1. A informática além do ensinar: conviver e interagir com idosos
Caroline Andréia Eifler Saraiva, Irani I. de Lima Argimon (orientador)
Programa de Pós-Graduação, Faculdade de Psicologia, PUCRS
Resumo
O presente artigo teve por objetivo analisar o vínculo existente na relação professor-
aluno em aulas particulares de informática. Em um enfoque de pesquisa qualitativo, foram
aplicados questionários com questões referentes ao relacionamento professor-aluno no
aprendizado da informática. A análise dos dados, feita através da Análise de Conteúdo,
apresentou três unidades de análise definidas como afeto, empatia e conhecimento. Constatou-
se, além dos benefícios de um vínculo afetivo, que a aula muitas vezes transcende os limite
dela própria, tornando-se um momento não só de aprendizado, mas de entretenimento e troca
de experiências.
Introdução
O homem contemporâneo possui uma nova forma de pensar o tempo, de se organizar e
agir, é um ser globalizado. Essa transformação se deu, em parte, pela evolução das
tecnologias, de tal forma que não se vive um dia sem ter contato com algum equipamento
eletrônico. O ponto positivo é que o cidadão possui alta capacidade de manipular informação
mesmo no âmbito de sua vida privada, a tal ponto que quaisquer necessidades que possa ter
nesse tipo de ambiente são facilmente satisfeitas. O ponto negativo é a exclusão de algumas
parcelas da população para o uso desse conhecimento, entre elas, os idosos.
Ao mesmo tempo em que a sociedade encontra-se informatizada, o País experimenta
um processo de envelhecimento populacional, cuja expectativa atual de vida dobrou nos
últimos 50 anos. Essas mudanças tornaram-se mais nítidas a partir de 1940, em virtude da
melhoria do padrão de vida do brasileiro, associada ao progresso das condições de trabalho, à
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2. urbanização e ao incremento das condições gerais de saúde da população, especialmente as
relativas ao controle da mortalidade provocada por doenças comuns da infância.
Balbinotti (2003) atenta para o fato de que os adultos maduros de hoje estão
construindo uma identidade própria, com outro perfil, que inclui continuar atuante, realizando
projetos, lutando pela manutenção da sua auto-estima. São pessoas que, num mundo atual e
globalizado, pretendem não estar à margem do processo como um todo.
Para essa população saudável e disponível a novos aprendizados, a informática pode
ser um instrumento de autonomia, criando um elo de ligação intergeracional, através da
linguagem, da troca de informação e da formação de uma rede de relacionamentos. A
população idosa que, por fatores de transição e especificidades, ficou excluída do processo de
inclusão tecnológica, tem na sociedade da informação uma nova chance de reconstruir seus
referenciais afetivos, familiares e sociais.
Diante desse cenário, o tema deste trabalho foi escolhido com o intuito de analisar o
vínculo existente na relação professor-aluno em aulas particulares de informática para idosos.
O fato de escolher essa faixa etária deve-se ao crescimento no número de idosos interessados
em inserir-se tecnologicamente, com características individuais diversas, para os quais a
informática tende a ser uma nova forma de entretenimento, acontecendo de maneira
prazerosa, agradável e sem cobranças.
Metodologia
Estudo do tipo qualitativo onde foram entrevistados 8 idosos, com idade média de 69
anos, todos residentes em Porto Alegre. Como critérios de inclusão foram definidos: idade
maior ou igual a 60 anos e ter tido aulas com um professor particular. Para contemplar o
enfoque de pesquisa qualitativo, foram aplicados questionários com questões referentes ao
relacionamento professor-aluno no aprendizado da informática.
Resultados e Discussão
Através da Análise de Conteúdo de Bardin (2002), os dados foram categorizados e
divididos em três unidades de análise definidas como afeto, empatia e conhecimento.
A primeira unidade denominou-se afeto por abranger várias características apontadas
como essenciais para a relação próxima com o aluno, tais como: afetividade, com sintonia e
amizade, familiar, simples. Assim, os alunos sentem-se mais confiantes, com liberdade para
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3. perguntar, errar e corrigir o erro. Nesta faixa etária, o erro incomoda muito e faz parte do
ensinamento, se permitir errar.
A segunda unidade fez referência à empatia do professor com relação ao aprendizado
do aluno, ou seja, à capacidade do professor de se colocar no papel do aluno e entender suas
limitações, ou mesmo de se apropriar de melhores formas de ensinar o que não foi entendido.
Erbolato (2000) afirma que pessoas que reafirmam aquilo de positivo que pensamos de nós
mesmos, podem, em qualquer etapa da vida, melhorar nossa auto-estima e servem como
modelos para nossa auto-avaliação. Algumas verbalizações apontam para a falta de paciência
de familiares ao ensinar computação, o que por vezes causa danos à auto-estima dos idosos
por acharem que não são capazes de se inserirem no mundo tecnológico.
A última unidade de análise encontrada, que faz referência ao conhecimento do
professor, define a aptidão deste professor para conhecer de informática e de adultos maduros,
associando esses dois elementos na hora do ensino.
Conclusão
Constatou-se com este trabalho que a aula particular de informática para idosos
freqüentemente transcende os limites dela própria, tornando-se uma relação de amizade como
alguns alunos relataram. A importância desse vínculo é o fortalecimento da confiança entre
ambos de forma que exista liberdade para perguntar, solicitar que seja repetido o conteúdo,
sem medo, vergonha ou receios. O professor deve, em sua formação, conhecer sobre o
envelhecimento, sobre informática e saber combinar os dois a fim de adquirir subsídios
necessários para ter empatia com o aluno, colocando-se no lugar deste, entendendo suas
dificuldades e respeitando o ritmo de compreensão.
Dessa forma, a aula particular de informática para idosos pode ser um momento
agradável, de entretenimento e troca de experiências, onde o aprendizado acaba sendo apenas
um dos objetivos finais.
Referências
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2002.
BALBINOTTI, H. B. Adulto Maduro: o pulsar da vida. Porto Alegre: WS Editor. 2003.
ERBOLATO, R., Gostando de si mesmo: a auto-estima. In: Néri, A; Freire, S. E por falar em boa velhice.
Campinas, São Paulo: Papirus, 2000.
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