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Angola-Brasil
Renato Azevedo, Presidente da AEBRAN
Economia
• Mercado
''NO WO DEANGOIA,...
NAO SEJUSTIFICAA
ENT A~ OS
BIOCOMBUSTÍVEIS ''
Consciente dos desequihbrios que ainda existem nas relações entre
os dois países, nomeadamente ao nível da capacidade produtiva e de
recursos humanos, Renato Azevedo mostra-se, contudo, confiante no
estreitamento e nas vantagens do relacionamento entre Angola e Brasil.
O director da AEBRAN (Associação de Empresários e Executivos
Brasileiros em Angola), lembra ainda que de 2004 a 2008, depois do
arranque do programa do Governo brasileiro que visou estreitar as suas
relações com os Estados africanos, as exportações brasileiras para Angola
cresceram cerca de 500%, e que existem cerca de 25 mil profissionais
brasileiros em Angola. Já quanto à questão dos biocombustíveis e da
agricultura, onde os dois países cooperam, Renato Azevedo defende
claramente a agricultura em detrimento da primeira, sendo que devem
ser criadas infraestruturas voltadas para o desenvolvimento deste sector,
nomeadamente armazenagem, para que, se não houver escoamento, a
produção não estrague.
Edjail dos Santos e Sebastião Vemba
edjaildosantos.econom1aerne<cado@gmail.com
sebastiaovemba.econom1aemercado@9ma1l.com
:"ww.economiaemercado.sapo.ao 1outubro 2012
-- ------ -- --·- ------
capa j11
Economia á Mercado - De 2004 a 2008,
depois do arranque do programa do
Governo brasileiro que visou estreita.r as
suas relações com os Estados africanos,
as exportações brasileiras paraAngola
cresceram cerca de 500%, segundo dados
disponíveis, sendo que actualmente as
trocas comerciais entre os dois países
excedem os mil milhões de dólares.
Como avalia esta relação, considerando
as oportunidades de crescimento das
duas economias e povos?
Renato Azevedo - Para começar, as
trocas comerciais entre os dois países são
muito dependentes do crédito e o Brasil
disponibilizou recentemente uma nova
linha de crédito a Angola, o que significa
que o país tem mais dinheiro à disposição
para as empresas e empresários que
queiram desenvolver negócios entre as
duas nações.
EfrM - Mas como avalia as oportunidades
de negócios para as duas economias?
RA - As oportunidades são imensas,
porque existem recursos financeiros
disponíveis, a economia angolana está
a crescer em tomo de 7% a 8% ao ano,
o Brasil também está a crescer, embora
abaixo dos 2,5% ao ano. Sendo assim,
então estamos a falar de duas economias
em crescimento, as quais têm crédito à
disposição dos empresários e só depende
· do empreendedorismo destes, de
modo a aproveitarem as oportunidades
existentes.
E&M - Em sua opinião, para além da crise
económica e financeira internacional,
à qual as duas economias (angolana e
brasileira) não passaram imunes, a que se
deveu a redução, em quase o dobro, do
volume e valores das trocas comerciais
entre Angola e o Brasil?
RA - Sem dúvida nenhuma que a
.crise é o principal motivo da queda
nabalança comercial e evidentemente
que o facto de a economia angolana
estar muito dependente do petróleo
as quedas desta natureza afectam o
país. Esta dependência, aliás, é uma
das vulnerabilidades de Angola, pois .,..
...depender de preços internacionais
significa estar sujeito às alterações deste.
EáM - Este é o único motivo?
RA - Não, mas é o mais importante, pois
80% das variações que acontecem foram
em função do preço do petróleo.
EáM - Em função dos avanços técnicos
e científicos, e mesmo da conjuntura
macroeconómica, algumas vozes
defendem que Angola tira poucas
vantagens das cooperações económicas
e empresariais internacionais,
principalmente no que diz respeito à
capacitação dos recursos humanos,
atendendo que são poucas as instituições
que priorizam a formação dos quadros
nacionais. Concorda com esta afirmação?
RA - Várias questões concorrem neste
domínio. Por um lado, o sistema
educacional angolano ainda não é
capaz de formar a mão-de-obra que
as empresas necessitam, por motivos
óbvios, relacionados ao passado do país,
sendo que nós aconselhamos os nossos
associados a acrescentaremnos seus
projectos programas de formação para
o desenvolvimento da mão-de-obra
local, só que muitas vezes estes não são
aprovados por quem de direito. Por
outro lado, também é verdade que o
Estado e as empresas angolanas, quando
precisam de quadros que não existem
em território nacional, devem ir procurar
no exterior, pois isso é normal e acontece
em todos os países que saem de uma
situação como Angola. Singapura, por
exemplo, que tem mais ou menos 50
anos de dependência, mas vive até hoje
com a ajuda de mão-de-obra estrangeira.
Isto é natural, mas o que não pode
acontecer é os Governos impedirem a
entrada de estrangeiros.
Aetema Q!.!estão dos v!stos
E&M - Refere-se às dificuldades de
obtenção de vistos para entrar e trabalhar
emAngola?
RA - A concessão de vistos angolanos
é difícil para os empresários e
trabalhadores estrangeiros, o que
- - - ·---------- -
''No caso de Angola, onde
não é crítica a produção
de petróleo, não se
justifica a entrada para os
biocombustíveis, pois não
há grandes ganhos em
termos económicos e não há
necessidade de consumo. Era
preferível usar essas terras
para a agricultura.
''Devem ser criadas
infraestruturas voltadas
para o desenvolvimento da
agricultura, nomeadamente
armazenagem, para que, se
não houver escoamento, a
produção não se estrague.
Para além do aspecto
tecnológico, devem também
ser capacitados os recursos
humanos, mas sobretudo
deve haver crédito à
agricultura com consistência.
prejudica a actividade destes. Uma outra
questão tem que ver com o tratamento
que a ANIP dá aos empresários,
atribuindo-lhes apenas o visto especial
depois da aprovação dos projectos, o
que não é correcto, pois os empresários
precisam de tempo para fazer os seus
estudos de mercado antes do arranque
dos empreendimentos e obviamente que
a falta deste documento é um empecilho.
E&M - Sobre os vistos, o Brasil também
retaliou. Pensa'que a retaliação resolve o
problema?
RA - Olhe, nessa área não posso falar
muito porque não sou diplomata,
mas pelo que eu entendo, deve
existir contrapartida no sentido de
os Estados tratarem das questões na
mesma proporção. Entretanto, tenho
conhecimento das novas obrigações
impostas pela Embaixada Brasileira em
Angola, porém ainda assim não chegam
aos pés das dificuldades impostas pelas
autoridades angolanas. Por exemplo,
a Embaixada Brasileira emAngola
exige a presença da pessoa para emitir
o visto, mas isso ainda não é o mais
problemático, porque apesar deAngola
ser um país grande, a maior parte das
pessoas estão concentradas em Luanda.
Agora, vai para o Brasil, onde começou
esta exigência por parte do Consulado
de Angola, a situação torna-se mais
complicada porque o nosso país é muito
vasto e a exigência do solicitante do visto
no Consulado, por exemplo em Brasília,
saindo a pessoa do interior, impõe um
custo absurdo que não é a mesma coisa
de um angolano que não viva na capital
deslocar-se até à nossa representação
diplomática. As medidas são similares,
mas os custos são diferentes, sendo
que os brasileiros gastam mais. Então
é necessário haver um equihbrio nesta
relação.
E&M - De que forma o Brasil pode
apoiarAngola na formação dos recursos
humanos, não só a nível das empresas,
mas também a nível da formação
académica e técnico-profissional?
www.economiaemercado.sapo.ao1Outubro 2012
RA - Penso que há um caminho vasto a
percorrer, com inúmeras possibilidades
desta parceria se realizar, porque o Brasil
tem várias organizações privadas e
públicas dedicadas à formação, as quais
estão abertas a convéruos com novos
parceiros. A nível da AEBRAN existem
alguns associados que trabalham nessa
área da educação, mas no âmbito de
parcerias público-privadas e não inter-
estaduais. No passado, eu levei urna
delegação do Ministério da Agricultura
Desenvolvimento Rural e Pescas de
Angola ao Brasil para visitar centros
de desenvolvimento e pesquisa da
Empresa de Desenvolvimento e Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), sendo que
esta deslocação envolvia transferência
de conhecimento e formação de mão-de-
obra angolana.
Eá'M - As empresas brasileiras do ramo
da construção são as que mais facturam
em Angola, sendo que até 2008 se
estimava que elas tivessem um peso
de cerca de 10% no PIB angolano. Qual
será o peso actual destas na economia
angolana, não só em termos de receitas
para o Estado, mas principalmente
em termos de postos de trabalho e
diversificação da actividade económica?
RA - Se se refere ao PIB não petrolífero,
concordo que o peso delas esteja à volta
deste valor, mas confesso que não tenho
esses dados, mas eles aproximam-se
ao real porque o PIB não petrolífero é
dominado pelo sector da construção e
estão presentes emAngola neste sector as
maiores empresas brasileiras.
Eá'M - Considera diversificado o leque de
empresas brasileiras a operar em Angola?
RA - Com certeza. Dentro dos
associados de AEBRAN temos, além
das construtoras e petrolíferas, empresas
de outras naturezas e dimensões. Aliás,
nós agregamos todo o tipo de empresas
brasileiras independentemente da sua
grandeza e área de negócio.
E&M - No ano passado a Associação dos
Angola (AEBRAN) falava da existência
de até 25 mil profissionais brasileiros em
Angola. Quais são os dados actuais?
RA - É um dado difícil porque não
existem recenseamentos. No entanto, sei
que o número já foi maior, pelo menos até
2008.
E&M - Pensa que os bancos
brasileiros estão distraídos quanto ao
desenvolvimento do sector financeiro
angolano, uma vez que a banca
portuguesa tem urna forte presença em
Angola, contrariamente à brasileira?
RA - O capítulo de bancos é à parte.
Um dos associados da AEBRAN é o
Banco Nacional de Desenvolvimento
Económico e Social do Brasil, que tem
escritórios emAngola, há oito anos,
e estão a estudar o mercado para
posteriormente entrarem nele. Neste
momento são um veículo da linha de
crédito do Brasil a Angola e auxiliam
os empresários que buscam estas fontes
de crédito.Entretanto, a predominância
de bancos portugueses emAngola é
praticamente uma questão histórica,
porque alguns deles já cá estavam
durante a independência e muitos .
resistiram.Por sua vez, o sistema
bancáriobrasileiro é muito desenvolvido,
dos mais seguros do mundo, mas ainda
temos um mercado interno grande para
atender, urna vez que a bancarização
é alta, mas não é plena. Assim, resta-
nos pouco tempo para pensar noutros
mercados, senão, eventualmente, os
da região geográfica em que Brasil se
enquadra.
Os biocombustíveis e agricultura
E&M - Como é que o Brasil, principal
produtor, consumidor e exportador,
encara o presente e futuro do mercado
mundial de biocombustíveis e quais
são as suas expectativas relativamente
à Companhia de Biocombustíveis de
Angola (BIOCOM), urna joint-venture
formada pela Odebrecht, Sonangol e o
grupo Damer?
RA - Os biocombustíveis têm
nr,,tir:omPntP a marca "Brasil" porque, ...
14jcapa
...nos anos 70, quando começou a
produção de álcool, na altura o Brasil
estava em crescimento e a produção
de petróleo era insuficiente, o que
o obrigava a recorrer à importação
de petróleo, mas os dois grandes
choques na década de 70 no preço
deste bem também estimularam o país
a criar o programa de produção de
biocombustíveis e, desde então, tem
sido levado à frente com altos e baixos,
dependendo do nível do preço e também
do aumento das reservas do petróleo no
Brasil.
Com o advento da preocupação
ambiental e das mudanças climáticas,
este programa ganhou força por ser
menos poluente que o petróleo e hoje
existem muitas grandes empresas
brasileiras que se dedicam à produção
de etanol e biodiesel. Este é um produto
de exportação brasileira, mas o Brasil
não quer exportar só o produto, quer
também produzir em outros países e
penso que é nessa óptica que se têm feito
a novas parcerias.
E&M - E quanto ao caso especifico de
Angola?
RA - No caso de Angola, onde não é
crítica a produção de petróleo, não se
justifica, em meu entender, a entrada
para os biocombustíveis, pois não há
grandes ganhos em termos económicos
e não há necessidade de consumo.
Era preferível usar essas terras para a
agricultura. Penso que o programa não
vai funcionar tão cedo, porque uma
indústria para se desenvolver precisa
de um grande estímulo do lado da
demanda e do lucro, e de momento
não existe nem uma coisa nem outra.
Quanto à questão de ser menos
poluente, também é contestável, mas
provavelmente é mais saudável, porém
para Angola não deverá ser ainda uma
prioridade.
E&M - Qual é a importância das micro
e pequenas empresas brasileiras,
principalmente na agricultura, tanto
do ponto de vista da produção, quanto
da criação de empregos e combate à
pobreza?
RA - A agricultura brasileira não tem hoje
uma grande contribuição na geração de
empregos porque ela é dominada pelos
grandes produtores. O grande salto que
ela deu a nível de produtividade foi
passar a ser tratada como um negócio
de grandes proporções. Assim, as
pequenas empresas não têm grande peso,
embora em algumas regiões do Brasil
a agricultura ainda seja artesanal. Em
Angola a agricultura ainda é mais de
subsistência, mas potencialmentepode
gerar muito emprego, sendo que falta
ainda o suporte técnico.
E&M - Já agora, como avalia este sector
em Angola, considerando as políticas de
diversificação da economia do país, as
quais priorizam o agro-negócio?
RA - No passado, quando se analisava o
futuro, falava-se que se iria atingir um
período de carência alimentar por causa
das taxas de crescimento da população
e a produção de alimentos não serem
compatíveis. Mas chegou a revolução
verde que trouxe um aumento brutal
da produtividade e permitiu que a
produção dos alimentos crescesse através
da automatização e novas técnicas de
produção. A micro agricultura tem
espaço, mas, para usar o potencial de
Angola em recursos naturais precisamos
implementar a produção em grande
escala com técnicas modernas, e ai não
será o pequeno produtor, mas sim as
grandes empresas.
E&M - Como o Brasil poderia ajudar
Angola para que todo o potencial
agropecuário fosse aproveitado?
RA - Devem ser criadas infraestruturas
voltadas para o desenvolvimento do
sector, nomeadamente armazenagem,
para que, se não houver escoamento, a
produção não estrague. Para além do
aspecto tecnológico, devem também
ser capacitados os recursos humanos,
mas sobretudo deve haver crédito à
www.economiaemercado.sapo.ao 1Outubro 2012
agricultura com consistência, porque o
risco de baixas na produção é grande,
mas não quer dizer que ela não seja
recuperada numa outra lavoura.
E&M - Numa recente entrevista à
Economia & Mercado, um empresário
brasileiro do ramo do agro-negócio
afirmou que em Angola não existem
fazendas, mas sim terras. Que comentário
lhe merece esta afirmação?
RA - Em Angola a terra é propriedade do
Estado. Assim, quem é que vai investir
em propriedade de terceiros? Esse é
um grande problema, mas no Brasil a
terra é de quem a adquire. Quando se
fala da falta de fazenda, penso que se
refere à falta de um negócio estruturado,
produtivo, com retorno, mas em Angola
existem casos isolados.
E&M - Diferentemente de Angola, em que
o sector petrolífero suplanta os demais
em termos de crescimento, na economia
brasileira a indústria e a agricultura são
dos que mais crescem e contribuem para
o PIB do país. Qual a importância de se
apostar em sectores menos vulneráveis
à instabilidade dos mercados e preços
internacionais?
RA - Essa é urna anomalia que Angola
vive e as autoridades devem continuar
com o trabalho que têm feito, que resulta
no crescimento do PIB não petrolífero.
O problema da economia angolana
tem a ver com o custo dos bens. No
Brasil também é alto, mas cá é maior,
nomeadamente o da alimentação, da
habitação, por causa da pouca oferta
e muita procura, a dependência das
importações e a falta de energia que são
frequentes. Tudo isso deve ser resolvidcfi
. !
"Outros desafios
E&M - A fraca resposta dos serviços
alfandegários e a escassez de portos
também são reclamadas pelos associados
daAEBRAN?
RA - O que aconteceu em 2008, no Porto
de Luanda, é um exemplo disso. Havia
filas de 100navios para descarregar, os
quais ficavam até quatro meses para
serem atendidos. Eu concordo com a
visão de que são precisos mais portos,
pois na altura havia muitos casos de
pessoas que viviam em Luanda, mas
usavam o Porto do Lobito, porque o
tempo de espera era muito alto. Eu
trabalhei numa empresa em Cabinda,
comprámos uma sonda de perfuração
que teve que entrar pelo Porto de
Ponta Negra, porque o local não tinha
condições para a receber.
E&M - De 2008 até à data actual houve
alguma melhoria?
RA - Pelo que tenho visto, o Porto
de Cabinda e de Luanda sofreram
transformações, sendo que na capital
as filas diminuíram muito, mas é
preciso precavermo-nos, senão haverá
estrangulamentos nos portos.
E&M - Quais os outros desa.fios que
Angola tem pela frente de modo a
responder positivamente às necessidades
de crescimento económico e à oferta de
investimentos que chega ao país?
RA -Se poder reduzir a um único factor,
obviamente que seria a educação, não só
a nível técnico, mas sobretudo de base.
EfrM - Porquê?
RA - Porque só com a educação as
pessoas melhoram a sua qualidade
de vida e ela passa a ser reflectida na
qualidade de trabalho. Por isso penso que
com a melhoria da formação de base, o
resto melhora.
E&M - "Há três países recipientes da
corrupção em Angola: Portugal, Brasil e
China. Grande parte do dinheiro roubado
em Angola é investido nesses países",
diz o jornalista angolano Rafael Marques
de Morais. O que lhe merece dizer sobre
isso?
RA - Não tenho conhecimento disso.
E&M - No cômputo geral, os angolanos
olham para o Brasil, mas os brasileiros
não olham para Angola. Desconhecem,
capa i1s
não sabem que existe um país chamado
Angola. Qual entende ser o motivo desse
pouco interesse ou falta de informação
correcta sobre a realidade angola?
RA - Existem vários factores. A educação
de base do Brasil também não é
perfeita, logo existem falhas e a falta
de conhecimento das outras realidades
também faz parte desta ausência. Outra
questão é que o Brasil é muito grande,
com mais ou menos 200 milhões de
habitantes, e às vezes é difícil as pessoas
saírem daquele universo e pensar no
mundo de fora. Por muitos anos, o Brasil
ficou fechado em si mesmo porque tinha
um mercado grande a ser desenvolvido e
praticamente independente da importação.
Então, por causa do seu tamanho e da
população, ele satisfazia-se internamente,
o que não ajuda a conhecer outras
realidades. Mas hoje já estamos mais
abertos, e os brasileiros já emigram muito.
Quanto à relação entre os dois países,
penso que vai haver mais intercâmbio,
porque hoje muitos angolanos já visitam
o Brasil e brasileiros vêm em Angola, na
medida em que a concessão de vistos
permite.
E&M - O Brasil tem a sua cultura
representada através de dois canais
televisivos, a Globo e a Record...
RA - Talvez não seja a melhor
representação do Brasil, mas é a realidade.
Esse produto de exportação brasileira é
dos piores que podemos encontrar, porque
uma dessas televisões se preocupa em
transmitir comportamentos humanos
negativos.
E&M - Quais os desafios da AEBRAN?
RA - Temos nove anos ~~existência
e pela primeira vez estamos com um
plano estratégico de trabalho para os
próximos cinco anos. Apesar de sermos
uma associação sem fins lucrativos,
pretendemos ser produtivos e uma
referência de fomento de negócios em
Angola. Assim sendo, qualquer empresário
pode contactar a AEBRAN para conhecer o
mercado angolano. &

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  • 1.
  • 2. 1o jcapa Angola-Brasil Renato Azevedo, Presidente da AEBRAN Economia • Mercado ''NO WO DEANGOIA,... NAO SEJUSTIFICAA ENT A~ OS BIOCOMBUSTÍVEIS '' Consciente dos desequihbrios que ainda existem nas relações entre os dois países, nomeadamente ao nível da capacidade produtiva e de recursos humanos, Renato Azevedo mostra-se, contudo, confiante no estreitamento e nas vantagens do relacionamento entre Angola e Brasil. O director da AEBRAN (Associação de Empresários e Executivos Brasileiros em Angola), lembra ainda que de 2004 a 2008, depois do arranque do programa do Governo brasileiro que visou estreitar as suas relações com os Estados africanos, as exportações brasileiras para Angola cresceram cerca de 500%, e que existem cerca de 25 mil profissionais brasileiros em Angola. Já quanto à questão dos biocombustíveis e da agricultura, onde os dois países cooperam, Renato Azevedo defende claramente a agricultura em detrimento da primeira, sendo que devem ser criadas infraestruturas voltadas para o desenvolvimento deste sector, nomeadamente armazenagem, para que, se não houver escoamento, a produção não estrague. Edjail dos Santos e Sebastião Vemba edjaildosantos.econom1aerne<cado@gmail.com sebastiaovemba.econom1aemercado@9ma1l.com
  • 3. :"ww.economiaemercado.sapo.ao 1outubro 2012 -- ------ -- --·- ------ capa j11 Economia á Mercado - De 2004 a 2008, depois do arranque do programa do Governo brasileiro que visou estreita.r as suas relações com os Estados africanos, as exportações brasileiras paraAngola cresceram cerca de 500%, segundo dados disponíveis, sendo que actualmente as trocas comerciais entre os dois países excedem os mil milhões de dólares. Como avalia esta relação, considerando as oportunidades de crescimento das duas economias e povos? Renato Azevedo - Para começar, as trocas comerciais entre os dois países são muito dependentes do crédito e o Brasil disponibilizou recentemente uma nova linha de crédito a Angola, o que significa que o país tem mais dinheiro à disposição para as empresas e empresários que queiram desenvolver negócios entre as duas nações. EfrM - Mas como avalia as oportunidades de negócios para as duas economias? RA - As oportunidades são imensas, porque existem recursos financeiros disponíveis, a economia angolana está a crescer em tomo de 7% a 8% ao ano, o Brasil também está a crescer, embora abaixo dos 2,5% ao ano. Sendo assim, então estamos a falar de duas economias em crescimento, as quais têm crédito à disposição dos empresários e só depende · do empreendedorismo destes, de modo a aproveitarem as oportunidades existentes. E&M - Em sua opinião, para além da crise económica e financeira internacional, à qual as duas economias (angolana e brasileira) não passaram imunes, a que se deveu a redução, em quase o dobro, do volume e valores das trocas comerciais entre Angola e o Brasil? RA - Sem dúvida nenhuma que a .crise é o principal motivo da queda nabalança comercial e evidentemente que o facto de a economia angolana estar muito dependente do petróleo as quedas desta natureza afectam o país. Esta dependência, aliás, é uma das vulnerabilidades de Angola, pois .,..
  • 4. ...depender de preços internacionais significa estar sujeito às alterações deste. EáM - Este é o único motivo? RA - Não, mas é o mais importante, pois 80% das variações que acontecem foram em função do preço do petróleo. EáM - Em função dos avanços técnicos e científicos, e mesmo da conjuntura macroeconómica, algumas vozes defendem que Angola tira poucas vantagens das cooperações económicas e empresariais internacionais, principalmente no que diz respeito à capacitação dos recursos humanos, atendendo que são poucas as instituições que priorizam a formação dos quadros nacionais. Concorda com esta afirmação? RA - Várias questões concorrem neste domínio. Por um lado, o sistema educacional angolano ainda não é capaz de formar a mão-de-obra que as empresas necessitam, por motivos óbvios, relacionados ao passado do país, sendo que nós aconselhamos os nossos associados a acrescentaremnos seus projectos programas de formação para o desenvolvimento da mão-de-obra local, só que muitas vezes estes não são aprovados por quem de direito. Por outro lado, também é verdade que o Estado e as empresas angolanas, quando precisam de quadros que não existem em território nacional, devem ir procurar no exterior, pois isso é normal e acontece em todos os países que saem de uma situação como Angola. Singapura, por exemplo, que tem mais ou menos 50 anos de dependência, mas vive até hoje com a ajuda de mão-de-obra estrangeira. Isto é natural, mas o que não pode acontecer é os Governos impedirem a entrada de estrangeiros. Aetema Q!.!estão dos v!stos E&M - Refere-se às dificuldades de obtenção de vistos para entrar e trabalhar emAngola? RA - A concessão de vistos angolanos é difícil para os empresários e trabalhadores estrangeiros, o que - - - ·---------- - ''No caso de Angola, onde não é crítica a produção de petróleo, não se justifica a entrada para os biocombustíveis, pois não há grandes ganhos em termos económicos e não há necessidade de consumo. Era preferível usar essas terras para a agricultura. ''Devem ser criadas infraestruturas voltadas para o desenvolvimento da agricultura, nomeadamente armazenagem, para que, se não houver escoamento, a produção não se estrague. Para além do aspecto tecnológico, devem também ser capacitados os recursos humanos, mas sobretudo deve haver crédito à agricultura com consistência. prejudica a actividade destes. Uma outra questão tem que ver com o tratamento que a ANIP dá aos empresários, atribuindo-lhes apenas o visto especial depois da aprovação dos projectos, o que não é correcto, pois os empresários precisam de tempo para fazer os seus estudos de mercado antes do arranque dos empreendimentos e obviamente que a falta deste documento é um empecilho. E&M - Sobre os vistos, o Brasil também retaliou. Pensa'que a retaliação resolve o problema? RA - Olhe, nessa área não posso falar muito porque não sou diplomata, mas pelo que eu entendo, deve existir contrapartida no sentido de os Estados tratarem das questões na mesma proporção. Entretanto, tenho conhecimento das novas obrigações impostas pela Embaixada Brasileira em Angola, porém ainda assim não chegam aos pés das dificuldades impostas pelas autoridades angolanas. Por exemplo, a Embaixada Brasileira emAngola exige a presença da pessoa para emitir o visto, mas isso ainda não é o mais problemático, porque apesar deAngola ser um país grande, a maior parte das pessoas estão concentradas em Luanda. Agora, vai para o Brasil, onde começou esta exigência por parte do Consulado de Angola, a situação torna-se mais complicada porque o nosso país é muito vasto e a exigência do solicitante do visto no Consulado, por exemplo em Brasília, saindo a pessoa do interior, impõe um custo absurdo que não é a mesma coisa de um angolano que não viva na capital deslocar-se até à nossa representação diplomática. As medidas são similares, mas os custos são diferentes, sendo que os brasileiros gastam mais. Então é necessário haver um equihbrio nesta relação. E&M - De que forma o Brasil pode apoiarAngola na formação dos recursos humanos, não só a nível das empresas, mas também a nível da formação académica e técnico-profissional?
  • 5. www.economiaemercado.sapo.ao1Outubro 2012 RA - Penso que há um caminho vasto a percorrer, com inúmeras possibilidades desta parceria se realizar, porque o Brasil tem várias organizações privadas e públicas dedicadas à formação, as quais estão abertas a convéruos com novos parceiros. A nível da AEBRAN existem alguns associados que trabalham nessa área da educação, mas no âmbito de parcerias público-privadas e não inter- estaduais. No passado, eu levei urna delegação do Ministério da Agricultura Desenvolvimento Rural e Pescas de Angola ao Brasil para visitar centros de desenvolvimento e pesquisa da Empresa de Desenvolvimento e Pesquisa Agropecuária (Embrapa), sendo que esta deslocação envolvia transferência de conhecimento e formação de mão-de- obra angolana. Eá'M - As empresas brasileiras do ramo da construção são as que mais facturam em Angola, sendo que até 2008 se estimava que elas tivessem um peso de cerca de 10% no PIB angolano. Qual será o peso actual destas na economia angolana, não só em termos de receitas para o Estado, mas principalmente em termos de postos de trabalho e diversificação da actividade económica? RA - Se se refere ao PIB não petrolífero, concordo que o peso delas esteja à volta deste valor, mas confesso que não tenho esses dados, mas eles aproximam-se ao real porque o PIB não petrolífero é dominado pelo sector da construção e estão presentes emAngola neste sector as maiores empresas brasileiras. Eá'M - Considera diversificado o leque de empresas brasileiras a operar em Angola? RA - Com certeza. Dentro dos associados de AEBRAN temos, além das construtoras e petrolíferas, empresas de outras naturezas e dimensões. Aliás, nós agregamos todo o tipo de empresas brasileiras independentemente da sua grandeza e área de negócio. E&M - No ano passado a Associação dos Angola (AEBRAN) falava da existência de até 25 mil profissionais brasileiros em Angola. Quais são os dados actuais? RA - É um dado difícil porque não existem recenseamentos. No entanto, sei que o número já foi maior, pelo menos até 2008. E&M - Pensa que os bancos brasileiros estão distraídos quanto ao desenvolvimento do sector financeiro angolano, uma vez que a banca portuguesa tem urna forte presença em Angola, contrariamente à brasileira? RA - O capítulo de bancos é à parte. Um dos associados da AEBRAN é o Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social do Brasil, que tem escritórios emAngola, há oito anos, e estão a estudar o mercado para posteriormente entrarem nele. Neste momento são um veículo da linha de crédito do Brasil a Angola e auxiliam os empresários que buscam estas fontes de crédito.Entretanto, a predominância de bancos portugueses emAngola é praticamente uma questão histórica, porque alguns deles já cá estavam durante a independência e muitos . resistiram.Por sua vez, o sistema bancáriobrasileiro é muito desenvolvido, dos mais seguros do mundo, mas ainda temos um mercado interno grande para atender, urna vez que a bancarização é alta, mas não é plena. Assim, resta- nos pouco tempo para pensar noutros mercados, senão, eventualmente, os da região geográfica em que Brasil se enquadra. Os biocombustíveis e agricultura E&M - Como é que o Brasil, principal produtor, consumidor e exportador, encara o presente e futuro do mercado mundial de biocombustíveis e quais são as suas expectativas relativamente à Companhia de Biocombustíveis de Angola (BIOCOM), urna joint-venture formada pela Odebrecht, Sonangol e o grupo Damer? RA - Os biocombustíveis têm nr,,tir:omPntP a marca "Brasil" porque, ...
  • 6. 14jcapa ...nos anos 70, quando começou a produção de álcool, na altura o Brasil estava em crescimento e a produção de petróleo era insuficiente, o que o obrigava a recorrer à importação de petróleo, mas os dois grandes choques na década de 70 no preço deste bem também estimularam o país a criar o programa de produção de biocombustíveis e, desde então, tem sido levado à frente com altos e baixos, dependendo do nível do preço e também do aumento das reservas do petróleo no Brasil. Com o advento da preocupação ambiental e das mudanças climáticas, este programa ganhou força por ser menos poluente que o petróleo e hoje existem muitas grandes empresas brasileiras que se dedicam à produção de etanol e biodiesel. Este é um produto de exportação brasileira, mas o Brasil não quer exportar só o produto, quer também produzir em outros países e penso que é nessa óptica que se têm feito a novas parcerias. E&M - E quanto ao caso especifico de Angola? RA - No caso de Angola, onde não é crítica a produção de petróleo, não se justifica, em meu entender, a entrada para os biocombustíveis, pois não há grandes ganhos em termos económicos e não há necessidade de consumo. Era preferível usar essas terras para a agricultura. Penso que o programa não vai funcionar tão cedo, porque uma indústria para se desenvolver precisa de um grande estímulo do lado da demanda e do lucro, e de momento não existe nem uma coisa nem outra. Quanto à questão de ser menos poluente, também é contestável, mas provavelmente é mais saudável, porém para Angola não deverá ser ainda uma prioridade. E&M - Qual é a importância das micro e pequenas empresas brasileiras, principalmente na agricultura, tanto do ponto de vista da produção, quanto da criação de empregos e combate à pobreza? RA - A agricultura brasileira não tem hoje uma grande contribuição na geração de empregos porque ela é dominada pelos grandes produtores. O grande salto que ela deu a nível de produtividade foi passar a ser tratada como um negócio de grandes proporções. Assim, as pequenas empresas não têm grande peso, embora em algumas regiões do Brasil a agricultura ainda seja artesanal. Em Angola a agricultura ainda é mais de subsistência, mas potencialmentepode gerar muito emprego, sendo que falta ainda o suporte técnico. E&M - Já agora, como avalia este sector em Angola, considerando as políticas de diversificação da economia do país, as quais priorizam o agro-negócio? RA - No passado, quando se analisava o futuro, falava-se que se iria atingir um período de carência alimentar por causa das taxas de crescimento da população e a produção de alimentos não serem compatíveis. Mas chegou a revolução verde que trouxe um aumento brutal da produtividade e permitiu que a produção dos alimentos crescesse através da automatização e novas técnicas de produção. A micro agricultura tem espaço, mas, para usar o potencial de Angola em recursos naturais precisamos implementar a produção em grande escala com técnicas modernas, e ai não será o pequeno produtor, mas sim as grandes empresas. E&M - Como o Brasil poderia ajudar Angola para que todo o potencial agropecuário fosse aproveitado? RA - Devem ser criadas infraestruturas voltadas para o desenvolvimento do sector, nomeadamente armazenagem, para que, se não houver escoamento, a produção não estrague. Para além do aspecto tecnológico, devem também ser capacitados os recursos humanos, mas sobretudo deve haver crédito à
  • 7. www.economiaemercado.sapo.ao 1Outubro 2012 agricultura com consistência, porque o risco de baixas na produção é grande, mas não quer dizer que ela não seja recuperada numa outra lavoura. E&M - Numa recente entrevista à Economia & Mercado, um empresário brasileiro do ramo do agro-negócio afirmou que em Angola não existem fazendas, mas sim terras. Que comentário lhe merece esta afirmação? RA - Em Angola a terra é propriedade do Estado. Assim, quem é que vai investir em propriedade de terceiros? Esse é um grande problema, mas no Brasil a terra é de quem a adquire. Quando se fala da falta de fazenda, penso que se refere à falta de um negócio estruturado, produtivo, com retorno, mas em Angola existem casos isolados. E&M - Diferentemente de Angola, em que o sector petrolífero suplanta os demais em termos de crescimento, na economia brasileira a indústria e a agricultura são dos que mais crescem e contribuem para o PIB do país. Qual a importância de se apostar em sectores menos vulneráveis à instabilidade dos mercados e preços internacionais? RA - Essa é urna anomalia que Angola vive e as autoridades devem continuar com o trabalho que têm feito, que resulta no crescimento do PIB não petrolífero. O problema da economia angolana tem a ver com o custo dos bens. No Brasil também é alto, mas cá é maior, nomeadamente o da alimentação, da habitação, por causa da pouca oferta e muita procura, a dependência das importações e a falta de energia que são frequentes. Tudo isso deve ser resolvidcfi . ! "Outros desafios E&M - A fraca resposta dos serviços alfandegários e a escassez de portos também são reclamadas pelos associados daAEBRAN? RA - O que aconteceu em 2008, no Porto de Luanda, é um exemplo disso. Havia filas de 100navios para descarregar, os quais ficavam até quatro meses para serem atendidos. Eu concordo com a visão de que são precisos mais portos, pois na altura havia muitos casos de pessoas que viviam em Luanda, mas usavam o Porto do Lobito, porque o tempo de espera era muito alto. Eu trabalhei numa empresa em Cabinda, comprámos uma sonda de perfuração que teve que entrar pelo Porto de Ponta Negra, porque o local não tinha condições para a receber. E&M - De 2008 até à data actual houve alguma melhoria? RA - Pelo que tenho visto, o Porto de Cabinda e de Luanda sofreram transformações, sendo que na capital as filas diminuíram muito, mas é preciso precavermo-nos, senão haverá estrangulamentos nos portos. E&M - Quais os outros desa.fios que Angola tem pela frente de modo a responder positivamente às necessidades de crescimento económico e à oferta de investimentos que chega ao país? RA -Se poder reduzir a um único factor, obviamente que seria a educação, não só a nível técnico, mas sobretudo de base. EfrM - Porquê? RA - Porque só com a educação as pessoas melhoram a sua qualidade de vida e ela passa a ser reflectida na qualidade de trabalho. Por isso penso que com a melhoria da formação de base, o resto melhora. E&M - "Há três países recipientes da corrupção em Angola: Portugal, Brasil e China. Grande parte do dinheiro roubado em Angola é investido nesses países", diz o jornalista angolano Rafael Marques de Morais. O que lhe merece dizer sobre isso? RA - Não tenho conhecimento disso. E&M - No cômputo geral, os angolanos olham para o Brasil, mas os brasileiros não olham para Angola. Desconhecem, capa i1s não sabem que existe um país chamado Angola. Qual entende ser o motivo desse pouco interesse ou falta de informação correcta sobre a realidade angola? RA - Existem vários factores. A educação de base do Brasil também não é perfeita, logo existem falhas e a falta de conhecimento das outras realidades também faz parte desta ausência. Outra questão é que o Brasil é muito grande, com mais ou menos 200 milhões de habitantes, e às vezes é difícil as pessoas saírem daquele universo e pensar no mundo de fora. Por muitos anos, o Brasil ficou fechado em si mesmo porque tinha um mercado grande a ser desenvolvido e praticamente independente da importação. Então, por causa do seu tamanho e da população, ele satisfazia-se internamente, o que não ajuda a conhecer outras realidades. Mas hoje já estamos mais abertos, e os brasileiros já emigram muito. Quanto à relação entre os dois países, penso que vai haver mais intercâmbio, porque hoje muitos angolanos já visitam o Brasil e brasileiros vêm em Angola, na medida em que a concessão de vistos permite. E&M - O Brasil tem a sua cultura representada através de dois canais televisivos, a Globo e a Record... RA - Talvez não seja a melhor representação do Brasil, mas é a realidade. Esse produto de exportação brasileira é dos piores que podemos encontrar, porque uma dessas televisões se preocupa em transmitir comportamentos humanos negativos. E&M - Quais os desafios da AEBRAN? RA - Temos nove anos ~~existência e pela primeira vez estamos com um plano estratégico de trabalho para os próximos cinco anos. Apesar de sermos uma associação sem fins lucrativos, pretendemos ser produtivos e uma referência de fomento de negócios em Angola. Assim sendo, qualquer empresário pode contactar a AEBRAN para conhecer o mercado angolano. &