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Lucíola
ucíola, ficção urbana de Alencar publicada em
1862, possui uma crítica da sociedade. Crítica
esta que não se faz apenas através do relato do
narrador, mas como também está presente
indiretamente através das atitudes e valores
mostrados pelos personagens. Lucíola
apresenta uma transgressão à visão romântica
da mulher amada – Lúcia não é submissa, ao
contrário, é excêntrica e com vontades. Porém,
no desfecho, apresenta atitudes tipicamente da
visão romântica.
O livro conta a história romântica de Lucíola e Paulo. Lucíola é uma
cortesã de luxo do RJ em 1855. E Paulo um rapaz do interior que veio para
o Rio para conhecer a Corte.
Na primeira vez que Paulo viu Lúcia, julgou ela como meiga e angélica,
mesmo seu amigo Couto contando barbaridades sobre ela e revelando a
sua verdadeira profissão, Paulo manteve essa imagem em seu coração.
Descobrindo sua casa, Paulo foi visitá-la, e sendo as circunstâncias
favoráveis, ela entregou-se a ele como no mais belo ato. Depois disto,
Lúcia passou a ser vulgar e mesquinha, desprezando o amor de Paulo,
bem como havia dito Couto a respeito dos modos da moça.
Paulo então viu Lúcia com outros homens, como Jacinto, e sentiu
ciúmes, mas Lúcia justificou alegando ser ele apenas um negociante.
Em uma festa a que tanto Paulo quanto Lúcia estavam presentes, todos
os convidados beberam e jogaram a vontade, tanto os homens quanto
as mulheres. Nas paredes havia quadros de mulheres nuas, e como era
Lúcia uma prostituta, a pedido e pagamento dos cavalheiros, ela ficou
nua diante dos presentes.
Para Paulo aquela não era a imagem que ele havia visto na casa e na
cama de Lúcia, esta era repugnante e vulgar, aquela bela e fantástica,
não era Lúcia que ali estava, aquela jovem meiga que conhecera, e sim
Lucíola, a prostituta mais cobiçada do Rio de Janeiro.Então Paulo
retirou-se, alegando que já havia visto paisagens melhores.
Lúcia arrependeu-se do que fez e eles se reconciliaram. Paulo a
amava desesperadamente de forma bela e pura, Lúcia em seus
conturbados sentimentos, decidiu então dedicar-se inteiramente a
esse amor para que sua alma fosse purificada por ele.
Então vendeu sua luxuosa casa e foi morar em uma menor e mais
modesta. E contou a Paulo sua história:
Seu nome verdadeiro era Maria da Glória e, quando em 1850 houve
um surto de febre amarela, toda sua família caiu doente, do pai à
irmãzinha.
Para poder pagar os medicamentos necessários para salvá-los, Lúcia
se deixou levar por Couto, quem a partir disso ela passou a
desprezar profundamente. Nessa época ela tinha 14 anos, e seu pai,
ao descobrir, a expulsou de casa. Ela fingiu então sua própria morte
quando sua amiga Lúcia morreu, e assumiu este nome.
Agora, com o dinheiro que conseguia, pagava os estudos de Ana,
sua irmã mais nova. Paulo ficou muito comovido com a historia de
Lúcia. Ele sempre a visitava e numa noite de amor ela engravidou,
mas adoeceu. Lúcia acreditava que a doença era devido ao fato de
seu corpo não ser puro.
Confessou seu amor a Paulo e que pertencia a ele, queria que Paulo
casasse com Ana, que tinha vindo morar com eles. Paulo recusou-se
assim como Lúcia também recusou o aborto. E por isso ela morreu.
Após 5 anos, Ana passou a ser como uma filha para Paulo, que a
amparava. E 6 anos depois da morte de Lúcia, Ana casou-se com um
homem de bem e Paulo continuou triste com a morte do único amor
da sua vida.
A obra Lucíola se enquadra nos chamados romances urbanos de Alencar,
onde o cotidiano e os costumes de uma sociedade burguesa são
relatados. Na literatura desse momento, a figura principal do
Romantismo deixa de ser o índio, a natureza, e passa a ser o povo, com
suas mazelas e suas virtudes, procurando reafirmar o recente
independente país.
O narrador Paulo é também um dos personagens principais. Porém, a
obra peculiar de Alencar possui um narrador que não apresenta uma
visão crítica em relação aos acontecimentos. Ao decorrer da narração,
Paulo parece reviver a emoção dos momentos que teve com Lúcia.
A narração feita em primeira pessoa torna-se assim limitada,
uma vez que parte sob a perspectiva pessoal de Paulo. Ou seja,
não há o distanciamento dos fatos enquanto narrador. Além
disso, como estratégia do autor, a história entre Lúcia e Paulo é
contada através de uma carta entregue à senhora G.M. para
que Paulo não levasse a culpa de publicar o romance e ser mal
visto por se envolver com uma cortesã, diante de uma
sociedade preconceituosa. Ele também se revela
preconceituoso, pois se recusa a contar a sua história.
De outro lado, há Lúcia. A Cortesã é cobiçada pela sua beleza e vive
numa sociedade que a julga preconceituosamente, até encontrar Paulo,
o único capaz de enxergar além das aparências. Já no primeiro encontro,
Lúcia diz que ele a purificou com seu olhar e, a partir das visitas de
Paulo, ela se distancia cada vez mais da vida de cortesã e se reaproxima
de sua origem, enquanto Maria da Glória. Nessa dualidade de Lúcia,
podemos enxergar a dicotomia entre os valores cristãos, de pureza,
calma, bondade, e os valores do mundo da libertinagem. A personagem
busca a autopiedade e o esquecimento do seu passado, porém não
consegue, uma vez que a sociedade não perdoa seus atos. Sendo assim,
não existiria alternativa para o desfecho e salvação de Lúcia, a não ser a
morte.
Maria Firmino dos Reis
Mulher negra, professora, participante ativa da vida
política e intelectual do Maranhão, autora de livros,
poemas e contos, além de compositora do hino de
libertação dos escravos do estado, Maria Firmina dos Reis
tem em seu currículo feitos suficientes para circular entre
as figuras mais importantes do país. Ela foi a fundadora
da primeira escola mista de educação gratuita e é
considerada a primeira romancista brasileira, mas faleceu
pobre, cega e esquecida aos 92 anos, quando seu rosto
foi trocado pelo de Maria Benedita Bormann, também
escritora, porém gaúcha e branca, e sua voz
permaneceria nas sombras por cerca de um século.
Em 1859, usando o pseudônimo uma maranhense, a autora lança aquele que
seria considerado o primeiro romance brasileiro escrito por uma mulher e
também o primeiro romance abolicionista em língua portuguesa. No entanto,
sua obra e boa parte de seus dados biográficos foram perdidos quando seu
filho, Leude Guimarães, sofreu um assalto.
Úrsula e sua criadora só reapareceram em 1962, quando o pesquisador
Horácio de Almeida encontraria um exemplar da primeira (e até então, única)
edição do romance junto a um lote de livros usados que adquiriu em um
sebo. Treze anos depois, é também ele o responsável pelo prefácio e
lançamento do fac-símile do livro. Em 2017, por conta do centenário de sua
morte, a vida e obra de Maria Firmina dos Reis ganharia destaque e toda uma
leva de novas edições, pesquisas, artigos e homenagens.
Ficha técnica:
Título: Úrsula
Autora: Maria Firmina
Ano de publicação: 1859
Nacionalidade: Brasileiro
Foco narrativo: 3° pessoa
Número de páginas: cerca de 150 (depende da edição)
Número de capítulos: 20
Movimento literário: Época do Romantismo, mas a obra apresenta algumas
características únicas.
Úrsula é uma obra icônica desde sua origem: é considerado o primeiro
romance escrito por uma mulher,no Brasil. Além disso, também é um
romance precursor da temática abolicionista, pois é anterior até mesmo à
poesia de Castro Alves.
Ainda pode ser visto como o primeiro romance da literatura afro-brasileira,
cujo conceito é: produção de autoria afro-descendente que retrata o negro a
partir de uma perspectiva interna. Isso porque Maria Firmina nasceu filha de
um branco com uma negra, sendo, portanto, afrodescendente.
A autora, sabendo de sua posição social no século XIX, já diz logo no prólogo
do livro:
“Pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher
brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos
homens ilustrados.”
Também por este motivo, na obra original, ela publicou utilizando o
pseudônimo “uma maranhense”.
A obra possui um narrador em terceira pessoa que inicia a narrativa
mostrando ao leitor a paisagem exuberante onde se passará a história.
Utiliza uma linguagem poética, por meio da qual a ambientação natural
é vista em quase toda a obra, salvo algumas exceções em que se
mostra o pequeno vilarejo. A protagonista vive nesse ambiente natural
passado no campo.
O romance inicia-se com Túlio, um cativo genuinamente negro (a
escritora não tentou fazê-lo parecer um “negro de alma branca”)
que salvou a vida de Tancredo, um cidadão de família rica. A partir
deste fato, o narrador deixa claro que apesar das diferenças
ambos compartilham o mesmo espírito bondoso.
Quando questionado sobre a melhor forma de ser recompensado,
Túlio afirma só desejar que os escravos que cruzarem o caminho
de Tancredo sejam tratados com respeito.
Tancredo não só concorda como se mostra incomodado com a situação
daquele que o salvou e de seus iguais. Mais que agradecimento, como
forma de carinho com aquele que chamou de amigo, também devolveu a
Túlio sua liberdade. A partir deste momento, por carinho, gratidão e
ingenuidade, Túlio vê-se ligado ao companheiro de alma, Tancredo, e o
segue até seu infeliz fim.
Portanto, as falas de Túlio são usadas como denúncia. A atuação de sua
personagem não para por aí, ele passa a ser ouvinte e transmissor da
história de Suzana e Antero. Suzana, a segunda que compõe o trio, é uma
mulher que foi retirada de sua África, separada de marido, filhos e família.
Foi jogada em um navio negreiro e presenciou as mais terríveis
desumanidades.
Sua história é a representação do processo da diáspora negra:
começando com a vida comum em sua terra, passando pelo relato
doloroso do navio e fazendo o trajeto que tinha como destino a
escravidão no Brasil. Tudo isso é descrito de uma forma que só a
sensibilidade feminina seria capaz de captar, fazendo o leitor ter
empatia.
Antero, o terceiro negro presente, já traz uma abordagem que fala sobre
a África marcada pelo trabalho duro e, também, suas festas e
comemorações culturais. Ele era um velho guardião que, agora escravo,
trabalhava sem descanso e encontrou na bebida uma forma de suportar
as condições de sua existência.
Apesar de não ser descrito da mesma forma sutil que os outros dois,
Antero não é representado como alguém impiedoso, mas como vítima. É
retratado como alguém que encontrou na falta de sobriedade e de
obediência, as formas de garantir a sua própria sobrevivência.
Servindo como pano de fundo de toda a crítica, surge o amor entre Tancredo
e Úrsula. Úrsula é descrita como doce, bela e cheia de compaixão, não possui
pai e divide a solidão com sua mãe doente. No terceiro capítulo, há a
declaração da verdadeira paixão entre o casal, mas há um obstáculo:
O tio da moça, Fernando P., é um homem desprezível. Possui olhar sinistro,
violento e rancoroso. Ele cometeu crimes e maltratou sua irmã – a mãe de
Úrsula, apenas para poder ter a menina para si. Além disso, é caracterizado
como vilão também pela forma com que tratava seus escravos.
Aparentemente, é uma clássica história de amor impossível: uma moça pobre
e um homem de família rica, assim como muitas de seu tempo. Porém, logo se
nota que as preocupações presentes no romance são outras.
Apesar de ter sido escrito num período de nacionalismo exacerbado, destoa
desse momento já que não foca na ideia de indivíduos formados para a
nação. Além disso, o modo como mulheres e negros são retratados,
também confrontam alguns pontos da mentalidade da época.
Ao final, enlouquecido de ciúmes, o tio vilão mata Tancredo na noite do
casamento deste com Úrsula. Isso provocou a loucura e o falecimento de
Úrsula que, por sua vez, gerou um remorso enorme em Fernando P. Com
esse fato, ele começou a se afastar de sua antiga personalidade e desejar a
morte. Contudo, antes de morrer, chegou a libertar seus escravos e até ficar
recluso em um convento.
Úrsula é mais do que uma história de amor (ou um triângulo amoroso).
Perdoados os exageros próprios do Romantismo (o sofrimento amoroso que
pode levar à morte, a religiosidade, a culpa), é evidente a forte crítica à
escravidão. Maria Firmina dos Reis não romantiza a chegada dos africanos ao
Brasil: não insinua que eles chegaram por vontade própria, como alguns ainda
defendem, mas forçados a se separar de seus lares e de sua família,
destituídos de sua liberdade.
Em tempos em que se sustenta o esquecimento do passado, Úrsula é um livro
necessário para se compreender aquele período histórico, que não pode ser
simplesmente removido de nossa memória. Suas consequências sobrevivem e
jamais serão superadas se continuarmos fingindo sua inexistência.
Chimamanda Ngozi Adichie começa o TED O Perigo da História Única falando
sobre como somos vulneráveis às histórias que temos e ouvimos; como, quando
crianças, construímos nossas fantasias e ficções através delas, mesmo não
encontrando nenhum elemento que possa ser relacionado à vida que vivemos e
às pessoas que fazem parte do nosso dia a dia. Por tempo demais nossos
clássicos e “livros essenciais” foram compostos por uma única história, por um
único traço por uma única voz. Embranquecemos escritores para que esses
coubessem na única caixa disponível, esquecemos e apagamos narrativas que
nos mostravam a maldade, a desigualdade e as contradições do tal “homem
cordial”; silenciamos mulheres com aventais e um destino coletivo, trancamos
homossexuais em armários, isolamos indígenas e, assim, perdemos todo um
mundo de contos, crônicas, romances, poesias e outras artes, perdemos a
potencialidade dessas vidas. Hoje, mais do que nunca, temos a oportunidade e o
dever de ouvir outras vozes e de olhar e reescrever nossa história pelos mais
diversos ângulos.

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PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
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Iracema e Ursula.pdf

  • 1. Lucíola ucíola, ficção urbana de Alencar publicada em 1862, possui uma crítica da sociedade. Crítica esta que não se faz apenas através do relato do narrador, mas como também está presente indiretamente através das atitudes e valores mostrados pelos personagens. Lucíola apresenta uma transgressão à visão romântica da mulher amada – Lúcia não é submissa, ao contrário, é excêntrica e com vontades. Porém, no desfecho, apresenta atitudes tipicamente da visão romântica.
  • 2. O livro conta a história romântica de Lucíola e Paulo. Lucíola é uma cortesã de luxo do RJ em 1855. E Paulo um rapaz do interior que veio para o Rio para conhecer a Corte. Na primeira vez que Paulo viu Lúcia, julgou ela como meiga e angélica, mesmo seu amigo Couto contando barbaridades sobre ela e revelando a sua verdadeira profissão, Paulo manteve essa imagem em seu coração. Descobrindo sua casa, Paulo foi visitá-la, e sendo as circunstâncias favoráveis, ela entregou-se a ele como no mais belo ato. Depois disto, Lúcia passou a ser vulgar e mesquinha, desprezando o amor de Paulo, bem como havia dito Couto a respeito dos modos da moça.
  • 3. Paulo então viu Lúcia com outros homens, como Jacinto, e sentiu ciúmes, mas Lúcia justificou alegando ser ele apenas um negociante. Em uma festa a que tanto Paulo quanto Lúcia estavam presentes, todos os convidados beberam e jogaram a vontade, tanto os homens quanto as mulheres. Nas paredes havia quadros de mulheres nuas, e como era Lúcia uma prostituta, a pedido e pagamento dos cavalheiros, ela ficou nua diante dos presentes. Para Paulo aquela não era a imagem que ele havia visto na casa e na cama de Lúcia, esta era repugnante e vulgar, aquela bela e fantástica, não era Lúcia que ali estava, aquela jovem meiga que conhecera, e sim Lucíola, a prostituta mais cobiçada do Rio de Janeiro.Então Paulo retirou-se, alegando que já havia visto paisagens melhores.
  • 4. Lúcia arrependeu-se do que fez e eles se reconciliaram. Paulo a amava desesperadamente de forma bela e pura, Lúcia em seus conturbados sentimentos, decidiu então dedicar-se inteiramente a esse amor para que sua alma fosse purificada por ele. Então vendeu sua luxuosa casa e foi morar em uma menor e mais modesta. E contou a Paulo sua história: Seu nome verdadeiro era Maria da Glória e, quando em 1850 houve um surto de febre amarela, toda sua família caiu doente, do pai à irmãzinha.
  • 5. Para poder pagar os medicamentos necessários para salvá-los, Lúcia se deixou levar por Couto, quem a partir disso ela passou a desprezar profundamente. Nessa época ela tinha 14 anos, e seu pai, ao descobrir, a expulsou de casa. Ela fingiu então sua própria morte quando sua amiga Lúcia morreu, e assumiu este nome. Agora, com o dinheiro que conseguia, pagava os estudos de Ana, sua irmã mais nova. Paulo ficou muito comovido com a historia de Lúcia. Ele sempre a visitava e numa noite de amor ela engravidou, mas adoeceu. Lúcia acreditava que a doença era devido ao fato de seu corpo não ser puro.
  • 6. Confessou seu amor a Paulo e que pertencia a ele, queria que Paulo casasse com Ana, que tinha vindo morar com eles. Paulo recusou-se assim como Lúcia também recusou o aborto. E por isso ela morreu. Após 5 anos, Ana passou a ser como uma filha para Paulo, que a amparava. E 6 anos depois da morte de Lúcia, Ana casou-se com um homem de bem e Paulo continuou triste com a morte do único amor da sua vida.
  • 7. A obra Lucíola se enquadra nos chamados romances urbanos de Alencar, onde o cotidiano e os costumes de uma sociedade burguesa são relatados. Na literatura desse momento, a figura principal do Romantismo deixa de ser o índio, a natureza, e passa a ser o povo, com suas mazelas e suas virtudes, procurando reafirmar o recente independente país. O narrador Paulo é também um dos personagens principais. Porém, a obra peculiar de Alencar possui um narrador que não apresenta uma visão crítica em relação aos acontecimentos. Ao decorrer da narração, Paulo parece reviver a emoção dos momentos que teve com Lúcia.
  • 8. A narração feita em primeira pessoa torna-se assim limitada, uma vez que parte sob a perspectiva pessoal de Paulo. Ou seja, não há o distanciamento dos fatos enquanto narrador. Além disso, como estratégia do autor, a história entre Lúcia e Paulo é contada através de uma carta entregue à senhora G.M. para que Paulo não levasse a culpa de publicar o romance e ser mal visto por se envolver com uma cortesã, diante de uma sociedade preconceituosa. Ele também se revela preconceituoso, pois se recusa a contar a sua história.
  • 9. De outro lado, há Lúcia. A Cortesã é cobiçada pela sua beleza e vive numa sociedade que a julga preconceituosamente, até encontrar Paulo, o único capaz de enxergar além das aparências. Já no primeiro encontro, Lúcia diz que ele a purificou com seu olhar e, a partir das visitas de Paulo, ela se distancia cada vez mais da vida de cortesã e se reaproxima de sua origem, enquanto Maria da Glória. Nessa dualidade de Lúcia, podemos enxergar a dicotomia entre os valores cristãos, de pureza, calma, bondade, e os valores do mundo da libertinagem. A personagem busca a autopiedade e o esquecimento do seu passado, porém não consegue, uma vez que a sociedade não perdoa seus atos. Sendo assim, não existiria alternativa para o desfecho e salvação de Lúcia, a não ser a morte.
  • 10. Maria Firmino dos Reis Mulher negra, professora, participante ativa da vida política e intelectual do Maranhão, autora de livros, poemas e contos, além de compositora do hino de libertação dos escravos do estado, Maria Firmina dos Reis tem em seu currículo feitos suficientes para circular entre as figuras mais importantes do país. Ela foi a fundadora da primeira escola mista de educação gratuita e é considerada a primeira romancista brasileira, mas faleceu pobre, cega e esquecida aos 92 anos, quando seu rosto foi trocado pelo de Maria Benedita Bormann, também escritora, porém gaúcha e branca, e sua voz permaneceria nas sombras por cerca de um século.
  • 11. Em 1859, usando o pseudônimo uma maranhense, a autora lança aquele que seria considerado o primeiro romance brasileiro escrito por uma mulher e também o primeiro romance abolicionista em língua portuguesa. No entanto, sua obra e boa parte de seus dados biográficos foram perdidos quando seu filho, Leude Guimarães, sofreu um assalto. Úrsula e sua criadora só reapareceram em 1962, quando o pesquisador Horácio de Almeida encontraria um exemplar da primeira (e até então, única) edição do romance junto a um lote de livros usados que adquiriu em um sebo. Treze anos depois, é também ele o responsável pelo prefácio e lançamento do fac-símile do livro. Em 2017, por conta do centenário de sua morte, a vida e obra de Maria Firmina dos Reis ganharia destaque e toda uma leva de novas edições, pesquisas, artigos e homenagens.
  • 12. Ficha técnica: Título: Úrsula Autora: Maria Firmina Ano de publicação: 1859 Nacionalidade: Brasileiro Foco narrativo: 3° pessoa Número de páginas: cerca de 150 (depende da edição) Número de capítulos: 20 Movimento literário: Época do Romantismo, mas a obra apresenta algumas características únicas.
  • 13. Úrsula é uma obra icônica desde sua origem: é considerado o primeiro romance escrito por uma mulher,no Brasil. Além disso, também é um romance precursor da temática abolicionista, pois é anterior até mesmo à poesia de Castro Alves. Ainda pode ser visto como o primeiro romance da literatura afro-brasileira, cujo conceito é: produção de autoria afro-descendente que retrata o negro a partir de uma perspectiva interna. Isso porque Maria Firmina nasceu filha de um branco com uma negra, sendo, portanto, afrodescendente. A autora, sabendo de sua posição social no século XIX, já diz logo no prólogo do livro:
  • 14. “Pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados.” Também por este motivo, na obra original, ela publicou utilizando o pseudônimo “uma maranhense”.
  • 15. A obra possui um narrador em terceira pessoa que inicia a narrativa mostrando ao leitor a paisagem exuberante onde se passará a história. Utiliza uma linguagem poética, por meio da qual a ambientação natural é vista em quase toda a obra, salvo algumas exceções em que se mostra o pequeno vilarejo. A protagonista vive nesse ambiente natural passado no campo.
  • 16. O romance inicia-se com Túlio, um cativo genuinamente negro (a escritora não tentou fazê-lo parecer um “negro de alma branca”) que salvou a vida de Tancredo, um cidadão de família rica. A partir deste fato, o narrador deixa claro que apesar das diferenças ambos compartilham o mesmo espírito bondoso. Quando questionado sobre a melhor forma de ser recompensado, Túlio afirma só desejar que os escravos que cruzarem o caminho de Tancredo sejam tratados com respeito.
  • 17. Tancredo não só concorda como se mostra incomodado com a situação daquele que o salvou e de seus iguais. Mais que agradecimento, como forma de carinho com aquele que chamou de amigo, também devolveu a Túlio sua liberdade. A partir deste momento, por carinho, gratidão e ingenuidade, Túlio vê-se ligado ao companheiro de alma, Tancredo, e o segue até seu infeliz fim. Portanto, as falas de Túlio são usadas como denúncia. A atuação de sua personagem não para por aí, ele passa a ser ouvinte e transmissor da história de Suzana e Antero. Suzana, a segunda que compõe o trio, é uma mulher que foi retirada de sua África, separada de marido, filhos e família. Foi jogada em um navio negreiro e presenciou as mais terríveis desumanidades.
  • 18. Sua história é a representação do processo da diáspora negra: começando com a vida comum em sua terra, passando pelo relato doloroso do navio e fazendo o trajeto que tinha como destino a escravidão no Brasil. Tudo isso é descrito de uma forma que só a sensibilidade feminina seria capaz de captar, fazendo o leitor ter empatia. Antero, o terceiro negro presente, já traz uma abordagem que fala sobre a África marcada pelo trabalho duro e, também, suas festas e comemorações culturais. Ele era um velho guardião que, agora escravo, trabalhava sem descanso e encontrou na bebida uma forma de suportar as condições de sua existência.
  • 19. Apesar de não ser descrito da mesma forma sutil que os outros dois, Antero não é representado como alguém impiedoso, mas como vítima. É retratado como alguém que encontrou na falta de sobriedade e de obediência, as formas de garantir a sua própria sobrevivência.
  • 20. Servindo como pano de fundo de toda a crítica, surge o amor entre Tancredo e Úrsula. Úrsula é descrita como doce, bela e cheia de compaixão, não possui pai e divide a solidão com sua mãe doente. No terceiro capítulo, há a declaração da verdadeira paixão entre o casal, mas há um obstáculo: O tio da moça, Fernando P., é um homem desprezível. Possui olhar sinistro, violento e rancoroso. Ele cometeu crimes e maltratou sua irmã – a mãe de Úrsula, apenas para poder ter a menina para si. Além disso, é caracterizado como vilão também pela forma com que tratava seus escravos. Aparentemente, é uma clássica história de amor impossível: uma moça pobre e um homem de família rica, assim como muitas de seu tempo. Porém, logo se nota que as preocupações presentes no romance são outras.
  • 21. Apesar de ter sido escrito num período de nacionalismo exacerbado, destoa desse momento já que não foca na ideia de indivíduos formados para a nação. Além disso, o modo como mulheres e negros são retratados, também confrontam alguns pontos da mentalidade da época. Ao final, enlouquecido de ciúmes, o tio vilão mata Tancredo na noite do casamento deste com Úrsula. Isso provocou a loucura e o falecimento de Úrsula que, por sua vez, gerou um remorso enorme em Fernando P. Com esse fato, ele começou a se afastar de sua antiga personalidade e desejar a morte. Contudo, antes de morrer, chegou a libertar seus escravos e até ficar recluso em um convento.
  • 22. Úrsula é mais do que uma história de amor (ou um triângulo amoroso). Perdoados os exageros próprios do Romantismo (o sofrimento amoroso que pode levar à morte, a religiosidade, a culpa), é evidente a forte crítica à escravidão. Maria Firmina dos Reis não romantiza a chegada dos africanos ao Brasil: não insinua que eles chegaram por vontade própria, como alguns ainda defendem, mas forçados a se separar de seus lares e de sua família, destituídos de sua liberdade. Em tempos em que se sustenta o esquecimento do passado, Úrsula é um livro necessário para se compreender aquele período histórico, que não pode ser simplesmente removido de nossa memória. Suas consequências sobrevivem e jamais serão superadas se continuarmos fingindo sua inexistência.
  • 23. Chimamanda Ngozi Adichie começa o TED O Perigo da História Única falando sobre como somos vulneráveis às histórias que temos e ouvimos; como, quando crianças, construímos nossas fantasias e ficções através delas, mesmo não encontrando nenhum elemento que possa ser relacionado à vida que vivemos e às pessoas que fazem parte do nosso dia a dia. Por tempo demais nossos clássicos e “livros essenciais” foram compostos por uma única história, por um único traço por uma única voz. Embranquecemos escritores para que esses coubessem na única caixa disponível, esquecemos e apagamos narrativas que nos mostravam a maldade, a desigualdade e as contradições do tal “homem cordial”; silenciamos mulheres com aventais e um destino coletivo, trancamos homossexuais em armários, isolamos indígenas e, assim, perdemos todo um mundo de contos, crônicas, romances, poesias e outras artes, perdemos a potencialidade dessas vidas. Hoje, mais do que nunca, temos a oportunidade e o dever de ouvir outras vozes e de olhar e reescrever nossa história pelos mais diversos ângulos.