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CED 104 do Recanto das Emas
Professor Jailson Carvalho / Artes / 2014
Elementos Formais da Linguagem Teatral
 Texto Teatral:
O texto teatral assemelha-se ao narrativo quanto às características, uma vez que o mesmo se constitui de fatos,
personagens e história (o enredo representado), que sempre ocorre em um determinado lugar, dispostos em uma
sequência linear representada pela introdução (ou apresentação), complicação, clímax e desfecho.
A história em si é retratada pelos atores por meio do diálogo, no qual o objetivo maior pauta-se por promover
uma efetiva interação com o público expectador, onde razão e emoção se fundem a todo momento,
proporcionando prazer e entretenimento. Pelo fato de o texto teatral ser representado e não contado, ele dispensa
a presença do narrador, pois como anteriormente mencionado, os atores assumem um papel de destaque no
trabalho realizado por meio de um discurso direto em consonância com outros recursos que tendem a valorizar
ainda mais a modalidade em questão, como pausas, mímica, sonoplastia, gestos e outros elementos ligados à
postura corporal. A questão do tempo difere-se daquele constituído pelo narrativo, pois o tempo da ficção, ligado
à duração do espetáculo, coincide com o tempo da representação.
 Ator:
O ator passa a existir juntamente com o teatro, pois o ato estético coletivo de origem grega, tem seu alicerce no
binômio Ator-Espectador. Sem o ator em cena diante de um público não há teatro. O título de primeiro ator da
história do teatro no ocidente é do poeta trágico Téspis, que representava vários papéis, simultaneamente, em
suas peças. Era comum não reconhecer os atores em cena nas tragédias gregas, pois utilizavam grandes
máscaras, figurinos alongados e tamancos altos de madeira, denominados “coturnos”.
Os tragediógrafos gregos representavam os papéis que escreviam, mais tarde Sófocles começou a desvincular
este elo entre autor e ator. Desde o surgimento do teatro as mulheres eram impedidas de encenar, e os papéis
femininos eram apresentados pelos homens. Só na “Commedia dell’ Arte” que elas irão atuar no teatro de rua.
A impostação de voz do ator grego era de extrema importância, pelo uso da máscara e pelo local aberto das
apresentações. Quando o império romano se apropria da cultura grega, assimila um teatro já decadente, com
atores buscando um profissionalismo de efeitos grosseiros e gratuitos. O público romano opta por espetáculos
circenses, jogos violentos e competitivos, e diferentes formas de corridas, não valorizando a arte dramática.
Sendo assim o ator começa a se especializar na mímica, dança e acrobacia. Com as invasões bárbaras no início
da Idade Média, surgem os atores trovadores e menestréis, pois os teatros haviam sido fechados e/ou destruídos,
e esses atores ambulantes passam a se apresentar em feiras, aldeias e cidades. Neste período, um cristão batizado
era proibido de assistir ou participar de qualquer encenação teatral, exceto àquelas de caráter litúrgico, como os
autos e os mistérios. No início do Renascimento as companhias ambulantes passam a profissionalizar os atores
da “Commedia dell’ Arte”, que começam a ser contratados por senhores e nobres, para apresentação de suas
“farsas” e participações nos “triunfos”. Na encenação oriental o ator é envolvido por rituais e cerimônias
religiosas. Na China o ator precisa dominar o gestual, o canto e a palavra, pela simplicidade cenográfica e pela
tradição da linguagem simbólica de sua cultura. No Japão, o “Nô” e o “Kabuki” são as duas formas de teatro
mais conhecidas e tradicionais. Ainda no Renascimento, quando o Triunfo e o teatro de rua passam a ocupar os
palcos de salas fechadas, o ator precisa reeducar sua forma de atuar, isto porque o gesto sutil do ator em cena
pode mostrar a identidade da personagem, sem precisar dos recursos utilizados ao ar livre. As biografias são
típicas deste período do antropocentrismo, e com elas surgem as “vedetes” do teatro. É na Commedia dell’ Arte
que muitos atores e atrizes vão fazer carreira com personagens fixos, alguns vivendo esses personagens até a
morte. No Iluminismo do século XVIII, muitas ideias e escritos filosóficos sobre a preparação e o trabalho do
ator foram surgindo, porém o primeiro trabalho mais significativo foi o “Paradoxo sobre o comediante”, do
francês Denis Diderot(1713-1784). No século XIX, surge a linguagem dos “Melodramas”, onde os atores e
atrizes são o foco de atenção na encenação teatral, e o público vai ao teatro apenas para vê-los. É o chamado
“Academismo francês e italiano”. No final deste século o “Naturalismo” começa a se firmar e o ator a se
preocupar com a verdade cênica, ou melhor, a “fé cênica”. O russo Constantin Stanislavski (1863-1938) dedica-
se a produzir fundamentos e métodos para o trabalho do ator, contribuindo com os livros “A preparação do
ator”, “A composição do personagem”, e “A criação de um papel”. Sua proposta era a que o ator lutasse contra
a falsa teatralidade e o convencionalismo, desta forma, utilizando as bases do naturalismo psicológico, exigindo
do ator, nos ensaios ou diante do público, a concentração e a fé cênica, construindo assim uma “quarta parede”
imaginária. Suas ideias foram divulgadas no Brasil por Eugênio Kusnet. Paralelo ao naturalismo de Stanislavski,
dentre outras, acontecia a concepção da “biomecânica” de Meyerhold (1874-1942), onde atores apareciam em
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forma de marionetes com múltiplas habilidades cênicas. O ícone do teatro do século XX foi Bertolt Brecht
(1898-1956), que resgatou a estética do “teatro épico” e criou um teatro dialético, onde o ator e espectador
estariam em constante reflexão diante da ação teatral.
 Diretor:
O encenador, director teatral ou diretor de teatro é o responsável por supervisionar e dirigir a montagem de
uma peça de teatro, trabalhando diretamente a representação, decidindo a melhor forma de conjugar os diversos
esforços da equipa de trabalho em todos os aspectos da produção. A sua função é assegurar a qualidade e
integridade do produto teatral (a peça). Contatando os membros chave da equipa de trabalho, coordena o
andamento das pesquisas necessárias, a cenografia, o guarda-roupa, os adereços, iluminação cênica, sonoplastia,
etc. O encenador pode ainda trabalhar com o dramaturgo em obras cuja concepção é paralela à produção (work
in progress). No teatro contemporâneo, é costume considerar o encenador como o principal autor da peça
enquanto obra teatral (não retirando, a importância do dramaturgo, que é considerado um autor à parte - o texto
é uma obra independente). É o encenador que concebe a obra e toma as decisões necessárias para a sua
concretização. Existem encenadores mais ou menos interventivos, democráticos ou autoritários, dependendo da
filosofia própria da companhia teatral em questão.
 Cenografia
Muito mais do que decoração e ornamentação, a cenografia é técnica, técnica de organizar todo o espaço onde
as ações dramáticas são encenadas. A cenografia é parte importante do espetáculo, pois ela ambienta e ilustra o
espaço/tempo materializando o imaginário e aproximando o público da representação. A cenografia cria e
transforma o espaço cênico. O cenógrafo é aquele que cria o cenário.
 Figurino
É um elemento importante da linguagem visual do espetáculo formado por, além das vestimentas, pelos
acessórios. O figurino auxilia na compreensão do personagem, ele é carregado de simbologia e pode acentuar o
perfil psicológico do personagem, objetivos e características da história. Os figurinos e acessórios utilizados em
cena devem ser sempre coerentes com a época em que acontece a ação ou com o simbolismo que o diretor
queira dar a ela. O figurinista é o responsável pelas roupas e acessórios utilizados na peça teatral.
 Maquiagem
A maquiagem é parte da composição do espetáculo, é um instrumento fundamental que auxilia na criação do
personagem e na transformação estética dos atores. O maquiador atua junto com toda a produção do espetáculo
acompanhando sempre a concepção do mesmo, com vistas a ressaltar e/ou criar elementos que ressaltem
aspectos importantes para a compreensão do personagem. O maquiador é o responsável pela pintura do rosto
ou do corpo dos atores e atrizes
 Sonoplastia
A sonoplastia é um som ou conjunto de sons que auxilia a enfatizar as cenas e ou as emoções dos atores. O
sonoplasta trabalha os elementos sonoros ajudando a envolver o público na construção de imagens e sensações.
As músicas e sons utilizados devem estar intimamente ligados ao que acontece na cena, o sonoplasta deve
estudar o texto e depois acompanhá-lo passo a passo. O sonoplasta é aquele que compõe e faz funcionar os
ruídos e sons de um espetáculo teatral.
 Iluminação
A iluminação pode dar ênfase a certos aspectos do cenário, pode estabelecer relações entre o ator e os objetos,
pode enfatizar as expressões do ator, pode limitar o espaço de representação a um círculo de luz e muitos outros
efeitos. A iluminação é muito importante para o teatro, pois através dela podemos ambientar a cena e ampliar
as emoções nela exploradas. É fundamental que o iluminador conheça bem o texto e as marcações cênicas
determinadas pelo diretor do espetáculo. O iluminador é aquele que concebe e planeja a colocação das luzes
em uma peça teatral.

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  • 1. 1 CED 104 do Recanto das Emas Professor Jailson Carvalho / Artes / 2014 Elementos Formais da Linguagem Teatral  Texto Teatral: O texto teatral assemelha-se ao narrativo quanto às características, uma vez que o mesmo se constitui de fatos, personagens e história (o enredo representado), que sempre ocorre em um determinado lugar, dispostos em uma sequência linear representada pela introdução (ou apresentação), complicação, clímax e desfecho. A história em si é retratada pelos atores por meio do diálogo, no qual o objetivo maior pauta-se por promover uma efetiva interação com o público expectador, onde razão e emoção se fundem a todo momento, proporcionando prazer e entretenimento. Pelo fato de o texto teatral ser representado e não contado, ele dispensa a presença do narrador, pois como anteriormente mencionado, os atores assumem um papel de destaque no trabalho realizado por meio de um discurso direto em consonância com outros recursos que tendem a valorizar ainda mais a modalidade em questão, como pausas, mímica, sonoplastia, gestos e outros elementos ligados à postura corporal. A questão do tempo difere-se daquele constituído pelo narrativo, pois o tempo da ficção, ligado à duração do espetáculo, coincide com o tempo da representação.  Ator: O ator passa a existir juntamente com o teatro, pois o ato estético coletivo de origem grega, tem seu alicerce no binômio Ator-Espectador. Sem o ator em cena diante de um público não há teatro. O título de primeiro ator da história do teatro no ocidente é do poeta trágico Téspis, que representava vários papéis, simultaneamente, em suas peças. Era comum não reconhecer os atores em cena nas tragédias gregas, pois utilizavam grandes máscaras, figurinos alongados e tamancos altos de madeira, denominados “coturnos”. Os tragediógrafos gregos representavam os papéis que escreviam, mais tarde Sófocles começou a desvincular este elo entre autor e ator. Desde o surgimento do teatro as mulheres eram impedidas de encenar, e os papéis femininos eram apresentados pelos homens. Só na “Commedia dell’ Arte” que elas irão atuar no teatro de rua. A impostação de voz do ator grego era de extrema importância, pelo uso da máscara e pelo local aberto das apresentações. Quando o império romano se apropria da cultura grega, assimila um teatro já decadente, com atores buscando um profissionalismo de efeitos grosseiros e gratuitos. O público romano opta por espetáculos circenses, jogos violentos e competitivos, e diferentes formas de corridas, não valorizando a arte dramática. Sendo assim o ator começa a se especializar na mímica, dança e acrobacia. Com as invasões bárbaras no início da Idade Média, surgem os atores trovadores e menestréis, pois os teatros haviam sido fechados e/ou destruídos, e esses atores ambulantes passam a se apresentar em feiras, aldeias e cidades. Neste período, um cristão batizado era proibido de assistir ou participar de qualquer encenação teatral, exceto àquelas de caráter litúrgico, como os autos e os mistérios. No início do Renascimento as companhias ambulantes passam a profissionalizar os atores da “Commedia dell’ Arte”, que começam a ser contratados por senhores e nobres, para apresentação de suas “farsas” e participações nos “triunfos”. Na encenação oriental o ator é envolvido por rituais e cerimônias religiosas. Na China o ator precisa dominar o gestual, o canto e a palavra, pela simplicidade cenográfica e pela tradição da linguagem simbólica de sua cultura. No Japão, o “Nô” e o “Kabuki” são as duas formas de teatro mais conhecidas e tradicionais. Ainda no Renascimento, quando o Triunfo e o teatro de rua passam a ocupar os palcos de salas fechadas, o ator precisa reeducar sua forma de atuar, isto porque o gesto sutil do ator em cena pode mostrar a identidade da personagem, sem precisar dos recursos utilizados ao ar livre. As biografias são típicas deste período do antropocentrismo, e com elas surgem as “vedetes” do teatro. É na Commedia dell’ Arte que muitos atores e atrizes vão fazer carreira com personagens fixos, alguns vivendo esses personagens até a morte. No Iluminismo do século XVIII, muitas ideias e escritos filosóficos sobre a preparação e o trabalho do ator foram surgindo, porém o primeiro trabalho mais significativo foi o “Paradoxo sobre o comediante”, do francês Denis Diderot(1713-1784). No século XIX, surge a linguagem dos “Melodramas”, onde os atores e atrizes são o foco de atenção na encenação teatral, e o público vai ao teatro apenas para vê-los. É o chamado “Academismo francês e italiano”. No final deste século o “Naturalismo” começa a se firmar e o ator a se preocupar com a verdade cênica, ou melhor, a “fé cênica”. O russo Constantin Stanislavski (1863-1938) dedica- se a produzir fundamentos e métodos para o trabalho do ator, contribuindo com os livros “A preparação do ator”, “A composição do personagem”, e “A criação de um papel”. Sua proposta era a que o ator lutasse contra a falsa teatralidade e o convencionalismo, desta forma, utilizando as bases do naturalismo psicológico, exigindo do ator, nos ensaios ou diante do público, a concentração e a fé cênica, construindo assim uma “quarta parede” imaginária. Suas ideias foram divulgadas no Brasil por Eugênio Kusnet. Paralelo ao naturalismo de Stanislavski, dentre outras, acontecia a concepção da “biomecânica” de Meyerhold (1874-1942), onde atores apareciam em
  • 2. 2 forma de marionetes com múltiplas habilidades cênicas. O ícone do teatro do século XX foi Bertolt Brecht (1898-1956), que resgatou a estética do “teatro épico” e criou um teatro dialético, onde o ator e espectador estariam em constante reflexão diante da ação teatral.  Diretor: O encenador, director teatral ou diretor de teatro é o responsável por supervisionar e dirigir a montagem de uma peça de teatro, trabalhando diretamente a representação, decidindo a melhor forma de conjugar os diversos esforços da equipa de trabalho em todos os aspectos da produção. A sua função é assegurar a qualidade e integridade do produto teatral (a peça). Contatando os membros chave da equipa de trabalho, coordena o andamento das pesquisas necessárias, a cenografia, o guarda-roupa, os adereços, iluminação cênica, sonoplastia, etc. O encenador pode ainda trabalhar com o dramaturgo em obras cuja concepção é paralela à produção (work in progress). No teatro contemporâneo, é costume considerar o encenador como o principal autor da peça enquanto obra teatral (não retirando, a importância do dramaturgo, que é considerado um autor à parte - o texto é uma obra independente). É o encenador que concebe a obra e toma as decisões necessárias para a sua concretização. Existem encenadores mais ou menos interventivos, democráticos ou autoritários, dependendo da filosofia própria da companhia teatral em questão.  Cenografia Muito mais do que decoração e ornamentação, a cenografia é técnica, técnica de organizar todo o espaço onde as ações dramáticas são encenadas. A cenografia é parte importante do espetáculo, pois ela ambienta e ilustra o espaço/tempo materializando o imaginário e aproximando o público da representação. A cenografia cria e transforma o espaço cênico. O cenógrafo é aquele que cria o cenário.  Figurino É um elemento importante da linguagem visual do espetáculo formado por, além das vestimentas, pelos acessórios. O figurino auxilia na compreensão do personagem, ele é carregado de simbologia e pode acentuar o perfil psicológico do personagem, objetivos e características da história. Os figurinos e acessórios utilizados em cena devem ser sempre coerentes com a época em que acontece a ação ou com o simbolismo que o diretor queira dar a ela. O figurinista é o responsável pelas roupas e acessórios utilizados na peça teatral.  Maquiagem A maquiagem é parte da composição do espetáculo, é um instrumento fundamental que auxilia na criação do personagem e na transformação estética dos atores. O maquiador atua junto com toda a produção do espetáculo acompanhando sempre a concepção do mesmo, com vistas a ressaltar e/ou criar elementos que ressaltem aspectos importantes para a compreensão do personagem. O maquiador é o responsável pela pintura do rosto ou do corpo dos atores e atrizes  Sonoplastia A sonoplastia é um som ou conjunto de sons que auxilia a enfatizar as cenas e ou as emoções dos atores. O sonoplasta trabalha os elementos sonoros ajudando a envolver o público na construção de imagens e sensações. As músicas e sons utilizados devem estar intimamente ligados ao que acontece na cena, o sonoplasta deve estudar o texto e depois acompanhá-lo passo a passo. O sonoplasta é aquele que compõe e faz funcionar os ruídos e sons de um espetáculo teatral.  Iluminação A iluminação pode dar ênfase a certos aspectos do cenário, pode estabelecer relações entre o ator e os objetos, pode enfatizar as expressões do ator, pode limitar o espaço de representação a um círculo de luz e muitos outros efeitos. A iluminação é muito importante para o teatro, pois através dela podemos ambientar a cena e ampliar as emoções nela exploradas. É fundamental que o iluminador conheça bem o texto e as marcações cênicas determinadas pelo diretor do espetáculo. O iluminador é aquele que concebe e planeja a colocação das luzes em uma peça teatral.