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1
VISITAS A DOMICÍLIO
NA TRADIÇÃO VICENTINA
Padre Maloney, CM
Assessor Espritual do Conselho Geral Internacional
Desde o princípio, as visitas a domicílio desempenharam um papel chave no
serviço da Família Vicentina em relação àqueles que estão em necessidade. Mas elas não
eram visitas ordinárias; elas eram encontros cheios de fé. Vicente de Paulo insistia:
Quando vocês forem visitá-los, rejubilem-se e digam a vocês mesmos: “Eu estou
indo até este pobre para honrar nesta pessoa a pessoa de Nosso Senhor. Eu estou
indo ver nele a Encarnação da Sabedoria de Deus”.1
Em 1617, quando ele fundou a primeira Confraria da Caridade, Vicente direcionou os
membros a irem dois a dois às casas dos doentes e dos desfavorecidos. Enquanto ele espalhava
as confrarias pela França, ele fez deste um explícito mandato. A própria Regra indica: “As
Mulheres da Companhia irão fazer seus turnos, duas a duas, para servir o doente pobre”2
.
Quando ele estava descrevendo a Congregação da Missão, fundada em 1625, ele escreveu
que “nós sempre saímos dois a dois” durante as missões para visitar os domicílios daqueles que
eram marginalizados3
. Sempre que Vicente avaliava as missões oferecidas com seus irmãos e
outros, as visitas em domicílio estavam entre as coisas que ele considerava cuidadosamente.
Em 1633, ele e Luísa de Marillac fundaram as Filhas da Caridade. Foi um projeto
revolucionário, pois até então praticamente todas as irmãs tinham sido obrigadas a viver em
conventos de clausura. Vicente foi bem sucedido em conseguir o apoio eclesiástico para as
Filhas servirem nas ruas, nas escolas e nos hospitais. Ele disse a elas que o seu convento seria o
lar dos doentes. Ele colocou uma grande ênfase nas visitas aos pobres doentes4
. Estas visitas
estavam entre as características mais marcantes desta nova comunidade de irmãs.
1
CCD:X:103.
2 Regulamentos para a caridade das mulheres, Paris, 1630; CCD:XIIIb:100.
3 Carta para Santa Joana de Chantal, escrita em 14 de julho de 1639; CCD:I:555.
4 Regras comuns das Filhas da Caridade, parágrafo 12; CCD:XIIIb:151.
2
Curiosamente, enquanto que estes três grupos foram fundados juridicamente em um
período de dezesseis anos, Vicente, olhando para trás, vê o início de todos eles nas visitas a
domicílio em 1617. Ele contou duas histórias fundamentais, e em ambas visitas destacadas
ocorreram naquele ano: a primeira, em Janeiro de 1617, para um camponês moribundo em
Gannes, não muito longe de Paris; a segunda, naquele verão, para uma família doente em
Châtillon-les-Dombes, na vizinhança de Lyon5
Não somente Vicente incitou todos os membros de sua Família – laicos mulheres e
homens, padres, irmãos e irmãs – a fazer visitas a domicílio; ele também escreveu instruções
detalhadas sobre como fazer bem essas visitas. Como ponto principal, os membros da Família
Vicentina deveriam considerer aqueles que eles visitavam como seus “Senhores e Mestres” 6
.
Vicente exortava seus seguidores a reverenciar aqueles que eles visitavam como eles
reverenciavam o próprio Cristo.
Frédéric Ozanam e a Sociedade de São Vicente de Paulo
Quando um grupo de jovens universitários formaram a Sociedade de São Vicente de
Paulo em 1833, eles eram aprendizes de Rosalie Rendu, uma Filha da Caridade. Sra Rosalie era
já conhecida por suas visitas aos domicílios dos pobres no bairro Mouffetard em Paris. Eles
aprenderam esta ferramenta com ela.
Ozanam escreveu constantemente sobre visitas em domicílio. Ele afirmou que as visitas a
domicílio dos pobres era o “nosso principal trabalho” 7
. Ele relatava regularmente o número de
visitas que diversas conferências haviam feito. Ele via o visitante e o visitado como intimamente
unidos. Em 1836, ele escreve, “Nos alegramos que o número de famílias que nós estamos indo
visitar está crescendo, porque nós acreditamos que eles formam com os membros que visitam
duas partes de uma mesma sociedade. Aqueles que são ajudados provocam e fazem reviver a
caridade daqueles que os ajudam; neste sentido, eles se assistem mutuamente cada um deles, eles
vivem no mesmo espírito e todos encontram abrigo sob o manto de São Vicente de Paulo”8
Hoje em dia, a Regra da Sociedade de São Vicente de Paulo coloca desta forma:
Desde o início da Sociedade, a atividade mais básica e mais central das Conferências
tem sido a visita aos necessitados em suas casas. Este é o aspecto mais claro do nosso
carisma Vicentino, que prescreve o maior respeito pela dignidade do pobre 9
.
5 Hoje nós reconhecemos alguns elementos mitológicos nestas histórias. Cf. Daniel Steinke, “Folleville 1617 –
Gründingsmythos der Kongregation der Mission,” MEGVIS (2017), 4-22.
6
CCD:II:140;X:215;X:268;XI:297;XI:349;XII:4;XIIIb:196.
7 Lettres de Frédéric Ozanam, publicadas com a ajuda dos descendentes de Ozanam por Léonce Celier, Jean-Baptiste
Duroselle, e Didier Ozanam (Bloud et Gay, 1960) I:430.
8 Ibid., I:359.
9 Regra, Parte 1, Artigos 1,2 e 1.7 – 1.12; Parte III, Seção 8.
3
Visitas em domicílio nos Evangelhos
As bençãos da visita são um tema recorrente nas escrituras. Para ser breve, eu nomeio
aqui somente algumas das mais significantes visitas do Novo Testamento, enquanto os leitores se
lembrarão imediamente de visitas importantes em outras partes do Novo Testamento,
particularmente em Atos e Paulo10
, assim como nas escrituras hebréias11
.
• Marcos 1:29-31: Jesus visita a sogra de Pedro e a cura.
• Mateus 2:1-12: Homem sábio visita Jesus em seu Nascimento, trazendo presentes para
ele. O relato repete três vezes que eles foram “prestar homenagem a ele”.
• Mateus 25:36: Jesus declara que as visitas aos doentes e aos presos serão um dos critérios
pelos quais nós seremos julgados.
• Mateus 26:6: Jesus visita a casa de Simão, o Leproso, onde uma mulher o unge em
preparação para sua morte e enterro. Ele afirma que onde quer que o evangelho seja
proclamado, o que aquela mulher fez durante a sua visita será lembrado.
• Lucas 1:39-45: Maria visita Isabel para ajudá-la. Elas ficam juntas por três meses.
• Lucas 10:38-42: Jesus visita a casa de Marta e Maria, onde ele as ensina sobre “uma
coisa necessária”.
• Lucas 19:1-10: Jesus visita a casa de Zaqueu, que se converte e doa metade dos seus bens
aos pobres.
• João 11:1-45: Jesus visita Marta, Maria e Lázaro e ressucita Lázaro da morte.
Particularmente notável dentre os textos acima é o relato de Lucas sobre a Visitação. Em
sua narrativa de infância, Lucas entrelaça vários temas ricos das escrituras ao descrever a visita
da Virgem Maria à sua prima Isabel12
. Deixem-me mencionar apenas quatro:
1. Partindo com entusiasmo
Lucas afirma que tendo ouvido a notícia da gravidez de Isabel, Maria decidiu imediatamente
visitá-la. Ela “partiu às pressas” em uma difícil jornada de aproximadamente 90 milhas. A
viagem, a pé, deve ter levado quatro a cinco dias.
2. Estar com
Maria, que também estava grávida, ficou com Isabel por três meses (uma longa visita!). Nós
só podemos imaginar como a estada de Maria solidificou os vínculos entre as duas primas.
10 Cf. Atos 9:32f.; Atos 15:36-41; Fl 2:25; João 5:14.
11 Dentre estas, destaca-se a história da visita de Elias à viúva em Sarepta de Sidon (1 Reis 17:7-16).
12 
Lucas 1:39-56.
4
3. Oferecendo ajuda prática
Maria ajudou Isabel, a quem o relato descreve como idosa. Leitores se lembrarão também
que o marido de Isabel, Zacarias, ficou mudo e assim permaneceu durante este período.
4. Alegria, louvor, gratidão
O relato de lucas da visita está cheio de orações alegres. Isabel e Maria cantam juntas
canções (às vezes chamadas “cânticos”). Comentadores do texto descrevem-nas como se
fossem duas sopranos no palco de uma ópera de Verdi, proclamando louvores a Deus e
cantando o amor de Deus pelos pobres.
A Origem da definição da Palavra “Visita”
Etimologicamente, a palavra inglesa visit descende de uma origem Latina significando
ver. As palavras em francês, espanhol, italiano e português para visit têm a mesma origem. A
palavra germânica para visit (Besuch), mesmo sendo proveniente de uma origem diferente, está
também relacionada a ver (suchen).
Então, no sentido original, visitar envolve o ato de ir ver os outros, olhando-os nos olhos,
encarando suas faces. São Vicente diria que uma visita, feita com os olhos da fé, envolve ver a
face do Cristo na face da pessoa pobre13
.
Nos evangelhos, Jesus alerta sobre “ver mas não ver”. A experiência humana nos diz que
de fato a incapacidade de ver é uma ocorrência frequente. Quando frustrados, nós podemos
algumas vezes dizer a alguma pessoa cuja visão é tecnicamente boa “Você é cego! Você não vê
o que está acontecendo!”
Além daqueles que são metaforicamente cegos, nós também conhecemos pessoas que são
metaforicamente míopes (falta de visão de longo alcance), ou que enxergam bem ao longe (e por
isso falham em ver importantes detalhes de perto), ou aqueles que têm visão de túnel (que olham
para a frente mas não conseguem ver os efeitos naqueles que estão nos lados).
Como é importante realmente ver!
Nos evangelhos, um olhar amoroso produz frequentemente mudanças de vida. Em sua
homília diária de 22 de maio de 2015, o Papa Francisco focalizou no olhar de Jesus14
. Ele
apontou que quando Jesus conheceu Pedro, “Ele colocou os seus olhos sobre ele e disse” “Você
é Simão, filho de João; e será chamado Pedro”. Francisco acrescentou “Foi este o primeiro olhar,
o olhar de missão” o qual Pedro respondeu entusiasticamente. Depois, após Pedro ter negado
13 CCD:X:103;IX:54.
14 Cf. National Catholic Reporter, May 22, 2015.
5
Jesus por três vezes, ele sentiu o olhar de Jesus novamente e “chorou amargamente”.
Continuando o seu comentário, Francisco afirmou “O entusiasmo de seguir o Senhor se
converteu em lágrimas porque Pedro havia pecado, ele havia negado Jesus”. O papa ainda
acrescentou “Aquele olhar modificou o coração de Pedro ainda mais do que o primeiro havia
feito. O primeiro modificou o seu nome e a sua vocação, mas o Segundo foi o olhar que
modificou o seu coração; foi a conversão para o amor”. O papa, finalmente, falou de um terceiro
olhar no qual, após a sua ressurreição, Jesus olhou para Pedro e perguntou se ele o amava, e disse
a ele para alimentar o seu rebanho. Este terceiro olhar confirmou a missão de Pedro enquanto
confirmava também o seu amor.
Quando o contato visual, o toque, e uma conversa verbal genuína (falar/ouvir) se
combinam, respeito e intimidade florescem15
. Certa vez, depois de receber uma visita de um
membro da AIC um jovem com problemas me disse: “Ela me fez me sentir humano novamente”.
Similarmente, um afro-americano lutando contra vários vícios me disse no funeral de um
membro da Família Vicentina que o havia visitado regularmente: “Depois de um tempo, eu
percebi que ele era totalmente “daltônico”. Distinções raciais não significavam nada para ele”.
Elementos chave ao Fazer uma Visita em Domicílio
Os websites da Família Vicentina pelo mundo oferecem ótimas instruções sobre como
fazer uma boa visita em domicílio16
. Aqui eu menciono somente cinco elementos chave.
1. Ouvir
Ouvir é a fundação de toda espiritualidade. O primeiro serviço que nós devemos a Deus e aos
nossos irmãos e irmãs é ouvi-los com empatia. Se nós não ouvimos, nós estamos perdidos.
Ouvir é a disposição primária do discípulo. O discípulo, tendo ouvido, então sai como
missionário para espalhar as boas novas do amor de Deus por todos, especialmente pelos
pobres e marginalizados.
Nenhuma outra imagem está mais enraizada na consciência do Papa Francisco do que a
Igreja como uma comunidade de discípulos missionários. Este era o tema chave na Quinta
Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe, ocorrida em Aparecida, no Brasil
entre os dias 13 e 31 de maio de 200717
, quando o então Cardeal Bergoglia serviu como
presidente do comitê editorial para o documento final.
15 Cf. John Heron, “The Phenomenology of Social Encounter: the Gaze” acessível em
https://www.jstor.org/stable/pdf/2105742.pdf
16 Cf. http://www.svdpmilw.org/images/Home%20Visit.pdf
17 Primeira Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe, Aparecebida, Brasil, 13-31 de Maio de 2007. .
6
Como papa, Francisco afirma, “Eu sou uma missão nesta terra; esta é a razão pela qual
estou aqui”18
. Ele enfatiza que a Igreja é missionária por sua própria natureza19
.
Discípilos ouvem os seus Mestres, então a nossa prioridade principal ao entrar nas casas
será ouvir sobre a dor e sobre as necessidades20
do pobre, a quem São Vicente chama “nossos
Senhores e Mestres”21
. Missionários levam boas novas, então nossa segunda prioridade será
levar esperança, encorajamento e ajuda efetiva para aqueles a quem nós visitamos.
Francisco nos convida a levar um estilo Mariano para nossas atividades como discípulos
missionários. Ele está convencido que nós não podemos compreender totalmente o mistério da
Igreja sem entender o papel de Maria no Novo Testamento e o seu lugar no desenvolvimento da
doutrina cristã. Descrevendo o estilo de Maria como uma discípula missionária, ele reflete sobre
a canção que ela cantou durante a visitação, o Magnificat, e afirma, A interação de justiça e
ternura, de contemplação e preocupação pelos outros é o que faz a comunidade eclesial olhar
para Maria como modelo de evangelização22
.
Poucos grupos no mundo têm tanta experiência concreta em visitar os pobres como a
Família Vicentina tem. A questão básica que eu coloco aqui é esta: como nós podemos ser
melhores discípulos missionários durante nossas visitas domiciliares?
1. Sendo amigos
Um dos principais presentes que nós podemos dar àqueles que nós visitamos é a amizade. É
parte integrante da espiritualidade da misericórdia que Jesus esboça na cena do julgamento em
Mateus 25:31-46. A amizade está no coração do relacionamento de Jesus com seus seguidores.
Ele diz a eles “Já não os chamarei servos. (…) Eu os chamo amigos” 23
. A relação de amizade é
caracterizada pela cordialidade, conversação, compartilhamento, serviço e sacrifício.
Enquanto visitantes que são também amigos, nós oferecemos aos marginalizados apoio
emocional, moral, espiritual e material. Nós também mantemos a confidencialidade que existe
nas relações familiares.
Papa Francisco também tratou frequentemente deste tema. Ele está exortando a sociedade
contemporânea a criar uma “cultura do encontro” e uma “cultura do diálogo”, na qual nós
estejamos preparados não somente para dar, mas também para receber dos outros24
. Ele alerta
contra a “globalização da indiferença” 25
.
18 EG 273.
19 EG 179.
20 Papa Francisco, “A Big Heart Open to God,” America, Sept. 30, 2013.
21 CCD:II:140;X:215;X:268;XI:297;XI:349;XII:4;XIIIb:196.
22 EG 288; cf. Walter Kasper, Pope Francis’ Revolution of Tenderness and Love (New York; Paulist Press, 2015).
23 João 15:15.
24 Fala a Migrantes, 12 de Setembro de 2015.
25 Cf. Mensagem para o Dia Mundial da Alimentação, 16 de outubro de 2013, 2.
7
Se nós queremos servir os pobres com um amor que é “afetuoso e efetivo” como São
Vicente coloca26
, então nós devemos ganhar a confiança deles durante as visitas, oferecendo a
nossa amizade e mostrando a eles o respeito que nós esperamos que os outros nos demonstrem.
2. Trabalhando para o empoderamento
Todos os que trabalham com os pobres começam a reconhecer que a assistência imediata,
por mais que seja muitas vezes extremamente necessária, não é suficiente. Nós não queremos
que os outros se tornem permanentemente dependentes de nós. Então, em nossa Família hoje,
nós enfatizamos a mudança sistêmica e o empoderamento. Por esta razão, nós encorajamos a
auto-ajuda, a educação, o treinamento professional, a orçamentação, e as competências para a
vida como a parentalidade. Isso muitas vezes exige que façamos encaminhamentos para lidar
com problemas familiares e matrimoniais ou com vícios de álcool e drogas.
A mudança sistêmica também envolve a defesa de direitos, de modo que ficamos lado a
lado com os pobres diante dos governos e outras instituições que podem ajudar a resolver os
problemas sistêmicos que mantêm os pobres pobres. Hoje, como o Papa Franisco pontua em
Laudato Si’, nós estamos cada vez mais conscientes de que todas as coisas estão conectadas27
.
Quando um elemento sozinho em um sistema se quebra, todo o resto é afetado.
Consequentemente, um serviço holístico é fundamental para a mudança sistêmica.
Pode a visita em domicílio ser um instrumento para a mudança sistêmica? O trabalho da
Família Vicentina, visitando milhares e milhares de pessoas pobres, nos leva a uma análise das
causas que originam a pobreza em cada um dos países onde nós vivemos e nos ajuda a formular
passos concretos para lidar com estas causas?
Vicente estava convencido que as visitas em domicílio desempenhavam um importante
papel identificando quais as necessidades deveriam ser priorizadas. Ele disse ao Irmão Jean
Parre, “Para identificar corretamente, o pobre deve ser observado em sua propria casa, para que
você possa ver por si próprio quem são os mais necessitados”28
.
3. Sendo verdadeiros em nossas palavras
A simplicidade é uma das virtudes que São Vicente chamou todos os ramos de sua
Família a cultivar. Nosso sim deve ser um sim e nosso não deve significar não29
. Vicente nos
diria hoje: faça o que você diz que vai fazer e explique o que você não pode fazer.
26 CCD:IX:467.
27 Laudato Si’, 16, 97, 240.
28 CCD:VI:388.
29 Mt 5:37.
8
Nós todos sentimos a profundidade das feridas daqueles que nós visitamos. A pobreza
afeta a pessoa como um todo: fisicamente, psicologicamente, emocionalmente e relacionalmente.
Muitos se sentem isolados e sozinhos. Alguns lutam contra problemas psicológicos ou com
álcool e drogas. Alguns, que são imigrantes e refugiados, não falam a língua local muito bem.
Muitos têm problemas médicos ou legais. Muitos sofrem de depressão e perderam a alegria de
viver30
.
Nós podemos, através da simplicidade de nossas palavras e ações, ajudar a restaurar a
confiança deles na humanidade? Nós podemos ajudá-los a se sentirem humanos e preenchidos
novamente?
4. Sempre deixando algo atrás de si
Em visitas em domicílio é importante deixar uma mensagem positiva. As irmãs que
viveram com Rosalie Rendu afirmaram que ela trabalhava eficientemente, escrevendo pequenas
notas para se lembrar dos pedidos que ela recebia. Testemunhas que a conheceram disseram, na
causa de sua beatificação, que ela sempre buscava dar alguma resposta, mesmo se não totalmente
adequada, às necessidades a ela apresentadas: uma palavra, uma indicação, uma esperança. Ela
era honesta, sabia de suas limitações e era extraordinariamente eficaz ao mesmo tempo.
Em “Paradise Lost”, o anjo que expulsa Adão e Eva do jardim também oferece a eles
esperança e redenção, e uma nova vida. Milton nos diz que as palavras finais do anjo a Adão
deixaram um impacto duradouro:31
O anjo terminou e no ouvido de Adão
Tão encantador deixou sua voz que
ele um tempo
Pensou que ele ainda estivesse falando.
O anjo de Milton apresenta um desafio formidável para todos que fazem visitas em
domicílio. Aqueles que nós visitamos continuarão a nos ouvir falando quando nós os tivermos
deixado? Nossas palavras soam em seus ouvidos e atingem os seus corações? Eles sentem um
novo sentimento de esperança, mesmo enquanto lutam para o futuro?
Padre Robert Maloney, CM
30 Romanos 12:8 insta o doador: “Se você faz atos de misericórdia (faça-os) com alegria”.
31 John Milton, Paradise Lost, revised edition, Book VIII, line 1.

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Visitação a Residências da Tradição Vicentina

  • 1. 1 VISITAS A DOMICÍLIO NA TRADIÇÃO VICENTINA Padre Maloney, CM Assessor Espritual do Conselho Geral Internacional Desde o princípio, as visitas a domicílio desempenharam um papel chave no serviço da Família Vicentina em relação àqueles que estão em necessidade. Mas elas não eram visitas ordinárias; elas eram encontros cheios de fé. Vicente de Paulo insistia: Quando vocês forem visitá-los, rejubilem-se e digam a vocês mesmos: “Eu estou indo até este pobre para honrar nesta pessoa a pessoa de Nosso Senhor. Eu estou indo ver nele a Encarnação da Sabedoria de Deus”.1 Em 1617, quando ele fundou a primeira Confraria da Caridade, Vicente direcionou os membros a irem dois a dois às casas dos doentes e dos desfavorecidos. Enquanto ele espalhava as confrarias pela França, ele fez deste um explícito mandato. A própria Regra indica: “As Mulheres da Companhia irão fazer seus turnos, duas a duas, para servir o doente pobre”2 . Quando ele estava descrevendo a Congregação da Missão, fundada em 1625, ele escreveu que “nós sempre saímos dois a dois” durante as missões para visitar os domicílios daqueles que eram marginalizados3 . Sempre que Vicente avaliava as missões oferecidas com seus irmãos e outros, as visitas em domicílio estavam entre as coisas que ele considerava cuidadosamente. Em 1633, ele e Luísa de Marillac fundaram as Filhas da Caridade. Foi um projeto revolucionário, pois até então praticamente todas as irmãs tinham sido obrigadas a viver em conventos de clausura. Vicente foi bem sucedido em conseguir o apoio eclesiástico para as Filhas servirem nas ruas, nas escolas e nos hospitais. Ele disse a elas que o seu convento seria o lar dos doentes. Ele colocou uma grande ênfase nas visitas aos pobres doentes4 . Estas visitas estavam entre as características mais marcantes desta nova comunidade de irmãs. 1 CCD:X:103. 2 Regulamentos para a caridade das mulheres, Paris, 1630; CCD:XIIIb:100. 3 Carta para Santa Joana de Chantal, escrita em 14 de julho de 1639; CCD:I:555. 4 Regras comuns das Filhas da Caridade, parágrafo 12; CCD:XIIIb:151.
  • 2. 2 Curiosamente, enquanto que estes três grupos foram fundados juridicamente em um período de dezesseis anos, Vicente, olhando para trás, vê o início de todos eles nas visitas a domicílio em 1617. Ele contou duas histórias fundamentais, e em ambas visitas destacadas ocorreram naquele ano: a primeira, em Janeiro de 1617, para um camponês moribundo em Gannes, não muito longe de Paris; a segunda, naquele verão, para uma família doente em Châtillon-les-Dombes, na vizinhança de Lyon5 Não somente Vicente incitou todos os membros de sua Família – laicos mulheres e homens, padres, irmãos e irmãs – a fazer visitas a domicílio; ele também escreveu instruções detalhadas sobre como fazer bem essas visitas. Como ponto principal, os membros da Família Vicentina deveriam considerer aqueles que eles visitavam como seus “Senhores e Mestres” 6 . Vicente exortava seus seguidores a reverenciar aqueles que eles visitavam como eles reverenciavam o próprio Cristo. Frédéric Ozanam e a Sociedade de São Vicente de Paulo Quando um grupo de jovens universitários formaram a Sociedade de São Vicente de Paulo em 1833, eles eram aprendizes de Rosalie Rendu, uma Filha da Caridade. Sra Rosalie era já conhecida por suas visitas aos domicílios dos pobres no bairro Mouffetard em Paris. Eles aprenderam esta ferramenta com ela. Ozanam escreveu constantemente sobre visitas em domicílio. Ele afirmou que as visitas a domicílio dos pobres era o “nosso principal trabalho” 7 . Ele relatava regularmente o número de visitas que diversas conferências haviam feito. Ele via o visitante e o visitado como intimamente unidos. Em 1836, ele escreve, “Nos alegramos que o número de famílias que nós estamos indo visitar está crescendo, porque nós acreditamos que eles formam com os membros que visitam duas partes de uma mesma sociedade. Aqueles que são ajudados provocam e fazem reviver a caridade daqueles que os ajudam; neste sentido, eles se assistem mutuamente cada um deles, eles vivem no mesmo espírito e todos encontram abrigo sob o manto de São Vicente de Paulo”8 Hoje em dia, a Regra da Sociedade de São Vicente de Paulo coloca desta forma: Desde o início da Sociedade, a atividade mais básica e mais central das Conferências tem sido a visita aos necessitados em suas casas. Este é o aspecto mais claro do nosso carisma Vicentino, que prescreve o maior respeito pela dignidade do pobre 9 . 5 Hoje nós reconhecemos alguns elementos mitológicos nestas histórias. Cf. Daniel Steinke, “Folleville 1617 – Gründingsmythos der Kongregation der Mission,” MEGVIS (2017), 4-22. 6 CCD:II:140;X:215;X:268;XI:297;XI:349;XII:4;XIIIb:196. 7 Lettres de Frédéric Ozanam, publicadas com a ajuda dos descendentes de Ozanam por Léonce Celier, Jean-Baptiste Duroselle, e Didier Ozanam (Bloud et Gay, 1960) I:430. 8 Ibid., I:359. 9 Regra, Parte 1, Artigos 1,2 e 1.7 – 1.12; Parte III, Seção 8.
  • 3. 3 Visitas em domicílio nos Evangelhos As bençãos da visita são um tema recorrente nas escrituras. Para ser breve, eu nomeio aqui somente algumas das mais significantes visitas do Novo Testamento, enquanto os leitores se lembrarão imediamente de visitas importantes em outras partes do Novo Testamento, particularmente em Atos e Paulo10 , assim como nas escrituras hebréias11 . • Marcos 1:29-31: Jesus visita a sogra de Pedro e a cura. • Mateus 2:1-12: Homem sábio visita Jesus em seu Nascimento, trazendo presentes para ele. O relato repete três vezes que eles foram “prestar homenagem a ele”. • Mateus 25:36: Jesus declara que as visitas aos doentes e aos presos serão um dos critérios pelos quais nós seremos julgados. • Mateus 26:6: Jesus visita a casa de Simão, o Leproso, onde uma mulher o unge em preparação para sua morte e enterro. Ele afirma que onde quer que o evangelho seja proclamado, o que aquela mulher fez durante a sua visita será lembrado. • Lucas 1:39-45: Maria visita Isabel para ajudá-la. Elas ficam juntas por três meses. • Lucas 10:38-42: Jesus visita a casa de Marta e Maria, onde ele as ensina sobre “uma coisa necessária”. • Lucas 19:1-10: Jesus visita a casa de Zaqueu, que se converte e doa metade dos seus bens aos pobres. • João 11:1-45: Jesus visita Marta, Maria e Lázaro e ressucita Lázaro da morte. Particularmente notável dentre os textos acima é o relato de Lucas sobre a Visitação. Em sua narrativa de infância, Lucas entrelaça vários temas ricos das escrituras ao descrever a visita da Virgem Maria à sua prima Isabel12 . Deixem-me mencionar apenas quatro: 1. Partindo com entusiasmo Lucas afirma que tendo ouvido a notícia da gravidez de Isabel, Maria decidiu imediatamente visitá-la. Ela “partiu às pressas” em uma difícil jornada de aproximadamente 90 milhas. A viagem, a pé, deve ter levado quatro a cinco dias. 2. Estar com Maria, que também estava grávida, ficou com Isabel por três meses (uma longa visita!). Nós só podemos imaginar como a estada de Maria solidificou os vínculos entre as duas primas. 10 Cf. Atos 9:32f.; Atos 15:36-41; Fl 2:25; João 5:14. 11 Dentre estas, destaca-se a história da visita de Elias à viúva em Sarepta de Sidon (1 Reis 17:7-16). 12 Lucas 1:39-56.
  • 4. 4 3. Oferecendo ajuda prática Maria ajudou Isabel, a quem o relato descreve como idosa. Leitores se lembrarão também que o marido de Isabel, Zacarias, ficou mudo e assim permaneceu durante este período. 4. Alegria, louvor, gratidão O relato de lucas da visita está cheio de orações alegres. Isabel e Maria cantam juntas canções (às vezes chamadas “cânticos”). Comentadores do texto descrevem-nas como se fossem duas sopranos no palco de uma ópera de Verdi, proclamando louvores a Deus e cantando o amor de Deus pelos pobres. A Origem da definição da Palavra “Visita” Etimologicamente, a palavra inglesa visit descende de uma origem Latina significando ver. As palavras em francês, espanhol, italiano e português para visit têm a mesma origem. A palavra germânica para visit (Besuch), mesmo sendo proveniente de uma origem diferente, está também relacionada a ver (suchen). Então, no sentido original, visitar envolve o ato de ir ver os outros, olhando-os nos olhos, encarando suas faces. São Vicente diria que uma visita, feita com os olhos da fé, envolve ver a face do Cristo na face da pessoa pobre13 . Nos evangelhos, Jesus alerta sobre “ver mas não ver”. A experiência humana nos diz que de fato a incapacidade de ver é uma ocorrência frequente. Quando frustrados, nós podemos algumas vezes dizer a alguma pessoa cuja visão é tecnicamente boa “Você é cego! Você não vê o que está acontecendo!” Além daqueles que são metaforicamente cegos, nós também conhecemos pessoas que são metaforicamente míopes (falta de visão de longo alcance), ou que enxergam bem ao longe (e por isso falham em ver importantes detalhes de perto), ou aqueles que têm visão de túnel (que olham para a frente mas não conseguem ver os efeitos naqueles que estão nos lados). Como é importante realmente ver! Nos evangelhos, um olhar amoroso produz frequentemente mudanças de vida. Em sua homília diária de 22 de maio de 2015, o Papa Francisco focalizou no olhar de Jesus14 . Ele apontou que quando Jesus conheceu Pedro, “Ele colocou os seus olhos sobre ele e disse” “Você é Simão, filho de João; e será chamado Pedro”. Francisco acrescentou “Foi este o primeiro olhar, o olhar de missão” o qual Pedro respondeu entusiasticamente. Depois, após Pedro ter negado 13 CCD:X:103;IX:54. 14 Cf. National Catholic Reporter, May 22, 2015.
  • 5. 5 Jesus por três vezes, ele sentiu o olhar de Jesus novamente e “chorou amargamente”. Continuando o seu comentário, Francisco afirmou “O entusiasmo de seguir o Senhor se converteu em lágrimas porque Pedro havia pecado, ele havia negado Jesus”. O papa ainda acrescentou “Aquele olhar modificou o coração de Pedro ainda mais do que o primeiro havia feito. O primeiro modificou o seu nome e a sua vocação, mas o Segundo foi o olhar que modificou o seu coração; foi a conversão para o amor”. O papa, finalmente, falou de um terceiro olhar no qual, após a sua ressurreição, Jesus olhou para Pedro e perguntou se ele o amava, e disse a ele para alimentar o seu rebanho. Este terceiro olhar confirmou a missão de Pedro enquanto confirmava também o seu amor. Quando o contato visual, o toque, e uma conversa verbal genuína (falar/ouvir) se combinam, respeito e intimidade florescem15 . Certa vez, depois de receber uma visita de um membro da AIC um jovem com problemas me disse: “Ela me fez me sentir humano novamente”. Similarmente, um afro-americano lutando contra vários vícios me disse no funeral de um membro da Família Vicentina que o havia visitado regularmente: “Depois de um tempo, eu percebi que ele era totalmente “daltônico”. Distinções raciais não significavam nada para ele”. Elementos chave ao Fazer uma Visita em Domicílio Os websites da Família Vicentina pelo mundo oferecem ótimas instruções sobre como fazer uma boa visita em domicílio16 . Aqui eu menciono somente cinco elementos chave. 1. Ouvir Ouvir é a fundação de toda espiritualidade. O primeiro serviço que nós devemos a Deus e aos nossos irmãos e irmãs é ouvi-los com empatia. Se nós não ouvimos, nós estamos perdidos. Ouvir é a disposição primária do discípulo. O discípulo, tendo ouvido, então sai como missionário para espalhar as boas novas do amor de Deus por todos, especialmente pelos pobres e marginalizados. Nenhuma outra imagem está mais enraizada na consciência do Papa Francisco do que a Igreja como uma comunidade de discípulos missionários. Este era o tema chave na Quinta Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe, ocorrida em Aparecida, no Brasil entre os dias 13 e 31 de maio de 200717 , quando o então Cardeal Bergoglia serviu como presidente do comitê editorial para o documento final. 15 Cf. John Heron, “The Phenomenology of Social Encounter: the Gaze” acessível em https://www.jstor.org/stable/pdf/2105742.pdf 16 Cf. http://www.svdpmilw.org/images/Home%20Visit.pdf 17 Primeira Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe, Aparecebida, Brasil, 13-31 de Maio de 2007. .
  • 6. 6 Como papa, Francisco afirma, “Eu sou uma missão nesta terra; esta é a razão pela qual estou aqui”18 . Ele enfatiza que a Igreja é missionária por sua própria natureza19 . Discípilos ouvem os seus Mestres, então a nossa prioridade principal ao entrar nas casas será ouvir sobre a dor e sobre as necessidades20 do pobre, a quem São Vicente chama “nossos Senhores e Mestres”21 . Missionários levam boas novas, então nossa segunda prioridade será levar esperança, encorajamento e ajuda efetiva para aqueles a quem nós visitamos. Francisco nos convida a levar um estilo Mariano para nossas atividades como discípulos missionários. Ele está convencido que nós não podemos compreender totalmente o mistério da Igreja sem entender o papel de Maria no Novo Testamento e o seu lugar no desenvolvimento da doutrina cristã. Descrevendo o estilo de Maria como uma discípula missionária, ele reflete sobre a canção que ela cantou durante a visitação, o Magnificat, e afirma, A interação de justiça e ternura, de contemplação e preocupação pelos outros é o que faz a comunidade eclesial olhar para Maria como modelo de evangelização22 . Poucos grupos no mundo têm tanta experiência concreta em visitar os pobres como a Família Vicentina tem. A questão básica que eu coloco aqui é esta: como nós podemos ser melhores discípulos missionários durante nossas visitas domiciliares? 1. Sendo amigos Um dos principais presentes que nós podemos dar àqueles que nós visitamos é a amizade. É parte integrante da espiritualidade da misericórdia que Jesus esboça na cena do julgamento em Mateus 25:31-46. A amizade está no coração do relacionamento de Jesus com seus seguidores. Ele diz a eles “Já não os chamarei servos. (…) Eu os chamo amigos” 23 . A relação de amizade é caracterizada pela cordialidade, conversação, compartilhamento, serviço e sacrifício. Enquanto visitantes que são também amigos, nós oferecemos aos marginalizados apoio emocional, moral, espiritual e material. Nós também mantemos a confidencialidade que existe nas relações familiares. Papa Francisco também tratou frequentemente deste tema. Ele está exortando a sociedade contemporânea a criar uma “cultura do encontro” e uma “cultura do diálogo”, na qual nós estejamos preparados não somente para dar, mas também para receber dos outros24 . Ele alerta contra a “globalização da indiferença” 25 . 18 EG 273. 19 EG 179. 20 Papa Francisco, “A Big Heart Open to God,” America, Sept. 30, 2013. 21 CCD:II:140;X:215;X:268;XI:297;XI:349;XII:4;XIIIb:196. 22 EG 288; cf. Walter Kasper, Pope Francis’ Revolution of Tenderness and Love (New York; Paulist Press, 2015). 23 João 15:15. 24 Fala a Migrantes, 12 de Setembro de 2015. 25 Cf. Mensagem para o Dia Mundial da Alimentação, 16 de outubro de 2013, 2.
  • 7. 7 Se nós queremos servir os pobres com um amor que é “afetuoso e efetivo” como São Vicente coloca26 , então nós devemos ganhar a confiança deles durante as visitas, oferecendo a nossa amizade e mostrando a eles o respeito que nós esperamos que os outros nos demonstrem. 2. Trabalhando para o empoderamento Todos os que trabalham com os pobres começam a reconhecer que a assistência imediata, por mais que seja muitas vezes extremamente necessária, não é suficiente. Nós não queremos que os outros se tornem permanentemente dependentes de nós. Então, em nossa Família hoje, nós enfatizamos a mudança sistêmica e o empoderamento. Por esta razão, nós encorajamos a auto-ajuda, a educação, o treinamento professional, a orçamentação, e as competências para a vida como a parentalidade. Isso muitas vezes exige que façamos encaminhamentos para lidar com problemas familiares e matrimoniais ou com vícios de álcool e drogas. A mudança sistêmica também envolve a defesa de direitos, de modo que ficamos lado a lado com os pobres diante dos governos e outras instituições que podem ajudar a resolver os problemas sistêmicos que mantêm os pobres pobres. Hoje, como o Papa Franisco pontua em Laudato Si’, nós estamos cada vez mais conscientes de que todas as coisas estão conectadas27 . Quando um elemento sozinho em um sistema se quebra, todo o resto é afetado. Consequentemente, um serviço holístico é fundamental para a mudança sistêmica. Pode a visita em domicílio ser um instrumento para a mudança sistêmica? O trabalho da Família Vicentina, visitando milhares e milhares de pessoas pobres, nos leva a uma análise das causas que originam a pobreza em cada um dos países onde nós vivemos e nos ajuda a formular passos concretos para lidar com estas causas? Vicente estava convencido que as visitas em domicílio desempenhavam um importante papel identificando quais as necessidades deveriam ser priorizadas. Ele disse ao Irmão Jean Parre, “Para identificar corretamente, o pobre deve ser observado em sua propria casa, para que você possa ver por si próprio quem são os mais necessitados”28 . 3. Sendo verdadeiros em nossas palavras A simplicidade é uma das virtudes que São Vicente chamou todos os ramos de sua Família a cultivar. Nosso sim deve ser um sim e nosso não deve significar não29 . Vicente nos diria hoje: faça o que você diz que vai fazer e explique o que você não pode fazer. 26 CCD:IX:467. 27 Laudato Si’, 16, 97, 240. 28 CCD:VI:388. 29 Mt 5:37.
  • 8. 8 Nós todos sentimos a profundidade das feridas daqueles que nós visitamos. A pobreza afeta a pessoa como um todo: fisicamente, psicologicamente, emocionalmente e relacionalmente. Muitos se sentem isolados e sozinhos. Alguns lutam contra problemas psicológicos ou com álcool e drogas. Alguns, que são imigrantes e refugiados, não falam a língua local muito bem. Muitos têm problemas médicos ou legais. Muitos sofrem de depressão e perderam a alegria de viver30 . Nós podemos, através da simplicidade de nossas palavras e ações, ajudar a restaurar a confiança deles na humanidade? Nós podemos ajudá-los a se sentirem humanos e preenchidos novamente? 4. Sempre deixando algo atrás de si Em visitas em domicílio é importante deixar uma mensagem positiva. As irmãs que viveram com Rosalie Rendu afirmaram que ela trabalhava eficientemente, escrevendo pequenas notas para se lembrar dos pedidos que ela recebia. Testemunhas que a conheceram disseram, na causa de sua beatificação, que ela sempre buscava dar alguma resposta, mesmo se não totalmente adequada, às necessidades a ela apresentadas: uma palavra, uma indicação, uma esperança. Ela era honesta, sabia de suas limitações e era extraordinariamente eficaz ao mesmo tempo. Em “Paradise Lost”, o anjo que expulsa Adão e Eva do jardim também oferece a eles esperança e redenção, e uma nova vida. Milton nos diz que as palavras finais do anjo a Adão deixaram um impacto duradouro:31 O anjo terminou e no ouvido de Adão Tão encantador deixou sua voz que ele um tempo Pensou que ele ainda estivesse falando. O anjo de Milton apresenta um desafio formidável para todos que fazem visitas em domicílio. Aqueles que nós visitamos continuarão a nos ouvir falando quando nós os tivermos deixado? Nossas palavras soam em seus ouvidos e atingem os seus corações? Eles sentem um novo sentimento de esperança, mesmo enquanto lutam para o futuro? Padre Robert Maloney, CM 30 Romanos 12:8 insta o doador: “Se você faz atos de misericórdia (faça-os) com alegria”. 31 John Milton, Paradise Lost, revised edition, Book VIII, line 1.