Dominic nasceu feiticeira, é feiticeira, mas sem poderes. A cada geração, a magia que corre nas veias da Família Audrieux vai ficando mais escassa. Uma ótima oportunidade para quem quiser tomar todo o poder para si e, vulgarmente dizendo, dominar o mundo.
1. Benévola
Dominic nasceu feiticeira, é feiticeira, mas sem poderes. A cada geração, a magia que
corre nas veias da Família Audrieux vai ficando mais escassa. Uma ótima oportunidade
para quem quiser tomar todo o poder para si e, vulgarmente dizendo, dominar o mundo.
Gênero: Ação, Aventura, Mistério, Ficção, Romance.
Faixa Etária: +13
Por Ella Martin
Capítulo 1
Agora ela entendia a concepção literal de ver o sol nascer quadrado. Não era quando
os poderes dela se agitavam e passava a noite em claro bebendo leite e lavando o rosto
e, então, eventualmente, via os primeiros raios da manhã pela veneziana do banheiro.
Não, era algo definitivamente pior.
Ela estava sentada numa cadeira de inox, as pernas gelando em contato com o metal.
Via seu reflexo cansado onde quer que olhasse: seus cabelos pretos bagunçados, os
olhos castanhos com olheiras profundas, seu corpo branco e magrelo escondido em uma
combinação apressada e amarrotada de vestido floral e jaqueta de camurça laranja. Batia
as unhas inquietamente na madeira em uma tentativa frustrada de se acalmar, podia
sentir feitiços se conjurando na atmosfera a sua volta.
Um barulho é ouvido do lado de fora. Ela se volta para a porta e não consegue distinguir
mais do que duas silhuetas confusas, parecendo discutirem através de sussurros. A
silhueta menor e mais magra segurava a maçaneta com força, impedindo a silhueta
corpulenta e barbuda de entrar. A silhueta mais frágil estava quase cedendo, conseguia
ver pela expressão corporal.
Finalmente a porta se abre, revelando um grandalhão de barba e cabelos ruivos com
leves sardas salpicadas pela maçã do rosto, carregava um sorriso terno nos lábios e o
rabo de cavalo contrariava a sua postura e o seu terno verde de risca de giz. Ele se
sentou na cadeira na ponta oposta da mesa, juntou as mãos e pigarreou.
— Dominic.
Ele sorriu ao dizer o nome dela banhado em um sotaque irritantemente francês, fazendo
a lateral dos seus olhos
azulados se enrugarem.
Dominico encarou completamente inexpressiva, se limitando apenas a revirar os olhos.
Sua vontade era de arrancar a barba daquele pseudo viking pelo por pelo.
— Senti sua falta, maninha. Paris não é a mesma coisa sem você.
— Não posso lhe responder, Jake. Nunca sequer estive em Paris. — Sua voz estava
carregada do mais amargo rancor.
— Antes tarde do que nunca! — Jake sorriu e tirou um papel branco
que, apesar de estar no espaço apertado entre o paletó e o corpo, se
encontrava perfeitamente alinhado. Arrastou o envelope até os dedos
ossudos de Dominic, que o pegou cuidadosamente, lendo com calma a
impressão.
— Isso só pode ser brincadeira!
— Nunca estive tão sério, Dominic. — Seu tom de voz não era mais amistoso.
2. — Não fale isso, Jakob! E aquela vez há 17 anos quando você me largou
com uma família adotiva? — Dominic cruzou os braços sobre o peito,
equilibrando as pernas em cima da mesa. Os pés perfeitamente
confortáveis em um all star branco.
— Supere isso, Nick! — ele tomou as mãos dela nas dele. — Eu fiz para o seu bem.
Ela se desvencilhou das mãos de Jake, caminhando pelo cubículo verde descascado e
encarando uma parede de cada vez.
Por que salas de interrogatório sempre cheiram a mofo?
— O que diabos eu vou fazer na França?
— É para o seu bem.
Dominic gargalhou com escárnio, se virando para o seu irmão.
— Você não tem escolha, Nick. — Jake sorriu ternamente e estendeu a mão. — Venha
comigo, por favor.
— Prefiro ficar na casa da minha família adotiva que, coincidentemente, também está
morta.
— Vou vê-la em Paris de um jeito ou outro, cher. Eu apenas vim fazer com que a sua
ida fosse mais confortável.
Dominic suspirou e ajeitou a jaqueta, abriu a porta da sala
violentamente e murmurou “Vamos acabar logo com isso” enquanto saía.