A história de Izabel e sua família após a morte dos pais
1. SEMENTES
DO AMOR
DIVINO
Irmã Tereza e Equipe
Psicografado por Alda Maria
2.
3. Capítulo 1
No amplo salão, decorado com sensibilidade e gosto,
cortinas alvas e esvoaçantes filtram com muita leveza os raios
de sol. Alguns destes, contudo, escapam alegremente por fres-tas
abertas pela brisa suave que brinca com as flores das can-toneiras,
espalhando carinhosamente seu perfume por todo o
recinto. Distribuídas pela sala, formando diversos ambientes,
encontram-se poltronas confortáveis, forradas de tecidos colo-ridos.
Uma música suave toma conta do salão, mas percebe-se
no ar um toque de seriedade. Notam-se, aqui e ali, naquela
arquitetura sofisticada, traços de uma alma sensível, afeita a
uma postura delicada.
Estamos no ano de 1914, em meio a um intenso verão,
de chuvas fortes e colheita farta. Na sala de estar de sua casa,
Izabel Drumond aguarda a chegada de seus familiares pró-ximos
com grande ansiedade, pois ali, dentro em pouco, será
definida sua vida futura, em razão do falecimento de seus pais
num acidente de automóvel. Jovem e sem maturidade, Izabel
estará sob a tutela de seus padrinhos.
No ar, há uma grande expectativa: dona de considerá-vel
fortuna e de natureza sensível e terna, ela teme se tornar
4. simples objeto de disputa dos seus. Já bastante combalida pela
perda dos pais, e diante de tal expectativa, sente-se muito fra-gilizada
e sem grande vontade de continuar vivendo.
Ouve-se barulho no portal de entrada, e Izabel percebe
que seus familiares estão chegando. Passados alguns minu-tos,
sua querida Mãe Rosinha, como carinhosamente chama
aquela que a criou como filha, vem anunciar a entrada de
seus tios e primos, a família Drumond e Duarte, possível her-deira
de Izabel, de tudo que lhe pertence.
Começará para aquela doce jovenzinha um mundo de
dores e aflições. Mas, inserida em um contexto reencarnató-rio
que a proverá de conquistas reais no campo dos valores
superiores, essa doce menina será cercada de todo o amparo
moral, fundamental para que sua jornada se desenrole com o
equilíbrio necessário à efetivação desse programa.
O planeta Terra vive um momento em que as lições
promovedoras do amadurecimento do espírito são acompa-nhadas
da mestra dor: dor-despertamento, dor‑resignação,
dor-entendimento da vida em sua extensão de eternidade.
Essa mestra, se envolvida pelas vibrações da obediência e da
confiança, ministra as lições sempre com enorme respeito e
carinho pelo espírito aprendiz. Mas se este se rebela, refutando
seus ensinamentos, mais dolorosas as lições se apresentam,
em razão do abandono, pelo próprio ser, dos cuidados de Deus.
Izabel traz consigo alguns valores morais que, na atual
existência, muito contribuirão para o êxito do programa de
expansão dessas virtudes luminares.
5. Capítulo 2
Todos traziam na fisionomia a expressão da grande tris-teza
que experimentavam por tão dolorosa perda. O sofrimen-to
íntimo era patente, mas com grande delicadeza e respeito
se achegaram a Izabel sua tia Maria Beatriz, irmã de sua mãe;
seu tio Onofre, casado com Maria Beatriz; Joana, sua prima,
de 17 anos; e João Augusto, seu primo, de 15.
O enorme pesar de Maria Beatriz, demonstrado pelas
lágrimas que insistiam em descer sem que ela conseguisse
controlar, tornou-se ainda maior ao encontrar a sobrinha tão
só e tão sofrida! Amava muito sua irmã, Maria Cecília, e não
compreendia como podiam ter sido atingidos por aquela fata-lidade,
pois sempre soubera da habilidade e da prudência de
Frederico, seu cunhado. Enfim, não aceitando que aquilo pu-desse
ser vontade de Deus, acreditava que Ele os havia aban-donado.
Abraçou com carinho sua sobrinha querida, de quem
se fizera madrinha com muito gosto. Os meninos também se
aproximaram respeitosos, em silêncio. Ninguém conseguia
dizer uma palavra sequer.
Mãe Rosinha entrou cuidadosa, trazendo chá com de-
6. licados biscoitinhos. “Sua” Belinha nada comia há horas.
Arrumou a mesa próxima a eles com gosto e simplicidade e
recomendou que a menina comesse alguma coisa, “senão iria
acabar doente”...
Izabel pensava que, naquele momento, adoecer e mor-rer
talvez fosse uma boa saída... Sentia-se querida pela tia e
pelos primos, mas, ainda assim, viver sem os pais era para ela
algo inimaginável.
Seu tio Onofre permanecia parado próximo à janela,
enigmático. Não nutria afeto pela sobrinha; ao contrário, era
até com certo ressentimento que a observava. Izabel sempre
tinha sido uma garota inteligente, com muitos predicados.
Cheia de vivacidade, conquistava todos com sua meiguice e
perspicácia. Tinha sempre uma palavra atenciosa e adequa-da
para cada ocasião, ao contrário de sua Joana, da mesma
idade, muito lenta e distraída. O raciocínio da filha era muito
limitado, e ela parecia, muitas vezes, distante, em outro mun-do...
Isso para Onofre era a morte. Adorava Joana e quando
percebia que junto a Izabel seu jeito de ser ganhava destaque,
mais se irritava com a sobrinha, que parecia ser, então, dotada
de privilégios divinos.
Onofre trabalhava como escriturário, e sua condição fi-nanceira
era muito diferente da que gozara o falecido cunha-do.
Reconhecia o trabalho e empenho de Frederico no cultivo
do cacau, mas não deixava de sentir uma pontada de inveja
quando tomava conhecimento dos seus progressos. Muito em-bora
fingisse não perceber, sabia que Maria Cecília ajudava a
7. irmã, até com alguma soma em dinheiro, e quando notava
em casa algumas regalias que sua condição financeira não
permitiria, pensava: ah! Maria Cecília passou por aqui! Não
se aborrecia de todo com essas interferências, porque Joana e
Maria Beatriz demonstravam grande alegria com tais cuida-dos,
mas, para ele, como chefe de família, não deixava de ser
humilhante. Sempre fora bem tratado pelos cunhados, mas
não nutria verdadeiramente grande amizade por eles.
Logo que ficou grávida, Maria Cecília combinou com
eles o batismo do neném. Maria Beatriz, alguns meses depois,
também engravidou, e selaram, então, outro compromisso:
Cecília e Frederico seriam os padrinhos do seu filho.
Primeiro chegou Izabel, uma garotinha robusta, viva e
muito esperta, que foi recebida com grande festa. Uma alegria
enorme invadiu todos os corações! Passados alguns meses,
chegou Joana, de tal forma magrinha e raquítica que não te-ria
resistido, não fossem os cuidados da mãe.
“Quando vi Joana, toda embrulhada naquela manti-nha
rosa, no colo da mãe, meu coração quase parou! Não
sei explicar, mas um amor imenso, incompreensível, tomou
meu coração. Como amei Joana! Mas aí começou minha
dificuldade com Izabel: aquela mantinha... Ah! tinha sido
de Izabel... Ah! e aquela Izabel... mais viva, mais gordinha,
mais... mais... mais graciosa que a minha Joana! Meu Deus,
como o tempo passa!” Ali, diante da janela, está Onofre,
absorto em suas reflexões, nas lembranças de um tempo
longínquo, mas que se faz presente naquele momento tão
8. sofrido e jamais imaginado por qualquer um deles.
Izabel descansava a cabeça no colo de Maria Beatriz, que
lhe fazia doces carinhos. Joana, ajoelhada junto da prima, se-gurava
sua mão com muito cuidado, sem nada dizer – ela tam-bém
não saberia o que falar. João Augusto acomodara-se numa
poltrona ao lado delas, profundamente contrito. Ele tinha mui-to
respeito pelos tios e queria ser como tio Frederico – rico!
“Isso é uma afronta, fere minha alma. Mas é jovem,
sonhador... Procuro compreender, sem me exaltar... Joana
sempre defende o irmão de minhas corrigendas, e ele, esperto,
há muito percebeu isso. Então, de vez em quando, passa por
cima. No fundo do coração, está tudo registrado! Olhando esse
quadro que me compadece – sim, não sou insensível à dor
dessa família –, pergunto a mim mesmo: e agora, quem vai
tocar os negócios? Como Izabel vai ficar? E tudo isso? Quem
vai tomar conta de tudo isso?”