SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 31
Baixar para ler offline
Abaeté do Cordel e a peleja de um produtor cultural –
A performance autodidata de produzir
MANOEL WILSON DE SOUZA
Natal, 03 de novembro de 2016
Há bem pouco tempo, nos círculos artísticos
da cidade de Natal, quase não se ouvia falar da
figura do produtor cultural.
Eram personagens raros que figuravam a cena cultural do estado.
O IFRN é pioneiro na introdução de um Curso
Superior de Produção Cultural no estado.
Chamamos a atenção para uma formação
prática e autodidata de se produzir a cultura
Geralmente são criadores que se tornam produtores pela
necessidade de colocarem seus produtos no mercado.
O profissional dessa área precisa saber realizar as três fases
do ofício que é a Pré-produção - momento de preparação pra
realizar a produção; a Produção – fazer nascer; e a Pós-
produção - conclusão do que foi produzido.
O fazer autodidata é movido pela necessidade e pelas
experiências.
é a base de formação de muitos artistas e produtores da
cidade de Natal.
Profissional que, com formação superior ou
autodidata, faz a arte e cultura chegar ao público de
destino.
Abaeté do Cordel, um dos personagens principais na
cena cordeliana potiguar.
Tece a trama da Associação Casa de Cordel, que é responsável pela
produção, difusão e circulação da cultura popular potiguar.
Abaeté peleja como produtor autodidata, pela
manutenção, preservação e difusão da arte
cordeliana nos territórios potiguares.
Através de pesquisa documental e de pesquisa de
campo, esta última realizada a partir de uma conversa,
gravada, com o poeta e produtor cultural Abaeté do
Cordel, entre outros registros como de eventos,
internet, visitas e reuniões, foi possível perceber como
se forma (informalmente) um produtor cultural.
Ainda, como mencionado antes, adentra-se na vida do
artista na tentativa de perfilar instantes que o formaram
poeta/produtor.
Nos idos de 1960, em
Sertânia, sertão de Moxotó,
Pernambuco, a 263 km da
capital,
vem ao mundo o segundo
filho varão de seu Manoel
Romão de Lima e dona
Nilda Leite de Lima.
O cenário propício para essa
prática era a feira onde os poetas
populares Pinto do Monteiro e
Gato Velho se encontravam para
cantar e vender os seus folhetos
de cordel.
A leitura era umas das buscas mais frequentes do
menino Erivaldo.
Assim o seu processo de letramento
foi tomando forma e construindo
um vocabulário diferente para um
garoto de sua idade na sua cidade.
No caminho da cultura popular, ele encontrou outros
poetas, músicos e cantadores como Luiz Gonzaga, Zé
Marcolino, Casa de Reboco, Cintura Fina, Sargento Pedro,
entre outros colegas de uma cachacinha e outra.
Na época do serviço militar
transforma-se no soldado Lima se
torna cabo de tiro de guerra, aspecto
que foi de grande importância para
suas referências trabalhistas futuras.
Trabalhou em torno de seis anos com o
oficio da pedra, que considerava um serviço
muito pesado.
Devido à poluição nas adjacências da
fábrica, sofre de uma pneumonia que o fez
desistir da promoção para encarregado de
segurança.
Chega a São Paulo para dar início à
jornada do emprego dos sonhos.
Por ter sido cabo de tiro de guerra, é contratado
imediatamente como segurança da Companhia
Siderúrgica Paulista – COSIPA.
Volta para o nordeste, Sertânia, para
recomeçar onde tudo começou.
Um ex-marido de uma tia o convidou para fazer um serviço
em Natal.
Trabalhou como pedreiro, pintor, carpinteiro;
Quando foi a sua vez de conhecer a parceira, dona Criselda.
Trabalhou como segurança em bancos e instituições.
colocou o seu próprio mercadinho em sua residência. Lá, se
vendia de tudo. Porém a labuta era grande.
O ano de 2005 chega e a III Bienal do livro acontece no
Shopping Midway Mall.
1º folheto de cordel a ser comercializado por Erivaldo Leite.
Lançado na III Bienal do Livro de Natal
para uma aventura no
universo desconhecido do
mundo da arte.
De vendedor de comidas e
produtos para o lar, arrisca
uma estabilidade financeira
A sua participação na terceira III Bienal do
Livro colocou o poeta em contato com
pessoas e eventos ligados à produção do
cordel na cidade.
Outras produções, outras feiras,
outros eventos aconteciam e
conduziam o poeta a uma melhor
caracterização do seu negócio
cultural.
Em parceria com o poeta Paulo Varela,
arrisca a posse de um ponto comercial no
centro da cidade no antigo prédio da TV
universitária.
A UFRN que, a partir de 1997, autorizou que lá
funcionasse a Associação República das Artes. Esta
associação, formada por mais de 200 pessoas,
organizados em 26 grupos artísticos
(principalmente grupos de teatro, artistas de circo e
artesãos), era responsável por cerca de 70% da
produção cultural da cidade à época.
(PESSOA & COSTA, 2014).
Abaeté também iniciou suas
atividades de produtor e
vendedor de cordel nesse
espaço. Até então, era
apenas um cordelista
vendendo seus folhetos
numa banca improvisada,
porém, com o aluguel do
ponto, se transforma no
“Ponto do Cordel” em
seguida Casa do Cordel.
Em pouco tempo a Casa do Cordel consegue reunir
uma cambada de poetas perambulantes em busca de
uma referência, de um grupo social.
O diferencial da casa em relação à produção era o
contraponto com as editoras existentes que apenas
produziam material de escritores já renomados.
Enquanto a preocupação de Abaeté são os poetas iniciantes,
os que têm a verve poética, mas não haviam publicado
qualquer título.
A partir desse princípio, do perceber o cordel como
um universo a ser desenvolvido e democratizado,
Abaeté vem conduzindo esse espaço de produção,
promoção, distribuição e circulação da literatura de
cordel.
é o mesmo poeta que esteve
presente no contexto de
efervescência da cultura e da arte
na cidade, no estado e no país, no
qual muitos grupos artísticos
atuantes discutiam uma nova
forma de captar recursos para
articular as montagens e circulação
de seus produtos culturais.
Esse poeta que sai do campo para
a cidade grande barulhenta, com
seus gritos, a correria diária em
busca da sobrevivência, do lucro e
consegue trazer dentro de seus
versos a calmaria e simplicidade do
homem do campo e fazê-las criar
voz na cidade agitada,
Apesar de todo universo acadêmico está se constituindo
para corresponder aos anseios mercadológicos da cena
contemporânea da produção artística, Abaeté continua
a sua lida autodidata de produção, quase artesanal,
voltada à literatura de cordel e cultura popular.
A produção autodidata de
Abaeté é um referencial para
novos e antigos produtores
perceberem que é possível e
necessário ver a arte e a cultura
como negócios econômicos,
porém, a
responsabilidade
com aquilo que
está se
transmitindo e
os cuidados para
não passar um
rolo compressor
em outros
formatos de
produções, seja
realmente
praticado.
Muitos dos profissionais que produzem a cena artística e
cultural em Natal estão na condição autodidata, no que se
refere à formação acadêmica e/ou cursos técnicos
especializados para a atuação profissional de produtor
cultural.
Assim, como Abaeté, outros produtores autodidatas realizam
os seus projetos nessa concepção de fidelidade ao seu
segmento artístico, na sua área. Que levantam uma bandeira
de preservação de uma arte, de uma cultura que fogem ao
padrão de mercado e consumismo da atual politica de
empreendimentos criativos.
Na qual os valores artísticos e culturais se sobressaem diante
do valor econômico.
Ainda se torna mais difícil, quando se quer
fazer ecoar os seus valores, a simplicidade, e
toda vivência resultante de expressões
artísticas e culturais que perpassam épocas.
A resistência proposta pelos produtores
autodidatas são discussões pertinentes diante
dessa nova demanda de técnicos e produtores
provenientes da academia.
As políticas públicas para esses profissionais a
cada dia estão desaparecendo e são poucos os
produtores que, artesanalmente, pelejam para
pôr em evidência a sua arte.
É conclusivo que há na produção cultural vários
caminhos para levar a arte e a cultura para a
posterioridade. A diversidade da cultura aponta para
um desenvolvimento amplo e dialógico de toda forma
de fazer.
Referências
ABAETÉ. 12 estrofes de cordel. Natal: Casa do cordel, 2012.
AVELAR, Rômulo. O avesso da cena: notas sobre produção e gestão
cultural. 2. ed., Belo Horizonte: Duo Editora, 2010.
PESSOA, Nara da Cunha; COSTA, Andrea. Formação acadêmica na área
da cultura: análise do Curso Superior de Tecnologia em Produção
Cultural. Anais do ENECULT 2014. Salvador: UFBA, 2014.
RIBEIRO, Marcel Lúcio Matias. A Literatura de cordel em sala de aula.
Anais da EXPOTEC 2007. CEFET-RN – UNED Mossoró, 2007.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

O projeto estético e ideológico do modernismo brasileiro
O projeto estético e ideológico do modernismo brasileiroO projeto estético e ideológico do modernismo brasileiro
O projeto estético e ideológico do modernismo brasileiroPaulo Konzen
 
Manifestações artísticas da literatura brasileira contemporânea e as
Manifestações artísticas da literatura brasileira contemporânea e asManifestações artísticas da literatura brasileira contemporânea e as
Manifestações artísticas da literatura brasileira contemporânea e asKivia Caroline
 
Sete dias que abalaram a literatura
Sete dias que abalaram a literaturaSete dias que abalaram a literatura
Sete dias que abalaram a literaturaWalace Cestari
 
Literatura aula 22 - modernismo no brasil
Literatura   aula 22 - modernismo no brasilLiteratura   aula 22 - modernismo no brasil
Literatura aula 22 - modernismo no brasilJuliana Oliveira
 
www.EquarparaEnsinoMedio.com.br - Literatura - Primeira fase do Modernismo
www.EquarparaEnsinoMedio.com.br - Literatura - Primeira fase do Modernismowww.EquarparaEnsinoMedio.com.br - Literatura - Primeira fase do Modernismo
www.EquarparaEnsinoMedio.com.br - Literatura - Primeira fase do ModernismoAnnalu Jannuzzi
 
1 fase do modernismo brasileiro
1 fase do modernismo brasileiro1 fase do modernismo brasileiro
1 fase do modernismo brasileiroMiguel D' Amorim
 
Caminhos modernistas - a geração poética de 30
Caminhos modernistas - a geração poética de 30Caminhos modernistas - a geração poética de 30
Caminhos modernistas - a geração poética de 30Walace Cestari
 
Primeira fase do modernismo
Primeira fase do modernismoPrimeira fase do modernismo
Primeira fase do modernismoVictor Said
 
Apresentação sobre modernismo e pós modernismo
Apresentação sobre modernismo e pós modernismo Apresentação sobre modernismo e pós modernismo
Apresentação sobre modernismo e pós modernismo MariaPiedadeSILVA
 
1ª fase do modernismo
1ª fase do modernismo1ª fase do modernismo
1ª fase do modernismoLuciene Gomes
 
1ª Fase Do Modernismo
1ª Fase Do Modernismo1ª Fase Do Modernismo
1ª Fase Do ModernismoAmandeixom
 

Mais procurados (20)

O projeto estético e ideológico do modernismo brasileiro
O projeto estético e ideológico do modernismo brasileiroO projeto estético e ideológico do modernismo brasileiro
O projeto estético e ideológico do modernismo brasileiro
 
Manifestações artísticas da literatura brasileira contemporânea e as
Manifestações artísticas da literatura brasileira contemporânea e asManifestações artísticas da literatura brasileira contemporânea e as
Manifestações artísticas da literatura brasileira contemporânea e as
 
Sarau da Cooperifa
Sarau da CooperifaSarau da Cooperifa
Sarau da Cooperifa
 
Sete dias que abalaram a literatura
Sete dias que abalaram a literaturaSete dias que abalaram a literatura
Sete dias que abalaram a literatura
 
Literatura aula 22 - modernismo no brasil
Literatura   aula 22 - modernismo no brasilLiteratura   aula 22 - modernismo no brasil
Literatura aula 22 - modernismo no brasil
 
www.EquarparaEnsinoMedio.com.br - Literatura - Primeira fase do Modernismo
www.EquarparaEnsinoMedio.com.br - Literatura - Primeira fase do Modernismowww.EquarparaEnsinoMedio.com.br - Literatura - Primeira fase do Modernismo
www.EquarparaEnsinoMedio.com.br - Literatura - Primeira fase do Modernismo
 
O Pré-Modernismo
O Pré-ModernismoO Pré-Modernismo
O Pré-Modernismo
 
Trabalho de pt
Trabalho de ptTrabalho de pt
Trabalho de pt
 
Modernismo 1ª fase
Modernismo 1ª faseModernismo 1ª fase
Modernismo 1ª fase
 
1 fase do modernismo brasileiro
1 fase do modernismo brasileiro1 fase do modernismo brasileiro
1 fase do modernismo brasileiro
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Macunaíma
MacunaímaMacunaíma
Macunaíma
 
Caminhos modernistas - a geração poética de 30
Caminhos modernistas - a geração poética de 30Caminhos modernistas - a geração poética de 30
Caminhos modernistas - a geração poética de 30
 
Primeira fase do modernismo
Primeira fase do modernismoPrimeira fase do modernismo
Primeira fase do modernismo
 
Prémoderismo
PrémoderismoPrémoderismo
Prémoderismo
 
Apresentação sobre modernismo e pós modernismo
Apresentação sobre modernismo e pós modernismo Apresentação sobre modernismo e pós modernismo
Apresentação sobre modernismo e pós modernismo
 
Na esteira da liberdade
Na esteira da liberdadeNa esteira da liberdade
Na esteira da liberdade
 
1ª fase do modernismo
1ª fase do modernismo1ª fase do modernismo
1ª fase do modernismo
 
Brasilidades quituteira
Brasilidades quituteiraBrasilidades quituteira
Brasilidades quituteira
 
1ª Fase Do Modernismo
1ª Fase Do Modernismo1ª Fase Do Modernismo
1ª Fase Do Modernismo
 

Destaque

Dez mandamentos de um bom profissional
Dez mandamentos de um bom profissionalDez mandamentos de um bom profissional
Dez mandamentos de um bom profissionalEdmilton Luz
 
КУНСТКАМЕРА. АЛЕУТЫ
КУНСТКАМЕРА. АЛЕУТЫКУНСТКАМЕРА. АЛЕУТЫ
КУНСТКАМЕРА. АЛЕУТЫViacheslav Markov
 
IDCC 87 135-211 accord de methode opca
IDCC 87 135-211 accord de methode opcaIDCC 87 135-211 accord de methode opca
IDCC 87 135-211 accord de methode opcaSociété Tripalio
 
Gen Y - The Future of Employment
Gen Y - The Future of EmploymentGen Y - The Future of Employment
Gen Y - The Future of Employmentchungb
 
Programming fundamentals ch 1
Programming fundamentals ch 1Programming fundamentals ch 1
Programming fundamentals ch 1Adeem Mirza
 
Nbc tsp 01
Nbc tsp 01Nbc tsp 01
Nbc tsp 01CRC-PI
 
201603 March 7-19 Seminar Highlights
201603 March 7-19 Seminar Highlights201603 March 7-19 Seminar Highlights
201603 March 7-19 Seminar Highlightsbaptists4israel
 
Flexible manufacturing syatem
Flexible manufacturing syatemFlexible manufacturing syatem
Flexible manufacturing syatemDobariya Gautam
 
Polyglot Processing - An Introduction 1.0
Polyglot Processing - An Introduction 1.0 Polyglot Processing - An Introduction 1.0
Polyglot Processing - An Introduction 1.0 Dr. Mohan K. Bavirisetty
 
Форма, колір, декор у створенні певного за характером образу
Форма, колір, декор у створенні певного за характером образуФорма, колір, декор у створенні певного за характером образу
Форма, колір, декор у створенні певного за характером образуКовпитська ЗОШ
 
Архітектура. Образ будівлі та її призначення
Архітектура. Образ будівлі та її призначенняАрхітектура. Образ будівлі та її призначення
Архітектура. Образ будівлі та її призначенняКовпитська ЗОШ
 

Destaque (15)

Dez mandamentos de um bom profissional
Dez mandamentos de um bom profissionalDez mandamentos de um bom profissional
Dez mandamentos de um bom profissional
 
Autobiografia
AutobiografiaAutobiografia
Autobiografia
 
КУНСТКАМЕРА. АЛЕУТЫ
КУНСТКАМЕРА. АЛЕУТЫКУНСТКАМЕРА. АЛЕУТЫ
КУНСТКАМЕРА. АЛЕУТЫ
 
IDCC 87 135-211 accord de methode opca
IDCC 87 135-211 accord de methode opcaIDCC 87 135-211 accord de methode opca
IDCC 87 135-211 accord de methode opca
 
Gen Y - The Future of Employment
Gen Y - The Future of EmploymentGen Y - The Future of Employment
Gen Y - The Future of Employment
 
Taller protocolos ip
Taller protocolos ipTaller protocolos ip
Taller protocolos ip
 
Programming fundamentals ch 1
Programming fundamentals ch 1Programming fundamentals ch 1
Programming fundamentals ch 1
 
Nbc tsp 01
Nbc tsp 01Nbc tsp 01
Nbc tsp 01
 
A república da espada
A república da espadaA república da espada
A república da espada
 
201603 March 7-19 Seminar Highlights
201603 March 7-19 Seminar Highlights201603 March 7-19 Seminar Highlights
201603 March 7-19 Seminar Highlights
 
Flexible manufacturing syatem
Flexible manufacturing syatemFlexible manufacturing syatem
Flexible manufacturing syatem
 
Polyglot Processing - An Introduction 1.0
Polyglot Processing - An Introduction 1.0 Polyglot Processing - An Introduction 1.0
Polyglot Processing - An Introduction 1.0
 
Мистецтво витинанки
Мистецтво витинанкиМистецтво витинанки
Мистецтво витинанки
 
Форма, колір, декор у створенні певного за характером образу
Форма, колір, декор у створенні певного за характером образуФорма, колір, декор у створенні певного за характером образу
Форма, колір, декор у створенні певного за характером образу
 
Архітектура. Образ будівлі та її призначення
Архітектура. Образ будівлі та її призначенняАрхітектура. Образ будівлі та її призначення
Архітектура. Образ будівлі та її призначення
 

Semelhante a Abaeté do Cordel e a peleja de um produtor cultural - A performance autodidata de produzir

Publicacion en brasil odgers
Publicacion en brasil odgersPublicacion en brasil odgers
Publicacion en brasil odgersIngrid Odgers
 
Modernismo: Semana de 22 e 1ª Fase
Modernismo: Semana de 22 e 1ª FaseModernismo: Semana de 22 e 1ª Fase
Modernismo: Semana de 22 e 1ª FaseNome Sobrenome
 
semana-da-arte-moderna-e-manifestos-modernistas-para-os-3os-anos.ppt
semana-da-arte-moderna-e-manifestos-modernistas-para-os-3os-anos.pptsemana-da-arte-moderna-e-manifestos-modernistas-para-os-3os-anos.ppt
semana-da-arte-moderna-e-manifestos-modernistas-para-os-3os-anos.pptbillieeilish3214553
 
Pronto de leandro gomes de barros a rodolfo coelho
Pronto de leandro gomes de barros a rodolfo coelhoPronto de leandro gomes de barros a rodolfo coelho
Pronto de leandro gomes de barros a rodolfo coelhoatodeler
 
Discurso cidadão olindense
Discurso cidadão olindenseDiscurso cidadão olindense
Discurso cidadão olindenseJamildo Melo
 
MATERIAL DE INCENTIVO DE LEITURA QUINTELA CAVALCANTI-MODERNISMO.pdf
MATERIAL DE INCENTIVO DE LEITURA QUINTELA CAVALCANTI-MODERNISMO.pdfMATERIAL DE INCENTIVO DE LEITURA QUINTELA CAVALCANTI-MODERNISMO.pdf
MATERIAL DE INCENTIVO DE LEITURA QUINTELA CAVALCANTI-MODERNISMO.pdfJanecleideDavila1
 
Arte moderna brasileira
Arte moderna brasileiraArte moderna brasileira
Arte moderna brasileiraArte Educadora
 
Arte tendências literárias pergunta resposta
Arte tendências literárias pergunta respostaArte tendências literárias pergunta resposta
Arte tendências literárias pergunta respostaTina Lima
 
Arte moderna
Arte modernaArte moderna
Arte modernaISJ
 
Arte Moderna
Arte ModernaArte Moderna
Arte ModernaISJ
 

Semelhante a Abaeté do Cordel e a peleja de um produtor cultural - A performance autodidata de produzir (20)

Publicacion en brasil odgers
Publicacion en brasil odgersPublicacion en brasil odgers
Publicacion en brasil odgers
 
Modernismo: Semana de 22 e 1ª Fase
Modernismo: Semana de 22 e 1ª FaseModernismo: Semana de 22 e 1ª Fase
Modernismo: Semana de 22 e 1ª Fase
 
semana-da-arte-moderna-e-manifestos-modernistas-para-os-3os-anos.ppt
semana-da-arte-moderna-e-manifestos-modernistas-para-os-3os-anos.pptsemana-da-arte-moderna-e-manifestos-modernistas-para-os-3os-anos.ppt
semana-da-arte-moderna-e-manifestos-modernistas-para-os-3os-anos.ppt
 
Pronto de leandro gomes de barros a rodolfo coelho
Pronto de leandro gomes de barros a rodolfo coelhoPronto de leandro gomes de barros a rodolfo coelho
Pronto de leandro gomes de barros a rodolfo coelho
 
Discurso cidadão olindense
Discurso cidadão olindenseDiscurso cidadão olindense
Discurso cidadão olindense
 
Entrevista escritora Angélica Rizzi
Entrevista escritora Angélica RizziEntrevista escritora Angélica Rizzi
Entrevista escritora Angélica Rizzi
 
Texto
TextoTexto
Texto
 
MATERIAL DE INCENTIVO DE LEITURA QUINTELA CAVALCANTI-MODERNISMO.pdf
MATERIAL DE INCENTIVO DE LEITURA QUINTELA CAVALCANTI-MODERNISMO.pdfMATERIAL DE INCENTIVO DE LEITURA QUINTELA CAVALCANTI-MODERNISMO.pdf
MATERIAL DE INCENTIVO DE LEITURA QUINTELA CAVALCANTI-MODERNISMO.pdf
 
Arte moderna brasileira
Arte moderna brasileiraArte moderna brasileira
Arte moderna brasileira
 
Arte tendências literárias pergunta resposta
Arte tendências literárias pergunta respostaArte tendências literárias pergunta resposta
Arte tendências literárias pergunta resposta
 
Arte moderna
Arte modernaArte moderna
Arte moderna
 
M O D E R N I S M
M O D E R N I S MM O D E R N I S M
M O D E R N I S M
 
Arte Moderna
Arte ModernaArte Moderna
Arte Moderna
 
Arte Moderna
Arte ModernaArte Moderna
Arte Moderna
 
Modernismo2019
Modernismo2019Modernismo2019
Modernismo2019
 
Livro curitiba
Livro curitibaLivro curitiba
Livro curitiba
 
O que é literatura de cordel
O que é literatura de cordelO que é literatura de cordel
O que é literatura de cordel
 
Revistas Cultura
Revistas CulturaRevistas Cultura
Revistas Cultura
 
O que é literatura de cordel
O que é literatura de cordelO que é literatura de cordel
O que é literatura de cordel
 
Modernismo no Brasil
Modernismo no BrasilModernismo no Brasil
Modernismo no Brasil
 

Abaeté do Cordel e a peleja de um produtor cultural - A performance autodidata de produzir

  • 1. Abaeté do Cordel e a peleja de um produtor cultural – A performance autodidata de produzir MANOEL WILSON DE SOUZA Natal, 03 de novembro de 2016
  • 2. Há bem pouco tempo, nos círculos artísticos da cidade de Natal, quase não se ouvia falar da figura do produtor cultural. Eram personagens raros que figuravam a cena cultural do estado.
  • 3. O IFRN é pioneiro na introdução de um Curso Superior de Produção Cultural no estado.
  • 4. Chamamos a atenção para uma formação prática e autodidata de se produzir a cultura Geralmente são criadores que se tornam produtores pela necessidade de colocarem seus produtos no mercado.
  • 5. O profissional dessa área precisa saber realizar as três fases do ofício que é a Pré-produção - momento de preparação pra realizar a produção; a Produção – fazer nascer; e a Pós- produção - conclusão do que foi produzido.
  • 6. O fazer autodidata é movido pela necessidade e pelas experiências. é a base de formação de muitos artistas e produtores da cidade de Natal. Profissional que, com formação superior ou autodidata, faz a arte e cultura chegar ao público de destino.
  • 7. Abaeté do Cordel, um dos personagens principais na cena cordeliana potiguar. Tece a trama da Associação Casa de Cordel, que é responsável pela produção, difusão e circulação da cultura popular potiguar.
  • 8. Abaeté peleja como produtor autodidata, pela manutenção, preservação e difusão da arte cordeliana nos territórios potiguares.
  • 9. Através de pesquisa documental e de pesquisa de campo, esta última realizada a partir de uma conversa, gravada, com o poeta e produtor cultural Abaeté do Cordel, entre outros registros como de eventos, internet, visitas e reuniões, foi possível perceber como se forma (informalmente) um produtor cultural. Ainda, como mencionado antes, adentra-se na vida do artista na tentativa de perfilar instantes que o formaram poeta/produtor.
  • 10. Nos idos de 1960, em Sertânia, sertão de Moxotó, Pernambuco, a 263 km da capital, vem ao mundo o segundo filho varão de seu Manoel Romão de Lima e dona Nilda Leite de Lima.
  • 11. O cenário propício para essa prática era a feira onde os poetas populares Pinto do Monteiro e Gato Velho se encontravam para cantar e vender os seus folhetos de cordel. A leitura era umas das buscas mais frequentes do menino Erivaldo.
  • 12. Assim o seu processo de letramento foi tomando forma e construindo um vocabulário diferente para um garoto de sua idade na sua cidade. No caminho da cultura popular, ele encontrou outros poetas, músicos e cantadores como Luiz Gonzaga, Zé Marcolino, Casa de Reboco, Cintura Fina, Sargento Pedro, entre outros colegas de uma cachacinha e outra.
  • 13. Na época do serviço militar transforma-se no soldado Lima se torna cabo de tiro de guerra, aspecto que foi de grande importância para suas referências trabalhistas futuras. Trabalhou em torno de seis anos com o oficio da pedra, que considerava um serviço muito pesado.
  • 14. Devido à poluição nas adjacências da fábrica, sofre de uma pneumonia que o fez desistir da promoção para encarregado de segurança. Chega a São Paulo para dar início à jornada do emprego dos sonhos. Por ter sido cabo de tiro de guerra, é contratado imediatamente como segurança da Companhia Siderúrgica Paulista – COSIPA. Volta para o nordeste, Sertânia, para recomeçar onde tudo começou.
  • 15. Um ex-marido de uma tia o convidou para fazer um serviço em Natal. Trabalhou como pedreiro, pintor, carpinteiro; Quando foi a sua vez de conhecer a parceira, dona Criselda. Trabalhou como segurança em bancos e instituições. colocou o seu próprio mercadinho em sua residência. Lá, se vendia de tudo. Porém a labuta era grande.
  • 16. O ano de 2005 chega e a III Bienal do livro acontece no Shopping Midway Mall. 1º folheto de cordel a ser comercializado por Erivaldo Leite. Lançado na III Bienal do Livro de Natal
  • 17. para uma aventura no universo desconhecido do mundo da arte. De vendedor de comidas e produtos para o lar, arrisca uma estabilidade financeira
  • 18. A sua participação na terceira III Bienal do Livro colocou o poeta em contato com pessoas e eventos ligados à produção do cordel na cidade.
  • 19. Outras produções, outras feiras, outros eventos aconteciam e conduziam o poeta a uma melhor caracterização do seu negócio cultural.
  • 20. Em parceria com o poeta Paulo Varela, arrisca a posse de um ponto comercial no centro da cidade no antigo prédio da TV universitária. A UFRN que, a partir de 1997, autorizou que lá funcionasse a Associação República das Artes. Esta associação, formada por mais de 200 pessoas, organizados em 26 grupos artísticos (principalmente grupos de teatro, artistas de circo e artesãos), era responsável por cerca de 70% da produção cultural da cidade à época. (PESSOA & COSTA, 2014).
  • 21. Abaeté também iniciou suas atividades de produtor e vendedor de cordel nesse espaço. Até então, era apenas um cordelista vendendo seus folhetos numa banca improvisada, porém, com o aluguel do ponto, se transforma no “Ponto do Cordel” em seguida Casa do Cordel. Em pouco tempo a Casa do Cordel consegue reunir uma cambada de poetas perambulantes em busca de uma referência, de um grupo social.
  • 22. O diferencial da casa em relação à produção era o contraponto com as editoras existentes que apenas produziam material de escritores já renomados. Enquanto a preocupação de Abaeté são os poetas iniciantes, os que têm a verve poética, mas não haviam publicado qualquer título.
  • 23. A partir desse princípio, do perceber o cordel como um universo a ser desenvolvido e democratizado, Abaeté vem conduzindo esse espaço de produção, promoção, distribuição e circulação da literatura de cordel.
  • 24. é o mesmo poeta que esteve presente no contexto de efervescência da cultura e da arte na cidade, no estado e no país, no qual muitos grupos artísticos atuantes discutiam uma nova forma de captar recursos para articular as montagens e circulação de seus produtos culturais. Esse poeta que sai do campo para a cidade grande barulhenta, com seus gritos, a correria diária em busca da sobrevivência, do lucro e consegue trazer dentro de seus versos a calmaria e simplicidade do homem do campo e fazê-las criar voz na cidade agitada,
  • 25. Apesar de todo universo acadêmico está se constituindo para corresponder aos anseios mercadológicos da cena contemporânea da produção artística, Abaeté continua a sua lida autodidata de produção, quase artesanal, voltada à literatura de cordel e cultura popular.
  • 26. A produção autodidata de Abaeté é um referencial para novos e antigos produtores perceberem que é possível e necessário ver a arte e a cultura como negócios econômicos, porém, a responsabilidade com aquilo que está se transmitindo e os cuidados para não passar um rolo compressor em outros formatos de produções, seja realmente praticado.
  • 27. Muitos dos profissionais que produzem a cena artística e cultural em Natal estão na condição autodidata, no que se refere à formação acadêmica e/ou cursos técnicos especializados para a atuação profissional de produtor cultural.
  • 28. Assim, como Abaeté, outros produtores autodidatas realizam os seus projetos nessa concepção de fidelidade ao seu segmento artístico, na sua área. Que levantam uma bandeira de preservação de uma arte, de uma cultura que fogem ao padrão de mercado e consumismo da atual politica de empreendimentos criativos. Na qual os valores artísticos e culturais se sobressaem diante do valor econômico.
  • 29. Ainda se torna mais difícil, quando se quer fazer ecoar os seus valores, a simplicidade, e toda vivência resultante de expressões artísticas e culturais que perpassam épocas. A resistência proposta pelos produtores autodidatas são discussões pertinentes diante dessa nova demanda de técnicos e produtores provenientes da academia. As políticas públicas para esses profissionais a cada dia estão desaparecendo e são poucos os produtores que, artesanalmente, pelejam para pôr em evidência a sua arte.
  • 30. É conclusivo que há na produção cultural vários caminhos para levar a arte e a cultura para a posterioridade. A diversidade da cultura aponta para um desenvolvimento amplo e dialógico de toda forma de fazer.
  • 31. Referências ABAETÉ. 12 estrofes de cordel. Natal: Casa do cordel, 2012. AVELAR, Rômulo. O avesso da cena: notas sobre produção e gestão cultural. 2. ed., Belo Horizonte: Duo Editora, 2010. PESSOA, Nara da Cunha; COSTA, Andrea. Formação acadêmica na área da cultura: análise do Curso Superior de Tecnologia em Produção Cultural. Anais do ENECULT 2014. Salvador: UFBA, 2014. RIBEIRO, Marcel Lúcio Matias. A Literatura de cordel em sala de aula. Anais da EXPOTEC 2007. CEFET-RN – UNED Mossoró, 2007.