Marte é o quarto planeta do sistema solar e tem características semelhantes à Terra como a duração do dia e estações. Possui calotas polares com gelo de água e dióxido de carbono, a maior montanha do sistema solar e antigos leitos de rios secos. Várias missões de sondas revelaram mais detalhes sobre a geologia e clima marcianos, embora a possibilidade de vida primitiva ainda seja incerta. Futuras missões tripuladas podem explorar Marte de forma mais aprofundada.
1. PLANETA MARTE:
Marte é o quarto planeta a contar do Sol e é o último dos quatro
planetas telúricos no sistema solar, situando-se entre a Terra e a
cintura de asteróides a 1,5 UA do Sol (ou seja, a uma vez e meia a
distância da Terra ao Sol). De noite, aparece como uma estrela
vermelha, razão por que os antigos romanos lhe deram o nome de
Marte, o deus da guerra. Os chineses, coreanos e japoneses chamam-
lhe quot;Estrela de Fogoquot;, baseando-se nos cinco elementos da filosofia
tradicional oriental. Executa uma volta em torno do Sol em 687 dias
terrestres (quase dois anos).
Marte é um planeta com algumas afinidades com a Terra: tem um dia
com uma duração muito próxima do dia terrestre e o mesmo número
de estações.
Marte tem calotas polares que contêm água e dióxido de carbono
gelados, a maior montanha do sistema solar - o Olympus Mons, um
desfiladeiro imenso, planícies, antigos leitos de rios secos, tendo sido
recentemente descoberto um lago gelado. Os primeiros observadores
modernos interpretaram aspectos da morfologia superficial de Marte de
forma ilusória, que contribuíram para conferir ao planeta um estatuto
quase mítico: primeiro foram os canais; depois as pirâmides, o rosto
humano esculpido, e a região de Hellas no sul de Marte que parecia
que, sazonalmente, se enchia de vegetação, o que levou a imaginar a
existência de marcianos com uma civilização desenvolvida. Hoje
sabemos que poderá ter existido água abundante em Marte e que
formas de vida primitiva podem, de facto, ter surgido.
Características orbitais
2. Raio orbital médio: 227 939 100 km
Periélio: 206 669 000 km
Afélio: 249 209 300 km
Excentricidade: 0,093315
Período orbital: 686,971 dias
Velocidade orbital 24,077 km/s
média:
Inclinação: 1,850°
Satélites naturais: 2 (Fobos e Deimos)
Características físicas
Raio equatorial: 3396,2 ± 0,1 km
Área da superfície: 144 798 500 km²
6,4185×1023 kg
Massa:
Densidade média: 3,934 g/cm³
Aceleração gravítica à 3,69 m/s²
superfície:
Velocidade de escape: 5,027 km/s
Inclinação axial: 25,19°
Albedo: 0,15
Temperatura à min méd máx
superfície: 186 K 227 K 268 K
Atmosfera
Pressão atmosférica: 0.7-0.9 kPa
Composição: 95,72% de Dióxido de Carbono
2,7% de Nitrogênio
1,6% de Argônio
0,2% de Oxigênio
0,07% de Monóxido de carbono
0,03% de Vapor de Água
0,01% de Óxido nítrico
Traços de Neônio, Criptônio,
Formaldeído, Xenônio, Ozônio,
Metano
3. Mitologia
Marte é um planeta conhecido desde a antiguidade e na mitologia
helénica representa Ares, o deus da fúria e da guerra, devido à sua
coloração avermelhada. O povo romano que herdou muito da sua
cultura da Grécia chamou-lhe de Marte, nome por que hoje
conhecemos, quer o deus, quer o planeta.
Outras civilizações observavam também Marte no céu nocturno: os
egípcios conheciam-no como quot;Her Deschelquot; ou quot;O Vermelhoquot;. Já para
os babilónios, Marte era quot;Nergalquot; ou quot;A Estrela da Mortequot;.
História de observação e exploração
Comparação do tamanho dos planetas (da esquerda para a direita): Plutão, Vênus,
Terra e Marte.
Marte é conhecido desde a antiguidade, e destaca-se no céu pelo seu
aspecto avermelhado; devido a isso é conhecido como o quot;O Planeta
Vermelhoquot;. Os babilónios já faziam observações cuidadosas do que
eles chamavam de Nergal (A Estrela da Morte), mas tudo o que viam
tinham propósitos exclusivamente religiosos. Os gregos são os
primeiros a fazer observações mais racionais e identificaram Marte
como sendo uma das cinco estrelas errantes (planetas) do céu. O
astrónomo grego Hiparco (160 - 125 a.C.) verificou que Marte nem
sempre se movia de oeste para leste. Ocasionalmente, o planeta
invertia o seu caminho no céu para a direcção contrária; para depois
voltar a deslocar-se normalmente; esta característica tornava a
procura do planeta muito difícil e era contrária à teoria vigente de que
a Terra era o centro do universo.
4. As observações do movimento aparente de Marte feitas por Tycho
Brahe (1546 - 1601) permitiram a seu discípulo Johannes Kepler
descobrir as leis dos movimentos dos planetas, que deram suporte à
teoria heliocêntrica de Copérnico.
Em 1655, Christiaan Huygens faz experimentações com novos óculos e
nesse mesmo ano constrói um bom telescópio com uma ampliação de
50x. Em 1659, quando Marte se encontrava em oposição, Huygens
decide ver Marte com o seu telescópio e distingue manchas no disco do
planeta e no seu esboço faz uma marca em forma de V, o que é hoje
identificado como Syrtis Major. Huygens notou que a marca se movia,
e assim calculou a rotação do planeta, anotando no seu diário: «A
rotação de Marte, como a da Terra, parece ter um período de 24
horas.»
O ano de 1877 foi um ano-chave para os estudos do planeta, já que
Marte se encontrava numa oposição muito mais próxima da Terra. E
assim, o astrónomo norte-americano Asaph Hall descobre os satélites
naturais de Marte: Fobos e Deimos; e o italiano Giovanni Schiaparelli
dedicou-se a cartografar cuidadosamente o planeta; com efeito, ainda
hoje se usa a nomenclatura criada por ele para os nomes das regiões
marcianas: Syrtis Major, Noachis, Solis Lacus, entre outros nomes. Já
a nomenclatura das observações de Marte na Madeira em Agosto e
Setembro de 1877 por Nathaniel Green não prevaleceram. Essa
nomenclatura tinha nomes mais antigos e honrava personalidades da
astronomia.
Schiaparelli também acreditou que observava umas linhas finas em
Marte, a que baptizou de canali (canais). Em inglês a palavra foi
traduzida como canals em vez de channels, o que implicava algo de
artificial, o que despertou a mente do aristocrata norte-americano
Percival Lowell que se dedicou a especular sobre vida inteligente em
Marte. Lowell estava tão entusiasmado que montou o seu próprio
observatório. As suas observações convenceram-no que Marte era um
planeta que estava a secar, e que existia uma antiga civilização
marciana que construiu esses canais para drenar as calotas polares e
enviar água para as cidades sedentas.
Essa ideia de uma civilização marciana passou para a imaginação
popular. H.G. Wells escreve A Guerra dos Mundos em 1898 em que a
Terra seria invadida por marcianos que usavam armas poderosas. Em
1938, Orson Welles fez uma adaptação do conto para a rádio o que
causou o pânico generalizado e que levou a que algumas pessoas
fugissem e outras afirmarem que sentiam o cheiro do gás venenoso
lançado pelos marcianos ou que viam luzes ao longe, da luta dos
marcianos para se apoderarem da Terra.
5. Mais tarde, provou-se que a grande maioria dos canais eram apenas
uma ilusão de óptica. Na década de 1950, já quase ninguém acreditava
em vida inteligente em Marte, mas muitos estavam convencidos da
existência de musgos e líquenes primitivos.
Em plena Guerra Fria, em que as potências da época se envolveram
numa corrida espacial, os soviéticos são os primeiros a tentar enviar
sondas a Marte para descobrir o que se passava no planeta, mas
nenhuma delas teve sucesso. Os norte-americanos foram logo de
seguida e o sucesso chegou com a segunda tentativa através da sonda
Mariner 4 que, em 1965, orbita Marte e consegue tirar a primeira
fotografia próxima do planeta, mas de muito fraca qualidade. Os
soviéticos só conseguiram fazer pousar uma sonda em Marte em 1974.
A 20 de Julho de 1976, a sonda norte-americana Viking I pousa em
Chryse Planitia, uma planície circular na região equatorial norte de
Marte, perto de Tharsis, e tira a primeira fotografia da superfície. A
sonda gémea, a Viking II pousa a 3 de Setembro do mesmo ano em
Utopia Planitia. Estas duas sondas operaram durante anos, até que as
suas baterias falharam. Com esta missão, as ideias de uma civilização
marciana e de vida primitiva ao nível de musgos foram postas de lado,
mas dúvidas quanto a existência de bactérias continuaram a persistir.
A sonda Mars Pathfinder chega a Marte a 4 de Julho de 1997 e pousa
em Chryse Planitia, na região de Ares Vallis, libertando um pequeno
veículo robô que explorou e investigou diferentes rochas, verificando a
origem vulcânica de uma ou a erosão causada pelo vento ou pela água
de outras. Entretanto, a sonda de pouso enviou mais de 16 500
imagens e fez 8,5 milhões de medições à pressão atmosférica,
temperatura e velocidade do vento. A 11 de Setembro do mesmo ano,
chega a sonda Mars Global Surveyor, e a sua missão consistiu em
fotografar o planeta com uma resolução muito maior que as missões
anteriores conseguiriam fazer.
A Agência Espacial Europeia (ESA) entra na corrida enviando a sonda
orbital Mars Express ao planeta vermelho. Esta chega a Marte no final
de 2003, e lança um robô para explorar a superfície, mas o dispositivo
não deu sinais de funcionamento após a chegada ao planeta vermelho.
Já a sonda orbital tem sido marcada pelo sucesso, especialmente no
que toca às descobertas envolvendo a água. De destacar a descoberta,
em meados de 2005, do primeiro lago gelado encontrado no planeta.
Outras missões mais recentes bem sucedidas são as dos robôs de
exploração quot;Spiritquot; (Espírito) e seu irmão gémeo quot;Opportunityquot;
(Oportunidade) que exploram Marte desde Janeiro de 2004.
O robô Spirit pousou na grande e intrigante cratera Gusev. O robô
Opportunity pousou em Meridiani Planum, no pólo norte. Apesar de
6. Meridiani Planum ser uma planície, sem campos de rochas, o robô
Opportunity rolou para a pequena cratera Eagle com apenas 20 metros
de diâmetro. A parede da cratera tinha uma formação rochosa
intrigante com rochas colocadas em camadas, que podem ter várias
origens desde depósitos de cinza vulcânica a sedimentos causados pelo
vento ou água. Depois de pesquisas feitas pelo robô a sedimentos, a
NASA chega à conclusão que a Opportunity pousou numa antiga costa
de um antigo mar salgado em Marte.
Todas estas missões foram feitas por máquinas e não pelo homem.
Várias pessoas já avançaram em defesa das missões tripuladas a Marte
como o próximo passo lógico. Por causa da distância entre Marte e a
Terra, a missão traria mais riscos e seria mais cara que as viagens à
Lua, apesar de muitos acreditarem serem bem mais proveitosas que o
envio de robôs. Seriam necessários mantimentos e combustível para
uma viagem de ida e volta de 2 a 3 anos. Uma proposta chamada
«Mars Direct» é tida como o plano mais prático e menos dispendioso
para uma missão a Marte com seres humanos.
Sítio da Viking Lander 1 em Chryse Planitia.
A Agência Espacial Europeia tem como objectivo o envio de uma
missão humana a Marte no ano 2030, como parte do seu Programa
Aurora. Já os norte-americanos pretendem voltar à Lua em 2015,
abrindo caminho para missões a Marte no futuro.
7. Nos últimos séculos, alguns cientistas acreditavam e acreditam que
Marte é um forte candidato para a terraformação e colonização
humana. A criação de uma colónia em Marte faria reduzir os custos da
viagem e dificuldades técnicas da exploração humanas no planeta.
Para terraformar Marte ter-se-ia que construir a atmosfera e aquecê-
la. Uma atmosfera mais grossa de dióxido de carbono e outros gases
de efeito-estufa iria aprisionar a radiação solar e ambos os processos
construir-se-iam um ao outro. As fábricas que na Terra produzem
gases nocivos ao planeta, em Marte teriam um efeito de
terraformação, caso fossem construídas grandes fábricas. Além disso
seriam necessárias plantas e outros organismos geneticamente
alterados de forma a diversificar os gases da atmosfera.
Geologia planetária
A ciência que estuda Marte é a areologia (de Ares, o deus grego da
guerra). Em comparação com o globo terrestre Marte tem 53% do
diâmetro, 28% da superfície e 11% da massa; é assim um mundo bem
menor que a Terra. Como os oceanos cobrem cerca de 71% da
superfície terrestre e Marte carece de mares, as terras de ambos os
mundos têm aproximadamente a mesma superfície.
A composição da superfície é fundamentalmente de basalto vulcânico
com um alto conteúdo em óxidos de ferro que proporcionam o
vermelho característico da superfície. Pela sua natureza, assemelha-se
com a limonite, óxido de ferro muito hidratado. Assim como na crosta
da Terra e da Lua predominam os silicatos e os aluminatos, no solo de
Marte são preponderantes os ferrosilicatos. Os seus três principais
constituintes são, por ordem de abundância, o oxigénio, o silício e o
ferro.
Marte é formado por rocha sólida, embora o núcleo seja constituído por
rocha e ferro fundido. Assim deverá ter um grande núcleo de ferro.
Marte tem um campo magnético menor que o da lua Ganímedes de
Júpiter e é, apenas, 2% do campo magnético da Terra.
8. Dunas em Marte numa cratera.
Montes Twin Peaks em Ares Vallis, pela Pathfinder.
Topografia geral
A topografia marciana é notável: as planícies do norte, que foram
alisadas por torrentes de lava, contrastam com o terreno montanhoso
do sul, sulcado por antigas crateras. A superfície marciana vista da
Terra é consequentemente dividida em dois tipos de terreno, com
albedo diferente.
O Sul de Marte é velho, alto, e escarpado com crateras semelhantes à
da Lua, contrasta bastante com o Norte que é jovem, baixo e plano.
Vastitas Borealis é a mais vasta planície do Norte e circunda o planalto
gelado chamado Planum Boreum e as dunas extensas de Olympia
Undae no pólo norte. As planícies dão lugar aos planaltos e às terras
extensas da zona do equador e do hemisfério sul. Dos poucos planaltos
do norte, destaca-se Syrtis Major que é das marcas mais visíveis a
9. partir da Terra. Lunae Planum a norte do desfiladeiro Valles Marineris e
Daedalia Planum a sul dos Montes de Tharsis são os mais extensos
planaltos de Marte. São características menores da morfologia da
superfície, a presença de pequenas colinas semelhantes a dunas e de
uma espécie de canais cavados que têm todo o aspecto de leitos de
rios já secos.
Em 1858, Angelo Secchi, um dos primeiros observadores, acreditou
que existiam continentes e mares. As quot;Terraequot; (singular: quot;Terraquot;) são
terrenos variados e extensos e muitas eram chamadas de continentes
nos primeiros mapas, e outras até de mares, a maior das quais é Terra
Cimmeria no hemisfério Sul. No total, Marte possuiu onze terrae
(organizados por longitude): Margaritifer, Xanthe, Tempe, Aonia,
Sirenum, Cimmeria, Promethei, Tyrrhena, Sabaea, Noachis e Arabia.
Através das fotografias tiradas de órbita vêem-se muitas crateras, mas
não estão uniformemente repartidas pelo planeta; existindo poucas
áreas onde há um grande número de crateras colossais (maiores que
300 km em diâmetro), nomeadamente no sul; outras áreas na mesma
região possuem algumas pequenas crateras e toda a região norte tem
muito poucas crateras. Assim se pôde fazer um mapa da idade das
superfície de Marte, dividido em três períodos: Noachiano, Hesperiano
e Amazoniano. Estes nomes são retirados de regiões marcianas
identificadas como sendo originadas de uma dessas épocas.
Durante o Período Noachiano, a superfície de Marte estava coberta
com crateras de várias dimensões (grandes e pequenas). No período
seguinte, a superfície foi coberta por crateras de menor dimensão.
Durante o Período Amazoniano parte da superfície (essencialmente o
Norte) foi coberta por lava, quer através de vulcões visíveis, quer
através de fendas. No entanto, desconhece-se como era a superfície do
Norte no final do Período Hesperiano. Os meteoritos que causaram as
crateras Hellas, Isidis e Argyre eram tão grandes que era pouco
provável que existissem muitas mais destas crateras durante o Período
Noachiano.
A diferença entre o ponto mais alto e o ponto mais baixo de Marte é de
31 km (do topo de Olympus Mons a uma altitude de 27 km ao fundo
da cratera de Hellas que se encontra a 4 km de profundidade. Em
comparação, a diferença entre os pontos mais alto e mais baixo da
Terra (o monte Evereste e o Fosso das Marianas) é de apenas 19,7
km.
10. Mapa topográfico de Marte. Pode-se ver Olympus Mons, um ponto algo branco a
oeste e isolado, seguindo para sudeste os três Tharsis Montes, Valles Marineris a
este de Tharsis, e a cratera Hellas no hemisfério sul.
Os vulcões gigantescos
Os vulcões em Marte são divididos em três tipos: quot;Montesquot;, quot;Tholisquot; e
quot;Pateraequot;. Os quot;Montesquot; (singular quot;monsquot;) são muito grandes,
provavelmente basálticos e de leves inclinações. Os quot;Tholisquot; (singular
quot;Tholusquot;) ou abóbadas são menores e mais íngremes que os montes,
com um aspecto abobadado. Os vulcões quot;Pateraequot; (singular quot;pateraquot;)
são muito variados; com inclinações muito rasas e caldeiras
complexas; muitos têm ainda canais radiais nos flancos.
Olympus Mons (Monte Olimpo) é um vulcão extinto com 25 km de
altura, 600 quilómetros de diâmetro na base e uma caldeira de 60
quilómetros de largura. Tem um declive suave. Assim, é a maior
montanha do sistema solar e é mais de três vezes maior que o monte
Everest (8848 m - China;Nepal), tem mais de 13 vezes a altura da
Serra da Estrela (2000 m - Portugal) e 9 vezes a altura do Pico da
Neblina (3000 m - Brasil). O vulcão extinguiu-se há um milhão de anos
atrás e encontra-se numa vasta região alta chamada Tharsis que com
Elysium Planitia contém vários vulcões gigantescos, que são cerca de
100 vezes maiores que aqueles encontrados na Terra.
Um dos maiores vulcões, Arsia Mons tem os lados ligeiramente
inclinados, construídos sucessivamente por fluidos de lava de uma
única abertura. Arsia Mons é o vulcão mais a sul em Tharsis e tem
cerca de 9 km de altura e a sua caldeira tem 110 km, a maior cadeira
11. entre os vulcões marcianos. A norte deste vulcão, situa-se o vulcão
Pavoris Mons (7 km de altura), e a norte desse encontra-se Ascraeus
Mons que tem mais de 11 km de altura. Ascraeus, Pavonis e Arsia
formam um grupo de vulcões conhecidos como Tharsis Montes que se
encontram a sudeste de Olympus Mons.
O gigantesco Olympus Mons, o maior vulcão do sistema solar.
Conforme os resultados da Mars Express, o vulcão Hecates Tholus teve
uma grande erupção há cerca de 350 milhões de anos. Este vulcão
localiza-se em Elysium Planitia e tem um diâmetro de 183 km; a
erupção criou uma caldeira e duas depressões aparentemente cheias
de depósitos glaciais, incluindo gelo. Hecates Tholus é o vulcão mais a
norte de Elysium; os outros são Elysium Mons e Albor Tholus. O pico
da actividade vulcânica em Marte terá sido há cerca de 1500 milhões
de anos.
As imagens da Mars Express mostraram também o que parecem ser
cones vulcânicos na região do pólo Norte sem nenhuma cratera à
volta, o que sugere que tiveram erupção muito recente, o que levou
alguns cientistas a acreditar que o planeta poderá ainda ser
geologicamente activo. Poderão existir entre 50 a 100 destes cones
com 300 a 600 metros de altura cobrindo uma região do pólo Norte
com um milhão de quilómetros quadrados; parte da região de Tharsis
também tem características semelhantes. Estes aspectos na superfície
podem ter sido o resultado de antigas elevações que tenham sofrido
12. erosão pelo vento, mas julga-se que isto é pouco provável devido à
inexistência de crateras e aspectos originados pelo vento naquela
região.
Alba Patera é uma vulcão único em Marte e no sistema solar, localiza-
se a norte de Tharsis, numa região de falhas que surge em Tharsis e
se estende para norte. Alba Patera é muito grande com mais de 1600
km de diâmetro, tem uma caldeira central, mas tem uma altura de
apenas 3 km, no seu ponto mais alto. Possui canais nos flancos, e a
maioria deles têm 100 km de comprimento, alguns chegam a ter 300
km, sugerindo que a lava fluiu por longos períodos de tempo.
No entanto, os vulcões marcianos são pouco numerosos, mas são
testemunhas do passado violento e vulcânico daquela zona, mas são
largamente maiores que a maior montanha de origem vulcânica na
Terra: o Kilimanjaro (5895 m) em África. As áreas vulcânicas ocupam
cerca de 10 por cento da superfície do planeta. Algumas crateras
mostram sinais de erupção recente e têm lava petrificada nos cantos.
Os abismos
Os vulcões encontram-se a leste e oeste do maior sistema de
desfiladeiros do sistema solar, Valles Marineris (que significa quot;Os vales
da Marinerquot;, conhecida como Agathadaemon nos antigos mapas de
canais), com 4000 km de comprimento e 7 km de profundidade. A
extensão de Valles Marineris equivale à extensão da Europa e estende-
se por um quinto da superfície do planeta Marte, desde a região de
Noctis Labyrinthus a oeste até ao terreno caótico a este. O Grand
Canyon nos EUA não passaria de um pequeno arranhão quando
comparado com este abismo. Valles Marineris formou-se pelo colapso
do terreno causado pelo inchamento da área vulcânica de Tharsis, no
outro lado do planeta.
Valles Marineris
13. Ma'adim Vallis (Ma'adim significa Marte em Hebreu) é um grande
desfiladeiro com cerca de 700 km e, também, claramente maior que o
Grand Canyon. Tem 20 km de largura e 2 km de profundidade em
alguns locais. Pensa-se que Ma'adim Vallis terá sido inundado por água
líquida no passado.
Crateras
No hemisfério Sul existe um velho planalto de lava basáltica
semelhantes aos «mares» da Lua, e coberta por crateras do tipo lunar.
No entanto, a paisagem marciana difere da nossa lua, devido à
existência de uma atmosfera. Em particular, o vento carregado de
poeira foi produzindo um efeito de erosão ao longo do tempo, e que
arrasou muitas crateras, apesar de ainda conter um número
considerável. Assim, por conseguinte, existem muito menos crateras
que na Lua, apesar de se situar mais perto da cintura de asteróides. A
maior parte das crateras que resistiram estão mais ou menos
devastadas pela erosão. Muitas das crateras mais recentes têm uma
morfologia que sugere que a superfície estava húmida quando ocorreu
o impacto.
Grande parte destas crateras localizam-se no hemisfério sul. A maior é
Hellas Planitia nesse hemisfério, tem 6km de profundidade e 2000 km
de diâmetro e está coberta por areia alaranjada e é tratada como uma
planície tal como outras enormes crateras antigas e planas.
Algumas crateras menores têm nomes de cidades e vilas da Terra,
como por exemplo: a crateras Aveiro e Lisboa com nomes de cidades
portuguesas, a cratera Mafra, Caxias e Viana com nomes de cidades
brasileiras, e as crateras Longa e Santaca em honra de localidades em
Angola e Moçambique, respectivamente. Em Marte, as crateras de
maior dimensão são dedicadas a personalidades, assim a cratera
Schiaparelli é a maior cratera (se desconceituarmos as crateras
grandes e antigas) com 471 km de diâmetro. No hemisfério sul, a
cratera Magalhães é uma cratera de dimensão considerável com 105
km de diâmetro e dedicada ao navegador português Fernão de
Magalhães.
A atmosfera e o clima
A atmosfera marciana é uma atmosfera rarefeita de dióxido de
carbono, mas no passado teria sido abundante. Apesar disto, Marte
14. apresenta muitas particularidades curiosas, como neve carbônica,
calotas polares de gelo seco, tempestades de poeira e redemoinhos.
Ao contrário do céu azul da Terra, Marte tem um céu amarelo-
acastanhado, excepto durante o nascer e o pôr-do-sol, quando adquire
uma tonalidade rosa e vermelha. Se a atmosfera fosse limpa de poeira,
o céu de Marte seria tão azul como o da Terra. Em alturas em que há
menos poeira, a cor do céu é então mais próxima do azul da Terra.
Em Marte, as auroras são diferentes das observadas no resto do
sistema solar. Ao contrário do que sucede na Terra, não ocorrem nos
pólos como na Terra, devido à inexistência em Marte de um campo
magnético global. Assim, as auroras acontecem onde existem
anomalias magnéticas na crosta marciana, que são restos dos dias nos
quais Marte tinha um campo magnético.
Atlas de Marte
15.
16. Composição
A pressão atmosférica na superfície é de cerca 750 pascais, cerca de
0,75 por cento da média da Terra. Contudo, a pressão atmosférica
varia ao longo do ano devido à dissipação durante o Verão do dióxido
de carbono congelado nos pólos, tornando a atmosfera mais densa.
Além disso, a atmosfera tem 11 km de altura, maior que os 6 km da
Terra. A atmosfera marciana é composta por 95 por cento dióxido de
carbono, 3 por cento N2, 1,6 por cento Árgon, e possui vestígios de
oxigénio e vapor de água.
Em 2003, descobriu-se metano na atmosfera, com uma concentração
de cerca 11±4 ppb por volume. A presença do metano em Marte é
muito intrigante, já que é um gás instável e indica que existe (ou
existiu nos últimos cem anos) uma fonte do gás no planeta. A
actividade vulcânica, o impacto de cometas e a existência de vida sob
a forma de microrganismos estão entre as possíveis causas ainda não
comprovadas. O metano aparece em certos pontos da atmosfera, o
que sugere que é rapidamente quebrado, logo poderá estar a ser
constantemente libertado para a atmosfera, antes que se distribua
uniformemente pela atmosfera. Foram feitos planos recentemente para
procurar gases quot;companheirosquot; que podem sugerir as fontes mais
prováveis; a produção biológica de metano na Terra tende a ser
acompanhada por etano, enquanto a produção vulcânica tende a ser
acompanhada por dióxido de enxofre.
O dia e as estações do ano
Marte tem estações do ano, mas estas duram o dobro das estações na
Terra; o ano marciano é também o dobro do terrestre (cerca de 1 ano
e 11 meses terrestres). Já a duração do dia em Marte (sol) é pouco
diferente do da Terra: 24 horas, 39 minutos e 35 segundos .
A fina atmosfera não consegue segurar o calor e é a causa das baixas
temperaturas em Marte, sendo 20 graus positivos a temperatura mais
alta que atinge. Contudo, não existem dados suficientes que permitam
conhecer a evolução ao longo do ano marciano nas diferentes latitudes
e, muito menos, as particularidades regionais. Além de se encontrar
mais afastado do Sol que a Terra e da sua atmosfera ser ténue, há a
notar a baixa condutividade térmica do solo marciano e uma diferença
mais pronunciada que a Terra no que toca à variação das temperaturas
diurna e nocturna.
A temperatura à superfície depende da latitude e apresenta variações
entre as diferentes estações do ano. A temperatura média à superfície
17. é de cerca de -55 °C. A variação da temperatura durante o dia é muito
elevada já que se trata de uma atmosfera bastante ténue.
No Verão em Marte, a temperatura média atinge os -36 graus antes do
nascer do dia. Pela tarde, atinge os -31 graus, por vezes a média pode
chegar aos -45 graus e são raras as temperaturas superiores a zero
graus, mas que podem alcançar os 20 °C ou mais no equador. No
entanto, a temperatura mínima pode descer até aos 80 graus
negativos. No Inverno, as temperaturas descem até aos -130 graus
nos pólos e chega mesmo a nevar. Mas trata-se de neve carbónica, já
que o carbono é o principal constituinte da atmosfera. A temperatura
mais baixa registada em Marte foi de -187 graus e a mais alta, em
pleno Verão e quando o planeta se encontrava mais próximo do Sol, foi
de 27 °C.
As calotas polares
Os pólos estão cobertos por calotas polares formadas por gelo seco
(dióxido de carbono congelado) e gelo de água. Estas calotas tornam-
se menores na Primavera e chegam a desaparecer durante o Verão,
devido ao aumento da temperatura. As calotas polares mostram uma
estrutura estratificada com capas alternantes de gelo e diferentes
quantidades de poeira escura. Não se tem a certeza sobre o que causa
a estratificação, mas pode ser devido a mudanças climática
relacionadas com variações a longo prazo da inclinação do equador
marciano em relação ao plano da órbita. As diferentes estações do ano
nas calotas produzem mudanças alterações na pressão atmosférica
global que se calcula em cerca de 25%.
O vapor de água move-se de um pólo para o outro com a mudança
climática entre o Verão e o Inverno, ajudando não só na criação de
calotas semelhantes à da Terra, mas também nuvens de cirrus,
compostas por gelo (de água) e que foram fotografados pelo rover
Opportunity em 2004.
Quando chega o inverno e com a chegada de temperaturas inferiores a
-120 °C, o depósito de gelo é coberto por um manto de neve carbónica
que se produz com a congelação da atmosfera de dióxido de carbono.
No Verão austral, o dióxido de carbono congelado evapora por
completo, deixando uma capa residual de gelo de água. Em cem anos
de observação, a calota polar austral já desapareceu duas vezes por
completo, enquanto a do Norte nunca desapareceu por completo.
Mesmo que o clima do hemisfério Sul seja mais rigoroso, a Primavera e
o Verão do hemisfério Sul ocorrem quando o planeta está no perélio,
18. assim as temperaturas máximas acontecem no hemisfério sul, o que
leva a que a calota sofra bastante. O Inverno no sul é também mais
frio, devido ao planeta encontrar-se no afélio.
A Mars Global Surveyor determinou em 1998 que a massa total de gelo
da calota polar norte equivale a metade do gelo que existe na
Groenlândia. O gelo do pólo Norte assenta-se sobre uma grande
depressão de terreno, estando coberto por gelo seco. A calota gelada
parece elevar-se abruptamente desde o terreno adjacente,
emparedado e acabando por ser uma grande meseta de gelo. Nos
cantos da calota, O gelo apresenta bandas claras e escuras que podem
indicar processos de sedimentação.
Marte com as suas calotas polares,
semelhantes às da Terra, mas constituídas essencialmente por gelo seco, havendo
pouco gelo de água.
Tempestades de areia
Apesar da atmosfera ténue, formam-se manchas de nuvens e nevoeiro
e ventos intensos varrem poeiras, tornando o céu rosado. Essa poeira
residual na atmosfera tornava grandes partes escuras, que se pensava
serem vegetação e intrigou os astrónomos durante mais de um século.
Ocasionalmente e de forma repentina, todo o planeta é submergido por
uma tempestade maciça de poeira que pode persistir durante semanas
ou até meses. Estas tempestades são mais frequentes durante o
perélio da órbita do planeta e no hemisfério sul, quando ali é final da
Primavera, estas tempestades são causadas por ventos na ordem dos
150 km/h. As tempestades têm origem na diferença de energia que o
planeta recebe do Sol no afélio e no perélio. Quando Marte se encontra
perto do perélio da sua órbita, a temperatura eleva-se no hemisfério
Sul no final da Primavera e porque se encontra mais perto do Sol, o
solo perde humidade.
19. Em certas regiões, especialmente entre Noachis e Hellas, desencadeia-
se uma tempestade local violenta que arranca do solo seco imponentes
massas de poeira. Esta poeira, por ser muito fina, eleva-se a grandes
altitudes e, em semanas, cobre o solo todo do hemisfério, ou até
mesmo a totalidade do planeta.
A poeira em suspensão na atmosfera causa uma neblina amarela que
escurece os aspectos mais marcantes do planeta. Ao tapar o sol, as
temperaturas máximas diminuem, mas como é criada uma manta que
impede a dissipação do calor, as temperaturas mínimas aumentam.
Em consequência, a oscilação térmica diurna diminui de forma
drástica. Assim acontece em 1971, as tempestades impossibilitaram
durante um certo tempo as observações que deveriam efectuar as
duas sondas norte-americanas Mariner e as duas sondas soviéticas
Mars que tinham acabado de chegar a Marte.
Redemoinhos de poeira foram primeiramente fotografados pelas
sondas Viking na década de 70 do século XX. Em 1997, a Pathfinder
detectou um redemoinho. Estes redemoinhos podem ser até cinquenta
vezes mais largo e até dez vezes mais altos que os terrestres. O
veículo robô Spirit fotografou várias imagens a partir do chão de
redemoinhos de poeira.
Redemoin
ho de poeira fotografado pelo rover Spirit.
Hidrografia
20. O ciclo da água em Marte é diferente do da Terra devido à pressão
atomosférica ser tão baixa: a água encontra-se no solo, em forma de
gelo, à temperatura de -80 °C, mas quando a temperatura se eleva, o
gelo converte-se em vapor sem passar ao estado líquido.
Marte à primeira vista parece um imenso deserto, e que sempre foi
assim. No entanto, imagens de sondas que observaram o planeta
detectaram vários leitos de rios secos. Mais recentemente descobriu-se
um lago gelado à superfície e sugeriu-se a existência de gelo
subterrâneo, em que em, pelo menos um local, a existência de um mar
de gelo. Com a confirmação da existência de água congelada no
subsolo do planeta, alguns supõem que esta água possa sustentar
micróbios marcianos.
Formaçõ
es rochosas microscópicas indicam sinais antigos de água. Fotografia tirada pelo
rover Opportunity.
21. Antigos canais e lagos
Existem dois tipos de canais (não confundir com os canais de
Schiaparelli) em Marte os que são produzidos correntes e os que são
originados por água que emerge debaixo da superfície. Estes canais
antigos ainda são vísiveis nas imagens obitdas pelas sondas que
exploraram o planeta.
Os canais produzidos por correntes são pequenos com menos de 20
km de comprimento, e encontram-se nas terras altas e nas beiras das
crateras. Pensa-se que terão sido formadas quando água subterrânea
ocasionalmente chegava à superfície.
Os canais de correntes estão associados com cheias catastróficas numa
escala maior, bem maiores que as cheias já registradas na história
geológica da Terra. Estas cheias podem ter sido originadas a partir de
gelo derretido.
Antigos canais de rios desaguavam em Valles Marineris, indicando que
este imenso desfiladeiro esteve outrora inundado, causando a
sedimentação em camadas que se encontra no interior do desfiladeiro.
Nesta região e em outras regiões como na cratera Schiaparelli (de 450
km de diâmetro), a presença de canais que desaguavam dentro das
crateras leva a se supor que se formavam pequenos lagos de água
dentro destas.
Ma'adim Vallis é um outro grande desfiladeiro e pensa-se que terá sido
esculpido por água líquida no passado com pequenos canais ao longo
das paredes do desfiladeiro. Nestes canais, a água subterrânea se
dissolvia parcialmente e levava a que a rocha caísse em depósitos e
fosse levada por outros processos de erosão. Ma'adim localiza-se numa
região baixa no sul e que se pensa que, no passado, contivesse um
grande número de lagos a norte da cratera Gusev perto do equador.
O Ares Vallis, um dos maiores canais de escoamento de Marte,
atravessa a região em direcção a Xanthe Terra, a noroeste; onde se
localizam os grandes canais Tiu, Simud e Shalbatana, regiões das
quais fotos a partir do espaço revelaram quot;ilhasquot; em forma de
lemniscata e planícies aluviais que sugerem as grandes inundações que
tiveram lugar em Marte. Estes aspectos têm origem na parte oeste de
Margaritifer Sinus, numa região acidentada e desordenada conhecida
como «Terreno Caótico». A inundação que aqui teve lugar ocorreu em
escala titânica, muito maior que qualquer uma verificada na Terra.
A cratera Gusev que tem cerca de 170 km de diâmetro, e foi formada
há cerca de 3 a 4 mil milhões de anos, parece ter sido um antigo lago,
já que se encontra coberto por sedimentos até quase um quilómetro
22. de profundidade. Certas formações do terreno na boca de Ma'adim
Vallis, na entrada da cratera Gusev, assemelham-se aos deltas de rios
terrestres. Estas formações na Terra levam centenas de milhares de
anos a serem formadas, sugerindo que a água corria em Marte por
longos períodos de tempo. Imagens tiradas da órbita indicam que terá
existido um lago de dimensões bastante significativas perto da fonte
de Ma'adim Vallis que seria a origem dessa água. Não se sabe se a
água corria lenta e continuamente, com grandes enchentes
esporádicas, ou se seria uma combinação destes padrões.
Os mares perdidos
Entre as descobertas pelo rover Opportunity está a presença de
hematita em Marte na forma de pequenas esferas em Meridiani
Planum. As esferas têm apenas alguns milímetros de diâmetro e
acredita-se terem sido formadas como depósitos rochosos sob água há
milhares de milhões de anos. Outros minerais encontrados continham
formas de enxofre, ferro e bromo tais como jarosita. Esta e outras
evidências levaram a que cientistas concluissem que quot;a água líquida foi
outrora presente de forma intermitente na superfície marciana em
Meridiani, e por vezes saturava a sub-superfície. Porque a água líquida
é um pré-requisito chave para a vida, Meridiani pode ter sido habitável
por algum período de tempo na História marcianaquot;. No lado oposto do
planeta, o mineral goethita forma-se somente em presença de água,
ao contrário da hematite. Outras evidências de água, foram
encontradas pelo rover Spirit nas quot;Colinas Columbiaquot;.
A NASA avançou com uma hipotética história da água em Marte; onde
demonstrou que a água poderá ter sido abundante em Marte até há
cerca de 3 bilhões e 800 milhões de anos, antes de ter começado a
desaparecer. Há 2 bilhões de anos já só restava um pequeno mar
perto do pólo Norte até desaparecer, quase por completo, 1 bilhão de
anos depois.
O planeta teria cursos abundantes de água, e uma atmosfera muito
mais densa que proporcionava temperaturas mais elevadas, permitindo
a existência de água líquida. Presume-se que Marte tenha perdido
muita da sua atmosfera devido ao vento solar que penetra pela
ionosfera e de forma muito profunda na atmosfera marciana até uma
altitude de 270 km. Ao perder a maior parte dessa atmosfera para o
espaço, a pressão diminuiu e as temperaturas baixaram, a água
desapareceu da superfície. Alguma subsiste na atmosfera, como vapor
de água, mas em pequenas porpoções (0,01%), assim como nas
calotas polares, formando grandes massas de gelos perpétuos.
23. O lago gelado
A 29 de Julho de 2005, é anunciada a existência de um lago de gelo
em Marte. Fotografias ao lago foram tiradas pela Mars Express da
Agência Espacial Europeia, uma sonda que tem explorado o planeta.
O disco de gelo está localizado em Vastitas Borealis, uma planície
vasta que cobre as latitudes mais a norte de Marte. O gelo que é bem
visível está deitado sobre uma cratera que tem 35 km de diâmetro,
com uma profundidade máxima de cerca de 2 km.
Os cientistas que estudaram as imagens dizem ter a certeza que não é
gelo seco (dióxido de carbono gelado), isto porque o gelo seco já tinha
desaparecido da capa polar do Norte na altura em que a imagem foi
tirada. O que pode ser mais um ponto a defender que terá existido
vida em Marte, ou que ainda possa existir e que também é um forte
incentivo a que sejam enviadas missões tripuladas por seres humanos.
O mar oculto
Os europeus também descobriram que um imenso mar gelado pode
estar abaixo da superfície de Marte na região sul de Elysium, perto do
equador, compreendendo uma área chapeada e coberta por
sedimentos de 800 por 900 km. Estes sedimentos cobrem o gelo,
preservando-o no sítio. A água que terá formado este mar em Elysium,
parece ter tido origem de baixo da superfície do planeta, emergindo
numa série de fracturas conhecidas como Cerberus Fossae.
Vida em Marte
Marte tem um lugar especial na imaginação popular devido à crença de
que o planeta é ou foi habitado no passado. Esta ideia surgiu devido a
observações realizadas no fim do século XIX por Percival Lowell.
Percival Lowell observava canais e áreas que mudavam de tonalidade
com as estações do ano e imaginou Marte habitado por uma civilização
antiga que lutava para não morrer de sede. De facto, o que Lowell
observou ou não existia ou eram leitos secos ou mudanças naturais na
coloração do planeta devido a tempestades de areia.
24. Existem evidências que o planeta terá sido significativamente mais
habitável no passado que nos dias de hoje, mas a existência de que
tenha albergado vida permanece em debate. O meteorito ALH84001
que é um meteorito de origem marciana, crê-se que terá sido
projectado quando Marte foi atingido por um meteorito,
microorganismos marcianos ter-se-ão agarrado e vagueou durante 5
milhões de anos pelo cosmos até cair na Antártida, na Terra, onde foi
descoberto. Em 1996, pesquisadores estudaram o meteorito ALH84001
e reportaram características que atribuíram a micro-fósseis deixados
pela vida em Marte. O meteorito tido como a prova para alguns
cientistas que Marte tinha actividade biológica no passado já que
contém o que parecem ser fósseis de microrganismos. Em 2005, esta
interpretação permanece controversa sem que um consenso tenha sido
atingido.
As sondas Viking continham dispositivos capazes de detectar
microrganismos no solo marciano, e tiveram alguns resultados
positivos, mais tarde negados por vários cientistas, resultando numa
controvérsia que permanece. Contudo, a actividade biológica no
presente é uma das explicações que têm sido sugeridas para a
presença de vestígios de metano na atmosfera marciana, mas outras
explicações que não envolvem necessariamente seres vivos são
consideradas mais prováveis. Mesmo que as sondas Viking não tenham
encontrado provas conclusivas não significa que não exista vida em
Marte. A vida pode estar escondida na superfície ou no subsolo.
O clima seco e frio de Marte torna o planeta inóspito à Vida. Mas talvez
não totalmente. Uma história impressionante durante as missões
Apollo à Lua forneceram evidências de que a vida pode mesmo resistir
a condições ainda adversas. Os astronautas descobriram que bactérias
da Terra que tinham viajado para a Lua na sonda Survior X dois anos e
meio antes tinham resistido num ambiente mais hostil que o
encontrado em Marte.
A descoberta de vida, ou simplesmente de fósseis de uma vida
desaparecida no planeta seria um dos maiores acontecimentos de
todos os tempos. A exploração de Marte pelo Homem deverá acontecer
perto do ano 2020, levados por uma viagem de 3 a 9 meses. Caso a
colonização espacial venha a acontecer, Marte é a escolha ideal pelas
suas condições mais próximas à Terra que outros planetas e deverá
ser um destino ideal para o aventureiro do futuro devido aos seus
enormes vulcões, desfiladeiros imensos e mistérios por resolver.
25. Imag
ens microscópicas revelaram estruturas semelhantes a bactérias no meteorito
ALH84001.
Canais:
Marte tem um lugar importante na imaginação humana devido à
crença de que vida existiu em Marte. Este mito originou-se com as
observações feitas por Giovanni Schiaparelli com a oposição de Marte
em 1877. Enquanto mapeava a superfície de Marte, Schiaparelli
encontrou umas características semelhantes a estreitos a que chamou
de canali, que significa canais em Italiano. Pensou que os canais que
observara eram naturais, tanto que usava a palavra fiume (rio em
italiano) como sinónimo.
Em 1879, Schiaparelli, nota que os canais aparecem mais finos e
regulares e verificou que Syrtis Major invadiu parte da vizinha Lybia. O
que confirmaria a ideia da existência de mares, uma teoria que
suportava.
Schiaparelli desenhou mapas cada vez mais elaborados em que os
canais se tornaram cada vez mais proeminentes. Um dos canais, o
Nilus entre Lunae Lacus e Ceraunius aparecia como um par de canais
exactamente paralelos, o que chocou o italiano. E, logo verifica ainda
mais canais geminados.
Outros observadores confirmaram a existência dos canais, enquanto
outros astrónomos não conseguiam vê-los, tornando-se cépticos. E,
26. outros ainda confirmaram a existência de inundações. No final do
século XIX, já estavam recenseados 400 canais que percorriam todo o
planeta.
Os canais aparentavam serem linhas artificiais na superfície, e devido
às mudanças sazonais no brilho de algumas áreas pensava-se que
eram causados pelo crescimento de vegetação. O astrónomo Camille
Flammarion e o aristocrata Percival Lowell especulam sobre vida em
Marte. Lowell imaginava uma civilização marciana que procurava
distribuir a água dos locais onde ainda existia para as cidades
marcianas. As suas ideias causaram grande sensação entre o público,
originando muitas histórias com marcianos.
As ideias de canais são hoje tidas como, essencialmente, ilusões de
óptica, ou em certos casos, antigos leitos de rios secos ou ainda como
marcas provocadas pela ocorrência de um fenômeno meteorológico
chamado dust devil. As mudanças de cor foram atribuídas as
tempestades de areia, muito comuns em Marte.
A face e as pirâmides
A Face em Marte é uma grande característica da superfície do planeta
Marte localizada na região de Cydonia, 10 graus a norte do equador
marciano. Mede aproximadamente 3 km de comprimento e 1,5 km de
largura. Foi fotografada a 25 de Julho de 1976 pela sonda Viking 1 que
orbitava o planeta na altura.
A maioria das interpretações da fotografia sugeria que seria uma
formação natural, uma das muitas quot;mesasquot; da região de Cydonia.
Nesta visão, a aparência da face tem origem numa combinação do
ângulo de luz (com o Sol baixo no horizonte marciano na altura em
que a fotografia foi tirada), a baixa resolução da fotografia que
suavizou as irregularidades da superfície e a tendência do cérebro
humano em reconhecer padrões familiares, especialmente caras
(pareidolia). Finalmente, um buraco nos dados enviados pela Viking 1
criaram um ponto negro no local exacto onde se localizaria uma narina
na face humana, muitos outros destes pontos negros são visíveis na
imagem.
Outra interpretação da foto é que representaria um monumento
artificial criado por antigos marcianos ou outros extraterrestres
visitantes do sistema solar num passado muito antigo. O livro
quot;Message of Cydoniaquot; (Mensagem de Cydonia) de Richard Hoagland vai
mais longe e interpreta o local como sendo uma cidade arruinada com
pirâmides construídas artificialmente. Uma destas pirâmides perto da
27. face é trilateral, lisa e com uma cratera perto da base que a maioria
dos cientistas crêem que são de origem natural e produzidas por
milhões de anos de erosão causada pelas tempestades de areia. O
local seria uma cidade e um forte em ruínas, e que a Face estava
alinhada apontando para o local em que o Sol se levantava há meio
milhão de anos atrás, época em que se acreditava que a Face tinha
sido construída.
A interpretação cientifica ganhou fôlego com as imagens da Mars
Global Surveyor em 1998 e a Mars Odyssey em 2002, que mostraram
a região com uma luminosidade diferente e com uma melhor resolução
e o aspecto de face quase que desaparece, o que levou a que os que
suportam teorias da conspiração afirmassem que as imagens foram
propositadamente alteradas.
Em 21 de Setembro de 2006 a Agência Espacial Europeia publicou
novas fotografias da região de Cydonia tiradas pela Mars Express. As
novas imagens têm uma resolução de menos de 14 m/pixel.
A famosa fotografia com a Face de Marte.
O mistério de Hellas
28. Em 1969, as fotos obtidas pela Mariner revelaram algo de diferente no
sul de Marte, em Hellas, região marciana circular de aproximadamente
2,5 milhões de quilómetros quadrados. Ao contrário de todas as outras
regiões anteriormente fotografadas, Hellas apresentava-se desprovida
de crateras.
Noachis está crivada de crateras em número normal; a seguir a
Noachis situa-se Hellespontus, no interior de Hellas e não apresenta
qualquer cratera. Sabendo-se que toda a superfície marciana foi
fortemente bombardeada por meteoritos, a ausência de crateras nesta
área resultaria de uma força niveladora, força essa que poderia estar
relacionada com uma invulgar concentração de calor e humidade,
condições propícias à evolução da vida.
Outro dado curioso caracteriza a região de Hellas, as mudanças de cor
conforme as estações, escurecendo na Primavera e tornando-se de
novo mais clara no Outono. Isto levou a que se sugerisse que, durante
a Primavera, na região havia um surto periódico de vegetação.
Uma imagem tirada no ano 2000 procurava desvendar o antigo
mistério. A imagem mostrava evidências de água submersa (que
emerge à superfície), tempestades de areia e congelação que indicam
uma mudança sazonal. Desconhece-se que materiais terão produzido o
brilho uniforme no terreno de Hellas.
Luas
Marte tem dois pequenos satélites naturais: Fobos e Deimos, ambos
deformados, possivelmente asteróides carbonácios capturados pelo
planeta. Foram descobertos por Asaph Hall em Agosto de 1877, com o
impulso da sua esposa. Os nomes provêm de dois filhos do deus Ares
(Marte na mitologia romana): Fobos (Φόβος, medo em grego) e
Deimos (Δείμος, do grego pânico e terror).
Ambos os satélites estão ligados pela força gravítica apontando sempre
a mesma face. Já que Fobos é mais veloz a orbitar Marte que o próprio
planeta a girar, a força da gravidade irá diminuir o seu raio orbital, que
já é o mais curto conhecido no sistema solar, o que poderá levar à
fragmentação de Fobos.
Vistos de Marte, Fobos tem um diâmetro ângular de 12', enquanto que
Deimos tem um diâmetro ângular de 2'. O Sol, por contraste, tem
cerca de 21'. Nas noites marcianas, Fobos não mostraria nenhuma
eficácia na iluminação, apareceria apenas tão brilhante como Vénus se
mostra à Terra, devido à superfície bastante escura do pequeno
29. satélite. Mas num dia normal em Marte, ver-se-ia Fobos a passear pelo
céu três vezes por dia, surgindo a Oeste e pondo-se a Leste.
Já Marte visto a partir de Fobos constituiria uma imagem
impressionante, Marte sustenderia um ângulo de 43° e preencheria
quase metade do céu desde o horizonte ao zénite.
Visto de Marte, Fobos ao atravessar o
Sol apenas causa um eclipse parcial. Imagem tirada pelo rover Opportunity em
Marte, a 10 de Março de 2004.
Visto de Marte, Deimos ao atravessar o
Sol apenas causa um pequeno eclipse parcial.
Satélites Naturais de Marte
Diâmetro Massa Raio orbital Período
Nome
(km) (kg) médio (km) orbital
22,2 (27 ×21,6×18,8) 1,08×1016 9378
Fobos 7,66 h
30. 2×1015
Deimos 12,6 (10 ×12×16) 23 400 30,35 h
Símbolo de Marte:
Bibliografia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marte_(planeta)
http://indoafundo.com