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Prontuários, para que servem?                          Rev Bras                             PESQUISA ORIGINAL
Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392 Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392
                                                                                             ORIGINAL RESEARCH


    PRONTUÁRIOS, PARA QUE SERVEM? REPRESENTAÇÃO DOS
     COORDENADORES DE EQUIPE DOS CAPSi A RESPEITO DO
         VALOR E DA UTILIDADE DOS PRONTUÁRIOS

        PATIENTS RECORDS, WHAT ARE THEY USED FOR?
    REPRESENTATION OF CAPSis´ TEAM COORDINATORS ABOUT
          THE VALUE AND USE OF PATIENTS RECORDS
                                                                                   Alberto Olavo Advincula Reis 1
                                                                                        Caroline Dombi-Barbosa 2
                                                                                 Moacyr Miniussi Bertolino Neto 3
                                                                                 Maria Margarida Licursi Prates 4
                                                                                 Patrícia Santos de Souza Delfini 5
                                                                                            Felipe Lessa Fonseca 6
                                                                                      Ariana Queiroz de Oliveira 7
    Reis AOA et al. Prontuários, para que servem? Representação dos coordenadores de equipe
    dos CAPSI a respeito do valor e da utilidade dos prontuários. Rev Bras Crescimento
    Desenvolv Hum. 2009; 19(3): 383-392.
    Resumo:
    Introdução: o artigo procura compreender como os Coordenadores dos Centros de Atenção
    Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) do Estado de São Paulo percebem o valor e a utilidade
    dos prontuários do usuários do serviço. Atualmente, os prontuários obedecem a claros princípios
    éticos. São muitas as pesquisas que se utilizam de prontuários e vários os estudos que se
    propõem a aperfeiçoá-los uma vez que são considerados ferramenta de primeira importância
    no âmbito da saúde. Cabe, entretanto, indagar se esses instrumentos são valorizados e se suas
    utilidades percebidas pelas equipes de saúde mental no exercício real de suas práticas. O
    trabalho descreve e analisa as percepções dos Coordenadores dos CAPSi-SP a respeito da
    utilidade dos prontuários para a equipe de saúde e para os usuários. Método: foi entrevistado
    um Coordenador de cada um dos 19 dos CAPSi do Estado de São Paulo. As respostas foram
    analisadas de acordo com os procedimentos clássicos da Análise de Conteúdo. Resultados:
    os prontuários são percebidos como valiosos instrumentos de trabalho e sua importância
    destacada como instrumento de intervenção e de acompanhamento clínicos. Sua relevância é
    assinalada como dispositivo que possibilita a articulação e a comunicação dos membros das
    equipes técnicas dos CAPSi. Por outro lado, não é percebida qual a utilidade que eles teriam
    para o usuário. A contradição nos níveis de importância alocada à utilidade dos prontuários
    quando se trata da equipe técnica ou dos usuários enseja uma discussão aprofundada sobre a
    natureza da clínica em saúde mental praticada nos CAPSi.
    Palavras-chave: CAPSi; prontuários; criança/adolescente; saúde mental.
    Trabalho resultante de processo FAPESP nº 2006/06902-2, realizado pelo Laboratório de Saúde Mental Coletiva (LASAMEC),
    da Faculdade de Saúde Pública da USP.
1   Professor Doutor do Dept. de saúde materno-infantil da Faculdade de Saúde Pública da USP, orientador de Pós-graduação do
    Programa de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da USP. Coordenador do grupo de pesquisa CNPq do Laboratório
    de Saúde Mental Coletiva - LASAMEC. E-mail: albereis@usp.br
2   Psicóloga. Mestre em Saúde Pública. do depto. de Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Saúde Pública da USP. Pesquisadora
    do LASAMEC. E-mail: caroldombi@usp.br
3   Psicólogo, pesquisador, membro do LASAMEC. E-mail:
4   Terapeuta Ocupacional, pesquisadora, membro do LASAMEC.
5   Psicóloga. Mestranda do Depto. de Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Saúde Pública da USP. Pesquisadora do LASAMEC.
    Bolsista CNPq - Brasil. E-mail: patriciadelfini@usp.br
6   Psicólogo. Doutor pela Pontifícia Universidade Católica/SP. Pesquisador do LASAMEC. E-mail: flessaf@uol.com.br
7   Psicóloga, Mestranda da UNIFESP, membro do LASAMEC. E-mail: arianapsi@uol.com.br



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Prontuários, para que servem?                   Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392



    Abstract:
    Introduction: the article aims to understand how the coordinators of Psychosocial Care
    Centres for Children and Adolescents (CAPSi) from the state of São Paulo perceive the
    value and use of patients records. Nowadays, patients records obey clear ethical principles.
    There are several studies that collect data from patients records and others proposed to
    provide their improvement, because they are considered important tools in health system.
    However, it is important to ask if these tools are valuable and if their use is perceived by
    mental health teams in their everyday practices. The article describes and analyses the
    perception of CAPSi´s coordinators about the use of records for teams and patients. Method:
    One coordinator from each of the 19 CAPSi from the state of São Paulo were interviewed.
    The answers were analysed according to the classic procedures of content analysis. Results:
    the records are perceived as valuable work tools and they are considered important as
    intervention and clinical follow-up tools. Their relevance is also related as a tool that makes
    the articulation and communication among workers from CAPSi possible. On the other
    hand, the use they should have for patients is not perceived. The contradiction between
    levels of importance of the tool for workers and patients may point to the importance of a
    discussion about the mental health clinic practiced in CAPSi.

    Key words: CAPSi; patients records; children/adolescent; mental health.




INTRODUÇÃO                                            Goffman1-3, das asserções antipsiquiátricas
                                                      oriundas diretamente das obras de Laing4 e
        Nem sempre a existência de prontuários,       Cooper5 ou de sua recuperação pela psicanáli-
que acompanham a trajetória dos usuários dos          se lacaniana na versão de Maud Mannoni6. De
equipamentos de saúde mental e nos quais se           acordo com essa perspectiva, a dinâmica da
inscrevem os diversos dados, ações, cuidados          saúde mental, em virtude da natureza específi-
e medidas atinentes a esses sujeitos, foi reco-       ca do transtorno mental, prescindiria do recur-
nhecida como sendo de real utilidade para eles,       so de prontuários.
nem sua existência representou um valor posi-                Atualmente, com a saúde mental funda-
tivo por parte de setores de trabalhadores da         da em outras bases e que em parte se inspira-
saúde mental. Já se argumentou criticamente,          ram dessas críticas, os prontuários e seus usos
num momento histórico em que as instituições          obedecem a claros princípios que fazem do
de saúde mental respondiam maciçamente ao             usuário seu proprietário e das instituições seu
modelo médico-hospitalar, que prontuários             guardião, consoante a princípios éticos bem
cristalizavam a vida e enrijeciam a dinâmica          delineados. Exemplo disso é o que reza o arti-
da situação dos sujeitos que neles tinham suas        go 70 do Código de Ética Médico7, e de acor-
vicissitudes inscritas e, assim, contribuíam para     do com o qual se torna vedado ao médico “Ne-
a reificação e estigmatização dos processos que       gar ao paciente acesso a seu prontuário
os afetavam. A existência dessa modalidade de         médico, ficha clínica ou similar, bem como
registro prender-se-ia tão exclusivamente a           deixar de dar explicações necessárias à sua
medidas burocrático-administrativas, não raro         compreensão, salvo quando ocasionar riscos
ideológicas e derivadas mimeticamente de pro-         para o paciente ou para terceiros.” Este direi-
cedimentos próprios da área que se ocupa das          to é geralmente denominado de “habeas data”.
doenças físicas. Parte dessas críticas foi deri-      Dessa forma, mesmo que ainda não totalmente
vada dos estudos interacionista-simbólicos de         compreendido por alguns profissionais, o pron-


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tuário é de total propriedade do paciente, ten-             O presente trabalho, em face de tais in-
do este o direito de acessá-lo, a qualquer mo-       terrogações, descreve e analisa as percepções
mento, bem como o paciente tem o direito de          que os Coordenadores dos CAPSi do Estado
negar o acesso ao seu prontuário por qualquer        de São Paulo têm a respeito da utilidade dos
profissional desde que assim o deseje”8 (Cos-        prontuários. A pergunta indutora e as respos-
ta, 2001:55).                                        tas que dela decorreram permitiram que se ex-
       Dentre os elementos que participaram          plorassem as percepções a respeito das diver-
dessa inflexão destacam-se a transformação da        sas modalidades de utilidades que os
natureza do sistema de saúde mental, a emer-         prontuários encerram. Essas percepções foram
gência de novos equipamentos sociais de aten-        estudadas a partir de duas perspectivas: a utili-
ção tais como os Centros de Atenção                  dade para os usuários e a utilidade para a equi-
Psicossocial e as Residências Terapêuticas, ali-     pe técnica.
ados a uma compreensão baseada em princípi-
os éticos de natureza democrático-cidadã dos
prontuários.                                         MÉTODO
       Nesses termos, parece existir consenso
sobre a importância dos prontuários seja para               Os resultados apresentados nesse artigo
seguimento, segurança e respaldo do usuário e        remetem-se à análise das respostas a uma ques-
suas utilizações são diversas. Assim, são mui-       tão (subdividida em duas perguntas) de um to-
tas as pesquisas que se utilizam de prontuários      tal de sete questões abertas que compuseram
e são vários os estudos e ensaios que se pro-        uma entrevista estruturada aplicada aos Coor-
põem a aperfeiçoar e modernizar os prontuá-          denadores dos 19 CAPSi do Estado de São
rios considerados então como uma ferramenta          Paulo, cadastrados há pelo menos um ano até
de primeira importância no âmbito da saúde           2006. A entrevista constitui parte da pesquisa
mental pública9,10. Nas resoluções do Conse-         “Caracterização Epidemiológica e Sócio-
lho Federal de Medicina referente ao prontuá-        demográfica dos Centros de Atenção
rio, definido como “conjunto de documentos           Psicossocial Infanto-juvenis (CAPSi) no Esta-
padronizados e ordenados, destinados ao re-          do de São Paulo”, processo Fapesp nº 2006/
gistro dos cuidados profissionais ao paciente        06902-2, aprovada pelo Comitê de Ética da
pelos serviços de saúde públicos ou privados”11      Faculdade de Saúde Pública da USP (protoco-
existe o reconhecimento do valor do prontuá-         lo nº 1616 de 20 de abril de 2007).
rio para o paciente, a instituição que o atende,            Escolheu-se os Coordenadores de Equi-
bem como para o médico, o ensino, a pesquisa         pe como sujeitos da investigação pelo fato de-
e os serviços de saúde pública.                      les assumirem função de liderança tanto nas
       À luz dessas considerações, poder-se-ia       atividades atinentes aos projetos terapêuticos
perguntar se os princípios éticos que regem os       como de responsabilidade na manutenção de
prontuários não se constituiriam apenas como         registro de produtividade e de interlocução com
superestruturas desconectadas do saber comum         os diferentes atores que atuam junto aos CAPSi.
que organiza, de fato, a realidade das práticas      As respostas foram gravadas e transcritas, sen-
dos serviços de saúde mental. Se assim for,          do, então, objeto de análise e categorização de
qual seria então o valor que as equipes de saú-      acordo com os procedimentos clássicos da aná-
de mental alocam aos prontuários no exercício        lise de conteúdo12-14. Um treinamento cuidado-
real de suas práticas cotidianas? Quais são as       so da equipe de entrevistadores, formada por
utilidades percebidas por essas equipes no tan-      mestrandos, doutorandos, profissionais da área
gente aos prontuários?                               da psicologia, terapia ocupacional, educação e


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enfermagem, aliado a um número conciso de                    a) utilidade para a equipe e
perguntas permitiu que se reduzisse ao míni-                 b) utilidade para os usuários.
mo o viés de entrevistador, eventualmente ca-                As unidades de significação, uma vez
paz de afetar a qualidade das respostas.              associadas por nexos lógicos de similaridade
       A estrutura do instrumento voltado à           semântica, deram origem a diversas categori-
coleta de informações comportou três temas,           as. O procedimento que, em seguida, permitiu
       1. Inserção dos usuários no CAPSI [1ª          a construção e a hierarquização das categorias
          questão]                                    foi pautado por dois critérios:
       2. Processo de estabelecimento de di-                 1. aproximação das subcategorias que
          agnóstico [2ª questão e subquestões]                  encerravam maior ou menor freqüên-
       3. Processo de registro e utilização dos                 cia de unidades de significação de
          prontuários [da 3ª a 7ª questão e                     respostas (critério quantitativo);
          subquestões].                                      2. relação de significação que cada uma
       As entrevistas foram agendadas e reali-                  da subcategoria mantém com as ou-
zadas nos próprios CAPSi consoante à dispo-                     tras (critério qualitativo).
nibilidade dos sujeitos. A questão nº4 foi retida
para o presente trabalho e consistiu na seguin-
te formulação:                                        RESULTADOS E DISCUSSÃO
       Questão 4 - Qual a utilidade dos pron-
tuários para:                                                Valor dos prontuários
       a. Equipe Técnica                                     O valor dos prontuários foi considerado
       b. Usuário                                     positivo para os Coordenadores, não havendo
       Para a análise das respostas foi realiza-      sido registrada nenhuma expressão, idéia ou
da uma leitura geral (envolvendo as duas per-         menção a respeito de qualquer qualidade ne-
guntas) tendo por crivo o valor do prontuá-           gativa a eles alocada. O conjunto das respos-
rio, uma vez que se observou que todas as             tas indica a enorme importância que o prontu-
respostas sobre a utilidade dos prontuários           ário encerra para as Equipes dos CAPSi. Frases
traziam consigo referências ao valor desses           e expressões, produzidas por representante de
instrumentos. Assim, decidiu-se por reter to-         um CAPSi do Interior e outro da Grande São
das as unidades de significações que, na per-         Paulo, como as abaixo transcritas retratam o
cepção dos Coordenadores, se remetiam ao              conjunto das falas dos entrevistados:
valor representado pelos prontuários para os                 “Ah! Eu acho que é de uma riqueza ím-
CAPSi. Por último, foram sorteados aleatori-          par né? Porque cada um tem uma ação, então
amente dois CAPSi, um do Interior e outro da          é só quem for atender aquele caso, seja a fa-
Capital do Estado de São Paulo para que se            mília, seja a escola; então é subsídio assim,
extraíssem as expressões mais ilustrativas a          importantíssimo, né? Você ter a fotografia da-
respeito do valor dos prontuários emitidas por        quele paciente, a dinâmica da família, todo dia
seus Coordenadores. Para o tratamento espe-           dele, né? Muito importante.” (CAPSi 12 -
cífico das respostas das duas perguntas pro-          Grande São Paulo)
cedeu-se a uma análise temática categorial.                  “Para a Equipe é fundamental: é o ins-
Para tanto, a totalidade das respostas foi lida,      trumento de trabalho. Aqui a gente zela por
efetuando-se nesse processo ao recorte e es-          um bom registro. Imagina só, esses dias veio
tabelecimento de unidades de significação que         uma mãe aqui, que a filha fez atendimento
se remetiam a duas categorias maiores defi-           em 2004, e veja bem, se eu não tive um bom
nidas de antemão:                                     registro como é que eu vou poder fazer um


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bom relatório? A gente faz o registro de tudo,       INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO
tudo mesmo, é bem elaborado e sobre todas            E DIAGNÓSTICO.
as consultas, cada atividade. É o meio de co-               As referentes ao “canal de troca de in-
municação da equipe, se a referência não tá          formação entre os membros da equipe técni-
aqui e alguma pessoa precisa de alguma in-           ca”, “lugar de aglutinação e ampliação da vi-
formação vai recorrer ao prontuário.”                são da Equipe” deram lugar à categoria: BASE
(CAPSi 9 - Interior)                                 DE TROCAS DE INFORMAÇÃO.
       A coincidência de percepção acerca do                Quando se tratava de falas que aponta-
valor dos prontuários presente nas falas dos         vam para o fato do prontuário “inscrever a his-
Coordenadores oriundos de duas realidades            tória da criança ou do adolescente nos CAPSi”
geodemográficas distintas indica que os pron-        ou de ser “o lugar de apropriação da história
tuários são considerados como instrumento de         do sujeito”, elas foram organizadas sob a
trabalho e de cidadania importante para os           subcategoria SEDIMENTAÇÃO DA HISTÓ-
CAPSi.                                               RIA DO SUJEITO” e, finalmente, quando fi-
                                                     zeram menção de que o prontuário é um ins-
                                                     trumento com o qual a equipe pode contar para
        A.     Utilidade dos prontuários para        responder a alguma demanda ou
               as Equipes                            questionamento vindo de fora do CAPSi ou
         As primeiras Categorias obtidas a par-      quando é percebido como “referência para a
tir das Unidades de Significação acerca da per-      equipe”, “recurso de memória”, elas foram
cepção da utilidade dos prontuários para a           colocadas sob a subcategoria SEGURANÇA
EQUIPE foram:                                        PARA EQUIPE.
        • Instrumento de orientação de condu-
           ta;                                             Deste modo, pôde-se construir 4
        • Base de atendimento;                       subcategorias maiores:
        • Canal de troca de informação entre               1. Base de troca de informação entre os
           os membros da equipe técnica;                       membros da equipe técnica;
        • Lugar de aglutinação e ampliação da              2. Instrumento de intervenção e diagnós-
           visão da Equipe;                                    tico junto à criança/adolescente;
        • Inscrição da história da criança ou do           3. Sedimentação da história do sujeito;
           adolescente nos CAPSi;                          4. Fator de segurança para a equipe.
        • Lugar de apropriação da história do              Essas quatro subcategorias foram por sua
           sujeito;                                  vez aglutinadas em duas categorias mais ge-
        • Instrumento com o qual a equipe            rais.
           pode contar para responder a alguma             1. INTERVENÇÃO INTEGRAL en-
           demanda ou questionamento vindo                     globou as subcategorias:
           de fora do CAPSi;                               a. Base de troca de informação;
        • Referência para a equipe;                        b. Instrumento de intervenção e diag-
        • Recurso de memória.                                  nóstico.
        As Unidades de Significação que fize-              2. DOCUMENTO IDENTITÁRIO que
ram menção ao fato dos prontuários serem per-                  associou as subcategorias:
cebidos como “instrumento de avaliação do                  a. Sedimentação da História do Sujei-
estado da criança ou do adolescente”, como                     to;
“instrumento de orientação de conduta” e “base             b. Segurança para a Equipe e o Pacien-
de atendimento” definiram a subcategoria:                      te.


                                              – 387 –
Prontuários, para que servem?                   Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392



Figura 1: Percepção da utilidade dos prontuários para a equipe segundo os Coordenadores dos
CAPSi, Estado de São Paulo, 2009.
Equipe                  Intervenção Integral                   Base de Troca de Informações
                         Intervenção Integral
                                                          Instrumento de Intervenção e Diagnóstico
    Equipe
                                                            Sedimentação da História do Sujeito
                       Documento Identitário
                                                            Segurança para a Equipe e o Paciente
Fonte: REIS AOA. Pesquisa Caracterização Epidemiológica e Sócio-demográfica dos Centros de
Atenção Psicossociais Infantojuvenis do Estado de São Paulo, processo FAPESP 06/06902-2.

       A principal utilidade do prontuário é a              Resulta então poder afirmar que o
de ser um Instrumento de Intervenção e Di-            prontuário tem sua maior importância como
agnóstico, representando 41,9% das respostas.         função operatória clínica. Outra utilidade
Em seguida, situam-se as respostas que indi-          percebida é a de assumir uma função
cam ser os prontuários um Lugar de Troca de           psicossocial ao possibilitar encontro,
Informação entre os membros da Equipes                interação, comunicação da equipe cujos
(22,6,0%) Sedimentação da História do Su-             membros pouco discutem ou nem sempre se
jeito (25,8%) e, por último, Lugar de Segu-           encontram entre si.
rança (9,7%). A freqüência acumulada dos dois
tipos de respostas, “Instrumento de Interven-                A segunda categoria denominada DO-
ção e Diagnóstico” e “Lugar de Troca de In-           CUMENTO IDENTITÁRIO foi formada a
formação entre os membros da Equipe” evi-             partir da associação das duas últimas
dencia a importância desse conjunto (64,5%).          subcategorias:
Além, disso essas duas subcategorias entretêm                1. Lugar de sedimentação da história
entre si um nexo lógico que possibilita que for-             2. Lugar de segurança
mem juntas uma categoria maior.                              A associação entre as subcategorias
       As duas subcategorias articuladas entre        Lugar de Sedimentação da história do sujei-
si, sob a denominação Intervenção Integral,           to e Lugar de Segurança para a equipe e o
definem o núcleo central da significação rela-        paciente permitiu a formação da categoria
tiva à utilidade do questionário para a equipe        Documento Identitário. A freqüência das
técnica. Considerando que a orientação e a in-        unidades de significação que deram origem
tervenção diagnóstica devam ser, de acordo            à primeira representa 25,9% enquanto as que
com os princípios dos CAPS e do SUS,                  formaram a segunda. Lugar de Segurança
conduzidas sob a lógica da integralidade e, con-      representaram 9,7% das respostas. O conjun-
sequentemente, da multidisciplinaridade que           to das duas subcategorias responde por
caracteriza o trabalho de uma equipe de saúde         35,5% do total de todas as respostas. A sig-
mental da rede pública, o fato do prontuário          nificação comum entre elas se mostra no fato
ter uma função integradora no âmbito da co-           de que é pela apropriação e sedimentação da
municação e da troca de informação entre os           história do sujeito é que se pode responder a
membros da equipe faz com que a articulação           qualquer demanda ou questionamento oriun-
dessas duas subcategorias mostre, nesses ter-         dos da família, da justiça ou de diversas ou-
mos, seu nexo lógico.                                 tras instituições ou grupos.


                                                – 388 –
Prontuários, para que servem?                Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392



Tabela 1: Distribuição do número e proporção das Unidades de Significação para as Categorias
referentes à Utilidade dos Prontuários para a Equipe na percepção dos Coordenadores dos CAPSi.
São Paulo, 2009.
                                                                                      frequência
                                                          frequência       frequência   relativa
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS frequência
                                                            relativa       acumulada acu]mulada

            Base de Troca de                                                                    22,6
                                                 7            22,6               7
INTERVENÇÃO Informações
  INTEGRAL  Instrumento de
            Intervenção e                    13               41,9               20             64,5
            Diagnóstico
             Sedimentação da                                                                    90,3
                                                 8            25,8               28
 DOCUMENTO História do Sujeito
 IDENTITÁRIO Segurança para a
             Equipe e o Paciente                 3             9,7               31            100,0
                       TOTAL                 31*             100,0               31            100,0

Fonte: REIS AOA. Pesquisa Caracterização Epidemiológica e Sócio-demográfica dos Centros de
Atenção Psicossociais Infantojuvenis do Estado de São Paulo, processo FAPESP 06/06902-2.
*O número de unidades de significação supera o número de entrevistados posto que um sujeito
pode produzir mais de uma unidade de significação

B Utilidade dos prontuários para os                        • Ética;
   usuários                                                • Nenhuma utilidade.
      As primeiras Categorias obtidas a partir             As categorias INFORMAÇÃO OFI-
das Unidades de Significação acerca da per-          CIAL OU INSTITUCIONAL e INFORMA-
cepção da utilidade dos prontuários para os          ÇÃO PESSOAL puderam ser associadas dan-
USUÁRIOS foram:                                      do origem à categoria maior INFORMAÇÃO
      • Informação oficial ou institucional;         (o prontuário é útil para o usuário porque é
      • Informação pessoal;                          fonte de informação para ele). As outras 4 ca-
      • Segurança;                                   tegorias não responderam a nenhum critério
      • Benefícios;                                  que lhes permitissem associação.


Figura 2: Percepção da utilidade dos prontuários para os usuários de acordo com os Coordena-
dores dos CAPSi. Estado de São Paulo. 2009.
                                    INFORMAÇÃO               PESSOAL INSTITUCIONAL
                                       Segurança
              Usuário                  Benefícios
                                       Ética
                                       Nenhuma
Fonte: REIS AOA. Pesquisa Caracterização Epidemiológica e Sócio-demográfica dos Centros de
Atenção Psicossociais Infantojuvenis do Estado de São Paulo, processo FAPESP 06/06902-2.


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Prontuários, para que servem?                     Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392



       Foram estabelecidas cinco categorias             teresse de ordem não institucional e que inte-
sem que se apreendesse um nexo lógico entre             ressa de maneira direta e imediata ao sujeito
elas que permitisse suas associações mais par-          tal como “a mãe quer informação sobre a ques-
ticulares capazes de formar, desta sorte, cate-         tão medicamentosa” ou ainda, “a mãe conse-
gorias maiores. De modo similar, as freqüên-            gue os atestados que precisa”.
cias de Unidades de Significação sob cada uma                  Optou-se por distinguir Informação das
das subcategorias foram praticamente equiva-            respostas que foram organizadas sob a rubrica
lentes. A única subcategoria que se diferenciou         “Benefícios” pelo fato desses últimos repre-
em significações diversificadas foi a denomi-           sentarem uma situação muito específica em que
nada INFORMAÇÃO. Nesse caso, ela se                     a informação constitui um meio ou instrumen-
bipartiu em “informação institucional” e “in-           to para obter alguma vantagem, tal como uma
formação pessoal”.                                      ajuda financeira ou algo concreto assemelha-
       Informação Institucional encerra unida-          do. A categoria Segurança é da mesma ordem
des de significação que fazem referência à uti-         da categoria de mesmo nome e que se reporta
lidade do prontuário para o usuário quando              à “utilidade para a equipe”. Ética se refere ao
percebida como um veículo de comunicação                fato de que as respostas, de caráter geral, res-
para a Vara da Família, para o Conselho Tute-           pondem essencialmente, a um principio ético,
lar ou para situações em que a criança ou o             sem mencionar nenhum benefício imediato e
adolescente são objeto de transferência para            tangível, como por exemplo, “O Prontuário é
uma outra instituição.                                  do usuário”. Finalmente, as respostas “não sei”
       O segundo tipo, Informação Pessoal, re-          ou “nenhuma” foram consideradas de mesma
fere-se às respostas conectadas com algum in-           significação.

Figura 3: Percepção da utilidade dos prontuários para as equipes e os usuários de acordo com os
Coordenadores dos CAPSI. Estado de São Paulo, 2009.
                                                          Base de Troca de Informações
                         Intervenção Integral
                                                   Instrumento de Intervenção e Diagnóstico

                                                             Sedimentação da História do Sujeito
                 Equipe         Documento Identitário
                                                             Segurança para a Equipe e o Paciente
                                                                           Pessoal
                                     Informação
                                                                            Institucional
Utilidade
                                                                             Segurança
                 Usuário                                                     Benefícios
                                                                                Ética
                                                                              Nenhuma


Fonte: REIS AOA. Pesquisa Caracterização Epidemiológica e Sócio-demográfica dos Centros de
Atenção Psicossociais Infantojuvenis do Estado de São Paulo, processo FAPESP 06/06902-2


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Prontuários, para que servem?                  Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392



Tabela 2: Distribuição do número e proporção das Unidades de Significação para as Categorias
referentes à utilidade dos Prontuários na percepção dos Coordenadores dos CAPSi. São Paulo,
2009.
    CATEGORIA                             n                                       %
    Informação                             2                                     10,5
    Pessoal Institucional                 2                                      10,5
    Segurança                             3                                      15,8
    Benefício                             3                                      15,8
    Ética                                 2                                      10,5
    Nenhuma                                7                                     36,9
    Total                                 19                                     100
Fonte: REIS AOA. Pesquisa Caracterização Epidemiológica e Sócio-demográfica dos Centros de
Atenção Psicossociais Infantojuvenis do Estado de São Paulo, processo FAPESP 06/06902-2.

       As respostas em suas unidades de signi-       Psicossocial do Estado de São Paulo como
ficação se distribuíram com freqüências apro-        essenciais para o processo de intervenção clí-
ximadamente assemelhadas pelas diversas ca-          nica e acompanhamento das crianças e ado-
tegorias. A categoria NENHUMA, significando          lescentes. São, igualmente, vistos como dis-
que o prontuário não representa utilidade al-        positivo que possibilita a articulação dos
guma para o usuário é a única que se destaca         membros das equipes técnicas dos CAPSi.
com 36,9% (n=7). Não deixa de ser surpreen-          Deste modo, eles são apreendidos como ins-
dente o fato de que o prontuário, percebido          trumentos cujos sentidos de intervenção
como tendo uma importância “fundamental”,            apontam tanto para o “interior” do CAPSi
considerado como o “lugar da história do pa-         quanto para o “exterior”. No primeiro senti-
ciente” ou ainda visto como “chave mestra” se        do, eles aparecem como ferramentas de su-
tratando de sua utilidade para a equipe técni-       porte clínico que asseguram a continuidade
ca, seja quando se refere ao usuário, estimado       da atenção dispensada às crianças e adoles-
como não tendo utilidade alguma. A assimetria        centes em seus contextos. No segundo sen-
entre esses dois pólos merece destaque e, pos-       tido, o prontuário é encarado como uma fer-
sivelmente, aponta para a natureza da clínica        ramenta de articulação da equipe. Por outro
que neles se processa. Poder-se-ia ainda dizer       lado, não são percebidas quais ou qual a uti-
que a despeito dos imensos avanços realiza-          lidade que o prontuário teria para o usuário,
dos no plano ético e político no tangente aos        muito embora se compreenda que ele seja o
prontuários, persiste uma certa inércia ideoló-      lugar de inscrição da história dos sujeitos que
gica que perpetua na prática o entendimento          são atendidos no CAPSi. A contradição de
de que esses instrumentos são voltados, no pla-      níveis de importância alocada à utilidade dos
no clínico, exclusivamente para a equipe téc-        prontuários, ou seja, o desbalanço de sua uti-
nica ou para o setor administrativo.                 lidade quando se considera ora a equipe téc-
                                                     nica ora os usuários do CAPSi enseja uma
                                                     profunda discussão sobre os vieses da clíni-
CONSIDERAÇÕES FINAIS                                 ca praticada nos equipamentos de saúde men-
                                                     tal. Provavelmente, uma visão legalista ou,
     Os prontuários são percebidos pelos             no pior dos casos, decorrente de uma inércia
Coordenadores dos Centros de Atenção                 conceitual que ainda percebe, a despeito da


                                               – 391 –
Prontuários, para que servem?                 Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392



nova realidade da saúde mental, o prontuá-          passa pelo fato de fazer dos pacientes ele-
rio como um instrumento da equipe técnica           mentos ativos de seu contexto.
dos serviços de saúde impede que ele seja
utilizado como um eficaz meio de diálogo,           AGRADECIMENTOS
apetrecho clínico interativo entre a equipe e
o usuário 15. A reflexão, tendo por referência             Agradecemos o apoio financeiro da Fun-
a utilidade e o valor dos prontuários, pode-        dação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
ria não só realçar a importância de seu bom         Paulo (FAPESP) no projeto 2006/06902-2,
preenchimento como constituir-se como ele-          intitulado Caracterização Epidemiológica e
mento de aprimoramento dos instrumentos             Sócio-Demográfica dos Centros de Atenção
que os CAPSi têm à disposição para perse-           Psicossocial Infantojuvenis do Estado de São
guir sua finalidade de inclusão social que          Paulo, relacionado a esse artigo.


REFERÊNCIAS                                             qualidade do prontuário do paciente na
                                                        atenção básica. Rio de Janeiro. Cadernos
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                                                        Rio de Janeiro. 2004; 20 (2 Supl): 147-
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     prontuário eletrônico do paciente,                 da comunicação do resultado sorológico
     baseado nos paradigmas da World Wide               para o HIV sob a ótica winnicottiana.
     Web e da Engenharia de Software                    Pulsional Rev de Psicanálise. 2002; 156:
     [dissertação de mestrado]. Campinas:               20-5.
     Universidade Estadual de Campinas;
     2001.                                                    Recebido em 22 de fevereiro de 2009.
9.   Vasconcellos MM., Gribel EB, Moraes                       Modificado em 10 de julho de 2009.
     IHS. Registros em saúde: avaliação da                        Aceito em 12 de agosto de 2009.


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Prontuários na saúde mental

  • 1. Prontuários, para que servem? Rev Bras PESQUISA ORIGINAL Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392 Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392 ORIGINAL RESEARCH PRONTUÁRIOS, PARA QUE SERVEM? REPRESENTAÇÃO DOS COORDENADORES DE EQUIPE DOS CAPSi A RESPEITO DO VALOR E DA UTILIDADE DOS PRONTUÁRIOS PATIENTS RECORDS, WHAT ARE THEY USED FOR? REPRESENTATION OF CAPSis´ TEAM COORDINATORS ABOUT THE VALUE AND USE OF PATIENTS RECORDS Alberto Olavo Advincula Reis 1 Caroline Dombi-Barbosa 2 Moacyr Miniussi Bertolino Neto 3 Maria Margarida Licursi Prates 4 Patrícia Santos de Souza Delfini 5 Felipe Lessa Fonseca 6 Ariana Queiroz de Oliveira 7 Reis AOA et al. Prontuários, para que servem? Representação dos coordenadores de equipe dos CAPSI a respeito do valor e da utilidade dos prontuários. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum. 2009; 19(3): 383-392. Resumo: Introdução: o artigo procura compreender como os Coordenadores dos Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) do Estado de São Paulo percebem o valor e a utilidade dos prontuários do usuários do serviço. Atualmente, os prontuários obedecem a claros princípios éticos. São muitas as pesquisas que se utilizam de prontuários e vários os estudos que se propõem a aperfeiçoá-los uma vez que são considerados ferramenta de primeira importância no âmbito da saúde. Cabe, entretanto, indagar se esses instrumentos são valorizados e se suas utilidades percebidas pelas equipes de saúde mental no exercício real de suas práticas. O trabalho descreve e analisa as percepções dos Coordenadores dos CAPSi-SP a respeito da utilidade dos prontuários para a equipe de saúde e para os usuários. Método: foi entrevistado um Coordenador de cada um dos 19 dos CAPSi do Estado de São Paulo. As respostas foram analisadas de acordo com os procedimentos clássicos da Análise de Conteúdo. Resultados: os prontuários são percebidos como valiosos instrumentos de trabalho e sua importância destacada como instrumento de intervenção e de acompanhamento clínicos. Sua relevância é assinalada como dispositivo que possibilita a articulação e a comunicação dos membros das equipes técnicas dos CAPSi. Por outro lado, não é percebida qual a utilidade que eles teriam para o usuário. A contradição nos níveis de importância alocada à utilidade dos prontuários quando se trata da equipe técnica ou dos usuários enseja uma discussão aprofundada sobre a natureza da clínica em saúde mental praticada nos CAPSi. Palavras-chave: CAPSi; prontuários; criança/adolescente; saúde mental. Trabalho resultante de processo FAPESP nº 2006/06902-2, realizado pelo Laboratório de Saúde Mental Coletiva (LASAMEC), da Faculdade de Saúde Pública da USP. 1 Professor Doutor do Dept. de saúde materno-infantil da Faculdade de Saúde Pública da USP, orientador de Pós-graduação do Programa de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da USP. Coordenador do grupo de pesquisa CNPq do Laboratório de Saúde Mental Coletiva - LASAMEC. E-mail: albereis@usp.br 2 Psicóloga. Mestre em Saúde Pública. do depto. de Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Saúde Pública da USP. Pesquisadora do LASAMEC. E-mail: caroldombi@usp.br 3 Psicólogo, pesquisador, membro do LASAMEC. E-mail: 4 Terapeuta Ocupacional, pesquisadora, membro do LASAMEC. 5 Psicóloga. Mestranda do Depto. de Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Saúde Pública da USP. Pesquisadora do LASAMEC. Bolsista CNPq - Brasil. E-mail: patriciadelfini@usp.br 6 Psicólogo. Doutor pela Pontifícia Universidade Católica/SP. Pesquisador do LASAMEC. E-mail: flessaf@uol.com.br 7 Psicóloga, Mestranda da UNIFESP, membro do LASAMEC. E-mail: arianapsi@uol.com.br – 383 –
  • 2. Prontuários, para que servem? Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392 Abstract: Introduction: the article aims to understand how the coordinators of Psychosocial Care Centres for Children and Adolescents (CAPSi) from the state of São Paulo perceive the value and use of patients records. Nowadays, patients records obey clear ethical principles. There are several studies that collect data from patients records and others proposed to provide their improvement, because they are considered important tools in health system. However, it is important to ask if these tools are valuable and if their use is perceived by mental health teams in their everyday practices. The article describes and analyses the perception of CAPSi´s coordinators about the use of records for teams and patients. Method: One coordinator from each of the 19 CAPSi from the state of São Paulo were interviewed. The answers were analysed according to the classic procedures of content analysis. Results: the records are perceived as valuable work tools and they are considered important as intervention and clinical follow-up tools. Their relevance is also related as a tool that makes the articulation and communication among workers from CAPSi possible. On the other hand, the use they should have for patients is not perceived. The contradiction between levels of importance of the tool for workers and patients may point to the importance of a discussion about the mental health clinic practiced in CAPSi. Key words: CAPSi; patients records; children/adolescent; mental health. INTRODUÇÃO Goffman1-3, das asserções antipsiquiátricas oriundas diretamente das obras de Laing4 e Nem sempre a existência de prontuários, Cooper5 ou de sua recuperação pela psicanáli- que acompanham a trajetória dos usuários dos se lacaniana na versão de Maud Mannoni6. De equipamentos de saúde mental e nos quais se acordo com essa perspectiva, a dinâmica da inscrevem os diversos dados, ações, cuidados saúde mental, em virtude da natureza específi- e medidas atinentes a esses sujeitos, foi reco- ca do transtorno mental, prescindiria do recur- nhecida como sendo de real utilidade para eles, so de prontuários. nem sua existência representou um valor posi- Atualmente, com a saúde mental funda- tivo por parte de setores de trabalhadores da da em outras bases e que em parte se inspira- saúde mental. Já se argumentou criticamente, ram dessas críticas, os prontuários e seus usos num momento histórico em que as instituições obedecem a claros princípios que fazem do de saúde mental respondiam maciçamente ao usuário seu proprietário e das instituições seu modelo médico-hospitalar, que prontuários guardião, consoante a princípios éticos bem cristalizavam a vida e enrijeciam a dinâmica delineados. Exemplo disso é o que reza o arti- da situação dos sujeitos que neles tinham suas go 70 do Código de Ética Médico7, e de acor- vicissitudes inscritas e, assim, contribuíam para do com o qual se torna vedado ao médico “Ne- a reificação e estigmatização dos processos que gar ao paciente acesso a seu prontuário os afetavam. A existência dessa modalidade de médico, ficha clínica ou similar, bem como registro prender-se-ia tão exclusivamente a deixar de dar explicações necessárias à sua medidas burocrático-administrativas, não raro compreensão, salvo quando ocasionar riscos ideológicas e derivadas mimeticamente de pro- para o paciente ou para terceiros.” Este direi- cedimentos próprios da área que se ocupa das to é geralmente denominado de “habeas data”. doenças físicas. Parte dessas críticas foi deri- Dessa forma, mesmo que ainda não totalmente vada dos estudos interacionista-simbólicos de compreendido por alguns profissionais, o pron- – 384 –
  • 3. Prontuários, para que servem? Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392 tuário é de total propriedade do paciente, ten- O presente trabalho, em face de tais in- do este o direito de acessá-lo, a qualquer mo- terrogações, descreve e analisa as percepções mento, bem como o paciente tem o direito de que os Coordenadores dos CAPSi do Estado negar o acesso ao seu prontuário por qualquer de São Paulo têm a respeito da utilidade dos profissional desde que assim o deseje”8 (Cos- prontuários. A pergunta indutora e as respos- ta, 2001:55). tas que dela decorreram permitiram que se ex- Dentre os elementos que participaram plorassem as percepções a respeito das diver- dessa inflexão destacam-se a transformação da sas modalidades de utilidades que os natureza do sistema de saúde mental, a emer- prontuários encerram. Essas percepções foram gência de novos equipamentos sociais de aten- estudadas a partir de duas perspectivas: a utili- ção tais como os Centros de Atenção dade para os usuários e a utilidade para a equi- Psicossocial e as Residências Terapêuticas, ali- pe técnica. ados a uma compreensão baseada em princípi- os éticos de natureza democrático-cidadã dos prontuários. MÉTODO Nesses termos, parece existir consenso sobre a importância dos prontuários seja para Os resultados apresentados nesse artigo seguimento, segurança e respaldo do usuário e remetem-se à análise das respostas a uma ques- suas utilizações são diversas. Assim, são mui- tão (subdividida em duas perguntas) de um to- tas as pesquisas que se utilizam de prontuários tal de sete questões abertas que compuseram e são vários os estudos e ensaios que se pro- uma entrevista estruturada aplicada aos Coor- põem a aperfeiçoar e modernizar os prontuá- denadores dos 19 CAPSi do Estado de São rios considerados então como uma ferramenta Paulo, cadastrados há pelo menos um ano até de primeira importância no âmbito da saúde 2006. A entrevista constitui parte da pesquisa mental pública9,10. Nas resoluções do Conse- “Caracterização Epidemiológica e Sócio- lho Federal de Medicina referente ao prontuá- demográfica dos Centros de Atenção rio, definido como “conjunto de documentos Psicossocial Infanto-juvenis (CAPSi) no Esta- padronizados e ordenados, destinados ao re- do de São Paulo”, processo Fapesp nº 2006/ gistro dos cuidados profissionais ao paciente 06902-2, aprovada pelo Comitê de Ética da pelos serviços de saúde públicos ou privados”11 Faculdade de Saúde Pública da USP (protoco- existe o reconhecimento do valor do prontuá- lo nº 1616 de 20 de abril de 2007). rio para o paciente, a instituição que o atende, Escolheu-se os Coordenadores de Equi- bem como para o médico, o ensino, a pesquisa pe como sujeitos da investigação pelo fato de- e os serviços de saúde pública. les assumirem função de liderança tanto nas À luz dessas considerações, poder-se-ia atividades atinentes aos projetos terapêuticos perguntar se os princípios éticos que regem os como de responsabilidade na manutenção de prontuários não se constituiriam apenas como registro de produtividade e de interlocução com superestruturas desconectadas do saber comum os diferentes atores que atuam junto aos CAPSi. que organiza, de fato, a realidade das práticas As respostas foram gravadas e transcritas, sen- dos serviços de saúde mental. Se assim for, do, então, objeto de análise e categorização de qual seria então o valor que as equipes de saú- acordo com os procedimentos clássicos da aná- de mental alocam aos prontuários no exercício lise de conteúdo12-14. Um treinamento cuidado- real de suas práticas cotidianas? Quais são as so da equipe de entrevistadores, formada por utilidades percebidas por essas equipes no tan- mestrandos, doutorandos, profissionais da área gente aos prontuários? da psicologia, terapia ocupacional, educação e – 385 –
  • 4. Prontuários, para que servem? Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392 enfermagem, aliado a um número conciso de a) utilidade para a equipe e perguntas permitiu que se reduzisse ao míni- b) utilidade para os usuários. mo o viés de entrevistador, eventualmente ca- As unidades de significação, uma vez paz de afetar a qualidade das respostas. associadas por nexos lógicos de similaridade A estrutura do instrumento voltado à semântica, deram origem a diversas categori- coleta de informações comportou três temas, as. O procedimento que, em seguida, permitiu 1. Inserção dos usuários no CAPSI [1ª a construção e a hierarquização das categorias questão] foi pautado por dois critérios: 2. Processo de estabelecimento de di- 1. aproximação das subcategorias que agnóstico [2ª questão e subquestões] encerravam maior ou menor freqüên- 3. Processo de registro e utilização dos cia de unidades de significação de prontuários [da 3ª a 7ª questão e respostas (critério quantitativo); subquestões]. 2. relação de significação que cada uma As entrevistas foram agendadas e reali- da subcategoria mantém com as ou- zadas nos próprios CAPSi consoante à dispo- tras (critério qualitativo). nibilidade dos sujeitos. A questão nº4 foi retida para o presente trabalho e consistiu na seguin- te formulação: RESULTADOS E DISCUSSÃO Questão 4 - Qual a utilidade dos pron- tuários para: Valor dos prontuários a. Equipe Técnica O valor dos prontuários foi considerado b. Usuário positivo para os Coordenadores, não havendo Para a análise das respostas foi realiza- sido registrada nenhuma expressão, idéia ou da uma leitura geral (envolvendo as duas per- menção a respeito de qualquer qualidade ne- guntas) tendo por crivo o valor do prontuá- gativa a eles alocada. O conjunto das respos- rio, uma vez que se observou que todas as tas indica a enorme importância que o prontu- respostas sobre a utilidade dos prontuários ário encerra para as Equipes dos CAPSi. Frases traziam consigo referências ao valor desses e expressões, produzidas por representante de instrumentos. Assim, decidiu-se por reter to- um CAPSi do Interior e outro da Grande São das as unidades de significações que, na per- Paulo, como as abaixo transcritas retratam o cepção dos Coordenadores, se remetiam ao conjunto das falas dos entrevistados: valor representado pelos prontuários para os “Ah! Eu acho que é de uma riqueza ím- CAPSi. Por último, foram sorteados aleatori- par né? Porque cada um tem uma ação, então amente dois CAPSi, um do Interior e outro da é só quem for atender aquele caso, seja a fa- Capital do Estado de São Paulo para que se mília, seja a escola; então é subsídio assim, extraíssem as expressões mais ilustrativas a importantíssimo, né? Você ter a fotografia da- respeito do valor dos prontuários emitidas por quele paciente, a dinâmica da família, todo dia seus Coordenadores. Para o tratamento espe- dele, né? Muito importante.” (CAPSi 12 - cífico das respostas das duas perguntas pro- Grande São Paulo) cedeu-se a uma análise temática categorial. “Para a Equipe é fundamental: é o ins- Para tanto, a totalidade das respostas foi lida, trumento de trabalho. Aqui a gente zela por efetuando-se nesse processo ao recorte e es- um bom registro. Imagina só, esses dias veio tabelecimento de unidades de significação que uma mãe aqui, que a filha fez atendimento se remetiam a duas categorias maiores defi- em 2004, e veja bem, se eu não tive um bom nidas de antemão: registro como é que eu vou poder fazer um – 386 –
  • 5. Prontuários, para que servem? Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392 bom relatório? A gente faz o registro de tudo, INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO tudo mesmo, é bem elaborado e sobre todas E DIAGNÓSTICO. as consultas, cada atividade. É o meio de co- As referentes ao “canal de troca de in- municação da equipe, se a referência não tá formação entre os membros da equipe técni- aqui e alguma pessoa precisa de alguma in- ca”, “lugar de aglutinação e ampliação da vi- formação vai recorrer ao prontuário.” são da Equipe” deram lugar à categoria: BASE (CAPSi 9 - Interior) DE TROCAS DE INFORMAÇÃO. A coincidência de percepção acerca do Quando se tratava de falas que aponta- valor dos prontuários presente nas falas dos vam para o fato do prontuário “inscrever a his- Coordenadores oriundos de duas realidades tória da criança ou do adolescente nos CAPSi” geodemográficas distintas indica que os pron- ou de ser “o lugar de apropriação da história tuários são considerados como instrumento de do sujeito”, elas foram organizadas sob a trabalho e de cidadania importante para os subcategoria SEDIMENTAÇÃO DA HISTÓ- CAPSi. RIA DO SUJEITO” e, finalmente, quando fi- zeram menção de que o prontuário é um ins- trumento com o qual a equipe pode contar para A. Utilidade dos prontuários para responder a alguma demanda ou as Equipes questionamento vindo de fora do CAPSi ou As primeiras Categorias obtidas a par- quando é percebido como “referência para a tir das Unidades de Significação acerca da per- equipe”, “recurso de memória”, elas foram cepção da utilidade dos prontuários para a colocadas sob a subcategoria SEGURANÇA EQUIPE foram: PARA EQUIPE. • Instrumento de orientação de condu- ta; Deste modo, pôde-se construir 4 • Base de atendimento; subcategorias maiores: • Canal de troca de informação entre 1. Base de troca de informação entre os os membros da equipe técnica; membros da equipe técnica; • Lugar de aglutinação e ampliação da 2. Instrumento de intervenção e diagnós- visão da Equipe; tico junto à criança/adolescente; • Inscrição da história da criança ou do 3. Sedimentação da história do sujeito; adolescente nos CAPSi; 4. Fator de segurança para a equipe. • Lugar de apropriação da história do Essas quatro subcategorias foram por sua sujeito; vez aglutinadas em duas categorias mais ge- • Instrumento com o qual a equipe rais. pode contar para responder a alguma 1. INTERVENÇÃO INTEGRAL en- demanda ou questionamento vindo globou as subcategorias: de fora do CAPSi; a. Base de troca de informação; • Referência para a equipe; b. Instrumento de intervenção e diag- • Recurso de memória. nóstico. As Unidades de Significação que fize- 2. DOCUMENTO IDENTITÁRIO que ram menção ao fato dos prontuários serem per- associou as subcategorias: cebidos como “instrumento de avaliação do a. Sedimentação da História do Sujei- estado da criança ou do adolescente”, como to; “instrumento de orientação de conduta” e “base b. Segurança para a Equipe e o Pacien- de atendimento” definiram a subcategoria: te. – 387 –
  • 6. Prontuários, para que servem? Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392 Figura 1: Percepção da utilidade dos prontuários para a equipe segundo os Coordenadores dos CAPSi, Estado de São Paulo, 2009. Equipe Intervenção Integral Base de Troca de Informações Intervenção Integral Instrumento de Intervenção e Diagnóstico Equipe Sedimentação da História do Sujeito Documento Identitário Segurança para a Equipe e o Paciente Fonte: REIS AOA. Pesquisa Caracterização Epidemiológica e Sócio-demográfica dos Centros de Atenção Psicossociais Infantojuvenis do Estado de São Paulo, processo FAPESP 06/06902-2. A principal utilidade do prontuário é a Resulta então poder afirmar que o de ser um Instrumento de Intervenção e Di- prontuário tem sua maior importância como agnóstico, representando 41,9% das respostas. função operatória clínica. Outra utilidade Em seguida, situam-se as respostas que indi- percebida é a de assumir uma função cam ser os prontuários um Lugar de Troca de psicossocial ao possibilitar encontro, Informação entre os membros da Equipes interação, comunicação da equipe cujos (22,6,0%) Sedimentação da História do Su- membros pouco discutem ou nem sempre se jeito (25,8%) e, por último, Lugar de Segu- encontram entre si. rança (9,7%). A freqüência acumulada dos dois tipos de respostas, “Instrumento de Interven- A segunda categoria denominada DO- ção e Diagnóstico” e “Lugar de Troca de In- CUMENTO IDENTITÁRIO foi formada a formação entre os membros da Equipe” evi- partir da associação das duas últimas dencia a importância desse conjunto (64,5%). subcategorias: Além, disso essas duas subcategorias entretêm 1. Lugar de sedimentação da história entre si um nexo lógico que possibilita que for- 2. Lugar de segurança mem juntas uma categoria maior. A associação entre as subcategorias As duas subcategorias articuladas entre Lugar de Sedimentação da história do sujei- si, sob a denominação Intervenção Integral, to e Lugar de Segurança para a equipe e o definem o núcleo central da significação rela- paciente permitiu a formação da categoria tiva à utilidade do questionário para a equipe Documento Identitário. A freqüência das técnica. Considerando que a orientação e a in- unidades de significação que deram origem tervenção diagnóstica devam ser, de acordo à primeira representa 25,9% enquanto as que com os princípios dos CAPS e do SUS, formaram a segunda. Lugar de Segurança conduzidas sob a lógica da integralidade e, con- representaram 9,7% das respostas. O conjun- sequentemente, da multidisciplinaridade que to das duas subcategorias responde por caracteriza o trabalho de uma equipe de saúde 35,5% do total de todas as respostas. A sig- mental da rede pública, o fato do prontuário nificação comum entre elas se mostra no fato ter uma função integradora no âmbito da co- de que é pela apropriação e sedimentação da municação e da troca de informação entre os história do sujeito é que se pode responder a membros da equipe faz com que a articulação qualquer demanda ou questionamento oriun- dessas duas subcategorias mostre, nesses ter- dos da família, da justiça ou de diversas ou- mos, seu nexo lógico. tras instituições ou grupos. – 388 –
  • 7. Prontuários, para que servem? Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392 Tabela 1: Distribuição do número e proporção das Unidades de Significação para as Categorias referentes à Utilidade dos Prontuários para a Equipe na percepção dos Coordenadores dos CAPSi. São Paulo, 2009. frequência frequência frequência relativa CATEGORIAS SUBCATEGORIAS frequência relativa acumulada acu]mulada Base de Troca de 22,6 7 22,6 7 INTERVENÇÃO Informações INTEGRAL Instrumento de Intervenção e 13 41,9 20 64,5 Diagnóstico Sedimentação da 90,3 8 25,8 28 DOCUMENTO História do Sujeito IDENTITÁRIO Segurança para a Equipe e o Paciente 3 9,7 31 100,0 TOTAL 31* 100,0 31 100,0 Fonte: REIS AOA. Pesquisa Caracterização Epidemiológica e Sócio-demográfica dos Centros de Atenção Psicossociais Infantojuvenis do Estado de São Paulo, processo FAPESP 06/06902-2. *O número de unidades de significação supera o número de entrevistados posto que um sujeito pode produzir mais de uma unidade de significação B Utilidade dos prontuários para os • Ética; usuários • Nenhuma utilidade. As primeiras Categorias obtidas a partir As categorias INFORMAÇÃO OFI- das Unidades de Significação acerca da per- CIAL OU INSTITUCIONAL e INFORMA- cepção da utilidade dos prontuários para os ÇÃO PESSOAL puderam ser associadas dan- USUÁRIOS foram: do origem à categoria maior INFORMAÇÃO • Informação oficial ou institucional; (o prontuário é útil para o usuário porque é • Informação pessoal; fonte de informação para ele). As outras 4 ca- • Segurança; tegorias não responderam a nenhum critério • Benefícios; que lhes permitissem associação. Figura 2: Percepção da utilidade dos prontuários para os usuários de acordo com os Coordena- dores dos CAPSi. Estado de São Paulo. 2009. INFORMAÇÃO PESSOAL INSTITUCIONAL Segurança Usuário Benefícios Ética Nenhuma Fonte: REIS AOA. Pesquisa Caracterização Epidemiológica e Sócio-demográfica dos Centros de Atenção Psicossociais Infantojuvenis do Estado de São Paulo, processo FAPESP 06/06902-2. – 389 –
  • 8. Prontuários, para que servem? Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392 Foram estabelecidas cinco categorias teresse de ordem não institucional e que inte- sem que se apreendesse um nexo lógico entre ressa de maneira direta e imediata ao sujeito elas que permitisse suas associações mais par- tal como “a mãe quer informação sobre a ques- ticulares capazes de formar, desta sorte, cate- tão medicamentosa” ou ainda, “a mãe conse- gorias maiores. De modo similar, as freqüên- gue os atestados que precisa”. cias de Unidades de Significação sob cada uma Optou-se por distinguir Informação das das subcategorias foram praticamente equiva- respostas que foram organizadas sob a rubrica lentes. A única subcategoria que se diferenciou “Benefícios” pelo fato desses últimos repre- em significações diversificadas foi a denomi- sentarem uma situação muito específica em que nada INFORMAÇÃO. Nesse caso, ela se a informação constitui um meio ou instrumen- bipartiu em “informação institucional” e “in- to para obter alguma vantagem, tal como uma formação pessoal”. ajuda financeira ou algo concreto assemelha- Informação Institucional encerra unida- do. A categoria Segurança é da mesma ordem des de significação que fazem referência à uti- da categoria de mesmo nome e que se reporta lidade do prontuário para o usuário quando à “utilidade para a equipe”. Ética se refere ao percebida como um veículo de comunicação fato de que as respostas, de caráter geral, res- para a Vara da Família, para o Conselho Tute- pondem essencialmente, a um principio ético, lar ou para situações em que a criança ou o sem mencionar nenhum benefício imediato e adolescente são objeto de transferência para tangível, como por exemplo, “O Prontuário é uma outra instituição. do usuário”. Finalmente, as respostas “não sei” O segundo tipo, Informação Pessoal, re- ou “nenhuma” foram consideradas de mesma fere-se às respostas conectadas com algum in- significação. Figura 3: Percepção da utilidade dos prontuários para as equipes e os usuários de acordo com os Coordenadores dos CAPSI. Estado de São Paulo, 2009. Base de Troca de Informações Intervenção Integral Instrumento de Intervenção e Diagnóstico Sedimentação da História do Sujeito Equipe Documento Identitário Segurança para a Equipe e o Paciente Pessoal Informação Institucional Utilidade Segurança Usuário Benefícios Ética Nenhuma Fonte: REIS AOA. Pesquisa Caracterização Epidemiológica e Sócio-demográfica dos Centros de Atenção Psicossociais Infantojuvenis do Estado de São Paulo, processo FAPESP 06/06902-2 – 390 –
  • 9. Prontuários, para que servem? Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392 Tabela 2: Distribuição do número e proporção das Unidades de Significação para as Categorias referentes à utilidade dos Prontuários na percepção dos Coordenadores dos CAPSi. São Paulo, 2009. CATEGORIA n % Informação 2 10,5 Pessoal Institucional 2 10,5 Segurança 3 15,8 Benefício 3 15,8 Ética 2 10,5 Nenhuma 7 36,9 Total 19 100 Fonte: REIS AOA. Pesquisa Caracterização Epidemiológica e Sócio-demográfica dos Centros de Atenção Psicossociais Infantojuvenis do Estado de São Paulo, processo FAPESP 06/06902-2. As respostas em suas unidades de signi- Psicossocial do Estado de São Paulo como ficação se distribuíram com freqüências apro- essenciais para o processo de intervenção clí- ximadamente assemelhadas pelas diversas ca- nica e acompanhamento das crianças e ado- tegorias. A categoria NENHUMA, significando lescentes. São, igualmente, vistos como dis- que o prontuário não representa utilidade al- positivo que possibilita a articulação dos guma para o usuário é a única que se destaca membros das equipes técnicas dos CAPSi. com 36,9% (n=7). Não deixa de ser surpreen- Deste modo, eles são apreendidos como ins- dente o fato de que o prontuário, percebido trumentos cujos sentidos de intervenção como tendo uma importância “fundamental”, apontam tanto para o “interior” do CAPSi considerado como o “lugar da história do pa- quanto para o “exterior”. No primeiro senti- ciente” ou ainda visto como “chave mestra” se do, eles aparecem como ferramentas de su- tratando de sua utilidade para a equipe técni- porte clínico que asseguram a continuidade ca, seja quando se refere ao usuário, estimado da atenção dispensada às crianças e adoles- como não tendo utilidade alguma. A assimetria centes em seus contextos. No segundo sen- entre esses dois pólos merece destaque e, pos- tido, o prontuário é encarado como uma fer- sivelmente, aponta para a natureza da clínica ramenta de articulação da equipe. Por outro que neles se processa. Poder-se-ia ainda dizer lado, não são percebidas quais ou qual a uti- que a despeito dos imensos avanços realiza- lidade que o prontuário teria para o usuário, dos no plano ético e político no tangente aos muito embora se compreenda que ele seja o prontuários, persiste uma certa inércia ideoló- lugar de inscrição da história dos sujeitos que gica que perpetua na prática o entendimento são atendidos no CAPSi. A contradição de de que esses instrumentos são voltados, no pla- níveis de importância alocada à utilidade dos no clínico, exclusivamente para a equipe téc- prontuários, ou seja, o desbalanço de sua uti- nica ou para o setor administrativo. lidade quando se considera ora a equipe téc- nica ora os usuários do CAPSi enseja uma profunda discussão sobre os vieses da clíni- CONSIDERAÇÕES FINAIS ca praticada nos equipamentos de saúde men- tal. Provavelmente, uma visão legalista ou, Os prontuários são percebidos pelos no pior dos casos, decorrente de uma inércia Coordenadores dos Centros de Atenção conceitual que ainda percebe, a despeito da – 391 –
  • 10. Prontuários, para que servem? Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(3): 383-392 nova realidade da saúde mental, o prontuá- passa pelo fato de fazer dos pacientes ele- rio como um instrumento da equipe técnica mentos ativos de seu contexto. dos serviços de saúde impede que ele seja utilizado como um eficaz meio de diálogo, AGRADECIMENTOS apetrecho clínico interativo entre a equipe e o usuário 15. A reflexão, tendo por referência Agradecemos o apoio financeiro da Fun- a utilidade e o valor dos prontuários, pode- dação de Amparo à Pesquisa do Estado de São ria não só realçar a importância de seu bom Paulo (FAPESP) no projeto 2006/06902-2, preenchimento como constituir-se como ele- intitulado Caracterização Epidemiológica e mento de aprimoramento dos instrumentos Sócio-Demográfica dos Centros de Atenção que os CAPSi têm à disposição para perse- Psicossocial Infantojuvenis do Estado de São guir sua finalidade de inclusão social que Paulo, relacionado a esse artigo. REFERÊNCIAS qualidade do prontuário do paciente na atenção básica. Rio de Janeiro. Cadernos 1. Goffman E. Manicômios, prisões e de Saúde Pública. 2008; 24 (1 conventos. São Paulo: Ed. Perspectiva; Supl):173-182. 1974. 10. Novaes HMD. Pesquisa em, sobre e 2. Goffman E. A representação do Eu na para os serviços de saúde: panorama vida cotidiana. Petrópolis: Ed. Vozes; internacional e questões para a pesquisa 1975. em saúde no Brasil. Cad. Saúde Publica Rio de Janeiro. 2004; 20 (2 Supl): 147- 3. Goffman E. Estigma.Rio de Janeiro: Ed. 157. Zahar; 1975. 11. Conselho Regional de Medicina do 4. Laing D. Psiquiatria e Antipsiquitria. Distrito Federal. Prontuário médico do São Paulo: Perspectiva, 1967. paciente: guia para uso prático/Conselho 5. Cooper RD. The divided Self. London: Regional de Medicina do Distrito Harmondsworth;1960. Federal. – Brasília: Conselho Regional de Medicina, 2006. 6. Mannoni M. Le Psychiatre, son “fou” et 12. Bardin L. Análise de Conteúdo. Lisboa: la psychanalyse. Paris: Ed. Du Seuil; Ed.70; 1979. 1970. 13. Creswell JW. Research design: 7. Código de Ética Médico. Acesso em 02/ Qualitative and quantitative approaches. 03/2001. Online. Disponível na Thousand Oaks, USA; London,UK; New Internet:http://www.cfm.org.br/ Delhi,India: Sage Publications; 1994. codetic.htm. 14. Franco MLPB. Análise do Conteúdo. 8. Costa CGA. Desenvolvimento e Brasília: Plano editorial; 2004. avaliação tecnológica de um sistema de 15. Moreno DMFC, Reis AOA. O momento prontuário eletrônico do paciente, da comunicação do resultado sorológico baseado nos paradigmas da World Wide para o HIV sob a ótica winnicottiana. Web e da Engenharia de Software Pulsional Rev de Psicanálise. 2002; 156: [dissertação de mestrado]. Campinas: 20-5. Universidade Estadual de Campinas; 2001. Recebido em 22 de fevereiro de 2009. 9. Vasconcellos MM., Gribel EB, Moraes Modificado em 10 de julho de 2009. IHS. Registros em saúde: avaliação da Aceito em 12 de agosto de 2009. – 392 –