1. NOS RASTROS E INDÍCIOS:
O PROTESTANTISMO EM ALAGOAS NA IMPRENSA
OITOCENTISTA
Me. César Leandro Santos Gomes (Doutorando PPGHIS/UFMA)
Grupo de Pesquisa em História, Cultura Letrada e Outras Linguagens (HILL/UFMA)
Laboratório Interdisciplinar de Estudos das Religiões (LIER/UFAL)
2. OBJETIVOS
• Refletir a respeito dos estudos das religiões em Alagoas;
• Mapear nas produções historiográficas, literatura e na imprensa os
indícios e representações dos movimentos protestantes em
Alagoas no século XIX;
• Indicar possibilidades de pesquisas sobre os movimentos
protestantes em Alagoas;
3. O PROBLEMA
• Hegemonia do catolicismo nos estudos sobre as religiões: IHGAL (1869)
1. Clero;
2. Intelectuais Católicos;
• Silenciosamento historiográfico sobre outras expressões religiosas;
• 2007 – Livro “O homo inimicus: Igreja Católica, Ação Social e Imaginário
anticomunista em Alagoas” ( MEDEIROS, Fernando);
• Ampliação dos estudos da religiões;
• A questão documental
4. IMIGRANTES INGLESES EM
ALAGOAS
“Já em 1820 existiam negociantes ingleses em Maceió, o que não
deixa de representar um atestado do desenvolvimento comercial da
então vila e da própria Província.” (SANT’ANA, 1970, p. 33).
“A colónia britânica em Maceió já devia contar, em 1825, com número
suficiente de membros para justificar a ideia da edificação de um
cemitério para os fiéis da Igreja Episcopal da Inglaterra, haja vista que
naquele ano o Governo Britânico adquiriu terreno para esse fim, na
praia de Jaraguá, atual Avenida Duque de Caxias” ( SANT’ANA, 1970,
p. 33)
5. • Planta da Povoação do Jaraguá - Carlos Mornay
(1841). Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas
(IHGAL).
• 1.Bateria de São Pedro;
• 2 e 3. Primeiros Trapiches e Pontes;
• 4. Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Pajuçara);
• 5. Antiga Igreja Nossa Senhora Mãe do Povo (Jaraguá);
• 6. Corresponde a atual Avenida da Paz;
• 7. Cemitério dos Ingleses;
• 8. Primeira e Segunda ponte ligando o bairro de Maceió
ao de Jaraguá.
Fonte: Pedrosa, J.F. Maya, 1998.
6. O CEMITÉRIO PROTESTANTE EM MACEIÓ
Vimos, a poucos dias, passando pelo recinto murado que demora a rua do Saraiva desta cidade,
antigo Aterro, em Jaraguá, e onde se sepultam as pessoas acatólicas, que a abertura para
entrada, praticada num dos muros laterais fronteiros a rua, era obstada por uns paus atravessados
em forma de curral de bois para guardarem duas ou três vacas que ali pastavam por cima das
sepulturas ao nível do chão, que se achava entulhado de quantas imundícies e arbustos parasitas
podem crescer em terreno que, nos disseram, estar de a muito servido de verdadeiro esterquilínio!
(...) os estrangeiros que professam religião diferente da que, impolicamente, nossa constituição
nomeia como do Estado, isto é, a católica apostólica romana, e que aqui são sepultados quando
falecem, são pela maior parte, ingleses e norte-americanos.
(O LABARUM, Maceio, 25 de outubro de 1875)
7. REPRESENTAÇÕES NA LITERATURA REGIONAL
“Perto, debaixo de uma daquelas casas, estavam sepultados os
marinheiros ingleses. Havia muitos anos, um navio ancorara no
porto de Jaraguá, com peste a bordo. Os cadáveres dos
marujos mortos de febre amarela tinham sido desembarcados e
enterrados na praia que, com os tempos, se converteu numa
avenida, suprimindo-lhes os túmulos.” (IVO, 1973, P. 11)
8. EXPERIÊNCIAS MISSIONÁRIAS
“A minha visita a Maceió foi agradabilíssima, ligada como esteve ao fato de
alguns simpáticos brasileiros e pes-soas de outras naciunalidades
desejarem receber a Palavra e transmitirem-me a segurança de que a
estada de meu colaborador e antecessor não havia sido esquecida. Um
ancião, com lágrimas nos olhos, referiu-se à visita do Dr. Kidder e auxiliou-
me na disseminação da Verdade”.
(KIDDER; FLETCHER, 1868, P. 243)
9. INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E
VIOLENCIA COLETIVA
(...) De abjecção em abjecção desceram até o pavimento das ruas e mal erguidos ao peso das pedras que
levantaram não poderia vê o Céu e nem ouvir o hino com que o presbiteriano glorificava a Deus. No meio de
vaias e alaridos quebraram, despedaçaram vidros e moveis e teriam vitimado os que confiavam em seu
direito, se o interior da casa perseguida não oferece anteparo aos inermes.
Enquanto vencia a saturnal, corriam os bandos de rua em rua em busca do lugar em que se refugiasse o Sr.
Smith.
Aqui a trovoavam bombas, ali vociferações; parecia revivida a inquisição com suas festas de quemadero. No
dia seguinte andavam de público os malfeitores ostentando a selvatiqueza da plebe e afirmando que o
apedrejamento era efeito da soberania nacional, como se a liberdade fosse contraria ao direito individual.
(JORNAL DE PILAR, Pilar, 29 de junho de 1874)
10. INTERIORIZAÇÃO DAS MISSÕES
PROTESTANTES
Nota do jornal presbiteriano A Imprensa Evangélica
(Transcrição do jornal alagoano O Trabalho), noticiando a
criação de uma comunidade religiosa na cidade de Pão de
Açúcar.
Fonte: A Imprensa Evangélica, 28 de outubro de 1887.
11. REPRESENTAÇÕES
NA LITERATURA
“Quando havia numero sufficiente expoz o vigario que
um protestante ia pregar blasphemias e convinha
impedir que ele falasse.
Aconselhou que apedrejassem a casa, e expulsassem
o hereje qu ia empestar aquella terra habitada por
gente temente a Deus.
Com essas instrucções, no dia seguinte pelas ouze
horas do dia, a casa em que o protestante ia anunciar
o Evangelho achava-se quase cercada de homens e
mulheres que não ousavam entrar.” (pp. 90-91).
(...) Pouco a pouco a multidão avolumou-se e não
deixou o pregador concluir, invadindo a casa,
expulsando o homem que não soffreu maior violencia
porque alguns que foram tocados pelas palavras de
brandura proferidas por elle deffenderam-no da furia
dos fanaticos.” (pp. 92-93)
(...) “A intolerancia em vez de destruir, fortalece os
adversários.
As perseguições fazem nascer adeptos.” (p. 93).
LAVENÉRE, Luis. Zefinha: cenas da vida alagoana.
Maceió: Livraria Machado, 1921.
12. CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Imprensa, literatura e “memórias” como possibilidades de fontes
históricas a respeito das experiências protestantes em Alagoas;
• Protestantismo e os impressos (LEONARD, 1984);
1. Cotidiano Eclesiástico (organização de comunidades, horários de
reuniões, locais de reuniões, nomes dos ministros);
2. Conflitos religiosos (relatos na imprensa secular e confessional);
3. Controvérsias Doutrinais (Polêmicas religiosas, debates doutrinais)
13. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BARROS, José D'Assunção Barros. Fontes Históricas: Introdução aos seus usos historiográficos.
Petrópolis: Vozes, 2019.
CAPELATO, Maria Helena Rolim. A imprensa na História do Brasil. São Paulo: Contexto/EDUSP, 1988.
MENDONÇA, Antônio Gouvêia; VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao protestantismo no
Brasil. 2º ed. - São Paulo: Edições Loyola, 2002.
PINSKY, Carla (org). Fontes históricas. 2ª ed., 1ª reimp.- São Paulo: Contexto, 2008.
REILY, Duncan A. A História Documental do Protestantismo no Brasil. 3ª ed. - São Paulo: Aste, 2003.
VASCONCELOS, Michelline Reinaux. As Boas Novas pela palavra impressa: impressos e imprensa
protestante no Brasil (1837-1930). Tese (doutorado em História) - São Paulo: PPGH/PUC, 2010.