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Universidade Federal de Pelotas
                              Centro de Artes
                       Curso de Teatro - Licenciatura
                Departamento de música e Artes Cênicas
                            Teatro (Licenciatura)
                       Disciplina: Encenação Teatral II
                          Docente: Daniel Furtado
                        Discentes: Ândrea Guerreiro
                              Dagma Colomby
                             Laura Bragamonte




Pelotas, 24/11/2011.
SUMÁRIO




Introdução................................................................................................. 1

Projeto de estágio.....................................................................................         4

1ª aula........................................................................................................ 7

2ª aula........................................................................................................ 10

3ª aulaª....................................................................................................... 13

4ª aula...........................................................................................................16

5ª aula............................................................................................................19

Avaliação geral do processo de estágio.........................................................23
Domingo, 21/08/2011.

COMO COMEÇAMOS? PELO COMEÇO... É CLARO...

      Três propostas de trabalho foram discutidas para a disciplina de
Encenação II com o professor Daniel Furtado: A Megera Domada, que foi do
agrado de Ândria, mas Laura argumentou que esta já era muito conhecida,
Medeia que já tem um esqueleto e que serviria para apresentar se tudo desse
errado e A Tempestade. Dagma defendeu A Megera, por já termos facilidades
e espaço para nos encontrarmos e A Tempestade por ser Shakespeare e,
principalmente pelo tom de desafio do professor ao dizer que para montar
Shakespeare era preciso ter ator. Seremos professoras, trabalharemos com
alunos e não com atores. Precisamos, desde já a nos acostumarmos a
trabalhar com integrantes de um universo que não possui experiência cênica.

      Outro motivo que nos fez tomar encanto pela obra é a facilidade de
discutir as relações de opressor e oprimido pelo viés da história brasileira.
Chegamos a conclusão de que realmente fazia muito sentido: em “A
Tempestade” Shakespeare estava falando de Brasil. Então nós nos
propusemos a discutir o texto por este viés. Para tanto questões alusivas ao
aspecto histórico foram trazidas por Everton Lessa que está no 6º semestre do
curso de história.

      É interessante traçar uma comparação entre A Tempestade e como se
deu o “tomamento” do Brasil. Próspero chega, se apossa do espaço, descobre
tudo da ilha através de Calibã, ensina-o os seus costumes, a sua língua, depois
o escraviza. Calibã é escravizado por ter tentado violar Miranda ou por ser uma
criatura disforme, segundo o olhar de Próspero. Outro personagem que oscila
nos papeis de oprimido e opressor é o espírito assexuado Ariel. Este
personagem ficou aprisionado por 12 anos em um tronco de uma árvore
através dos malefícios da bruxa Sicorax. Ariel é libertado por Próspero e acaba
se tornando um devedor e escravo deste. Questiona-se o seguinte: Se Ariel
tem o dom de tanta magia, é capaz de fazer uma tempestade, por que se
submete ao jugo de Próspero? Quem na nossa cultura tem o elemento de
magia na sua religião? O negro. Talvez Ariel se submeta aos desmandos de
Próspero por crer que está em dívida com seu amo, aquele que o libertou. Por
que em outras situações, ele que é oprimido passa a oprimir Calibã. No final o
que ocorre? Próspero perdoa seu irmão e tudo termina bem: Miranda com
Ferdinando, nobreza com nobreza. E Calibã? Ora... ele que nos traga mais
uma braçada de lenha. Para nos aquecer? Não. Já temos calor o suficiente,
para podermos vender esse tal de pau- brasil




OS ENSAIOS

      Todos os ensaios eram realizados somente uma vez por semana, no
domingo das 18:00h ás 22:00h.

      Antes de começarmos os ensaios fazíamos uma conversa em grupo
sobre o contexto histórico da peça, sobre o que cada um achava dos
personagens, perguntávamos se alguém havia pesquisado alguma coisa em
casa ou tinha alguma idéia ou nova proposta de cena, enfim essas reuniões
feitas sempre antes e também após o ensaio, tinham como objetivo dar voz a
todos do grupo e proporcionar um processo de criação pautada na
colaboração, na democracia.

      Indo agora para a criação das cenas, podemos dizer começamos muito
bem. Todo mundo expondo a opinião, inclusive e principalmente os atores.
Foram eles quem deram a maioria das ideias para a primeira cena: a cena da
tempestade. Eles, após já terem lido o texto, se juntaram e combinaram o que
iriam fazer, depois nos apresentavam a cena e a gente falou o que achou bom,
ou ruim e também fizemos orientações, com por exemplo onde tinha que ter
mais energia, que o texto tinha que ser falado mais alto, o que não estava
ficando claro,... E o mais legal neste primeiro ensaio é que não tinha ninguém
de má vontade, todo mundo que estava ali estava super envolvido no trabalho,
cheios de ideias e dúvidas, faziam muitas perguntas e tentavam a todo o
momento fazer o melhor.

      Desde o começo do trabalho já estávamos ensaiando com a trilha
sonora. O Everton, mas conhecido como Tom, ator já com uma certa
experiência e também dançarino, foi quem ficou responsável pela trilha sonora,
que achei maravilhosa, se encaixou perfeitamente com a peça.
No ensaio seguinte foi decidido que eu entraria na abertura do trabalho.
Ficamos quatro horas seguidas ensaiando a primeira cena que ainda não
estava pronta, ia até a parte que o contramestre xinga o Gonçalo. Dividimos as
falas entre os atores e tentamos ir até o fim da primeira cena, mas não
conseguimos pensar em nenhuma partitura para o final.

      Uma semana depois fizemos o final da primeira cena, mas não ficou
boa. Todo mundo estava com a mesma ação, de desequilíbrio, assim a cena
ficava sem dinâmica. Tivemos de mudar e pedimos a todos que trouxessem
propostas para o próximo ensaio.

      Partimos então para a cena do Ariel e do Próspero, feita pelo Tom e pelo
Felipe. Como sempre não nos preocupamos muito com as falas no começo da
montagem de uma cena. Primeiro montamos a partira corporal e as falas
entram como complemento. Essa cena demorou um pouquinho para ser feita,
mas todos deram as suas opiniões e ideias e no final a cena ficou boa.

      Como desde o início estávamos em dúvida de quem faria o Calibã, em
um determinado ensaio foi proposto um jogo Fizemos em grupo onde todos os
atores eram o Calibã. Todos formavam uma grande massa faziam as mesmas
ações e falavam o texto juntos. Ficou interessante todos os atores fazendo
apenas um personagem, isso talvez resolvese o problema da escolha, porém
não sabíamos se essa cena iria continuar na peça ou se iríamos escolher um
só ator para fazer o Calibã.

      No primeiro ensaio que tivemos no COP conseguimos terminar a
primeira cena. Todo o grupo se reuniu e pensou sobre o que poderíamos fazer.
Todas as ideias foram testadas até chegarmos à escolhida. Desconstruímos
todo o final que já havia sido feito e colocamos ações mais interessantes para
todos os personagens.

      A próxima cena a ser elaborada foi a da Miranda e do Próspero com a
Ingrid e o Tom. Achei que seria mais difícil fazer essa cena, pois esta teria
que ser bastante modificada por ter muito texto e quase nada de ações, além
de ser uma cena muito melodramática e não era nosso objetivo trabalhar esse
tipo de estética. Porém até que não foi, pois demos uma boa modificada nas
falas, cortamos a maioria, e a Miranda ficou bem menos trágica.

      O professor José Carlos Marques Volcato, especialista e doutor em
estudos Shakespeareanos, foi assistir a um ensaio. Mostramos para ele a
primeira cena que é o anúncio da tempestade, a cena da Miranda e a do Ariel.
E a Dagma improvisou um Calibã, para mostrar a idéia que tínhamos para a
montagem. O professor deu muitas dicas, principalmente para o fim da primeira
cena que vamos ter que mudar, pois um dos personagens pronuncia varias
falas como se fossem todas dele, mas na verdade elas são de vários
personagens, o que muda o sentido da cena.

      Em um novo ensaio novamente o professor Volcato e a Márcia, tradutora
da Ufpel, que participa conosco do grupo Fala Compartilha Shakespeare,
vieram nos assistir. Tivemos um desfalque no ensaio, pois a Ingrid, o Mineiro e
o Maicon não compareceram. Devido a falta de alguns atores não tivemos
como passar a primeira cena para fazer a tal modificação no fim. O que
fizemos foi improvisar uma cena que não existe na peça, porém é mencionada:
é a cena do Calibã tentando abusar de Miranda, claro, pelo olhar de Próspero.
Fizemos diversas improvisações. Todos passaram pela experiência de ser
Miranda e Calibã. No fim foi determinado que no caso de falta da Ingrid, Ândrea
faria a Miranda e o Tom ficaria com o Calibã, porém não estava nada certo
ainda, porque o Tom já fazia o Próspero. Teríamos então que decidir qual
papel ele faria, pois tem uma cena , que talvez seja a última, onde o Próspero
contracena com o Calibã. Então os dois papéis ele não poderia fazer. Mas no
final acho que foi bem produtivo esse ensaio. Essa cena nova que fizemos,
ficou muito simples e bonita e talvez permaneça na encenação.

      Como a maioria dos atores não estava se adequando ao horário do
ensaio tivemos que modificá-lo. Então marcamos o início para as 19:00 h para
o elenco que tem que jantar no RU. Ândrea, Dagma, Tom e Maicon chegaram
às 18:00h e já começaram a fazer o aquecimento e a ensaiar. Fizemos a cena
da Miranda do Próspero e como a Ingrid não havia chegado, novamente
Ândrea representou a Miranda. Quando todo o elenco chegou, ensaiamos a
cena da tempestade e finalmente conseguimos modificar o fim. Agora todas as
cenas já estavam montadas só falta fazer alguns ajustes.

      No inicio do ensaio do penúltimo fizemos os figurinos. O Tom, a Dagma,
O professor Volcato e a Márcia levaram vários panos, cordões, tules, tesoura,
linha, agulha... Com tudo isso conseguimos fazer o figurino da Miranda, Do
Próspero, do Ariel e do Calibã. Ficou faltando o figurino dos marinheiros, que
decidimos em grupo que seria branco. Pedimos aos atores que trouxessem
para o próximo ensaio camisa e calça branca para completar o figurino.

      Também nesse ensaio decidimos quais cenas iriam para a mostra final
e quem iria fazer cada papel. Ficou decidido que eu faria o papel da Miranda,
porque a Ingrid não compareceu a alguns ensaios e assim não estava apta
para o papel. O Joanderson faria o Calibã e o restante ficaria como já
havíamos estabelecido.   Passamos então todas as cenas, sempre parando
para arrumar o que não estava muito bom. E no final do ensaio repetimos todas
as cenas por duas vezes, sem parar para fazer arrumações, para a marcação
do tempo. Constatamos que só tínhamos 20 minutos de cena. Parece
inacreditável que depois de mais de três meses de trabalho e muito trabalho,
tudo o que conseguimos foi 20 minutos.

      No último ensaio não conseguimos passar a cena da tempestade devido
aos ajustes que tivemos que fazer nas cenas da Miranda. Modificamos
bastante as movimentações da personagem que não estavam extra cotidianas.
Levou muito tempo para criar as novas partituras. Tanto tempo que passamos
quase todo o ensaio só fazendo as cenas da Miranda. Mas ficou faltando
ensaiar no COP, local que seria a apresentação, já com a luz e os figurinos
para ver se daria tudo certo. Então Ândrea e Laura ficaram de combinar um dia
com o elenco e com a iluminadora para fazermos um ensaio geral.




ALGUMAS DIFICULDADES

      Algumas semanas após o começo dos ensaios passamos por um
período muito difícil. Três dos sete atores desistiram. Fizemos um ensaio só
com quatro atores na primeira cena. E na cena do Ariel substituímos o Felipe
pelo Maicon. Então chamamos mais três atores para cobrir o desfalque. Os
nossos colegas de faculdade: Ingrid, Everton (Mineiro) e Joanderson. Mas logo
em seguida ficamos sabendo que a Taís também havia desistido, então tive
que ficar no papel dela na primeira cena.

      Os atrasos e as faltas também prejudicaram muito o trabalho. O ensaio
estava marcado para as 18:00h mas a maioria dos atores sempre chegava
atrasada. Na tentativa de resolver o problema marcamos o início para as 19:00
h porem não adiantou, eles continuavam atrasando. Percebemos que qualquer
hora que marcássemos eles chegariam atrasados, então voltamos para o
horário das 18:00h. Quando não atrasavam eles simplesmente faltavam e
mandavam uma mensagem em cima da hora ou recado por outro para dizer
que não iam. Foram várias as faltas. Em um elenco de seis chegaram a faltar
três pessoas. Um deles chegou a faltar tanto que não contávamos mais com
ele para a encenação.

      Ao total passaram pelo elenco de A Tempestade 12 pessoas, das quais
só permaneceram 6. Alguns iam três vezes aos ensaios e desistiam, outros iam
uma vez só e desapareciam. E toda a vez que chegava alguém novo tínhamos
que explicar todas as cenas, distribuir novamente as falas e com isso
perdíamos muito tempo.

      Outra dificuldade foi em relação ao espaço para os ensaios. Como
muitos alunos do curso estão fazendo montagens e também precisam ensaiar,
acabaram ocorrendo algumas disputas pelas salas e algumas vezes tivemos
que ensaiar na sala branca. Isso foi bem negativo já que precisávamos de
bastante espaço. No entanto nem sempre as pessoas que reservaram as salas
usavam o espaço. Muitas vezes ficamos sabendo que a sala e o horário que
queríamos usar, e que estava reservada para outro, havia ficado vazia. O que
acho é que deveria ter uma punição para quem reservasse e não usasse o
espaço. COP que era para ser prioridade nossa acabou sendo da turma do
outro professor de encenação teatral.




      O OLHAR DA DAGMA ACERCA DO PROCESSO
Este texto fala de uma história de traição, como a que vivi nos bancos
universitários, achei que seria um bom momento para discutir a ingenuidade de
Próspero que coloca o seu ducado nas mãos de alguém em quem confiava
muito. Foi mais ou menos isso que aconteceu comigo. Talvez haja em mim
muito de Próspero e um bom bocado de Calibã. Nada do que escolho para
encenar é “a la cria”, tudo tem um fundo psicológico muito forte e sempre quero
dizer alguma coisa para alguém. É claro que Ândria e Laura concordaram,
escolhemos juntas, mas os motivos é que foram diferentes. Não tenho tanta
experiência como as pessoas julgam, tenho a vivência de uma professora de
cidade do interior, que quase não viaja, que não assiste teatro como deveria
porque quando tem tempo não tem dinheiro e quando tem dinheiro, não tem
tempo.




O OLHAR DE ÂNDREA ACERCA DO O PROCESSO




      Antes mesmo de começar o semestre Dagma e eu já haviamos
conversado sobre nossa encenação. Ficou combinado que se o trabalho fosse
em dupla faríamos juntas. Então começou o semestre e já foram surgindo
alguns nomes de peças para a encenação. A Dagma sugeriu A Megera
Domada de Shakespeare e A Tempestade de Shakespeare. Eu havia pensado
em “Arlequim, servidor de dois amos” de Carlo Goldoni, mas logo descartei,
pois resolvi deixar para montá-la em uma próxima oportunidade.

      Começamos a fazer alguns improvisos com o texto de A Megera
Domada, na escola Joaquim Duval, com alguns alunos. Ao mesmo tempo a
Dagma fez um ou dois improvisos baseado no texto A Tempestade na sala
preta, com alguns alunos da escola também e outros atores com quem já havia
trabalhado.

      Depois de ler os dois textos sentamos para escolher qual iríamos
montar. Primeiramente disse a Dagma que preferia montar A Megera Domada,
porque já tinha feito alguns improvisos e havia gostado bastante da história. No
entanto a Dagma me convidou para assistir o que já tinha sido feito nos
ensaios de A Tempestade.

      No domingo seguinte cheguei hoje ao ensaio que já havia começado e
me deparei com uma cena bastante interessante. Achei o trabalho inicial muito
bonito, tinha poucas falas e um trabalho corporal bastante diferente. Os atores
estavam todos muito concentrados e desempenhavam uma cena dançada que
me prendia muita atenção. O meu primeiro comentário com a Dagma foi sobre
a evolução do Alisson, um aluno da escola que já faz teatro comigo desde o
inicio do ano e que não conseguia fazer uma cena sem rir, mas agora estava
muito concentrado desempenhando seu papel.

      Depois desse ensaio não tive dúvidas, iríamos montar A Tempestade.
Claro a decisão não foi só minha. A Dagma concordou, acho que já era a
vontade dela desde o início ( na verdade ela oscilava entre A tempestade e A
megera domada), mas       não falou nada para não influenciar na decisão. A
Laura que acabou entrando no nosso grupo um pouco depois também
concordou com a escolha da peça. A Laura achava que A megera domada já
estava muito conhecida.

      Agora vou falar de uma dificuldade que me afetou muito: a minha
atuação. Como não tínhamos muitos atores precisei entrar em cena. Até ai
tudo bem. O problema é que tive que representar um homem. No início não
conseguia de jeito algum, foi bastante difícil fazer a voz, o caminhar, o olhar,
mas depois com a ajuda da Dagma fui, aos poucos, pegando o jeito, lógico que
nada aprimorado, porém já dava para enganar.

      O trabalho com o Tom foi excelente, ele é bailarino e trouxe para a cena
varias coreografias e um trabalho corporal muito intenso. Como nunca dancei,
tive que aprender tudo em pouco tempo.

      Não tendo uma preparação corporal das melhores, tive muitas dores
durante todo o período dos ensaios. Elas eram bastante intensas. Mal estava
me recuperando de um ensaio já ia para outro e as dores voltavam. Esse para
mim foi o lado mais negativo de toda a encenação.
CONSEGUIMOS

      Não foi fácil. Ensaiávamos todos os domingo á noite das 18:00h ás
22:20, um horário péssimo, onde a maioria chegava atrasada e queria sair mais
cedo. Por isso tivemos pouco tempo fazer uma montagem maior. Não marquei
o tempo depois que acrescentamos algumas coisas, mas acredito que não
tenha passado de 20min. Apesar disso, acho que esses 20min valeram muito
mais do que algumas montagens de 40min, pois foram muito bem feitos.

      Perto da apresentação todos já estavam exaustos. Nosso ensaio geral
foi no dia da apresentação do meio-dia as 14:00h e não deu pra fazer muita
coisa pois o grupo não estava completo. Na hora da apresentação foi uma
correria. Não tivemos tempo o suficiente para colocar figurino e a maquiagem
nem chegou perto de nossos rostos. Isso aconteceu porque metade do elenco
estava envolvida em uma encenação anterior a nossa.

      Apesar de tudo isso, tenho que dizer que valeu a pena. Fiquei muito
satisfeita com o resultado final, não só eu como todo o grupo. O processo
também foi importante. Nunca tinha aprendido tantas coisas em tão pouco
tempo. Aprendi muito mais do que durante todo o período de prática da
faculdade. Espero que ano que vem consigamos continuar com os ensaios de
A Tempestade para montá-la até o fim.




O OLHAR DE LAURA SOBRE O PROCESSO

      Quando fui fazer minha matricula, havia duas opções, a turma do Paulo
e a turma do Daniel. Escolhi a do Daniel por gostar do seu modo de ministrar a
aula e por não querer ter aula com o Paulo, porque já sabia do seu problema
com religiões ( sou evangélica) , e como não vou para aula para ouvir critica as
religiões e sim para aprender sobre a linguagem teatral e seus conteúdos,
achei melhor ter o Daniel como professor.

      Cheguei na aula do Daniel e fui informada que as encenações seriam
dirigidas em grupo. Percebi que o número de alunos era ímpar que alguém
ficaria sozinho. Em um momento notei que a Dagma não tinha dupla e que
ninguém queria convidá-la para trabalhar junto. (Na verdade eu não sabia, mas
ela já havia combinado com a Ândria e também já havia percebido que a turma
era com numeração ímpar e tinha tido a mesma ideia: me convidar para
fazermos juntas, as três a cadeira de Encenação Teatral). Quando a convidei,
para a minha surpresa, eu já fazia parte do grupo.

      Dagma e eu passamos por momentos difíceis juntas, fomos acusadas
injustamente de homofóbicas e racistas. As pessoas começaram a nos virar a
cara, quem olhava, olhava de cara feia e os que sabiam a verdade e poderiam
nos defender, recusaram-se a se manifestar e fizeram de conta que nada
estava acontecendo. Os professores ocupados com os seus 7 mil reais por
mês trataram de abafar o assunto. No dia seguinte ao fato que desencadeou
tudo isso, para mim, Laura, o pior não foi chegar na faculdade e ver todos
olhando para mim, e sim olhar para todos aqueles que sabiam que não eram
verdade mas que mantiveram-se calados para proteger seus interesses
particulares. Fiquei extremamente decepcionada com várias pessoas que eu
achava que eram minhas amigas mas que na verdade estavam com máscaras
o tempo todo. A Taís me menosprezou, “você é apenas uma aluna aqui” e a
Marina me chamou de mimada. Assim conheci os meus “mestres” , passei a
noite chorando tanto que no outro dia nem mesmo o meu corretivo importado
da M.A.C dava conta de esconder as olheiras, e decidi que não queria ser
como meus “mestres” em nenhum sentido. Quando vi a Dagma sozinha me
passou todo esse filme na cabeça, me lembrei dela chorando sozinha no
banheiro da faculdade e chamei- a para trabalhar comigo.

      Ela nos apresentou como proposta para a encenação três peças: A
Megera Domada, Medeia e a Tempestade. Não apoiei A Megera Domada por
achar que está já era muito conhecida e que causaria tanto impacto como se
fosse uma peça menos conhecida sendo encenada. Por isso escolhemos
democraticamente que A Tempestade seria a nossa encenação. Quando
relatamos ao professor de que encenaríamos Shakespeare, ele riu e perguntou
se tínhamos um ATOR, “por que para encenar Shakespeare é preciso ter um
ATOR”, fato que nos motivou ainda mais, queríamos mostrar que sim, encenar
Shakespeare era possível. Para aumentar nosso desafio, escolhemos como
encenador Eugênio Barba.

      A Dagma nos trouxe o texto e começamos a montar a peça cena por
cena, com a ajuda indispensável do Everton Lessa e de alguns alunos da
Dagma do Joaquim Duval, cada um ia dando a sua contribuição, fazendo o seu
movimento, a sua maneira de como faria a cena, e depois pegávamos o que
funcionava em cada um. Eu, por exemplo contribui na construção da cena da
Miranda e do Calibã, a Ândrea usou alguns gestos que fiz, só que ela fez de
um jeito mais menina e eu dei uma forma mais mulher, explorando mais a
sensualidade.

      Os alunos da Dagma são muito bons, havia 3 deles que no meio do
processo abandonaram a peça por questões de trabalho e depressão, inclusive
a menina que iria fazer a Miranda. Os 3 sairam na mesma época, o que gerou
uma quebra no processo, pois muitas coisas boas acabaram perdendo-se
nessas saídas. Precisávamos então de 3 atores para substituir os que saíram.
Convidamos pessoas do meio acadêmico, o que nos gerou uma grande dor de
cabeça, pois eles não avisavam quando não iam ensaiar, desligavam o celular,
faltavam muito o que demonstrava um descaso em relação ao trabalho. Como
diz a Dagma: “ É mais fácil trabalhar com o ator da vila.” Até o último momento
antes da apresentação, eu não sabia se todos iriam apresentar ou não, o que
me deixou bem nervosa. A lição que tirei disso é que mesmo que eu faça todo
um processo durante meses, na hora o que importa é compromisso do ator
com o trabalho. Nem sempre todos estão na mesma energia de trabalho,
alguns contribuem mais outros menos, mas para contribuir é preciso estar
presente no ensaio! Ao final de cada dia de trabalho, o grupo se reunia e
colocava suas opiniões sobre o processo. Todos tiveram a oportunidade de
manifestar-se, criticas sempre eram bem vindas.

      O professor Volcato sempre nos auxiliou em relação ao texto, nos
explicando parte por parte. E fazendo suas considerações em relação as
construções das cenas.

      As diretoras, atores a Márcia e o professor Volcato trouxeram panos,
linhas, agulhas e acessórios para compor o figurino. De inicio fomos
experimentando tudo para perceber o que melhor se adequava a cada
personagem.

      A trilha que dava energia para a encenação foi escolhida pelo Everton
Lessa e aprovadas por todos. Eu fiquei responsável por colocar o som na hora
do espetáculo, já que ninguém queria trabalhar com nós.( Não sou sonoplasta,
houve alguns erros no volume da música, estou aqui para aprender e sei que
tentei fazer o meu melhor, mas fatores como o nervosismo me atrapalharam,
ouve um momento em que o rádio desligou-se sozinho, dai o Ederson me disse
que haviam deixado o rádio cair e por isso ele estava se desligando
automaticamente, o que também nos prejudicou). O que refletiu também na
nossa dificuldade em conseguir alguém para fazer a nossa iluminação. Quando
tudo já estava certo, o projeto de iluminação pronto, a pessoa que era
responsável pela iluminação disse 4 dias antes que não poderia estar presente
no dia do espetáculo. E só avisou porque eu toquei no assunto sem saber que
ela já havia saído.

      Foi muito difícil trabalhar com todas essas desconsiderações dos nossos
colegas em relação ao nosso trabalho. Sentia, as vezes, que era porque eles
não queriam que a gente apresentasse, havia uma energia negativa em
algumas pessoas quando eu falava do trabalho com elas. E sei que pode
parecer bobagem, porém são as energias que movem o mundo e há pessoas
que transmitem coisas ruins para outras somente no olhar, imagina no falar. E
sei que havia pessoas que foram assistir nossa encenação torcendo para que
algo desse errado.

      Desde criança que gosto de Literatura Inglesa, por isso trabalhar com
Shakespeare e com o professor Volcato, que morou na Inglaterra e estudou
Shakespeare lá, foi uma experiência gratificante pra mim, aprendi muito com
ele, com a Dagma e com todos que trabalharam comigo.

      O mais difícil pra mim foi conciliar a minha não vontade de sair da cama,
a minha não vontade de falar com as pessoas, a minha não vontade de atender
o telefone, a minha não vontade de viver, a minha não vontade de me
relacionar com o mundo exterior enquanto meu exterior estava rasgado e
sangrava e sangrava. Enquanto eu me pressionava para estancar as feridas e
me levantar da cama, eu era pressionada a executar um monte de tarefas que
estavam sobre minha responsabilidade e que tinham que ser feitas, assistir as
aulas, ministrar aulas, estudar para as provas, PIBID, a ONG, cursinho de
inglês, me alimentar, tudo me pressionando. Eu não sei o que desencadeou
isso, mas prefiro ficar em casa, trancada no meu quarto, sem falar com
ninguém, nem mesmo com a adorável menina que mora comigo. Eu só não
desisti de tudo porque eu já passei por muitas coisas ruins para estar aqui. Mas
apesar de tudo eu não deixei o meu estado emocional deplorável influenciar no
meu trabalho na encenação, e por isso preferi não atuar.

      Montamos toda a peça e depois introduzimos os princípios que
retornam, a partir das considerações feitas pelo professor. Cada ator pensou
em um principio para acrescentar em seu personagem, seja nos gestos ou na
postura ao caminhar. Os princípios deixaram as cenas esteticamente muito
mais bonitas.

      Umas das coisas que me chateou foi que o professor não acreditou que
eu estivesse trabalhando e dando o melhor de mim, pois a Dagma me
repassou todas as dúvidas dele. Nos 4 semestres anteriores de 2009 a 2010
eu passei por méritos meus, não estudo muito em casa, tudo o que aprendo,
eu aprendo em aula, enquanto os professores acham que eu estou viajando eu
sei tudo o que está acontecendo na aula, melhor do que qualquer pessoa. E
2011 foi igual, só que mais difícil, considerando o meu emocional, o que me dá
mais méritos. Falam no curso de teatro-licenciatura: “vocês tem que
compreender a realidade do aluno.” Se eu estava mal ou se havia algum
problema do professor em relação a mim, tinha que ser resolvido comigo,
falado para mim. Outra, depois da apresentação o professor abraçou todos
menos eu.

      CONCLUSÃO

      Trabalhamos muito, nos empenhamos verdadeiramente. Mesmo tendo
problemas de horário, dificuldade de locação de espaço, resolvemos tudo.
Apresentamos sempre nas datas estipuladas, não prorrogamos, pelo contrário,
nos antecipamos. Com todas as dificuldades de tempo e espaço não tivemos
pena de nós mesmas, fomos a luta e quando chegava o dia de apresentar a
tarefa nós estávamos a postos, sem nenhuma desculpa. Não nos foi
oportunizado a passagem de luz e som, o ensaio geral no local. Tivemos
percalços, perda de elenco, mas em hora, data e local acordados, lá
estávamos. O que retiramos como lição? É preferível trabalhar com atores não
tão bons, mas dedicados, pontuais e comprometidos do que trabalhar com
pessoas que se julgam experientes, que acham que na hora da apresentação
“baixa uma entidade”. Na casa destas diretoras baixa a conta de luz, a de
telefone e do mercado, mas a luz própria de ator, esta não baixa: é fruto de
trabalho, comprometimento e dedicação. Podem até não acreditar, mas
trabalhamos em parceria. Os níveis de experiência eram diferenciados, mas
trabalhamos juntas. Nos orgulhamos de nossas pequenas conquistas,, rimos e
choramos muito. Nos abraçamos a cada queda e a cada vitória. Ficamos
exultantes com a perda de medo de altura da Ândrea, afinal preparamos uma
aula em que o objetivo era que a nossa colega perdesse o pânico de altura,
ficamos realizadas quando a Laura aprendeu a lidar com o som. Nós somos
vencedoras sim porque só tínhamos uma a outra como apoio e fizemos disso o
nosso maior recurso para terminar este trabalho. Terminar... a única coisa que
terminou foi o semestre, pois o trabalho do Fala & compartilha Shakespeare
continua... e vai bem... obrigada.

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  • 1. Universidade Federal de Pelotas Centro de Artes Curso de Teatro - Licenciatura Departamento de música e Artes Cênicas Teatro (Licenciatura) Disciplina: Encenação Teatral II Docente: Daniel Furtado Discentes: Ândrea Guerreiro Dagma Colomby Laura Bragamonte Pelotas, 24/11/2011.
  • 2. SUMÁRIO Introdução................................................................................................. 1 Projeto de estágio..................................................................................... 4 1ª aula........................................................................................................ 7 2ª aula........................................................................................................ 10 3ª aulaª....................................................................................................... 13 4ª aula...........................................................................................................16 5ª aula............................................................................................................19 Avaliação geral do processo de estágio.........................................................23
  • 3. Domingo, 21/08/2011. COMO COMEÇAMOS? PELO COMEÇO... É CLARO... Três propostas de trabalho foram discutidas para a disciplina de Encenação II com o professor Daniel Furtado: A Megera Domada, que foi do agrado de Ândria, mas Laura argumentou que esta já era muito conhecida, Medeia que já tem um esqueleto e que serviria para apresentar se tudo desse errado e A Tempestade. Dagma defendeu A Megera, por já termos facilidades e espaço para nos encontrarmos e A Tempestade por ser Shakespeare e, principalmente pelo tom de desafio do professor ao dizer que para montar Shakespeare era preciso ter ator. Seremos professoras, trabalharemos com alunos e não com atores. Precisamos, desde já a nos acostumarmos a trabalhar com integrantes de um universo que não possui experiência cênica. Outro motivo que nos fez tomar encanto pela obra é a facilidade de discutir as relações de opressor e oprimido pelo viés da história brasileira. Chegamos a conclusão de que realmente fazia muito sentido: em “A Tempestade” Shakespeare estava falando de Brasil. Então nós nos propusemos a discutir o texto por este viés. Para tanto questões alusivas ao aspecto histórico foram trazidas por Everton Lessa que está no 6º semestre do curso de história. É interessante traçar uma comparação entre A Tempestade e como se deu o “tomamento” do Brasil. Próspero chega, se apossa do espaço, descobre tudo da ilha através de Calibã, ensina-o os seus costumes, a sua língua, depois o escraviza. Calibã é escravizado por ter tentado violar Miranda ou por ser uma criatura disforme, segundo o olhar de Próspero. Outro personagem que oscila nos papeis de oprimido e opressor é o espírito assexuado Ariel. Este personagem ficou aprisionado por 12 anos em um tronco de uma árvore através dos malefícios da bruxa Sicorax. Ariel é libertado por Próspero e acaba se tornando um devedor e escravo deste. Questiona-se o seguinte: Se Ariel tem o dom de tanta magia, é capaz de fazer uma tempestade, por que se submete ao jugo de Próspero? Quem na nossa cultura tem o elemento de magia na sua religião? O negro. Talvez Ariel se submeta aos desmandos de Próspero por crer que está em dívida com seu amo, aquele que o libertou. Por
  • 4. que em outras situações, ele que é oprimido passa a oprimir Calibã. No final o que ocorre? Próspero perdoa seu irmão e tudo termina bem: Miranda com Ferdinando, nobreza com nobreza. E Calibã? Ora... ele que nos traga mais uma braçada de lenha. Para nos aquecer? Não. Já temos calor o suficiente, para podermos vender esse tal de pau- brasil OS ENSAIOS Todos os ensaios eram realizados somente uma vez por semana, no domingo das 18:00h ás 22:00h. Antes de começarmos os ensaios fazíamos uma conversa em grupo sobre o contexto histórico da peça, sobre o que cada um achava dos personagens, perguntávamos se alguém havia pesquisado alguma coisa em casa ou tinha alguma idéia ou nova proposta de cena, enfim essas reuniões feitas sempre antes e também após o ensaio, tinham como objetivo dar voz a todos do grupo e proporcionar um processo de criação pautada na colaboração, na democracia. Indo agora para a criação das cenas, podemos dizer começamos muito bem. Todo mundo expondo a opinião, inclusive e principalmente os atores. Foram eles quem deram a maioria das ideias para a primeira cena: a cena da tempestade. Eles, após já terem lido o texto, se juntaram e combinaram o que iriam fazer, depois nos apresentavam a cena e a gente falou o que achou bom, ou ruim e também fizemos orientações, com por exemplo onde tinha que ter mais energia, que o texto tinha que ser falado mais alto, o que não estava ficando claro,... E o mais legal neste primeiro ensaio é que não tinha ninguém de má vontade, todo mundo que estava ali estava super envolvido no trabalho, cheios de ideias e dúvidas, faziam muitas perguntas e tentavam a todo o momento fazer o melhor. Desde o começo do trabalho já estávamos ensaiando com a trilha sonora. O Everton, mas conhecido como Tom, ator já com uma certa experiência e também dançarino, foi quem ficou responsável pela trilha sonora, que achei maravilhosa, se encaixou perfeitamente com a peça.
  • 5. No ensaio seguinte foi decidido que eu entraria na abertura do trabalho. Ficamos quatro horas seguidas ensaiando a primeira cena que ainda não estava pronta, ia até a parte que o contramestre xinga o Gonçalo. Dividimos as falas entre os atores e tentamos ir até o fim da primeira cena, mas não conseguimos pensar em nenhuma partitura para o final. Uma semana depois fizemos o final da primeira cena, mas não ficou boa. Todo mundo estava com a mesma ação, de desequilíbrio, assim a cena ficava sem dinâmica. Tivemos de mudar e pedimos a todos que trouxessem propostas para o próximo ensaio. Partimos então para a cena do Ariel e do Próspero, feita pelo Tom e pelo Felipe. Como sempre não nos preocupamos muito com as falas no começo da montagem de uma cena. Primeiro montamos a partira corporal e as falas entram como complemento. Essa cena demorou um pouquinho para ser feita, mas todos deram as suas opiniões e ideias e no final a cena ficou boa. Como desde o início estávamos em dúvida de quem faria o Calibã, em um determinado ensaio foi proposto um jogo Fizemos em grupo onde todos os atores eram o Calibã. Todos formavam uma grande massa faziam as mesmas ações e falavam o texto juntos. Ficou interessante todos os atores fazendo apenas um personagem, isso talvez resolvese o problema da escolha, porém não sabíamos se essa cena iria continuar na peça ou se iríamos escolher um só ator para fazer o Calibã. No primeiro ensaio que tivemos no COP conseguimos terminar a primeira cena. Todo o grupo se reuniu e pensou sobre o que poderíamos fazer. Todas as ideias foram testadas até chegarmos à escolhida. Desconstruímos todo o final que já havia sido feito e colocamos ações mais interessantes para todos os personagens. A próxima cena a ser elaborada foi a da Miranda e do Próspero com a Ingrid e o Tom. Achei que seria mais difícil fazer essa cena, pois esta teria que ser bastante modificada por ter muito texto e quase nada de ações, além de ser uma cena muito melodramática e não era nosso objetivo trabalhar esse
  • 6. tipo de estética. Porém até que não foi, pois demos uma boa modificada nas falas, cortamos a maioria, e a Miranda ficou bem menos trágica. O professor José Carlos Marques Volcato, especialista e doutor em estudos Shakespeareanos, foi assistir a um ensaio. Mostramos para ele a primeira cena que é o anúncio da tempestade, a cena da Miranda e a do Ariel. E a Dagma improvisou um Calibã, para mostrar a idéia que tínhamos para a montagem. O professor deu muitas dicas, principalmente para o fim da primeira cena que vamos ter que mudar, pois um dos personagens pronuncia varias falas como se fossem todas dele, mas na verdade elas são de vários personagens, o que muda o sentido da cena. Em um novo ensaio novamente o professor Volcato e a Márcia, tradutora da Ufpel, que participa conosco do grupo Fala Compartilha Shakespeare, vieram nos assistir. Tivemos um desfalque no ensaio, pois a Ingrid, o Mineiro e o Maicon não compareceram. Devido a falta de alguns atores não tivemos como passar a primeira cena para fazer a tal modificação no fim. O que fizemos foi improvisar uma cena que não existe na peça, porém é mencionada: é a cena do Calibã tentando abusar de Miranda, claro, pelo olhar de Próspero. Fizemos diversas improvisações. Todos passaram pela experiência de ser Miranda e Calibã. No fim foi determinado que no caso de falta da Ingrid, Ândrea faria a Miranda e o Tom ficaria com o Calibã, porém não estava nada certo ainda, porque o Tom já fazia o Próspero. Teríamos então que decidir qual papel ele faria, pois tem uma cena , que talvez seja a última, onde o Próspero contracena com o Calibã. Então os dois papéis ele não poderia fazer. Mas no final acho que foi bem produtivo esse ensaio. Essa cena nova que fizemos, ficou muito simples e bonita e talvez permaneça na encenação. Como a maioria dos atores não estava se adequando ao horário do ensaio tivemos que modificá-lo. Então marcamos o início para as 19:00 h para o elenco que tem que jantar no RU. Ândrea, Dagma, Tom e Maicon chegaram às 18:00h e já começaram a fazer o aquecimento e a ensaiar. Fizemos a cena da Miranda do Próspero e como a Ingrid não havia chegado, novamente Ândrea representou a Miranda. Quando todo o elenco chegou, ensaiamos a
  • 7. cena da tempestade e finalmente conseguimos modificar o fim. Agora todas as cenas já estavam montadas só falta fazer alguns ajustes. No inicio do ensaio do penúltimo fizemos os figurinos. O Tom, a Dagma, O professor Volcato e a Márcia levaram vários panos, cordões, tules, tesoura, linha, agulha... Com tudo isso conseguimos fazer o figurino da Miranda, Do Próspero, do Ariel e do Calibã. Ficou faltando o figurino dos marinheiros, que decidimos em grupo que seria branco. Pedimos aos atores que trouxessem para o próximo ensaio camisa e calça branca para completar o figurino. Também nesse ensaio decidimos quais cenas iriam para a mostra final e quem iria fazer cada papel. Ficou decidido que eu faria o papel da Miranda, porque a Ingrid não compareceu a alguns ensaios e assim não estava apta para o papel. O Joanderson faria o Calibã e o restante ficaria como já havíamos estabelecido. Passamos então todas as cenas, sempre parando para arrumar o que não estava muito bom. E no final do ensaio repetimos todas as cenas por duas vezes, sem parar para fazer arrumações, para a marcação do tempo. Constatamos que só tínhamos 20 minutos de cena. Parece inacreditável que depois de mais de três meses de trabalho e muito trabalho, tudo o que conseguimos foi 20 minutos. No último ensaio não conseguimos passar a cena da tempestade devido aos ajustes que tivemos que fazer nas cenas da Miranda. Modificamos bastante as movimentações da personagem que não estavam extra cotidianas. Levou muito tempo para criar as novas partituras. Tanto tempo que passamos quase todo o ensaio só fazendo as cenas da Miranda. Mas ficou faltando ensaiar no COP, local que seria a apresentação, já com a luz e os figurinos para ver se daria tudo certo. Então Ândrea e Laura ficaram de combinar um dia com o elenco e com a iluminadora para fazermos um ensaio geral. ALGUMAS DIFICULDADES Algumas semanas após o começo dos ensaios passamos por um período muito difícil. Três dos sete atores desistiram. Fizemos um ensaio só com quatro atores na primeira cena. E na cena do Ariel substituímos o Felipe
  • 8. pelo Maicon. Então chamamos mais três atores para cobrir o desfalque. Os nossos colegas de faculdade: Ingrid, Everton (Mineiro) e Joanderson. Mas logo em seguida ficamos sabendo que a Taís também havia desistido, então tive que ficar no papel dela na primeira cena. Os atrasos e as faltas também prejudicaram muito o trabalho. O ensaio estava marcado para as 18:00h mas a maioria dos atores sempre chegava atrasada. Na tentativa de resolver o problema marcamos o início para as 19:00 h porem não adiantou, eles continuavam atrasando. Percebemos que qualquer hora que marcássemos eles chegariam atrasados, então voltamos para o horário das 18:00h. Quando não atrasavam eles simplesmente faltavam e mandavam uma mensagem em cima da hora ou recado por outro para dizer que não iam. Foram várias as faltas. Em um elenco de seis chegaram a faltar três pessoas. Um deles chegou a faltar tanto que não contávamos mais com ele para a encenação. Ao total passaram pelo elenco de A Tempestade 12 pessoas, das quais só permaneceram 6. Alguns iam três vezes aos ensaios e desistiam, outros iam uma vez só e desapareciam. E toda a vez que chegava alguém novo tínhamos que explicar todas as cenas, distribuir novamente as falas e com isso perdíamos muito tempo. Outra dificuldade foi em relação ao espaço para os ensaios. Como muitos alunos do curso estão fazendo montagens e também precisam ensaiar, acabaram ocorrendo algumas disputas pelas salas e algumas vezes tivemos que ensaiar na sala branca. Isso foi bem negativo já que precisávamos de bastante espaço. No entanto nem sempre as pessoas que reservaram as salas usavam o espaço. Muitas vezes ficamos sabendo que a sala e o horário que queríamos usar, e que estava reservada para outro, havia ficado vazia. O que acho é que deveria ter uma punição para quem reservasse e não usasse o espaço. COP que era para ser prioridade nossa acabou sendo da turma do outro professor de encenação teatral. O OLHAR DA DAGMA ACERCA DO PROCESSO
  • 9. Este texto fala de uma história de traição, como a que vivi nos bancos universitários, achei que seria um bom momento para discutir a ingenuidade de Próspero que coloca o seu ducado nas mãos de alguém em quem confiava muito. Foi mais ou menos isso que aconteceu comigo. Talvez haja em mim muito de Próspero e um bom bocado de Calibã. Nada do que escolho para encenar é “a la cria”, tudo tem um fundo psicológico muito forte e sempre quero dizer alguma coisa para alguém. É claro que Ândria e Laura concordaram, escolhemos juntas, mas os motivos é que foram diferentes. Não tenho tanta experiência como as pessoas julgam, tenho a vivência de uma professora de cidade do interior, que quase não viaja, que não assiste teatro como deveria porque quando tem tempo não tem dinheiro e quando tem dinheiro, não tem tempo. O OLHAR DE ÂNDREA ACERCA DO O PROCESSO Antes mesmo de começar o semestre Dagma e eu já haviamos conversado sobre nossa encenação. Ficou combinado que se o trabalho fosse em dupla faríamos juntas. Então começou o semestre e já foram surgindo alguns nomes de peças para a encenação. A Dagma sugeriu A Megera Domada de Shakespeare e A Tempestade de Shakespeare. Eu havia pensado em “Arlequim, servidor de dois amos” de Carlo Goldoni, mas logo descartei, pois resolvi deixar para montá-la em uma próxima oportunidade. Começamos a fazer alguns improvisos com o texto de A Megera Domada, na escola Joaquim Duval, com alguns alunos. Ao mesmo tempo a Dagma fez um ou dois improvisos baseado no texto A Tempestade na sala preta, com alguns alunos da escola também e outros atores com quem já havia trabalhado. Depois de ler os dois textos sentamos para escolher qual iríamos montar. Primeiramente disse a Dagma que preferia montar A Megera Domada,
  • 10. porque já tinha feito alguns improvisos e havia gostado bastante da história. No entanto a Dagma me convidou para assistir o que já tinha sido feito nos ensaios de A Tempestade. No domingo seguinte cheguei hoje ao ensaio que já havia começado e me deparei com uma cena bastante interessante. Achei o trabalho inicial muito bonito, tinha poucas falas e um trabalho corporal bastante diferente. Os atores estavam todos muito concentrados e desempenhavam uma cena dançada que me prendia muita atenção. O meu primeiro comentário com a Dagma foi sobre a evolução do Alisson, um aluno da escola que já faz teatro comigo desde o inicio do ano e que não conseguia fazer uma cena sem rir, mas agora estava muito concentrado desempenhando seu papel. Depois desse ensaio não tive dúvidas, iríamos montar A Tempestade. Claro a decisão não foi só minha. A Dagma concordou, acho que já era a vontade dela desde o início ( na verdade ela oscilava entre A tempestade e A megera domada), mas não falou nada para não influenciar na decisão. A Laura que acabou entrando no nosso grupo um pouco depois também concordou com a escolha da peça. A Laura achava que A megera domada já estava muito conhecida. Agora vou falar de uma dificuldade que me afetou muito: a minha atuação. Como não tínhamos muitos atores precisei entrar em cena. Até ai tudo bem. O problema é que tive que representar um homem. No início não conseguia de jeito algum, foi bastante difícil fazer a voz, o caminhar, o olhar, mas depois com a ajuda da Dagma fui, aos poucos, pegando o jeito, lógico que nada aprimorado, porém já dava para enganar. O trabalho com o Tom foi excelente, ele é bailarino e trouxe para a cena varias coreografias e um trabalho corporal muito intenso. Como nunca dancei, tive que aprender tudo em pouco tempo. Não tendo uma preparação corporal das melhores, tive muitas dores durante todo o período dos ensaios. Elas eram bastante intensas. Mal estava me recuperando de um ensaio já ia para outro e as dores voltavam. Esse para mim foi o lado mais negativo de toda a encenação.
  • 11. CONSEGUIMOS Não foi fácil. Ensaiávamos todos os domingo á noite das 18:00h ás 22:20, um horário péssimo, onde a maioria chegava atrasada e queria sair mais cedo. Por isso tivemos pouco tempo fazer uma montagem maior. Não marquei o tempo depois que acrescentamos algumas coisas, mas acredito que não tenha passado de 20min. Apesar disso, acho que esses 20min valeram muito mais do que algumas montagens de 40min, pois foram muito bem feitos. Perto da apresentação todos já estavam exaustos. Nosso ensaio geral foi no dia da apresentação do meio-dia as 14:00h e não deu pra fazer muita coisa pois o grupo não estava completo. Na hora da apresentação foi uma correria. Não tivemos tempo o suficiente para colocar figurino e a maquiagem nem chegou perto de nossos rostos. Isso aconteceu porque metade do elenco estava envolvida em uma encenação anterior a nossa. Apesar de tudo isso, tenho que dizer que valeu a pena. Fiquei muito satisfeita com o resultado final, não só eu como todo o grupo. O processo também foi importante. Nunca tinha aprendido tantas coisas em tão pouco tempo. Aprendi muito mais do que durante todo o período de prática da faculdade. Espero que ano que vem consigamos continuar com os ensaios de A Tempestade para montá-la até o fim. O OLHAR DE LAURA SOBRE O PROCESSO Quando fui fazer minha matricula, havia duas opções, a turma do Paulo e a turma do Daniel. Escolhi a do Daniel por gostar do seu modo de ministrar a aula e por não querer ter aula com o Paulo, porque já sabia do seu problema com religiões ( sou evangélica) , e como não vou para aula para ouvir critica as religiões e sim para aprender sobre a linguagem teatral e seus conteúdos, achei melhor ter o Daniel como professor. Cheguei na aula do Daniel e fui informada que as encenações seriam dirigidas em grupo. Percebi que o número de alunos era ímpar que alguém
  • 12. ficaria sozinho. Em um momento notei que a Dagma não tinha dupla e que ninguém queria convidá-la para trabalhar junto. (Na verdade eu não sabia, mas ela já havia combinado com a Ândria e também já havia percebido que a turma era com numeração ímpar e tinha tido a mesma ideia: me convidar para fazermos juntas, as três a cadeira de Encenação Teatral). Quando a convidei, para a minha surpresa, eu já fazia parte do grupo. Dagma e eu passamos por momentos difíceis juntas, fomos acusadas injustamente de homofóbicas e racistas. As pessoas começaram a nos virar a cara, quem olhava, olhava de cara feia e os que sabiam a verdade e poderiam nos defender, recusaram-se a se manifestar e fizeram de conta que nada estava acontecendo. Os professores ocupados com os seus 7 mil reais por mês trataram de abafar o assunto. No dia seguinte ao fato que desencadeou tudo isso, para mim, Laura, o pior não foi chegar na faculdade e ver todos olhando para mim, e sim olhar para todos aqueles que sabiam que não eram verdade mas que mantiveram-se calados para proteger seus interesses particulares. Fiquei extremamente decepcionada com várias pessoas que eu achava que eram minhas amigas mas que na verdade estavam com máscaras o tempo todo. A Taís me menosprezou, “você é apenas uma aluna aqui” e a Marina me chamou de mimada. Assim conheci os meus “mestres” , passei a noite chorando tanto que no outro dia nem mesmo o meu corretivo importado da M.A.C dava conta de esconder as olheiras, e decidi que não queria ser como meus “mestres” em nenhum sentido. Quando vi a Dagma sozinha me passou todo esse filme na cabeça, me lembrei dela chorando sozinha no banheiro da faculdade e chamei- a para trabalhar comigo. Ela nos apresentou como proposta para a encenação três peças: A Megera Domada, Medeia e a Tempestade. Não apoiei A Megera Domada por achar que está já era muito conhecida e que causaria tanto impacto como se fosse uma peça menos conhecida sendo encenada. Por isso escolhemos democraticamente que A Tempestade seria a nossa encenação. Quando relatamos ao professor de que encenaríamos Shakespeare, ele riu e perguntou se tínhamos um ATOR, “por que para encenar Shakespeare é preciso ter um ATOR”, fato que nos motivou ainda mais, queríamos mostrar que sim, encenar
  • 13. Shakespeare era possível. Para aumentar nosso desafio, escolhemos como encenador Eugênio Barba. A Dagma nos trouxe o texto e começamos a montar a peça cena por cena, com a ajuda indispensável do Everton Lessa e de alguns alunos da Dagma do Joaquim Duval, cada um ia dando a sua contribuição, fazendo o seu movimento, a sua maneira de como faria a cena, e depois pegávamos o que funcionava em cada um. Eu, por exemplo contribui na construção da cena da Miranda e do Calibã, a Ândrea usou alguns gestos que fiz, só que ela fez de um jeito mais menina e eu dei uma forma mais mulher, explorando mais a sensualidade. Os alunos da Dagma são muito bons, havia 3 deles que no meio do processo abandonaram a peça por questões de trabalho e depressão, inclusive a menina que iria fazer a Miranda. Os 3 sairam na mesma época, o que gerou uma quebra no processo, pois muitas coisas boas acabaram perdendo-se nessas saídas. Precisávamos então de 3 atores para substituir os que saíram. Convidamos pessoas do meio acadêmico, o que nos gerou uma grande dor de cabeça, pois eles não avisavam quando não iam ensaiar, desligavam o celular, faltavam muito o que demonstrava um descaso em relação ao trabalho. Como diz a Dagma: “ É mais fácil trabalhar com o ator da vila.” Até o último momento antes da apresentação, eu não sabia se todos iriam apresentar ou não, o que me deixou bem nervosa. A lição que tirei disso é que mesmo que eu faça todo um processo durante meses, na hora o que importa é compromisso do ator com o trabalho. Nem sempre todos estão na mesma energia de trabalho, alguns contribuem mais outros menos, mas para contribuir é preciso estar presente no ensaio! Ao final de cada dia de trabalho, o grupo se reunia e colocava suas opiniões sobre o processo. Todos tiveram a oportunidade de manifestar-se, criticas sempre eram bem vindas. O professor Volcato sempre nos auxiliou em relação ao texto, nos explicando parte por parte. E fazendo suas considerações em relação as construções das cenas. As diretoras, atores a Márcia e o professor Volcato trouxeram panos, linhas, agulhas e acessórios para compor o figurino. De inicio fomos
  • 14. experimentando tudo para perceber o que melhor se adequava a cada personagem. A trilha que dava energia para a encenação foi escolhida pelo Everton Lessa e aprovadas por todos. Eu fiquei responsável por colocar o som na hora do espetáculo, já que ninguém queria trabalhar com nós.( Não sou sonoplasta, houve alguns erros no volume da música, estou aqui para aprender e sei que tentei fazer o meu melhor, mas fatores como o nervosismo me atrapalharam, ouve um momento em que o rádio desligou-se sozinho, dai o Ederson me disse que haviam deixado o rádio cair e por isso ele estava se desligando automaticamente, o que também nos prejudicou). O que refletiu também na nossa dificuldade em conseguir alguém para fazer a nossa iluminação. Quando tudo já estava certo, o projeto de iluminação pronto, a pessoa que era responsável pela iluminação disse 4 dias antes que não poderia estar presente no dia do espetáculo. E só avisou porque eu toquei no assunto sem saber que ela já havia saído. Foi muito difícil trabalhar com todas essas desconsiderações dos nossos colegas em relação ao nosso trabalho. Sentia, as vezes, que era porque eles não queriam que a gente apresentasse, havia uma energia negativa em algumas pessoas quando eu falava do trabalho com elas. E sei que pode parecer bobagem, porém são as energias que movem o mundo e há pessoas que transmitem coisas ruins para outras somente no olhar, imagina no falar. E sei que havia pessoas que foram assistir nossa encenação torcendo para que algo desse errado. Desde criança que gosto de Literatura Inglesa, por isso trabalhar com Shakespeare e com o professor Volcato, que morou na Inglaterra e estudou Shakespeare lá, foi uma experiência gratificante pra mim, aprendi muito com ele, com a Dagma e com todos que trabalharam comigo. O mais difícil pra mim foi conciliar a minha não vontade de sair da cama, a minha não vontade de falar com as pessoas, a minha não vontade de atender o telefone, a minha não vontade de viver, a minha não vontade de me relacionar com o mundo exterior enquanto meu exterior estava rasgado e sangrava e sangrava. Enquanto eu me pressionava para estancar as feridas e
  • 15. me levantar da cama, eu era pressionada a executar um monte de tarefas que estavam sobre minha responsabilidade e que tinham que ser feitas, assistir as aulas, ministrar aulas, estudar para as provas, PIBID, a ONG, cursinho de inglês, me alimentar, tudo me pressionando. Eu não sei o que desencadeou isso, mas prefiro ficar em casa, trancada no meu quarto, sem falar com ninguém, nem mesmo com a adorável menina que mora comigo. Eu só não desisti de tudo porque eu já passei por muitas coisas ruins para estar aqui. Mas apesar de tudo eu não deixei o meu estado emocional deplorável influenciar no meu trabalho na encenação, e por isso preferi não atuar. Montamos toda a peça e depois introduzimos os princípios que retornam, a partir das considerações feitas pelo professor. Cada ator pensou em um principio para acrescentar em seu personagem, seja nos gestos ou na postura ao caminhar. Os princípios deixaram as cenas esteticamente muito mais bonitas. Umas das coisas que me chateou foi que o professor não acreditou que eu estivesse trabalhando e dando o melhor de mim, pois a Dagma me repassou todas as dúvidas dele. Nos 4 semestres anteriores de 2009 a 2010 eu passei por méritos meus, não estudo muito em casa, tudo o que aprendo, eu aprendo em aula, enquanto os professores acham que eu estou viajando eu sei tudo o que está acontecendo na aula, melhor do que qualquer pessoa. E 2011 foi igual, só que mais difícil, considerando o meu emocional, o que me dá mais méritos. Falam no curso de teatro-licenciatura: “vocês tem que compreender a realidade do aluno.” Se eu estava mal ou se havia algum problema do professor em relação a mim, tinha que ser resolvido comigo, falado para mim. Outra, depois da apresentação o professor abraçou todos menos eu. CONCLUSÃO Trabalhamos muito, nos empenhamos verdadeiramente. Mesmo tendo problemas de horário, dificuldade de locação de espaço, resolvemos tudo. Apresentamos sempre nas datas estipuladas, não prorrogamos, pelo contrário, nos antecipamos. Com todas as dificuldades de tempo e espaço não tivemos pena de nós mesmas, fomos a luta e quando chegava o dia de apresentar a
  • 16. tarefa nós estávamos a postos, sem nenhuma desculpa. Não nos foi oportunizado a passagem de luz e som, o ensaio geral no local. Tivemos percalços, perda de elenco, mas em hora, data e local acordados, lá estávamos. O que retiramos como lição? É preferível trabalhar com atores não tão bons, mas dedicados, pontuais e comprometidos do que trabalhar com pessoas que se julgam experientes, que acham que na hora da apresentação “baixa uma entidade”. Na casa destas diretoras baixa a conta de luz, a de telefone e do mercado, mas a luz própria de ator, esta não baixa: é fruto de trabalho, comprometimento e dedicação. Podem até não acreditar, mas trabalhamos em parceria. Os níveis de experiência eram diferenciados, mas trabalhamos juntas. Nos orgulhamos de nossas pequenas conquistas,, rimos e choramos muito. Nos abraçamos a cada queda e a cada vitória. Ficamos exultantes com a perda de medo de altura da Ândrea, afinal preparamos uma aula em que o objetivo era que a nossa colega perdesse o pânico de altura, ficamos realizadas quando a Laura aprendeu a lidar com o som. Nós somos vencedoras sim porque só tínhamos uma a outra como apoio e fizemos disso o nosso maior recurso para terminar este trabalho. Terminar... a única coisa que terminou foi o semestre, pois o trabalho do Fala & compartilha Shakespeare continua... e vai bem... obrigada.