Todos os grandes empreendimentos costumam trazer consigo investimentos proporcionais ao vulto das obras. Também geram problemas sociais e urbanos que não se resolvem com facilidade, tendo a capacidade de provocar enormes prejuízos e desvalorizações nas comunidades afetadas.
Impactos socioeconômicos das migrações e avaliação de empreendimentos
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As migrações humanas e seus impactos sócio-político-econômico-
histórico e estratégicos: Modelo de Matriz Decisória de Avaliação da
Implantação de Empreendimentos
Engº Antonio Fernando Navarro1
ABSTRACT
Os movimentos migratórios ocorrem desde o início da existência dos seres
humanos, pela sua própria natureza. Nessas épocas passadas, e ainda hoje, as migrações se dão
em função das oportunidades que aparecem. Como oportunidades podemos entender todas as
facilidades ofertadas, como por exemplo, a ocupação de terras (situação essa ocorrida no Brasil,
na época do Império, quando Dom Pedro II incentivou a vinda de imigrantes para que ocupassem
as terras do sul do Brasil), água (ocorrendo em áreas com pouca água, inclusive para a
agricultura, como na África, nordeste do Brasil e em uma série de países que não contam com
esse recurso natural em abundância), petróleo (principalmente pela necessidade de mão de obra
especializada para a exploração, refino e utilização de seus subprodutos nas indústrias químicas),
trabalho (aqui a mão de obra disponível para qualquer atividade.
No Brasil, por exemplo, como em uma série de outros países, os governantes
nas épocas mais críticas, seja em função de eventos naturais catastróficos, seja por razões
estratégicas, oferecem empregos em atividades onde sejam empregadas maciçamente mão de
obra, como na construção civil, como um todo, na construção de barragens ou estradas.
Dizem que os faraós do Egito se utilizavam dessa estratégia empregando quase
100.000 pessoas na construção de uma grande pirâmide), incentivos fiscais (quando então as
empresas somente passam a pagar os impostos municipais e estaduais depois de um
determinado intervalo de tempo, quase sempre após 10 anos de produção, quando até então
pagam uma pequena fração ou nada), desregulamentação econômico-fiscais (os estados ou
países oferecem uma série de regalias ou benefícios que terminam por atrair as empresas), entre
várias outras.
1
Mestre em Saúde Pública e Meio Ambiente, Professor do Curso de Ciências Atuariais da Universidade Federal
Fluminense– navarro@vm.uff.br.
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Assim, associam-se migrações a oportunidades. A partir do momento em que as
regiões passaram a ser demarcadas por fronteiras, as migrações também passaram a se tornar
pontos de discórdia e mesmo de guerras.
O exemplo dos povos ciganos é talvez um dos melhores, com as populações
sendo rejeitadas nos países para onde estavam sendo assentados.
Ainda hoje essa situação é muito séria, principalmente em muitos dos países
asiáticos e no oriente médio, com os Curdos, povo dividido entre nações, Irã, Iraque, Síria,
Turquia, Armênia e Georgia. Tem-se também o exemplo do Povo Basco, dividido entre a Espanha
e a França. Não se pode esquecer o Povo Guaraní disperso entre os países do sul da América do
Sul, e numerosas tribos africanas, que sobrevivem em fronteiras, e passados milênios ainda
continuam sendo povos nômades.
Essa situação de povo nômade gera um infindável número de conflitos entre os
países, vez que os novos migrantes passam a contar com os recursos existentes, principalmente
água e comida, nos países mais pobres, causando atritos que culminam em guerras. As divisões
de fronteiras ocorridas nos últimos quinhentos anos de existência da civilização não obedeceu a
critérios étnicos, mas sim a critérios econômicos. Etnias foram divididas pelo traçado de rios ou
cordilheiras de montanhas, ou mesmo vales. Assim, passou-se a ter as minorias étnicas.
Destaca-se nesse Abstrat essa questão, vez que quando se trata de migrações
está se referindo a uma série de problemas relacionados a áreas econômico-financeiras,
demográficas, sociológicas, entre outras.
As migrações talvez sejam um dos grandes problemas hoje existentes que
fogem ao controle dos dirigentes. Um exemplo claro é o da eterna disputa de migrantes
mexicanos, sem oportunidades de empregos para entrar nos Estados Unidos. Têm-se também
migrantes brasileiros que foram se estabelecer na fronteira do Paraguai, para ali trabalharem a
terra e produzirem cereais. As gerações que os sucederam passaram a receber a alcunha de
brasilguáios.
Introdução
São inúmeros os casos de migrações populacionais motivadas pelas guerras,
pelos fenômenos naturais, como terremotos e tsunamis, implantação de empreendimentos
industriais de grande porte, além de uma série de outras razões. O migrante, ou seja, aquele que
migra de um local para outro, podendo ser de um bairro a outro, de uma cidade a outra, de um
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estado a outro ou de um país a outro, termina causando uma série de transtornos, sócio-
econômico-culturais nos locais para onde vão.
Com a implantação de novas tecnologias e a globalização, que muitas vezes
busca estabelecer empresas onde o custo da mão de obra ou de insumos seja mais baixo, como
se percebe na Europa nos dias de hoje, os administradores locais devem ter todo um
planejamento estratégico que antecede a concessão das autorizações para a implantação, vez
que a vinda de novas empresas ao invés de ser um excelente negócio a médio e longo prazo
passam a ser uma dor de cabeça, deixando atrás de sí grandes problemas, principalmente
sociais.
Ressaltam-se os problemas envolvendo a saúde pública, o aumento da
criminalidade e da prostituição, o aumento dos custos gerais produzidos pela crescente demanda,
e que quando essa cessa a redução dos custos não ocorre com a mesma velocidade e
proporcionalidade.
As empresas estão em contínua busca de mão de obra cada vez mais
especializada. Os clientes cobram reduções de custos cada vez maiores e os administradores
locais, prefeitos, governadores ou presidentes, buscam auferir divisas dessas atividades. Ocorre
muitas vezes que no local específico para a implantação do empreendimento não há a mão de
obra necessária e com a capacitação que se requer. As empresas, por outro lado, não podem
dispender tempo de capacitação de pessoal e nem de preparo dos ambientes, em função dos
orçamentos e cronogramas fixados que determinam uma data para o início da produção.
Retardar-se a produção é o mesmo que retirar-se os resultados econômico-
financeiros. Na linguagem econômica tem-se o custo das oportunidades. Em razão disso,
percebe-se que na maioria das vezes passa a ser atribuído aos moradores locais o exercício das
funções menos nobres, sendo as demais repassadas a trabalhadores migrantes, principalmente
as funções gerenciais e operacionais, ou seja, aquelas com maior remuneração. Além disso, os
empreendimentos terminam trazendo sérios problemas sociais, com o encarecimento dos custos
locais, carência de moradias, alterações nas características urbanas das cidades ao redor, enfim,
passam a existir várias questões que, na maioria das vezes fogem ao controle dos legisladores
locais.
Assim, este trabalho tem por objetivo apresentar uma Matriz de Gestão onde são
avaliados os principais aspectos negativos e positivos para a liberação dos empreendimentos,
passando a ser um agente facilitador da Gestão das Cidades, podendo ser incorporado a uma
Diretiva da Cidade ou a um Planejamento Urbano. Planos como este servem para ampliar os
processos de transparência dos legisladores para com seus cidadãos.
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Periodicamente ocorrem movimentos dito migratórios onde a migração se dá
dentro de uma mesma cidade, estado ou país. Esses movimentos terminam por não representar
aumentos populacionais aos países. Más há também aqueles onde as migrações são entre
países, como correu com a Nova Zelândia, Austrália, Canadá, entre outros, países com baixo
índice populacional e que precisavam de mão de obra para poder crescer. Tanto em um quanto
em outro caso as movimentações de pessoas não se dão em um mesmo tempo, ocorrem
lentamente.
O que preocupa os dirigentes locais é o que se denomina de infraestrutura.
Quando um local não possui a estrutura necessária capaz de absorver essas levas de mão de
obra passa a ter um desequilíbrio, pois, além de ter a obrigação de cuidar das populações
existentes passa a ter a responsabilidade de atender a novas demandas populacionais.
Outra questão que deve ser levada em consideração é a que diz respeito à
riqueza do País. Há migrantes que se estabelecem nos países ricos com o único objetivo de
conseguir qualquer emprego para poder enviar dinheiro para suas famílias que residem em países
mais pobres. Essa transferência de divisas é boa para os países mais endividados.
As migrações modernas2
Foi o desenvolvimento capitalista que colocou em circulação e remexeu
populações que – com exceção das ligações e dos comércios limitados que caracterizaram de
qualquer forma a economia pré-capitalista – viviam essencialmente separadas e independentes
umas das outras. Ian Goldin, em seu recente trabalho sobre migrações mundiais, remonta a essa
época o início das grandes explorações (Colombo, Cortéz, Vasco da Gama) e fala de uma era das
explorações que liga entre elas as comunidades humanas em todo o mundo. Daqui vieram o
mercantilismo, o capitalismo e as migrações modernas.
Hania Zlotnik resumiu e comentou as teorias sobre as migrações internacionais
começando por Adam Smith, que era contra as limitações dos deslocamentos de homens em
vigor na Inglaterra do século XVIII. Esquematicamente: Zlotnik faz uma distinção entre teorias
“macro” (que são baseadas em fatores econômicos de push, ou seja, que empurram a população
e a força de trabalho de um país para outro, e de pull, que as atraem de um país para outro) e
teorias “micro”, que procuram explicar os fenômenos partir das escolhas econômicas individuais
do migrante e de sua família. O propósito dessas teorias, que surgiram em grande número ao
2
Traduzido de “Lotta Comunista”, nº 492, jul/ago 2011
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longo dos últimos trinta anos, seria o de prever quantidades e fluxos das migrações para poder
administrá-los mais facilmente. Podemos resumir como principais fatores atratores ou repulsores:
• Qualidade de Vida;
• Segurança Familiar;
• Oportunidades de Trabalho;
• Facilidades de Moradia;
• Lazer;
• Saneamento básico, escolas, etc..
O caso do COMPERJ
O Complexo Petroquímico da Petrobras, em implantação no Estado do Rio de
Janeiro é um dos grandes e modernos exemplos de migrações internas e externas, pela
magnitude do empreendimento de bilhões de dólares. Por ser um “mega empreendimento”, com a
construção de duas refinarias e interesse de várias empresas na construção de unidades de
segunda geração, criou-se um polo envolvendo onze municípios.
Imediatamente após a notícia do lançamento do empreendimento e da
quantidade de pessoas que seria envolvida, da ordem de 200.000 pessoas, o custo dos imóveis
para alugar ou vender no entorno do local subiu exponencialmente. As áreas livres existentes
passaram a não mais ser negociadas, na expectativa de maiores lucros futuros. Foram criados
inúmeros cursos de capacitação, principalmente nas áreas de montagem industrial e de soldas.
Esse enorme fluxo populacional não será o mesmo que ficará, no futuro, para
operar as unidades, em torno de 20.000 pessoas, em todas as unidades. Assim, haverá um
superávit populacional muito grande. Afora isso, esses municípios terão muito pouco tempo para
se estruturarem, em termos urbanísticos e de saneamento básico, afora as questões de saúde,
segurança e meio ambiente.
Outra questão interessante é que nesses empreendimentos os ganhos dos
contratados são muitas vezes maiores do que os praticados nos municípios. Daí passa a ocorrer
um êxodo de profissionais, se deslocando de seus empregos atuais para o novo empreendimento.
Como resultado, tem-se o retardo das atividades que ocorriam antes do lançamento do novo
empreendimento.
Na cidade de Niterói, com aproximadamente 500.000 habitantes, junto à cidade
do Rio de Janeiro, somente nos anos de 2010/2011, havia mais de 80 empreendimentos
habitacionais novos, com falta de mão de obra qualificada, de insumos, como concreto, por
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exemplo, até de saneamento. Nessa época se um empreendedor quisesse lançar um novo
empreendimento compromissado com prazos curtos teria dificuldade de cumprir o cronograma de
obras, já que o impacto do excesso de empreendimentos simultâneos alterou todo o sistema de
ofertas e procuras e de logística, já que as fábricas de insumos não estavam preparadas para
esse impacto. Nessa mesma época, ocorreu a falta de estacas pré-moldadas de concreto
centrifugado, de até 400mm de diâmetro.
Quando essas cidades foram planejadas não se previa que em algumas poderia
ocorrer a duplicação do número de seus habitantes em meses apenas. O que é pior, é que no
planejamento urbano, não se levava em consideração crescimentos dessa magnitude, capazes de
provocar a paralização dos serviços públicos pelo excesso de demanda, como o fornecimento de
água, o tratamento e descarte de efluentes sólidos, líquidos e gasosos, o planejamento viário, a
estrutura da segurança pública, entre tantos fatores. O resultado final é a de uma cidade com
graves problemas do fluxo de veículos, problemas no abastecimento de água e energia elétrica e
no tratamento dos efluentes domésticos. Mais uma vez percebe-se que a velocidade de liberação
e edificação de novos prédios é sempre maior do que a preparação da infraestrutura urbana.
Para os administradores essa é uma questão crucial, pois que, de um lado há a
necessidade da cidade crescer em termos de vigor financeiro, por outro lado, há a necessidade de
se preparar a cidade para isso. As velocidades entre o crescimento populacional e o planejamento
urbano das cidades são diferentes e assim não se tem o resultado esperado, com o surgimento de
inúmeros problemas, inclusive o da favelização.
Reconhece-se que os investimentos são fruto de oportunidades que aparecem
em um mercado competitivo. Todavia, o bom administrador deve estar atento para várias
questões. Há investimentos: transitórios ou momentâneos, deixando atrás de sí a miséria ou a
pobreza; de empresas altamente poluidoras; de empresas exploradoras de recursos minerais,
enfim, há investimentos que agregam valor à cidade e outros que não. Nessa agregação de valor
tem-se o crescimento dos níveis de escolaridade, qualidade de vida, lazer, entre tantos outros. Até
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mesmo por isso, cidades com essas características passam a ser atratoras de migrantes somente
pelo fato de serem boas para morar.
Retornando à “Lotta Comunista”: Um fenômeno complexo como o da migração,
que consiste em bilhões de atos aparentemente apenas individuais, que tem enormes reflexos
sociais e políticos em praticamente todos os países do mundo, é aqui reduzido às suas origens
econômicas essenciais.
A quantificação das migrações, tanto internas quanto externas às fronteiras
nacionais e internacionais é particularmente difícil. É preciso, acima de tudo, fazer uma distinção
entre o estoque de imigrantes, ou seja, a fotografia da quantidade acumulada em um determinado
ano, em um determinado país ou região, e os fluxos que constituem o filme dos movimentos reais,
que são bidirecionais, circulares, transfronteiriços, com uma taxa de retorno que pode chegar a
50%, se for avaliada a médio e longo prazo e levando em conta a duração de vida dos migrantes
individuais.
Olhando o caso Comperj já citado, haverá um “balanço” dos migrantes. Uma
parcela desses continuará no empreendimento fazendo várias outras coisas distintas daquelas
que os motivaram a viajar. O restante, ou “estoque”, consegue empregos na região, podendo
ganhar mais ou menos do que antes. Se o profissional não encontrar emprego no próprio
empreendimento o buscará em outros locais. Se vier a ganhar menos seu padrão de vida cairá,
obrigando-o a se adequar mudando para bairros menos “caros”. Quanto aos demais, a maioria
prefere continuar e tentar algo a retornar. Para esses, o retorno é uma derrota. Assim, passam a
ter uma vida na marginalidade do processo, podendo ir morar em favelas que passam a ficar cada
vez maiores.
Destaca-se que, em empreendimentos de longa duração de implantação, acima
de três a quatro anos, famílias são constituídas ou ampliadas, fazendo com que o número
daqueles que migraram para o local aumente. Um dos melhores exemplos do que cita-se aqui é o
crescimento que a cidade de São Paulo teve a partir da década de 20. A cidade passou a ser o
“eldorado” de todos aqueles que queriam ter uma vida melhor. Desta maneira, houve um enorme
fluxo migratório do norte e do nordeste brasileiro para a cidade. O resultado foi não só a expansão
territorial da cidade como também a sua desurbanização, passando a ser uma metrópoles onde
há imensos congestionamentos diários, pois que a população, de modo geral, termina por residir
em local oposto ao do trabalho. Esse é apenas um dos problemas levantados.
Os urbanistas de hoje confirmam o crescimento descontrolado, “filho do acaso”,
das cidades modernas. Marc Antrop reitera que a urbanização está intimamente relacionada com
a industrialização e o crescimento econômico. Clemens Zimmermann observa que nas novas
aglomerações urbanas, como o Lancashire [...] começou a se delinear já em 1850 um fenômeno
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comparável ao das atuais megalópoles do Terceiro Mundo. Bernardo Secchi admite: Crescimento,
desenvolvimento e transformação da cidade seriam [...] largamente independentes da reflexão e
acima de tudo da ação de arquitetos, de urbanistas e das administrações. De acordo com
Leonardo Benevolo, o conflito desastroso entre vida humana e ambiente construído ainda não foi
identificado e nem corrigido.3
Matriz Decisória
Uma matriz passa a ser decisória quando, alimentando-a com as informações
requeridas consegue-se obter os resultados desejados, que passam a ser decisórios nas escolhas
e aprovação da implantação de projetos. Para que a Matriz possa ser aplicada torna-se
necessário que em seu preenchimento haja uma total clareza de objetivos e que esses não sejam
interpretados por seus gestores, ou seja, sejam de respostas onde não exista a opção “se”. Desta
maneira, as respostas passam a ser fechadas assinalando-se apenas um sim ou um não.
Uma Matriz Decisória para a avaliação da implantação de um empreendimento
industrial em uma cidade deve ser a mais transparente possível, ou, como dito, que possibilite
uma clara governança. Quando se trata de implantação de empreendimentos há sempre uma
enorme corrente política, conduzida por aqueles que buscam se beneficiar, no momento presente
ou futuro, dos resultados da implantação.
Não são raros os casos de gestores administrativos que, sabedores com
antecedência que haveria na localidade a implantação de um grande empreendimento, buscaram
adquirir todos os terrenos à venda nas proximidades. Assim, nesses momentos políticos onde o
que é mandatário é o ganho econômico-político dos governantes, a população fica à mercê
desses e sequer pode discutir as questões por não haver Foro específico.
Durante épocas de regimes políticos mais duros, áreas imensas de muitos
países foram inundadas para a construção de hidrelétricas, ou foram desmatadas para a
implantação de empreendimentos, ou foram escavadas para a extração dos recursos minerais, ou
foram poluídas por fábricas cujas matérias primas ou produtos finais eram poluentes tóxicos.
Ainda hoje se questiona o assentamento de Usinas Nucleares como usinas limpas e não
poluentes, notadamente em regiões onde há terremotos e maremotos.
O amadurecimento das populações já possibilita que se façam análises públicas
da implantação desses empreendimentos. Na área de Meio Ambiente (Ambiente Natural), muitos
3
Traduzido de “Lotta Comunista”, nº 493, setembro 2011
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países exigem a elaboração de estudos de impacto desses empreendimentos. Contudo, há
desastres que não respeitam fronteiras e atingem os países limítrofes da mesma maneira como
atingem o local onde são instaladas. Quando ocorreu a explosão da Usina Nuclear de Chernobil
em 26 de abri de 1986, quase que todos os países da Europa foram atingidos, uns mais outros
menos. Pelo efeito das explosões e pelo deslocamento dos ventos a radiação alastrou-se.
Em 1976 uma explosão atingiu uma fábrica de pesticidas em Séveso, na Itália,
passando a ser esse um dos maiores acidentes ambientais, até então, tendo motivado a primeira
Diretiva Europeia sobre o assunto. Isso quer dizer que mesmo com todas as garantias que
possam ser oferecidas e ao alcance do conhecimento humano, há sempre questões que possam
passar despercebidas dos cientistas ou especialistas e que são capazes de causar problemas
múltiplos em outros estados ou países. Onde fica ainda hoje a Usina de Chernobil (Chernobyl) as
ruas da cidade são desertas e os prédios abandonados.
Em 3 de dezembro de 1984, a migração de uma tecnologia ultrapassada, com as
benesses dos administradores locais e a falta de investimentos em equipamentos de segurança
conduziram a um dos maiores acidentes industriais que se tem em conta, com o vazamento de
isocianato de metila, produto extremamente perigoso utilizado na produção de fertilizantes. Na
ocasião, o município de Bhopal, com milhões de pessoas desempregadas e apenas uma indústria
local, empregando pouco menos de 2.000 pessoas, permitiu a instalação de uma nova indústria
que iria gerar um incremento de mais 700 pessoas empregadas. A indústria da Union Carbide já
tinha estabelecido um plano de desativação de sua unidade nos EUA para transferi-la para a
Índia. A fábrica existente foi totalmente desmontada e remontada. No dia do acidente, ocorrido de
madrugada, uma grande nuvem de gás espalhou-se pela região e produzindo vítimas, que mesmo
após quase 40 anos ainda não se tem como precisar exatamente. Os últimos números davam
conta de cerca de 2 mil mortos, envenenando, segundo as autoridades, cerca de 320 mil pessoas.
A cidade de 700 mil habitantes, capital do Estado de Madhya Pradesh, continua traumatizada.
Em 2009 150 mil pessoas ainda sofriam com os efeitos do acidente e 50 mil
pessoas estavam incapacitadas para o trabalho, devido a problemas de saúde. Apesar deste
quadro a fábrica permanece abandonada desde a explosão tóxica enquanto que resíduos
perigosos e materiais contaminados ainda estão espalhados pela área, contaminando solo e
águas subterrâneas, dentro e no entorno da antiga fábrica.
É interessante apresentar-se a questão sob essa ótica porque além das
questões políticas e econômicas também há as questões técnicas do empreendimento que devem
ser observadas. Nos exemplos citados, disponíveis em qualquer site de pesquisa, ocorreram
falhas de equipamentos, humanas e de materiais, além de falhas de processo. Isso demonstra o
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quão é importante para um município a correta avaliação e aceitação de instalação de um
empreendimento.
Na Matriz Decisória proposta não se debate a questão da tecnologia ou dos
riscos envolvendo a operação da unidade, pois que esses devem ser fruto de análise técnica
preliminar, ou seja, não se pode supor que uma empresa apresente uma proposta de implantação
de um empreendimento que não tenha sido objeto de exaustiva análise técnica. Contudo, na
conclusão, apresenta-se um caso de uma indústria que transferiu suas obsoletas instalações para
uma cidade subdesenvolvida e, como resultado, ocorreu uma explosão, por falhas de operação,
com milhares de mortos. O processo de indenização arrasta-se até hoje passados quase 40 anos.
Os pontos abordados são:
a) Aspectos relativos ao Empreendimento
• Necessidade de investimentos para a implantação
• Necessidade de espaços físicos para a implantação
• Prazo de início de produção
• Auto sustentabilidade do empreendimento
b) Aspectos relativos ao Empreendedor
• Qualificação do Empreendedor
• Preocupação com questões de responsabilidade socioambientais
• Níveis de Certificação
• Parcerias Estratégicas
c) Aspectos relativos à atividade de produção
• Características dos produtos
• Geração de resíduos
• Insumos
• Transporte de insumos e produtos
d) Aspectos Socioeconômicos
• Geração de impostos e taxas
• Geração de mão de obra
• Capacitação da mão de obra
• Níveis de terceirização
Na Matriz proposta, foram segmentados os itens e subitens e atribuídos pontos
variando de um a três. Como o preenchimento é feito pelo Município, a análise é sob sua ótica.
Assim, tomando como exemplo na própria matriz o item (I) Aspectos relativos ao empreendimento,
principalmente no que diz respeito à necessidade de investimentos para a implantação do mesmo,
verifica-se que o maior risco é atribuído ao quesito onde é informado que os recursos necessários
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para essa implantação são locais, ou seja, o município terá que se envolver nas negociações com
os sócios locais, enquanto que o menor risco é quando a empresa banca 100% seu
empreendimento. O resultado final será decidido pelo menor grau de risco para o Município.
Matriz Decisória
I) Aspectos relativos ao empreendimento
I.1 Necessidade de investimentos para a implantação Risco
Recursos com a participação acionária local
Recursos com participação acionária nacional
100% de recursos do empreendedor
I.2 Necessidade de espaços físicos para a implantação Risco
Área fornecida pelo governo municipal
Área fornecida pelo Governo Federal
Área adquirida pelo empreendedor
I.3 Prazo de início de produção Risco
Elevado prazo para o início da produção
Médio prazo para o início da produção
Início da produção quase que de imediato (em até seis meses)
I.4 Auto sustentabilidade do empreendimento Risco
Empreendimento em fase de desenvolvimento de sistemas sustentáveis
Empreendimento com processos de sustentabilidade
Empreendimento que aproveita ao máximo os recursos excedentes
Total da avaliação do item
II) Aspectos relativos ao Empreendedor
II.1 Qualificação do Empreendedor Risco
Empreendedor em início de atividades nesse segmento
Empreendedor com razoável experiência nesse segmento
Empreendedor com elevada experiência nesse segmento
II.2 Preocupação com questões de responsabilidade socioambientais Risco
Empreendedor em fase de implantação de programas de sustentabilidade
Empreendedor com experiência em sustentabilidade
Empreendedor que pratica ações de sustentabilidade
II.3 Níveis de Certificação Risco
Empreendedor em processo de certificação
Empreendedor com certificação específica
Empreendedor com ampla certificação
II.4 Parcerias Estratégicas Risco
Empreendimento sem parceiros estratégicos
Empreendimento com parceiros estratégicos exclusivos
Empreendimento com parceiros estratégicos locais
Total da avaliação do item
III) Aspectos relativos à atividade de produção
III.1 Características dos produtos Risco
Fabricação de componentes operacionais
Fabricação de parte relevante do produto final
Fabricação do produto final
III.2 Geração de resíduos Risco
Resíduo gerado para descarte local, tóxico
Resíduos gerados para descarte local, não inócuo
Resíduo gerado, tratado e transportado para outro local
III.3 Insumos Risco
Compra de insumos fora do local
Compra de insumos parte no local
Compra de insumos só no local
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III.4 Transporte de insumos e produtos Risco
Prática habitual de uso de diversos meios de transporte
Empreendimento preocupado com meios de transporte
Empreendimento que seleciona e controla meios de transporte
Total da avaliação do item
IV) Aspectos Socioeconômicos
IV.1 Geração de impostos e taxas Risco
Investimento com isenção de impostos
Investimento com isenção parcial de impostos
Investimento sem isenção de impostos
IV.2 Geração de mão de obra Risco
Mão de obra de migrantes
Mão de obra de migrantes e local
Mão de obra local e capacitada localmente
IV.3 Capacitação da mão de obra Risco
Mão de obra capacitada fora do local
Mão de obra capacitada parte no local
Mão de obra capacitada localmente
IV.4 Níveis de Terceirização Risco
Elevado nível de terceirização extra gerencial
Terceirização de mão de obra operacional
Baixo nível de terceirização
Total da avaliação do item
Resumo
A implantação e a implementação de uma Matriz Decisória para avaliar o grau
de atendimento aos anseios do município não é uma das tarefas mais fáceis, principalmente se
entre os municípios existem acirradas contendas para oferecer-se a maior quantidade possível de
benefícios econômico fiscais, inclusive de terrenos e de água, luz e força e saneamento.
Muitas vezes essas ações se mostram positivas já que os empresários têm o
objetivo de se fixar na região. Contudo, há empresários inescrupulosos que se aproveitam de
todos os benefícios oferecidos para se enriquecer ainda mais, aproveitando-se de contratos mal
formulados e sem cláusulas de exigências contratuais mais rigorosas. Assim, também pode se
perceber empreendimentos que receberam elevadas somas de benefícios e sequer produziram.
Em um primeiro momento os munícipes se beneficiam, pois passam a ter empregos e os recursos
dai resultantes movem a economia local. Quando isso não ocorre, no segundo caso, os habitantes
da região são os maiores prejudicados, já que foi com os recursos de seus impostos que os
empresários inescrupulosos se beneficiaram.
Essa questão econômico financeira, que não tem a devida publicidade para os
munícipes, termina por prejudicar o processo de transparência dos legisladores. É fácil identificar
que o contínuo trânsito de veículos pesados pode danificar a pavimentação das ruas. Da mesma
maneira que também é fácil verificar que o transporte contínuo de produtos perigosos pode um dia
gerar um acidente. Um dos casos mais apropriados dessa falta de transparência redundando em
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prejuízos de toda a sorte para a população local foi o episódio que culminou no acidente de
Bhopal, na Índia, com milhares de mortos.
Para a composição da Matriz empregaram-se quatro fatores, a título de
exemplificação de uma metodologia. Para tanto foram escolhidos os aspectos relativos a: ao
empreendimento, ao empreendedor, à atividade de produção e alguns aspectos socioeconômicos.
Durante o preenchimento obter-se-ão várias notas que representarão os graus de riscos. Para o
município a melhor escolha é a que contempla o menor risco. Pode-se incrementar o processo de
análise ponderando-se os aspectos mais relevantes. Cada Município têm suas vocações já
estabelecidas e seus planejamentos urbanos. Assim, os melhores resultados dessas parcerias de
implantação de empresas, que fatalmente causam processos migratórios, ou são fatores atratores
para os processos migratórios, dependerá muito dessa relação Empreendimento versus
Município, aqui denominado como um todo. Se ambos, Empreendimento e Município, não se
preparam adequadamente, os resultados podem não ser os melhores, com maiores impactos aos
residentes dos Municípios.
A utilização de meios de avaliação precoce dos riscos sejam esses devidos aos
processos de produção ou do mau uso dos seus insumos pode causar graves consequências aos
habitantes das cidades. Assim, através de mecanismos ou meios simples de análise dos riscos
podem ser ampliados os níveis de segurança quanto à implantação de empreendimentos em um
município.
O bom administrador deve buscar, antes de tudo, a transparência total de suas
ações.