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Língua Portuguesa
 UFOP 2008
    Manoel Neves
IGNORÂNCIA É DOENÇA, Gilberto Dimenstein

Recentemente num seminário realizado por economistas, foi mostrada a estatística, polêmica, de que apenas
20% do desempenho escolar do aluno depende da escola; o restante vem de sua base familiar e de sua vivência
social. Não sei dizer se a divisão é essa mesmo, mas a visão, no geral, está correta. Prova disso é um fato
desconhecido dos governantes brasileiros – e mostra a relação entre ignorância e doença.

Um levantamento oficial, feito no final do ano passado, mostrou que uma imensa parcela dos estudantes da
rede municipal de São Paulo sofre de doenças básicas, com problemas de visão, audição, verminoses, anemias,
infecções bucais e cáries. Se tivessem feito uma avaliação de distúrbios mentais – ansiedade, depressão,
distúrbio de atenção – e do consumo de drogas e álcool, concluiríamos que, por mais que se melhore a escola,
batalhões de alunos dificilmente vão melhorar.

Nas famílias mais ricas, não se admite, por exemplo, uma criança com deficiência visual, sem um par de óculos.
Ou com qualquer sinal de anemia, já que o cansaço dela é tão visível, tão visível, que alguém já teria tomado
providência.

Por isso, se quiserem levar a sério a educação (e também o combate à violência, prevenindo a produção de
marginais) os governantes terão de fazer com que as áreas de saúde, educação e assistência social trabalhem
juntas nas escolas. Isso só não acontece hoje porque nossos governantes também sofrem da doença da
ignorância.
QUESTÃO 01
                         ufop 2008, primeiro semestre
Explique o uso da pontuação (vírgulas e ponto-e-vírgula) no primeiro período do texto apresentado.
Recentemente num seminário realizado por economistas, foi mostrada a estatística, polêmica, de que
apenas 20% do desempenho escolar do aluno depende da escola; o restante vem de sua base familiar
e de sua vivência social.
A primeira vírgula serve para separar um adjunto adverbial deslocado; a segunda e a terceira isolam o
adjetivo com a função de predicativo do sujeito. O ponto-e-vírgula serve para separar orações
coordenadas de grande extensão.
QUESTÃO 02
                           ufop 2008, primeiro semestre
INSTRUÇÃO: Observe a palavra “se” nos trechos abaixo:
Não sei dizer se a divisão é essa mesmo.
Se tivessem feito uma avaliação de distúrbios mentais
por mais que se melhore a escola, batalhões de alunos dificilmente vão melhorar
Nas famílias mais ricas, não se admite, por exemplo, uma criança com deficiência visual, sem...
Por isso, se quiserem levar a sério a...
Indique a função do “se” nas frases dadas.
Na primeira frase, temos uma conjunção integrante que introduz uma oração subordinada
substantiva objetiva direta. Na segunda frase, há uma conjunção subordinativa condicional que
introduz uma oração subordinada adverbial condicional. Na terceira frase, o “se” deve ser
classificado como pronome apassivador. De acordo com a instrução dada, o “se” presente na quarta
frase é pronome apassivador. Já na última frase a partícula deve ser classificada como conjunção
subordinativa condicional, pois introduz uma oração subordinada adverbial condicional.
QUESTÃO 03
                       ufop 2008, primeiro semestre
          De que forma o autor do texto apresentado justifica que ignorância é doença?
De acordo com Gilberto Dimenstein, a ignorância do governo [não preocupação com as questões
referentes à saúde do educando] é uma doença que gera a má qualidade do ensino público.
MORAL E MERCÚRIO, Delfim Neto

No Império romano, a divindade protetora dos mercados, do comércio e dos comerciantes-viajantes era
Mercúrio, cuja imagem, com suas asas nos pés e no capacete, ainda simboliza as atividades econômicas. Um
“deus” que tem 2.500 anos é forte. Merece a adoração que lhe dispensam alguns economistas que crêem na
“virtude” do mercado. O que pode causar-lhes algum incômodo é que, já naquele tempo, o comércio era
associado à decepção de compradores desavisados diante de vendedores desonestos. Talvez explique por que
Mercúrio era também a divindade protetora dos ladrões...

Estamos vivendo momentos angustiantes que transcendem às flutuações normais que ao longo dos últimos 200
anos têm acompanhado as atividades do setor real da economia. Estas flutuam com ciclos que a teoria
econômica tem ajudado a compreender. A crise atual é resultado da maligna combinação de dois fatos: 1º) a
má qualidade das instituições criadas para submeter o sistema financeiro aos interesses do sistema produtivo
real e 2º) a natureza potencialmente destrutiva dos incentivos que movem os agentes econômicos.

No fundo, tudo se reduz à falta de uma ética que deve impor-se naturalmente aos agentes (no setor real e no
financeiro) para que as “virtudes” do mercado produzam o bem comum. Antes mesmo de ter fundado a
economia política, Adam Smith havia sugerido isso com o seu “espectador imparcial”, que, “dentro do peito dos
agentes”, fiscalizava a moralidade de sua ação. Pois não é que um dos ilustres adoradores de Mercúrio que nos
cercam “descobriu” outro dia que o mercado é tão virtuoso que produz sua própria moralidade!

O ridículo argumento é tão simples como o seguinte: o processo competitivo se encarrega de expulsar o agente
desonesto, porque ele será preterido no longo prazo pela ação do honesto! O mercado, isto é, a organização da
atividade econômica exercida livremente pelos indivíduos, sob a coordenação produzida por um sistema de
preços que se formam espontaneamente, mostrou ser um eficiente mecanismo produtivo.

Ele não foi inventado por nenhum “engenheiro social”. Foi descoberto no processo de seleção histórica dos
últimos 10.000 anos. Os adoradores de Mercúrio recusam-se a aceitar, entretanto, que a existência do
“mercado” depende de duas condições: 1ª de um Estado capaz de garantir a propriedade privada e 2ª de
agentes cuja ação seja condicionada a uma moralidade auto-imposta, seja o “espectador imparcial” de Smith,
seja o “imperativo categórico” de Kant.
QUESTÃO 04
                        ufop 2008, segundo semestre
              Explique a diferença entre os porquês destacados nos períodos abaixo:
Talvez explique por que Mercúrio era também a divindade protetora dos ladrões...
O ridículo argumento é tão simples como o seguinte: o processo competitivo se encarrega de
expulsar o agente desonesto, porque ele será preterido no longo prazo pela ação do honesto!
No primeiro período, a palavra “porque” funciona como uma conjunção coordenativa explicativa. Já
na segunda, ela introduz uma oração coordenada conclusiva.
QUESTÃO 05
                            ufop 2008, segundo semestre
INSTRUÇÃO: Reescreva o período transcrito abaixo, substituindo os pronomes oblíquos
destacados pelos seus referentes. Explique as substituições.
Merece a adoração que lhe dispensam alguns economistas que crêem na “virtude” do mercado. O
que pode causar-lhes algum incômodo é que, já naquele tempo, o comércio era associado à decepção
de compradores desavisados diante de vendedores desonestos.
Substituindo os pronomes oblíquos, pelos elementos que eles retomam, temos: Merece a adoração que
dispensam ao deus Mercúrio alguns economistas que crêem na ‘virtude’ do mercado. O que pode causar aos economistas
algum incômodo é que, já naquele tempo, o comércio era associado à decepção de compradores desavisados diante de
vendedores desonestos.
A primeira substituição se justifica, porque os economistas merecem a atenção que é dispensada ao
deus Mercúrio. A segunda é justificada na medida em que a adoração pode causar incômodo aos
economistas.
Em tempo, o pronome oblíquo lhe substitui objetos indiretos que se referem a pessoas [deus
Mercúrio e alguns economistas].

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Tqa Ufop 2008

  • 1. Língua Portuguesa UFOP 2008 Manoel Neves
  • 2. IGNORÂNCIA É DOENÇA, Gilberto Dimenstein Recentemente num seminário realizado por economistas, foi mostrada a estatística, polêmica, de que apenas 20% do desempenho escolar do aluno depende da escola; o restante vem de sua base familiar e de sua vivência social. Não sei dizer se a divisão é essa mesmo, mas a visão, no geral, está correta. Prova disso é um fato desconhecido dos governantes brasileiros – e mostra a relação entre ignorância e doença. Um levantamento oficial, feito no final do ano passado, mostrou que uma imensa parcela dos estudantes da rede municipal de São Paulo sofre de doenças básicas, com problemas de visão, audição, verminoses, anemias, infecções bucais e cáries. Se tivessem feito uma avaliação de distúrbios mentais – ansiedade, depressão, distúrbio de atenção – e do consumo de drogas e álcool, concluiríamos que, por mais que se melhore a escola, batalhões de alunos dificilmente vão melhorar. Nas famílias mais ricas, não se admite, por exemplo, uma criança com deficiência visual, sem um par de óculos. Ou com qualquer sinal de anemia, já que o cansaço dela é tão visível, tão visível, que alguém já teria tomado providência. Por isso, se quiserem levar a sério a educação (e também o combate à violência, prevenindo a produção de marginais) os governantes terão de fazer com que as áreas de saúde, educação e assistência social trabalhem juntas nas escolas. Isso só não acontece hoje porque nossos governantes também sofrem da doença da ignorância.
  • 3. QUESTÃO 01 ufop 2008, primeiro semestre Explique o uso da pontuação (vírgulas e ponto-e-vírgula) no primeiro período do texto apresentado. Recentemente num seminário realizado por economistas, foi mostrada a estatística, polêmica, de que apenas 20% do desempenho escolar do aluno depende da escola; o restante vem de sua base familiar e de sua vivência social. A primeira vírgula serve para separar um adjunto adverbial deslocado; a segunda e a terceira isolam o adjetivo com a função de predicativo do sujeito. O ponto-e-vírgula serve para separar orações coordenadas de grande extensão.
  • 4. QUESTÃO 02 ufop 2008, primeiro semestre INSTRUÇÃO: Observe a palavra “se” nos trechos abaixo: Não sei dizer se a divisão é essa mesmo. Se tivessem feito uma avaliação de distúrbios mentais por mais que se melhore a escola, batalhões de alunos dificilmente vão melhorar Nas famílias mais ricas, não se admite, por exemplo, uma criança com deficiência visual, sem... Por isso, se quiserem levar a sério a... Indique a função do “se” nas frases dadas. Na primeira frase, temos uma conjunção integrante que introduz uma oração subordinada substantiva objetiva direta. Na segunda frase, há uma conjunção subordinativa condicional que introduz uma oração subordinada adverbial condicional. Na terceira frase, o “se” deve ser classificado como pronome apassivador. De acordo com a instrução dada, o “se” presente na quarta frase é pronome apassivador. Já na última frase a partícula deve ser classificada como conjunção subordinativa condicional, pois introduz uma oração subordinada adverbial condicional.
  • 5. QUESTÃO 03 ufop 2008, primeiro semestre De que forma o autor do texto apresentado justifica que ignorância é doença? De acordo com Gilberto Dimenstein, a ignorância do governo [não preocupação com as questões referentes à saúde do educando] é uma doença que gera a má qualidade do ensino público.
  • 6. MORAL E MERCÚRIO, Delfim Neto No Império romano, a divindade protetora dos mercados, do comércio e dos comerciantes-viajantes era Mercúrio, cuja imagem, com suas asas nos pés e no capacete, ainda simboliza as atividades econômicas. Um “deus” que tem 2.500 anos é forte. Merece a adoração que lhe dispensam alguns economistas que crêem na “virtude” do mercado. O que pode causar-lhes algum incômodo é que, já naquele tempo, o comércio era associado à decepção de compradores desavisados diante de vendedores desonestos. Talvez explique por que Mercúrio era também a divindade protetora dos ladrões... Estamos vivendo momentos angustiantes que transcendem às flutuações normais que ao longo dos últimos 200 anos têm acompanhado as atividades do setor real da economia. Estas flutuam com ciclos que a teoria econômica tem ajudado a compreender. A crise atual é resultado da maligna combinação de dois fatos: 1º) a má qualidade das instituições criadas para submeter o sistema financeiro aos interesses do sistema produtivo real e 2º) a natureza potencialmente destrutiva dos incentivos que movem os agentes econômicos. No fundo, tudo se reduz à falta de uma ética que deve impor-se naturalmente aos agentes (no setor real e no financeiro) para que as “virtudes” do mercado produzam o bem comum. Antes mesmo de ter fundado a economia política, Adam Smith havia sugerido isso com o seu “espectador imparcial”, que, “dentro do peito dos agentes”, fiscalizava a moralidade de sua ação. Pois não é que um dos ilustres adoradores de Mercúrio que nos cercam “descobriu” outro dia que o mercado é tão virtuoso que produz sua própria moralidade! O ridículo argumento é tão simples como o seguinte: o processo competitivo se encarrega de expulsar o agente desonesto, porque ele será preterido no longo prazo pela ação do honesto! O mercado, isto é, a organização da atividade econômica exercida livremente pelos indivíduos, sob a coordenação produzida por um sistema de preços que se formam espontaneamente, mostrou ser um eficiente mecanismo produtivo. Ele não foi inventado por nenhum “engenheiro social”. Foi descoberto no processo de seleção histórica dos últimos 10.000 anos. Os adoradores de Mercúrio recusam-se a aceitar, entretanto, que a existência do “mercado” depende de duas condições: 1ª de um Estado capaz de garantir a propriedade privada e 2ª de agentes cuja ação seja condicionada a uma moralidade auto-imposta, seja o “espectador imparcial” de Smith, seja o “imperativo categórico” de Kant.
  • 7. QUESTÃO 04 ufop 2008, segundo semestre Explique a diferença entre os porquês destacados nos períodos abaixo: Talvez explique por que Mercúrio era também a divindade protetora dos ladrões... O ridículo argumento é tão simples como o seguinte: o processo competitivo se encarrega de expulsar o agente desonesto, porque ele será preterido no longo prazo pela ação do honesto! No primeiro período, a palavra “porque” funciona como uma conjunção coordenativa explicativa. Já na segunda, ela introduz uma oração coordenada conclusiva.
  • 8. QUESTÃO 05 ufop 2008, segundo semestre INSTRUÇÃO: Reescreva o período transcrito abaixo, substituindo os pronomes oblíquos destacados pelos seus referentes. Explique as substituições. Merece a adoração que lhe dispensam alguns economistas que crêem na “virtude” do mercado. O que pode causar-lhes algum incômodo é que, já naquele tempo, o comércio era associado à decepção de compradores desavisados diante de vendedores desonestos. Substituindo os pronomes oblíquos, pelos elementos que eles retomam, temos: Merece a adoração que dispensam ao deus Mercúrio alguns economistas que crêem na ‘virtude’ do mercado. O que pode causar aos economistas algum incômodo é que, já naquele tempo, o comércio era associado à decepção de compradores desavisados diante de vendedores desonestos. A primeira substituição se justifica, porque os economistas merecem a atenção que é dispensada ao deus Mercúrio. A segunda é justificada na medida em que a adoração pode causar incômodo aos economistas. Em tempo, o pronome oblíquo lhe substitui objetos indiretos que se referem a pessoas [deus Mercúrio e alguns economistas].