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Gonçalves LC, Nogueira LT, Silva GRF da et al. Cross-cultural theory in reception with classification…
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Rev enferm UFPE on line. 2012 July;6(7):1714-20 1714
DOI: 10.5205/reuol.2255-18586-1-LE.0607201226ISSN: 1981-8963
TRANSCULTURAL THEORY ON THE EMBRACEMENT WITH RISK
CLASSIFICATION: A REFLEXIVE LOOK ABOUT POSSIBILITIES
TEORIA TRANSCULTURAL NO ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO: UM OLHAR
REFLEXIVO SOBRE POSSIBILIDADES
TEORÍA TRANSCULTURAL EN EL ACOGIMIENTO CON CLASIFICACIÓN DE RIESGO: UNA MIRADA REFLEXIVA
SOBRE LAS POSIBILIDADES
Lucyanna Campos Gonçalves1
, Lidya Tosltenko Nogueira2
, Grazielle Roberta Freitas da Silva3
, Maria Helena
Barros Araújo Luz4
ABSTRACT
Objective: to promote reflections on the possibilities of the application of the transcultural theory on the
Embracement with Risk Classification (ACCR) in urgent and emergency services. Methodology: this is a reflection based on
a review of the literature derived from the course Theoretical and Philosophical Foundations of Care in Nursing from the
Master's degree program in Nursing at the Federal University of Piauí. This study relates how to be a nurse in the operation
of the ACCR and the technology used toward the reorientation of emergency assistance highlighting the strengths and
limitations of its applicability. Results: the transcultural theory is plausible in the ACCR, given that it assesses the
cultures with respect to the various care practices, beliefs and values, and aims at a significant nursing care. It is a
challenge possible to be applied in the emergency service, a theory with anthropological concepts, and carries imperative
importance ascribed to the user of a service marked by pain, tears, and discomfort. Conclusion: to enter the world of the
user, aiming to preserve, negotiate, or restructure care practices in favor of the well-being should, therefore, also be the
main action of transcultural nursing in the emergency room. Descriptors: transcultural nursing; nursing theory; user
embracement.
RESUMO
Objetivo: promover reflexões sobre as possibilidades de aplicação da teoria transcultural, no Acolhimento com
Classificação de Risco (ACCR) nos serviços de urgência e emergência. Metodologia: trata-se de uma reflexão baseada em
uma revisão da literatura, oriunda da disciplina “Fundamentos Teóricos e Filosóficos do Cuidar em Enfermagem”, do curso
de mestrado em Enfermagem, da Universidade Federal do Piauí, que relaciona o ser enfermeiro na operacionalização do
ACCR, e a tecnologia utilizada no sentido de reorientação da assistência em emergência, evidenciando pontos fortes e
limitações da aplicabilidade. Resultados: a teoria transcultural é plausível no ACCR, visto que enfoca as culturas, com
respeito às diversas práticas de cuidados, às crenças e valores, visando um atendimento de enfermagem significativo.
Trata-se de um desafio possível de ser aplicado ao serviço de urgência, por basear-se em uma teoria com conceitos
antropológicos, e que destaca a importância que se deve atribuir ao usuário de um serviço marcado pela dor, lágrimas e
desconforto. Conclusão: adentrar no mundo do usuário, objetivando preservar, negociar ou reestruturar as práticas de
cuidados em favor do bem estar, devendo ser esta, a ação foco da enfermagem transcultural, também no setor de
emergência. Descritores: enfermagem transcultural; teoria de enfermagem; acolhimento.
RESUMEN
Objetivo: promover una reflexión sobre las posibilidades de aplicación de la teoría transcultural en el Acogimiento con
Clasificación de Riesgo (ACCR) en los servicios de urgencia y emergencia. Metodología: esta es una reflexión basada en
una revisión de la literatura, derivada de la disciplina Fundamentos Filosóficos y Teóricos en el Cuidado en Enfermería de
la Maestría en Enfermería de la Universidad Federal de Piauí. Relaciona el ser enfermero en la operación del ACCR y la
tecnología utilizada en el sentido de reorientación de la asistencia en situaciones de emergencia, destacando los puntos
fuertes y limitaciones de la aplicabilidad. Resultados: la teoría transcultural es plausible en el ACCR dado que enfoca las
culturas con respecto a las diversas prácticas de cuidados, a las creencias y valores, buscando crear un importante servicio
de enfermería. Se trata de un reto que es posible de aplicar en el servicio de urgencia, una teoría con conceptos
antropológicos, siendo imperativa la importancia que se debe atribuir al usuario de un servicio marcado por el dolor, las
lágrimas y el malestar. Conclusión: entrar en el mundo del usuario, con el objetivo de preservar, negociar o reestructurar
las prácticas de cuidado a favor del bien estar, por lo tanto, debe ser el foco de acción de la enfermería transcultural
también en el sector de emergencia. Descriptores: enfermería; la teoría de enfermería; acogimiento.
1
Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pelo Programa de Pós- Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí/ UFPI. Teresina (PI),
Brasil. E-mail: lucyannacamposgoncalves@yahoo.com.br; 2
Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/ UFRJ.
Professora do Curso de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e em Ciências e Saúde da Universidade Federal do
Piauí/UFPI. Teresina (PI), Brasil. E-mail: lidyatn@gmail.com; 3
Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará/ UFC.
Professora do Curso de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí/UFPI. Teresina (PI), Brasil.
E-mail: grazielle_roberta@yahoo.com.br; 4
Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/ UFRJ. Professora do
Curso de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí/UFPI. Teresina (PI), Brasil. E-mail:
mhelenal@yahoo.com.br
REFLECTIVE ANALYSIS ARTICLE
Gonçalves LC, Nogueira LT, Silva GRF da et al. Cross-cultural theory in reception with classification…
Portuguese/English
Rev enferm UFPE on line. 2012 July;6(7):1714-20 1715
DOI: 10.5205/reuol.2255-18586-1-LE.0607201226ISSN: 1981-8963
O atual modelo assistencial de saúde
pública vigora com uma demanda excessiva de
usuários nos serviços de urgência e
emergência, nos quais casos graves estão
próximos aos de baixa complexidade e até
eletivos. A população, por fatores culturais ou
em decorrência da restrita oferta de serviços
em saúde, procura aquelas instituições que
oferecem atendimento rotineiramente ágil,
com portas abertas ininterruptamente, o que
gera um estrangulamento nesses serviços. 1-2
Dentre as muitas iniciativas para minimizar
tais problemas e viabilizar o atendimento com
qualidade nesses serviços, destaca-se o
Acolhimento com Classificação de Risco
(ACCR).
O ACCR foi proposto pela Política Nacional
de Humanização (PNH) como dispositivo
assistencial que possibilita a transversalidade
das ações de humanização, considerando a
autonomia dos usuários, com redução das filas
e do tempo de espera, além da ampliação do
acesso e do atendimento acolhedor e
resolutivo, baseado em critérios de risco, os
quais são determinantes para a agilidade do
atendimento.3
Nesse contexto, o enfermeiro insere-se
como importante sujeito na operacionalização
desse acolhimento, visto ser o profissional que
realiza a classificação de risco e que mais
tempo permanece junto ao usuário em sua
estada no serviço de saúde. Por vivenciar,
junto ao cliente, suas queixas, angústias e
expectativas frente ao processo saúde-
doença, no universo do ACCR, acredita-se que
é viável direcionar essa assistência por meio
de uma teoria de enfermagem.
A enfermagem é única como profissão, por
se dedicar à promoção do cuidado para
pessoas de maneira significativa, congruente,
respeitando os valores culturais e os estilos de
vida. É desejável, nesse sentido, que a
enfermagem aprimore o olhar cuidativo à
saúde, considerando a diversidade cultural e
não somente a doença.4-5
No ambiente dos
serviços de urgência e emergência, ao acolher
e classificar risco, é importante também
agregar o conhecimento e respeito aos
sentimentos, valores e culturas dos usuários.
Assim, a teoria transcultural é
perfeitamente plausível no contexto do ACCR,
tendo em vista que a enfermagem
transcultural enfoca as culturas, com respeito
às práticas de cuidados de saúde-doença, às
crenças e valores, buscando proporcionar um
atendimento de enfermagem significativo e
eficaz para as pessoas, levando em conta seus
valores culturais e seu contexto de saúde-
doença.6
O ACCR contempla uma multiplicidade de
sujeitos e situações em seu funcionamento e
agregado a isto a enfermagem se faz presente
enquanto ciência, munida de conhecimentos e
habilidades teórico-práticas que possibilitam a
aplicação de uma teoria de enfermagem no
pronto atendimento hospitalar. Ademais,
constata-se um escasso número de
publicações que dizem respeito ao uso da
teoria transcultural no ambiente de urgência e
emergência, sendo comum referências aos
ambientes domiciliar e ambulatorial. Essa
lacuna nos estudos nacionais sobre a
temática, acrescido aos esforços
empreendidos em vários países, e em especial
no Brasil, para implantar a sistematização da
assistência com o desafio de operacionalizar
referenciais teóricos, justifica a execução
dessa investigação.
Diante desse cenário, propõe-se uma
reflexão acerca da aplicabilidade da teoria
transcultural no ACCR, nos serviços de
urgência e emergência, sendo que, neste
artigo, se expõem as reflexões críticas dos
autores que abordam a operacionalidade do
ACCR com as ações de enfermagem e a
aplicação da teoria transcultural, assim como
os limites, possibilidades, pontos favoráveis e
frágeis dessa aplicabilidade na prática
cotidiana, baseando-se em um apanhado
teórico da literatura existente e disponível
acerca da temática em questão aliado às
experiências das autoras na prática nos
serviços de urgência e emergência e sobre os
fundamentos teóricos da Enfermagem.
● A enfermagem no acolhimento com
classificação de risco
O acolhimento é uma ação técnica-
assistencial que possibilita a mudança na
relação profissional/usuário e sua rede social,
por meio de aspectos técnicos, éticos,
humanitários e solidários, fazendo do usuário
um sujeito participante e ativo no processo de
produção da saúde.
Por outro lado, a classificação de risco é
considerada uma tecnologia que pressupõe a
determinação da agilidade no atendimento a
partir da análise de protocolo pré-
estabelecido, do grau de necessidade do
usuário, oferecendo atenção e atendimento
com base no nível de complexidade de cada
caso, e não na ordem de chegada. Dessa
forma, realiza-se a análise e ordenação de
necessidade, diferentemente do que ocorre no
processo excludente da triagem. Entende-se,
então, que o ACCR é uma das intervenções
decisivas para a reorganização e realização da
promoção da saúde em rede.7
INTRODUÇÃO
Gonçalves LC, Nogueira LT, Silva GRF da et al. Cross-cultural theory in reception with classification…
Portuguese/English
Rev enferm UFPE on line. 2012 July;6(7):1714-20 1716
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O Ministério da Saúde propõe a
estruturação do ACCR em torno de dois eixos
que evidenciam os níveis de risco dos
pacientes: o eixo vermelho (do paciente
grave) e o eixo azul (do paciente
aparentemente não-grave). O primeiro
relaciona-se ao paciente com risco de morte,
sendo composto pelas áreas vermelha,
amarela e verde. A área vermelha é destinada
a pacientes que necessitam de atendimento
médico imediato; a área amarela recebe os
pacientes estabilizados, mas que ainda
requerem cuidados especiais e a área verde
destina-se aos pacientes menos críticos. Os
fluxos devem seguir a realidade local, porém
buscando a integralidade da assistência.8
É importante ressaltar que o ACCR deve ser
realizado por todos os componentes da equipe
multiprofissional, sendo a classificação de
risco competência exclusiva dos enfermeiros e
técnicos de enfermagem, já que o Ministério
da Saúde, como ocorre em escala mundial,
reconhece o enfermeiro como o profissional
ideal para classificar o risco do usuário. As
experiências descritas na literatura brasileira
e internacional sobre ACCR mencionam o
enfermeiro como classificador de risco, em
função de ser detentor de perícia e
julgamento clínico, além de possuir uma visão
de conjunto das situações.9
Respondendo aos
objetivos da PNH, o enfermeiro, além de ter
conhecimentos científicos, possui ainda
sensibilidade, capacidade de acolher e
promover junto ao atendimento atividades
educativas.9-11
Para realizar um efetivo e resolutivo ACCR,
não basta ao enfermeiro somente classificar o
paciente, visto que se trata de um dispositivo
assistencial que congrega inúmeras
possibilidades do cuidar de enfermagem. É
necessário também conhecer o contexto
cultural, os valores, as crenças, os rituais e o
modo de vida do usuário e de suas famílias,
com o intuito de construir uma abordagem
inovadora do cuidar. Nesse sentido, faz-se
necessário que a enfermagem se aproprie do
seu objeto de cuidar, no contexto do ACCR, e
utilize um referencial teórico condizente com
uma realidade permeada por usuários de
origens, características, culturas e discursos
diversos.
No ACCR, o enfermeiro utiliza a consulta de
enfermagem como método que deve se
embasar no reconhecimento e
contextualização da situação/queixa
apresentada pelo paciente, por meio de
histórico e identificação dos determinantes
previamente pactuados da classificação de
risco.7
Na consulta de enfermagem, não se pode
deixar de considerar educação e saúde,
humanização da assistência e políticas de
cuidado como estratégias teórico-práticas
fundamentais. Sendo assim, o enfermeiro é
capaz de ampliar e ao mesmo tempo focar sua
assistência de acordo com as necessidades
humanas e de saúde, de forma humanizada,
qualificada e integral.12
● Cuidado transcultural de enfermagem
no acolhimento com classificação de
risco
Por ser um serviço com um fluxo acentuado
de usuários de diversas origens, os quais
apresentam culturas e concepções diferentes
sobre o que seja saúde, doença, emergência,
prioridade ou até mesmo hospital, é adequado
considerar, na prática profissional da
enfermagem, incluindo o ACCR, a
impossibilidade de homogeneizar o cuidado.
Desse modo, a heterogeneidade dos
cuidados de enfermagem é necessária, haja
vista que um só tipo de cuidado não é válido
para todos os tipos de cultura, já que é
importante entender as pessoas a partir de
seu contexto cultural, de maneira dinâmica e
considerando o fruto desse entendimento
como patrimônio coletivo e essencial para se
aprender, apreender, provar e transformar a
realidade e o cuidado.13
Este precisa ser
organizado e direcionado a partir das diversas
concepções do processo saúde-doença e de
acordo com o contexto sociocultural a fim de
que a multidimensionalidade cultural seja
priorizada no olhar e no cuidar do
enfermeiro.5
Pacientes ingressos no serviço de urgência
e emergência são encaminhados para consulta
de enfermagem, exceto aqueles considerados
prioridade zero ou vermelho, ou seja, com
necessidade de atendimento médico imediato.
O enfermeiro classifica o risco baseado em
protocolo, realiza o histórico de enfermagem
pela escuta terapêutica acolhedora, emprega
escalas e/ou instrumento de
avaliação/mensuração, efetua o exame físico
e preenche a ficha de classificação de risco,
que, em seguida, é encaminhada junto com o
usuário para avaliação médica. Logo após, o
usuário é direcionado para a assistência de
enfermagem, quer seja para permanecer em
leito de observação ou internação, quer para
o uso de medicação, para, em seguida, ser
liberado.
É oportuno que junto à escuta qualificada e
a todos os procedimentos realizados, tanto de
aplicação de escalas como de mensuração de
riscos, que se agregue, como campo
obrigatório, na ficha de classificação de risco
Gonçalves LC, Nogueira LT, Silva GRF da et al. Cross-cultural theory in reception with classification…
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aspectos importantes e necessários, para o
cuidar e o curar, relativos à cultura e hábitos
dos usuários.
Nesse contexto, não se pode restringir o
cuidado de enfermagem no ACCR ao histórico
e ao exame físico. É sobretudo importante
aprofundar-se no contexto cultural, nos
valores e na cultura dos usuários e de suas
famílias, já que realizar um “cuidado
automático” no ACCR pressupõe ausência do
reconhecimento do usuário como
protagonista, bem como falta de
compromisso, tendo em vista que o cuidado
de enfermagem fragmentado não possibilitará
efetividade, especialmente no que concerne
ao atendimento realizado em grande parte do
Brasil onde se percebe arraigada uma cultura
forte, plena de misticismos e crenças
populares intervenientes no processo saúde e
doença, além de influências étnicas e
históricas de outros povos.
Assim, o cuidar não se limita às técnicas e
procedimentos, envolvendo também atitudes
que possibilitam o atendimento de
enfermagem com dignidade humana. Dessa
forma, aplicar um cuidado diferenciado
implica desenvolver ações de compreensão da
complexidade humana por meio do
reconhecimento cultural.14, 5
O objetivo da enfermagem transcultural,
no entanto, transcende a simples apreciação
de culturas diferentes, pois é fundamentada
na premissa de que a maioria das culturas
pode determinar o tipo de cuidado desejado,15
por adotarem formas características de
cuidado reconhecidas pelos seus integrantes,
as quais, frequentemente, são desconhecidas
de enfermeiros com referências culturais
diferentes.
Aproximando-se do ACCR em um dos
hospitais de médio porte de uma capital do
nordeste brasileiro, ambiente de trabalho da
primeira autora deste texto, percebe-se o
cuidado de modo fragmentado, desprovido do
emprego de fundamentação teórica. Com a
frequente vivência com os profissionais do
ACCR e a observação em cada plantão, nota-
se que é possível aprimorar a assistência de
enfermagem, valorizando a perspectiva
êmica, que Leininger considera como o modo
pelo qual os seres humanos expressam suas
visões de mundo, significados e atitudes de
culturas particulares.16
A interação enfermeiro-usuário e
enfermeiro-família são evidentes no
consultório e nas reavaliações realizadas aos
usuários em observação ou hospitalizados.
Oportuno reiterar que esses usuários/famílias
possuem sistemas de cuidados genéricos,
caracterizados pelas habilidades tradicionais,
populares, culturalmente aprendidas e
transmitidas, usadas para proporcionar atos
assistenciais, capacitadores ou facilitadores
para melhorar uma condição de saúde.17
O enfermeiro caracteriza-se pelo cuidado
profissional, que diz respeito ao conhecimento
e habilidades práticas formalmente
aprendidos em instituições, constituindo o
chamado conhecimento ético. 13
Por outro
lado, juntamente com o usuário que procura
assistência à saúde vem seu conhecimento
genérico, que é êmico. É imprescindível, pois,
que o enfermeiro procure congruência entre o
conhecimento ético e êmico a fim de a
assistência ser a mais efetiva possível,
compartilhando experiências e percepções e
possibilitando um cuidado cultural
congruente.
A teoria transcultural, quando empregada
satisfatoriamente, reflete em uma situação na
qual família, usuário e profissional
permanecem ativamente envolvidos durante o
processo de cuidar e tornam-se
corresponsáveis pela busca de cuidados
congruentes, evitando imposição dos
mesmos.18
Nesse sentido, para realizar o
cuidado cultural congruente no ACCR, a
enfermagem conta com as três propostas de
Leininger denominadas preservação do
cuidado cultural, acomodação do cuidado
cultural e repadronização do cuidado
cultural.6
No cotidiano, ao adentrar o serviço de
saúde, o usuário chega com conceitos prévios
sobre atendimento de urgência e emergência,
prioridade, internação, uso de medicações, a
exemplo da instalação isolada de venóclise
como reestruturante imediata da saúde, do
ser idoso como prioridade em todas as
circunstâncias, do porquê de passar pelo
enfermeiro antes de estar com o médico, do
não uso de medicações devido a uma
alimentação específica anterior. Desse modo,
diversas situações refletem o quão dinâmica e
complexa é a cultura de cada indivíduo que
procura o serviço e os impasses que podem
advir do não (re)conhecimento dessa
diversidade cultural.
É papel da enfermagem transcultural tomar
decisões apoiadoras e facilitadoras que façam
com que o sujeito retenha ou conserve
aqueles cuidados ou conceitos para
manutenção de sua saúde (preservação
cultural), assim como adotar ações criativas
que auxiliem as pessoas a ajustar seus
conhecimentos sobre o cuidar (acomodação
cultural). Por fim, a enfermagem, por vezes,
deve auxiliar o cliente a reorganizar,
permutar ou até mesmo modificar seus
Gonçalves LC, Nogueira LT, Silva GRF da et al. Cross-cultural theory in reception with classification…
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padrões de cuidado à saúde (reestruturação
cultural).
No processo de cuidar, Leininger propõe o
Modelo do Sol Nascente como caminho
balizador do cuidado cultural, no qual o
enfermeiro começa com um interesse e
depois, de maneira criativa, desvenda os
melhores caminhos a seguir.19
Acredita-se que a teoria transcultural no
ACCR pode funcionar como instrumento
transformador da enfermagem, já que o
cuidado cultural é um meio holístico,
complexo para aprofundar-se no contato e na
pessoalidade do outro. Aflorar essa prática de
um cuidado cultural congruente no ambiente
da urgência e emergência consiste em um
desafio possível e certamente imprescindível
para uma aproximação necessária e desejada
da enfermagem com o mundo do cliente.
As práticas de saúde necessitam obter a
autonomia e a tomada de decisão do
sujeito/paciente, possuidor de conceitos
próprios de saúde e de doença,
diferentemente das práticas de saúde
impositivas, características de serviços
desumanizados.20
Desta forma, aproximar o ser cuidador do
ser cuidado por meio da ação educativa é uma
alternativa de sucesso na enfermagem, visto
que essa ação própria da enfermagem
representa mais do que transmissão de
conhecimentos; significa olhar o indivíduo
como ser ímpar e ativo, com valores, crenças
e hábitos singulares. A prática educativa é
uma alternativa para aplicação da Teoria
Transcultural e é evidenciada em pesquisa de
revisão sistemática da literatura, o qual
revela dez estudos que usam a referida teoria
em diferentes ambientes e com sujeitos
diversos empregando abordagens educativas
individuais e coletivas, como, oficinas, grupos,
encontros e entrevistas.21
A prática educativa como meio de
empregar a Teoria Transcultural é avaliada
exitosa nas áreas de Saúde da Mulher,
Promoção da Qualidade de Vida e na Prática
Acadêmica e Profissional em Saúde, sendo o
enfermeiro mediador e educador entre o
saber popular e o profissional, facilitando o
entendimento e as mudanças de
comportamento com vistas à melhoria na
qualidade de vida.21
Estudo conduzido com mulheres usuárias do
serviço de planejamento familiar revelou o
quanto é imperativo, mesmo
ambulatoriamente, considerar as diversidades
e universalidades em relação às visões de
mundo da mulher/família para, desta forma
proporcionar meios de cuidado congruentes às
pessoas de diferentes culturas, visto que as
usuárias por vezes são submetidas às decisões
isoladas da enfermagem ou de outros
profissionais, quando tais decisões devem ser
contextualizadas aos padrões de convivência
da mulher no seu meio afetivo e familiar.22
As práticas de promoção da saúde podem,
empiricamente, serem consideradas sem
sentido nos serviços de urgência e
emergência, todavia, é nesse ambiente que se
percebe o reflexo de como toda uma rede de
serviços de saúde vem funcionando. Neste
sentido, é plausível a intervenção junto ao
usuário e família com o intuito de promover
educação em saúde, assim como no ambiente
ambulatorial, por meio de múltiplas
alternativas, com o propósito de evitar a
repetição de problemas futuros, tanto
individual como coletivamente, que a priori
deveriam ser resolvidos em outros níveis de
assistência.
Apesar desse meio retratar agilidade e
iminência de morte, pode-se enquanto
enfermagem fazer uso da promoção da saúde
usando a proposta de Leininger, de preservar,
acomodar e/ou “re-padronizar” o cuidado.
Dessa forma, dependendo da classificação do
paciente, no ACCR, em vermelho, amarelo,
verde ou azul, o direcionamento da promoção
da saúde aos mesmos por meio da Teoria
Transcultural dependerá do bom senso do
profissional enfermeiro que priorizará os
cuidados e estabelecerá os diálogos
necessários com usuário e família nos
momentos oportunos.
Sabe-se que é uma virtude do cientista
recusar, por vezes, a arrogância científica e
aceitar as diferenças. 23
No ACCR, o saber
científico, a semiologia, fisiologia, patologia,
farmacologia e agilidade são essenciais,
porém não respondem por todos os saberes,
devendo o enfermeiro escutar, respeitar e
utilizar o saber e o viver do outro, senão o
cuidar não terá sentido.
● Possibilidades, limites, pontos fortes e
frágeis
A teoria transcultural é aplicável no ACCR,
mesmo sendo um contexto de urgência e
emergência, caracterizado pela rapidez e
risco iminente de morte. Deve-se partir do
pressuposto de que, se porventura o usuário
estiver em uma situação grave, sua
estabilização clínica ou cirúrgica é prioritária,
todavia o cuidado cultural pode ser mantido
na assistência à família e após, com o próprio
usuário.
O ACCR configura-se como um serviço novo,
no qual o enfermeiro é detentor de certa
autonomia, assim, a teoria transcultural
Gonçalves LC, Nogueira LT, Silva GRF da et al. Cross-cultural theory in reception with classification…
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fornece uma afirmação da enfermagem como
ciência, pautada em metaparadigmas
formalmente concebidos e validados.
Contudo, existe uma deficiência de
conhecimentos por parte dos enfermeiros
sobre teorias de enfermagem, e mais
especificamente sobre enfermagem
transcultural 6
, devem ser conduzidos esforços
para garantir a educação continuada dos
profissionais e o aprimoramento em
enfermagem transcultural.
É inegável a importância do emprego dessa
teoria na assistência de enfermagem 16
; já que
não há apenas a preocupação com o cuidado
de enfermagem cultural centrado no
indivíduo, mas também a constante busca por
aperfeiçoamento no conhecimento,
contribuindo para o desenvolvimento da
enfermagem como ciência e abrindo portas
para uma inovação no exercício da
enfermagem.
Sem dúvida, os serviços de emergência, de
modo geral atendem a uma grande demanda
de usuários, com número reduzido de
profissionais, sendo que um ponto frágil e que
merece reavaliação por parte de gerentes e
gestores é o redimensionamento dos
profissionais enfermeiros nestes setores, já
que a escuta qualificada exige tempo e é de
suma importância para a satisfação e
reconhecimento do usuário enquanto sujeito
de valor e cultura própria e única.
Concorda-se que é um verdadeiro desafio
aplicar, no serviço de urgência, uma teoria
com conceitos tão antropológicos como a
teoria transcultural, todavia é característico
do enfermeiro ser um profissional desbravador
e possuidor de múltiplas estratégias para
realizar um cuidado cultural congruente.
Também é imperativa a importância que se
deve atribuir ao usuário de distintas culturas e
comunidades em um serviço marcado
historicamente pela dor, lágrimas e
desconforto. Adentrar no mundo desse
cliente, sem julgamentos de valor,
objetivando preservar, negociar ou
reestruturar as práticas de cuidados em favor
do bem estar dos usuários deve ser a ação
foco da enfermagem transcultural.
Com base nas considerações e reflexões
expostas, ressalta-se que a enfermagem
transcultural pode ser aplicável no contexto
do ACCR, haja vista que compreender e
perceber o usuário quanto à sua necessidade
de cuidado é atitude valiosa no contexto de
um serviço de urgência e emergência, mesmo
quando há iminência de morte. Assim podem-
se propor níveis de aplicação da teoria
conforme a cor em o paciente foi classificada,
no qual cabe a enfermagem criar estratégias
especificas em cada serviço.
Assim, foram ressaltadas as possibilidades,
limites, pontos fortes e frágeis do cuidar
transcultural na dimensão do ACCR. Nesse
exercício reflexivo é necessário repensar a
necessidade das práticas assistenciais de
enfermagem, utilizando a escuta qualificada,
o re-conhecimento e a valorização da
diversidade cultural dos usuários, com o
intuito de se efetivar o cuidado cultural
congruente também como práxis de uma
enfermagem moderna.
Percebe-se que a aplicação da teoria
transcultural no ACCR apresenta diversas
possibilidades, visto que é um serviço novo em
que usuário-família e enfermagem interagem
continuamente e mutuamente, num ciclo que
favorece a comunicação e o reconhecimento
do outro como singular, considerando sua
subjetividade, valores e cultura. Como ainda é
incipiente investigações nessa área de
atuação, torna-se imprescindível a aplicação
nos serviços de urgência e emergência para
testagem e validação dos pressupostos
teóricos de Leininger.
1. Marques GQ, Lima MADS. Demandas de
usuários a um serviço de pronto atendimento
e seu acolhimento ao sistema de saúde. Rev
Latino-Am Enfermagem on-line [periódico na
internet]. 2007 Jan/Feb;15(1).
2. Zanellato DM, Pai DD. Práticas de
acolhimento no serviço de emergência: a
perspectiva dos profissionais de enfermagem.
Cienc Cuid Saude. 2010 Apr/June; 9(2): 358-
65.
3. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de
Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política
Nacional de Humanização. HumanizaSUS:
Documento base para gestores e trabalhadores
do SUS. 4ª ed. Brasília (DF): MS; 2009.
4. Leininger MM. Culture care diversity and
universality: a theory of nursing. New York:
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Rev Latino-Am Enfermagem. 2006 May/June;
14(3): 414-21.
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  • 1. Gonçalves LC, Nogueira LT, Silva GRF da et al. Cross-cultural theory in reception with classification… Portuguese/English Rev enferm UFPE on line. 2012 July;6(7):1714-20 1714 DOI: 10.5205/reuol.2255-18586-1-LE.0607201226ISSN: 1981-8963 TRANSCULTURAL THEORY ON THE EMBRACEMENT WITH RISK CLASSIFICATION: A REFLEXIVE LOOK ABOUT POSSIBILITIES TEORIA TRANSCULTURAL NO ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO: UM OLHAR REFLEXIVO SOBRE POSSIBILIDADES TEORÍA TRANSCULTURAL EN EL ACOGIMIENTO CON CLASIFICACIÓN DE RIESGO: UNA MIRADA REFLEXIVA SOBRE LAS POSIBILIDADES Lucyanna Campos Gonçalves1 , Lidya Tosltenko Nogueira2 , Grazielle Roberta Freitas da Silva3 , Maria Helena Barros Araújo Luz4 ABSTRACT Objective: to promote reflections on the possibilities of the application of the transcultural theory on the Embracement with Risk Classification (ACCR) in urgent and emergency services. Methodology: this is a reflection based on a review of the literature derived from the course Theoretical and Philosophical Foundations of Care in Nursing from the Master's degree program in Nursing at the Federal University of Piauí. This study relates how to be a nurse in the operation of the ACCR and the technology used toward the reorientation of emergency assistance highlighting the strengths and limitations of its applicability. Results: the transcultural theory is plausible in the ACCR, given that it assesses the cultures with respect to the various care practices, beliefs and values, and aims at a significant nursing care. It is a challenge possible to be applied in the emergency service, a theory with anthropological concepts, and carries imperative importance ascribed to the user of a service marked by pain, tears, and discomfort. Conclusion: to enter the world of the user, aiming to preserve, negotiate, or restructure care practices in favor of the well-being should, therefore, also be the main action of transcultural nursing in the emergency room. Descriptors: transcultural nursing; nursing theory; user embracement. RESUMO Objetivo: promover reflexões sobre as possibilidades de aplicação da teoria transcultural, no Acolhimento com Classificação de Risco (ACCR) nos serviços de urgência e emergência. Metodologia: trata-se de uma reflexão baseada em uma revisão da literatura, oriunda da disciplina “Fundamentos Teóricos e Filosóficos do Cuidar em Enfermagem”, do curso de mestrado em Enfermagem, da Universidade Federal do Piauí, que relaciona o ser enfermeiro na operacionalização do ACCR, e a tecnologia utilizada no sentido de reorientação da assistência em emergência, evidenciando pontos fortes e limitações da aplicabilidade. Resultados: a teoria transcultural é plausível no ACCR, visto que enfoca as culturas, com respeito às diversas práticas de cuidados, às crenças e valores, visando um atendimento de enfermagem significativo. Trata-se de um desafio possível de ser aplicado ao serviço de urgência, por basear-se em uma teoria com conceitos antropológicos, e que destaca a importância que se deve atribuir ao usuário de um serviço marcado pela dor, lágrimas e desconforto. Conclusão: adentrar no mundo do usuário, objetivando preservar, negociar ou reestruturar as práticas de cuidados em favor do bem estar, devendo ser esta, a ação foco da enfermagem transcultural, também no setor de emergência. Descritores: enfermagem transcultural; teoria de enfermagem; acolhimento. RESUMEN Objetivo: promover una reflexión sobre las posibilidades de aplicación de la teoría transcultural en el Acogimiento con Clasificación de Riesgo (ACCR) en los servicios de urgencia y emergencia. Metodología: esta es una reflexión basada en una revisión de la literatura, derivada de la disciplina Fundamentos Filosóficos y Teóricos en el Cuidado en Enfermería de la Maestría en Enfermería de la Universidad Federal de Piauí. Relaciona el ser enfermero en la operación del ACCR y la tecnología utilizada en el sentido de reorientación de la asistencia en situaciones de emergencia, destacando los puntos fuertes y limitaciones de la aplicabilidad. Resultados: la teoría transcultural es plausible en el ACCR dado que enfoca las culturas con respecto a las diversas prácticas de cuidados, a las creencias y valores, buscando crear un importante servicio de enfermería. Se trata de un reto que es posible de aplicar en el servicio de urgencia, una teoría con conceptos antropológicos, siendo imperativa la importancia que se debe atribuir al usuario de un servicio marcado por el dolor, las lágrimas y el malestar. Conclusión: entrar en el mundo del usuario, con el objetivo de preservar, negociar o reestructurar las prácticas de cuidado a favor del bien estar, por lo tanto, debe ser el foco de acción de la enfermería transcultural también en el sector de emergencia. Descriptores: enfermería; la teoría de enfermería; acogimiento. 1 Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pelo Programa de Pós- Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí/ UFPI. Teresina (PI), Brasil. E-mail: lucyannacamposgoncalves@yahoo.com.br; 2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/ UFRJ. Professora do Curso de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e em Ciências e Saúde da Universidade Federal do Piauí/UFPI. Teresina (PI), Brasil. E-mail: lidyatn@gmail.com; 3 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará/ UFC. Professora do Curso de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí/UFPI. Teresina (PI), Brasil. E-mail: grazielle_roberta@yahoo.com.br; 4 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/ UFRJ. Professora do Curso de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí/UFPI. Teresina (PI), Brasil. E-mail: mhelenal@yahoo.com.br REFLECTIVE ANALYSIS ARTICLE
  • 2. Gonçalves LC, Nogueira LT, Silva GRF da et al. Cross-cultural theory in reception with classification… Portuguese/English Rev enferm UFPE on line. 2012 July;6(7):1714-20 1715 DOI: 10.5205/reuol.2255-18586-1-LE.0607201226ISSN: 1981-8963 O atual modelo assistencial de saúde pública vigora com uma demanda excessiva de usuários nos serviços de urgência e emergência, nos quais casos graves estão próximos aos de baixa complexidade e até eletivos. A população, por fatores culturais ou em decorrência da restrita oferta de serviços em saúde, procura aquelas instituições que oferecem atendimento rotineiramente ágil, com portas abertas ininterruptamente, o que gera um estrangulamento nesses serviços. 1-2 Dentre as muitas iniciativas para minimizar tais problemas e viabilizar o atendimento com qualidade nesses serviços, destaca-se o Acolhimento com Classificação de Risco (ACCR). O ACCR foi proposto pela Política Nacional de Humanização (PNH) como dispositivo assistencial que possibilita a transversalidade das ações de humanização, considerando a autonomia dos usuários, com redução das filas e do tempo de espera, além da ampliação do acesso e do atendimento acolhedor e resolutivo, baseado em critérios de risco, os quais são determinantes para a agilidade do atendimento.3 Nesse contexto, o enfermeiro insere-se como importante sujeito na operacionalização desse acolhimento, visto ser o profissional que realiza a classificação de risco e que mais tempo permanece junto ao usuário em sua estada no serviço de saúde. Por vivenciar, junto ao cliente, suas queixas, angústias e expectativas frente ao processo saúde- doença, no universo do ACCR, acredita-se que é viável direcionar essa assistência por meio de uma teoria de enfermagem. A enfermagem é única como profissão, por se dedicar à promoção do cuidado para pessoas de maneira significativa, congruente, respeitando os valores culturais e os estilos de vida. É desejável, nesse sentido, que a enfermagem aprimore o olhar cuidativo à saúde, considerando a diversidade cultural e não somente a doença.4-5 No ambiente dos serviços de urgência e emergência, ao acolher e classificar risco, é importante também agregar o conhecimento e respeito aos sentimentos, valores e culturas dos usuários. Assim, a teoria transcultural é perfeitamente plausível no contexto do ACCR, tendo em vista que a enfermagem transcultural enfoca as culturas, com respeito às práticas de cuidados de saúde-doença, às crenças e valores, buscando proporcionar um atendimento de enfermagem significativo e eficaz para as pessoas, levando em conta seus valores culturais e seu contexto de saúde- doença.6 O ACCR contempla uma multiplicidade de sujeitos e situações em seu funcionamento e agregado a isto a enfermagem se faz presente enquanto ciência, munida de conhecimentos e habilidades teórico-práticas que possibilitam a aplicação de uma teoria de enfermagem no pronto atendimento hospitalar. Ademais, constata-se um escasso número de publicações que dizem respeito ao uso da teoria transcultural no ambiente de urgência e emergência, sendo comum referências aos ambientes domiciliar e ambulatorial. Essa lacuna nos estudos nacionais sobre a temática, acrescido aos esforços empreendidos em vários países, e em especial no Brasil, para implantar a sistematização da assistência com o desafio de operacionalizar referenciais teóricos, justifica a execução dessa investigação. Diante desse cenário, propõe-se uma reflexão acerca da aplicabilidade da teoria transcultural no ACCR, nos serviços de urgência e emergência, sendo que, neste artigo, se expõem as reflexões críticas dos autores que abordam a operacionalidade do ACCR com as ações de enfermagem e a aplicação da teoria transcultural, assim como os limites, possibilidades, pontos favoráveis e frágeis dessa aplicabilidade na prática cotidiana, baseando-se em um apanhado teórico da literatura existente e disponível acerca da temática em questão aliado às experiências das autoras na prática nos serviços de urgência e emergência e sobre os fundamentos teóricos da Enfermagem. ● A enfermagem no acolhimento com classificação de risco O acolhimento é uma ação técnica- assistencial que possibilita a mudança na relação profissional/usuário e sua rede social, por meio de aspectos técnicos, éticos, humanitários e solidários, fazendo do usuário um sujeito participante e ativo no processo de produção da saúde. Por outro lado, a classificação de risco é considerada uma tecnologia que pressupõe a determinação da agilidade no atendimento a partir da análise de protocolo pré- estabelecido, do grau de necessidade do usuário, oferecendo atenção e atendimento com base no nível de complexidade de cada caso, e não na ordem de chegada. Dessa forma, realiza-se a análise e ordenação de necessidade, diferentemente do que ocorre no processo excludente da triagem. Entende-se, então, que o ACCR é uma das intervenções decisivas para a reorganização e realização da promoção da saúde em rede.7 INTRODUÇÃO
  • 3. Gonçalves LC, Nogueira LT, Silva GRF da et al. Cross-cultural theory in reception with classification… Portuguese/English Rev enferm UFPE on line. 2012 July;6(7):1714-20 1716 DOI: 10.5205/reuol.2255-18586-1-LE.0607201226ISSN: 1981-8963 O Ministério da Saúde propõe a estruturação do ACCR em torno de dois eixos que evidenciam os níveis de risco dos pacientes: o eixo vermelho (do paciente grave) e o eixo azul (do paciente aparentemente não-grave). O primeiro relaciona-se ao paciente com risco de morte, sendo composto pelas áreas vermelha, amarela e verde. A área vermelha é destinada a pacientes que necessitam de atendimento médico imediato; a área amarela recebe os pacientes estabilizados, mas que ainda requerem cuidados especiais e a área verde destina-se aos pacientes menos críticos. Os fluxos devem seguir a realidade local, porém buscando a integralidade da assistência.8 É importante ressaltar que o ACCR deve ser realizado por todos os componentes da equipe multiprofissional, sendo a classificação de risco competência exclusiva dos enfermeiros e técnicos de enfermagem, já que o Ministério da Saúde, como ocorre em escala mundial, reconhece o enfermeiro como o profissional ideal para classificar o risco do usuário. As experiências descritas na literatura brasileira e internacional sobre ACCR mencionam o enfermeiro como classificador de risco, em função de ser detentor de perícia e julgamento clínico, além de possuir uma visão de conjunto das situações.9 Respondendo aos objetivos da PNH, o enfermeiro, além de ter conhecimentos científicos, possui ainda sensibilidade, capacidade de acolher e promover junto ao atendimento atividades educativas.9-11 Para realizar um efetivo e resolutivo ACCR, não basta ao enfermeiro somente classificar o paciente, visto que se trata de um dispositivo assistencial que congrega inúmeras possibilidades do cuidar de enfermagem. É necessário também conhecer o contexto cultural, os valores, as crenças, os rituais e o modo de vida do usuário e de suas famílias, com o intuito de construir uma abordagem inovadora do cuidar. Nesse sentido, faz-se necessário que a enfermagem se aproprie do seu objeto de cuidar, no contexto do ACCR, e utilize um referencial teórico condizente com uma realidade permeada por usuários de origens, características, culturas e discursos diversos. No ACCR, o enfermeiro utiliza a consulta de enfermagem como método que deve se embasar no reconhecimento e contextualização da situação/queixa apresentada pelo paciente, por meio de histórico e identificação dos determinantes previamente pactuados da classificação de risco.7 Na consulta de enfermagem, não se pode deixar de considerar educação e saúde, humanização da assistência e políticas de cuidado como estratégias teórico-práticas fundamentais. Sendo assim, o enfermeiro é capaz de ampliar e ao mesmo tempo focar sua assistência de acordo com as necessidades humanas e de saúde, de forma humanizada, qualificada e integral.12 ● Cuidado transcultural de enfermagem no acolhimento com classificação de risco Por ser um serviço com um fluxo acentuado de usuários de diversas origens, os quais apresentam culturas e concepções diferentes sobre o que seja saúde, doença, emergência, prioridade ou até mesmo hospital, é adequado considerar, na prática profissional da enfermagem, incluindo o ACCR, a impossibilidade de homogeneizar o cuidado. Desse modo, a heterogeneidade dos cuidados de enfermagem é necessária, haja vista que um só tipo de cuidado não é válido para todos os tipos de cultura, já que é importante entender as pessoas a partir de seu contexto cultural, de maneira dinâmica e considerando o fruto desse entendimento como patrimônio coletivo e essencial para se aprender, apreender, provar e transformar a realidade e o cuidado.13 Este precisa ser organizado e direcionado a partir das diversas concepções do processo saúde-doença e de acordo com o contexto sociocultural a fim de que a multidimensionalidade cultural seja priorizada no olhar e no cuidar do enfermeiro.5 Pacientes ingressos no serviço de urgência e emergência são encaminhados para consulta de enfermagem, exceto aqueles considerados prioridade zero ou vermelho, ou seja, com necessidade de atendimento médico imediato. O enfermeiro classifica o risco baseado em protocolo, realiza o histórico de enfermagem pela escuta terapêutica acolhedora, emprega escalas e/ou instrumento de avaliação/mensuração, efetua o exame físico e preenche a ficha de classificação de risco, que, em seguida, é encaminhada junto com o usuário para avaliação médica. Logo após, o usuário é direcionado para a assistência de enfermagem, quer seja para permanecer em leito de observação ou internação, quer para o uso de medicação, para, em seguida, ser liberado. É oportuno que junto à escuta qualificada e a todos os procedimentos realizados, tanto de aplicação de escalas como de mensuração de riscos, que se agregue, como campo obrigatório, na ficha de classificação de risco
  • 4. Gonçalves LC, Nogueira LT, Silva GRF da et al. Cross-cultural theory in reception with classification… Portuguese/English Rev enferm UFPE on line. 2012 July;6(7):1714-20 1717 DOI: 10.5205/reuol.2255-18586-1-LE.0607201226ISSN: 1981-8963 aspectos importantes e necessários, para o cuidar e o curar, relativos à cultura e hábitos dos usuários. Nesse contexto, não se pode restringir o cuidado de enfermagem no ACCR ao histórico e ao exame físico. É sobretudo importante aprofundar-se no contexto cultural, nos valores e na cultura dos usuários e de suas famílias, já que realizar um “cuidado automático” no ACCR pressupõe ausência do reconhecimento do usuário como protagonista, bem como falta de compromisso, tendo em vista que o cuidado de enfermagem fragmentado não possibilitará efetividade, especialmente no que concerne ao atendimento realizado em grande parte do Brasil onde se percebe arraigada uma cultura forte, plena de misticismos e crenças populares intervenientes no processo saúde e doença, além de influências étnicas e históricas de outros povos. Assim, o cuidar não se limita às técnicas e procedimentos, envolvendo também atitudes que possibilitam o atendimento de enfermagem com dignidade humana. Dessa forma, aplicar um cuidado diferenciado implica desenvolver ações de compreensão da complexidade humana por meio do reconhecimento cultural.14, 5 O objetivo da enfermagem transcultural, no entanto, transcende a simples apreciação de culturas diferentes, pois é fundamentada na premissa de que a maioria das culturas pode determinar o tipo de cuidado desejado,15 por adotarem formas características de cuidado reconhecidas pelos seus integrantes, as quais, frequentemente, são desconhecidas de enfermeiros com referências culturais diferentes. Aproximando-se do ACCR em um dos hospitais de médio porte de uma capital do nordeste brasileiro, ambiente de trabalho da primeira autora deste texto, percebe-se o cuidado de modo fragmentado, desprovido do emprego de fundamentação teórica. Com a frequente vivência com os profissionais do ACCR e a observação em cada plantão, nota- se que é possível aprimorar a assistência de enfermagem, valorizando a perspectiva êmica, que Leininger considera como o modo pelo qual os seres humanos expressam suas visões de mundo, significados e atitudes de culturas particulares.16 A interação enfermeiro-usuário e enfermeiro-família são evidentes no consultório e nas reavaliações realizadas aos usuários em observação ou hospitalizados. Oportuno reiterar que esses usuários/famílias possuem sistemas de cuidados genéricos, caracterizados pelas habilidades tradicionais, populares, culturalmente aprendidas e transmitidas, usadas para proporcionar atos assistenciais, capacitadores ou facilitadores para melhorar uma condição de saúde.17 O enfermeiro caracteriza-se pelo cuidado profissional, que diz respeito ao conhecimento e habilidades práticas formalmente aprendidos em instituições, constituindo o chamado conhecimento ético. 13 Por outro lado, juntamente com o usuário que procura assistência à saúde vem seu conhecimento genérico, que é êmico. É imprescindível, pois, que o enfermeiro procure congruência entre o conhecimento ético e êmico a fim de a assistência ser a mais efetiva possível, compartilhando experiências e percepções e possibilitando um cuidado cultural congruente. A teoria transcultural, quando empregada satisfatoriamente, reflete em uma situação na qual família, usuário e profissional permanecem ativamente envolvidos durante o processo de cuidar e tornam-se corresponsáveis pela busca de cuidados congruentes, evitando imposição dos mesmos.18 Nesse sentido, para realizar o cuidado cultural congruente no ACCR, a enfermagem conta com as três propostas de Leininger denominadas preservação do cuidado cultural, acomodação do cuidado cultural e repadronização do cuidado cultural.6 No cotidiano, ao adentrar o serviço de saúde, o usuário chega com conceitos prévios sobre atendimento de urgência e emergência, prioridade, internação, uso de medicações, a exemplo da instalação isolada de venóclise como reestruturante imediata da saúde, do ser idoso como prioridade em todas as circunstâncias, do porquê de passar pelo enfermeiro antes de estar com o médico, do não uso de medicações devido a uma alimentação específica anterior. Desse modo, diversas situações refletem o quão dinâmica e complexa é a cultura de cada indivíduo que procura o serviço e os impasses que podem advir do não (re)conhecimento dessa diversidade cultural. É papel da enfermagem transcultural tomar decisões apoiadoras e facilitadoras que façam com que o sujeito retenha ou conserve aqueles cuidados ou conceitos para manutenção de sua saúde (preservação cultural), assim como adotar ações criativas que auxiliem as pessoas a ajustar seus conhecimentos sobre o cuidar (acomodação cultural). Por fim, a enfermagem, por vezes, deve auxiliar o cliente a reorganizar, permutar ou até mesmo modificar seus
  • 5. Gonçalves LC, Nogueira LT, Silva GRF da et al. Cross-cultural theory in reception with classification… Portuguese/English Rev enferm UFPE on line. 2012 July;6(7):1714-20 1718 DOI: 10.5205/reuol.2255-18586-1-LE.0607201226ISSN: 1981-8963 padrões de cuidado à saúde (reestruturação cultural). No processo de cuidar, Leininger propõe o Modelo do Sol Nascente como caminho balizador do cuidado cultural, no qual o enfermeiro começa com um interesse e depois, de maneira criativa, desvenda os melhores caminhos a seguir.19 Acredita-se que a teoria transcultural no ACCR pode funcionar como instrumento transformador da enfermagem, já que o cuidado cultural é um meio holístico, complexo para aprofundar-se no contato e na pessoalidade do outro. Aflorar essa prática de um cuidado cultural congruente no ambiente da urgência e emergência consiste em um desafio possível e certamente imprescindível para uma aproximação necessária e desejada da enfermagem com o mundo do cliente. As práticas de saúde necessitam obter a autonomia e a tomada de decisão do sujeito/paciente, possuidor de conceitos próprios de saúde e de doença, diferentemente das práticas de saúde impositivas, características de serviços desumanizados.20 Desta forma, aproximar o ser cuidador do ser cuidado por meio da ação educativa é uma alternativa de sucesso na enfermagem, visto que essa ação própria da enfermagem representa mais do que transmissão de conhecimentos; significa olhar o indivíduo como ser ímpar e ativo, com valores, crenças e hábitos singulares. A prática educativa é uma alternativa para aplicação da Teoria Transcultural e é evidenciada em pesquisa de revisão sistemática da literatura, o qual revela dez estudos que usam a referida teoria em diferentes ambientes e com sujeitos diversos empregando abordagens educativas individuais e coletivas, como, oficinas, grupos, encontros e entrevistas.21 A prática educativa como meio de empregar a Teoria Transcultural é avaliada exitosa nas áreas de Saúde da Mulher, Promoção da Qualidade de Vida e na Prática Acadêmica e Profissional em Saúde, sendo o enfermeiro mediador e educador entre o saber popular e o profissional, facilitando o entendimento e as mudanças de comportamento com vistas à melhoria na qualidade de vida.21 Estudo conduzido com mulheres usuárias do serviço de planejamento familiar revelou o quanto é imperativo, mesmo ambulatoriamente, considerar as diversidades e universalidades em relação às visões de mundo da mulher/família para, desta forma proporcionar meios de cuidado congruentes às pessoas de diferentes culturas, visto que as usuárias por vezes são submetidas às decisões isoladas da enfermagem ou de outros profissionais, quando tais decisões devem ser contextualizadas aos padrões de convivência da mulher no seu meio afetivo e familiar.22 As práticas de promoção da saúde podem, empiricamente, serem consideradas sem sentido nos serviços de urgência e emergência, todavia, é nesse ambiente que se percebe o reflexo de como toda uma rede de serviços de saúde vem funcionando. Neste sentido, é plausível a intervenção junto ao usuário e família com o intuito de promover educação em saúde, assim como no ambiente ambulatorial, por meio de múltiplas alternativas, com o propósito de evitar a repetição de problemas futuros, tanto individual como coletivamente, que a priori deveriam ser resolvidos em outros níveis de assistência. Apesar desse meio retratar agilidade e iminência de morte, pode-se enquanto enfermagem fazer uso da promoção da saúde usando a proposta de Leininger, de preservar, acomodar e/ou “re-padronizar” o cuidado. Dessa forma, dependendo da classificação do paciente, no ACCR, em vermelho, amarelo, verde ou azul, o direcionamento da promoção da saúde aos mesmos por meio da Teoria Transcultural dependerá do bom senso do profissional enfermeiro que priorizará os cuidados e estabelecerá os diálogos necessários com usuário e família nos momentos oportunos. Sabe-se que é uma virtude do cientista recusar, por vezes, a arrogância científica e aceitar as diferenças. 23 No ACCR, o saber científico, a semiologia, fisiologia, patologia, farmacologia e agilidade são essenciais, porém não respondem por todos os saberes, devendo o enfermeiro escutar, respeitar e utilizar o saber e o viver do outro, senão o cuidar não terá sentido. ● Possibilidades, limites, pontos fortes e frágeis A teoria transcultural é aplicável no ACCR, mesmo sendo um contexto de urgência e emergência, caracterizado pela rapidez e risco iminente de morte. Deve-se partir do pressuposto de que, se porventura o usuário estiver em uma situação grave, sua estabilização clínica ou cirúrgica é prioritária, todavia o cuidado cultural pode ser mantido na assistência à família e após, com o próprio usuário. O ACCR configura-se como um serviço novo, no qual o enfermeiro é detentor de certa autonomia, assim, a teoria transcultural
  • 6. Gonçalves LC, Nogueira LT, Silva GRF da et al. Cross-cultural theory in reception with classification… Portuguese/English Rev enferm UFPE on line. 2012 July;6(7):1714-20 1719 DOI: 10.5205/reuol.2255-18586-1-LE.0607201226ISSN: 1981-8963 fornece uma afirmação da enfermagem como ciência, pautada em metaparadigmas formalmente concebidos e validados. Contudo, existe uma deficiência de conhecimentos por parte dos enfermeiros sobre teorias de enfermagem, e mais especificamente sobre enfermagem transcultural 6 , devem ser conduzidos esforços para garantir a educação continuada dos profissionais e o aprimoramento em enfermagem transcultural. É inegável a importância do emprego dessa teoria na assistência de enfermagem 16 ; já que não há apenas a preocupação com o cuidado de enfermagem cultural centrado no indivíduo, mas também a constante busca por aperfeiçoamento no conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento da enfermagem como ciência e abrindo portas para uma inovação no exercício da enfermagem. Sem dúvida, os serviços de emergência, de modo geral atendem a uma grande demanda de usuários, com número reduzido de profissionais, sendo que um ponto frágil e que merece reavaliação por parte de gerentes e gestores é o redimensionamento dos profissionais enfermeiros nestes setores, já que a escuta qualificada exige tempo e é de suma importância para a satisfação e reconhecimento do usuário enquanto sujeito de valor e cultura própria e única. Concorda-se que é um verdadeiro desafio aplicar, no serviço de urgência, uma teoria com conceitos tão antropológicos como a teoria transcultural, todavia é característico do enfermeiro ser um profissional desbravador e possuidor de múltiplas estratégias para realizar um cuidado cultural congruente. Também é imperativa a importância que se deve atribuir ao usuário de distintas culturas e comunidades em um serviço marcado historicamente pela dor, lágrimas e desconforto. Adentrar no mundo desse cliente, sem julgamentos de valor, objetivando preservar, negociar ou reestruturar as práticas de cuidados em favor do bem estar dos usuários deve ser a ação foco da enfermagem transcultural. Com base nas considerações e reflexões expostas, ressalta-se que a enfermagem transcultural pode ser aplicável no contexto do ACCR, haja vista que compreender e perceber o usuário quanto à sua necessidade de cuidado é atitude valiosa no contexto de um serviço de urgência e emergência, mesmo quando há iminência de morte. Assim podem- se propor níveis de aplicação da teoria conforme a cor em o paciente foi classificada, no qual cabe a enfermagem criar estratégias especificas em cada serviço. Assim, foram ressaltadas as possibilidades, limites, pontos fortes e frágeis do cuidar transcultural na dimensão do ACCR. Nesse exercício reflexivo é necessário repensar a necessidade das práticas assistenciais de enfermagem, utilizando a escuta qualificada, o re-conhecimento e a valorização da diversidade cultural dos usuários, com o intuito de se efetivar o cuidado cultural congruente também como práxis de uma enfermagem moderna. Percebe-se que a aplicação da teoria transcultural no ACCR apresenta diversas possibilidades, visto que é um serviço novo em que usuário-família e enfermagem interagem continuamente e mutuamente, num ciclo que favorece a comunicação e o reconhecimento do outro como singular, considerando sua subjetividade, valores e cultura. Como ainda é incipiente investigações nessa área de atuação, torna-se imprescindível a aplicação nos serviços de urgência e emergência para testagem e validação dos pressupostos teóricos de Leininger. 1. Marques GQ, Lima MADS. Demandas de usuários a um serviço de pronto atendimento e seu acolhimento ao sistema de saúde. Rev Latino-Am Enfermagem on-line [periódico na internet]. 2007 Jan/Feb;15(1). 2. Zanellato DM, Pai DD. Práticas de acolhimento no serviço de emergência: a perspectiva dos profissionais de enfermagem. Cienc Cuid Saude. 2010 Apr/June; 9(2): 358- 65. 3. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: Documento base para gestores e trabalhadores do SUS. 4ª ed. Brasília (DF): MS; 2009. 4. Leininger MM. Culture care diversity and universality: a theory of nursing. New York: National League for Nursing Press; 1991. 5. Cunha RR, Pereira LS, Gonçalves ASR, Santos EKA, Radunz V, Heidemann ITSB. Promoção da saúde no contexto paroara: possibilidade de cuidado de enfermagem. Texto Contexto Enferm. 2009 Jan/Mar; 18(1):170-6. 6. George JB. Teorias de Enfermagem: os fundamentos à prática profissional. 4ª ed. São Paulo (SP): Artmed; 2000. 7. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política REFERÊNCIAS CONSIDERAÇÕES FINAIS
  • 7. Gonçalves LC, Nogueira LT, Silva GRF da et al. Cross-cultural theory in reception with classification… Portuguese/English Rev enferm UFPE on line. 2012 July;6(7):1714-20 1720 DOI: 10.5205/reuol.2255-18586-1-LE.0607201226ISSN: 1981-8963 Nacional de Humanização. HumanizaSUS - acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma ético-estético no fazer em saúde. Brasília (DF): MS; 2004. 8. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. Acolhimento e Classificação de Risco nos serviços de urgência. Brasília (DF): MS; 2009. 9. Souza CC, Toledo AD, Tadeu LFR, Chianca TCM. Classificação de risco em pronto- socorro: concordância entre um protocolo institucional brasileiro e Manchester. Rev Latino-Am Enfermagem online [periódico na internet]. 2011 Jan/Feb; 19(1): 08 telas. 10. Souza SEB. Avaliação do QualiSUS na Bahia [dissertação na Internet]. Salvador (BA): Universidade Federal da Bahia. Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia; 2010 [acesso 2011 jun 03]. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.ufba.br/tde_bus ca/arquivo.php?codArquivo=3572. 11. Souza RS, Bastos MAR. Acolhimento com classificação de risco: o processo vivenciado por profissional enfermeiro. Rev Min Enferm. 2008 out/Dec; 12(4): 581-86. 12. Santos EI, Gomes AMT, Oliveira DC, Valois BRG, Braga RMO. Comprehensiveness in nurse´s care practices in the primary healthcare context. Rev enferm UFPE on line [Internet] 2011 June [cited 2011 Sep 14];5(4):1054-063. Available from: http://www.ufpe.br/revistaenfermagem/inde x.php/revista/article/view/1578/pdf_503 13. Rodríguez LM, Vásquez ML. Mirando el cuidado cultural desde la óptica de Leininger. Colomb Med. 2007 Oct/Dec; 38(Supl 2): 98- 104. 14. Neto JAS, Rodrigues BMRD. Tecnologia como fundamento do cuidar em neonatologia. Texto Contexto Enferm. 2010 Apr/June; 19(2): 372-7. 15. Moura MAV, Chamilco RASI, Silva LR. A teoria transcultural e sua aplicação em algumas pesquisas de enfermagem: uma reflexão. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2005 Dec; 9(3): 434-40. 16. Silveira RS, Martins CR, Lunardi VL, Lunardi Filho WD. Etnoenfermagem como metodologia de pesquisa para a congruência do cuidado. Rev Bras Enferm. 2009 May/June; 62(3): 442-6. 17. Gaut D, Leininger MM. Caring: the compassionate healer: New York: National League for Nursing; 1991. 18. Silva Júnior FJG, Ferreira RD, Araújo OD, Camêlo SMA, Nery IS. Assistência de enfermagem ao portador de hanseníase: abordagem transcultural. Rev Bras Enferm. 2008;61(esp): 713-7. 19. Monticelli M, Boehs AE, Guesser JC, Gehrmann T, Martins M, Manfrini GC. Aplicações da teoria transcultural na prática da enfermagem a partir de dissertações de mestrado. Texto Contexto Enferm. 2010 Apr/June;19(2): 220-28. 20. Castillo CAG, Vásquez ML. El cuidado de si de la embarazada diabética como uma via para assegurar um hijo sano. Texto Contexto Enferm. 2006 Jan/Mar;15(1):74-81. 21. Michel T, Seima MD, Lacerda MR, Bernardino E, Lenardt MH. As práticas educativas em enfermagem fundamentadas na teoria de Leininger. Cogitare Enferm. 2010 Jan/Mar; 15(1):131-7. 22.Cortez EMF, Zagonel IPS. Implicações culturais no planejamento familiar e qualidade de vida da mulher/família e a Teoria de Leininger. Cogitare Enferm. 2011 Apr/June; 16(2):296-302. 23. Bezerra MGA, Cardoso MVML. Fatores culturais que interferem nas experiências das mulheres durante o trabalho de parto e parto. Rev Latino-Am Enfermagem. 2006 May/June; 14(3): 414-21. Sources of funding: No Conflict of interest: No Date of first submission: 2011/11/05 Last received: 2012/06/10 Accepted: 2012/06/11 Publishing: 2012/07/01 Corresponding Address Lucyanna Campos Gonçalves Quadra 3, Casa 4, Setor E, Mocambinho III CEP: 64010-370 ‒ Teresina (PI), Brazil