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BAGDÁ
Bagdá, a capital do Iraque, situada na Mesopotâmia, entre os lendários rios Tigre e Eufrates,
que hoje vive a desgraça de uma das mais cruéis guerras civis de todos os tempos, já foi a
cidade mais rica e culturalmente avançada do mundo, entre os séculos VIII e XIII. Mas agora
virou um problema político tão complicado que nos perguntamos se o gênio da lâmpada
maravilhosa do Aladim de As Mil e Uma Noites conseguiria resolvê-lo. Justamente lá, na época
do esplendor, é que foram reunidas as histórias que compõem esse clássico árabe que
entrelaça narrativas enaltecendo o prazer e a liberdade.
Talvez o mesmo fato de ser rota de comércio e ponto de encontro de povos e culturas
diferentes que produziu seu esplendor esteja produzindo sua queda. O governo que se
estabeleceu depois da invasão de norte-americanos e aliados em 2003 tenta ser uma coalizão
de forças em conflito no país. Nem a guerra civil nem os ataques de fora conseguem acabar
com Bagdá porque ela é uma cidade com 9 milhões de habitantes, a segunda maior do
sudoeste asiático, superada só por Teerã, no Irã. Mas a vida nessa cidade virou um inferno,
com os atentados da guerra civil e das milícias radicais.
Estimulados pelo fundamentalismo religioso, radicais de todos os grupos têm promovido
atentados a bombasuicidas nos mercados e principais pontos de Bagdá, numa guerra civil que
parece ter se tornado crônica – um mundo de pesadelo, que, desde a ocupação, já matou 650
mil pessoas no país, incluindo as mortes por doença causadas pela destruição da infra-
estrutura do país (a estimativa é da Escola de Medicina Al-Mustansiriya, de Bagdá).
O passado de Bagdá, entretanto, parece um sonho de As Mil e Uma Noites. Parte do antigo
Império Persa, que ocupava o Iraque e o Irã, a região em que depois surgiria Bagdá foi tomada
pelos guerreiros árabes em 642 d.C. Em 762 d.C., o califa Al-Mansur decidiu criar, às margens
do Tigre, uma nova capital para o mundo islâmico. Chamou-a de MadinatAl-Salam, ou seja,
“Cidade da Paz”. Cem mil homens trabalharam na construção.
Na virada para os anos800 d.C., Bagdá já era a maior cidade do mundo, com mais de 1 milhão
de habitantes. Então, governada pelo califa Abdul Al Rachid (786-809), começou seu período
áureo, que se estenderia até o século XIII. O comércio (a região era uma rota estratégica de
sedas, jóias e especiarias do Oriente), as ciências, as artes e as letras floresceram, numa época
em que a Europa toda estava bastante atrasada e mandava queimar os livros da Antiguidade.
Havia observatórios astronômicos, escolas de medicina e de direito. A filosofia e a ciência dos
gregos e romanos foram lá preservadas em traduções em árabe.
Conta-se que entre os séculos IX e XIII, Bagdá teve mais de dez mil mesquitas e casas de oração
que serviam também de centros de estudo e atraíam jovens de todo o mundo muçulmano.
Havia 52 bibliotecas públicas e só numa rua existiam cem livrarias. Chegou a ter 60 mil banhos
públicos. Como mostram As Mil e Uma Noites, a vida era mais liberal que nas outras cidades
árabes ou ocidentais da Idade Média.
Sem Bagdá, nosso próprio conhecimento científico estaria atrasado. Foi nessa cidade que
ensinaram mestres como Al-Khwarizmi (que criou a álgebra e de cujo nome deriva a palavra
algarismo). Os matemáticos de Bagdá usavam os algarismos arábicos (atualmente consagrados
no mundo todo) e o zero, que os ocidentais não conheciam (limitavam-se a operações com
algarismos romanos e por isso nosso calendário começa no ano I.) Também ensinaram na
cidade os filósofos Al-Kindi (796-899) e Al-Farabi (870-950, de cujo nome deriva a palavra
alfarrábio, designando “livro”), donos de um conhecimento universal que ajudaram a
recuperar os gregos. Em Bagdá também se desenvolveram as bases da física e da química,
inclusive a tecnologia da destilação.
Apesar de algumas guerras entre dinastias, a prosperidade de Bagdá se manteve até o reinado
do califa Nisir, entre 1180 e 1242. Hulagu Khan, neto de Gêngis Khan, interessou-se pela região
e invadiu Bagdá em 1258. Noventa mil habitantes foram mortos, entre eles o califa Nisir.
Bagdá foi saqueada. Hulagu mandou matar todos os estudiosos da cidade e fez uma pirâmide
com seus crânios.
Em 1400 d.C., outra invasão mongol liderada por Tamerlão voltou a arrasar a cidade. Em 1524
o xá persa Ismail também invadiu e saqueou Bagdá. Dez anos depois, em 1534, a cidade foi
anexada pelos turcos. Em 1650, Bagdá tinha apenas 15 mil habitantes.
A dominação otomana, que viu a cidade crescer de novo, estende-se até a Primeira Guerra
Mundial (1914-1918), quando o império foi dividido e a Liga das Nações passou do domínio do
Iraque para a Inglaterra. Uma monarquia iraquiana favorável aos ingleses foi instalada, mas
acabou derrubada por um golpe militar em 1958. Sucederam-se diversos governos instáveis.
No final dos anos 1960, o petróleo de seus territórios uniu os árabes. Em 1972, o Iraque
nacionalizou seus poços. Pouco depois, Saddam Hussein assumiu a presidência. Aliou-se aos
EUA, que lhe forneceram armamentos, e iniciou uma guerra contra o Irã, que adotara um
governo islâmico fundamentalista e anti-americano. A guerra durou até 1988, sem nenhum
vencedor. Nesse mesmo ano, Hussein ordenou um ataque com armas químicas contra uma
aldeia rebelde em seu próprio país, matando 5 mil pessoas.
Em agosto de 1990, Hussein se indispôs com os EUA, ao invadir o vizinho Kuwait, acusado
debaixar o preço do petróleo. Os EUA e seus aliados decretaram embargo comercial contra o
Iraque. Em 1991, forças coligadas de 30 países, liderados pelos EUA, invadiram o país. Foi a
chamada Guerra do Golfo. O Iraque seria derrotado a um custo de 100 mil soldados mortos e 7
mil civis, ante 510 baixas das forças de coalizão. Conflitos continuariam até 1994, quando o
Iraque reconheceu a soberania do Kuwait. O embargo foi suavizado, mas a situação continuou
tensa.
Depois de 2001, com os ataques terroristas contra os EUA realizados pela facção
fundamentalista Al-Quaeda, acobertada pelo governo talibã do Afeganistão, a reação dos
americanos afetaria de novo o Iraque. Além de invadir o Afeganistão e derrubar o grupo
terrorista que havia tomado o poder, os americanos se voltaram contra o vizinho Sadam
Hussein, também acusado de colaborar com os terroristas e de armazenar armas químicas.
Americanos e britânicos decidem invadir o Iraque no começo de 2003, junto com outras forças
internacionais aliadas. Bagdá é conquistada pelos EUA e seus aliados no dia 9 de abril. Um
governo de coalizão foi formado. Saddam Hussein passou para a clandestinidade, mas acabou
preso e condenado à morte pela Justiça iraquiana em 2006. As alegadas armas químicas não
foram encontradas, mas os EUA mantém um exército de ocupação de mais de 30 mil homens
no Iraque.
Bagdá, entretanto, está minada por vários grupos terroristas (partidários de Hussein, curdos,
talibãs,outros oposicionistas que não concordam com o governo pró-EUA, fundamentalistas
da Al-Quaeda, facções islâmicas radicais...). Além dos atentados nas ruas, o clima político é de
animosidade. Em dezembro de 2008, por exemplo, George Bush foi alvejado por um sapato
atirado pelo jornalista iraquianoMuntazer al-Zaidi, da rede de televisão Al-Baghdadiya. O
presidente dos EUA, Barack Obama, prometeu retirar as tropas de ocupação até 2011.
Desde o início da ocupação, quase 5 mil soldados americanos foram mortos. Nesse clima
instável, aAustrália resolveu retirar suas tropas e a Inglaterra também reduziu o número de
soldados no país (de 5,5 mil para menos de mil).
Os atentados terroristas visando derrubar o governo estabelecido são uma ameaça de morte
que paira nas ruas, templos e mercados. Saído de uma ditadura, o pais não conseguiu ainda
formar uma coalizão entre as regiões controladas por povos diferentes, como os curdos ao
norte, e conflitantes correntes do islamismo: xiitas (pobres, mas controlando áreas com
petróleo e agora politicamente dominantes) e sunitas (que controlam áreas pobres e sem
petróleo, mas já tiveram cargos no governo).
Recentemente, no dia 25 de outubro de 2009, dois ônibus-bomba explodiram
simultaneamente na frente do edifício do governo de Bagdá, perto do Hotel Mansur, e nas
proximidades do Ministério da Justiça, no bairro de Al-Salehiya, consideradas as áreas mais
seguras da cidade. Foram mortas 132 pessoas e 520 ficaram feridas, a maioria transeuntes. O
clima é de fanatismo dominante: um mês depois, no dia 24 de novembro, um religioso de uma
mesquita foi morto por uma bomba em seu carro que matou também um civil no bairro de Al-
Dora, região sul de Bagdá. A “Cidade da Paz” transformou-se na capital do Apocalipse. Algumas
ruas muito povoadas, como a Haifa, tornaram-se esconderijos de insurgentes. Bombas abriram
buracos na Avenida Al-Rachid.
Embora Bagdá seja uma metrópole, cujo comércio local e internacional nem a guerra civil
consegue interromper, a glória passada não passa de uma sombra nos escombros de
mesquitas, escolas, palácios e museus. Dá para lembrar um velho ditado que corria pela cidade
no século XIII: “Quando tudo o mais foi destruído, só resta a cultura”.

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Bagdá, capital do Iraque entre esplendor e ruína

  • 1. BAGDÁ Bagdá, a capital do Iraque, situada na Mesopotâmia, entre os lendários rios Tigre e Eufrates, que hoje vive a desgraça de uma das mais cruéis guerras civis de todos os tempos, já foi a cidade mais rica e culturalmente avançada do mundo, entre os séculos VIII e XIII. Mas agora virou um problema político tão complicado que nos perguntamos se o gênio da lâmpada maravilhosa do Aladim de As Mil e Uma Noites conseguiria resolvê-lo. Justamente lá, na época do esplendor, é que foram reunidas as histórias que compõem esse clássico árabe que entrelaça narrativas enaltecendo o prazer e a liberdade. Talvez o mesmo fato de ser rota de comércio e ponto de encontro de povos e culturas diferentes que produziu seu esplendor esteja produzindo sua queda. O governo que se estabeleceu depois da invasão de norte-americanos e aliados em 2003 tenta ser uma coalizão de forças em conflito no país. Nem a guerra civil nem os ataques de fora conseguem acabar com Bagdá porque ela é uma cidade com 9 milhões de habitantes, a segunda maior do sudoeste asiático, superada só por Teerã, no Irã. Mas a vida nessa cidade virou um inferno, com os atentados da guerra civil e das milícias radicais. Estimulados pelo fundamentalismo religioso, radicais de todos os grupos têm promovido atentados a bombasuicidas nos mercados e principais pontos de Bagdá, numa guerra civil que parece ter se tornado crônica – um mundo de pesadelo, que, desde a ocupação, já matou 650 mil pessoas no país, incluindo as mortes por doença causadas pela destruição da infra- estrutura do país (a estimativa é da Escola de Medicina Al-Mustansiriya, de Bagdá). O passado de Bagdá, entretanto, parece um sonho de As Mil e Uma Noites. Parte do antigo Império Persa, que ocupava o Iraque e o Irã, a região em que depois surgiria Bagdá foi tomada pelos guerreiros árabes em 642 d.C. Em 762 d.C., o califa Al-Mansur decidiu criar, às margens do Tigre, uma nova capital para o mundo islâmico. Chamou-a de MadinatAl-Salam, ou seja, “Cidade da Paz”. Cem mil homens trabalharam na construção. Na virada para os anos800 d.C., Bagdá já era a maior cidade do mundo, com mais de 1 milhão de habitantes. Então, governada pelo califa Abdul Al Rachid (786-809), começou seu período áureo, que se estenderia até o século XIII. O comércio (a região era uma rota estratégica de sedas, jóias e especiarias do Oriente), as ciências, as artes e as letras floresceram, numa época em que a Europa toda estava bastante atrasada e mandava queimar os livros da Antiguidade. Havia observatórios astronômicos, escolas de medicina e de direito. A filosofia e a ciência dos gregos e romanos foram lá preservadas em traduções em árabe. Conta-se que entre os séculos IX e XIII, Bagdá teve mais de dez mil mesquitas e casas de oração que serviam também de centros de estudo e atraíam jovens de todo o mundo muçulmano. Havia 52 bibliotecas públicas e só numa rua existiam cem livrarias. Chegou a ter 60 mil banhos públicos. Como mostram As Mil e Uma Noites, a vida era mais liberal que nas outras cidades árabes ou ocidentais da Idade Média. Sem Bagdá, nosso próprio conhecimento científico estaria atrasado. Foi nessa cidade que ensinaram mestres como Al-Khwarizmi (que criou a álgebra e de cujo nome deriva a palavra algarismo). Os matemáticos de Bagdá usavam os algarismos arábicos (atualmente consagrados
  • 2. no mundo todo) e o zero, que os ocidentais não conheciam (limitavam-se a operações com algarismos romanos e por isso nosso calendário começa no ano I.) Também ensinaram na cidade os filósofos Al-Kindi (796-899) e Al-Farabi (870-950, de cujo nome deriva a palavra alfarrábio, designando “livro”), donos de um conhecimento universal que ajudaram a recuperar os gregos. Em Bagdá também se desenvolveram as bases da física e da química, inclusive a tecnologia da destilação. Apesar de algumas guerras entre dinastias, a prosperidade de Bagdá se manteve até o reinado do califa Nisir, entre 1180 e 1242. Hulagu Khan, neto de Gêngis Khan, interessou-se pela região e invadiu Bagdá em 1258. Noventa mil habitantes foram mortos, entre eles o califa Nisir. Bagdá foi saqueada. Hulagu mandou matar todos os estudiosos da cidade e fez uma pirâmide com seus crânios. Em 1400 d.C., outra invasão mongol liderada por Tamerlão voltou a arrasar a cidade. Em 1524 o xá persa Ismail também invadiu e saqueou Bagdá. Dez anos depois, em 1534, a cidade foi anexada pelos turcos. Em 1650, Bagdá tinha apenas 15 mil habitantes. A dominação otomana, que viu a cidade crescer de novo, estende-se até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando o império foi dividido e a Liga das Nações passou do domínio do Iraque para a Inglaterra. Uma monarquia iraquiana favorável aos ingleses foi instalada, mas acabou derrubada por um golpe militar em 1958. Sucederam-se diversos governos instáveis. No final dos anos 1960, o petróleo de seus territórios uniu os árabes. Em 1972, o Iraque nacionalizou seus poços. Pouco depois, Saddam Hussein assumiu a presidência. Aliou-se aos EUA, que lhe forneceram armamentos, e iniciou uma guerra contra o Irã, que adotara um governo islâmico fundamentalista e anti-americano. A guerra durou até 1988, sem nenhum vencedor. Nesse mesmo ano, Hussein ordenou um ataque com armas químicas contra uma aldeia rebelde em seu próprio país, matando 5 mil pessoas. Em agosto de 1990, Hussein se indispôs com os EUA, ao invadir o vizinho Kuwait, acusado debaixar o preço do petróleo. Os EUA e seus aliados decretaram embargo comercial contra o Iraque. Em 1991, forças coligadas de 30 países, liderados pelos EUA, invadiram o país. Foi a chamada Guerra do Golfo. O Iraque seria derrotado a um custo de 100 mil soldados mortos e 7 mil civis, ante 510 baixas das forças de coalizão. Conflitos continuariam até 1994, quando o Iraque reconheceu a soberania do Kuwait. O embargo foi suavizado, mas a situação continuou tensa. Depois de 2001, com os ataques terroristas contra os EUA realizados pela facção fundamentalista Al-Quaeda, acobertada pelo governo talibã do Afeganistão, a reação dos americanos afetaria de novo o Iraque. Além de invadir o Afeganistão e derrubar o grupo terrorista que havia tomado o poder, os americanos se voltaram contra o vizinho Sadam Hussein, também acusado de colaborar com os terroristas e de armazenar armas químicas. Americanos e britânicos decidem invadir o Iraque no começo de 2003, junto com outras forças internacionais aliadas. Bagdá é conquistada pelos EUA e seus aliados no dia 9 de abril. Um governo de coalizão foi formado. Saddam Hussein passou para a clandestinidade, mas acabou preso e condenado à morte pela Justiça iraquiana em 2006. As alegadas armas químicas não
  • 3. foram encontradas, mas os EUA mantém um exército de ocupação de mais de 30 mil homens no Iraque. Bagdá, entretanto, está minada por vários grupos terroristas (partidários de Hussein, curdos, talibãs,outros oposicionistas que não concordam com o governo pró-EUA, fundamentalistas da Al-Quaeda, facções islâmicas radicais...). Além dos atentados nas ruas, o clima político é de animosidade. Em dezembro de 2008, por exemplo, George Bush foi alvejado por um sapato atirado pelo jornalista iraquianoMuntazer al-Zaidi, da rede de televisão Al-Baghdadiya. O presidente dos EUA, Barack Obama, prometeu retirar as tropas de ocupação até 2011. Desde o início da ocupação, quase 5 mil soldados americanos foram mortos. Nesse clima instável, aAustrália resolveu retirar suas tropas e a Inglaterra também reduziu o número de soldados no país (de 5,5 mil para menos de mil). Os atentados terroristas visando derrubar o governo estabelecido são uma ameaça de morte que paira nas ruas, templos e mercados. Saído de uma ditadura, o pais não conseguiu ainda formar uma coalizão entre as regiões controladas por povos diferentes, como os curdos ao norte, e conflitantes correntes do islamismo: xiitas (pobres, mas controlando áreas com petróleo e agora politicamente dominantes) e sunitas (que controlam áreas pobres e sem petróleo, mas já tiveram cargos no governo). Recentemente, no dia 25 de outubro de 2009, dois ônibus-bomba explodiram simultaneamente na frente do edifício do governo de Bagdá, perto do Hotel Mansur, e nas proximidades do Ministério da Justiça, no bairro de Al-Salehiya, consideradas as áreas mais seguras da cidade. Foram mortas 132 pessoas e 520 ficaram feridas, a maioria transeuntes. O clima é de fanatismo dominante: um mês depois, no dia 24 de novembro, um religioso de uma mesquita foi morto por uma bomba em seu carro que matou também um civil no bairro de Al- Dora, região sul de Bagdá. A “Cidade da Paz” transformou-se na capital do Apocalipse. Algumas ruas muito povoadas, como a Haifa, tornaram-se esconderijos de insurgentes. Bombas abriram buracos na Avenida Al-Rachid. Embora Bagdá seja uma metrópole, cujo comércio local e internacional nem a guerra civil consegue interromper, a glória passada não passa de uma sombra nos escombros de mesquitas, escolas, palácios e museus. Dá para lembrar um velho ditado que corria pela cidade no século XIII: “Quando tudo o mais foi destruído, só resta a cultura”.