Série: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo Dia
A riqueza da Caatinga e os desafios de sua conservação
1.
2.
3.
4. Com essas palavras, o Papa Francisco, no
dia 24 de maio de 2015, na solenidade de
Pentecostes, apresentou a Encíclica
denominada de Laudato Si’ - Louvado seja.
Essa Encíclica ficou conhecida no mundo
inteiro, não apenas no mundo católico, como
um verdadeiro tratado em defesa do planeta,
a nossa casa comum e da vida dos seres
vivos.
5. Não é possível mais que nos comportemos
como se comportaram os primeiros
colonizadores deste imenso País, sem
perceber que todo mal que fizermos contra a
natureza as consequências negativas
6. É um conjunto de vida (animal e vegetal) que se constitui
pelo agrupamento de tipos de vegetação identificáveis
numa região, com condições geográficas e climáticas
similares. Isso resulta em uma diversidade biológica
própria. Dessa forma, um bioma é formado por todos os
seres vivos de uma determinada região, onde a vegetação
é similar e contínua, o clima é mais ou menos uniforme e
cuja formação tem uma história comum.
7. No Brasil temos seis
biomas:
- Amazônia;
- Caatinga;
- Cerrado;
- Mata Atlântica;
- Pampa;
- Pantanal.
8. No sofrimento dos seres vivos e na violência contra os
biomas brasileiros, nós pecamos contra a obra da
criação divina. O chamado da Igreja é um chamado ao
reconhecimento do nosso erro, a uma conversão
pessoal e social e à retomada de uma relação mais
justa e mais humana com os biomas brasileiros e com
os seres que aqui vivem. Esta CF, bem como todas as
que até aqui foram lançadas pela Igreja do Brasil, tem o
objetivo maior de transformar em vida o que a morte
parece vencer.
9. É papel nosso, como
cristãos e como Igreja, a
defesa incondicional da
vida não apenas do
homem, mas também de
toda a criação, porque “um
crime contra a natureza é
um pecado contra Deus”
(Patriarca Bartolomeu).
10. Neste ano de 2017, o
chamado da Igreja é
lançado a todas as pessoas
de boa vontade a enfrentar
com compromisso as
palavras do Criador que
nos convida a “cultivar e
guardar a criação”. A nossa
caminhada de fé não nos
deixa ser indiferentes à
realidade de violência e de
descaso com que são
tratados os biomas
brasileiros.
11. A Igreja no Brasil sempre esteve atenta aos sinais dos
tempos na sua ação evangelizadora. Várias
Campanhas da Fraternidade voltaram-se para as
situações existenciais do nosso povo e abordaram
temáticas socioambientais.
12.
13.
14.
15. Para falar da Caatinga, antes de tudo, há que se
despir de alguns preconceitos, principalmente daqueles
relacionados aos aspectos da pobreza paisagística e da
biodiversidade, características adotadas por quem
desconhece a riqueza e a importância da “Mata
Branca”.
16. A Caatinga é o único bioma restrito ao território
brasileiro, ocupando basicamente a Região
Nordeste, com algumas áreas no estado de Minas
Gerais. A vegetação da Caatinga não apresenta a
exuberância verde das florestas tropicais úmidas e o
aspecto seco das aparências dominadas por cactos
e arbustos sugere uma baixa diversificação da fauna
e flora. Para desvendar sua riqueza, é necessário
um olhar mais atento, mais aberto.
17. A caatinga revela sua grande biodiversidade, sua
relevância biológica e sua beleza peculiar. Muitas plantas
perdem suas folhas para reduzir a perda de água nos
períodos de estresse hídrico, renovando-as quando as
chuvas chegam de uma forma tão rápida e espetacular
que a paisagem muda quase que da noite para o dia.
18. Contrastando com a relevância biológica da
Caatinga, esse bioma pode ser considerado um dos
mais ameaçados do Brasil. Grande parte de sua
superfície já foi bastante modificada pela utilização e
ocupação humana e, ainda, muitos Estados são
carentes de medidas mais efetivas de conservação
da diversidade, como a criação de unidades de
conservação de proteção integral.
19. O estudo e a conservação da diversidade
biológica da Caatinga são um dos maiores
desafios da ciência brasileira. Há vários motivos
para isso:
Primeiro, a Caatinga é a única grande região
natural brasileira cujos limites estão inteiramente
restritos ao território nacional;
Segundo, a Caatinga é, proporcionalmente, a
região menos estudada entre as regiões naturais
brasileiras, com grande parte do esforço científico
estando concentrado em alguns poucos pontos em
torno das principais cidades da região;
20. Terceiro, a Caatinga é a região natural brasileira
menos protegida, pois as unidades de
conservação cobrem menos de 2% do seu território;
Quarto, a Caatinga continua passando por um
extenso processo de alteração e deterioração
ambiental, provocado pelo uso insustentável dos
seus recursos naturais, o que está levando à rápida
perda de espécies únicas, à eliminação de processos
ecológicos chaves e à formação de extensos núcleos
de desertificação em vários setores da região.
21. A palavra Caatinga é de origem tupi-guarani, que significa “mata
branca” e este é o único bioma exclusivamente brasileiro. É o
semiárido mais chuvoso do planeta. É muito rica em
biodiversidade tanto vegetal quanto animal. Nos períodos sem
chuva, cerca de oito meses por ano, ela “adormece”, hiberna,
poupa água, para voltar à vida plena durante as primeiras
chuvas.
22. A “ressurreição anual da Caatinga” é um dos espetáculos mais belos
oferecidos pelos biomas brasileiros. Para os que acham essa região
inviável, ou a tem como um absurdo, demonstram pouco
conhecimento da realidade brasileira. Dos 27 milhões de brasileiros
que habitam esse bioma, grande parte vive no meio rural e essa
população tem um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano
(IDH) do planeta.
A Caatinga abriga 178 espécies de mamíferos, 591 tipos de
aves, 177 tipos de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241
classes de peixes e 221 espécies de abelhas (MMA, 2016).
23. Os meios de sobrevivência do povo, que aqui sempre
habitou, encontraram na sabedoria popular uma nova
lógica para viver.
Os povos originários e cultura-
sociodiversidade
24. Existem inúmeras comunidades tradicionais nesta convivência com
o clima e a vegetação da Caatinga:
a) 300 associações de “Fecho ou Fundos de Pasto” (esse é o modo
de vida comunitária, onde a gestão da terra e de outros recursos
naturais articulam terrenos familiares e áreas de uso comum).
b) Mais de 30 nações indígenas.
Essas comunidades e os povos que nelas habitam lutam:
- Pela demarcação de suas terras;
- Pelo reconhecimento de seus direitos;
- E pela plena cidadania.
Aproximadamente 40% da população deste
bioma ainda vivem no meio rural.
26. A essa imagem e a esse bioma associam-se
as tragédias humanitária e social em tempos
de secas e estiagens mais prolongadas. A
ideia de uma região inviável
economicamente saltou ao olhar da
imaginação do Brasil e do mundo. Essa
imagem contribui até hoje para o
preconceito que sofrem os nordestinos no
resto do Brasil.
27. Nos dias atuais, um novo olhar surge para
perceber, no clima seco e no sol estorricante do
Nordeste, potenciais para a geração de energia
solar e para o cultivo de frutas como cajá,
maracujá e umbu, bem como para a criação de
abelha e extração de mel e a criação de cabras
e ovelhas.
28. As chuvas que caem por aqui podem até
não ser generosas como as que caem no
Sul e Sudeste, no entanto, dos 750 bilhões
de metros cúbicos de água, que caem
anualmente nesta região, apenas 36
bilhões de metros cúbicos são
armazenados. Isso significa que o
desperdício é muito maior que o
armazenamento das águas da chuva.
29. A Caatinga tem poucas nascentes e rios perenes,
bem como pouca formação geológica capaz de
armazenar água. O maior deles é o Rio São
Francisco, que nasce em Minas Gerais e banha 5 dos
Estados que compõem o bioma da Caatinga. 99%
dos rios que cortam a Caatinga correm apenas em
época de chuva.
30. A Caatinga tem sido agredida pelo desmatamento para o plantio de
culturas que raramente se adaptam adequadamente, como por
exemplo o caso do ciclo do algodão. A ação do homem já alterou
80% da cobertura original, que tem menos de 1% de sua área
protegida, em 36 unidades de conservação.
Outras causas do desmatamento são:
- O gado bovino solto nas caatingas;
- Geração de madeira para a indústria de gesso e para as carvoarias.
31. A partir dos anos 90, do século passado, a sociedade civil
brasileira acompanhou algumas mudanças, que se
processaram no semiárido, a partir desse clima e da
riqueza da Caatinga. São iniciativas que têm contribuído
para a transformação desta região, antes considerada
como uma região pobre e economicamente inviável. É
nesse contexto que foram propostas e realizadas políticas
de “convivência com o semiárido” brasileiro.
32. As mudanças acontecidas foram acompanhadas da
certeza de que a seca é um fator natural e não pode ser
combatida. No entanto, é possível criar meios para viver
bem nesse ambiente:
Captação da água de chuva para beber e produzir;
Manejo da Caatinga;
Agroecologia e educação na defesa dos territórios das
comunidades tradicionais e indígenas;
Reforma agrária;
Valorização da cultura local;
Saberes dos povos catingueiros;
Aproveitamento inteligente da energia solar e dos ventos.
33. Nessa perspectiva da defesa do
desenvolvimento sustentável e da convivência
com o semiárido, em 1990 surgiu a Rede de
Articulação no Semiárido (ASA). Essa rede é
formada por mais de três mil organizações da
sociedade civil (sindicatos rurais, associações,
cooperativas, ONGs, etc.).
A ASA construiu vários projetos, dentre eles
destacamos:
Um milhão de cisternas (PMC);
Uma terra e duas águas (P1+2);
Cisternas nas escolas e sementes do
semiárido.
34. Esses projetos têm beneficiado milhões de pessoas em toda a
região, com a captação da água de chuva para uso doméstico e
produção econômica. O resultado de todos esses projetos foi
sentido nesta última grande seca (2012-2015), onde não se repetiu
a tragédia social e humanitária de outras épocas. Não se viram
migrações intensas, fome, sede, miséria, saques e mortalidade,
particularmente a infantil.
Outras conquistas gestadas, a partir da sociedade civil, fizeram
expandir-se uma rede de infraestrutura social que é fundamental
como:
Energia elétrica;
Adutoras;
Telefonia;
Internet;
Transporte;
Melhoria nas habitações;
35. Do ponto de vista técnico, falta uma política que
facilite a convivência do homem com a Caatinga,
com projetos que viabilizem a geração de riqueza
por uma forma sustentável e não agressiva ao
meio-ambiente. Essa política estrutural de geração
de riqueza e sustentabilidade muitas vezes é
contrariada por outros problemas ecológicos.
36. O semiárido brasileiro é também carente em políticas
públicas na área da saúde, com acentuado
crescimento da violência no campo e do uso de
drogas nas cidades do interior. A violência no campo
tem provocado a migração para as áreas urbanas,
dentro do próprio Nordeste.
37. Contribuição Eclesial
O Padre Ibiapina e o Padre Cícero são
considerados percussores da “convivência
com o semiárido”. Os mandamentos
ecológicos do Padre Cícero continuam
como referência para milhares de
sertanejos na sua relação com a
Caatinga.
38.
39. O povo residente neste bioma tem uma forte identificação
com o tempo da Quaresma e da Semana Santa. Nos
mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, o povo
encontra a luz para iluminar seu próprio sofrimento do dia a
dia. No bioma Caatinga, a proposta evangelizadora do Pe.
Ibiapina e as ações para amenizar os problemas do povo
foram as que mais contribuíram para amenizar os
sofrimentos e problemas do povo.
40. Atualmente, a vida de fé das comunidades cristãs,
presentes neste bioma, é marcada pela piedade
popular, pela devoção e pelas romarias com forte
presença de santuários e, nas últimas décadas, pela
atuação das pastorais sociais. Foi na região Nordeste
que surgiram as experiências da Campanha da
Fraternidade e das CEBs.
41. A Mata Atlântica é uma das áreas mais ricas
em biodiversidade e mais ameaçadas do
planeta. É decretada pela UNESCO e pelo
Patrimônio Nacional como Reserva da
Biosfera na Constituição Federal de 1988.
42. Hoje restam apenas 8,5% de remanescentes florestais
acima de 100 hectares do que existia originalmente.
Vivem na Mata Atlântica, atualmente, quase 72% da
população brasileira (IBGE 2014). Isso corresponde a
mais de 145 milhões de habitantes, distribuídos em 3.429
municípios que, por sua vez, correspondem a 61% dos
municípios existentes no Brasil. A maioria das nossas
capitais litorâneas, das grandes regiões metropolitanas,
concentra-se neste Bioma.
43. Biodiversidade na Mata Atlântica
Neste Bioma vivem
mais de 20 mil
espécies de plantas,
270 espécies de
mamíferos conhecidos,
992 espécies de aves,
197 espécies de
répteis, 372 espécies
de anfíbios e 350
espécies de peixes.
44. A Mata Atlântica tem sofrido ao longo do tempo vários tipos de
pressão e exploração:
Extração do Pau-Brasil;
Ciclos de cana-de-açúcar, café, ouro e fumo;
Devastação das araucárias;
Intensa exploração predatória de madeira e espécies
vegetais;
A industrialização e a expansão urbana desordenada,
poluição do ar, das águas, do solo.
45. É neste Bioma que encontramos também o
lugar da beleza e do lazer para milhões de
brasileiros e turistas. Aqui existe um
ecossistema muito particular: os manguezais,
que têm um papel especial para o planeta,
para as espécies e para muitos povos no Brasil
Devido a sua grande importância
ambiental, são designados como
Áreas de Preservação Permanente
(APP).
Manguezais
46. Os povos originários e cultura
Originalmente, este Bioma
era ocupado por povos
indígenas: Tamoio,
Temininó, Tupiniquim,
Caetés, Potiguar, Pataxó e
Guarani. Estes foram os
primeiros a sofrer com a
chegada e a exploração dos
colonizadores.
Os brancos espalharam doenças, usaram os índios como
soldados e como escravos. Vários desses povos foram
extintos e os que sobreviveram sofrem até hoje as
pressões da civilização.
47. Neste Bioma existem hoje populações praieiras,
quilombolas, remanescentes indígenas, além da
imensa concentração populacional urbana. Nos
manguezais, a atividade pesqueira é o meio de
sobrevivência para muitas famílias. Mulheres
pescadoras/marisqueiras exercem uma forte
relação com os manguezais.
48. Fragilidades e desafios
Junto com a grande concentração populacional, a
exemplo das grandes cidades como São Paulo, Rio de
Janeiro, Salvador, Recife e Porto Alegre, vieram
grandes problemas como desmoronamentos, falta de
saneamento básico, concentração urbana sem
planejamento, causando ocupação de áreas de risco,
de mananciais, de encostas, mudando o clima e a
qualidade do ar, devido aos gases liberados pelas
indústrias e veículos.
49. Contextualização Política
A ameaça a este Bioma nasce da falta de consciência ecológica
de grande parte da população brasileira, da omissão do poder
público, da ganância capitalista, da degradação do meio
ambiente e da expulsão de diversas comunidades. Outra grande
ameaça é a falta de saneamento básico. Grande parte dos
esgotos das residências urbanas e rurais é despejada
diretamente nos rios, no mar e nos mangues, assim como o
descarte inadequado de resíduos.
50. Contextualização Política
Outra grande ameaça é a especulação imobiliária que serve
exclusivamente ao turismo de massa. Extensas áreas de
mangues são destruídas ao longo do litoral para construção
de hotéis, resorts e casas de veraneio. Na medida em que
essas atividades desenvolvem-se, dá-se também a morte
dos manguezais e de comunidades inteiras, que dependem
desse ecossistema para continuar vivendo.
51. Contribuição Eclesial
A evangelização chegou a este Bioma com os primeiros
colonizadores. Inúmeras cidades da Mata Atlântica carregam
a marca da Igreja: Salvador, Olinda, Rio de Janeiro, Mariana e
muitas outras. No entanto, isso não quer dizer que os povos
que aqui, originalmente, viviam não tinham religião,
espiritualidade ou fé.
52. Contribuição Eclesial
Com o passar dos anos, a história
da Igreja neste Bioma foi de
grande contribuição na defesa da
vida dos povos originários e na
defesa deste Bioma. Fato
marcante foi a fundação da CNBB
e a criação de novas dioceses
com forte empenho na
implantação das orientações do
Concílio Vaticano II, das
Conferências Latino Americana,
Rio de Janeiro, Medellín, Puebla,
Santo Domingo e Aparecida.
53. Contribuição Eclesial
A contribuição da Igreja na
construção do Brasil só é possível
ser descrita a partir da experiência
de cada Diocese que, com seus
pastores, seu clero e seus leigos,
enfrentou grandes desafios e
contribuiu positivamente na defesa
da vida humana, da natureza e do
meio ambiente.
54.
55. Nossa fé aponta um caminho
objetivo: o mundo foi criado por
Deus. A Sagrada Escritura
revela-nos em suas primeiras
páginas que o mundo é obra
desejada por Deus, criado
harmonicamente por amor. A
obra da criação é apresentada
em dois relatos diferentes.
Neles Deus vai organizando
progressivamente tudo até a
conclusão da sua obra.
Harmonia Original:
O mundo criado
56. PRIMEIRO RELATO: apresenta a criação
sendo realizada em sete dias (Gn1-2, 4a).
Cada dia tem em seu programa um elemento
necessário para a continuidade da obra no
outro dia: a luz, o firmamento e a separação
das águas, o solo firme para nele fazer brotar
as plantas, os luzeiros para separar dia e noite,
os seres vivos das águas e os pássaros e os
animais terrestres. O sétimo dia tem como
programa o descanso de Deus. Nessa
perspectiva, a criação é apresentada a partir de
uma inter--relação de seus elementos.
Harmonia Original: o mundo criado
57. A Bíblia afirma que nenhum ser existe
isoladamente, todos estão relacionados. É
nessa harmonia que todas as criaturas de
Deus são muito boas (Gn 1, 31).
Harmonia Original: o mundo criado
58. SEGUNDO RELATO: é mais direto: Deus
confia ao homem o papel de guarda da
criação. Por isso, Deus modela o homem do
barro e o coloca em um jardim para cultivar e
guardar (Gn 2, 5.15). Aqui se percebe que,
no ideal inicial, o homem possui três tipos de
relação: com Deus, com a obra criada e com
seu próximo.
Harmonia Original: o mundo criado
59. A ordem de Deus “enchei a terra e submetei-a”
(Gn 1, 28) não pode ser vista como
favorecimento à exploração selvagem da
natureza. Na Encíclica Laudato Si’, o Papa
Francisco explica que “cultivar quer dizer lavrar
ou trabalhar um terreno e guardar significa
proteger, cuidar, preservar, velar. Isso implica
uma relação de reciprocidade responsável entre
o ser humano e a natureza” (LS 67). Com isso
se confirma o que está escrito em DT 10, 14
“ao Senhor pertence a terra e o que ela
encerra” e o que canta o salmista “do
Senhor é a terra” (Sl 24, 1).
60. Na Sagrada Escritura
encontramos também a realidade
do pecado que rompe a relação
do homem com Deus. É pela
desobediência a Deus que o
homem provoca uma interrupção
de continuidade nas relações
com o Criador com
consequências imediatas.
A primeira relação a ser ferida é com Deus. Adão e Eva,
que antes conviviam com Deus no Jardim, agora têm
medo e Dele se escondem (Gn 2,10). É a arrogância e a
autossuficiência que, tomando conta do coração do
homem, fazem-no querer “ser igual a Deus” (Gn 3, 5).
A aliança rompida e o pecado
61. É o desejo de ocupar o lugar de
Deus, que mostra a que ponto
chega a ruptura da relação do
homem com Deus. A partir daí as
relações fraternas são substituídas e
transformadas em violência: Caim
assassina Abel (Gn 4, 8) e a
injustiça vai se espalhar sobre a
terra (Gn 4, 23). É jardim que se
transforma num campo de guerra
onde o sangue do irmão é
derramado. A linguagem do amor
perde-se e nascem os
desentendimentos e as rupturas nas
relações com o próximo, com Deus
e com a criação.
62. Em suas parábolas, Jesus faz
perceber que a criação contém
em si explicações do agir de
Deus (Mc 4, 39); e de realidades
relativas ao Reino de Deus. Na
sua catequese, Jesus utiliza
elementos da criação:
- A graça de Deus é comparada a uma fonte de água viva (Jo 4, 10-14);
- A bondade de Deus é comparada à chuva que cai sobre justos e injustos (Mt 5, 45);
- A relação de Deus com o homem é comparada com a vinha e seus ramos (Jo 15);
- A fé é comparada à semente;
- E o coração do homem é comparado com o terreno onde a semente é lançada (Mc 4, 1-20).
63. Na Encíclica Laudato Si’ o Papa Francisco reúne
pronunciamentos e documentos do magistério da
Igreja, que ainda hoje contribuem, de forma
significativa, para o aprofundamento e para a
divulgação dos grandes desafios e da busca coletiva
de soluções. Nessa Encíclica, o Papa Francisco faz
ligação entre violência e desrespeito contra a natureza,
Laudato Si`:
Ponto Culminante
de um caminho
65. São João Paulo II aprofundou essa reflexão,
chamando a atenção para as ligações que há
entre todas as criaturas: “é preciso levar em
conta a natureza de cada ser e as ligações
mútuas entre todos, em um Sistema ordenado
que é justamente o cosmos” (Encíclica
Solicitude Rei Socialis - 30 de dezembro de
1987).
São João Paulo II:
Ecologia e Ética
66. O Papa Bento XVI retomou e fortaleceu a
relação inseparável que existe entre “ecologia
da natureza”, “ecologia humana” e “ecologia
social”.
Bento XVI: A
ecologia humana
“A Igreja tem uma
responsabilidade pela
criação e deve valer essa
responsabilidade em publico.
E ao fazer isso deve
defender a terra, a água e o
ar como dons da criação
pertencentes a todos. Deve
proteger o homem contra a
destruição de si mesmo”
(Caritas in Veritate n° 61).
67. No magistério do Papa Francisco aparece claramente
esta continuidade com seus antecessores. A ecologia é
vista não de forma isolada da vida dos seres humanos,
da natureza, do meio ambiente, da criação e da
sociedade. Retoma a ideia de que a “ecologia humana e
ecologia ambiental caminham juntas”. Uma das palavras-
chave é “harmonia”.
Papa Francisco:
Ecologia Integral.
68. “a causa do problema não é só econômica, é ética e
antropológica. E o que manda hoje não é o homem, é
o dinheiro, o dinheiro manda. E Deus, nosso Pai, deu
a tarefa de guardar a terra não para o dinheiro, mas
para nós: aos homens e às mulheres, nós temos essa
tarefa! O que vemos hoje é o contrário: homens e
mulheres são sacrificados aos ídolos do lucro e do
consumo: é a ‘cultura do descarte’”.
Papa Francisco:
Ecologia Integral.
69. O apelo do Papa Francisco é categórico: “O tempo
para encontrar soluções globais está acabando”. Só
podemos encontrar soluções adequadas se agirmos
juntos e de comum acordo. Portanto, existe um claro,
definitivo e improrrogável imperativo ético de agir
(Conferência de Lima, 27 de novembro de 2014).
Papa Francisco:
Ecologia Integral.
70. “É necessário dispormos de espaços de debates, onde todos
aqueles que poderiam, de algum modo, ver-se, direta ou
indiretamente, afetados (agricultores, consumidores, autoridades,
cientistas, produtores de sementes, populações vizinhas dos
campos e outros) tenham possibilidade de expor as suas
problemáticas ou ter acesso a uma informação ampla e fidedigna
para adotar decisões tendentes ao bem comum presente e
futuro” ( Laudato Si`: n° 135).
Papa Francisco:
Ecologia Integral.
71.
72. A Caatinga é rica em biodiversidade e ao mesmo tempo é um
bioma extremamente frágil. Sua flora é constituída por espécies
com histórica adaptação ao calor e à seca. De forma que se o
solo for alterado pelo uso de máquinas torna-se incapaz de
naturalmente se reestruturar. Nas últimas décadas, 40.000 km²
da Caatinga transformaram-se em deserto por interferência do
homem e a sua exploração segue em ritmo preocupante.
73. 1. Não derrube o mato nem mesmo um só pé
de pau;
2. Não toque fogo no roçado nem na
Caatinga;
3. Não cace mais e deixe os bichos viverem;
4. Não crie o boi nem o bode soltos; faça
cercados e deixe o pasto descansar para
se refazer;
5. Não plante em serra acima nem faça
roçado em ladeira muito em pé; deixe o
mato protegendo a terra para que a água não
a arraste e não se perca a sua riqueza;
6. Faça uma cisterna no oitão de sua casa
para guardar água da chuva;
Os 11 preceitos do Padre Cícero em favor da Caatinga
74. 7. Represe os riachos de 100 em 100
metros, ainda que seja com pedra solta;
8. Plante cada dia pelo menos um pé de
algaroba, de caju, de sabiá ou outra
árvore qualquer, até que o sertão todo
seja uma mata só;
9. Aprenda a tirar proveito das plantas da
Caatinga, como a maniçoba, a favela e a
jurema; elas podem ajudar a conviver com
a seca;
10. Se o sertanejo obedecer a esses
preceitos, a seca vai aos poucos se
acabando, o gado melhorando e o povo
terá sempre o que comer;
11. Mas, se não obedecer, dentro de pouco
tempo o sertão todo vai virar um
deserto só.
Os 11 preceitos do Padre Cícero em favor da Caatinga
75. Retomar a discussão sobre os problemas sociais enfrentados
nas pequenas e médias cidades em relação ao esgotamento
sanitário e ao Plano Municipal de Saneamento Básico;
Reforçar os projetos da Articulação no Semiárido Brasileiro de
Um Milhão de Cisternas (P1MC) e o Uma Terra e Duas Águas
(P1+2);
Ampliar a rede de captação de água da chuva para beber e
produzir;
Desenvolver a captação da energia solar descentralizada como
fonte de renda para as famílias e produção de energia;
Incentivar a energia eólica, com projetos que sejam do interesse
das comunidades tradicionais e reforçar a luta pela reforma
agrária;
OUTRAS AÇÕES A SEREM REALIZADAS COMO EXERCÍCIO
QUARESMAL NESTA CAMPANHA DA FRATERNIDADE:
76. Reforçar a luta pela “educação contextualizada” nas
escolas públicas, para aprofundar um entendimento mais
correto do que é o semiárido e a própria Caatinga;
Reforçar o desenvolvimento da agroecologia adaptada ao
semiárido, com o manejo cuidadoso da Caatinga em
favor de seus povos;
Denunciar o uso dos agrotóxicos usados de forma
indiscriminada para o aumento da produção e proteção
das pragas na agroindústria;
Reforçar a proposta do desmatamento zero na Caatinga
para combater o desmatamento e a deserticação;
OUTRAS AÇÕES A SEREM REALIZADAS COMO EXERCÍCIO
QUARESMAL NESTA CAMPANHA DA FRATERNIDADE:
77. Reforçar as iniciativas do “recaatingamento”,
perenezação inteligente de rios e riachos para
armazenar água;
Fortalecer e ampliar a defesa da revitalização
do Rio São Francisco;
Reforçar a criatividade dos povos originários;
Buscar parceria com o Ministério Público a fim
de que a implantação, a ação, e os impactos
ambientais das mineradoras possam ser
devidamente fiscalizados.
OUTRAS AÇÕES A SEREM REALIZADAS COMO EXERCÍCIO
QUARESMAL NESTA CAMPANHA DA FRATERNIDADE:
78. Em meio ao grito agonizante da Mata Atlântica, homens e mulheres
que amam, cultivam e defendem a criação gritam juntos pela vida,
pela luz e pela ecologia integral. No grito de cada homem e de cada
mulher de boa vontade existe o desejo de um progresso sem
destruir a vida que mantém e gera novas vidas, frutos da criação de
Deus. É a natureza que pede socorro e o Criador que chora por
tantas espécies de plantas e animais que foram e outros que estão
sendo ameaçados de extinção.
79. Exigir do poder público a recuperação das áreas degradadas como:
matas ciliares e nascentes;
Defender os territórios indígenas, quilombolas e demais comunidades
tradicionais;
Exigir que as políticas de saneamento básico sejam implantadas em
toda área urbanizada e rural deste bioma;
Apoiar a Lei de Iniciativa Popular do Movimento dos Pescadores pela
demarcação dos territórios pesqueiros;
Contemplando as maravilhas da criação, vejamos o que
queremos e faremos em defesa deste bioma:
80. Apoiar ações que fortaleçam a despoluição de rios que cortam nossas
cidades;
Apoiar as ações em defesa deste bioma frente ao avanço das mineradoras
que degradam e retiram riquezas que provocam perdas humano-culturais;
Participar e acompanhar a efetivação do plano diretor da cidade, sobretudo
em relação ao saneamento básico;
Apoiar a produção agroecológica com base na agricultura familiar;
Incentivar o consumo de produtos agroecológicos e sustentáveis.
Contemplando as maravilhas da criação, vejamos o que
queremos e faremos em defesa deste bioma:
81. CELEBRAR
Quais iniciativas, presentes em nossa Paróquia ou Diocese
são ações de defesa e de convívio com o nosso Bioma na busca de uma
harmonia entre o homem e a natureza?