1. Linguagem e Comunicação
A Arte e a Globalização
Nas últimas décadas, a arte tem revelado um papel importante na denúncia dos perigos da
Globalização. No entanto, paradoxalmente, também tem sido um veículo favorável à expressão de
tendências, comportamentos e pensamentos globais. O termo Globalização nem sempre aparece de forma
explícita, mas os seus inconvenientes e perigos podem ser expressos num quadro, num filme, num poema
ou numa música. A forma como estas manifestações artísticas têm evoluído e o modo como têm sido
avaliadas pelo público assemelham-se em diferentes partes do mundo, não escapando, por isso, à
Globalização. Os trabalhos apresentados desvendam parte dessa estreita relação entre a Arte e a
Globalização.
A Poesia e a Globalização
Fala do Velho do Restelo ao Astronauta Neste poema, o sujeito poético dá voz ao Velho do
Restelo, símbolo da experiência, da sabedoria e do bom
Aqui, na Terra, a fome continua,
senso. Esta figura, criada por Camões, representa o
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
homem experiente, possuidor de um saber digno de
respeito e dotado de autoridade.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
Tal como o Velho do Restelo (Os Lusíadas), o sujeito
E dizemos amor sem saber o que seja.
poético pretende alertar o homem para o
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
deslumbramento e euforia com que se maravilha com as
E também da pobreza, e da fome outra vez.
novas tecnologias, os avanços da genética e sobretudo a
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
conquista espacial. Com a sede de poder, esquecemo-nos
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.
da realidade: o mundo e a humanidade pagam
diariamente o desenvolvimento das novas descobertas
No jornal, de olhos tensos, soletramos
com as guerras, a fome, as tragédias ambientais, etc.
As vertigens do espaço e maravilhas:
Com o desenvolvimento das grandes cidades, já ninguém
Oceanos salgados que circundam
se conhece, ninguém se cumprimenta, ninguém se
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
importa com a dor dos mais desfavorecidos. As crianças
começam a esquecer o que significa amar o próximo,
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
dando maior importância às coisas materiais, à riqueza, à
Onde come, brincando, só a fome,
fama e ao poder.
Só a fome, astronauta, só a fome,
Com a ambição pelo poder e pela riqueza, a sociedade
2. E são brinquedos as bombas de napalme. esquece-se que no nosso mundo há pessoas a morrer de
fome, que há pobreza e famílias sem um tecto onde se
José Saramago, in Poemas Possíveis abrigar. Enquanto alguns regalam-se em festins, outros
com a sua eloquência de bem falar nos meios de
comunicação retratam a fome e a guerra com certa
banalidade. Este poema não é mais do que um grito
contra a indiferença, contra as inúmeras desigualdades
que foram surgindo ao longo das décadas. O empenho e
esforço empreendidos em aventuras espaciais, assim
como em projectos científicos, traduzem o desejo global
em tornar o mundo mais evoluído em todas as áreas. No
entanto, este movimento global também é marcado pela
desigualdade, pela indiferença e pela avidez desmesurada
pelo poder e pela riqueza. Trata -se da Globalização
naquilo que de pior tem para oferecer.
António Carvalho
Natália Carvalho
Gracinda Couto
Mª Fátima Couto
Liliana Trabuca
Os Centros Comerciais e a Globalização
Ao longo dos anos, os efeitos da
Globalização também têm sido visíveis
nas construções arquitectónicas. Os
edifícios altos e vidrados, os espaços
amplos e bem iluminados, os parques de
estacionamentos subterrâneos são
apenas algumas das construções que
podemos observar em todo o mundo. A
Arquitectura não parece poupar esforços
no que respeita à criatividade. O
crescente número de centros comerciais
e a preferência pelos mesmos, em
detrimento do comércio tradicional, reflectem também uma das inúmeras faces da Globalização.
3. Apolo 70, em Lisboa, e Brasília, no Porto, foram dois dos primeiros centros comerciais a surgir em Portugal.
Nestes centros comerciais, à semelhança do que se verificava em muitos outros localizados em diferentes
países, o espaço era muito limitado. Havia muita gente para pouco espaço. Actualmente, os espaços são
mais amplos para que seja possível corresponder às necessidades de uma quantidade maior de pessoas.
Havia também poucas lojas
comparativamente às que há agora.
Hoje, não só há muitas lojas, como
também há mais variedade. Há todo
o tipo de serviços e produtos. Em
tempos, estacionar era um
problema, enquanto hoje, os nossos
Shopping’s dispõem de grandes
parques de estacionamento.
Os primeiros centros
comerciais eram também pouco
iluminados e havia pouca
publicidade. Actualmente, verifica-se muita publicidade nos centros comerciais e muita iluminação,
principalmente nas épocas festivas.
Nos primeiros centros comerciais, o ambiente nem sempre era o melhor: muito frio, falta de
segurança e os horários eram pouco alargados. As lojas estavam organizadas sem qualquer critério, o que
já não se verifica pois agora há uma área para a restauração, outra para a cosmética... Foram criados
Shopping’s outlet para que as pessoas passassem a usufruir de produtos a preço acessível: Freeport,
Factury, entre outros.
Com o passar do tempo, as pessoas foram abdicando cada vez mais do comércio tradicional a favor
dos centros comerciais. O motivo deve-se sobretudo ao facto de, num só local, se encontrar todo o tipo de
produtos. Com esta crescente procura de centros comerciais foram criados novos centros comerciais,
prejudicando assim o comércio tradicional. As pessoas, nos centros comerciais, encontram tudo num só
lugar. Na nossa opinião preferimos os centros comerciais porque podemos fazer de tudo num só local.
Ana Rita
Paula Brandão
Marta Brandão
Luís silva
4. O Fado e a Globalização
Camané – A minha rua
Mudou muito a minha rua Este fado pode representar qualquer rua/bairro de Lisboa. A
Quando o Outono chegou Globalização teve um efeito negativo nas cidades. Aos poucos, as
Deixou de se ver a lua pessoas foram deixando os centros, passando a viver nas periferias.
Todo o trânsito parou Assim, os bairros perderam muita da sua vida e, com o passar do
tempo, tornaram-se vazios, degradados e rodeados por enormes
Muitas portas estão fechadas prédios que os isolam e lhes retiram as vistas sobre o Tejo.
Já ninguém entra por elas O Fado é uma forma de expressão muito própria dos portugueses e
Não há roupas penduradas são muitos os fadistas que abordam a forma como a Globalização
Nem há cravos nas janelas mudou a vida das cidades. A Minha Rua retrata o passado com
saudade, critica o presente e revela alguma apreensão em relação
Não há marujos na esquina ao futuro.
De manhã não há mercado Na nossa opinião, o Fado resistiu aos efeitos negativos da
Nunca mais vi a varina Globalização por ser uma forma de expressão única, sendo que
A namorar com o soldado ainda muitos jovens se revêem nesta música que traduz como
nenhuma o que é ser bairrista e português. Trata-se de uma forma
O padeiro foi-se embora de ligação à sua terra, às suas raízes e à sua cultura naquilo que ela
Foi-se embora o professor tem de mais genuíno. Desta forma, o Fado promove a sua
Na rua só passa agora internacionalização, uma vez de reflecte a cultura portuguesa e a
O abade e o doutor identidade do povo português.
O homem do realejo
Nunca mais por lá passou
O Tejo já não o vejo
Um grande prédio o tapou
O relógio da estação
Marca as horas em atraso
E o menino do pião
Anda a brincar ao acaso
A livraria fechou
5. A tasca tem outro dono
A minha rua mudou
Quando chegou o Outono
Há quem diga "ainda bem",
Está muito mais sossegada
Não se vê quase ninguém
E não se ouve quase nada
Eu vou-lhes dando razão
Que lhes faça bom proveito
E só espero pelo verão
P´ra pôr a rua a meu jeito
O Cinema e a Globalização
“L’aile ou la Cuisse” - Colecção Louis de Funés – foi
um filme produzido nos anos 70 e reporta-nos para a
época das primeiras manifestações contra a globalização.
Tudo se passa numa grande fábrica de produtos
alimentares, onde figuram máquinas, distribuídas mais
propriamente por sectores industriais do que por
produtos alimentares. Normalmente os produtos
alimentares levam o seu tempo a crescer, mas os apresentados na fábrica são produtos feitos da noite
para o dia ou mesmo na hora. Por exemplo, a carne é feita com auxílio de máquinas, sendo que são
utilizados produtos impróprios para se fazer um frango. A produção é realizada em série e com o mesmo
ingrediente são produzidos vários tipos de alimentos: o peixe, a carne e os legumes são feitos a partir de
uma espécie de fermento com mau aspecto. Assim, o peixe, em vez de ser pescado, é produzido em
máquinas industriais; os legumes, em vez de serem semeados
ou plantados, são produzidos em fábricas.
Charles Duchemin, um famoso crítico de culinária, e seu
filho Pierre ficam escandalizados ao assistirem ao processo de
fabrico desses alimentos. Em jeito de comédia, o filme
6. apresenta uma dura crítica ao fast- food, valorizando a cozinha tradicional e produção natural. É nesse
sentido que consideramos que, para a sua época, este filme tenha sido efectivamente pioneiro no que
concerne a desvendar o crescimento desenfreado da produção industrial de alimentos e do fast food.
O fast- food é uma solução para pessoas que não têm tempo para cozinhar e que por isso recorrem
às comidas já prontas, ou pré-confeccionadas. Hoje em dia, quase todos os casais trabalham e não há
tempo para cozinhar. Sabendo que não sendo muito saudável, deveríamos ter algumas precauções em
relação ao fast-food. Na verdade, os que mais ganham com isso são as empresas que comercializam o fast-
food e o que produzem. Não há nada como saborearmos as refeições que são confeccionadas na hora com
os devidos ingredientes, como no tempo dos nossos pais.
Paulo Monteiro
Fátima Moreira
Beatriz Nunes
José Nunes