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SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 1
CARACTERIZAÇÃO GEOFÍSICA NA DEFINIÇÃO DO RISCO SÍSMICO NA
CIDADE DE AVEIRO
P. GARCIA
Aluno de PhD
Univ. de Aveiro
Aveiro - Portugal
R. MOURA
Professor
Univ. do Porto
Porto - Portugal
H. HERMOSILHA
Aluno de PhD
Univ. de Aveiro
Aveiro - Portugal
F. ALMEIDA
Professor
Univ. de Aveiro
Aveiro - Portugal
C. RODRIGUES
Professor
Inst. Pol. da Guarda
Guarda - Portugal
SUMÁRIO
Aveiro tem um risco sísmico moderado justificado pela aceleração máxima prevista de 0,8 m/s2
para 1,6 m/s2
, e
uma probabilidade de 39,3% em 50 anos. A cidade de Aveiro tem uma população de 55000 habitantes, em que
cerca de metade estão associados à actividade da Universidade de Aveiro. Para a avaliação do risco sísmico é
importante combinar a informação sobre os níveis de perigosidade, vulnerabilidade e custos envolvidos. Para
além disso, com o crescimento geográfico da cidade, é importante ter em conta o ordenamento do território, a
fim de determinar, qual será o comportamento/resposta sísmica nos diferentes contextos geológicos e
geomorfológicos da cidade. Nesse sentido, definimos duas zonas de estudo. Zona 1 corresponde à cidade de
Aveiro, implantada nas formações de terraços de areia do Quaternário sobrepostos às formações de argilas do
Cretáceo de Aveiro. O sistema lagunar do Holocénico, em direção ao Oeste (Zona 2), característico dos limites
da cidade de Aveiro, é composto de areia e solos moles, portanto, distintos nas suas características em relação à
área anterior. Propomos assim comparar a aceleração máxima prevista, a deformação distorcional e
deslocamento horizontal do solo, assumindo que a componente vertical da aceleração é nula, em função da
profundidade, em dois locais distintos. Neste sentido utilizaram-se alguns ensaios geofísicos usando uma
combinação de técnicas sísmicas, dados geológicos e geotécnicos. Assim, pudemos obter os parâmetros
(litologia e espessura das camadas) para a distribuição em profundidade das camadas geológicas, a velocidade
das ondas S e outros parâmetros geotécnicos (peso volúmico e índice de plasticidade) relacionados e relativos às
duas áreas e através do software EduShake determinámos os parâmetros de engenharia sísmica (aceleração vs
tempo, aceleração máxima normalizada vs frequência, aceleração máxima vs profundidade, deformação máxima
de corte vs profundidade e deslocamento máximo vs profundidade). Verificou-se que em ambas as áreas, existem
variações significativas no comportamento das respostas sísmicas modeladas.
SUMMARY
Aveiro has a moderate seismic hazard justified by the predicted maximum acceleration of 0.8 m/s2
to 1.6 m/s2
,
and a 39.3% probability in 50 years. The city of Aveiro has a population of 55000 inhabitants, in which about
half are associated with the activity of the University of Aveiro. For seismic risk assessment it is important to
combine information on the hazard levels, vulnerability and the costs involved. Moreover, with the geographical
growth of the city it is important to take into account the spatial planning in order to determine, in advance, what
will be the behaviour/seismic response in the different geological and geomorphological settings of the city. In
this sense, we defined two study zones. Zone 1 corresponds to the city of Aveiro, deployed on flat Quaternary
sand terraces overlapping the formations of the Cretaceous clays of Aveiro. The Holocene lagoon system,
towards the west (Zone 2), characteristic of the Aveiro city limits, consists of sand and soft soils, thus distinct in
its characteristics from the previous area. We propose a methodology to compare the predicted maximum
acceleration, shear strain and horizontal displacement of the soil, assuming that the vertical component of
acceleration is zero, as a function of depth, in two distinct locations. In order to do this, geophysical studies were
considered using a combination of seismic techniques, geological and geotechnical data. Thus, we were able to
2 SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA
obtain the parameters (litology and thickness) for the distribution in depth of the geological layers, the S waves
velocity and other geotechnical parameters (unit weight and plasticity index) related to the two areas and with
the EduShake software we determined earthquake engineering parameters (acceleration vs time, normalized
maximum acceleration vs frequency, maximum acceleration vs depth, peak shear strain vs depth and
displacement vs depth). We verified that in both areas there are significant variations in the behaviour of the
modelled seismic responses.
1. INTRODUÇÃO
O risco sísmico pode ser definido como sendo a descrição probabilística das consequências para a sociedade e
para a economia da ocorrência de sismos, percepcionado a partir dos efeitos, cujas consequências nem sempre
ficam na memória das populações. Para se determinar o risco sísmico, será necessário avaliar a perigosidade
sísmica, a vulnerabilidade e os custos associados, visto que o risco provém da relação entre estes factores. A
perigosidade sísmica descreve estatisticamente a probabilidade de ocorrência dum determinado nível de
parâmetro, como a intensidade, a velocidade e a aceleração. Em particular a perigosidade, requer a determinação
de um zonamento de parâmetros obtidos da geofísica e da geologia local, sendo que a geologia do terreno
também influencia a vulnerabilidade. A vulnerabilidade está relacionada com os danos produzidos nos edifícios,
numa escala que pode variar entre 0 (danos nulos) e 1 (colapso). Enquanto os custos se referem a danos em
termos de vidas humanas ou a danos económicos [1].
Neste estudo, pretendemos mostrar a importância da caracterização geofísica na definição do risco sísmico na
cidade de Aveiro e o modo como pode proporcionar parâmetros e interpretações, aplicáveis na Engenharia Civil
e na Engenharia Sísmica.
Aveiro apresenta uma perigosidade sísmica moderada, 0,8 m/s2
a 1,6 m/s2
, para acelerações máximas com 39,3%
de probabilidade em 50 anos, com um período de retorno de 100 anos [2]. A cidade de Aveiro alberga uma
população de 55000 habitantes, em que cerca de metade está ligada ao desenvolvimento da Universidade de
Aveiro (UA).
Em cada local do terreno a influência da geologia local e as características do solo condicionam a amplificação
do movimento do terreno devido aos efeitos do sítio, podendo resultar danos severos no edificado.
Obtendo dados geotécnicos e geofísicos da subsuperfície em dois locais diferentes, podem comparar-se as
respostas do terreno para várias acelerações máximas de referência e vários tipos de sismos. A espessura dos
depósitos aluvionares pode amplificar com intensidades diferentes o movimento do terreno, resultando em danos
significativos em edifícios residenciais na região afectada pelo sismo.
A caracterização geofísica pode realizar-se através de métodos de reflexão sísmica, MASW (Multichannel
Analysis of Surface Waves) [3], refracção sísmica, na determinação da forma e velocidades de ondas S, dos
quais deriva o modelo do módulo de rigidez dinâmico.
Outros estudos foram anteriormente desenvolvidos para a Península Ibérica [2], para Portugal continental com
um projecto sobre os elementos para a caracterização do risco sísmico na região de Faro [4], para a região de
Lisboa [5], para a região do Porto [6] e para a região do Algarve [7].
Este trabalho apoiou-se em informação geofísica relativa às velocidades das ondas P e S obtida com cone
sísmico (SCPT – Seismic Cone Penetration Test), e reflexão de ondas S do Tirtife [8] e na Universidade de
Aveiro, com a técnica MASW, além de informação geotécnica do sistema lagunar [9] e do Campus da UA [10].
Neste estudo foi usado o EduShake [11], um programa de simulação da resposta sísmica do terreno para
camadas horizontais, que permite obter leituras sobre o comportamento de parâmetros relacionados com
movimentos do terreno, aquando da ocorrência de sismos.
SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 3
Figura 1: Localização da cidade de Aveiro, na zona centro de Portugal, com os dois locais de estudo assinalados
(imagens adaptadas do GoogleEarth).
Este estudo poderá ser relevante em termos da prevenção do risco sísmico, dado que permitirá estudar a resposta
do terreno através dos parâmetros da Engenharia Sísmica (aceleração máxima, deformação de corte máxima e
deslocamento horizontal final em função da profundidade) em duas zonas de referência na cidade de Aveiro;
uma associada à laguna com uma espessura de solos moles de cerca de 25m (Tirtife) e outra na Universidade de
Aveiro onde ocorre uma cobertura sedimentar quaternária com aproximadamente 9m (Campus UA), assinaladas
na Fig. 1. O estudo contempla também a resposta do terreno para dois sismos (Topanga e Yerba) e duas
intensidades para aceleração máxima de referência aos 25m de profundidade.
2. METODOLOGIA
Para avaliação do risco sísmico é importante cruzar informação da perigosidade, da vulnerabilidade e dos custos.
Por outro lado, a expansão geográfica da cidade terá em conta planos de ordenamento territorial, sendo possível
determinar previamente quais serão os comportamentos/resposta à solicitação sísmica, das diversas zonas com
características geológicas e geomorfológicas diferentes. Nesse sentido, definem-se duas zonas de estudo.
A zona 1 (Campus UA) corresponde à cidade de Aveiro, implantada sobre terraços quaternários aplanados que
se sobrepõem às formações cretácicas de arenitos e argilas de Aveiro [10]. A zona 2 (Tirtife) pretende
representar o sistema lagunar holocénico de Aveiro que limita a cidade a poente e é constituída por materiais
geológicos, areias e solos moles [9], com características distintas da zona anterior, que sofre a pressão da
ocupação humana. O planeamento correcto do desenvolvimento urbano poderá contar com informação acerca
das características distintas destes dois locais, relativamente à solicitação sísmica.
2.1. Caracterização geológica e geomorfológica
Em termos geológicos, na região de Aveiro estão representadas várias unidades, como é o caso de depósitos
modernos (aluviões actuais, areias de praia e areias de duna), o Plistocénico (depósitos de praias antigas com
níveis entre os 5m e os 50m, depósitos de terraços fluviais e blocos residuais) e o Cretácico representado pelos
arenitos e argilas de Aveiro – “Série flúvio-marinha” de Choffat (Maestrichtiano) [12].
Em termos geomorfológicos, a região de Aveiro é baixa e aplanada e formada por inúmeros braços de ria. Os
pontos mais elevados em pouco excedem as centenas de metros [12].
4 SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA
Na Fig. 2 pode observar-se o limite da cidade de Aveiro sobreposto a um excerto modificado da folha 16-A da
Carta Geológica de Portugal de 2005, onde afloram formações do Cretácico, contornando os vales que foram
preenchidos pelos solos moles holocénicos.
Figura 2: Excerto modificado (datum 73 Hayford Gauss IPCC) da folha 16-A da carta geológica de Portugal de
2005 (1:50000) sobreposto com o limite da cidade de Aveiro.
2.2. Caracterização Geofísica
Para a zona 1 (Campus UA) utilizou-se a técnica MASW. Os dados de 48 canais foram obtidos para um offset
mínimo de 10m e com espaçamento de 1m entre os geofones de 4Hz (Fig. 3-a). Os resultados das velocidades e
espessuras das camadas foram obtidos com o programa SurfSeis do Kansas Geological Survey [13], para uma
banda interpretada entre as velocidades 190 e 255m/s onde se minimiza o sinal das primeiras chegadas (mutting
superior) e de modos superiores de vibração (mutting inferior) (Fig. 3-a). A informação limitada à banda central
forneceu uma curva de dispersão da velocidade de fase em função da frequência (Fig. 3-b). Esta curva
experimental foi amostrada em 17 pontos e ajustada teoricamente através do processo de inversão do software
SurfSeis, fornecendo o modelo de velocidades das ondas S (Fig. 3-c) utilizado no programa EduShake.
Para a zona 2 (Tirtife) a abordagem geofísica a partir de reflexões de ondas S mostrou ser promissora para a
caracterização a profundidades superiores às obtidas com o SCPT [8] (Fig. 4). Com base na informação das
velocidades sísmicas obtidas pelo SCPT até à profundidade de 13m; a partir da reflexão sísmica de ondas S para
um registo corrigido com normal moveout [8] e de uma secção sísmica de ondas S para espaçamento entre
geofones de 0.5m obtida após empilhamento de 24 pontos médios comuns (CMP stack) [14] foi possível, de
acordo com a caracterização litológica de uma amostragem através de uma sondagem mecânica feita no local
[9], propor o modelo de velocidades para utilizar no EduShake.
SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 5
Figura 3 – Técnica MASW aplicada no Campus da UA. a) Registo sísmico de 24 canais com 2 geofones
verticais de 4Hz. b) Curva de dispersão obtida com o SurfSeis [13] utilizando a área sombreada do registo em a).
c) Modelo obtido para 7 iterações e a representação da razão sinal/ruído.
6 SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA
Figura 4 – Reflexão sísmica de ondas S para a zona 2 (Tirtife). Adaptado de [8], [9] e [14].
2.3. Programa EduShake
O programa EduShake, equivalente ao ProShake mas limitado apenas a 6 movimentos de entrada diferentes, é
um programa de utilização gratuita que permite definir o número e as propriedades das camadas, especificar o
tipo de movimento actuante, a profundidade a que se encontra o nível freático e o peso volúmico. Admite a
propagação de ondas de corte no sentido ascendente das camadas. A abordagem do problema através deste
programa é limitada ao modelo de camadas horizontais que em primeira abordagem na região de Aveiro, de
relevo suave e camadas sedimentares horizontais nos parece aceitável para um estudo abrangente de fraca
definição espacial. Os locais correspondentes aos vales da cidade preenchidos por sedimentos recentes, cuja
geometria importa conhecer, não poderão ser modelados por este programa, sendo no entanto possível fazê-lo
através de modelação 3D.
Definindo as características do movimento sísmico de entrada, o programa permite calcular aceleração,
velocidade, deslocamentos, tensões e deformações vs tempo e vs profundidade. Neste estudo, projectaram-se em
função da profundidade os parâmetros: aceleração máxima, deformações de corte e deslocamentos horizontais
residuais após o sismo.
Toda a informação geológica, geotécnica e geofísica utilizada foi retirada dos trabalhos efectuados no Tirtife por
Fernando Bonito [9] e Helder Hermosilha [14] e do trabalho de Agostinho da Benta [10] para a caracterização
das formações da zona 1, correspondente à área de implantação da cidade. A distribuição das camadas em
profundidade foi estabelecida com base na informação obtida na bibliografia e julga-se que possa ser
representativa dos dois ambientes distintos, sobre os quais nos propomos estabelecer comparações ao nível da
resposta sísmica.
No que diz respeito à distribuição vertical das camadas horizontais, definiram-se espessuras das camadas obtidas
pelo cruzamento dos logs das sondagens com os modelos geofísicos gerados, quer através da reflexão sísmica
como do MASW, que pode ser visualizado no perfil criado pelo programa (Fig. 5). Os logs da Fig. 5 pretendem
caracterizar os dois ambientes geologicamente distintos.
SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 7
Figura 5: Perfil para a zona 2 – Tirtife (esquerda) e para a zona 1 – Campus da UA (direita), baseado nos
parâmetros geotécnicos e geofísicos obtidos, nomeadamente o tipo de material, a velocidade das ondas de corte e
o peso volúmico. O perfil indica também profundidade em que os movimentos de entrada são aplicadas (círculos
vermelhos para movimentos dentro do perfil) e as profundidades em que a saída é calculada (com círculos verdes
para os movimentos dentro do perfil).
Além da geometria do problema, o programa requer a definição em cada camada da curva de degradação do
módulo distorcional, da curva de amortecimento, das velocidades Vs e do peso volúmico.
A curva de degradação do módulo distorcional descreve como varia o módulo de corte com a amplitude da
deformação de corte. A forma da curva de degradação do módulo indica quão não-linear é a rigidez do material
(curva de degradação do módulo será horizontal para um material linear). De um modo geral, no caso dos solos
coesivos (argilosos), a não linearidade da rigidez do solo aumenta com a diminuição do índice de plasticidade
(PI), enquanto que no caso das areias normalmente aumenta com a diminuição do índice de vazios. O programa
dispõe de várias opções para a curva de degradação, de onde escolhemos: Seed-Idriss para areias, Sun,
Golesorkhi e Seed para argilas (PI=20–40) e lodos (PI=10–20) e, Idriss para o argilito.
A curva de amortecimento descreve o modo como a razão de amortecimento varia com a amplitude da
deformação de corte. A taxa de amortecimento do solo é responsável pela diminuição da amplitude com a
propagação. Diferentes tipos de solos apresentam características de amortecimento diferentes. Normalmente, nas
argilas o amortecimento do solo aumenta com a diminuição do índice de plasticidade (PI). Das opções
disponíveis no programa, escolhemos para a curva de amortecimento: Seed-Idriss para areias, Sun, Golesorkhi e
Seed para argilas (PI=20–40) e lodos (PI=10–20) e, Idriss para o subestrato.
Os valores da velocidade das ondas de corte (Vs) obtiveram-se na zona 1 com base em dados adquiridos no
Campus da UA usando a técnica MASW (Fig. 4) e na zona 2 com base no SCPT (Seismic Cone Penetration
Test) e a reflexão sísmica. Introduzindo os valores para as velocidades das ondas de corte (em ft/s ou m/s) ou
para o módulo de deformabilidade (em Ksf ou MPa), o programa calcula automaticamente o outro parâmetro a
partir do de entrada.
O peso volúmico foi obtido a partir da bibliografia e é o produto da sua massa volúmica pela aceleração da
gravidade (em Kg/m2
/s2
ou N/m3
).
8 SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA
O tipo de curva a aplicar teve em conta os índices de plasticidade, apresentados nos trabalhos de Fernando
Bonito [9] e de Agostinho da Benta [10].
Toda esta informação encontra-se sintetizada através do programa EduShake na Fig. 6.
Figura 6: Descrição das diferentes camadas com os respectivos parâmetros geotécnicos associados, para a zona
2 – Tirtife (esquerda) e para a zona 1 – Campus da UA (direita).
Quanto às características do sismo foram usados os movimentos referentes ao Yerba (Yerba Buena Island
Earthquake a 17/10/1989; M=7.0) e ao Topanga (Northridge Earthquake Station a 17/01/1994; M=6.7),
representados pela aceleração em função do tempo (à esquerda) na Fig. 7, onde também se observa à direita as
amplitudes dos Espectros de Fourier da aceleração normalizada à aceleração máxima em função da frequência.
Verifica-se que os sismos apresentam conteúdos em frequência distintos, onde as amplitudes mais altas se
encontram abaixo dos 2.5Hz no caso do sismo de Yerba e acima dos 2.5Hz no caso do sismo de Topanga.
-12
-10
-8
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
0 10 20 30 40 50 60 70
Tempo (s)
Aceleração(cm/s2)
Yerba0.1 Topanga0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1.0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55
Frequência (Hz)
Aceleraçãomáximanormalizada
Yerba0.1 Topanga0.1
Figura 7: Representação da aceleração em função do tempo à esquerda e à direita as amplitudes dos Espectros
de Fourier da aceleração normalizada à aceleração máxima em função da frequência, para os sismos Yerba e
Topanga para uma aceleração de 0.1m/s2
a 25m de profundidade.
3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Para as duas zonas consideradas, usando o programa EduShake, obtiveram-se valores de aceleração máxima, de
deformação de corte e de deslocamento horizontal, relativos a cada um dos movimentos sísmicos. Verificamos
que nas duas zonas testadas existem variações significativas no comportamento sísmico local.
A Fig. 8 mostra a resposta da aceleração máxima em profundidade para dois tipos diferentes de movimentos
sísmicos (Topanga e Yerba) nos dois locais em estudo, gerando-se deste modo duas vezes quatro ocorrências
para acelerações máximas impostas aos 25m de profundidade com os seguintes valores: 0.1m/s2
e 0.4m/s2
. Para a
menor aceleração encontra-se uma dispersão de acelerações máximas à superfície entre 0.2 e 0.5m/s2
que se
enquadram num cenário do tipo 1 para a zona sísmica 1.6 (Fig. 9).
O valor médio da distribuição de valores neste cenário de menor solicitação sísmica é de 0.35m/s2
e a variação
entre o máximo e o mínimo das quatro ocorrências em torno da média é 76%. Na Fig. 8 para a solicitação
SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 9
sísmica à superfície do tipo 1, a situação mais crítica é no Tirtife com o movimento Yerba que atinge valores de
0.5 m/s2
e o Campus UA com o Yerba que atinge 0.2 m/s2
.
No caso do outro cenário (Tipo 2) para a zona sísmica 2.4 (Fig. 9), de maior solicitação sísmica imposta no
modelo, o valor médio da distribuição de valores é de 1.1m/s2
e a variação entre o máximo e o mínimo das
quatro ocorrências em torno da média é 51%. Neste caso o movimento Topanga atingia as duas zonas com igual
intensidade à superfície, como no caso anterior, mas revelando valores mais elevados. Se o tipo de sismo fosse o
Yerba seriam atingidas as duas zonas com intensidades distintas.
Analisando a Fig. 8 verifica-se que não é possível distinguir qual dos locais é mais desfavorável em termos da
aceleração máxima superficial quando solicitados por dois sismos diferentes. Verifica-se também que por um
lado parece não depender apenas da aceleração máxima que se aplicou aos 25m de profundidade nos modelos e
por outro do movimento sísmico aplicado no local.
Figura 8: Representação de acelerações máxima em profundidade para dois movimentos sísmicos diferentes, em
dois locais diferentes, para acelerações de referência de 0.1m/s2
(valores mais à esquerda) e de 0.4m/s2
(valores
mais à direita), aos 25m de profundidade.
Figura 9: Zonamento sísmico para Portugal Continental estabelecido por Concelhos (esquerda) e respectivos
valores da aceleração máxima de referência para as várias zonas sísmicas e para os dois tipos de solicitação
sísmica (direita), adaptado de acordo com a informação constante do Anexo Nacional Português do NP EN
1998-1 [15].
Representam-se também para as duas zonas, os máximos da deformação de corte, em profundidade, por serem
importantes para modelar as deformações de corte (Fig. 10) nos dois cenários.
10 SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA
Figura 10: Representação da deformação de corte em profundidade para dois movimentos sísmicos diferentes,
em dois locais diferentes, para acelerações de referência aos 25m de profundidade de 0.1m/s2
(esquerda) e de
0.4m/s2
(direita).
Estudou-se ainda, para estas duas zonas, o deslocamento horizontal em função da profundidade (Fig. 11), por
permitir estimar os efeitos produzidos no terreno após a incidência do sismo.
Figura 11: Representação do deslocamento em profundidade para dois movimentos sísmicos diferentes, em dois
locais diferentes, para acelerações de 0.1m/s2
(esquerda) e de 0.4m/s2
(direita).
Apesar das acelerações máximas poderem ser maiores no Campus UA, na ordem de 1.4m/s2
para a acção sísmica
tipo 2 na situação do movimento Topanga, a representação dos resultados em profundidade observados na Fig.
10 e na Fig. 11 mostra que localmente a deformação máxima de corte e os deslocamentos são mais elevados no
Tirtife do que Campus UA. A dispersão observada na aceleração máxima à superfície também se observa na
deformação máxima de corte (Fig. 10) e no deslocamento máximo horizontal após a solicitação sísmica (Fig. 9).
Verifica-se nestas duas últimas figuras (Fig. 10 e Fig. 11) que as camadas de lodo intercaladas em areias
apresentam valores elevados na deformação de corte e deslocamentos elevados no final após a solicitação
sísmica. Representa-se a ponteado, nas duas figuras, um nível no Tirtife, cerca dos 10m de profundidade, onde se
observa deformações de corte para a situação mais desfavorável do tipo 2, na ordem de 0.10% e na ordem de
0.035% para tipo 1, que uma vez conhecidas podem contribuir para conhecer as acções a que estarão sujeitas as
estruturas das fundações.
4. CONCLUSÕES
Pela análise efectuada, verifica-se que a conjugação das variáveis ensaiadas (geologia do local, tipo de sismo e
aceleração máxima aos 25m de profundidade) conduz a uma dispersão de resultados que não permite distinguir
facilmente qual das duas zonas exibe maior perigosidade.
Os modelos permitiram quantificar as deformações de corte e os deslocamentos finais após o sismo em
profundidade, mostrando que no Tirtife os níveis lodosos inseridos nas areias experimentam estados
deformacionais elevados, que levam a um deslocamento final que deverá traduzir-se numa deformação
permanente na sequência sedimentar após o sismo.
SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 11
Uma vez que este tipo de transição areias-lodo é fundamental para a elaboração destes modelos, torna-se
importante a aplicação de métodos geofísicos que forneçam velocidades de ondas S e elevada resolução vertical.
Os modelos obtidos na zona lagunar poderão contribuir para o dimensionamento criterioso das estruturas de
fundação ou de melhoramento de solos, estabelecendo deste modo, através da geofísica, a ligação com a
Engenharia Civil e a Engenharia Sísmica.
5. REFERÊNCIAS
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F. and Borges, L. (2008) GEORISK – Riscos geológicos, património e sistemas de informação geográfica.
11.º Congresso Nacional de Geotecnia, IV Congresso Luso-Brasileiro de Geotecnia. (Coimbra, 7 a 11 de
Abril de 2008).
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Doutoramento, Departamento de Engenharia Civil, Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal.
[10] Benta, A. (2007) Aspectos do comportamento geomecânico da formação “Argilas de Aveiro”. Tese de
Doutoramento, Departamento de Engenharia Civil, Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal.
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Geológicos de Portugal. Lisboa.
[13] Park, C., Miller, R., Brohammer, M., Xia, J. and Ivanov, J. (2000) SurfSeis – For Multichannel Analysis of
Surface Waves (MASW) – User´s Manual, Kansas Geological Survey.
[14] Hermosilha, H. (2003) Caracterização das propriedades elásticas do sub-solo. Tese de Mestrado,
Departamento de Geociências, Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal.
[15] Eurocódigo 8 – Projecto de estruturas para resistência aos sismos Parte 1: Regras gerais, acções sísmicas e
regras para edifícios NP EN 1998-1 2009.

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Caracterização geofísica na definição do risco sísmico em Aveiro

  • 1. SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 1 CARACTERIZAÇÃO GEOFÍSICA NA DEFINIÇÃO DO RISCO SÍSMICO NA CIDADE DE AVEIRO P. GARCIA Aluno de PhD Univ. de Aveiro Aveiro - Portugal R. MOURA Professor Univ. do Porto Porto - Portugal H. HERMOSILHA Aluno de PhD Univ. de Aveiro Aveiro - Portugal F. ALMEIDA Professor Univ. de Aveiro Aveiro - Portugal C. RODRIGUES Professor Inst. Pol. da Guarda Guarda - Portugal SUMÁRIO Aveiro tem um risco sísmico moderado justificado pela aceleração máxima prevista de 0,8 m/s2 para 1,6 m/s2 , e uma probabilidade de 39,3% em 50 anos. A cidade de Aveiro tem uma população de 55000 habitantes, em que cerca de metade estão associados à actividade da Universidade de Aveiro. Para a avaliação do risco sísmico é importante combinar a informação sobre os níveis de perigosidade, vulnerabilidade e custos envolvidos. Para além disso, com o crescimento geográfico da cidade, é importante ter em conta o ordenamento do território, a fim de determinar, qual será o comportamento/resposta sísmica nos diferentes contextos geológicos e geomorfológicos da cidade. Nesse sentido, definimos duas zonas de estudo. Zona 1 corresponde à cidade de Aveiro, implantada nas formações de terraços de areia do Quaternário sobrepostos às formações de argilas do Cretáceo de Aveiro. O sistema lagunar do Holocénico, em direção ao Oeste (Zona 2), característico dos limites da cidade de Aveiro, é composto de areia e solos moles, portanto, distintos nas suas características em relação à área anterior. Propomos assim comparar a aceleração máxima prevista, a deformação distorcional e deslocamento horizontal do solo, assumindo que a componente vertical da aceleração é nula, em função da profundidade, em dois locais distintos. Neste sentido utilizaram-se alguns ensaios geofísicos usando uma combinação de técnicas sísmicas, dados geológicos e geotécnicos. Assim, pudemos obter os parâmetros (litologia e espessura das camadas) para a distribuição em profundidade das camadas geológicas, a velocidade das ondas S e outros parâmetros geotécnicos (peso volúmico e índice de plasticidade) relacionados e relativos às duas áreas e através do software EduShake determinámos os parâmetros de engenharia sísmica (aceleração vs tempo, aceleração máxima normalizada vs frequência, aceleração máxima vs profundidade, deformação máxima de corte vs profundidade e deslocamento máximo vs profundidade). Verificou-se que em ambas as áreas, existem variações significativas no comportamento das respostas sísmicas modeladas. SUMMARY Aveiro has a moderate seismic hazard justified by the predicted maximum acceleration of 0.8 m/s2 to 1.6 m/s2 , and a 39.3% probability in 50 years. The city of Aveiro has a population of 55000 inhabitants, in which about half are associated with the activity of the University of Aveiro. For seismic risk assessment it is important to combine information on the hazard levels, vulnerability and the costs involved. Moreover, with the geographical growth of the city it is important to take into account the spatial planning in order to determine, in advance, what will be the behaviour/seismic response in the different geological and geomorphological settings of the city. In this sense, we defined two study zones. Zone 1 corresponds to the city of Aveiro, deployed on flat Quaternary sand terraces overlapping the formations of the Cretaceous clays of Aveiro. The Holocene lagoon system, towards the west (Zone 2), characteristic of the Aveiro city limits, consists of sand and soft soils, thus distinct in its characteristics from the previous area. We propose a methodology to compare the predicted maximum acceleration, shear strain and horizontal displacement of the soil, assuming that the vertical component of acceleration is zero, as a function of depth, in two distinct locations. In order to do this, geophysical studies were considered using a combination of seismic techniques, geological and geotechnical data. Thus, we were able to
  • 2. 2 SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA obtain the parameters (litology and thickness) for the distribution in depth of the geological layers, the S waves velocity and other geotechnical parameters (unit weight and plasticity index) related to the two areas and with the EduShake software we determined earthquake engineering parameters (acceleration vs time, normalized maximum acceleration vs frequency, maximum acceleration vs depth, peak shear strain vs depth and displacement vs depth). We verified that in both areas there are significant variations in the behaviour of the modelled seismic responses. 1. INTRODUÇÃO O risco sísmico pode ser definido como sendo a descrição probabilística das consequências para a sociedade e para a economia da ocorrência de sismos, percepcionado a partir dos efeitos, cujas consequências nem sempre ficam na memória das populações. Para se determinar o risco sísmico, será necessário avaliar a perigosidade sísmica, a vulnerabilidade e os custos associados, visto que o risco provém da relação entre estes factores. A perigosidade sísmica descreve estatisticamente a probabilidade de ocorrência dum determinado nível de parâmetro, como a intensidade, a velocidade e a aceleração. Em particular a perigosidade, requer a determinação de um zonamento de parâmetros obtidos da geofísica e da geologia local, sendo que a geologia do terreno também influencia a vulnerabilidade. A vulnerabilidade está relacionada com os danos produzidos nos edifícios, numa escala que pode variar entre 0 (danos nulos) e 1 (colapso). Enquanto os custos se referem a danos em termos de vidas humanas ou a danos económicos [1]. Neste estudo, pretendemos mostrar a importância da caracterização geofísica na definição do risco sísmico na cidade de Aveiro e o modo como pode proporcionar parâmetros e interpretações, aplicáveis na Engenharia Civil e na Engenharia Sísmica. Aveiro apresenta uma perigosidade sísmica moderada, 0,8 m/s2 a 1,6 m/s2 , para acelerações máximas com 39,3% de probabilidade em 50 anos, com um período de retorno de 100 anos [2]. A cidade de Aveiro alberga uma população de 55000 habitantes, em que cerca de metade está ligada ao desenvolvimento da Universidade de Aveiro (UA). Em cada local do terreno a influência da geologia local e as características do solo condicionam a amplificação do movimento do terreno devido aos efeitos do sítio, podendo resultar danos severos no edificado. Obtendo dados geotécnicos e geofísicos da subsuperfície em dois locais diferentes, podem comparar-se as respostas do terreno para várias acelerações máximas de referência e vários tipos de sismos. A espessura dos depósitos aluvionares pode amplificar com intensidades diferentes o movimento do terreno, resultando em danos significativos em edifícios residenciais na região afectada pelo sismo. A caracterização geofísica pode realizar-se através de métodos de reflexão sísmica, MASW (Multichannel Analysis of Surface Waves) [3], refracção sísmica, na determinação da forma e velocidades de ondas S, dos quais deriva o modelo do módulo de rigidez dinâmico. Outros estudos foram anteriormente desenvolvidos para a Península Ibérica [2], para Portugal continental com um projecto sobre os elementos para a caracterização do risco sísmico na região de Faro [4], para a região de Lisboa [5], para a região do Porto [6] e para a região do Algarve [7]. Este trabalho apoiou-se em informação geofísica relativa às velocidades das ondas P e S obtida com cone sísmico (SCPT – Seismic Cone Penetration Test), e reflexão de ondas S do Tirtife [8] e na Universidade de Aveiro, com a técnica MASW, além de informação geotécnica do sistema lagunar [9] e do Campus da UA [10]. Neste estudo foi usado o EduShake [11], um programa de simulação da resposta sísmica do terreno para camadas horizontais, que permite obter leituras sobre o comportamento de parâmetros relacionados com movimentos do terreno, aquando da ocorrência de sismos.
  • 3. SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 3 Figura 1: Localização da cidade de Aveiro, na zona centro de Portugal, com os dois locais de estudo assinalados (imagens adaptadas do GoogleEarth). Este estudo poderá ser relevante em termos da prevenção do risco sísmico, dado que permitirá estudar a resposta do terreno através dos parâmetros da Engenharia Sísmica (aceleração máxima, deformação de corte máxima e deslocamento horizontal final em função da profundidade) em duas zonas de referência na cidade de Aveiro; uma associada à laguna com uma espessura de solos moles de cerca de 25m (Tirtife) e outra na Universidade de Aveiro onde ocorre uma cobertura sedimentar quaternária com aproximadamente 9m (Campus UA), assinaladas na Fig. 1. O estudo contempla também a resposta do terreno para dois sismos (Topanga e Yerba) e duas intensidades para aceleração máxima de referência aos 25m de profundidade. 2. METODOLOGIA Para avaliação do risco sísmico é importante cruzar informação da perigosidade, da vulnerabilidade e dos custos. Por outro lado, a expansão geográfica da cidade terá em conta planos de ordenamento territorial, sendo possível determinar previamente quais serão os comportamentos/resposta à solicitação sísmica, das diversas zonas com características geológicas e geomorfológicas diferentes. Nesse sentido, definem-se duas zonas de estudo. A zona 1 (Campus UA) corresponde à cidade de Aveiro, implantada sobre terraços quaternários aplanados que se sobrepõem às formações cretácicas de arenitos e argilas de Aveiro [10]. A zona 2 (Tirtife) pretende representar o sistema lagunar holocénico de Aveiro que limita a cidade a poente e é constituída por materiais geológicos, areias e solos moles [9], com características distintas da zona anterior, que sofre a pressão da ocupação humana. O planeamento correcto do desenvolvimento urbano poderá contar com informação acerca das características distintas destes dois locais, relativamente à solicitação sísmica. 2.1. Caracterização geológica e geomorfológica Em termos geológicos, na região de Aveiro estão representadas várias unidades, como é o caso de depósitos modernos (aluviões actuais, areias de praia e areias de duna), o Plistocénico (depósitos de praias antigas com níveis entre os 5m e os 50m, depósitos de terraços fluviais e blocos residuais) e o Cretácico representado pelos arenitos e argilas de Aveiro – “Série flúvio-marinha” de Choffat (Maestrichtiano) [12]. Em termos geomorfológicos, a região de Aveiro é baixa e aplanada e formada por inúmeros braços de ria. Os pontos mais elevados em pouco excedem as centenas de metros [12].
  • 4. 4 SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA Na Fig. 2 pode observar-se o limite da cidade de Aveiro sobreposto a um excerto modificado da folha 16-A da Carta Geológica de Portugal de 2005, onde afloram formações do Cretácico, contornando os vales que foram preenchidos pelos solos moles holocénicos. Figura 2: Excerto modificado (datum 73 Hayford Gauss IPCC) da folha 16-A da carta geológica de Portugal de 2005 (1:50000) sobreposto com o limite da cidade de Aveiro. 2.2. Caracterização Geofísica Para a zona 1 (Campus UA) utilizou-se a técnica MASW. Os dados de 48 canais foram obtidos para um offset mínimo de 10m e com espaçamento de 1m entre os geofones de 4Hz (Fig. 3-a). Os resultados das velocidades e espessuras das camadas foram obtidos com o programa SurfSeis do Kansas Geological Survey [13], para uma banda interpretada entre as velocidades 190 e 255m/s onde se minimiza o sinal das primeiras chegadas (mutting superior) e de modos superiores de vibração (mutting inferior) (Fig. 3-a). A informação limitada à banda central forneceu uma curva de dispersão da velocidade de fase em função da frequência (Fig. 3-b). Esta curva experimental foi amostrada em 17 pontos e ajustada teoricamente através do processo de inversão do software SurfSeis, fornecendo o modelo de velocidades das ondas S (Fig. 3-c) utilizado no programa EduShake. Para a zona 2 (Tirtife) a abordagem geofísica a partir de reflexões de ondas S mostrou ser promissora para a caracterização a profundidades superiores às obtidas com o SCPT [8] (Fig. 4). Com base na informação das velocidades sísmicas obtidas pelo SCPT até à profundidade de 13m; a partir da reflexão sísmica de ondas S para um registo corrigido com normal moveout [8] e de uma secção sísmica de ondas S para espaçamento entre geofones de 0.5m obtida após empilhamento de 24 pontos médios comuns (CMP stack) [14] foi possível, de acordo com a caracterização litológica de uma amostragem através de uma sondagem mecânica feita no local [9], propor o modelo de velocidades para utilizar no EduShake.
  • 5. SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 5 Figura 3 – Técnica MASW aplicada no Campus da UA. a) Registo sísmico de 24 canais com 2 geofones verticais de 4Hz. b) Curva de dispersão obtida com o SurfSeis [13] utilizando a área sombreada do registo em a). c) Modelo obtido para 7 iterações e a representação da razão sinal/ruído.
  • 6. 6 SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA Figura 4 – Reflexão sísmica de ondas S para a zona 2 (Tirtife). Adaptado de [8], [9] e [14]. 2.3. Programa EduShake O programa EduShake, equivalente ao ProShake mas limitado apenas a 6 movimentos de entrada diferentes, é um programa de utilização gratuita que permite definir o número e as propriedades das camadas, especificar o tipo de movimento actuante, a profundidade a que se encontra o nível freático e o peso volúmico. Admite a propagação de ondas de corte no sentido ascendente das camadas. A abordagem do problema através deste programa é limitada ao modelo de camadas horizontais que em primeira abordagem na região de Aveiro, de relevo suave e camadas sedimentares horizontais nos parece aceitável para um estudo abrangente de fraca definição espacial. Os locais correspondentes aos vales da cidade preenchidos por sedimentos recentes, cuja geometria importa conhecer, não poderão ser modelados por este programa, sendo no entanto possível fazê-lo através de modelação 3D. Definindo as características do movimento sísmico de entrada, o programa permite calcular aceleração, velocidade, deslocamentos, tensões e deformações vs tempo e vs profundidade. Neste estudo, projectaram-se em função da profundidade os parâmetros: aceleração máxima, deformações de corte e deslocamentos horizontais residuais após o sismo. Toda a informação geológica, geotécnica e geofísica utilizada foi retirada dos trabalhos efectuados no Tirtife por Fernando Bonito [9] e Helder Hermosilha [14] e do trabalho de Agostinho da Benta [10] para a caracterização das formações da zona 1, correspondente à área de implantação da cidade. A distribuição das camadas em profundidade foi estabelecida com base na informação obtida na bibliografia e julga-se que possa ser representativa dos dois ambientes distintos, sobre os quais nos propomos estabelecer comparações ao nível da resposta sísmica. No que diz respeito à distribuição vertical das camadas horizontais, definiram-se espessuras das camadas obtidas pelo cruzamento dos logs das sondagens com os modelos geofísicos gerados, quer através da reflexão sísmica como do MASW, que pode ser visualizado no perfil criado pelo programa (Fig. 5). Os logs da Fig. 5 pretendem caracterizar os dois ambientes geologicamente distintos.
  • 7. SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 7 Figura 5: Perfil para a zona 2 – Tirtife (esquerda) e para a zona 1 – Campus da UA (direita), baseado nos parâmetros geotécnicos e geofísicos obtidos, nomeadamente o tipo de material, a velocidade das ondas de corte e o peso volúmico. O perfil indica também profundidade em que os movimentos de entrada são aplicadas (círculos vermelhos para movimentos dentro do perfil) e as profundidades em que a saída é calculada (com círculos verdes para os movimentos dentro do perfil). Além da geometria do problema, o programa requer a definição em cada camada da curva de degradação do módulo distorcional, da curva de amortecimento, das velocidades Vs e do peso volúmico. A curva de degradação do módulo distorcional descreve como varia o módulo de corte com a amplitude da deformação de corte. A forma da curva de degradação do módulo indica quão não-linear é a rigidez do material (curva de degradação do módulo será horizontal para um material linear). De um modo geral, no caso dos solos coesivos (argilosos), a não linearidade da rigidez do solo aumenta com a diminuição do índice de plasticidade (PI), enquanto que no caso das areias normalmente aumenta com a diminuição do índice de vazios. O programa dispõe de várias opções para a curva de degradação, de onde escolhemos: Seed-Idriss para areias, Sun, Golesorkhi e Seed para argilas (PI=20–40) e lodos (PI=10–20) e, Idriss para o argilito. A curva de amortecimento descreve o modo como a razão de amortecimento varia com a amplitude da deformação de corte. A taxa de amortecimento do solo é responsável pela diminuição da amplitude com a propagação. Diferentes tipos de solos apresentam características de amortecimento diferentes. Normalmente, nas argilas o amortecimento do solo aumenta com a diminuição do índice de plasticidade (PI). Das opções disponíveis no programa, escolhemos para a curva de amortecimento: Seed-Idriss para areias, Sun, Golesorkhi e Seed para argilas (PI=20–40) e lodos (PI=10–20) e, Idriss para o subestrato. Os valores da velocidade das ondas de corte (Vs) obtiveram-se na zona 1 com base em dados adquiridos no Campus da UA usando a técnica MASW (Fig. 4) e na zona 2 com base no SCPT (Seismic Cone Penetration Test) e a reflexão sísmica. Introduzindo os valores para as velocidades das ondas de corte (em ft/s ou m/s) ou para o módulo de deformabilidade (em Ksf ou MPa), o programa calcula automaticamente o outro parâmetro a partir do de entrada. O peso volúmico foi obtido a partir da bibliografia e é o produto da sua massa volúmica pela aceleração da gravidade (em Kg/m2 /s2 ou N/m3 ).
  • 8. 8 SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA O tipo de curva a aplicar teve em conta os índices de plasticidade, apresentados nos trabalhos de Fernando Bonito [9] e de Agostinho da Benta [10]. Toda esta informação encontra-se sintetizada através do programa EduShake na Fig. 6. Figura 6: Descrição das diferentes camadas com os respectivos parâmetros geotécnicos associados, para a zona 2 – Tirtife (esquerda) e para a zona 1 – Campus da UA (direita). Quanto às características do sismo foram usados os movimentos referentes ao Yerba (Yerba Buena Island Earthquake a 17/10/1989; M=7.0) e ao Topanga (Northridge Earthquake Station a 17/01/1994; M=6.7), representados pela aceleração em função do tempo (à esquerda) na Fig. 7, onde também se observa à direita as amplitudes dos Espectros de Fourier da aceleração normalizada à aceleração máxima em função da frequência. Verifica-se que os sismos apresentam conteúdos em frequência distintos, onde as amplitudes mais altas se encontram abaixo dos 2.5Hz no caso do sismo de Yerba e acima dos 2.5Hz no caso do sismo de Topanga. -12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 0 10 20 30 40 50 60 70 Tempo (s) Aceleração(cm/s2) Yerba0.1 Topanga0.1 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 Frequência (Hz) Aceleraçãomáximanormalizada Yerba0.1 Topanga0.1 Figura 7: Representação da aceleração em função do tempo à esquerda e à direita as amplitudes dos Espectros de Fourier da aceleração normalizada à aceleração máxima em função da frequência, para os sismos Yerba e Topanga para uma aceleração de 0.1m/s2 a 25m de profundidade. 3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para as duas zonas consideradas, usando o programa EduShake, obtiveram-se valores de aceleração máxima, de deformação de corte e de deslocamento horizontal, relativos a cada um dos movimentos sísmicos. Verificamos que nas duas zonas testadas existem variações significativas no comportamento sísmico local. A Fig. 8 mostra a resposta da aceleração máxima em profundidade para dois tipos diferentes de movimentos sísmicos (Topanga e Yerba) nos dois locais em estudo, gerando-se deste modo duas vezes quatro ocorrências para acelerações máximas impostas aos 25m de profundidade com os seguintes valores: 0.1m/s2 e 0.4m/s2 . Para a menor aceleração encontra-se uma dispersão de acelerações máximas à superfície entre 0.2 e 0.5m/s2 que se enquadram num cenário do tipo 1 para a zona sísmica 1.6 (Fig. 9). O valor médio da distribuição de valores neste cenário de menor solicitação sísmica é de 0.35m/s2 e a variação entre o máximo e o mínimo das quatro ocorrências em torno da média é 76%. Na Fig. 8 para a solicitação
  • 9. SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 9 sísmica à superfície do tipo 1, a situação mais crítica é no Tirtife com o movimento Yerba que atinge valores de 0.5 m/s2 e o Campus UA com o Yerba que atinge 0.2 m/s2 . No caso do outro cenário (Tipo 2) para a zona sísmica 2.4 (Fig. 9), de maior solicitação sísmica imposta no modelo, o valor médio da distribuição de valores é de 1.1m/s2 e a variação entre o máximo e o mínimo das quatro ocorrências em torno da média é 51%. Neste caso o movimento Topanga atingia as duas zonas com igual intensidade à superfície, como no caso anterior, mas revelando valores mais elevados. Se o tipo de sismo fosse o Yerba seriam atingidas as duas zonas com intensidades distintas. Analisando a Fig. 8 verifica-se que não é possível distinguir qual dos locais é mais desfavorável em termos da aceleração máxima superficial quando solicitados por dois sismos diferentes. Verifica-se também que por um lado parece não depender apenas da aceleração máxima que se aplicou aos 25m de profundidade nos modelos e por outro do movimento sísmico aplicado no local. Figura 8: Representação de acelerações máxima em profundidade para dois movimentos sísmicos diferentes, em dois locais diferentes, para acelerações de referência de 0.1m/s2 (valores mais à esquerda) e de 0.4m/s2 (valores mais à direita), aos 25m de profundidade. Figura 9: Zonamento sísmico para Portugal Continental estabelecido por Concelhos (esquerda) e respectivos valores da aceleração máxima de referência para as várias zonas sísmicas e para os dois tipos de solicitação sísmica (direita), adaptado de acordo com a informação constante do Anexo Nacional Português do NP EN 1998-1 [15]. Representam-se também para as duas zonas, os máximos da deformação de corte, em profundidade, por serem importantes para modelar as deformações de corte (Fig. 10) nos dois cenários.
  • 10. 10 SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA Figura 10: Representação da deformação de corte em profundidade para dois movimentos sísmicos diferentes, em dois locais diferentes, para acelerações de referência aos 25m de profundidade de 0.1m/s2 (esquerda) e de 0.4m/s2 (direita). Estudou-se ainda, para estas duas zonas, o deslocamento horizontal em função da profundidade (Fig. 11), por permitir estimar os efeitos produzidos no terreno após a incidência do sismo. Figura 11: Representação do deslocamento em profundidade para dois movimentos sísmicos diferentes, em dois locais diferentes, para acelerações de 0.1m/s2 (esquerda) e de 0.4m/s2 (direita). Apesar das acelerações máximas poderem ser maiores no Campus UA, na ordem de 1.4m/s2 para a acção sísmica tipo 2 na situação do movimento Topanga, a representação dos resultados em profundidade observados na Fig. 10 e na Fig. 11 mostra que localmente a deformação máxima de corte e os deslocamentos são mais elevados no Tirtife do que Campus UA. A dispersão observada na aceleração máxima à superfície também se observa na deformação máxima de corte (Fig. 10) e no deslocamento máximo horizontal após a solicitação sísmica (Fig. 9). Verifica-se nestas duas últimas figuras (Fig. 10 e Fig. 11) que as camadas de lodo intercaladas em areias apresentam valores elevados na deformação de corte e deslocamentos elevados no final após a solicitação sísmica. Representa-se a ponteado, nas duas figuras, um nível no Tirtife, cerca dos 10m de profundidade, onde se observa deformações de corte para a situação mais desfavorável do tipo 2, na ordem de 0.10% e na ordem de 0.035% para tipo 1, que uma vez conhecidas podem contribuir para conhecer as acções a que estarão sujeitas as estruturas das fundações. 4. CONCLUSÕES Pela análise efectuada, verifica-se que a conjugação das variáveis ensaiadas (geologia do local, tipo de sismo e aceleração máxima aos 25m de profundidade) conduz a uma dispersão de resultados que não permite distinguir facilmente qual das duas zonas exibe maior perigosidade. Os modelos permitiram quantificar as deformações de corte e os deslocamentos finais após o sismo em profundidade, mostrando que no Tirtife os níveis lodosos inseridos nas areias experimentam estados deformacionais elevados, que levam a um deslocamento final que deverá traduzir-se numa deformação permanente na sequência sedimentar após o sismo.
  • 11. SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 11 Uma vez que este tipo de transição areias-lodo é fundamental para a elaboração destes modelos, torna-se importante a aplicação de métodos geofísicos que forneçam velocidades de ondas S e elevada resolução vertical. Os modelos obtidos na zona lagunar poderão contribuir para o dimensionamento criterioso das estruturas de fundação ou de melhoramento de solos, estabelecendo deste modo, através da geofísica, a ligação com a Engenharia Civil e a Engenharia Sísmica. 5. REFERÊNCIAS [1] Bezzeghoud, M., Borges, J. and Caldeira, B. (2008) Riscos sísmicos em Portugal. Departamento de Física e Centro de Geofísica de Évora. Visitado em: www.alentejolitoral.pt [2] Montilla, J. and Casado, C. (2002) Seismic hazard estimate at the Iberian Peninsula. Pure and Applied Geophysics, 159, pp. 2699-2713. [3] Park, C. B., Miller, R. D. and Xia, J. (1999) Multichannel Analysis of Surface Waves (MASW). Geophysics, v. 64, n. 3, 800-808. [4] Almeida, F., Moura, R., Almeida, I. M. and Costa, P., (1997) Elementos para a caracterização do risco sísmico na região meridional do continente português (ECARISCOPO). Tarefa IV.2 – Estudo do comportamento dos solos. [5] Victor, L., Oliveira, C., Pais, I. and Costa, P., (1994) Earthquake damage scenarios in Lisbon for disaster preparedness. Kluwer Academic Publishers. [6] Sousa, M., Moura, R., Fernandes, I., Cunha, M., Afonso, D., Paulo, J., Azevedo, F., Carvalho, A., Noronha, F. and Borges, L. (2008) GEORISK – Riscos geológicos, património e sistemas de informação geográfica. 11.º Congresso Nacional de Geotecnia, IV Congresso Luso-Brasileiro de Geotecnia. (Coimbra, 7 a 11 de Abril de 2008). [7] Rodriguez, J., Queirós, M., Henriques, E. B., Palma, P., and Vaz, T., (2007) Estudo do risco sísmico e tsunamis no Algarve (ERSTA) – Aspectos metodológicos da determinação das vulnerabilidades humanas. [8] Ghose, R., Almeida, F., Hermosilha, H., Bonito, F. & Cardoso, C. (2002) Shallow, S-wave reflections over lagoon deposits. 8th International Meeting EEGS European Section, Aveiro, Portugal. [9] Bonito, F. (2008) Reologia dos lodos e de outros sedimentos recentes da ria de Aveiro. Tese de Doutoramento, Departamento de Engenharia Civil, Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal. [10] Benta, A. (2007) Aspectos do comportamento geomecânico da formação “Argilas de Aveiro”. Tese de Doutoramento, Departamento de Engenharia Civil, Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal. [11] EduPro Civil Systems, Inc. (2003) ProShake – Ground Response Analysis Program, version 1.1, User’s Manual, Redmond, Washington. [12] Teixeira, C. and Zbyszewski, G. (1976) Mapa e Notícia Explicativa da Folha 16-A (Aveiro) da Carta Geológica de Portugal à escala 1:50000. Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos. Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. [13] Park, C., Miller, R., Brohammer, M., Xia, J. and Ivanov, J. (2000) SurfSeis – For Multichannel Analysis of Surface Waves (MASW) – User´s Manual, Kansas Geological Survey. [14] Hermosilha, H. (2003) Caracterização das propriedades elásticas do sub-solo. Tese de Mestrado, Departamento de Geociências, Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal. [15] Eurocódigo 8 – Projecto de estruturas para resistência aos sismos Parte 1: Regras gerais, acções sísmicas e regras para edifícios NP EN 1998-1 2009.