1. A ética nas relações, encontros e desencontros
Por Alexsandro Rosa Soares para o RH.com.br
Estabelecer uma distinção entre teoria e prática sempre foi um desafio em todas as esferas humanas,
principalmente no aspecto profissional. Na filosofia, saber distinguir ética de moral sempre foi um processo de
discussão. Resumidamente pode-se entender que a Ética é teoria e a Moral é prática. Esta é a forma mais
simples de diferenciar ambos. Termos tão distintos e ao mesmo tempo tão iguais.
Pode-se entender por ética o conjunto de princípios que norteiam nossas vidas em um formato holístico e
formal. São regras universais estabelecidas no transcorrer dos anos históricos, que permanecem enraizadas por
todas as sociedades, diferenciando-se de uma ou outra dependendo do processo histórico-cultural pelo qual
aquela determinada sociedade foi instaurada.
Moral é o que fazemos da ética. A moral está diretamente ligada ao ato de liberdade onde cada indivíduo
determina para si os princípios éticos que lhe valem no convívio com os outros seres humanos. Ser moral
significa estar andando na linha como diz o ditado popular. Sem ultrapassar limites. Sem buscar/viver
ideologias que afrontem o que é considerado ético nos ambientes, sejam estes, social, profissional ou pessoal.
Duas coisas sempre me enchem a alma de crescente admiração e respeito, quanto mais intensa e
frequentemente o pensamento delas se ocupa: o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim.
(KANT, Immanuel apud SILVEIRA, Fernando Lang da. 2002, p. 1)
Os mandamentos da lei de Deus são bons exemplos de princípios éticos estabelecidos desde a Gênese deste
Universo e que permanecem até a atualidade como se fossem algo pensado nos dias de hoje. Não matar, não
roubar, não cobiçar as coisas alheias, não desejar o cônjuge do próximo, amar ao próximo como a ti mesmo,
enfim, filosofias primordiais para quem estabelece para si o princípio da convivência harmônica.
Por mais que os filósofos tentem dissociar a ética da moral é inevitável que na aplicabilidade do cotidiano,
estes se misturem. Ora, se ética e moral tratam na sua essência do comportamento humano, mais do que
fatídico ambas se relacionarem entre si.
Aristóteles em seus escritos afirma que: o objetivo de todo ser humano é alcançar uma vida melhor e a
felicidade. A pessoa virtuosa seria aquela para quem as coisas são boas pelo fato de ela ter qualidades morais.
Essas qualidades morais decorrem de três fatores: a natureza, o hábito e a razão.
Ser feliz no emaranhado de afazeres que rodeiam nosso universo globalizado é um fator primordial para que
consigamos exercer nossa liberdade de escolhas, sem ferir as concepções éticas das outras pessoas. Por mais
que estejamos sempre muito preocupados com o campo individual e egocêntrico da nossa existência, é urgente
pensar que fazemos parte de um todo complexo. Precisa-se de indivíduos que cultivem a ética da virtude tão
fomentada por Aristóteles.
Não há possibilidade de tratar de ética na atualidade sem associar esta com a filosofia crítica de Jurgen
Habermas, um dos mais importantes filósofos alemães do século 20. O estudioso nos apresentou a "Ética do
Discurso" onde o princípio da dialogicidade está enraizado, até nos tempos atuais.
Prova disso é que a maior dificuldade dos pais hoje na educação dos seus filhos é dar direção aos mesmos e
estabelecer para eles o que é certo ou errado, ruim ou bom e até onde eles podem ir sem ferir a liberdade do
outro. Isso tudo se deve a vários fatores, mas o principal está intrinsecamente ligado ao excesso de diálogo
entre os personagens desta trama.
Esvaiu-se a "ditadura" paternal do que pode ou não pode. As crianças, os adolescentes e os adultos estão em
esferas com igualdade de condições, permeados por negociações que nos tempos de outrora não existiam.
Funcionava a lei do sim, sim... Não, não. Isso era considerado educar.
É de suma importância incitar nos indivíduos, quão pequeninos forem, o exercício da autorreflexão sobre o seu
comportamento diante de outrem e que este ser humano consiga compreender que mesmo a moralidade sendo
algo pessoal e individual, esta é inseparável da educação social, pois ambas são aspectos de emancipação
social e humana.
Saber ouvir é importante, dialogar mais ainda, contudo é necessário estabelecer critérios e ditar ordens sem
exageros para que as pessoas saibam ouvir e principalmente constatar o quão importante é o ato de CONVIVER
respaldado na respeitabilidade.
No ambiente de trabalho é notória a dificuldade de relacionamento entres os profissionais, na maioria das
vezes por excesso de autoconfiança. A ética profissional surge para propor um diálogo, reforçar os deveres e
implantar no ambiente organizacional, atitudes e valores positivos que venham contribuir para a melhoria das
relações interpessoais.
Ela surge para limitar também quem não encontrou por sua caminhada de vida o significado de limites.
Participar de um ambiente de trabalho é exercitar o lado humano conflituoso entre a razão e o coração.
Sempre temos a necessidade de refletir sobre os valores que definem o que: "Quero", "Posso" e "Devo", pois
2. como diz o filósofo Mario Sergio Cortella em suas apresentações: "Porque nem tudo que eu quero eu posso.
Nem tudo que eu posso eu devo e nem tudo que eu devo eu quero!".
Enfim, a relação triádica entre educação, respeito e cooperação exerce no campo profissional um papel
fundamental para que este seja um ambiente propício ao sucesso. Indagações como: "Estou sendo um bom
profissional?", "Estou agindo adequadamente no meu ambiente de trabalho?", "Realizo corretamente minha
atividade?" são necessárias diariamente para que não façamos da nossa profissão uma mesmice e uma rotina,
sem qualquer possibilidade demonstrar nosso potencial e de alçar voos maiores.
No fim, descobre-se que falar de ética não é tão complexo, complexos são os seres humanos.
Palavras-chave: | ética | equipe | conflito |
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desencontros.html