Este documento descreve a jornada de Abaeté do Cordel como um produtor cultural autodidata em Natal, Rio Grande do Norte. Começa descrevendo como Abaeté se tornou interessado em poesia cordeliana na infância e como ele construiu sua carreira como produtor cultural sem formação acadêmica formal. Também discute como a produção autodidata de Abaeté serve como um modelo para outros produtores culturais em Natal.
Abaeté do Cordel e a peleja de um produtor cultural - A performance autodidata de produzir
1. Abaeté do Cordel e a peleja de um produtor cultural –
A performance autodidata de produzir
MANOEL WILSON DE SOUZA
Natal, 03 de novembro de 2016
2. Há bem pouco tempo, nos círculos artísticos
da cidade de Natal, quase não se ouvia falar da
figura do produtor cultural.
Eram personagens raros que figuravam a cena cultural do estado.
3. O IFRN é pioneiro na introdução de um Curso
Superior de Produção Cultural no estado.
4. Chamamos a atenção para uma formação
prática e autodidata de se produzir a cultura
Geralmente são criadores que se tornam produtores pela
necessidade de colocarem seus produtos no mercado.
5. O profissional dessa área precisa saber realizar as três fases
do ofício que é a Pré-produção - momento de preparação pra
realizar a produção; a Produção – fazer nascer; e a Pós-
produção - conclusão do que foi produzido.
6. O fazer autodidata é movido pela necessidade e pelas
experiências.
é a base de formação de muitos artistas e produtores da
cidade de Natal.
Profissional que, com formação superior ou
autodidata, faz a arte e cultura chegar ao público de
destino.
7. Abaeté do Cordel, um dos personagens principais na
cena cordeliana potiguar.
Tece a trama da Associação Casa de Cordel, que é responsável pela
produção, difusão e circulação da cultura popular potiguar.
8. Abaeté peleja como produtor autodidata, pela
manutenção, preservação e difusão da arte
cordeliana nos territórios potiguares.
9. Através de pesquisa documental e de pesquisa de
campo, esta última realizada a partir de uma conversa,
gravada, com o poeta e produtor cultural Abaeté do
Cordel, entre outros registros como de eventos,
internet, visitas e reuniões, foi possível perceber como
se forma (informalmente) um produtor cultural.
Ainda, como mencionado antes, adentra-se na vida do
artista na tentativa de perfilar instantes que o formaram
poeta/produtor.
10. Nos idos de 1960, em
Sertânia, sertão de Moxotó,
Pernambuco, a 263 km da
capital,
vem ao mundo o segundo
filho varão de seu Manoel
Romão de Lima e dona
Nilda Leite de Lima.
11. O cenário propício para essa
prática era a feira onde os poetas
populares Pinto do Monteiro e
Gato Velho se encontravam para
cantar e vender os seus folhetos
de cordel.
A leitura era umas das buscas mais frequentes do
menino Erivaldo.
12. Assim o seu processo de letramento
foi tomando forma e construindo
um vocabulário diferente para um
garoto de sua idade na sua cidade.
No caminho da cultura popular, ele encontrou outros
poetas, músicos e cantadores como Luiz Gonzaga, Zé
Marcolino, Casa de Reboco, Cintura Fina, Sargento Pedro,
entre outros colegas de uma cachacinha e outra.
13. Na época do serviço militar
transforma-se no soldado Lima se
torna cabo de tiro de guerra, aspecto
que foi de grande importância para
suas referências trabalhistas futuras.
Trabalhou em torno de seis anos com o
oficio da pedra, que considerava um serviço
muito pesado.
14. Devido à poluição nas adjacências da
fábrica, sofre de uma pneumonia que o fez
desistir da promoção para encarregado de
segurança.
Chega a São Paulo para dar início à
jornada do emprego dos sonhos.
Por ter sido cabo de tiro de guerra, é contratado
imediatamente como segurança da Companhia
Siderúrgica Paulista – COSIPA.
Volta para o nordeste, Sertânia, para
recomeçar onde tudo começou.
15. Um ex-marido de uma tia o convidou para fazer um serviço
em Natal.
Trabalhou como pedreiro, pintor, carpinteiro;
Quando foi a sua vez de conhecer a parceira, dona Criselda.
Trabalhou como segurança em bancos e instituições.
colocou o seu próprio mercadinho em sua residência. Lá, se
vendia de tudo. Porém a labuta era grande.
16. O ano de 2005 chega e a III Bienal do livro acontece no
Shopping Midway Mall.
1º folheto de cordel a ser comercializado por Erivaldo Leite.
Lançado na III Bienal do Livro de Natal
17. para uma aventura no
universo desconhecido do
mundo da arte.
De vendedor de comidas e
produtos para o lar, arrisca
uma estabilidade financeira
18. A sua participação na terceira III Bienal do
Livro colocou o poeta em contato com
pessoas e eventos ligados à produção do
cordel na cidade.
19. Outras produções, outras feiras,
outros eventos aconteciam e
conduziam o poeta a uma melhor
caracterização do seu negócio
cultural.
20. Em parceria com o poeta Paulo Varela,
arrisca a posse de um ponto comercial no
centro da cidade no antigo prédio da TV
universitária.
A UFRN que, a partir de 1997, autorizou que lá
funcionasse a Associação República das Artes. Esta
associação, formada por mais de 200 pessoas,
organizados em 26 grupos artísticos
(principalmente grupos de teatro, artistas de circo e
artesãos), era responsável por cerca de 70% da
produção cultural da cidade à época.
(PESSOA & COSTA, 2014).
21. Abaeté também iniciou suas
atividades de produtor e
vendedor de cordel nesse
espaço. Até então, era
apenas um cordelista
vendendo seus folhetos
numa banca improvisada,
porém, com o aluguel do
ponto, se transforma no
“Ponto do Cordel” em
seguida Casa do Cordel.
Em pouco tempo a Casa do Cordel consegue reunir
uma cambada de poetas perambulantes em busca de
uma referência, de um grupo social.
22. O diferencial da casa em relação à produção era o
contraponto com as editoras existentes que apenas
produziam material de escritores já renomados.
Enquanto a preocupação de Abaeté são os poetas iniciantes,
os que têm a verve poética, mas não haviam publicado
qualquer título.
23. A partir desse princípio, do perceber o cordel como
um universo a ser desenvolvido e democratizado,
Abaeté vem conduzindo esse espaço de produção,
promoção, distribuição e circulação da literatura de
cordel.
24. é o mesmo poeta que esteve
presente no contexto de
efervescência da cultura e da arte
na cidade, no estado e no país, no
qual muitos grupos artísticos
atuantes discutiam uma nova
forma de captar recursos para
articular as montagens e circulação
de seus produtos culturais.
Esse poeta que sai do campo para
a cidade grande barulhenta, com
seus gritos, a correria diária em
busca da sobrevivência, do lucro e
consegue trazer dentro de seus
versos a calmaria e simplicidade do
homem do campo e fazê-las criar
voz na cidade agitada,
25. Apesar de todo universo acadêmico está se constituindo
para corresponder aos anseios mercadológicos da cena
contemporânea da produção artística, Abaeté continua
a sua lida autodidata de produção, quase artesanal,
voltada à literatura de cordel e cultura popular.
26. A produção autodidata de
Abaeté é um referencial para
novos e antigos produtores
perceberem que é possível e
necessário ver a arte e a cultura
como negócios econômicos,
porém, a
responsabilidade
com aquilo que
está se
transmitindo e
os cuidados para
não passar um
rolo compressor
em outros
formatos de
produções, seja
realmente
praticado.
27. Muitos dos profissionais que produzem a cena artística e
cultural em Natal estão na condição autodidata, no que se
refere à formação acadêmica e/ou cursos técnicos
especializados para a atuação profissional de produtor
cultural.
28. Assim, como Abaeté, outros produtores autodidatas realizam
os seus projetos nessa concepção de fidelidade ao seu
segmento artístico, na sua área. Que levantam uma bandeira
de preservação de uma arte, de uma cultura que fogem ao
padrão de mercado e consumismo da atual politica de
empreendimentos criativos.
Na qual os valores artísticos e culturais se sobressaem diante
do valor econômico.
29. Ainda se torna mais difícil, quando se quer
fazer ecoar os seus valores, a simplicidade, e
toda vivência resultante de expressões
artísticas e culturais que perpassam épocas.
A resistência proposta pelos produtores
autodidatas são discussões pertinentes diante
dessa nova demanda de técnicos e produtores
provenientes da academia.
As políticas públicas para esses profissionais a
cada dia estão desaparecendo e são poucos os
produtores que, artesanalmente, pelejam para
pôr em evidência a sua arte.
30. É conclusivo que há na produção cultural vários
caminhos para levar a arte e a cultura para a
posterioridade. A diversidade da cultura aponta para
um desenvolvimento amplo e dialógico de toda forma
de fazer.
31. Referências
ABAETÉ. 12 estrofes de cordel. Natal: Casa do cordel, 2012.
AVELAR, Rômulo. O avesso da cena: notas sobre produção e gestão
cultural. 2. ed., Belo Horizonte: Duo Editora, 2010.
PESSOA, Nara da Cunha; COSTA, Andrea. Formação acadêmica na área
da cultura: análise do Curso Superior de Tecnologia em Produção
Cultural. Anais do ENECULT 2014. Salvador: UFBA, 2014.
RIBEIRO, Marcel Lúcio Matias. A Literatura de cordel em sala de aula.
Anais da EXPOTEC 2007. CEFET-RN – UNED Mossoró, 2007.