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ARTE E A CULTURA DOS MEMES 
GUILHERME DE LÉO SILVA 
Bacharelando de Ciência da Computação, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Estudante de Jogos Digitais na Universidade Estácio de Sá. 
A literatura estuda e dá nomes a estilos de época tal qual o barroco, o romantismo, entre outros, tentando diversificar e entender os pensamentos, frustrações, desejos e outros aspectos que podem caracterizar períodos históricos diferentes em seu contexto. É mais fácil, contudo, observar características de estilos passados que enxergar características que marquem um momento atual. Muitas vezes porque não paramos para prestar atenção ou ainda porque estamos tão familiarizados com o que vemos, que não o percebemos como momento histórico. No caso do barroco, por exemplo, o homem vivia um conflito interno, de cunho religioso entre o aproveitar a vida e os valores teocêntricos, tal como pode ser visto na definição de Rodrigues, Castro e Teixeira (1979) quanto à poesia “a lo divino” do barroco conceptista e o “carpe diem” do barroco cultista. Isso foi refletido na arte, escrita ou não, uma vez que a arte é na verdade imitação da vida (DANZINGER e JOHNSON, 1974). A história 
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viu estilos rebuscados como o parnasianismo e outros mais “grosseiros”1 como o naturalismo, mas sempre houve espaço para o registro, através da arte, da vazão dos sentimentos humanos e através disso é possível compreender um pouco de cada período. 
Deixando um pouco a história de lado, e parando para pensar nos dias atuais, há um tipo de arte muito popular no mundo cibernético, principalmente entre adolescentes e jovens – não excluindo pessoas de outras faixas etárias – que tem preenchido esse papel de dar vazão aos sentimentos e é de certo modo muito rico: são os memes. 
O termo meme foi criado por Richard Dawkins em seu bestseller “O gene egoísta” (1976) em um contexto diferente, que acabou sendo vinculado ao meio cibernético, e se refere à memória e à idéias com capacidade de se auto-propagar. Este termo ainda, é bem similar, apesar de grandes divergências, do conceito apresentado por Willian S. Burroughs, escritor estado-unidense, que considera a linguagem como um vírus. 
Assim como na definição de memes de Dawkins, os memes de internet são todo tipo de idéias que se propagam rapidamente, geralmente manifestado por expressões; desenhos padronizados, em sua grande maioria de carinhas, e até mesmo vídeos que, dentro de algum contexto, abruptamente se tornaram populares na internet e ganharam valores simbólicos para representar alguma situação ou sentimento, de modo lúdico. Há diversos deles, cada um com seu valor e função. 
Alguns exemplos bem conhecidos de memes são: o Trollface, que tem por significado literal “face de troll” e representa uma pessoa que provoca e caçoa de outras pessoas. Trolls na internet, inicialmente eram denominadas as pessoas que sem motivo aparente avacalhavam com postagens alheias e caçoavam irritantemente outras pessoas. Com o tempo esse termo expandiu-se e hoje em dia pode ser aplicado a qualquer pessoa que, assim como o meme, aplica pegadinhas em outras pessoas para caçoá-las ou mesmo para provocar. 
1 Não em um todo, mas em características e peculiaridades como, por exemplo, o emprego de linguagem simples ou o zoomorfismo que tratava o homem como um ser animal, quase não enxergando diferenças biológicas entre os dois, conforme apresenta Gomes (2007) através do site infoescola. 
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(Trollface2) 
O lol, do inglês laughing out loud que significa rindo fora de controle, é um meme que representa uma pessoa achando graça e, como o próprio nome do meme diz, rindo de algo. 
(Lol²) 
O Yao Ming, ou nem ligo como também é muito conhecido, é um meme criado a partir de uma imagem de um ex-jogador de basquete chinês chamado Yao Ming, que representa o momento em que uma pessoa faz algo, geralmente absurdo, não se preocupando com as consequências de sua ação. É atualmente um dos memes mais populares devido seu ar lúdico e a identificação das pessoas. 
2 Retirado de http://knowyourmeme.com/ - Acesso em: 15/10/2011 
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(Yao Ming²) 
Geralmente os memes são utilizados em forma de tirinhas em quadrinhos, curtas, e a explosão da sua popularidade pode ser atribuída à facilidade de sua confecção. Uma pessoa com domínio básico de manipulação de imagens é capaz de fazer tirinhas e por isso são muitos os blogs a se voltarem para este tipo de conteúdo. As pessoas criam tirinhas com coisas de seu cotidiano: a bronca que tomou de uma professora; o fora que o amigo tomou de uma garota; as brincadeiras na escola, na faculdade, entre tantas outras. Há liberdade total para a expressão dos sentimentos, angústias, desejos etc. 
Possivelmente as tirinhas de memes sejam atualmente desprezadas por pessoas mais eruditas, cultas, por possuírem linguagem nada rebuscada, muitas vezes com erro de ortografia e conteúdo amador, mas será que não é este um estilo de época? Esse questionamento se mostra possível inspirado, por exemplo, no conteúdo de duas tirinhas sobre história da arte, divulgadas no blog intitulado “Não Ligo”, acerca da evolução da arte, que permitem tal reflexão3. Se a função da literatura é registrar o pensamento do homem, escrito pelo próprio homem que viveu aquele período, então a cultura dos memes anda de mãos dadas com a literatura, pois é exatamente o que tem conseguido concretizar. Serão os memes estudados nos livros didáticos de literatura daqui a uma década ou será esta só uma forma de expressão passageira? Está então sendo construída história a partir disso? É difícil precisar 
3 O que é satirizado no conteúdo das tirinhas “História da Arte” e “História da Arte!”, na verdade, é a simplicidade da arte atual, contudo, pode ser compreendido de modo mais profundo se levado para outros parâmetros de interpretação e, inclusive, foi o estopim, em termos de inspiração, para a escrita deste artigo. 
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mas a linguagem contemporânea, através dos memes, parece oportunizar uma valiosa forma de expressão e, quem sabe, de permitir que também esta geração construa história. 
Referências: 
DANZIGER, Marlies K.; JOHNSON, W. Stacy. Introdução ao estudo crítico da literatura. São Paulo: Cultrix, 1974. 
DAWKINS, Richard. O gene egoísta. São Paulo: Companhia das Letras, 2007 
RODRIGUES, A. M.; CASTRO, D. A.de; TEIXEIRA, I. P. Antologia da literatura brasileira: textos comentados. São Paulo: Marco, 1979. 
HISTÓRIA da Arte. Disponível em: <http://www.naoligo.com/kkk/2011/09/historia-da-arte/> Acesso em: 15/11/2011. 
________ História da Arte! Disponível em: <http://www.naoligo.com/kkk/2011/10/historia- da-arte-2/> Acesso em: 15/10/2011. 
GOMES, Cristiana. Naturalismo. Disponível em: <http://www.infoescola.com/literatura/naturalismo/> Publicado em 26/10/2007. 
Recebido em: 30/10/2011 
Aceito em: 16/12/2011 
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  • 2. LABORE Laboratório de Estudos Contemporâneos 131 POLÊM!CA Revista Eletrônica Universidade do Estado do Rio de Janeiro viu estilos rebuscados como o parnasianismo e outros mais “grosseiros”1 como o naturalismo, mas sempre houve espaço para o registro, através da arte, da vazão dos sentimentos humanos e através disso é possível compreender um pouco de cada período. Deixando um pouco a história de lado, e parando para pensar nos dias atuais, há um tipo de arte muito popular no mundo cibernético, principalmente entre adolescentes e jovens – não excluindo pessoas de outras faixas etárias – que tem preenchido esse papel de dar vazão aos sentimentos e é de certo modo muito rico: são os memes. O termo meme foi criado por Richard Dawkins em seu bestseller “O gene egoísta” (1976) em um contexto diferente, que acabou sendo vinculado ao meio cibernético, e se refere à memória e à idéias com capacidade de se auto-propagar. Este termo ainda, é bem similar, apesar de grandes divergências, do conceito apresentado por Willian S. Burroughs, escritor estado-unidense, que considera a linguagem como um vírus. Assim como na definição de memes de Dawkins, os memes de internet são todo tipo de idéias que se propagam rapidamente, geralmente manifestado por expressões; desenhos padronizados, em sua grande maioria de carinhas, e até mesmo vídeos que, dentro de algum contexto, abruptamente se tornaram populares na internet e ganharam valores simbólicos para representar alguma situação ou sentimento, de modo lúdico. Há diversos deles, cada um com seu valor e função. Alguns exemplos bem conhecidos de memes são: o Trollface, que tem por significado literal “face de troll” e representa uma pessoa que provoca e caçoa de outras pessoas. Trolls na internet, inicialmente eram denominadas as pessoas que sem motivo aparente avacalhavam com postagens alheias e caçoavam irritantemente outras pessoas. Com o tempo esse termo expandiu-se e hoje em dia pode ser aplicado a qualquer pessoa que, assim como o meme, aplica pegadinhas em outras pessoas para caçoá-las ou mesmo para provocar. 1 Não em um todo, mas em características e peculiaridades como, por exemplo, o emprego de linguagem simples ou o zoomorfismo que tratava o homem como um ser animal, quase não enxergando diferenças biológicas entre os dois, conforme apresenta Gomes (2007) através do site infoescola. laboreuerj@yahoo.com.br www.polemica.uerj.br Polêm!ca, v. 11, n. 1 , janeiro/março 2012
  • 3. LABORE Laboratório de Estudos Contemporâneos 132 POLÊM!CA Revista Eletrônica Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Trollface2) O lol, do inglês laughing out loud que significa rindo fora de controle, é um meme que representa uma pessoa achando graça e, como o próprio nome do meme diz, rindo de algo. (Lol²) O Yao Ming, ou nem ligo como também é muito conhecido, é um meme criado a partir de uma imagem de um ex-jogador de basquete chinês chamado Yao Ming, que representa o momento em que uma pessoa faz algo, geralmente absurdo, não se preocupando com as consequências de sua ação. É atualmente um dos memes mais populares devido seu ar lúdico e a identificação das pessoas. 2 Retirado de http://knowyourmeme.com/ - Acesso em: 15/10/2011 laboreuerj@yahoo.com.br www.polemica.uerj.br Polêm!ca, v. 11, n. 1 , janeiro/março 2012
  • 4. LABORE Laboratório de Estudos Contemporâneos 133 POLÊM!CA Revista Eletrônica Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Yao Ming²) Geralmente os memes são utilizados em forma de tirinhas em quadrinhos, curtas, e a explosão da sua popularidade pode ser atribuída à facilidade de sua confecção. Uma pessoa com domínio básico de manipulação de imagens é capaz de fazer tirinhas e por isso são muitos os blogs a se voltarem para este tipo de conteúdo. As pessoas criam tirinhas com coisas de seu cotidiano: a bronca que tomou de uma professora; o fora que o amigo tomou de uma garota; as brincadeiras na escola, na faculdade, entre tantas outras. Há liberdade total para a expressão dos sentimentos, angústias, desejos etc. Possivelmente as tirinhas de memes sejam atualmente desprezadas por pessoas mais eruditas, cultas, por possuírem linguagem nada rebuscada, muitas vezes com erro de ortografia e conteúdo amador, mas será que não é este um estilo de época? Esse questionamento se mostra possível inspirado, por exemplo, no conteúdo de duas tirinhas sobre história da arte, divulgadas no blog intitulado “Não Ligo”, acerca da evolução da arte, que permitem tal reflexão3. Se a função da literatura é registrar o pensamento do homem, escrito pelo próprio homem que viveu aquele período, então a cultura dos memes anda de mãos dadas com a literatura, pois é exatamente o que tem conseguido concretizar. Serão os memes estudados nos livros didáticos de literatura daqui a uma década ou será esta só uma forma de expressão passageira? Está então sendo construída história a partir disso? É difícil precisar 3 O que é satirizado no conteúdo das tirinhas “História da Arte” e “História da Arte!”, na verdade, é a simplicidade da arte atual, contudo, pode ser compreendido de modo mais profundo se levado para outros parâmetros de interpretação e, inclusive, foi o estopim, em termos de inspiração, para a escrita deste artigo. laboreuerj@yahoo.com.br www.polemica.uerj.br Polêm!ca, v. 11, n. 1 , janeiro/março 2012
  • 5. LABORE Laboratório de Estudos Contemporâneos 134 POLÊM!CA Revista Eletrônica Universidade do Estado do Rio de Janeiro mas a linguagem contemporânea, através dos memes, parece oportunizar uma valiosa forma de expressão e, quem sabe, de permitir que também esta geração construa história. Referências: DANZIGER, Marlies K.; JOHNSON, W. Stacy. Introdução ao estudo crítico da literatura. São Paulo: Cultrix, 1974. DAWKINS, Richard. O gene egoísta. São Paulo: Companhia das Letras, 2007 RODRIGUES, A. M.; CASTRO, D. A.de; TEIXEIRA, I. P. Antologia da literatura brasileira: textos comentados. São Paulo: Marco, 1979. HISTÓRIA da Arte. Disponível em: <http://www.naoligo.com/kkk/2011/09/historia-da-arte/> Acesso em: 15/11/2011. ________ História da Arte! Disponível em: <http://www.naoligo.com/kkk/2011/10/historia- da-arte-2/> Acesso em: 15/10/2011. GOMES, Cristiana. Naturalismo. Disponível em: <http://www.infoescola.com/literatura/naturalismo/> Publicado em 26/10/2007. Recebido em: 30/10/2011 Aceito em: 16/12/2011 laboreuerj@yahoo.com.br www.polemica.uerj.br Polêm!ca, v. 11, n. 1 , janeiro/março 2012