Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
A árvore
1. Não me custa acreditar, se realmente existe essa sensação… costumo ser céptico a essas
coisas, as emoções costumam ser como uma ilusão óptica, pois parece que sentimos o que
depois não as encontramos. Para mim o mundo sempre fui assim, um deserto onde tenho a
ilusão de ver e sentir coisas e quando dou por mim só a solidão se encontra no horizonte de
toda esta minha alma. E quando falo em deserto, não é desses de areia, mas da ausência do
toque, dos sons e odores… imaginem a minha alma como um deserto de areia, nele não iria
encontrar uma pegada, um sinal de outro a não ser eu. Sim, tenho a mania de inventar esses
sinais de gente na minha alma, é só para esconder a ausência de mundo. Sinto-me como os
Deuses que criam o seu próprio mundo, talvez por se sentirem tão sós como eu… com o tempo
de tanto silêncio, criamos essa espécie de clones das pessoas que nos fazem falta e ai elas são
prefeitas, tudo aquilo que queríamos que fossem... mas continuemos a não sentir nada, são as
nossas pegadas fingidas. As vezes basta um olhar distante de essa pessoa para sentir-mos
envergonhados e irmos a correr a pagar essas pegadas criadas por nós. Também não nos
atrevemos a sentir saudades, porque isso aumenta esse deserto. O facto é que não há gente
por aqui, antigamente sim! Abraçavam-me, brincavam à minha volta! Agora resta-me as rugas
que o tempo foi deixando, estou frágil ao ponto de o vento quase me tombar. Lá longe vejo
casas, também elas em ruínas, já tiveram que às cuidava e se elas tivessem coração iam se
sentir como eu… parece que vejo vultos a caminharem ao pé delas, ouço sons que parecem
risadas. Deve ser mais umas das minhas ilusões, criadas por tanta solidão. Apesar de me
custar, as vezes temos essa necessidade de acreditar que existe alguém por perto. Desta vez é
uma ilusão forte, com odor e tudo, parece se aproximarem três pessoas… tento me concentrar
para apagar mais esta esperança falsa, pois já varias vezes me aconteceu e nada era real e
agora, estou mesmo no mundo imaginário e sem conseguir acordar ou não quero… Um
homem e duas crianças estavam agora me tocar. Eu sei, é tudo imaginação de um velho há
muito tempo abandonado.
- Vejam aqui eu brincava quando tinha a vossa idade com os meus amigos, já está seca, mas
era uma bonita arvore…. Vai dar uma bela fogueira para o nosso churrasco. – Pegou na
machada e com força derrubou-a, cortando-a aos bocados bem pequenos para as crianças o
poderem ajudar a leva-los.
José Araújo