A entrevista resume a trajetória de 32 anos da banda de heavy metal Banda Shock, pioneira no gênero no Nordeste. A banda surgiu em João Pessoa na década de 1970 e enfrentou diversos desafios para se manter ativa por tanto tempo, como falta de apoio e dificuldades financeiras. No entanto, conquistaram fãs em todo o Brasil e até no exterior com seu som autêntico de heavy metal.
1. MICROFONIA
Ano 1 .nº 03 MÚSICA .FILME .HQ .SHOW João Pessoa Maio.2011
Banda Shock - 32 Anos de Heavy Metal
na veia. E Américo tem isso. A formação de Américo
é Kiss.
Américo é conhecido como Doctor Love!
Eu conheci Américo através de Paulo e ele caiu como
uma luva! A gente pode passar até seis meses sem ensa-
iar, mas quando todo mundo chega junto, e manda ver.
Exato, vocês aparecem e desaparecem... Por que ex-
istem esses ‘hiatos’ na Banda Shock?
Na realidade, a gente não está freqüentando tanto os es-
paços mínimos que tem aqui, porque a principio não es-
tamos mais na fase de querer sair às 8 da noite e chegar 4
da manhã, todo mundo na banda tem trabalho, família, e
sem querer sem estrela, eu não gosto de me expor muito.
Prefiro ficar reservado.
O prazer de ensaio supre essa sede de tocar em qual-
quer lugar...
Acho interessante para bandas que estão começando,
querer mostrar o trabalho e tal, mas comigo é: “tá a fim
de contratar a gente?” Então vamos embora, mas se for
pra me submeter a preencher formulários, etc., não esta-
mos interessados.
Enquanto a disco music predominava nas rádios, conosco quase dois anos, e por incompatibilidade, ele re- Sun Rock Festival...
quatro irmãos ouviam hard rock no último volume. solveu trilhar por outro caminho. Ficamos sem vocalista, Eu sabia que você ia fazer essa pergunta... Eu recebi em
Não imaginavam eles que fariam parte da história do eu fiquei cantando e tocando bateria por um ano assim, minha residência um cidadão com o nome de João Paulo,
rock pesado em João Pessoa, e que, alguns anos mais e tocamos em vários eventos do Estado e Prefeitura. Por não o conhecia, e ele disse que estava com um projeto de
tarde, a música do quarteto iria transpor fronteiras. incrível que pareça, tocamos mais na época da ditadura trazer o Shaman para tocar aqui, num palco na beira mar
Aqui você confere parte dessa saga dos irmãos Roque. do que nos dias atuais. e queria a gente pra abrir. Achei legal, fiquei feliz por
terem lembrado da gente. Grana? Ele disse: “não vai ser
A formação clássica, a que permanece mais tempo é Que show você cita como o melhor e o pior? muita, mas vocês não vão tocar de graça”. Beleza. Era
com Américo na voz, Paulo no baixo, Edgard na gui- O melhor foi um que aconteceu no Espaço Cultural junto um projeto que ia contar até com um tanque de guerra...
tarra e você, Carlos, na bateria. Vocês gravaram o com Capital Inicial, Uns e Outros e a banda local Socie- Terminou o ano e isso não aconteceu. Um dia atendo
Insônia, uma demo tape de 89 e em 91 veio pelo Whip- dade Anônima. Esse show foi fantástico e só tenho fotos, o telefone, era o mesmo cara dizendo: “Estou trazendo
lash com o Luziano (In memorian) o Heavy Metal we nenhum áudio ou vídeo. E o pior show não foi só um não, Scorpions, Sepultura, e queria convidar vocês. Eu não
salute you. Qual a trajetória desses discos. foram vários. Teve uns até que não aconteceram. Nós não acreditei no projeto do Sun Rock. Fomos chamados no
apagamos esses shows da memória, nós aprendemos a escritório, pagaram adiantado, mas eu não queria a grana,
Na verdade, nós começamos a gravar independente em conviver com as situações desagradáveis. queria participar do evento! E a gente se empenhou, com
89 e essa música Insônia estava nesse projeto, que a ensaios, investimos na produção, fizemos música nova,
princípio sairia em português. E como realmente saiu, Em 30 anos de banda, já teve alguma situação estra- mesário, falei com Valério pra fazer a luz, ajeitei tudo,
tenho ele gravado com as composições em português. nha, algum fato inusitado? tudo. Chegou o dia. Primeiro ele colocou a gente pra
Quando estávamos da metade para o final da gravação Numa época, o governo do Estado, que não me lembro tocar no domingo, dia do Sepultura, Angra, Matanza.
desse álbum surgiu a proposta do Luziano (In memorian) quem era o governador, fomos contratados de última Achei que a gente não ia se sobressair no meio de tanto
de Natal. Fomos até Natal, ele gostou muito do nosso hora, já com Américo na banda, nos chamaram pra tocar peso pesado, e pensei no sábado, que tinha Scorpions no
trabalho, mas ele disse: “Só tem um problema: eu preciso Heavy Metal no Festival de Arte em Cajazeiras, fomos palco principal, e antes Cachorro Grande, a banda es-
do material em inglês pra poder mandar pra fora do país.” dentro de um ônibus interestadual alugado pelo Estado, tivesse mais bem colocada... Foi uma trabalheira grande,
Daí eu disse que precisava de uns 40 dias pra poder refaz- só nós quatro. Achei esquisito, só nós quatro dentro de monta, desmonta... Chegou o dia de tocar. Por conta do
er tudo, pois a proposta dele tinha o selo, então paramos o um ônibus top, de viagem, com hospedagem, muito or- atraso e exigências do Scorpions e da desorganização do
trabalho independente pra poder gravá-lo novamente, só ganizado. Hoje é diferente os caras contratam, colocam evento nem a gente, nem a Unidade Móvel tocaram. E
que agora todo em inglês. Observe que no álbum Heavy você dentro de um bueiro, fecha pra ninguém lhe ver, fica ficou mais fácil sacrificar gente de casa do que o pessoal
Metal...Tem a música Sleep Last Night, que é a Insônia lá com rato, barata, aí na hora de tocar, o cara abre pra de fora. Daí disseram para a gente tocar três músicas no
em português, só que com outra roupagem, outros riffs. você tocar, e como se tem essa fome de se apresentar nem outro dia, e eu disse que não ia tocar três músicas, agora,
se leva em consideração, mas acho degradante. Basta ver ninguém da produção me procurou para dar uma satisfa-
Você se lembra do primeiro show da Banda Shock? que, quando chega artistas de fora aqui, todo mundo abre ção a respeito disso. Pedi desculpas aos fãs pela internet
Lembro e tenho registro! Na época éramos jovens, em caminho, mas já quando é artista da terra, quando você e hoje isso tá sepultado.
1977 começamos a banda na escola, e é claro, sem vai estacionar o carro na Lagoa e o palco é na Estação
Américo no vocal, era um conhecido de colégio do 1º Ferroviária e você sai a pé porque simplesmente o guarda
grau. Eu gazeava aula pra escutar vinil na casa de ami- não deixa você encostar o carro lá. Você chega e diz: ”Eu Copiar é muito fácil...
gos e fomos montando a banda, comprando instrumentos sou músico”. E o cara diz: “Você é o que?! Você não é Mas vá criar!
usados, guitarra, bateria de zinco, principalmente nos nada!”.
bairros de Cruz das Armas e Jaguaribe. Em meados de Se o cara da organização do Sun Rock Festival es-
78 é que fomos fazendo uma roupagem legal nas músicas Você diria que a formação da banda com Américo é a tivesse aqui agora, o que você falaria para ele?
e a banda passou a existir de fato a partir de 79 e veio a melhor fase da banda? Eu perguntaria a ele o que foi que deu errado e por que
se consagrar a partir desse primeiro show, que aconteceu Sim. Vamos dizer assim: todo mundo não é igual, somos não se justificou junto a gente e ao pessoal da Unidade
na casa do primeiro vocalista, pegamos os equipamentos, três irmãos na banda só que eu tenho minhas preferên- Móvel, só isso!
levamos pra lá, com toda garra, na iluminação comum cias, Edgard e Paulo têm as deles, mas nós conseguimos
mesmo, juntou uma galera na frente da casa pra ver, o chegar a um denominador comum. Américo tem isso Vocês conseguiram vender o disco para o Japão, como
pessoal não sabia o que era aquilo, e ficaram lá, olhando. também, formamos uma bola. Mas, não querendo ofend- foi esse contato?
Nem vaiaram e nem aplaudiram, ficaram perplexos. De- er, trazer uma pessoa só porque tem uma voz boa ou tem Como a gente mora numa cidade maravilhosa, a ci-
pois o vocalista saiu e convidamos Waldir Dinoá e ele uma dicção legal, mas cara curte Avião, Ivete, fica difícil dade das acácias, se aquele tsunami tivesse acontecido
veio pra somar na banda. chegar e explicar uma música do Iron Maiden ou do Ju- aqui nem sentiriam a falta. Brincadeira à parte...Eu amo
das Priest, ou então mostrar uma música nossa e pedir a minha cidade, gosto de morar aqui, mas aqui não valo-
Essa foi a segunda formação? pro cara cantar na nossa pegada, não tem como o cara riza o que é para ser valorizado, é o que eu penso e gosto
Sim, a segunda formação é com Waldir Dinoá, que ficou entender porque é como se o indivíduo não tivesse o rock de externar isso. Então, as pessoas entram no site da
2. 2 MICROFONIA
banda, mandam e-mail... Eu tenho umas trezentas car-
tas do Amapá ao Rio Grande do Sul, quando ainda não
Peço desculpas por a banda não atuar com freqüência, não
que a gente não queira, mas porque as circunstancias no mo- Amor À queima Roupa
Amor à Queima roupa
existia internet, pessoas até de Bayeux. Um dia apareceu mento não permitem... Amanhã pode-se abrir novas portas, e
um cara do Mato Grosso tinha um contato no Japão e que tenham paciência, que antes de pendurar as baquetas
da última vez que falei com ele, deve ter uns oito me- quero terminar esse nosso novo trabalho, que tenho certeza
ses, o irmão dele tava fazendo umas coletâneas de ban- irá agradar aos fãs.
das dos Estados Unidos, Europa e queria colocar uma
composição nossa nessa coletânea. O que percebi foi D e p o i m e n t o s
que ele tava querendo os vinis, ainda tenho uns cento e Beto Farias (baterista - Rotten Flies)
poucos vinis... Mandei 40 vinis para a Alemanha, o cara Banda Shock é uma das primeiras bandas de heavy metal do
pagou em dólar. Ele queria nossa música na coletânea Nordeste e de João Pessoa. Pena que os caras pararam um
porque no Japão tinha um público interessado na nossa tempo. Eles tocaram com o Viper e os comentários na época
música, mas a coisa esfriou e não fui mais atrás, porque é que os shows foram pau a pau, a banda não ficava a de-
além de ceder a música, tinha que pagar para constar na ver. Lembro que ainda tenho uma Rock Brigade com uma
coletânea. Já apareceram várias pessoas querendo lançar crítica que fala do joio e do trigo, no caso a Banda Shock é
o vinil em CD, mas nada aconteceu até agora. o trigo. Fiquei feliz que um amigo meu fez um teste para vo-
cal da banda, nosso surfista-mor Jesuíno, achei bacana, mas
Quantas cópias saíram em vinil? os caras viram que a onda dele não era heavy metal era surf.
Mil cópias. A gente ficou com 500 cópias e o cara que Eu tenho o vinil, a capa é horrível, mas o som é maravilhoso!
prensou com as outras 500. Cachalote - Daniel Galera e Rafael
Jesuíno Oliveira (PBRock/baterista - Nailspop) Coutinho/280 páginas. R$ 45,00.
Você se interessa por bandas novas? A banda Shock é um patrimônio do rock paraibano. Desde Feche os olhos, tape o nariz e pule! Assim dizendo
Ouvi recentemente o Accept novo, que não é com o vo- o final dos anos 70 batalham pelo seu espaço, enfrentando parece ser um ato, um tanto quanto simples, mas
calista da formação principal. As bandas das antigas é diversas barreiras e preconceitos. Os irmãos Roque sempre na verdade é algo que exige coragem. Mergulhar
o que vem mantendo, porque banda nova pra mim aca- foram determinados em fazerem um rock pesado de qualidade no sentido pleno da palavra requer desprendimen-
bou. Anos 70 e 80, só. A mídia misturou muito as coisas, e autoral. Foram pioneiros no lançamento, em disco vinil, de
não vai mais pela qualidade e sim pela possibilidade de to e isso poucas pessoas tem. Algo aparentemente
uma banda heavy-metal no Nordeste. Uma curiosidade: bem
venda. jovem, nos idos dos anos 80, me aventurei até tirar um som
simples, no entanto, demanda uma soltura não ape-
As pessoas têm inveja com os rapazes, mas vi logo que minha voz era horrorosa nas do corpo, da alma também. No momento em
que não se tem isso, raramente se consegue alca-
por ser uma banda para o feito. Ainda hoje é respeitada e referência por todas
gerações do rock do estado. Sou amigo e tenho admiração nçar outra dimensão. Essa outra dimensão poderá
pioneira pelos rapazes, uma banda que é lenda viva da nossa história. ser denominada de diversas formas. Porém, vamos
Hoje pra quem tá começando existe mais facilidade deixá-la sem uma denominação específica pra ad-
Williard Scorpion (Ex-Medicine Death, ex-Bona Dea, ex- entrar num universo específico: O universo textual
do que tínhamos, mas deixa de curtir logo...
Dissidium, atual Lazy Dynamite)
Mas aí é modismo! Hoje o cara pega as tablaturas pela do Daniel Galera. Galera cria e recria situações co-
Três bandas locais foram decisivas para que entrássemos
net e fica lá praticando, toca na rapidez de um raio, mas
na música pesada: Serpente, Necrópolis e a Banda Shock.
tidianas semelhantes as que vivenciamos e inventa
tem uma coisa chamada sentimento, criatividade... Pra outras tantas tão reais quanto as já vividas. E quais
Foi nos ensaios da banda dos irmãos Roque que entende-
copiar é muito fácil, mesmo que não seja igual, mas você são as inventadas? Aquelas que fogem ao padrão
mos melhor o processo de uma banda e aprendemos a afi-
coloca uma roupagem que disfarça, mas vá criar! Vá que conhecemos? E se não conhecemos os pa-
nar os instrumentos. Até então, o que viria a ser o Medi-
fazer o seu aqui (batendo no braço) na veia. A gente tá
cine Death soava mais caótico – no mau sentido – do que drões? Então, nossa missão, nesse caso é saber até
trabalhando em composições, mas precisa de inspiração,
de técnica, batidas diferentes, mais cadenciadas...
o Napalm Death do Scum. Vê-los e ouvi-los executando onde vai a ficção e até onde a realidade consegue
clássicos imortais do Judas, Accept, além de seus próprios chegar mais perto. Quem não se lembra de Moby
clássicos foi, numa expressão, uma experiência definitiva.
Dick? Um cachalote enfurecido cuja história foi
Waldir Dinoá - arquiteto e baixista
publicada pela primeira vez em Londres em 1897.
Eu tive o prazer de tocar na Banda Shock durante um breve Cachalote era tido como um monstro para os
período, no início dos anos 80. Cantava e tocava guitarra base. veteranos do mar. Cachalote era um desafio. Aqui,
Foi com os irmãos Roque que comecei a tomar gosto pelo rock e também, simbolizado como algo que não se quer
pelo palco. Conheci Paulo(baixista) em 73, na escola. Foi ele quem mudar/enfrentar. As situações contam com perso-
me apresentou ao rock do Led Zeppelin, Deep Purple, Kiss, Black nagens diversos e com conflitos diferentes diante
Sabbath, Rush, Sweet, Nazareth e tantos outros. Nunca vou me da vida. O fato de enfrentarem ou não esses con-
esquecer do dia em que ele me levou até a garagem da família e
Como foi o show com o Mercyful Fate? flitos fica por conta da imaginação ou vivencia
me mostrou uma guitarra, que ele e os irmãos haviam comprado.
Recife sempre nos recebeu de braços abertos, se bem que
Eu nunca tinha visto uma guitarra tão de perto. Aquilo pra mim
dos leitores, pois as histórias não apresentam um
deve fazer uns 10 anos que não tocamos por lá . Quan- final, como se elas estivessem acontecendo nesse
era o máximo.
do soubemos do show com o MF, nesse dia ninguém momento. Ao observar de perto cada personagem
dormiu. A gente foi para Recife numa sexta feira tocar criado para compor o volume denominado Cacha-
cover num bar chamado Downtown, o show do MF era
lote, encontramos os conflitos inerentes a cada um,
no sábado, só que os caras estavam lá assistindo a gente
tocar. No dia seguinte fomos almoçar no centro e depois e sem que, em cada história, exista um ponto de
ao Sport Clube, onde aconteceu o show. Quando chega- interseção, apesar de alguns personagens ficarem
mos o MF já estavam passando o som, King Diamond cara a cara com o gigante mamífero. Mesmo sem
estava sem maquiagem, tiramos fotos... Quando o show algo, aparentemente, em comum, as histórias cria-
começou teve um problema na iluminação deles... Eu das por Galera e desenhadas por Coutinho ganham
não tenho registro dessa apresentação porque o MF não um peso extra por essas ligações inexistirem. Uma
queria ninguém filmando, temos apenas fotos... A gente referência que pode ser jogada para imagens
pegou ainda a iluminação boa e o som também... Mas é
cinematográficas de um Robert Altman ou para um
aquela história, passamos dez anos curtindo o som do MF
e de repente a gente tava ali, não tem dinheiro que pague. mundo de sonhos do David Lynch, por mais bi-
zarro que isso possa parecer - como uma velha sen-
Na sua opinião, o que a Banda Shock representa na hora grávida – aqui cachalote é um símbolo para
Paraíba? Av. Nego, 200 - Tambaú - João Pessoa a sua longevidade. Tanto Altman quanto Lynch
Vamos imaginar que eu não seja da Banda Shock, para mim www.comichouse.blog.br (83) 3227 0656 quebraram padrões impostos por uma sociedade
é a representante no quesito heavy metal tradicional em ní- dita ideal. Até que ponto devemos engolir, literal-
vel de Nordeste. Eu sinto isso, eu posso estar enganado, me EXPEDIENTE mente, as imposições e até onde elas podem ser
perdoem as pessoas que discordam, mas eu não posso ficar
Editores Responsáveis: Olga Costa (DRT – 60/85)/Adriano rejeitadas como padrões? Cachalote não oferece
guardando isso... As pessoas têm inveja por ser uma banda
pioneira, que tem nepotismo (3 irmãos), eu sinto isso porque Stevenson respostas. Oferece apenas as questões pertinentes
fica mais fácil trabalhar com irmãos, não estou dizendo que
Colaboradores: Beto L, Jesuíno Oliveira, Óliver de Souza que insistimos colocar debaixo do tapete, para um
Editoração: Martinho Patrício/Olga Costa/Josival Fonseca
tudo são flores, tem os espinhos também, mas na hora que Ilustração: Josival Fonseca dia serem (re) descobertas e encaradas. Mas quem
pega a gente consegue juntar e fazer. Agradecimentos: Martinho Patrício, Óliver, Leandro Márcio tem a fórmula? Ninguém tem, e é exatamente a
Contato/Anúncios: 3512 2330 personificação dessa impotência que se encon-
O seu recado final para os leitores do jornal jornalmicrofonia@gmail.com
Tiragem: 3.000 exemplares tra nas páginas de Cachalote. Bom mergulho!
3. MICROFONIA 3
El Mariachi
CAMARONES ORQUESTRA GUITARRÍSTICA – S/T CD (RN)
Além dos Retrofoguetes (BA), Sex On The Beach (PB) temos agora a COG que conseguiu um bom resultado nesse CD e que tem boas influências. A Camarones
faz um som que mistura rock’n’roll, surf music, hardcore e trilhas sonoras. Se tivessem surgido há 20 anos, diria que eles estariam dando murro em ponta de faca,
mas hoje em dia esse tipo de música está sendo bem aceita pelo público e pelos grandes festivais. A banda conta com músicos experientes como Anderson Foca e
Ana Moreno. Destaques para Alabama Mama, Pororoca e Pra Inglês Ver – tomara que eles tenham ouvido! B.L.
www.myspace.com/camaronesorquestraguitarristica
THE AUTOMATICS – ATLANTIC CD (RN)
Levado pela brisa suave... A brisa pode até ser... As guitarras nunca. O barulho já automatizado do quarteto poptiguar traz na brisa de verão e até mesmo no
reflexo deles mesmo, mais distorções e outras notas até então inéditas, agora incorporadas em vários retratos, no mais novo Atlantic. As sementes pré-fabricadas
na Inglaterra afloram em terras áridas em Never Said. Em reverso, a introdução de Out in the Sun, causa um deja vu apenas na sonoridade muito Vini Reiley da
guitarra. A renovação vem graças a brisa, que aos poucos move rochas e muda paisagens, por mais que não se veja. O.C.
www.myspace.com/theautomaticsnatal
BÁRBARA – DRAMA, AFETO E REJEITO EP (PB)
“Garotas não tocam guitarras elétricas, este é um mundo dos homens” – essa frase atribuída a um professor de violão da Joan Jett pode até soar como ficção em
alguns momentos ou contextos. Apesar de refletir um passado bem recente, a competência das mulheres no rock esteve e continua em xeque. “Drama, Afeto e
Rejeito” é um recado, não explícito, porem cheio de vontade, para o que ainda encontra-se velado – Batam palmas pra suas próprias risadas - O Espetáculo
continua nas Palavras Vazias: Sinta o cheiro da busca que exala em você, verso que nos leva à estrada revolucionária de Sam Mendes - querer espaço pra não
sufocar é, e sempre será, motivo para não desistir de trilhar um caminho que parecia impossível adentrar algumas décadas atrás. Make my day tem um refrão
tão bom que merece ser a ‘música de trabalho’. O.C. www.myspace.com/bandabarbara
COMANDO ETÍLICO - S/T CD (RN)
Tive a grata surpresa de presenciar, no Festival Dosol a apresentação do Comando Etílico, grupo de heavy metal de Natal. Não se trata de músicos iniciantes,
até porque o vocalista Vall já advém de outras bandas de longas datas. Então, se você gosta de bandas como Dorsal Atlântica, Azul Limão, Taurus e outras dos
anos 80, e que cantavam em português, vai realmente se deleitar com o que aqui é apresentado. Não arriscaria citar melhores faixas, porém, acho que Madame
Pecado é uma das minhas preferidas, embora todo o cd tenha uma linearidade incrível, no bom sentido. Ou seja, se gostar da primeira faixa, com certeza gostará
das demais. Se você se considera um headbanger dos anos 80, e que aqueles foram os melhores tempos que vivemos, pode correr atrás do cd, pois ele será como
que mais um troféu em sua cdteca. O.S. www.myspace.com/comandoetilico
MADALENA MOOG - SAMBA PRO SEU DIA CD (PB) Samba Pro Seu Dia é o que Patativa Moog vem moendo pra formatar uma musicalidade fervorosa,
brasileira e universal. As referências são postas num caldeirão só e daí decantadas em substâncias que atendem por samba-rock, maracatu, frevo e rock, ou seja,
um produto extremamente pop apostando na busca de identidade. No total são doze faixas, mas nove são absolutas da nova fase. Títulos como “Ladeira da Bor-
borema”, “Ela só gosta de Carnaval”, “O homem do doce”, “Quarta-Feira” e a faixa-título, denunciam o carnaval sonoro da MM. Uma constatação final: o resul-
tado desse trabalho foi possível graças à perfeita sintonia dos músicos talentosos da banda formada por Edy Gonzaga (baixo e guitarra), Valter (guitarras), Emerson
Pimenta (bateria), Rieg (teclados) e a dupla de sopros João Henrique e Mib. J.O. www.myspace.com/madalenamoog8
Betty57- ILEGAL, IMORAL E ENGORDA CD (SP) Começo dizendo que o CD de estréia da banda Betty57 é de uma música só. Dito isso, quero deixar claro
que, ser de apenas uma música só não é para soar aqui de forma pejorativa, de jeito nenhum! Paulo Betty (guitarra e voz), Jones (baixo) e Samuel Frade (bateria)
conseguem fazer isso sem o tornar enjoativo, esse é o grande mérito do trio. As músicas que compõem o primeiro trabalho são rock and roll em seu estado bruto:
muda-se a métrica, mas a base tá lá! Certa feita perguntaram ao Chuck Berry se ele não se sentia prisioneiro de Johnny B. Goode e ele respondeu rindo: “Se esse
música é uma prisão, por favor me arranjem outras!” Betty57 curte pra valer o que faz e se diverte fazendo o que mais gosta: rock and roll. Aumente o volume,
pegue umas cervejas e afaste as cadeiras: Capitão Copacabana e os Reis do Qué Qué Qué, Shake baby Shake e Gokula Rosa Shoking – inspirada numa figura
real da noite paulista – é só o começo da festa. A.S + O.C www.myspace.com/57betty
DIVINA COMÉDIA HUMANA - TUBO DE ENSAIO/LADO A CD (PB)
Por mais difícil que pareça o importante é provar/Pedaço por pedaço/ Antes que falte ou permaneça um bom motivo pra juntar/Pedaço por pedaço... Esses são
os versos que abre o primeiro trabalho da banda Divina Comédia Humana, Pedaço por Pedaço. Desde setembro de 2007 o quarteto compõe material próprio com
influências não apenas do rock (Soundgarden/Stone Temple Pilots/Live) como também da música instrumental brasileira. As letras de José Carlos (bateria) ganha
vida com Anderson Oliveira cuja voz passeia em nuances que vão de Zé Ramalho à um Scott Weiland menos gritado. Destaque também para Pé de Romã, que
segue trilha floydiana com um gosto de Mais. O.C. www.myspace.com/bandadivinacomediahumana
LUCY AND THE POPSONICS – FRED ASTAIRE CD (DF)
Androgenia, criatividade e humor são alguns ingredientes da receita imaginada por Pil e Fer Popsonic para Fred Astaire – que é um ícone de um mundo distante,
onde as pessoas preferiam conversar cara a cara. O CD abre com Multitarefa, um eletro pop/rock delicioso que nada mais é do que um atestado dos nossos tem-
pos trembalístico.com.br, onde quase nada satisfaz a quem está dentro dele, como também em Biff Bang Pop: a faixa encerra com uma sutil citação da Björk. A
faixa Ziggy retrata e explicita outro ingrediente inspirador: o criador camaleônico, desde Alladin Sane (capa) à Earthling (sonoridade). Eu Vou Casar com um
Cosmonauta é uma homenagem a 2001–Uma Odisseia no Espaço. Irresistivelmente dançante! O.C. www.myspace.com/ /lucyandthepopsonics
NAÇÃO CORROMPIDA - SEM CHAPAS DE CAMPANHA CD (PE) – Definitivamente o Hardcore não existe sem indignação, contestação, fúria e pancadaria.
É o que Davi (voz), Alcides (guitarra), Neilson (baixo), Clécio (bateria) provam com o cd “Sem Chapas de Campanha”. Letras com o dedo na ferida como Sistema
de Inclusão: Morticínio dia a dia/Vidas são descartadas/Se adeque ao sistema ou morra com o salário mínimo, mostra uma banda sem firulas e panfletária,
metralhando ferocidade sobre a cidade de Recife. Um verdadeiro balsamo contra as frescuras emorrendas que assolam as rádios do país. Nação corrompida é o
que há. Destaques também para as vinhetas, e também para Era uma vez um Topetinho e De Soldado a Coronel. A.S. www.myspace.com/nacaocorrompida
THE ROVERS – S/T EP (PB)
Em seu primeiro registro sonoro The Rovers deixa muito claro o que quer fazer: hard rock. No início da música Pride se escuta um som de agulha no vinil: Essa
é a vibe do trio da cidade de Guarabira, interior do Estado, formado por Vinicius Andrade (guitarra e voz), Thiago Tasca (baixo) e Marcio Freitas (bateria) desde
2002. Vê se me Deixa em Paz tem duas versões: português e inglês e as duas são boas! O vocal cai perfeitamente nos dois idiomas, algo que não se ouve todo dia.
Ao vivo fazem uma versão muito boa de Sweet Home Alabama do Lynyrd Skynyrd. Rock!
THRUNDA – PUNK ROCK NA VEIA! CD www.myspace.com/thrunda
Ao escutar o CD do quinteto formado no Ceará fiquei surpreso. Com influencias dos anos 70 e 80, os caras fazem um puta punk rock hardcore, além de ser uma
gravação de primeira, a capa é muito bem feita onde se encontra um desenho dos caras tocando e no meio do pogo uma velhinha dando uma gravata num punk e
segurando um taco de baseball. Não é à toa que o nome do CD (2007) é uma referencia a simpática e violenta velhinha. Já os temas das músicas giram em torno dos
problemas que esse país vive e sempre viverá, pois quem governa é uma corja de ladrões e filhos da @#$. Os destaques ficam por conta de Manipulando e Rouban-
do, Egoísta (música de Raul Seixas e Marcelo Motta) e Proibidos de Tocar. A banda tem um vídeo clipe de 2009 chamado Nunca Confie num Homem de Terno.
Enquanto isso na redação...
4. 4 MICROFONIA
Atrás da porta verde Farenheit 451 A Caminho do Inferno
LOU REED – SESC Pinheiros 21/11/2010
Por que um compositor com tantas músicas de melodias
memoráveis e adoradas mundo afora resolve fazer uma
turnê com o seu trabalho mais odiado pela imprensa e
fãs? A resposta é óbvia caro leitor: Porque esse com-
positor chama-se Lou Reed. Lewis Allen Rabinowitz,
nascido no Brooklin, é mais que um compositor, é um
maestro. Lou Reed sabia exatamente o que fazia quando
lançou Metal Machine Music em 75 com apenas quatro
músicas e cerca de 64 minutos de duração. E ainda
sabe depois de 35 anos. Nesse show acompanhado de
dois músicos que ele rege todos os movimentos, além
de produzir os sons de suas guitarras de diferentes tim-
bres, afinações e distorções. É simplesmente fascinante
Tensão em Alto Mar 1º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES ver alguém comandar algo com tanta destreza e pre-
cisão aos 68 anos. Os desavisados, que logo deixaram
(Dangerous Tides). Direção de Brad E PUBLICAÇÕES UGRA PRESS
o teatro do SESC Pinheiros, perderam uma versão de
Armstrong _ 100 minutos. O lançamento do Anuário mapea o que alguns I’ll Be Your Mirror do Velvet Underground no final.
Esse filme marca o retorno da atriz Jenna Jame- consideravam extintos: o fanzine impresso. São Tommy Keene disse no #1 desse jornal que “Lou Reed
son e que retorno! A história se passa num iate mais de 120 resenhas de publicações de todo o não tem medo de escrever sobre nenhum assunto”, as-
que leva a bordo os vencedores de um concurso Brasil. Afinal, pensam alguns, com o advento sim como não teve medo de expor o que queria quan-
de rádio, alguns casais e muitas garotas gostosas. digital, os blogs teriam substituído o formato em do se tornou um fazedor de barulhos inspiradores por
O grupo passará o tempo todo do jeito que o papel. O que alguns desconhecem é que o fan- décadas. Thurston Moore (Sonic Youth) que o diga!
diabo gosta, com várias cenas incríveis, inclusive zine não foi substituído, nem será. Ainda é uma
uma que conta com a participação de um grupo das formas mais sinceras e verdadeiras de expres-
de mariaches. Além de troca de casais, acontece sar o que não está na mídia oficial. Dizer que os
também, uma fabulosa orgia entre sete garotas. fanzines restiram a transição do analógico para o
Só que que a festa não dura muito, pois o capitão, digital é uma mentira, pois não foi preciso resistir
ao atender um pedido de SOS, acaba por resgatar e sim continuar a existir, como se nada tivesse
sem saber, uma quadrilha de ladrões que está acontecido. Não existe um resgate porque nada
atrás de uma valiosa carga, porém, quando se foi perdido e o anuário é uma simples e efici-
deparam com as deliciosas mulheres do iate, ente constatação desse fato, a placa sinalizadora
eles mudam de idéia e resolvem traçar todas. por onde deveremos seguir. Leitura obrigatória!
Destaque para Melissa Hill, Missy e, é claro, Jen-
na Jameson, que quando está em ação é perfeita!
G.F.
PERFIL: CECILIO CARTHAGENES
Foto Rafael Passos
Não Vamos a La Playa
Editorial- Quanto mais tento entender me- Primeiro álbum que comprou
nos compreendo como nunca li nenhuma en- Hatful of Hollow - The Smiths
trevista da banda SHOCK, puta injustiça que Música que sabe a letra de cor
agora graças a um cidadão potiguar foi des-
feita. Brincadeira à parte, os paraibanos cos- O FIM - Rotten Flies
tumam negligenciar os artistas da terra, prin- Álbum antigo que ouve até hoje
cipalmente se tocam rock, infelizmente isso
não é nenhum previlegio nosso, até o Stray A Hard Day’s Night - The Beatles
Cats teve que sair de NYC para ser reconhe- Uma música que está no seu Top 5
cido. Fugir do estigma é o alvo e resenhamos
bandas do Ceará, DF, Rio Grande do Norte A Day In The Life - The Beatles A Música Urbana é uma loja de discos. Isso,
e Paraíba, é claro! Se existisse bandas em Álbum que define o punk quase todo mundo sabe. O que alguns desconhe-
Marte estariam aqui também. Olga conferiu cem é que passou a acontecer de forma natural
show de Lou Reed e viajou nas microfonias. Rocket to Russia - Ramones
Quer mais alienígena que isso? Cachalote Álbum subestimado que todos deveriam conhecer
uma espécie de happy hour no final de tarde da
não é desse mundo e definitivamente temos sexta-feira. A música se estende durante os sába-
a cabeça na lua por acreditar que esse jor- Testament Live In London - o dvd é muito foda!
nal vai nos levar a algum lugar mesmo que dos quando uma galera se reúne para trocar idé-
seja para Nutopia. Nessa viagem, você de- Música do dia ias e ouvir rock. Atualmente o rock divide espaço
savisado leitor é o nosso passageiro princi- You Ain’t Got A Hold On Me - AC/DC com o pessoal do chorinho na Praça Rio Branco
pal, aperte o cinto, o piloto ainda não sumiu!
durante os sábados. Convivência harmoniosa
No momento eu...
de vizinhos. Além de ouvir boa música,você
LEIO: Diálogo com as sombras - Hermínio C. Miranda
ainda se diverte com as figuras que aparecem
ESCUTO: AC/DC todo dia no carro para contar histórias ou mostrar alguma novi-
ASSISTO: Guidable - Ratos de Porão dade musical. Rua Visconde de Pelotas, 138
RECOMENDO: ter calma Loja B Centro - João Pessoa. Tel: 30423212