
contínua vocação e exploração mágico-religiosa, des-de 
os primórdios da sua ocupação humana até aos 
nossos dias, realidade que se pretende aqui aflorar, 
por via de um discurso partilhado e complementar, 
entre a investigação arqueológica e a leitura históri-ca, 
entre os nossos menires e o culto de São Vicente... 
Palavras chave: promontório, sacralização, monu-mentalização, 
Megalitismo, Sagres. 
Abstract: The territory of Promontory Sagres (Sagres, 
Vila do Bispo, Portugal) expresses a remote, continu-ous 
and intense magical-religious vocation and explo-ration, 
operating since the beginning of its human oc-cupation 
until nowadays, reality we intend to emerge 
throw a shared and complementary speech, between 
archaeological research and historical interpretation, 
among our menhirs and the cult of Saint Vincent... 
Keywords: promontory / sacralization / monumental-ization 
/ Megalithism / Sagres. 
Introdução: a sacralização de distintas paisagens naturais 
Na sua maior parte, os estudos dedicados aos antigos cultos focam-se, particularmente, nas divindades e/ 
ou nos templos edificados, subvalorizando, regra geral, as paisagens e outros aspectos ambientais, poten-cialmente 
determinantes para os fenómenos de sacralização de loci naturais. 
Desde sempre, o Homem foi atraído por determinadas paisagens naturais, carregadas de peculiares 
forças ingénitas. Estes locais, contemplativos, místicos, geralmente ermos, particularmente nascentes, 
quedas-d’água, pegos, recortes de rio, cumes de montanha, cavernas, afloramentos, rochedos e promon-tórios, 
foram sacralizados e monumentalizados enquanto suportes de discursos simbólicos e de cons-truções 
mentais, autênticos recipientes de memórias colectivas de loco-identidades culturais. Sítios que 
adquirem sentido para além dos sentidos. Arquitecturas espirituais que se edificam sobre pilares naturais 
e humanos, numa teia de símbolos, mitos e rituais que investem a paisagem de multi-significâncias. 
Neste contexto, desde a aurora da Humanidade que as paisagens de Sagres acolheram cultos má-gico- 
religiosos, que por lá se fixaram pela atracção da finisterra, evoluindo para discursos religiosos, 
petrificando-se nos menires, vingando nos tempos, cristianizando-se, santificando-se, edificando-se em 
templos, expandindo-se em procissões, romarias e peregrinações, migrando e globalizando-se... 
1. A atracção da finisterra e o culto dos promontórios 
Os promontórios constituem-se como significativas paisagens especiais. Misteriosos acidentes geográ-ficos 
que apartam os mares, as terras e o céu. Autênticos monumentos geológicos. Naturais templos 
numinosos e hierofânicos. Ainda hoje, nos mais proeminentes recortes da crusta terrestre, os cabos 
atraem numerosos visitantes, numa ‘vertigem’ pela finisterra, num inexplicável apelo pelos extremos 
do mundo, numa demanda pelo horizonte infinito, onde o sol, a lua e todo o séquito de astros morre 
e renasce do mar. 
Soares, Ricardo (2014) “Sagres – o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada.”
Há muito que assim acontece! Individualmente ou colectivamente, em peregrinações ou romarias, 
o ser Humano foi marcando, a ‘pé-posto’, a sua espiritualidade nas ‘rotas dos cabos’. 
Poderíamos apontar uma série de evidências que atestam, em toda a ‘esfera de Atlas’, uma muito 
remota preferência pelos promontórios, enquanto privilegiados palcos de cultos mágico-religiosos. Por 
exemplo, em Portugal, o Cabo da Roca foi descrito por Plínio o Velho como loca sacra, monumentalizado 
com recintos de culto e altares de pedra (séc. I d.C. – Naturalis Historia, Livro IV). Na Arrábida, o Cabo 
Espichel foi designado como “Sacrum”, desta feita por Pomponius Mela (séc. I d.C. – De Chorographia, 
Livro III). E, claro, o extremo sudoeste da Europa – Sagres –, inevitavelmente sacralizado, até toponimi-camente, 
como um perpétuo altar de pedra, investido de uma omnipotência que se perde nas origens... 
Muito para além do tempo histórico, nos confins da Pré-história, a Arqueologia tem vindo a 
reconhecer e a materializar alguns vibrantes ecos destes fenómenos de sacralização de diferenciadas 
paisagens naturais, designadamente em ‘grutas-necrópole’ e ‘grutas-santuário’, abertas nos carsos de 
diversos promontórios. 
As grutas, enquanto espaços produzidos por acção da Natureza, foram utilizadas desde o dealbar 
da humanidade, como abrigos e, sobretudo, enquanto propícias sedes de exéquias e depósitos votivos. 
Nestes espaços, após a morte, os corpos foram devolvidos ao ‘maternal ventre da terra’, em posição fetal, 
acompanhados de relíquias votivas. 
A procura destes locais, ermos e inóspitos, para práticas de cariz funerário, converte-os em santu-ários 
subterrâneos, nos quais, presumivelmente, se procurava o contacto com o transcendente, com as 
forças da fertilidade, e se recriavam metáforas para a origem da vida e para os mistérios da morte. Neste 
sentido, estes ocos profundos, escuros e geralmente húmidos, poderiam configurar o submundo uterino 
da terra fértil, um umbilical espaço de eterno retorno, onde as águas subterrâneas poderiam simbolizar 
um transcendente poder de purificação, infiltração e comunicação com o mundo inferior e com o ‘além’ 
(Soares 2013: 67-71). 
2. O Promontorium Sacrum: referências clássicas e ‘baptismo toponímico’ 
Desde muito cedo, na História da sua Humanidade, a região de Vila do Bispo foi escolhida como base 
de implantação de remotas comunidades que nestas extremas paisagens decidiram fixar-se, legando-nos, 
à guarda do tempo, numerosos e diversificados vestígios arqueológicos – verdadeiras provas materiais e 
definidos rastos culturais da sua longínqua presença. 
Não será exagero afirmar que o nosso território se revela como um genuíno ‘Museu vivo de His-tória 
Natural e Humana’, com uma riqueza de apontamentos, produzidos e perfeitamente organizados 
numa arquitectura paisagística de referência, numa admirável ‘simbiose’ entre a Natureza e o Homem. 
A historiografia permite-nos recuar, até ao séc. IV a.C., para lá resgatar as primeiras referências 
conhecidas, relativas à região de Sagres. Na sua Historia Universal, o historiador grego Éforo de Cime 
‘baptiza’ esta finisterra como Hieron Akroterion, designação grega traduzida para o latim, no séc. I d.C., 
como Promontorium Sacrum (Plínio o Velho, Naturalis Historia) – o Promontório Sagrado! 
Posto isto, podemos desde já estabelecer uma primeira conclusão: há cerca de 2400 anos (pelo menos) 
a região de Sagres já se encontrava fixada, toponimicamente, como um território de propensão sagrada! 
Na última década do séc. II a.C., o geógrafo grego Artemidoro de Éfeso visita a Península Ibérica, 
afirmando ter estado precisamente no Cabo Sacrum, descrevendo as suas exploratórias viagens numa 
Geographia tida como perdida. O conhecimento da obra de Artemidoro chegou-nos pela mão de outros 
autores da Antiguidade, posteriores, que a ela, directa ou indirectamente, aludiram ou dela rebuscaram 
190 
Soares, Ricardo (2014) “Sagres – o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada.”
191 
Fig. 1. Cordão circular (R. Soares, 2014) 
Fig. 2. Antropomorfismo (R. Soares, 2012) 
Revista Santuários, Cultura, Arte, Romarias, Peregrinações, Paisagens e Pessoas. ISSN 2183-3184. Vol. 1 (2): 189-197.
notícias. Muito recentemente, esta clássica visita ganhou mais verosimilhança, pois reconheceu-se um 
fragmento do supostamente perdido texto, num papiro encontrado no Egipto, em Antaiúpolis (Moret, 
2003; Alarcão, 2010). 
Estrabão será um dos autores que, no séc. I a.C., fará referência ao texto de Artemidoro. No livro 
III da sua Geographia, volta a denominar a Ponta de Sagres como Hieron Akroterion, descrevendo-o da 
seguinte forma e referindo-se aos seus predecessores, Éforo e Artemidoro: 
É a elevação mais ocidental, não da Europa mas de toda a terra habitada (…) Artemidoro afirma 
que esteve neste lugar que o assemelha a um navio (…) Assegura que não se vê lá nenhum santuário nem 
altar a Héracles (nisto mente Éforo), dele ou de algum outro deus, mas que em muitos sítios há grupos de 
três e quatro pedras, que são pelos visitantes voltadas, em virtude de um costume ancestral, e deslocadas, 
depois deles fazerem libações; e que não está permitido fazer sacrifícios nem aceder de noite ao lugar, por 
dizer-se que nessa altura é ocupado pelos deuses, mas os que chegam para contemplá-la pernoitam numa 
aldeia próxima e logo pela manhã, seguem até lá, levando consigo água que este lugar carece (Estrabão, 
Geographia, III, 1, 4-5, apud Loução, 2011). 
Estas linhas permitem-nos fixar mais alguns sugestivos considerandos: ainda no séc. II a.C., aquan-do 
da insigne visita de Artemidoro, algo de muito especial se passava sobre a plataforma deste nosso 
Cabo... “um costume ancestral”, um ritual antigo que implicava libações a ‘deuses de pedra’. 
De destacar que Estrabão desmente Éforo, quando este refere a existência, no Promontório de Sa-gres, 
de um templo ou altar dedicado a Héracles ou a qualquer outra divindade. Porém, temos de ter em 
conta que a informação de Éforo terá sido produzida no séc. IV a.C., enquanto Artemidoro terá visitado 
o local cerca de 300 anos depois, no séc. I a.C. Nesta perspectiva, não será de excluir a hipótese de o refe-rido 
santuário, mencionado pelo mais antigo dos dois autores, ter sido entretanto destruído ou passado 
192 
despercebido aquando da visita de Artemidoro. 
Relativamente aos relatados “grupos de três e quatro pedras”, e no contexto do presente trabalho, 
trata-se de um assunto bem mais interessante! Tendo em conta a actual panorâmica dos nossos conhe-cimentos 
e as evidências materiais ainda disponíveis, a interpretação mais óbvia e coerente, para estas 
pedras, será a que as remete para os nossos persistentes e ainda copiosos menires! 
3. Megalitismo de Vila do Bispo: referências arqueológicas 
Se entenderemos o megalitismo menírico enquanto manifestação mágico-religiosa, o território de Sagres 
encontra-se comprovadamente sacralizado pelo menos desde o Neolítico Antigo – inícios do VI milénio 
a.C. (Gomes 1994: 339; Gomes, 1997: 176). 
Justamente, neste canto do mundo, foi erguida uma das maiores concentrações de menires conhecidas 
em toda a Europa. No Levantamento Arqueológico do Concelho de Vila do Bispo, publicado em 1987 por Má-rio 
Varela Gomes e Carlos Tavares da Silva (Gomes e Silva 1987), foram inventariados 121 menires na região. 
Em 2005, João Velhinho publica o levantamento Menires de Vila do Bispo (Velhinho 2005), exaustivo trabalho 
onde se encontram cartografados, georreferenciados, fotografados e descritos 267 menires. 
Considerando a expectável probabilidade de novas descobertas e o facto de a região de Vila do 
Bispo ter sido explorada, até muito recentemente, como o ‘celeiro do Algarve’, suportando uma extensa 
e intensiva actividade agrícola, há que admitir que os menires que resistiram até aos nossos dias consti-tuem 
apenas uma ínfima parte de um todo entretanto perdido, a ponta de um imenso ‘iceberg de pedra’ 
que poderá ter atingido uma inigualável dimensão. 
Além da descontextualização por deslocamento e da destruição por fracturação, causadas pela inten- 
Soares, Ricardo (2014) “Sagres – o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada.”
sa lavoura, estes monumentos também foram alvo de reutilização para construção urbana, redução 
do seu calcário para cal, para não falar da alheia apropriação destinada ao embelezamento de pro-priedades 
privadas. Ainda assim, muito restou, tratando-se, em diversos aspectos, de um exemplar 
193 
conjunto menírico. 
Não despiciendo o fundamental contributo dos já referidos autores clássicos (entre muitos outros 
que não importa trazer à colação, no âmbito do presente texto), a investigação arqueológica, no território 
hoje abrangido pelo Concelho de Vila do Bispo, foi inaugurada, de forma verdadeiramente científica e 
pioneira, apenas nos finais do século XIX, com Estacio da Veiga. 
Porém e estranhamente, nas suas visitas à região, não descuidando a exemplar qualidade da sua 
metodologia científica, Estacio da Veiga não documenta um único menir em Vila do Bispo. Tal lacuna 
só poderá ser explicada pelo facto do distinto arqueólogo, face à dimensão hercúlea do seu projecto, ter 
distribuído tarefas a informadores e colectores locais. Acreditamos que, se Estacio da Veiga tivesse tido a 
oportunidade de desenvolver prospecções pessoais, dificilmente lhe teriam passado despercebidos alguns 
dos mais significativos vestígios deste nosso património menírico, evidentemente numeroso e expressivo. 
Na verdade, naquela época, os menires ainda eram uns ‘notáveis desconhecidos’. Com base no 
“Relatorio e mappas ácêrca dos edifícios que devem ser classificados monumentos nacionaes” (Veiga 
1886: 87-88), Estacio refere que, em 1880, apenas se encontravam inventariados três menires em todo o 
território nacional, todos no concelho de Vila Velha do Rodão. Na mesma época e por comparação, em 
França já se registavam 1638 menires (ob. cit.: 24). 
No Algarve, terminados os trabalhos de campo para a Carta Archeologica (1877-1878), publicada 
nas suas Antiguidades Monumentaes do Algarve - tempos prehistoricos (Veiga, 1886; 1887; 1889; 1891), 
Estacio adenda somente mais cinco exemplares concretos ao ‘inventário menírico nacional’, todos na 
zona de Silves, levantando então a seguinte questão: 
Serviriam essas pyramides e menhirs de demarcação de um determinado territorio, ou cada um 
d’esses monumentos ficaria representando um feito memoravel ou uma consagração de piedosa lembran-ça? 
Não o sei dizer (Veiga 1891: 233-235). 
Ainda assim, recuperando os “grupos de três e quatro pedras” de Artemidoro e de Estrabão, o 
nosso ilustre pioneiro como que ‘pressentiu’ a real existência de uma presença megalítica na área de 
Sagres, referindo-a, com as devidas reservas, na qualidade de “antas ou dolmens (destruidos), que mui 
presumptivamente existiram sobre o solo” (Veiga 1886: 99). 
Ao contrário das antas, há muito justamente integradas na agenda da investigação arqueológica 
nacional, será apenas nos anos sessenta, do século XX, que os menires se tornarão alvos efectivos de uma 
sistemática divulgação no nosso País, resultando num consequente boom de descoberta, notavelmente 
profícuo no Barlavento Algarvio. 
Os menires de Vila do Bispo têm vindo a revelar-se, com base na informação entretanto produzida, 
como um conjunto claramente individualizado no contexto europeu, designadamente no que respeita 
ao seu número, ao suporte material em que foram produzidos (calcário e arenito), às decorações neles 
inscritas, aos povoados associados... à sua ‘personalidade’. 
4. Sacralização megalítica: menires, monumentais ‘Homens de Pedra’ 
O universo simbólico, associado aos monumentos meníricos, continua encriptado na pétrea distância 
dos tempos e dos preconceitos. Locais de descanso para a alma dos mortos, pára-raios, calendários so-lares, 
ídolos aos quais se prestariam cultos e sacrifícios, memoriais de tratados, de alianças, de feitos de 
Revista Santuários, Cultura, Arte, Romarias, Peregrinações, Paisagens e Pessoas. ISSN 2183-3184. Vol. 1 (2): 189-197.
guerra (Almeida 1979: 14, apud Calado 2004: 49), toda uma incrível panóplia de interpretações alvitradas 
sobre o significado destas esculturas. 
Sobre os menires de Vila do Bispo, ainda paira uma redutora e excessiva ‘obsessão sexual’, aligeirada 
por significâncias invocadoras de cultos de fertilidade/fecundidade, integradas no contexto da emergên-cia 
das primeiras sociedades agro-pastorís: elipses segmentadas interpretadas como grãos de trigo, mas 
também como vulvas; semi-elipses como púbis e mamilos; linhas ondulantes como nascentes de água, 
cursos de rio, esperma... enfim! 
O carácter fálico dos menires conquistou, nesta região, uma particular proeminência, sobretudo 
graças aos recorrentes cordões definidos no seu topo, decifrados como ‘glandes fálicas’ (Figura 1). Numa 
perspectiva mais moderada, porque não admitir simplificadas representações de cabeças humanas? (Go-mes 
1997b: 256). 
Reflexo do gradual aumento demográfico, propiciado pela sedentarização neolítica e pelos exce-dentes 
alimentares da produção agro-pecuária, as sociedades, originalmente igualitárias, complexificam- 
-se estruturalmente, exigindo uma nova organização social e emergentes discursos de poder. O fenóme-no 
megalítico poderá ser precisamente entendido como a materialização de um discurso ideológico que 
irá agregar as comunidades, tendencialmente neolíticas, em torno de um mega-objectivo comum, de um 
monumental empreendimento colectivo. 
O Homem é um ser gregário, dependente de propósitos colectivos, de linhas de comando grupal, 
de necessárias estruturas de orientação e contenção de esforços e tenções sociais – a génese de todos os 
discursos de poder! 
Genericamente, o Megalitismo caracteriza-se pela monumentalização da paisagem com o recurso 
a grandes blocos de pedra, enquanto expressão cultural, mágico-religiosa e territorial. Recorrentes em 
todo o mundo, em diversas culturas e em todos os tempos, os menires ocorrem isolados, agrupados em 
alinhamentos ou em recintos. 
Os menires podem, justamente, ser interpretados como a primeira manifestação do Homem na 
paisagem, a sua própria personificação cultural num virgem palco natural (Figura 2): o Homem seden-tário 
que se apropria de territórios, transformando-os, cultivando-os, marcando-os com marcos iden-titários 
de propriedade cultural – “o Homem torna-se a medida de todas as coisas” (Calado 1997: 296). 
Considerando este esquema interpretativo, os menires, enquanto representações de figuras hu-manas, 
não figurariam, necessariamente, indivíduos concretos: potenciais esculturas antropomórficas 
representativas de distintos antepassados, de personagens míticos, de heróis fundadores ou mesmo de 
divindades, sendo, por extensão, relacionáveis com a emergência de linhagens, numa conjuntura de forte 
coesão social que monumentos desta ordem de grandeza parecem reflectir (Calado 2004: 241). 
Esta tese antropomórfica reforça-se, com cabal substância, na própria evolução destes monumen-tos 
– as ‘estátuas-menir’ (Bueno-Ramírez 1990; Gomes, 1997b; Caubet 2002; Calado 2004: 47). No caso 
de Vila do Bispo, a tradição oral ainda hoje produz eco de uma antiga lenda, de pedras envoltas em ‘se-bastiânicos 
194 
nevoeiros’ (ver texto seguinte!). 
O pesado investimento necessário à deslocação, afeiçoamento e erecção de tantos menires poderá 
ser explicado por uma motivação de ordem simbólica. Ao contrário de uma muralha, em si mesma tam-bém 
revestida de simbolismo visual, enquanto estrutura de pedra que defende um povoado, as suas gen-tes 
e os seus bens, a justificação prática para um empreendimento megalítico será menos lógica do ponto 
de vista funcional. Ou seja, a monumentalização das paisagens, a sua marcação com o recurso a grande 
pedras, implicaria, necessariamente, um discurso de poder, uma liderança tendencialmente espiritual, 
Soares, Ricardo (2014) “Sagres – o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada.”
195 
Fig. 3. Menir tombado no Cerro do Camacho, com inscrições 'cristãs' (R. Soares, 2014) 
Revista Santuários, Cultura, Arte, Romarias, Peregrinações, Paisagens e Pessoas. ISSN 2183-3184. Vol. 1 (2): 189-197.
uma estrutura mental de ordem mágico-religiosa: uma remota e perdida ‘religião megalítica’, com líderes 
espirituais (anciãos e/ou xamãs) e objectos de culto, materializados na forma de menires. 
Tanto no vizinho Alentejo Central, como na nossa região, as escavações dos alvéolos de implan-tação 
dos menires têm permitido exumar, em diversos casos e entre outros artefactos, recorrentes frag-mentos 
de mós manuais. Geralmente fragmentárias, ou seja, uma parte de um todo, estas peças remetem 
para os povoados, para o mundo quotidiano da vida rural, para a importância do cereal e da sua moagem. 
Estes indícios artefactuais levam-nos a presumir que os menires foram erguidos por comunidades 
de pastores-agricultores, dedução reforçada por outra recorrente evidência arqueológica: no Alentejo 
Central, além dos fragmentos de mó, a mais repetida iconografia gravada nos monumentos representa, 
justamente, o báculo ou cajado de pastor. 
Este distante e subjectivo universo dos significados, o reportório simbólico que as primeiras gentes ne-olíticas 
atribuíram aos seus inaugurais monumentos e às decorações neles inscritas, constituirá, para sempre, 
um fértil campo para a imaginação, de impossível descodificação pela científica investigação arqueológica. 
5. Resistência material e imaterial: ‘menires-cruzeiro’ na ‘Rota Vicentina’ 
A apropriação, integração, continuidade, renovação e reutilização de antigos cultos e de precedentes san-tuários, 
encontra-se amiúde documentada, designadamente por distintos fenómenos de herança natural, 
de complexificação social, de contágio cultural, de conquista territorial e de aculturação. Por exemplo, a 
Romanização não se traduziu, necessariamente, numa expectável superioridade religiosa – na ‘evangeli-zação’ 
dos ‘povos bárbaros’. Pelo contrário! A civilização romana acabou por espontaneamente assimilar 
inúmeras divindades exóticas, indígenas, que depois de ‘maquilhadas’, num processo de interpretatio, 
acabam por conquistar um digno altar no profuso panteão romano, junto dos seus novos pares e de 
forma igualitária. Tal já se tinha verificado com os Gregos e voltará a repetir-se, com reverberações bem 
mais actuais, com a Cristianização. 
Precisamente aqui, em terras do Alandroal, sobre as paisagens do Lucefecit, a investigação arque-ológica, 
conduzida por irremediáveis instintos da natureza humana, revelou um extraordinário acto de 
fé romana por um deus indígena – o deus Endovélico e o santuário da Rocha da Mina (Calado 1993). 
Também na região de Sagres, foram documentados alguns interessantes exemplos de respeitosos 
196 
reaproveitamentos de monumentos meníricos. 
No Padrão (Raposeira), foi registada uma posterior apropriação de um monumento menírico (Fi-gura 
2), originalmente pré-histórico, reinvestido na qualidade de ‘guardião’ de duas necrópoles: uma de 
Época Romana e outra da Alta Idade Média (Gomes 2011). Enquanto, no topo do Cerro do Camacho 
(Vila do Bispo), encontra-se um menir tombado, mas particularmente interessante. Dominante sobre a 
paisagem que ‘desagua’ em Sagres, além da decoração pré-histórica, é possível observar um conjunto de 
inscrições de épocas mais recentes (Figura 3): uma cruz incisa, outra cruz formada por cinco círculos em 
relevo (as cinco chagas de Cristo!), uma data gravada (1644) e uma inscrição onde se pode ler “Lisboa”. 
Trata-se, portanto, de um reconduzido monumento pré-histórico que perpassa os tempos, acumulando 
mensagens num palimpsesto simbólico, sendo hoje, a mais marcante, aquela que nos remete para o culto 
cristão – um ‘menir-cruzeiro’ na ‘rota do Cabo de São Vicente’. 
Soares, Ricardo (2014) “Sagres – o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada.”
197 
Referências 
Alarcão, Jorge de (2010). “A Costa Portuguesa de Arte-midoro”. 
In Revista Portuguesa de Arqueologia, 
13, p. 107-123. 
Bueno-Ramírez, Primitiva (1990). Statues-menhirs et 
Stèles Anthropomorphes de la Péninsule Ibéri-que. 
L’ Anthropologie, 94, 1. Paris, p. 85-110. 
Calado, Manuel (1993). Carta Arqueológica do Alan-droal. 
Câmara Municipal do Alandroal. 
Calado, Manuel (1997). Cromlechs alentejanos e arte 
megalítica. Actas do III Colóquio internacional 
de Arte Megalítica. A Coruña: Museo Arqueoló-xico 
e Histórico, p. 289-297. 
Calado, Manuel (2004). Menires do Alentejo Central: 
Génese e Evolução da paisagem megalítica regio-nal. 
Dissertação de Doutoramento apresentada à 
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 3 
vols. Lisboa: FLUL. 
Calado, Manuel; Rocha, Leonor (2006). Menires e 
Neolitização: história da investigação no Algar-ve 
– Actas do 4.º Encontro de Arqueologia do 
Algarve. Silves: XELB n.º 7. 
Caubet, Annie (2002). Naissance de la grande statuaire 
dans L’Orient ancien. In Philippon, A. (dir.) – 
Statues-menhirs, dês enigmes de pierre venues 
du fons dês ages. Rodez: Éditions du Rouergue, 
p. 224-239. 
Gomes, Mário Varela (1994). Menires e cromeleques no 
complexo cultural megalítico português – traba-lhos 
recentes e estado da questão. Actas do Se-minário 
“O Megalitismo no Centro de Portugal”. 
Viseu, p. 317-342. 
Gomes, Mário Varela (1997a). Megalitismo do Barlaven-to 
Algarvio – Breve síntese. Setúbal Arqueológica, 
11-12. Setúbal: MAEDS. p. 147-190. 
Gomes, Mário Varela (1997b). Estátuas-menires antro-pomórficas 
do Alto-Alentejo. Descobertas re-centes 
e problemática. Brigantium, 10, p. 255-279. 
Gomes, Mário Varela; Silva, Carlos Tavares da (1987). 
Levantamento Arqueológico do Algarve. Con-celho 
de Vila do Bispo. Vila do Bispo: Delegação 
Regional do Sul, Secretaria de Estado da Cultura. 
Gomes, Mário Varela; Paulo, Luís Campo (2011). A 
necrópole visigótica do Padrão (Raposeira, Vila 
do Bispo). O Arqueólogo Português, 5.ª série, vol. 
1. Lisboa: MNA, p. 591-656. 
Loução, Paulo (2011). Lugares Inesquecíveis de Portugal 
- Viagens com Alma. Eranos. 
Moret, Pierre (2003). À propos du papyre d’Artémidore 
et de la plus ancienne carte d’Espagne. Mélanges 
de la Casa de Velázquez. 33:1. Madrid, p. 350-354. 
Soares, Ricardo (2013). A Arrábida no Bronze Fi-nal 
- a Paisagem e o Homem. Dissertação de 
Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da 
Universidade de Lisboa: FLUL. 
Veiga, Estacio da (1886). Antiguidades Monumentaes 
do Algarve - Tempos Prehistoricos, vol. I. Lisboa: 
Imprensa Nacional. 
Veiga, Estacio da (1887). Antiguidades Monumentaes 
do Algarve - Tempos Prehistoricos, vol. II. Lis-boa: 
Imprensa Nacional. 
Veiga, Estacio da (1889). Antiguidades Monumentaes 
do Algarve - Tempos Prehistoricos, vol. III. 
Lisboa: Imprensa Nacional. 
Veiga, Estacio da (1891). Antiguidades Monumentaes 
do Algarve - Tempos Prehistoricos, vol. IV. Lis-boa: 
Imprensa Nacional. 
Velhinho, João (2005). Menires de Vila do Bispo - in-ventário/ 
cartografia. Vila do Bispo: Associação de 
Defesa do Património Histórico e Arqueológico 
de Vila do Bispo. 
Revista Santuários, Cultura, Arte, Romarias, Peregrinações, Paisagens e Pessoas. ISSN 2183-3184. Vol. 1 (2): 189-197.
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Sagres - o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada (SOARES, R., 2014)

  • 3. Revista Santuários Cultura, Arte, Romarias, Peregrinações, Paisagens e Pessoas Volume 1, Número 2, julho–dezembro 2014, ISSN 2183-3184 Cadernos Vox Musei Revista Internacional com comissão científica e revisão por pares (sistema de double blind review) Periodicidade: Semestral Revisão de submissões: arbitragem duplamente cega por pares académicos Direção: Luís Jorge Gonçalves, Mila Simões de Abreu, Ana Paula Fitas, João Paulo Queiroz, Moisés Espírito Santo, Jorge do Reis, Cláudia Matos Pereira, Leonardo Caravana Guelman, Manuel Calado Relações Públicas: Isabel Nunes Logística: Lurdes Santos Gestão financeira: Cristina Fernandes, Isabel Pereira, Andreia Tavares Propriedade: Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa Capa: Desenho em grafite sobre papel, baseado em cabeça que pode representar o deus Endovélico, e o pedestal com parte da epígrafe dedicado a este deus. Ilustração: Cláudia Matos Pereira, 2014. Contracapa: Ara dedicada ao deus Endovélico (Original no Museu Nacional de Arqueologia, foto José Pessoa) Ante Rosto: Augusto Prima Porta (Museus do Vaticano). Por ocasião dos dois mil anos da morte de Augusto (19 de Agosto de 14) que promoveu a fusão entre romanos e indígenas e de que resultou o santuário ao deus Endovélico Logo do Congresso: Jorge dos Reis Projeto Gráfico: Jorge dos Reis Paginação: Inês Chambel Impressão: Editorial do Min. da Educação e Ciência Tiragem: 350 exemplares Depósito legal: 379932/14 PVP: 10€ ISSN: 2183-3184 ISBN: 978-989-8771-02-5 Edição Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL) / Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes (CIEBA) Instituto de Sociologia e Etnolgia das Religiões da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (ISER-FCSH-UNL) Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) Instituto de Artes e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense (IACS-UFF) Laboratório de Observação de Artes e Saberes (LOAS) Centro de Estudos do Endovelico (CEE) Câmara Municipal do Alandroal (CMA)/ Fórum Cultural Transfronteiriço Apoio Turismo do Alentejo + informações: santuarios.fba.ul.pt Organizadores: Apoio:
  • 5. Comissão Executiva Luís Jorge Gonçalves, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Mila Simões de Abreu, Portugal, Universidade de Trás-os- -Montes e Alto Douro, Vila Real Ana Paula Fitas, Portugal, Coordenadora do Centro de Estudos do Endovélico, Alandroal João Paulo Queiroz, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Moisés Espírito Santo, Portugal, Faculdade de Ciências Socais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa Jorge dos Reis, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Cláudia Matos Pereira, Brasil, Escola de Belas-Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro Leonardo Caravana Guelman, Brasil, Instituto de Artes e Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense Manuel Calado, Brasil, IEPA — Instituto de Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado do Amapá Panayiotis Saraneopoulos, Grécia/Portugal, Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes Conselho Editorial/Comissão Científica Ana Paula Fitas, Portugal, Coordenadora do Centro de Estudos do Endovélico, Alandroal António Delgado, Portugal, Escola Superior de Arte e Design, Instituto Politécnico de Leiria Artur Ramos, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Cláudia Matos Pereira, Brasil, Escola de Belas-Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro Cristiane de Andrade Buco, Brasil, IPHAN-Fortaleza Fernando António Baptista Pereira, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Federico Trolleti, Itália, Universidade de Trento Ilídio Salteiro, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Javier Marcos Arévalo, Espanha, Universidade da Estremadura João Brigola, Portugal, Universidade de Évora João Paulo Queiroz, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Jorge do Reis, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes José Ignacio Homobono, Espanha, Universidade do País Basco José Júlio Garcia Arranz, Espanha, Universidade da Estremadura Leonardo Caravana Guelman, Brasil, Instituto de Artes e Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense Luís Jorge Gonçalves, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Manuel Calado, Brasil, IEPA — Instituto de Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado do Amapá Maristela Salvatori, Brasil, Instituto de Artes, Universidade Federal de Rio Grande do Sul Mila Simões de Abreu, Portugal, Universidade de Trás-os- -Montes e Alto Douro, Vila Real Mirtes Barros, Brasil, Universidade Federal do Maranhão Moisés Espírito Santo, Portugal, Faculdade de Ciências Socais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa Nuno Sacramento, Reino Unido (Escócia), Scottish Sculpture Workshop, Aberdeen Panayiotis Saraneopoulos, Grécia/Portugal, Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes Paula Ramos, Brasil, Instituto de Artes, Universidade Federal de Rio Grande do Sul Paulo Caetano, Portugal, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa Ruy Ventura, Portugal, Investigador Salvador Rodríguez Becerra, Espanha, Universidade de Sevilha
  • 6. Santuários: Cultura, Arte, Romaria, Peregrinações, Paisagens e Pessoas Luís Jorge Gonçalves 13-15 1. Artigos Reflexão Teórica sobre os aspectos simbólico e ritual durante a interpretação dos processos de produção de manufatos obtidos de matéria dura de origem animal Giacoma Petrullo & Jefferson Crescencio Neri 17-23 Emblemas y jeroglíficos en la azulejería religiosa portuguesa del siglo XVIII: un ejemplo en la iglesia de Nossa Senhora da Conceição, en Vila Viçosa (Portugal) José Julio García Arranz 24-33 Nuevas tradiciones en el ámbito festivo transmoderno de Bilbao: del Santuario a la Ría del Nervión Juan António Rubio-Ardanaz 34-44 Museologia do cotidiano: a morada e o santuário. Entre a autoconsagração e o dar-se ao outro na mediação do Sagrado Leonardo Caravana Guelman 45-52 Santuários: Cultura, Arte, Romaria, Peregrinações, Paisagens e Pessoas Luís Jorge Gonçalves 13-15 1. Artigos Theoretical reflection into the symbolic and ritual interpretation of production processes of artifacts from hard raw materials animals Giacoma Petrullo & Jefferson Crescencio Neri 17-23 Emblems and hieroglyphics in Portuguese religious tilework of the 18th century: an example in the Church of Nossa Senhora da Conceição, in Vila Viçosa (Portugal) José Julio García Arranz 24-33 New Traditions in the Trans-modern Festive Field: From the Sanctuary to the Stuary of Nervion Juan António Rubio-Ardanaz 34-44 Museology of the everyday: the home and the sanctuary. Between self consecration and dedication to the other in the mediation of the sacred Leonardo Caravana Guelman 45-52
  • 7. “Pé de Deus”, hoje gravura, ontem efeito das intempéries Luana Campos & Cristiane de Andrade Buco 53-58 O culto e devoção à virgem mártir santa Eufémia no seu santuário em Penedono Luciano Moreira 59-64 Uma Paisagem Sagrada: as cubas da “kûra” de Beja Luís Ferro 65-74 Santuário do Endovélico: espaço de encontro de indígenas e romanos Luís Jorge Gonçalves 75-81 Tïhtakariwaïn: um santuário rupestre no Tumucumaque brasileiro Manuel Calado 82-96 Romeiros de São Francisco do Canindé Maria das Graças Tavares Silva, Adriano de Araújo Lima, Nagylla Dias Oliveira, Maria Esterlian Ferreira da Silva Alves & Cinthia Moreira 97-101 The “Pé-de-Deus” (“Foot-of-God”) engraving in Oeiras, Piauí, Brazil Luana Campos & Cristiane de Andrade Buco 53-58 The worship and devotion to the holy virgin martyr Euphemia in his sanctuary in Penedono Luciano Moreira 59-64 A Sacred Landscape: The Cubas from the Kûra of Beja Luís Ferro 65-74 Sanctuary of Endovelicus: meeting space for indigenous and Roman Luís Jorge Gonçalves 75-81 Tïhtakariwaïn: rock art santuary in brazilien Tumucumaque Manuel Calado 82-96 Pilgrims from São Francisco do Canindé Maria das Graças Tavares Silva, Adriano de Araújo Lima, Nagylla Dias Oliveira, Maria Esterlian Ferreira da Silva Alves & Cinthia Moreira 97-101
  • 8. Comunidade Quilombola de São Sebastião dos Pretos: A religiosidade de um povo expressada nas batidas dos tambores da Umbanda Maria Esterlian Alves, Elane Sousa, Cleber Lima do Nascimento, Gilva Alves Leitão & Cintya Moreira 102-106 Uma visão prospectiva na paisagem do Vale do Tejo Mário Monteiro Benjamim 107-113 Caminhos do sagrado nas artes visuais: algumas anotações Maristela Salvatori & Bernard Paquet 114-117 Alguns apontamentos sobre a imagem do javali e o “Berrão” de Carlão, Alijó, Douro Mila Simões de Abreu 118-132 A natureza como Santuário na visão do caçador krikati MIRTES BAROS 133-138 Descoberta de um santuário lusitano-fenício a partir da toponímia, em Aljubarrota Moisés Espírito Santo 139-144 O santuário de S. Pedro em Portel: um exemplo de sincretismo religioso? Natália Maria Lopes Nunes 145-149 Quilombola community of São Sebastião dos Pretos: the religion of a people expressed in beats of drums of Umbanda Maria Esterlian Alves, Elane Sousa, Cleber Lima do Nascimento, Gilva Alves Leitão & Cintya Moreira 102-106 A prospective view of the landscape of the Tagus Valley Mário Monteiro Benjamim 107-113 Sacred Paths of the visual arts: some notes Maristela Salvatori & Bernard Paquet 114-117 Some notes on the image of the boar and the “Berrão” of Carlão, Alijó, Vila Real, Portugal Mila Simões de Abreu 118-132 The nature as sanctuary in vision hunter krikati MIRTES BAROS 133-138 Discovery of a Sanctuary Lusitano- Phoenician from toponymy, in Aljubarrota Moisés Espírito Santo 139-144 The Sanctuary of Saint Peter in Portel, an example of religious syncretism? Natália Maria Lopes Nunes 145-149
  • 9. Folia de Reis: Território sacrário Neide Marinho 150-155 Pragmatismo e Robustez: marca das igrejas luso-brasileiras no Rio Grande do Sul, Brasil Paula Ramos 156-161 Um Santuário Suíço nos Açores: Dos lagos suíços para a lagoa das Furnas, a migração de uma paisagem Pedro Maurício de Loureiro Costa Borges 162-170 Uma imagem é uma imagem, mas…O processo de humanização das imagens da Senhora da Saúde Pedro Pereira 171-175 Religiosidade e espacialidade no Sertão da Bahia - Brasil: o exemplo do Santuário da Santa Cruz de Monte Santo Raimundo Pinheiro Venancio Filho & Maria Helena Ochi Flexor 176-183 Tradição e cultura na escolha do lugar da cerimônia do casamento Raquel Lage Tuma, Maria Elisabeth Alves Mesquita, Carlos Eduardo Santos Maia 184-188 Folia de Reis: Territory tabernacle Neide Marinho 150-155 Pragmatism and Robustness (Strength): marks of Luso- Brazilian churches in Rio Grande do Sul Paula Ramos 156-161 A Swiss sanctuary in the Azores: From the Swiss lakes to Furna´s lagoon, the migration of a lanscape Pedro Maurício de Loureiro Costa Borges 162-170 An image is an image, but… The process of humanization of images of Lady of Health Pedro Pereira 171-175 Religiosity and spatiality in the backwoods of Bahia-Brazil: the example of the sanctuary of Santa Cruz de Monte Santo Raimundo Pinheiro Venancio Filho & Maria Helena Ochi Flexor 176-183 Tradition and culture in choice of place of wedding ceremony Raquel Lage Tuma, Maria Elisabeth Alves Mesquita, Carlos Eduardo Santos Maia 184-188
  • 10. Sagres – o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada Ricardo Soares 189-197 Salve Rainha: Maria entre a vida e o dogma através da arte Rodrigo Portella 198-208 A lenda do Senhor das Chagas e a “construção” do santuário de Sesimbra Ruy Ventura 209-222 Santuarios y apariciones marianas en Andalucía (España) Salvador Rodríguez Becerra 223-226 Desenho, Memória e Simplicidade Visual: O Painel de Desenhos de Siza Vieira sobre S. Pedro e S. Paulo, na Basílica da Santíssima Trindade do Santuário de Fátima Shakil Yussuf Rahim & Ana Leonor Madeira Rodrigues 227-235 A procissão de São Cristóvão em um local sui generis Sigrid Hoppe 236-239 O Santuário de Frei Damião de Bozzano no Convento de São Félix da Cantalice, em Recife- Pernambuco-Brasil Sylvana Brandão de Aguiar 240-244 Sagres – the Promontorium Sacrum: a petrified sacred landscape Ricardo Soares 189-197 Hail Queen: Mary between life and dogma through art Rodrigo Portella 198-208 The legend of Senhor das Chagas and the built of Sesimbra’s santuary Ruy Ventura 209-222 Shrines and Marian Apparitions in Andalusia (Spain) Salvador Rodríguez Becerra 223-226 Drawing, Memory and Visual Simplicity: Drawings Panel of Siza Vieira about St. Peter and St. Paul, in the Basilica of the Most Holy Trinity of the Sanctuary of Fátima Shakil Yussuf Rahim & Ana Leonor Madeira Rodrigues 227-235 The procession of Saint Christopher in a sui generis site Sigrid Hoppe 236-239 The Sanctuary of Fray Damian Bozzano in the Convent of St. Felix of Cantalice in Recife-Pernambuco-Brazil Sylvana Brandão de Aguiar 240-244
  • 11. Festas e ofícios, entre uma e outra romaria incelenças são entoadas afirmando identidades Valdir Nunes dos Santos 245-249 Os Santuários como espaços de devoção: São José de Ribamar, no Maranhão Wherlyshe Morais 250-254 2. Estudos Centro de Estudos do Endovélico. Classificação do vale sagrado do Lucefecit: Teatro de Santuários (Endovélico e Boa Nova) MANUEL Lapão 256-257 3. Santuários, instruções aos autores Manual de estilo da Santuários — meta-artigo 259-268 Chamada de trabalhos: II Congresso Santuários 2015 269-272 Festivals and crafts, between one and another pilgrimage “incelenças” between are sung affirming identities Valdir Nunes dos Santos 245-249 The Sanctuaries as places of devotion: São José de Ribamar, no Maranhão Wherlyshe Morais 250-254 2. Estudos Studies Center of Endovélico. Sacred valley Lucefecit classification: theatre of sanctuary (Endovélico and Boa Nova) MANUEL Lapão 256-257 3. Santuários, instructions to authors Style guide of Santuários — meta-paper 259-268 Call for papers: II Santuários Congress 2015 269-272
  • 12. 189 Sagres – o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada Sagres – the Promontorium Sacrum: a petrified sacred landscape Ricardo Soares* *Portugal, Arqueólogo, Câmara Municipal de Vila do Bispo. E-mail: arqueo.mike@gmail.com Artigo completo submetido a 3 de junho e aceite a 14 de junho de 2014 Resumo: O território do Promontório de Sagres (Sa-gres, Vila do Bispo) manifesta uma remota, intensa e contínua vocação e exploração mágico-religiosa, des-de os primórdios da sua ocupação humana até aos nossos dias, realidade que se pretende aqui aflorar, por via de um discurso partilhado e complementar, entre a investigação arqueológica e a leitura históri-ca, entre os nossos menires e o culto de São Vicente... Palavras chave: promontório, sacralização, monu-mentalização, Megalitismo, Sagres. Abstract: The territory of Promontory Sagres (Sagres, Vila do Bispo, Portugal) expresses a remote, continu-ous and intense magical-religious vocation and explo-ration, operating since the beginning of its human oc-cupation until nowadays, reality we intend to emerge throw a shared and complementary speech, between archaeological research and historical interpretation, among our menhirs and the cult of Saint Vincent... Keywords: promontory / sacralization / monumental-ization / Megalithism / Sagres. Introdução: a sacralização de distintas paisagens naturais Na sua maior parte, os estudos dedicados aos antigos cultos focam-se, particularmente, nas divindades e/ ou nos templos edificados, subvalorizando, regra geral, as paisagens e outros aspectos ambientais, poten-cialmente determinantes para os fenómenos de sacralização de loci naturais. Desde sempre, o Homem foi atraído por determinadas paisagens naturais, carregadas de peculiares forças ingénitas. Estes locais, contemplativos, místicos, geralmente ermos, particularmente nascentes, quedas-d’água, pegos, recortes de rio, cumes de montanha, cavernas, afloramentos, rochedos e promon-tórios, foram sacralizados e monumentalizados enquanto suportes de discursos simbólicos e de cons-truções mentais, autênticos recipientes de memórias colectivas de loco-identidades culturais. Sítios que adquirem sentido para além dos sentidos. Arquitecturas espirituais que se edificam sobre pilares naturais e humanos, numa teia de símbolos, mitos e rituais que investem a paisagem de multi-significâncias. Neste contexto, desde a aurora da Humanidade que as paisagens de Sagres acolheram cultos má-gico- religiosos, que por lá se fixaram pela atracção da finisterra, evoluindo para discursos religiosos, petrificando-se nos menires, vingando nos tempos, cristianizando-se, santificando-se, edificando-se em templos, expandindo-se em procissões, romarias e peregrinações, migrando e globalizando-se... 1. A atracção da finisterra e o culto dos promontórios Os promontórios constituem-se como significativas paisagens especiais. Misteriosos acidentes geográ-ficos que apartam os mares, as terras e o céu. Autênticos monumentos geológicos. Naturais templos numinosos e hierofânicos. Ainda hoje, nos mais proeminentes recortes da crusta terrestre, os cabos atraem numerosos visitantes, numa ‘vertigem’ pela finisterra, num inexplicável apelo pelos extremos do mundo, numa demanda pelo horizonte infinito, onde o sol, a lua e todo o séquito de astros morre e renasce do mar. Soares, Ricardo (2014) “Sagres – o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada.”
  • 13. Há muito que assim acontece! Individualmente ou colectivamente, em peregrinações ou romarias, o ser Humano foi marcando, a ‘pé-posto’, a sua espiritualidade nas ‘rotas dos cabos’. Poderíamos apontar uma série de evidências que atestam, em toda a ‘esfera de Atlas’, uma muito remota preferência pelos promontórios, enquanto privilegiados palcos de cultos mágico-religiosos. Por exemplo, em Portugal, o Cabo da Roca foi descrito por Plínio o Velho como loca sacra, monumentalizado com recintos de culto e altares de pedra (séc. I d.C. – Naturalis Historia, Livro IV). Na Arrábida, o Cabo Espichel foi designado como “Sacrum”, desta feita por Pomponius Mela (séc. I d.C. – De Chorographia, Livro III). E, claro, o extremo sudoeste da Europa – Sagres –, inevitavelmente sacralizado, até toponimi-camente, como um perpétuo altar de pedra, investido de uma omnipotência que se perde nas origens... Muito para além do tempo histórico, nos confins da Pré-história, a Arqueologia tem vindo a reconhecer e a materializar alguns vibrantes ecos destes fenómenos de sacralização de diferenciadas paisagens naturais, designadamente em ‘grutas-necrópole’ e ‘grutas-santuário’, abertas nos carsos de diversos promontórios. As grutas, enquanto espaços produzidos por acção da Natureza, foram utilizadas desde o dealbar da humanidade, como abrigos e, sobretudo, enquanto propícias sedes de exéquias e depósitos votivos. Nestes espaços, após a morte, os corpos foram devolvidos ao ‘maternal ventre da terra’, em posição fetal, acompanhados de relíquias votivas. A procura destes locais, ermos e inóspitos, para práticas de cariz funerário, converte-os em santu-ários subterrâneos, nos quais, presumivelmente, se procurava o contacto com o transcendente, com as forças da fertilidade, e se recriavam metáforas para a origem da vida e para os mistérios da morte. Neste sentido, estes ocos profundos, escuros e geralmente húmidos, poderiam configurar o submundo uterino da terra fértil, um umbilical espaço de eterno retorno, onde as águas subterrâneas poderiam simbolizar um transcendente poder de purificação, infiltração e comunicação com o mundo inferior e com o ‘além’ (Soares 2013: 67-71). 2. O Promontorium Sacrum: referências clássicas e ‘baptismo toponímico’ Desde muito cedo, na História da sua Humanidade, a região de Vila do Bispo foi escolhida como base de implantação de remotas comunidades que nestas extremas paisagens decidiram fixar-se, legando-nos, à guarda do tempo, numerosos e diversificados vestígios arqueológicos – verdadeiras provas materiais e definidos rastos culturais da sua longínqua presença. Não será exagero afirmar que o nosso território se revela como um genuíno ‘Museu vivo de His-tória Natural e Humana’, com uma riqueza de apontamentos, produzidos e perfeitamente organizados numa arquitectura paisagística de referência, numa admirável ‘simbiose’ entre a Natureza e o Homem. A historiografia permite-nos recuar, até ao séc. IV a.C., para lá resgatar as primeiras referências conhecidas, relativas à região de Sagres. Na sua Historia Universal, o historiador grego Éforo de Cime ‘baptiza’ esta finisterra como Hieron Akroterion, designação grega traduzida para o latim, no séc. I d.C., como Promontorium Sacrum (Plínio o Velho, Naturalis Historia) – o Promontório Sagrado! Posto isto, podemos desde já estabelecer uma primeira conclusão: há cerca de 2400 anos (pelo menos) a região de Sagres já se encontrava fixada, toponimicamente, como um território de propensão sagrada! Na última década do séc. II a.C., o geógrafo grego Artemidoro de Éfeso visita a Península Ibérica, afirmando ter estado precisamente no Cabo Sacrum, descrevendo as suas exploratórias viagens numa Geographia tida como perdida. O conhecimento da obra de Artemidoro chegou-nos pela mão de outros autores da Antiguidade, posteriores, que a ela, directa ou indirectamente, aludiram ou dela rebuscaram 190 Soares, Ricardo (2014) “Sagres – o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada.”
  • 14. 191 Fig. 1. Cordão circular (R. Soares, 2014) Fig. 2. Antropomorfismo (R. Soares, 2012) Revista Santuários, Cultura, Arte, Romarias, Peregrinações, Paisagens e Pessoas. ISSN 2183-3184. Vol. 1 (2): 189-197.
  • 15. notícias. Muito recentemente, esta clássica visita ganhou mais verosimilhança, pois reconheceu-se um fragmento do supostamente perdido texto, num papiro encontrado no Egipto, em Antaiúpolis (Moret, 2003; Alarcão, 2010). Estrabão será um dos autores que, no séc. I a.C., fará referência ao texto de Artemidoro. No livro III da sua Geographia, volta a denominar a Ponta de Sagres como Hieron Akroterion, descrevendo-o da seguinte forma e referindo-se aos seus predecessores, Éforo e Artemidoro: É a elevação mais ocidental, não da Europa mas de toda a terra habitada (…) Artemidoro afirma que esteve neste lugar que o assemelha a um navio (…) Assegura que não se vê lá nenhum santuário nem altar a Héracles (nisto mente Éforo), dele ou de algum outro deus, mas que em muitos sítios há grupos de três e quatro pedras, que são pelos visitantes voltadas, em virtude de um costume ancestral, e deslocadas, depois deles fazerem libações; e que não está permitido fazer sacrifícios nem aceder de noite ao lugar, por dizer-se que nessa altura é ocupado pelos deuses, mas os que chegam para contemplá-la pernoitam numa aldeia próxima e logo pela manhã, seguem até lá, levando consigo água que este lugar carece (Estrabão, Geographia, III, 1, 4-5, apud Loução, 2011). Estas linhas permitem-nos fixar mais alguns sugestivos considerandos: ainda no séc. II a.C., aquan-do da insigne visita de Artemidoro, algo de muito especial se passava sobre a plataforma deste nosso Cabo... “um costume ancestral”, um ritual antigo que implicava libações a ‘deuses de pedra’. De destacar que Estrabão desmente Éforo, quando este refere a existência, no Promontório de Sa-gres, de um templo ou altar dedicado a Héracles ou a qualquer outra divindade. Porém, temos de ter em conta que a informação de Éforo terá sido produzida no séc. IV a.C., enquanto Artemidoro terá visitado o local cerca de 300 anos depois, no séc. I a.C. Nesta perspectiva, não será de excluir a hipótese de o refe-rido santuário, mencionado pelo mais antigo dos dois autores, ter sido entretanto destruído ou passado 192 despercebido aquando da visita de Artemidoro. Relativamente aos relatados “grupos de três e quatro pedras”, e no contexto do presente trabalho, trata-se de um assunto bem mais interessante! Tendo em conta a actual panorâmica dos nossos conhe-cimentos e as evidências materiais ainda disponíveis, a interpretação mais óbvia e coerente, para estas pedras, será a que as remete para os nossos persistentes e ainda copiosos menires! 3. Megalitismo de Vila do Bispo: referências arqueológicas Se entenderemos o megalitismo menírico enquanto manifestação mágico-religiosa, o território de Sagres encontra-se comprovadamente sacralizado pelo menos desde o Neolítico Antigo – inícios do VI milénio a.C. (Gomes 1994: 339; Gomes, 1997: 176). Justamente, neste canto do mundo, foi erguida uma das maiores concentrações de menires conhecidas em toda a Europa. No Levantamento Arqueológico do Concelho de Vila do Bispo, publicado em 1987 por Má-rio Varela Gomes e Carlos Tavares da Silva (Gomes e Silva 1987), foram inventariados 121 menires na região. Em 2005, João Velhinho publica o levantamento Menires de Vila do Bispo (Velhinho 2005), exaustivo trabalho onde se encontram cartografados, georreferenciados, fotografados e descritos 267 menires. Considerando a expectável probabilidade de novas descobertas e o facto de a região de Vila do Bispo ter sido explorada, até muito recentemente, como o ‘celeiro do Algarve’, suportando uma extensa e intensiva actividade agrícola, há que admitir que os menires que resistiram até aos nossos dias consti-tuem apenas uma ínfima parte de um todo entretanto perdido, a ponta de um imenso ‘iceberg de pedra’ que poderá ter atingido uma inigualável dimensão. Além da descontextualização por deslocamento e da destruição por fracturação, causadas pela inten- Soares, Ricardo (2014) “Sagres – o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada.”
  • 16. sa lavoura, estes monumentos também foram alvo de reutilização para construção urbana, redução do seu calcário para cal, para não falar da alheia apropriação destinada ao embelezamento de pro-priedades privadas. Ainda assim, muito restou, tratando-se, em diversos aspectos, de um exemplar 193 conjunto menírico. Não despiciendo o fundamental contributo dos já referidos autores clássicos (entre muitos outros que não importa trazer à colação, no âmbito do presente texto), a investigação arqueológica, no território hoje abrangido pelo Concelho de Vila do Bispo, foi inaugurada, de forma verdadeiramente científica e pioneira, apenas nos finais do século XIX, com Estacio da Veiga. Porém e estranhamente, nas suas visitas à região, não descuidando a exemplar qualidade da sua metodologia científica, Estacio da Veiga não documenta um único menir em Vila do Bispo. Tal lacuna só poderá ser explicada pelo facto do distinto arqueólogo, face à dimensão hercúlea do seu projecto, ter distribuído tarefas a informadores e colectores locais. Acreditamos que, se Estacio da Veiga tivesse tido a oportunidade de desenvolver prospecções pessoais, dificilmente lhe teriam passado despercebidos alguns dos mais significativos vestígios deste nosso património menírico, evidentemente numeroso e expressivo. Na verdade, naquela época, os menires ainda eram uns ‘notáveis desconhecidos’. Com base no “Relatorio e mappas ácêrca dos edifícios que devem ser classificados monumentos nacionaes” (Veiga 1886: 87-88), Estacio refere que, em 1880, apenas se encontravam inventariados três menires em todo o território nacional, todos no concelho de Vila Velha do Rodão. Na mesma época e por comparação, em França já se registavam 1638 menires (ob. cit.: 24). No Algarve, terminados os trabalhos de campo para a Carta Archeologica (1877-1878), publicada nas suas Antiguidades Monumentaes do Algarve - tempos prehistoricos (Veiga, 1886; 1887; 1889; 1891), Estacio adenda somente mais cinco exemplares concretos ao ‘inventário menírico nacional’, todos na zona de Silves, levantando então a seguinte questão: Serviriam essas pyramides e menhirs de demarcação de um determinado territorio, ou cada um d’esses monumentos ficaria representando um feito memoravel ou uma consagração de piedosa lembran-ça? Não o sei dizer (Veiga 1891: 233-235). Ainda assim, recuperando os “grupos de três e quatro pedras” de Artemidoro e de Estrabão, o nosso ilustre pioneiro como que ‘pressentiu’ a real existência de uma presença megalítica na área de Sagres, referindo-a, com as devidas reservas, na qualidade de “antas ou dolmens (destruidos), que mui presumptivamente existiram sobre o solo” (Veiga 1886: 99). Ao contrário das antas, há muito justamente integradas na agenda da investigação arqueológica nacional, será apenas nos anos sessenta, do século XX, que os menires se tornarão alvos efectivos de uma sistemática divulgação no nosso País, resultando num consequente boom de descoberta, notavelmente profícuo no Barlavento Algarvio. Os menires de Vila do Bispo têm vindo a revelar-se, com base na informação entretanto produzida, como um conjunto claramente individualizado no contexto europeu, designadamente no que respeita ao seu número, ao suporte material em que foram produzidos (calcário e arenito), às decorações neles inscritas, aos povoados associados... à sua ‘personalidade’. 4. Sacralização megalítica: menires, monumentais ‘Homens de Pedra’ O universo simbólico, associado aos monumentos meníricos, continua encriptado na pétrea distância dos tempos e dos preconceitos. Locais de descanso para a alma dos mortos, pára-raios, calendários so-lares, ídolos aos quais se prestariam cultos e sacrifícios, memoriais de tratados, de alianças, de feitos de Revista Santuários, Cultura, Arte, Romarias, Peregrinações, Paisagens e Pessoas. ISSN 2183-3184. Vol. 1 (2): 189-197.
  • 17. guerra (Almeida 1979: 14, apud Calado 2004: 49), toda uma incrível panóplia de interpretações alvitradas sobre o significado destas esculturas. Sobre os menires de Vila do Bispo, ainda paira uma redutora e excessiva ‘obsessão sexual’, aligeirada por significâncias invocadoras de cultos de fertilidade/fecundidade, integradas no contexto da emergên-cia das primeiras sociedades agro-pastorís: elipses segmentadas interpretadas como grãos de trigo, mas também como vulvas; semi-elipses como púbis e mamilos; linhas ondulantes como nascentes de água, cursos de rio, esperma... enfim! O carácter fálico dos menires conquistou, nesta região, uma particular proeminência, sobretudo graças aos recorrentes cordões definidos no seu topo, decifrados como ‘glandes fálicas’ (Figura 1). Numa perspectiva mais moderada, porque não admitir simplificadas representações de cabeças humanas? (Go-mes 1997b: 256). Reflexo do gradual aumento demográfico, propiciado pela sedentarização neolítica e pelos exce-dentes alimentares da produção agro-pecuária, as sociedades, originalmente igualitárias, complexificam- -se estruturalmente, exigindo uma nova organização social e emergentes discursos de poder. O fenóme-no megalítico poderá ser precisamente entendido como a materialização de um discurso ideológico que irá agregar as comunidades, tendencialmente neolíticas, em torno de um mega-objectivo comum, de um monumental empreendimento colectivo. O Homem é um ser gregário, dependente de propósitos colectivos, de linhas de comando grupal, de necessárias estruturas de orientação e contenção de esforços e tenções sociais – a génese de todos os discursos de poder! Genericamente, o Megalitismo caracteriza-se pela monumentalização da paisagem com o recurso a grandes blocos de pedra, enquanto expressão cultural, mágico-religiosa e territorial. Recorrentes em todo o mundo, em diversas culturas e em todos os tempos, os menires ocorrem isolados, agrupados em alinhamentos ou em recintos. Os menires podem, justamente, ser interpretados como a primeira manifestação do Homem na paisagem, a sua própria personificação cultural num virgem palco natural (Figura 2): o Homem seden-tário que se apropria de territórios, transformando-os, cultivando-os, marcando-os com marcos iden-titários de propriedade cultural – “o Homem torna-se a medida de todas as coisas” (Calado 1997: 296). Considerando este esquema interpretativo, os menires, enquanto representações de figuras hu-manas, não figurariam, necessariamente, indivíduos concretos: potenciais esculturas antropomórficas representativas de distintos antepassados, de personagens míticos, de heróis fundadores ou mesmo de divindades, sendo, por extensão, relacionáveis com a emergência de linhagens, numa conjuntura de forte coesão social que monumentos desta ordem de grandeza parecem reflectir (Calado 2004: 241). Esta tese antropomórfica reforça-se, com cabal substância, na própria evolução destes monumen-tos – as ‘estátuas-menir’ (Bueno-Ramírez 1990; Gomes, 1997b; Caubet 2002; Calado 2004: 47). No caso de Vila do Bispo, a tradição oral ainda hoje produz eco de uma antiga lenda, de pedras envoltas em ‘se-bastiânicos 194 nevoeiros’ (ver texto seguinte!). O pesado investimento necessário à deslocação, afeiçoamento e erecção de tantos menires poderá ser explicado por uma motivação de ordem simbólica. Ao contrário de uma muralha, em si mesma tam-bém revestida de simbolismo visual, enquanto estrutura de pedra que defende um povoado, as suas gen-tes e os seus bens, a justificação prática para um empreendimento megalítico será menos lógica do ponto de vista funcional. Ou seja, a monumentalização das paisagens, a sua marcação com o recurso a grande pedras, implicaria, necessariamente, um discurso de poder, uma liderança tendencialmente espiritual, Soares, Ricardo (2014) “Sagres – o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada.”
  • 18. 195 Fig. 3. Menir tombado no Cerro do Camacho, com inscrições 'cristãs' (R. Soares, 2014) Revista Santuários, Cultura, Arte, Romarias, Peregrinações, Paisagens e Pessoas. ISSN 2183-3184. Vol. 1 (2): 189-197.
  • 19. uma estrutura mental de ordem mágico-religiosa: uma remota e perdida ‘religião megalítica’, com líderes espirituais (anciãos e/ou xamãs) e objectos de culto, materializados na forma de menires. Tanto no vizinho Alentejo Central, como na nossa região, as escavações dos alvéolos de implan-tação dos menires têm permitido exumar, em diversos casos e entre outros artefactos, recorrentes frag-mentos de mós manuais. Geralmente fragmentárias, ou seja, uma parte de um todo, estas peças remetem para os povoados, para o mundo quotidiano da vida rural, para a importância do cereal e da sua moagem. Estes indícios artefactuais levam-nos a presumir que os menires foram erguidos por comunidades de pastores-agricultores, dedução reforçada por outra recorrente evidência arqueológica: no Alentejo Central, além dos fragmentos de mó, a mais repetida iconografia gravada nos monumentos representa, justamente, o báculo ou cajado de pastor. Este distante e subjectivo universo dos significados, o reportório simbólico que as primeiras gentes ne-olíticas atribuíram aos seus inaugurais monumentos e às decorações neles inscritas, constituirá, para sempre, um fértil campo para a imaginação, de impossível descodificação pela científica investigação arqueológica. 5. Resistência material e imaterial: ‘menires-cruzeiro’ na ‘Rota Vicentina’ A apropriação, integração, continuidade, renovação e reutilização de antigos cultos e de precedentes san-tuários, encontra-se amiúde documentada, designadamente por distintos fenómenos de herança natural, de complexificação social, de contágio cultural, de conquista territorial e de aculturação. Por exemplo, a Romanização não se traduziu, necessariamente, numa expectável superioridade religiosa – na ‘evangeli-zação’ dos ‘povos bárbaros’. Pelo contrário! A civilização romana acabou por espontaneamente assimilar inúmeras divindades exóticas, indígenas, que depois de ‘maquilhadas’, num processo de interpretatio, acabam por conquistar um digno altar no profuso panteão romano, junto dos seus novos pares e de forma igualitária. Tal já se tinha verificado com os Gregos e voltará a repetir-se, com reverberações bem mais actuais, com a Cristianização. Precisamente aqui, em terras do Alandroal, sobre as paisagens do Lucefecit, a investigação arque-ológica, conduzida por irremediáveis instintos da natureza humana, revelou um extraordinário acto de fé romana por um deus indígena – o deus Endovélico e o santuário da Rocha da Mina (Calado 1993). Também na região de Sagres, foram documentados alguns interessantes exemplos de respeitosos 196 reaproveitamentos de monumentos meníricos. No Padrão (Raposeira), foi registada uma posterior apropriação de um monumento menírico (Fi-gura 2), originalmente pré-histórico, reinvestido na qualidade de ‘guardião’ de duas necrópoles: uma de Época Romana e outra da Alta Idade Média (Gomes 2011). Enquanto, no topo do Cerro do Camacho (Vila do Bispo), encontra-se um menir tombado, mas particularmente interessante. Dominante sobre a paisagem que ‘desagua’ em Sagres, além da decoração pré-histórica, é possível observar um conjunto de inscrições de épocas mais recentes (Figura 3): uma cruz incisa, outra cruz formada por cinco círculos em relevo (as cinco chagas de Cristo!), uma data gravada (1644) e uma inscrição onde se pode ler “Lisboa”. Trata-se, portanto, de um reconduzido monumento pré-histórico que perpassa os tempos, acumulando mensagens num palimpsesto simbólico, sendo hoje, a mais marcante, aquela que nos remete para o culto cristão – um ‘menir-cruzeiro’ na ‘rota do Cabo de São Vicente’. Soares, Ricardo (2014) “Sagres – o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada.”
  • 20. 197 Referências Alarcão, Jorge de (2010). “A Costa Portuguesa de Arte-midoro”. In Revista Portuguesa de Arqueologia, 13, p. 107-123. Bueno-Ramírez, Primitiva (1990). Statues-menhirs et Stèles Anthropomorphes de la Péninsule Ibéri-que. L’ Anthropologie, 94, 1. Paris, p. 85-110. Calado, Manuel (1993). Carta Arqueológica do Alan-droal. Câmara Municipal do Alandroal. Calado, Manuel (1997). Cromlechs alentejanos e arte megalítica. Actas do III Colóquio internacional de Arte Megalítica. A Coruña: Museo Arqueoló-xico e Histórico, p. 289-297. Calado, Manuel (2004). Menires do Alentejo Central: Génese e Evolução da paisagem megalítica regio-nal. Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 3 vols. Lisboa: FLUL. Calado, Manuel; Rocha, Leonor (2006). Menires e Neolitização: história da investigação no Algar-ve – Actas do 4.º Encontro de Arqueologia do Algarve. Silves: XELB n.º 7. Caubet, Annie (2002). Naissance de la grande statuaire dans L’Orient ancien. In Philippon, A. (dir.) – Statues-menhirs, dês enigmes de pierre venues du fons dês ages. Rodez: Éditions du Rouergue, p. 224-239. Gomes, Mário Varela (1994). Menires e cromeleques no complexo cultural megalítico português – traba-lhos recentes e estado da questão. Actas do Se-minário “O Megalitismo no Centro de Portugal”. Viseu, p. 317-342. Gomes, Mário Varela (1997a). Megalitismo do Barlaven-to Algarvio – Breve síntese. Setúbal Arqueológica, 11-12. Setúbal: MAEDS. p. 147-190. Gomes, Mário Varela (1997b). Estátuas-menires antro-pomórficas do Alto-Alentejo. Descobertas re-centes e problemática. Brigantium, 10, p. 255-279. Gomes, Mário Varela; Silva, Carlos Tavares da (1987). Levantamento Arqueológico do Algarve. Con-celho de Vila do Bispo. Vila do Bispo: Delegação Regional do Sul, Secretaria de Estado da Cultura. Gomes, Mário Varela; Paulo, Luís Campo (2011). A necrópole visigótica do Padrão (Raposeira, Vila do Bispo). O Arqueólogo Português, 5.ª série, vol. 1. Lisboa: MNA, p. 591-656. Loução, Paulo (2011). Lugares Inesquecíveis de Portugal - Viagens com Alma. Eranos. Moret, Pierre (2003). À propos du papyre d’Artémidore et de la plus ancienne carte d’Espagne. Mélanges de la Casa de Velázquez. 33:1. Madrid, p. 350-354. Soares, Ricardo (2013). A Arrábida no Bronze Fi-nal - a Paisagem e o Homem. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa: FLUL. Veiga, Estacio da (1886). Antiguidades Monumentaes do Algarve - Tempos Prehistoricos, vol. I. Lisboa: Imprensa Nacional. Veiga, Estacio da (1887). Antiguidades Monumentaes do Algarve - Tempos Prehistoricos, vol. II. Lis-boa: Imprensa Nacional. Veiga, Estacio da (1889). Antiguidades Monumentaes do Algarve - Tempos Prehistoricos, vol. III. Lisboa: Imprensa Nacional. Veiga, Estacio da (1891). Antiguidades Monumentaes do Algarve - Tempos Prehistoricos, vol. IV. Lis-boa: Imprensa Nacional. Velhinho, João (2005). Menires de Vila do Bispo - in-ventário/ cartografia. Vila do Bispo: Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Vila do Bispo. Revista Santuários, Cultura, Arte, Romarias, Peregrinações, Paisagens e Pessoas. ISSN 2183-3184. Vol. 1 (2): 189-197.
  • 21. 258