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Relato de Caso
Introdução
A síndrome de Eisenmenger consiste em hipertensão
pulmonar com shunt reverso ou bidirecional ao nível
atrioventricular ou aortopulmonar. Na gestação, essa
síndrome está associada com alta taxa de mortalidade (30
a 50%). Normalmente, a hipertensão pulmonar é agravada
durante a gestação, levando a um resultado desfavorável.
Neste artigo, relatamos um caso de gestante portadora de
síndrome de Eisenmenger com boa evolução materna e
do recém-nascido.
Relato do caso
Mulher de 26 anos com asma moderada persistente
referia dispnéia e cianose nos membros inferiores, com
amenorréia de oito semanas. Tercigesta, com antecedente
obstétrico de um natimorto por prematuridade extrema e um
recém-nascido com restrição de crescimento intra-uterino. A
gestante fazia uso de oxigenoterapia domiciliar associada com
formoterol e budesonida.
Ao exame físico apresentava freqüência cardíaca de 80
bpm e pressão arterial de 110/70 mmHg, cianose periférica,
policitemia (hematócrito de 71%), baqueteamento digital,
segunda bulha hipofonética e sopro sistólico +/+6 na
borda esternal esquerda. O ecocardiograma bidimensional
(Eco 2D) e o ecocardiograma com Doppler mostraram
uma comunicação interventricular de 15 mm com fluxo
bidirecional, hipertensão pulmonar (pressão arterial pulmonar
de 115 mm Hg) e aumento leve das câmaras direitas. A
abordagem clínica consistiu em restrição da atividade física,
oxigenoterapia contínua e aspirina (100 mg ao dia). Em virtude
da policitemia, foram feitas duas flebotomias, a primeira na
oitava semana e a segunda na 25ª semana. O crescimento
do feto foi avaliado por exames ultra-sonográficos seriados.
A gestação evoluiu sem intercorrências até a 26ª semana,
quando a paciente apresentou piora da dispnéia associada
a edema nos membros inferiores e aumento de peso; sendo
introduzido diurético. Após uma semana, a paciente foi
internada para acompanhamento até o parto. Na 29ª semana
iniciou-se a administração subcutânea de heparina. Na 32ª
semana a paciente teve infecção brônquica e foi tratada
com cefalotina, apresentando melhora. Na 33ª semana foi
realizada corticoterapia para a maturidade pulmonar fetal.
A amniocentese revelou maturidade fetal e a presença de
mecônio. A paciente foi submetida a uma cesariana com
laqueadura tubária e deu à luz a um recém - nascido do sexo
feminino com 2,250 g e índice de Apagar 7/9/10.
Seis dias após a cesariana a paciente apresentou dispnéia,
e suspeitou-se de embolia pulmonar, sendo instituída
terapia anticoagulante. Houve melhora do quadro clínico
e ela recebeu alta 17 dias após a cesariana. Na consulta de
reavaliação realizada 40 dias após parto, a paciente referia
dispnéia aos esforços moderados. Atualmente, está em uso de
oxigenoterapia e aguardando transplante cardiopulmonar.
Discussão
As alterações hemodinâmicas que ocorrem durante
a gestação contribuem para aumento da mortalidade
materna em portadoras de síndrome de Eisenmenger. O
aumento progressivo do volume plasmático, que atinge
cerca de 50% acima dos valores iniciais no início do terceiro
trimestre, compromete ainda mais o ventrículo direito e
pode desencadear insuficiência cardíaca direita. A doença
vascular pulmonar preexistente restringe esse maior fluxo de
sangue para os pulmões e sobrecarrega o ventrículo direito.
A vasodilatação sistêmica é uma adaptação fisiológica da
gestação e está associada com aumento do débito cardíaco
Palavras-chave
Hipertensão pulmonar, gravidez.
AsíndromedeEisenmengerconsisteemhipertensãopulmonar
com shunt reverso ou bidirecional ao nível atrioventricular ou
aortopulmonar. Na gestação, essa síndrome está associada
com altas taxas de mortalidade (30 a 50%). Normalmente, a
hipertensão pulmonar é agravada durante a gestação, levando
a um resultado desfavorável. Neste artigo, relatamos um caso
de gestante portadora de síndrome de Eisenmenger com boa
evolução materna e do recém-nascido.
Eisenmenger’s syndrome consists of pulmonary
hypertension with a reversed or bidirectional shunt at the
atrioventricular, or aortopulmonary level. Eisenmerger’s
syndrome in pregnancy is usually associated with high
mortality rates (nearly 30-50%). Unfortunately, pulmonary
hypertension is aggravated during pregnancy and often leads
to an unfavorable outcome. Here, we report a successful
pregnancy in a woman with Eisenmenger syndrome.
Síndrome de Eisenmenger na Gravidez
Eisenmenger Syndrome in Pregnancy
Vera Therezinha Medeiros Borges, Claudia Garcia Magalhães, Anice Maria V. C. Martins, Beatriz B. Matsubara
Faculdade de Medicina de Botucatu, Botucatu, SP - Brasil
Correspondência: Vera Therezinha Medeiros Borges •
Rua da Harmonia, 298 - Recanto Azul – 18603-110, Botucatu, SP - Brasil
E-mail: vborges@fmb.unesp.br
Artigo recebido em 11/04/07; revisado recebido em 04/06/07; aceito em
23/07/07.
e40
Relato de Caso
Borges e cols.
Síndrome de Eisenmenger na gravidez
Arq Bras Cardiol 2008; 90(5): e40-e41
alta incidência de prematuros.
O tipo de anestesia para essas pacientes também é
controverso. Teoricamente, a anestesia por condução, com
o risco associado de hipotensão, deve ser evitada. A infusão
de morfina peridural ou intratecal, técnica que não exerce
efeito sobre a pressão arterial sistêmica, talvez seja a melhor
abordagem ao tratamento anestésico dessas pacientes, por
não exercer efeito sobre a pressão arterial.
Não existe consenso sobre o tipo de parto mais adequado
para essa entidade clínica7
. Após o parto, a terapia de
anticoagulação pode ser reiniciada, caso não haja hemorragia,
seguida pela administração de warfarínicos. O monitoramento
hospitalar deve ser mantido durante pelo menos duas semanas
após o parto.
A taxa de mortalidade de gestantes portadoras de
síndrome de Eisenmenger que engravidaram ainda é elevada.
Todas as pacientes devem ser aconselhadas a usar métodos
contraceptivos. Caso ocorra a gravidez, a paciente deverá
ser aconselhada a interromper a gestação. Se a gravidez for
mantida, as estratégias de tratamento mencionadas acima
poderão ser úteis, com hospitalização prolongada antes e
depois do parto.
Potencial Conflito de Interesses
Declaro não haver conflito de interesses pertinentes.
Fontes de Financiamento
O presente estudo não teve fontes de financiamento
externas.
Vinculação Acadêmica
Não há vinculação deste estudo a programas de pós-
graduação.
e fluxo de sangue renal. À medida que a resistência vascular
periférica diminui, as pacientes com síndrome de Eisenmenger
apresentam aumento do fluxo da direita para a esquerda,
exacerbando a hipóxia preexistente, que, por sua vez, pode
piorar a vasoconstrição pulmonar. Durante o trabalho de
parto e o parto, pode ocorrer um grave comprometimento
hemodinâmico. Acidose e hipercapnia podem aumentar ainda
mais a resistência vascular pulmonar. Qualquer hipovolemia
causada por hemorragia ou hipotensão pode resultar em morte
súbita. Além disso, a paciente pode morrer por tromboembolia
pulmonar ou infarto pulmonar in situ1
.
O grau de hipoxemia materna é o maior preditor de
prognóstico fetal. Níveis de saturação de oxigênio arterial menor
ou igual a 85% anterior à gestação estão associados com apenas
12% de nascimentos vivos, enquanto níveis de saturação de
90% ou mais estão associados a 92% de nascimentos vivos2
.
Isso explica a elevada incidência de abortos espontâneos, de
parto prematuro e baixo peso ao nascimento, uma vez que a
hipoxemia materna prejudica o crescimento fetal1-3
.
A taxa de mortalidade materna em portadoras de síndrome
de Eisenmenger é alta (em torno de 30 a 50%1,4
). Gleicher e
cols.1
relataram taxa de mortalidade de 34% para parto vaginal
e de 75% para cesariana.
Tendo em vista a alta taxa de mortalidade associada com
a continuação da gestação, o tratamento de opção para
mulheres com síndrome de Eisenmenger é a indução do
aborto. Se a gravidez não for interrompida, recomenda-se a
hospitalização no segundo trimestre de gestação5
.
A administração contínua de oxigênio, a anticoagulação
e o uso de vasodilatador pulmonar é objeto de controvérsia.
Embora não existam estudos clínicos controlados, um estudo
brasileiro realizado com 13 gestantes6
relatou redução na taxa
de mortalidade materna (23%) com um esquema terapêutico
composto por oxigênio, heparina e warfarínico 48 horas após
o parto. Sessenta por cento dos bebês nasceram vivos, embora
Referências
1.	 Gleicher N, Midwall J, Hochberger D, Jaffin H. Eisenmenger’s syndrome and
pregnancy. Obstet Gynecol Survey. 1979; 34: 721-41.
2.	 Presbitero P, Somerville J, Stone S, Aruta E, Spiegelhalter D, Rabojoli
F. Pregnancy in cyanotic heart disease: outcome of mother and fetus.
Circulation. 1994; 89: 2673-6.
3.	 Whittemore R, Hobbins J, Engle M. Pregnancy and its outcome in women
with or without surgical treatment of congenital heart disease. Am J Cardiol.
1982; 50: 641-51.
4.	 DalientoL,MentiL,DiLenardoL.Successfulmanagementofapregnancyathigh
risk because of Eisenmenger reaction. Cardiol Young. 1999; 9 (6): 613-6.
5.	 Weiss BM, Hess OM. Pulmonary vascular disease and pregnancy: current
controversies, management strategies, and perspectives. Eur Heart J. 2000;
21: 104-15.
6.	 Avila WS, Grinberg M, Snitcowsky R, Faccioli R, Da Luz PL, Bellotti G, et
al. Maternal and fetal outcome in pregnant women with Eisenmenger’s
syndrome. Eur Heart J. 1995; 16 (4): 460-4.
7.	 Head CEG, Thorne SA. Congenital heart disease in pregnancy. Postgrad Med
J. 2005; 81: 292-8.
e41

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Gestante com Síndrome de Eisenmenger tem boa evolução

  • 1. Relato de Caso Introdução A síndrome de Eisenmenger consiste em hipertensão pulmonar com shunt reverso ou bidirecional ao nível atrioventricular ou aortopulmonar. Na gestação, essa síndrome está associada com alta taxa de mortalidade (30 a 50%). Normalmente, a hipertensão pulmonar é agravada durante a gestação, levando a um resultado desfavorável. Neste artigo, relatamos um caso de gestante portadora de síndrome de Eisenmenger com boa evolução materna e do recém-nascido. Relato do caso Mulher de 26 anos com asma moderada persistente referia dispnéia e cianose nos membros inferiores, com amenorréia de oito semanas. Tercigesta, com antecedente obstétrico de um natimorto por prematuridade extrema e um recém-nascido com restrição de crescimento intra-uterino. A gestante fazia uso de oxigenoterapia domiciliar associada com formoterol e budesonida. Ao exame físico apresentava freqüência cardíaca de 80 bpm e pressão arterial de 110/70 mmHg, cianose periférica, policitemia (hematócrito de 71%), baqueteamento digital, segunda bulha hipofonética e sopro sistólico +/+6 na borda esternal esquerda. O ecocardiograma bidimensional (Eco 2D) e o ecocardiograma com Doppler mostraram uma comunicação interventricular de 15 mm com fluxo bidirecional, hipertensão pulmonar (pressão arterial pulmonar de 115 mm Hg) e aumento leve das câmaras direitas. A abordagem clínica consistiu em restrição da atividade física, oxigenoterapia contínua e aspirina (100 mg ao dia). Em virtude da policitemia, foram feitas duas flebotomias, a primeira na oitava semana e a segunda na 25ª semana. O crescimento do feto foi avaliado por exames ultra-sonográficos seriados. A gestação evoluiu sem intercorrências até a 26ª semana, quando a paciente apresentou piora da dispnéia associada a edema nos membros inferiores e aumento de peso; sendo introduzido diurético. Após uma semana, a paciente foi internada para acompanhamento até o parto. Na 29ª semana iniciou-se a administração subcutânea de heparina. Na 32ª semana a paciente teve infecção brônquica e foi tratada com cefalotina, apresentando melhora. Na 33ª semana foi realizada corticoterapia para a maturidade pulmonar fetal. A amniocentese revelou maturidade fetal e a presença de mecônio. A paciente foi submetida a uma cesariana com laqueadura tubária e deu à luz a um recém - nascido do sexo feminino com 2,250 g e índice de Apagar 7/9/10. Seis dias após a cesariana a paciente apresentou dispnéia, e suspeitou-se de embolia pulmonar, sendo instituída terapia anticoagulante. Houve melhora do quadro clínico e ela recebeu alta 17 dias após a cesariana. Na consulta de reavaliação realizada 40 dias após parto, a paciente referia dispnéia aos esforços moderados. Atualmente, está em uso de oxigenoterapia e aguardando transplante cardiopulmonar. Discussão As alterações hemodinâmicas que ocorrem durante a gestação contribuem para aumento da mortalidade materna em portadoras de síndrome de Eisenmenger. O aumento progressivo do volume plasmático, que atinge cerca de 50% acima dos valores iniciais no início do terceiro trimestre, compromete ainda mais o ventrículo direito e pode desencadear insuficiência cardíaca direita. A doença vascular pulmonar preexistente restringe esse maior fluxo de sangue para os pulmões e sobrecarrega o ventrículo direito. A vasodilatação sistêmica é uma adaptação fisiológica da gestação e está associada com aumento do débito cardíaco Palavras-chave Hipertensão pulmonar, gravidez. AsíndromedeEisenmengerconsisteemhipertensãopulmonar com shunt reverso ou bidirecional ao nível atrioventricular ou aortopulmonar. Na gestação, essa síndrome está associada com altas taxas de mortalidade (30 a 50%). Normalmente, a hipertensão pulmonar é agravada durante a gestação, levando a um resultado desfavorável. Neste artigo, relatamos um caso de gestante portadora de síndrome de Eisenmenger com boa evolução materna e do recém-nascido. Eisenmenger’s syndrome consists of pulmonary hypertension with a reversed or bidirectional shunt at the atrioventricular, or aortopulmonary level. Eisenmerger’s syndrome in pregnancy is usually associated with high mortality rates (nearly 30-50%). Unfortunately, pulmonary hypertension is aggravated during pregnancy and often leads to an unfavorable outcome. Here, we report a successful pregnancy in a woman with Eisenmenger syndrome. Síndrome de Eisenmenger na Gravidez Eisenmenger Syndrome in Pregnancy Vera Therezinha Medeiros Borges, Claudia Garcia Magalhães, Anice Maria V. C. Martins, Beatriz B. Matsubara Faculdade de Medicina de Botucatu, Botucatu, SP - Brasil Correspondência: Vera Therezinha Medeiros Borges • Rua da Harmonia, 298 - Recanto Azul – 18603-110, Botucatu, SP - Brasil E-mail: vborges@fmb.unesp.br Artigo recebido em 11/04/07; revisado recebido em 04/06/07; aceito em 23/07/07. e40
  • 2. Relato de Caso Borges e cols. Síndrome de Eisenmenger na gravidez Arq Bras Cardiol 2008; 90(5): e40-e41 alta incidência de prematuros. O tipo de anestesia para essas pacientes também é controverso. Teoricamente, a anestesia por condução, com o risco associado de hipotensão, deve ser evitada. A infusão de morfina peridural ou intratecal, técnica que não exerce efeito sobre a pressão arterial sistêmica, talvez seja a melhor abordagem ao tratamento anestésico dessas pacientes, por não exercer efeito sobre a pressão arterial. Não existe consenso sobre o tipo de parto mais adequado para essa entidade clínica7 . Após o parto, a terapia de anticoagulação pode ser reiniciada, caso não haja hemorragia, seguida pela administração de warfarínicos. O monitoramento hospitalar deve ser mantido durante pelo menos duas semanas após o parto. A taxa de mortalidade de gestantes portadoras de síndrome de Eisenmenger que engravidaram ainda é elevada. Todas as pacientes devem ser aconselhadas a usar métodos contraceptivos. Caso ocorra a gravidez, a paciente deverá ser aconselhada a interromper a gestação. Se a gravidez for mantida, as estratégias de tratamento mencionadas acima poderão ser úteis, com hospitalização prolongada antes e depois do parto. Potencial Conflito de Interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de Financiamento O presente estudo não teve fontes de financiamento externas. Vinculação Acadêmica Não há vinculação deste estudo a programas de pós- graduação. e fluxo de sangue renal. À medida que a resistência vascular periférica diminui, as pacientes com síndrome de Eisenmenger apresentam aumento do fluxo da direita para a esquerda, exacerbando a hipóxia preexistente, que, por sua vez, pode piorar a vasoconstrição pulmonar. Durante o trabalho de parto e o parto, pode ocorrer um grave comprometimento hemodinâmico. Acidose e hipercapnia podem aumentar ainda mais a resistência vascular pulmonar. Qualquer hipovolemia causada por hemorragia ou hipotensão pode resultar em morte súbita. Além disso, a paciente pode morrer por tromboembolia pulmonar ou infarto pulmonar in situ1 . O grau de hipoxemia materna é o maior preditor de prognóstico fetal. Níveis de saturação de oxigênio arterial menor ou igual a 85% anterior à gestação estão associados com apenas 12% de nascimentos vivos, enquanto níveis de saturação de 90% ou mais estão associados a 92% de nascimentos vivos2 . Isso explica a elevada incidência de abortos espontâneos, de parto prematuro e baixo peso ao nascimento, uma vez que a hipoxemia materna prejudica o crescimento fetal1-3 . A taxa de mortalidade materna em portadoras de síndrome de Eisenmenger é alta (em torno de 30 a 50%1,4 ). Gleicher e cols.1 relataram taxa de mortalidade de 34% para parto vaginal e de 75% para cesariana. Tendo em vista a alta taxa de mortalidade associada com a continuação da gestação, o tratamento de opção para mulheres com síndrome de Eisenmenger é a indução do aborto. Se a gravidez não for interrompida, recomenda-se a hospitalização no segundo trimestre de gestação5 . A administração contínua de oxigênio, a anticoagulação e o uso de vasodilatador pulmonar é objeto de controvérsia. Embora não existam estudos clínicos controlados, um estudo brasileiro realizado com 13 gestantes6 relatou redução na taxa de mortalidade materna (23%) com um esquema terapêutico composto por oxigênio, heparina e warfarínico 48 horas após o parto. Sessenta por cento dos bebês nasceram vivos, embora Referências 1. Gleicher N, Midwall J, Hochberger D, Jaffin H. Eisenmenger’s syndrome and pregnancy. Obstet Gynecol Survey. 1979; 34: 721-41. 2. Presbitero P, Somerville J, Stone S, Aruta E, Spiegelhalter D, Rabojoli F. Pregnancy in cyanotic heart disease: outcome of mother and fetus. Circulation. 1994; 89: 2673-6. 3. Whittemore R, Hobbins J, Engle M. Pregnancy and its outcome in women with or without surgical treatment of congenital heart disease. Am J Cardiol. 1982; 50: 641-51. 4. DalientoL,MentiL,DiLenardoL.Successfulmanagementofapregnancyathigh risk because of Eisenmenger reaction. Cardiol Young. 1999; 9 (6): 613-6. 5. Weiss BM, Hess OM. Pulmonary vascular disease and pregnancy: current controversies, management strategies, and perspectives. Eur Heart J. 2000; 21: 104-15. 6. Avila WS, Grinberg M, Snitcowsky R, Faccioli R, Da Luz PL, Bellotti G, et al. Maternal and fetal outcome in pregnant women with Eisenmenger’s syndrome. Eur Heart J. 1995; 16 (4): 460-4. 7. Head CEG, Thorne SA. Congenital heart disease in pregnancy. Postgrad Med J. 2005; 81: 292-8. e41