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TRANSPORTE POR BICICLETA EM CIDADES CATARINENSES:
               METODOLOGIA PARA LEVANTAMENTO DA REALIDADE E
                   RECOMENDAÇÕES PARA INCREMENTO DA SUA
                     PARTICIPAÇÃO NA MOBILIDADE URBANA
                    Projeto de Pesquisa financiado pelo CNPq
                           Edital MCT/CNPq nº 18/2009
                            Processo nº 402399/2009-9




 Título do       OPINIÃO DE GESTORES PÚBLICOS E LIDERANÇAS
Documento              COMUNITÁRIAS DE FLORIANÓPOLIS
             Entrevistas gravadas com 6 pessoas representantes dos setores público,
Descrição    iniciativa privada e sociedade civil organizada sobre a mobilidade urbana
             em Florianópolis e sobre a mobilidade ciclística
             INDICADORES DE QUALIDADE DE MOBILIDADE CICLÍSTICA EM
  Anexo
             FLORIANÓPOLIS
TRANSPORTE POR BICICLETA EM CIDADES CATARINENSES
                         Pesquisa financiada pelo Edital MCT/CNPq Nº 18/2009
                              ENTREVISTA COM GESTORES PÚBLICOS
                                   E LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS


DADOS DA ENTREVISTA
Data: 04/05/2011
Horário: 11:00 h
Local: Guarda Municipal de Florianópolis
Entrevistador: André Geraldo Soares


DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Nome: Alberto Municipal
Formação Profissional: Bacharel em Administração e Segurança no Trânsito e em Administração
geral
Instituição de trabalho/representação: Guarda Municipal de Florianópolis
Cargo: Gerente de Trânsito
Sexo: Masculino
Idade: 29 anos


ENTREVISTA


Como um gestor do trânsito municipal, como você avalia a quantidade e a qualidade das
ciclovias e ciclofaixas de Florianópolis?
Eu vejo que há uma estruturação, uma intenção de reestruturar, de implantar ciclofaixas e
ciclovias. Entretanto eu vejo que não há uma interligação, um propósito comum em conectar todas
essas ciclofaixas. Eu vejo que não há estacionamentos em prédios públicos. Não há, por exemplo,
junto aos estacionamentos de veículos... Seria adequado se houvesse espaço onde deixar a
bicicleta, um bicicletário, com proteção, que desse uma segurança ao ciclista em deixar o seu bem
ali estacionado. Então, esse eu vejo como um grande problema. O trânsito de ciclistas ainda é
pobre com relação à utilização desse meio para fins trabalhistas, para fins de serviços. O que eu
consigo perceber: a grande maioria que utiliza esse espaço, de ciclofaixas e ciclovias, utiliza como
lazer, e não como meio de locomoção.

Também recebemos dos ciclistas, muitas vezes, diversas reclamações da qualidade e da
insegurança dessas vias, porque seriam ou muito estreitas, ou muito próximas das vias
motorizadas, sem separação. Você tem registro, dentro da Guarda Municipal, de algum tipo
de avaliação sobre isso?
Nós não conseguimos, nós não temos um setor de estatísticas que referencie bicicletas, acidentes
com bicicletas. Agora, o que nós podemos perceber, utilizando o sistema viário, é que em alguns
locais há essa defasagem nas ciclofaixas. Principalmente na Rua Demétrio Ribeiro, Rua Rui
Barbosa, onde conseguimos observar que o espaço que ficou destinado à ciclofaixa ali ficou
inapropriado. Não é segura, posso dizer assim.

Outra reclamação, também bastante constante dos ciclistas, é que muitas dessas
ciclofaixas, até porque elas não tem barreira divisória (ou seja, não são ciclovias), são
utilizadas como estacionamento ou ponto de parada pelos veículos motorizados. Vocês
também tem recebido essas reclamações, ou alguma orientação interna a respeito disso?
Nós temos recebido bastante reclamações a respeito disso. E podemos dizer que temos
prioridade no atendimento a esse tipo de infração, uma vez que esse espaço já foi criado com o
intuito de facilitar o transporte daquela pessoa, de desafogar o trânsito de veículos. Então nós
temos aquilo como prioridade, fazer a fiscalização desses locais, que são, digamos assim, um
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espaço que nós preservamos. E a preservação disso incentiva a utilização desse modal.

Florianópolis não possuí um órgão que centralize o planejamento e a gestão da estrutura
cicloviária. Na sua opinião, que função teria a eventual instalação de um órgão como esse?
Eu creio que faria muito jus, uma vez que esse órgão poderia lutar de forma mais contundente e
abrangente a questão que referencia, que dá oportunidade a esse pessoal. A criação de um
espaço teria voz frente aos órgãos públicos, solicitando melhores condições para os ciclistas e
ciclousuários.

Florianópolis também, como você mesmo constatou, não possui uma pesquisa, um
sistema de monitoramento sobre a mobilidade urbana em geral. Na sua opinião isso traz
algum tipo de problema ou desvantagem também para o trabalhado da Guarda Municipal?
Creio que sim. Porque a questão de monitoramento de ciclofaixas é um negativo que a cidade
tem. É um ponto a menos, digamos, que ainda não foi incorporado na mentalidade das pessoas,
que o uso da bicicleta polui menos, causa menos transtornos na cidade. Então eu vejo que seria
muito bem vindo um órgão que compreendesse somente esses estudos e tivesse voz política para
que isso se tornasse realidade.

Como você, agente público de segurança de trânsito, avalia o comportamento do motorista
florianopolitano, ou do motorista que se locomove em Florianópolis?
Aqui em Florianópolis, e creio que também no outros municípios, eu avalio como muito negativo
essa postura de poder do motorista, uma vez que cada um cuida do seu próprio benefício; às
vezes tem um vizinho que trabalha no mesmo órgão e os dois saem com veículos diferentes;
chegam e saem no mesmo horário, entretanto cada um vai com o seu veículo próprio, causando
um transtorno no trânsito. E também vejo a educação dos condutores muito pobre com relação ao
trânsito, principalmente na relação entre pedestres, ciclistas e com os condutores de veículos. É
uma questão que gera muita briga, muito stress ainda na nossa cidade.

A Guarda Municipal tem algum tipo de orientação específica acerca de como tratar, como
lidar com o ciclista no trânsito?
Voltada principalmente para ciclista, não. Nós temos um setor voltado para a educação na Guarda
Municipal, que atende as escolas das redes municipal e estadua aqui de Florianópolis. O setor de
educação já está atuando há cinco anos, é voltado para crianças da pré-escola até a quinta ou
sexta série. Já começamos a expandir para atender os níveis de oitava série até terceiro ano do
Ensino Médio. Nós temos vários projetos, são várias frentes que lidam com a educação para o
trânsito. Entretanto, voltado para os ciclistas, abordando os ciclistas, ainda não temos nenhum
movimento nesse sentido. Nós fazemos divulgação através de folders, de exemplares impressos,
entretanto, nós atingimos estudantes, sendo a grande maioria do Ensino Fundamental, e as
crianças não se deslocam, ainda, sozinhas para o colégio através da bicicleta.

A Guarda Municipal possui uma ronda-bike ou guarda-bike?
Sim, possuímos uma ronda-bike.

Quantos veículos possui?
Nós temos oito bicicletas. Hoje estão sendo usadas seis bicicletas. São três durante o período
matutino e três durante o período vespertino; na parte noturna não temos nada. Usamos para
fazer a fiscalização principalmente na Avenida Beira-Mar Norte. Da saída na ponte até o parque
do Córrego Grande e também pelas ciclofaixas da Hercílio Luz e da Demétrio Ribeiro.

Como funciona a seleção dos guardas que vão utilizar a bike? É por vontade própria?
São voluntários, que tem a vontade de trabalhar dessa maneira, então nós disponibilizamos todo o
equipamento, capacete, bicicletas, manutenção.

As bicicletas eu vejo que são boas.
São de boa qualidade. Foi até feito um levantamento, teve uma estudante que fez seu estudo, se
não me engano era da UDESC, da ergonomia das bicicletas; buscava averiguar se eram boas, se
eram adequadas. Ela apresentou o resultado para nós, disse que eram de boa qualidade, com
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ergonomia eficaz, sendo propícias para a utilização.

Então a ronda-bike circula praticamente nas ciclovias da cidade?
Sim. E quando há algum evento envolvendo ciclistas, damos prioridade para que esse pessoal
faça o acompanhamento.

Alberto, seja pela experiência da ronda-bike, seja pela experiência sua em lidar com os
ciclistas diariamente no trânsito, quais são os problemas, dificuldades e riscos que você vê
que eles enfrentam no trânsito?
Primeiramente é o conflito entre ciclistas e condutores. Outra coisa também fundamental é a
criação de ciclofaixas onde antes havia uma faixa normal de veículos; ali foi estreitada a faixa dos
veículos para a criação de ciclofaixa, de forma não segura. As ciclofaixas são separadas por
tachões e, muitas vezes acabam os veículos, caminhões de mudança etc. estacionando nesses
locais para fazer o seu serviço. Também existe o problema da indisponibilidade de locais públicos
abertos para se deixar a bicicleta com segurança, onde a pessoa tivesse certeza de que ao
retornar a sua bicicleta estaria lá e poderia voltar para casa tranquilamente.

Qual é a sua opinião, pessoal e profissional, acerca da eficiência e das vantagens da
bicicleta para o transporte na cidade? Que tipo de papel a bicicleta pode ter na cidade?
Hoje eu fiz um levantamento para a imprensa informando que são licenciados em torno de mil
veículos por mês em Florianópolis. Já temos capacidade, por vários estudos, de ver que em
poucos anos teremos um colapso geral no nosso trânsito. Então, eu vejo que não adianta
estarmos criando mega estruturas e elevados para priorizando o transporte veicular sem
contemplar outros modais. E o principal, nesse tema, é a parte de ciclovias. Eu penso que, sendo
um transporte limpo, sem prejuízos e ainda trazendo o benefício da saúde de quem o utiliza, eu
vejo que só tem a ganhar quem usa esse modal.

Se nós tivéssemos condições de incentivar o uso da bicicleta por aquelas pessoas que
fazem curtas e médias distâncias, que às vezes não tem muitas necessidades de
deslocamento, nós diminuiríamos um percentual bom de pessoas que ocupam diariamente
o trânsito.
Com certeza. E eu vejo uma grande falta de um incentivo para esse tipo de transporte. Muita
gente – eu, por exemplo – tem uma bicicleta em casa; mas geralmente, no meu caso, eu utilizo a
moto, para mim é muito mais rápido. Até porque o local onde eu moro não oferta essa
disponibilidade de andar de bicicleta, lá temos que disputar o espaço com veículos, muitas vezes.
Ou se disputa espaço com veículos, ou se anda por cima da calçada. Então eu vejo uma
dificuldade em utilizar a bicicleta. Eu sei que para a moto tem a minha faixa ali garantida. Então eu
vejo como muito positivo, se tivesse uma valorização do transporte por bicicletas.

Verificadas as vantagens e possibilidades do uso da bicicleta como meio de transporte
para a cidade, quais são as dificuldades para a sua inclusão no trânsito da cidade? Por que
existe tão pouco investimento do poder público, ou da sociedade em geral? Por que não
existe adesão para o uso da bicicleta como meio de transporte?
Não sei se é por falta de vontade política. Parece que a sociedade não está se preocupando com
o futuro, com as tendências da mobilidade urbana... Muito se fala em mobilidade urbana, mas
muitos não sabem qual é o conceito de mobilidade urbana. Eu vejo que deveria haver um órgão
específico que cuidasse dessa integração e que pudesse ter voz política para criação disso,
através da integração da Secretaria de Transporte, da Secretaria de Urbanismo Público, com os
órgãos fiscalizadores, a Guarda Municipal, a Polícia Militar, para que houvesse um a integração
entre todos esses órgãos e pudesse alertar os gestores políticos, sobre essa situação. Porque eu
penso que “uma andorinha não faz verão”... Hoje o único órgão de que eu tenho noticia é a
ViaCiclo, que vai atrás, através de legislação, de recursos judiciais, brigando por essas questões.
Há pouco foi criado um elevado, entretanto não foi priorizado nenhum espaço para pedestres,
muito menos para ciclistas. Então eu vejo que há uma preocupação muito grande em criar,
expandir as vias públicas, entretanto não pensando nos ciclistas e nos pedestres.

A última pergunta seria: como você vê a participação e o papel da sociedade civil
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organizada nesse processo todo de humanização do trânsito e uso da bicicleta como meio
de transporte?
O que eu vejo é que a ViaCiclo tem ganhado cada vez mais força, ficando mais evidenciada no
cenário político; mas eu penso que há uma grande necessidade de aumentar a força em relação a
estas questões. Veja, por exemplo, o Passe Livre; tem uma grande repercussão, com algumas
conquistas, mas por causa da mobilização de todos, não foi só uma pessoa que se aproximou do
prefeito e conseguiu alguma coisa. Assim, eu penso que a sociedade organizada só tem a ganhar
com isso. E se tiver uma, já é bom, mas se houver várias frentes, acho que todo mundo tem a
ganhar com isso.




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TRANSPORTE POR BICICLETA EM CIDADES CATARINENSES
                         Pesquisa financiada pelo Edital MCT/CNPq Nº 18/2009
                              ENTREVISTA COM GESTORES PÚBLICOS
                                   E LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS


DADOS DA ENTREVISTA
Data: 07/04/2011
Horário: 11:00 h
Local: Ipuf – Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis
Entrevistador: André Geraldo Soares


DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Nome: Vera Lúcia Gonçalves da Silva
Formação profissional: Arquiteta e Urbanista
Instituição de trabalho/representação: Ipuf – Instituto de Planejamento Urbano de
Florianópolis
Cargo: Diretora de Planejamento
Sexo: Feminino
Idade: 52 anos


ENTREVISTA

Qual o seu ponto de vista sobre a quantidade e abrangência das vias ciclísticas de
Florianópolis?
Nós temos em torno de quarenta quilômetros de vias cicláveis no município, sendo que temos,
dentre estas, ciclovias, ciclofaixas e passeios compartilhados. Elas estão situadas entre bairros,
não estão todas interconectadas formando um sistema, sendo que as pessoas têm que utilizar o
sistema viário normal; mas este sistema viário ainda não está sinalizado, por isso que se diz que
existe algo interrompendo, segmentando. Não temos visto uma continuidade, mas nós temos
projetos que fazem essa continuidade acontecer.

Qual a sua opinião sobre a qualidade, o padrão técnico dessas vias ciclísticas?
Com os desenhos dos projetos nós estamos traduzindo o que a lei orienta. O que nós
encontramos é que, muitas vezes, a proposta, quando implantada, encontra situações que não
permitem que seja implantada de acordo com o que a norma recomenda. Tem vezes em que os
locais não são desapropriados, outras vezes nós não temos o deslocamento de algum mobiliário
urbano, como postes ou alguma coisa assim. Existe problema com relação a essa qualidade.

Essa questão da qualidade, no seu entender, compromete a segurança de algumas delas,
ou seja, as vias ciclísticas de Florianópolis podem ser consideradas seguras para o uso
das bicicletas?
Não, seguras não, porque têm vias que, se depender só de uma sinalização ou de uma qualidade
de pavimentação, da construção, não atendem; existem muitas questões que têm que ser
aprimoradas. Mas eu acho que o mais agravante em relação à segurança é a questão da cultura
mesmo, porque, mesmo tendo local apropriado, devido à falta de respeito pelo outro, como a
invasão pelos carros, é ocorrem muitos dos acidentes. Mas essa falta de respeito ocorre com
pedestres também, não é só com os ciclistas.

Como você avalia a quantidade e qualidade de bicicletários públicos, em locais públicos,
nos órgãos públicos e, também, nos terminais?
Nós fizemos um projeto para atender esse padrão de estacionamento de mais longa duração, que
seriam os bicicletários nos terminais, e eles não foram todos construídos. Dos que foram
construídos tem um em funcionamento, mas mesmo assim houve críticas pertinentes; até porque

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essa cultura é recente para nós tratarmos, inclusive tecnicamente, uma vez que as escolas e a
formação profissional também carecem de mais orientações. Aquilo que foi proposto buscava uma
qualidade de excelência, mas foi distorcido e, portanto, acabou se perdendo essa qualidade. De
qualquer maneira, a cidade carece de mais estacionamentos de longa duração. Nós temos
apenas projetos que precisam de investidores, porque a prefeitura quer que haja participação da
iniciativa privada para a construção desses, que seriam os abrigos para os bicicletários.

Na sua opinião, quais são as dificuldades existentes no município para que se tenha,
dentro de sua estrutura administrativa, um órgão com atribuição específica de
planejamento da mobilidade ciclística, dotado de pessoal qualificado?
Esse tema passou a ter uma repercussão maior e uma preocupação maior hoje, quando se
observa tantos problemas de mobilidade na cidade de Florianópolis. Então, antes nem se
pensava, porque realmente a cultura do automóvel sempre foi predominante; pensar em
pedestres ou em ciclistas era algo que, a princípio, não precisaria de departamento ou coisa
assim. Então essa era a realidade. Hoje já se pensa. As atividades de planejamento e mesmo de
execução de obras estão sendo incorporadas pelas secretarias afins, como a Secretaria de Obras
e o IPUF. Mas existe a criação de uma Secretaria, como foi o caso da Secretaria de Transporte,
Mobilidade e Terminais, que era para abrigar um espaço específico voltado para as pesquisas
dessa mobilidade por bicicleta, era para estar desenvolvendo projetos. Por enquanto, ainda, esse
espaço fica sediado no IPUF, com um profissional atendendo essas demandas.

Acerca do conhecimento da realidade da mobilidade ciclística da cidade e seus problemas,
nós não temos uma pesquisa atualizada; a última foi em 2002 e mesmo assim ela ainda não
foi tão aprofundada como se exigiria. Qual é a sua perspectiva da criação de um
conhecimento esquematizado sobre a mobilidade ciclística na cidade?
A próxima pesquisa que nós temos desenhada e quase contratada – ela vai para licitação – é uma
pesquisa que vai mostrar o deslocamento de crianças de 7 até 15 anos para as escolas. Nós
queremos que, com essa pesquisa, consiga-se desenhar e mostrar o perfil dessas crianças e o
que nós podemos fazer para que se torne seguro este ir-e-vir da escola para a casa através da
bicicleta ou mesmo a pé. Essa é a próxima pesquisa. Mas nós temos pouca prática de
desenvolver pesquisas, até porque não se recebe quase investimentos e recursos para se realizá-
las. Não existe um registro e estatísticas sobre acidentes envolvendo bicicletas.

Como estão se dando as ações para o planejamento de médio e longo prazo para o
aprimoramento da mobilidade ciclística?
Nós, num primeiro momento, e iniciamos isso já em 1997, começamos desenhando ações de
curto, médio e longo prazo. Definimos diretrizes gerais que definiram o que seria uma macrorrede
cicloviária na cidade. E isso estaria resumido a que “as vias principais deveriam constar com
segurança nos deslocamentos para os ciclistas”. Então existe essa macrodiretriz. O que nós
estamos fazendo, dentro desse planejamento, é desenhar as microrredes cicloviárias, ou seja,
dentro de cada bairro, nós as temos desenhado; como é o caso do Centro da cidade, que nós
chamamos de Unidade Espacial de Planejamento; e temos a Bacia do Itacorubi, que é outra
microrrede que também está sendo estudada. A nossa perspectiva é que nós possamos, dentro
dessas microrredes, contratar esses projetos, e aí é o caso é terceirizar, porque nós não temos
essa equipe para responder a todas as demandas de projetos. Na microrrede do Centro nosso
trabalho é unir os diversos segmentos em que já existem uma infraestrutura e uma segurança
para ciclistas, construindo todos os percursos para a definição das rotas, que nós chamamos
Programa Rotas Inteligentes.

Qual a sua avaliação sobre o investimento financeiro do orçamento do município nos
últimos anos?
Alguns bairros têm recebido investimentos como nunca houve na história da cidade, como na
avenida Hercílio Luz, no Sul da Ilha e no Norte da Ilha também. Esses investimentos variam em
torno de R$ 1 milhão, alguns em torno de R$ 600 mil; é variável, conforme o tipo da infraestrutura
cicloviária implantada. Nós temos para o futuro algumas obras que estão girando em torno de R$
4 milhões em função da necessidade de nós trabalharmos a drenagem das ruas. São espaços
muito antigos no centro da cidade, necessitam de deslocamento de postes e uma série de

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mobiliários. Estamos adequando de maneira a se construir as ligações dessas microrredes.
Muitos investimentos estão sendo hoje incluídos no orçamento em rubrica própria para se poder
realizar. Nós também temos solicitado investimentos a outros recursos, que foram já inclusive
aprovados, como no caso da avenida Osni Ortiga. São projetos de demandam recursos maiores.
Também, no caso da nossa cidade, algumas áreas precisam de aprovações de órgãos ambientais
e uma série de coisas que demandam um tempo maior para a sua execução e, às vezes, alguma
adaptação também.

Florianópolis agora tem um órgão colegiado para tratar a mobilidade urbana. Apesar de ele
não ser deliberativo, ele tem atribuições importantes. Qual é a sua expectativa a respeito
desse órgão e o que ele pode vir a contribuir?
Foi um dos atos mais importantes nesse momento, até porque nós já tivemos experiências
trabalhando em conjunto com usuários da bicicleta e ativistas que facilitam, e muito, algumas
ações por parte do governo, mostrando e apontando não só prioridades, mas também algumas
obras que podem ser feitas rapidamente, a curto prazo, ajudando assim para que rapidamente
nós possamos assegurar o deslocamento por bicicleta. Esse colegiado, no caso, tem essa função
de agilizar esse processo tanto, de fornecer a infraestrutura adequada quanto de ajudar nessas
campanhas, na montagem de proposições; não só o diagnóstico do que a cidade precisa, mas de
proposições de novas idéias, daquilo que pode vir a aprimorar o transporte por bicicleta. E
incentivos também! Eu acho que isso é muito importante, porque nós vamos formar cultura; nós
precisamos incentivar as pessoas para que elas mudem hábitos que estão há muito tempo
consolidados.

Qual é a sua opinião acerca da contribuição a bicicleta que pode dar à mobilidade urbana?
A bicicleta tem um papel fundamental na questão energética do planeta por ser um transporte que
não despende energia e, em curtos deslocamentos, consegue atender a missão de se deslocar na
cidade com qualidade. Além disso, nós vamos ter contribuições significativas dessa modalidade
com relação à melhoria na saúde pública, porque, no momento que você tem pessoas mais
saudáveis, você diminui as demandas que existem nas instituições públicas de saúde. Outra coisa
importante é a coesão social; ela é o transporte que mais contribui para o encontro das pessoas e
“a vida é a arte do encontro”, como dizia Vinicíus de Moraes; nós precisamos nos encontrar para
que o espírito seja valorizado nessa que a gente chama de fraternidade, um planeta, uma cidade,
um bairro; é preciso que as pessoas se encontrem, se gostem e assim a gente pode reunir os
elementos necessários para se viver em conjunto, num coletivo, com harmonia e com qualidade.

Com essas vantagens todas, e observando a realidade de Florianópolis, que não ainda não
tem uma estrutura cicloviária adequada para atender as necessidades ou para estimular a
adesão de novos usuários, há algum fator que você reconhece especificamente em
Florianópolis que seja um limitante para que esse projeto não esteja desenvolvido ainda a
contento?
Você basicamente depende ainda de uma decisão política. A decisão política agora tem buscado
atender a muitas dessas reivindicações. Eu acho que nós precisamos de um conjunto maior de
decisores políticos para que nós consigamos ter efeito a curto prazo. O que nós podemos
observar é que mesmo essas ações que parecem pequenas têm trazido para o espaço público
muitos usuários de bicicleta. É significativo, é visível o aumento de usuários de bicicleta na cidade.
Eu diria que o exemplo maior foi o que aconteceu quando se fez a humanização da avenida
Hercílio Luz, que mostrou bem como as pessoas poderiam utilizar um espaço que poderia ser
compartilhado e que trouxe o que hoje as pessoas apreciam e querem, têm curiosidade de como
seria se elas pedalassem. E ali têm aparecido exemplos fantásticos de pessoas levando filhos, as
pessoas passando para trabalhar, ainda que não numa quantidade que possa se traduzir em uma
pesquisa significativa, mas ela tem sido uma reveladora como promotora de uma política
cicloviária.




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Com o atual estado do desenvolvimento cicloviário da cidade, como é que você avalia as
principais dificuldades dos ciclistas no trânsito? O que é que eles estão enfrentando?
Têm várias questões que são apontadas. Inclusive a Comissão Pró-Bici tem ajudado a trazer essa
realidade às instituições públicas. São elas: a questão da conservação desses espaços que já
foram criados; a questão da sinalização, a dificuldade de as pessoas identificarem que o espaço
da rua também é um espaço do ciclista, então nós precisamos de maior sinalização; e a questão
da guarda das bicicletas. Nós temos muita falta de estacionamento de bicicleta, e isso, com
certeza, com muitos implantados virá a aumentar o número de ciclistas que vão poder guardar os
seus veículos.

Como você avalia a atuação da sociedade civil em relação à mobilidade ciclística, a
importância ou não dela, e como é que tem se dado o diálogo com o poder público?
A sociedade civil tem um papel fundamental, porque ela é vai mostrar, ela é que vai dizer, que vai
participar de um programa como esse. Nós não vamos criando algo para que o governo imaginou,
mas sim que a sociedade demanda. Nós temos muita gente que não tem nem oportunidade de
outro tipo de modalidade de transporte. Isso o governo pode ver com clareza. Agora, o que nós
temos que ver é toda uma sociedade que participe de um programa como esse, porque não
adianta nada nós botarmos infraestrutura, termos boas ciclovias, se o nosso comportamento no
trânsito continuar o mesmo, andando de automóvel, não reclamando das más condições que
possam ter o transporte coletivo. Então, se nós queremos realmente fazer parte desse plano de
mudanças na qualidade dos deslocamentos de uma cidade, contribuindo para manutenção do
planeta, a sobrevivência do planeta, nós vamos ter que, como sociedade civil, participar de uma
maneira muito mais ativa. Muito mais pró-ativa.




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TRANSPORTE POR BICICLETA EM CIDADES CATARINENSES
                         Pesquisa financiada pelo Edital MCT/CNPq Nº 18/2009
                              ENTREVISTA COM GESTORES PÚBLICOS
                                   E LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS


DADOS DA ENTREVISTA
Data: 15/04/2011
Horário: 11:00 h
Local: CDL – Câmara de Dirigentes Lojistas de Florianópolis
Entrevistador: André Geraldo Soares


DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Nome: Hélio da Silva Leite Júnior
Instituição de trabalho/representação: CDL – Câmara de Dirigentes Lojistas de Florianópolis
Cargo: Gestor de Negócios
Sexo: Masculino
Idade: 47 anos


ENTREVISTA

Qual é a opinião da CDL, o seu ponto de vista como gestor da CDL, sobre a malha
cicloviária da cidade? Ela atende a demanda, ela é suficiente?
No meu ponto de vista, Florianópolis é uma cidade vocacionada para uma ampla rede de
ciclovias. E ela hoje não atende, nem chega perto daquilo que a gente poderia estar utilizando
deste meio de transporte dentro do município. Nós temos aí alguns pontos que tem implantadas
algumas iniciativas mas não tem interligação, nós não temos efetivamente a formação de uma
rede, isso não tem.

Você tem ouvido alguma avaliação dos usuários sobre essa malha cicloviária, se ela tem
qualidade, se ela é segura?
Não, não tenho ouvido falar de nenhuma pesquisa a respeito disso, nem levantamento ou
inquéritos, nada, sobre isso.

Você tem conhecimento sobre o grau de segurança do uso dessas vias ciclísticas?
Não. Nós acompanhamos, mas cem por cento de conhecimento, não temos. Mas na minha
impressão pessoal, na ciclofaixa na Agronômica eu não andaria. Eu gosto de andar de bicicleta,
mas eu não andaria. Não acho seguro. A ciclovia da Beira Mar Norte, em alguns pontos eu
também não acho seguro. Eu e minha família, costumamos andar de bicicleta, eu pedalo muito na
Beira Mar.

Você mora na região?
Eu moro no bairro João Paulo. Eu tenho meu filho de oito anos, que é pequeno. Por duas vezes
ele caiu na ciclovia, e ele caiu para o lado da avenida, e tem pontos ali que são estreitos. As duas
vezes que ele caiu foram justamente naquela parte estreita. E eu fiquei apavorado com a situação.
Tem alguns pontos que é estreita a separação entre a ciclovia e a avenida; deveria ser, pelo
menos, elevado, feito alguma coisa ali. Então eu não acho que a segurança esteja a contento.




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E sobre os estacionamentos de bicicleta, os bicicletários públicos e em órgãos públicos,
você acha que são suficientes para atender a demanda e até para incentivar o uso da
bicicleta?
Eu não tenho conhecimento dessa estrutura nos órgãos públicos, então eu não tenho como
responder isso.

E sobre os bicicletários em empresas e estabelecimentos comerciais?
Totalmente insuficiente. A gente vê que, se existe, é uma ou outra iniciativa bem pontual e bem
pessoal de alguém que, talvez, seja praticante do esporte, da atividade de ciclista...

A CDL tem algum programa de acompanhamento, ou tem alguma instrução para os seus
associados acerca de estacionamentos ou estrutura para os ciclistas?
Não, especificamente para ciclistas não.

E para estacionamento de veículos motorizados?
Também não temos.

Isso faria parte das atribuições da CDL?
Eu até entendo que ela poderia trabalhar esses aspectos com os seus associados. Porque a
questão de como tratar os veículos e a mobilidade no município está diretamente relacionada à
qualidade do comércio que temos. Então estacionamento também faz parte do tráfego.

Como a CDL avalia o planejamento e a gestão da mobilidade ciclística pelo poder público
na cidade?
Ela é inexistente. Temos algumas iniciativas pessoais dentro dos profissionais do Instituto de
Planejamento do Município, mas para além disso... Eu penso que o município não tem qualquer
trabalho a respeito disso.

Qual a opinião da CDL sobre a contribuição que pode ter a mobilidade ciclística, a bicicleta,
para a mobilidade urbana e para a qualidade de vida?
Eu acho que o ciclismo é, para a comunidade, uma ferramenta de transporte muito importante;
porque quanto mais você utilizar essa ferramenta, mais você proporciona a manutenção da saúde
e a qualidade de vida do individuo que a utiliza. Porque quanto mais ele utilizar a bicicleta, menos
sedentário ele se torna, e menos sujeito às doenças. Então isso traria qualidade de vida para toda
a comunidade. É uma opção importante para o município em termos de tráfego. É uma opção de
transporte limpo, não poluente. Então eu acho que é possível programá-lo como um grande e forte
sistema de transporte no município. E o município tem a vantagem de ser muito plano, as vias
dele são todas muito planas; temos alguns morros aqui e ali, mas não inviabilizam. Eu acho que
precisávamos estimular isso. Acho que realmente é importante para a cidade e para a
comunidade. E eu acho que isso estimula, abre um segmento a mais, fortalece também mais uma
cadeia comercial – vamos dizer assim –, mais um nicho de mercado. Podemos trabalhar para o
fornecimento de acessórios para toda essa cadeia de serviços, trazendo equipamentos mais
modernos, bicicletas e acessórios. Então isso também estaria estimulando a ampliação de um
segmento que ainda, a meu ver, é muito acanhado aqui em Florianópolis. Também as
modalidades esportivas; nós temos hoje corridas abertas ao público amador, que queira correr
cinco, dez quilômetros, quarenta e dois quilômetros. Também poderíamos estimular mais
modalidades esportivas na área de bicicleta para que se possa estar oferecendo esse tipo de
possibilidade para quem pratica o ciclismo de forma amadora.

Bem, com essas vantagens todas, porque você acha que Florianópolis não se destaca no
oferecimento de infraestrutura e no planejamento cicloviário? O que falta? Qual é a
resistência?
Eu acho que primeiro falta, realmente, um entendimento, da sociedade de uma forma geral e da
administração pública, dos gestores públicos, do que é mobilidade urbana, de como ela funciona.
Falta o conhecimento disso. Falta a conscientização, a sensibilização de toda a sociedade sobre
como podemos melhorar toda a parte de mobilidade urbana dentro de um município, para que nós
possamos estar pensando e enxergando que dentro das soluções existentes o ciclismo também
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faz parte, contribui, é parte integrante disso. Tem que estar incluída dentro de um mecanismo de
solução sistêmica que envolva outras coisas. Nós estamos fazendo isso no município com a
questão dos resíduos sólidos. Estamos trabalhando nisso, para que nós tratemos o lixo. Temos
um grupo que, entre entidades públicas e privadas, são mais de quarenta entidades, discutindo a
respeito dos resíduos sólidos do município. E nós já fizemos o planejamento estratégico do grupo.
E o grupo tem previsão de em 2030 (em relação ao Projeto 2030 do Floripamanhã) atingirmos o
Lixo Zero em Florianópolis

Mas como você vê a participação da iniciativa privada para a melhoria da mobilidade
urbana em geral e da mobilidade ciclística em particular?
Eu penso que nós viemos de uma cultura em que o poder público sempre foi muito prepotente,
sempre independente, sempre autoritário, e as entidades privadas sempre submetidas a ela;
ainda hoje as entidades – não tanto as entidades, mas a sociedade civil – ainda pouco reativa,
esperando o que o poder público possa estar fazendo. Então, eu entendo que, por maior boa
vontade que tenha o poder público, por maior boa vontade que possa ter alguma entidade de
iniciativa privada em implementar alguma coisa que seja solução para comunidade, se a
comunidade não estiver integrada junto com o poder público ( por comunidade eu quero me referir
à iniciativa privada, à sociedade civil, ao cidadão comum), se todo mundo não estiver integrado
para solucionar os problemas que são comuns para a comunidade, não teremos a solução dos
problemas. E não são só recursos que resolvem os problemas, é importante que todo mundo
tenha consciência que todo mundo faz parte do problema. A partir do momento em que nós
vivemos em sociedade, todo mundo faz parte do problema que se tem na sociedade. Então o
importante é que todo mundo contribua para a solução desses problemas.

É essa a posição que a CDL tem difundido para dos seus associados, de praticar, tomar
iniciativas que venham a contribuir para a melhoria da qualidade do municípios?
Sem dúvida. A gente sempre estimula muito. Praticamos isso. Sempre a pactuação entre o poder
público e a sociedade para que possamos solucionar as questões em conjunto, buscar soluções
de uma maneira mais fácil.

E como você vê a atuação de outros entes da sociedade civil? Associação de moradores,
associação de ciclistas... Você tem visto se elas tem sido atuantes e tem cumprindo algum
papel no momento?
Eu represento a CDL em vários momentos, em Conselhos etc. O que vemos é que a ViaCiclo é
muito atuante nessa bandeira do transporte ciclístico. Eu acho muito legal, muito bacana esse
trabalho. Mas eu penso que ainda está muito independente, muito isolada. É preciso que as
outras entidades, que a sociedade possa estar levantando essa bandeira junto com a ViaCiclo; e o
poder público também precisa entender que isso é algo que vai só somar para a sociedade; o
sistema de ciclovias e de transporte ciclístico ajuda a solucionar os problemas, e precisamos a
toda a sociedade junto nessa tarefa. Mas as iniciativas da ViaCiclo eu acho que são muito legais.
Uma ou outra vez eu já escutei algumas manifestações mais radicais de componentes, mas eu
entendo que eram pessoas mais novas.

Bem, isso depende bastante...
Do calor da discussão...




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TRANSPORTE POR BICICLETA EM CIDADES CATARINENSES
                         Pesquisa financiada pelo Edital MCT/CNPq Nº 18/2009
                              ENTREVISTA COM GESTORES PÚBLICOS
                                   E LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS


DADOS DA ENTREVISTA
Data: 06/04/2011
Horário: 14:00 h
Local: Fatma – Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina
Entrevistador: André Geraldo Soares


DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Nome: Daniel de Araujo Costa
Formação profissional: Biólogo
Instituição de trabalho/representação: ViaCiclo - Associação dos Ciclousuários da Grande
Florianópolis
Cargo: Presidente
Sexo: Masculino
Idade: 43 anos


ENTREVISTA

Daniel, qual é a sua opinião sobre a quantidade de vias ciclísticas na cidade?
Insuficiente e sem conectividade. Ou seja, não são interligadas.

Qual é a sua opinião sobre a qualidade das vias ciclísticas na cidade?
As ciclovias e ciclofaixas não estão atraindo usuários por causa dessa falta de conectividade. O
ciclista tem que utilizar muitos espaços compartilhando a via com os carros, que não o respeitam.
Muitas delas estão com muita sujeira no pavimento, muito detrito carregado pela chuva, cacos de
vidros lançados pelos usuários destes espaços etc. E a sinalização e a manutenção delas é
bastante deficiente.

Então você acha que elas não são seguras?
Ainda não estão seguras como deveriam. São poucos os trechos que possuem alguma
segurança. Mas nós temos ainda áreas em que se corre risco, que os carros entram na ciclovia e
na ciclofaixa, estacionam sobre as mesmas. E nós temos ainda o excesso de velocidade dos
carros, quando trafegam ao lado das ciclofaixas.

Então talvez precisássemos ter algumas dessas ciclofaixas transformadas em ciclovias, ou
então a diminuição da velocidade dos carros em algumas vias?
Com certeza. Precisa ter a redução de velocidade em toda parte da cidade. Algumas ciclofaixas
deveriam ser separadas das vias dos carros. Mas muitas delas nós sabemos que não tem
condições, então nessas ruas tem que se aplicar uma redução de velocidade – urgente.

E sobre os bicicletários em órgãos públicos? Você acha que são suficientes e adequados?
Totalmente insuficientes e inadequados. Porque normalmente são fora dos prédios, na rua, em
lugares de pouca segurança, ou seja, com poucas pessoas circulando e que não estão vendo a
bicicleta. São poucos realmente, nós temos aqui na Câmara Municipal três ou quatro vagas, são
poucas, realmente. E nos terminais de ônibus os bicicletários estão abandonados. O ciclista não
deixa a bicicleta lá porque não tem o mínimo de segurança; em alguns terminais os bicicletários
estão virando depósito de entulho e estacionamento de motos, como é o caso do terminal da
Lagoa da Conceição.

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E nas empresas privadas (lojas, comércio)?
Também são muito poucos e com poucas vagas. Ainda são incipientes, realmente não oferecem
condições. Tanto é que nós vemos muitas bicicletas amarradas em postes, em cercas, em grades
esparramadas pela cidade.

Florianópolis possui um órgão para planejamento e gestão da estrutura cicloviária?
Eu desconheço. O que nós verificamos, hoje, é que o setor de gestão do trânsito faz esse papel, e
nem sempre o faz de acordo com as necessidades do ciclista. Sempre priorizam o transporte
individual motorizado, ou seja, o carro. O nosso trânsito ainda é baseado no carro.

Então também não temos um quadro de pessoal destacado e investido nessa função?
Não. O que nós temos são algumas pessoas, com vontade própria, que conhecem a importância
da mobilidade por bicicleta, e que por conta própria atuam dentro de seus órgãos. Mas não existe
nenhum órgão especifico que trabalhe diretamente com a mobilidade por bicicleta.

Você tem conhecimento de pesquisas sobre a mobilidade urbana em geral e,
principalmente, sobre a mobilidade por bicicleta aqui em Florianópolis?
Não. As únicas coisas que eu conheço são alguns TCCs [Trabalho de Conclusão de Curso de
Graduação] de alunos, algumas pesquisas da própria ViaCiclo, mas nada suficiente e com
aplicabilidade para o planejamento da mobilidade urbana.

Existe registro de estatísticas de acidentes com ciclistas?
Também não conheço. Inclusive acho que seria responsabilidade da Guarda Municipal, ou da
própria Policia Militar; no momento do registro do Boletim de Ocorrência os acidentes com ciclistas
não são contabilizados separadamente,são considerados simplesmente como acidentes ou
atropelamentos. Então não tem uma estatística especifica sobre os ciclistas.

Florianópolis possui um planejamento de médio ou longo prazo para o incremento da
mobilidade ciclística da cidade?
Desconheço. O que nós temos hoje são pequenas ações, pontuais, efêmeras e sazonais. Agora,
como foi criada a Comissão Municipal de Mobilidade Urbana por Bicicleta – Pro-bici, a esperança
é que com ela nós consigamos realmente executar trabalhos a médio e longo prazo na cidade.

Você tem conhecimento sobre o investimento financeiro do município em mobilidade
ciclística nos últimos anos?
Também desconheço; o que nós verificamos é que na implantação de ruas na cidade se fazem
adaptações em certos trechos para a mobilidade por bicicleta.

Qual é a sua expectativa acerca da nova Comissão?
Estou bastante animado. Quero acreditar que realmente dela saiam informações para os órgãos
executores, que as apliquem. Temos pessoas de competência dentro da Comissão, ciclistas,
usuários. E esperamos que com as nossas informações os órgãos públicos, os órgãos
executores, consigam realmente implementar a estrutura cicloviária na cidade.

Você acha que a bicicleta pode contribuir para a mobilidade urbana no município?
Com certeza. A bicicleta ajuda e muito. As vantagens são inúmeras: saúde para a cidade, não
gera poluição, não gera congestionamento, humaniza as ruas. Em pequenas e médias distâncias,
com certeza vai ajudar; entre cinco e oito km, eu penso que é uma grande solução, não tem
veículo mais rápido e eficiente que a bicicleta; mas para isso é necessário construir ciclovias e
ciclofaixas. Também precisamos ter uma estrutura de interligação intermodal com o transporte
coletivo eficiente; ou seja, a pessoa que mora a três, quatro quilômetros da estação de ônibus vai
até ela bicicleta, deixa a bicicleta ali, pega o ônibus, retorna e a bicicleta vai estar garantida no
bicicletário.




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Se ela contribui, por que você acha que até agora a cidade não investiu mais em mobilidade
ciclística?
Devido a todos os problemas que já relatamos: falta de segurança, falta de vias, falta de
bicicletários. E também um pouco por causa da cultura ciclística que nós ainda não temos.
Estamos começando – já avançamos bastante, tanto é que nós vemos muitas pessoas andando
de bicicleta, mas basicamente são esses os problemas que nós precisamos resolver para
estimular as pessoas a trocarem de modal e começarem a usar mais a bicicleta.

Então os governantes de um modo geral não confiam, ou não tem muito gosto pela
bicicleta?
Não sei se não confiam, acho que desconhecem realmente. Desconhecem, falta a cultura
ciclística. Nós sabemos de todas as vantagens que uma bicicleta trás (menos poluição, menos
área para estacionamento, humaniza o trânsito). Mas estamos caminhando para melhorar isso.

Quais as principais dificuldades para se usar a bicicleta no trânsito da cidade?
Pelos relatos dos ciclistas, temos principalmente a falta de segurança, o mau uso dos
motorizados, o excesso de velocidade. Muita gente deixa de usar bicicleta porque tem medo da
velocidade e da agressividade dos motoristas no trânsito urbano. Os carros invadem ciclofaixas e
ciclovias... Falta estrutura viária, faltam bicicletários, falta a cultura ciclística. Apesar disso, o uso
da bicicleta tem sido ampliado, tem muita gente usando bicicleta, conseguimos verificar isso nas
ruas, mas falta um pouco dessa estrutura para o ciclista.

Sobre essa nova Comissão, quais são as suas expectativas, o que você acha que pode
trazer de mudanças para a mobilidade ciclística na cidade?
Eu quero acreditar, e acredito realmente, que, consultando as pessoas que estão ali dentro, que
são pessoas que conhecem do assunto, que entendem de bicicleta, andam de bicicleta,
consigamos obter informações importantes para os órgãos executores e que realmente sejam
aplicadas, construídas ou implementadas, estruturas viárias; e também educação, para as
pessoas entenderem um pouco mais sobre a cultura ciclística e que realmente a gente possa
aumentar o número de bicicletas na rua.

Você sabe se Florianópolis possui algum programa educativo para a inclusão ciclística?
Não conheço, a não ser essas pequenas campanhas. Assim como temos no aniversário de
Florianópolis, quando o Ipuf fez aquele passeio ciclístico; o Dia Mundial sem Carros. São
pequenas ações, ainda pouco efetivas, porque são insuficientes. Se fossem mais periódicas,
mensais, acho que melhoraria bastante.

Você é representante da sociedade civil. Como você avalia a participação e a atuação da
sociedade civil nesse cenário?
É bastante pequena. É uma coisa interessante que as pessoas reclamam muito, mas na hora de
botar as mangas de fora, realmente tem pouca gente atuando. São muito poucas as pessoas que
vão para a rua, vão participar dos passeios, que realmente agem, interagem, seja nas
associações de moradores de bairro ou em outras ações. Eu vejo que falta muito ainda para as
pessoas exercerem seus direitos e deveres como cidadãos.

E como você avalia a receptividade de prefeitura às reivindicações da sociedade civil?
Como é a relação entre ambos?
Existe muita burocracia, uma sistemática implantada que dificulta a relação. Temos que mudar
algumas coisas. Eu vejo um pouco de dificuldade ainda, apesar de já ter melhorado nos últimos
anos.

Obs: Devido a problemas com o gravador, que obrigou à reapresentação de algumas questões, a
transcrição não atende a ordem exata da gravação




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TRANSPORTE POR BICICLETA EM CIDADES CATARINENSES
                         Pesquisa financiada pelo Edital MCT/CNPq Nº 18/2009
                              ENTREVISTA COM GESTORES PÚBLICOS
                                   E LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS


DADOS DA ENTREVISTA
Data: 28/04/2011
Horário: 17:00 h
Local: Café Blumenau
Entrevistador: André Geraldo Soares


DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Nome: Ângela Liuti
Formação profissional: Bacharel em Letras
Instituição de trabalho/representação: Ufeco – União Florianopolitana de Entidades
Comunitárias
Cargo: Presidente
Sexo: Feminino
Idade: 49 anos


ENTREVISTA

Angela, gostaria de saber qual é a sua opinião, como representante da UFECO, acerca da
quantidade de ciclovias na cidade e se essa rede atende às necessidades dos ciclistas
municipais.
Eu acho que a rede que tem não atende 100%. A bicicleta ainda divide o trânsito nas vias
públicas, com os carros. Não existe, especificamente, ciclovias seguras para o ciclista. Eu ainda
vejo com bastante preocupação essa questão da segurança.

Então, além de existir uma rede cicloviária deficitária, na sua opinião as ciclovias existentes
ainda não oferecem segurança?
De modo geral, não. São poucas aquelas que são seguras. Exceto as da Beira-Mar, que eu
conheço (Beira-Mar Norte e Beira Mar Sul), as demais eu acho que não oferecem segurança.

Qual a sua opinião sobre a quantidade de bicicletários públicos na cidade, se eles atendem
a demanda e se eles estimulam o uso da bicicleta?
Não, não atendem a demanda, não estão em atividade e não atraem novos ciclistas. Nos
terminais, que deveriam ter bicicletários funcionando, não tem na sua maioria, e os que têm não
apresentam nenhuma segurança para a bicicleta.

Florianópolis não possui um órgão específico para tratar da mobilidade ciclística no
sistema viário, para o planejamento ciclístico. Na sua opinião, isso traz danos à mobilidade
ciclística?
Muito! Deveria existir um órgão de incentivo ao uso da bicicleta e para vias especiais,
promovendo-a como uma modalidade de transporte, conectada com os terminais, inclusive.

Você afirmou [no quadro de avaliação] que Florianópolis não possui pesquisas sobre
mobilidade ciclística. Mas você, como representante comunitária, tem recebido
informações acerca disso. De onde provem o seu conhecimento?
O meu conhecimento chega da ViaCiclo, através do Boletim da ViaCiclo, que eu recebo
regularmente, e de uma ou outra atividade que as ONGs da área realizam, além dos eventos e
debates; e também de atitudes e de iniciativas individuais, pesquisas acadêmicas. Mas
informação, no geral, provém mais da ViaCiclo mesmo. Da parte oficial, do governo, eu não vejo
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medidas nesse sentido. Agora, depois desse evento de mobilidade [I Fórum Internacional sobre
Mobilidade Urbana, realizado em Florianópolis entre 26 e 27 de abril de 2011], ouvi dizer – li no
jornal ou na internet – que eles vão priorizar ciclovias. Tomara, né?

Você, como líder da UFECO e do Fórum das Cidades, tem acompanhado a deficiência do
planejamento no município e a falta de participação popular na nesse planejamento
deficiente. Você também afirmou que desconhece haver algum tipo de planejamento para
incremento da mobilidade ciclística na cidade. Na sua opinião, quais são as conseqüências
dessa falta?
A conseqüência é que menos pessoas vão usar bicicleta nas ruas ou vão usar a bicicleta como
modalidade de transporte. Eu acredito que isso atrasa o processo de produção desse meio de
transporte – eu considero também meio de transporte – no planejamento da cidade. Quanto
menos estímulo, mais demora na implementação, mais carros ocupam as ruas, mais o carro toma
o espaço das cidades.

Na sua opinião, quais seriam as vantagens e qual o papel, qual contribuição a bicicleta
pode dar para o transporte municipal?
Acho que possibilita desafogar o trânsito. Se houver conexão do usuário da bicicleta com os
terminais urbanos, mais pessoas usariam o transporte coletivo e demandaria uma incentivo ao
transporte coletivo. O essencial mesmo é que existam políticas que retirem os carros das ruas,
que desestimulem o uso de tantos carros por um único passageiro.

Em que distâncias e em que tipo de deslocamentos você acha que a bicicleta contribui
mais?
Segundo informações que possuo são em distâncias curtas e médias, não longas. Para estas
deveria haver integração com os terminais urbanos.

Se a bicicleta pode contribuir para a mobilidade urbana, na sua opinião porque não existe
uma política de incentivo ao uso da bicicleta em Florianópolis?
Não só em Florianópolis, mas, de um modo geral, no país. É cultural! É uma questão cultural, o
uso do carro, o símbolo da posse de um carro. Não existe incentivo governamental para o uso da
bicicleta. Inclusive, também, a bicicleta é cara, eu acredito que o preço de uma bicicleta boa ainda
não é acessível à população.

Existem, para a sua informação, projetos de leis para desonerar impostos da fabricação da
bicicleta e fabricação de componentes, mas são apenas projetos de lei.
Ah, olha só! Que pena!

Como você observa a manifestação da sociedade civil organizada acerca da mobilidade
ciclística? De onde ela provém e em que canais ela atua?
Eu vejo que existem grupos organizados, como ONGs, por exemplo, entidades da sociedade civil
organizada que têm viés com o transporte da bicicleta. Eu vejo que os meios de comunicação e as
políticas públicas não oferecem essa visão do uso da bicicleta. No Plano Diretor tem propostas
das comunidades para o uso das bicicletas e o Fórum das Cidades desde o início sempre coloca
a bicicleta como uma prioridade de transporte.

Como presidente de uma organização das associações comunitárias, você percebe que as
associações comunitárias e entidades de moradores reivindicam melhorias na mobilidade
urbana para a inclusão ciclística?
Eu acredito que são poucas. Não tem ainda esse estímulo. Acho que nós precisamos desenvolver
uma política, ministrar mais palestras. Eu não conheço que haja alguma entidade que se
destaque... Existe, por exemplo, na Lagoa da Conceição, no Campeche, algumas entidades que
falam... O Campeche tem uma malha ciclística boa, na Avenida Pequeno Príncipe?

Como você vê a relação entre a sociedade civil organizada e o poder público? Existe um
diálogo? A sociedade civil é ouvida? As suas reivindicações são atendidas?
Pelo que eu tenho vivenciado à frente da UFECO, eu vejo que o poder público,
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independentemente de quem esteja no poder, atua ainda com uma certa autoridade. E eles [que
estão no poder] não vêem ainda com respeito à participação popular, tentam criminalizar ou
tentam classificar como uma minoria ou como os “do contra”, desde que você não pense igual a
eles. Então eu vejo aqui em Florianópolis uma dificuldade de relação com o poder público. Eu
acho que é uma relação que tem que ser construída dos dois lados, por isso que nós ainda
tentamos participar dos conselhos de direito, pois achamos que ainda é melhor brigar por dentro
do que ficar fazendo oposição direta por fora.




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TRANSPORTE POR BICICLETA EM CIDADES CATARINENSES
                         Pesquisa financiada pelo Edital MCT/CNPq Nº 18/2009
                              ENTREVISTA COM GESTORES PÚBLICOS
                                   E LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS


DADOS DA ENTREVISTA
Data: 06/04/2011
Horário: 12:00 h
Local: Secretaria Municipal de Transportes, Mobilidade e Terminais
Entrevistador: André Geraldo Soares


DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Nome: Lúcia Maria Santos Mendonça Santos
Formação profissional: Engenheira Civil
Instituição de trabalho/representação: Secretaria Municipal de Transportes, Mobilidade e
Terminais
Cargo: Diretora de Operações
Sexo: Feminino
Idade: 52 anos


ENTREVISTA

Qual sua opinião sobre a quantidade de ciclovias e ciclofaixas na cidade? Ela é suficiente
para atender toda a demanda de ciclistas e o desenvolvimento cicloviário?
Eu acho que uma rede cicloviária não nasce da noite para o dia, a não ser que tenha uma política
de Estado que priorize esse tratamento das ciclovias, o que não é o nosso caso. Então, a rede
cicloviária, embora esteja fracionada atualmente, eu acredito que exista um projeto que depois vá
interligá-la. Hoje nós não temos uma quantidade que nos permita garantir a mobilidade ciclística
em toda a cidade. No entanto, hoje nós temos algumas ciclovias que são boas, como nos Ingleses
e na Avenida Beira Mar Norte. Agora no que se refere às ciclofaixas, que muitas vezes são os
elos de ligação entre as ciclovias, eu acho que merecem um tratamento melhor.

Na sua opinião as ciclovias e ciclofaixas da cidade são seguras?
Não são seguras, sobretudo as ciclofaixas, que necessitam de uma maior segurança. O que
percebemos é que tanto a ciclofaixa do Campeche quanto a da Bocaiúva não são seguras e
apresentam muitos problemas.

Que considerações você faz em acerca dos bicicletários em Florianópolis, tanto daqueles
em locais públicos quanto daqueles disponibilizados pelas empresas privadas?
Eu os acho muito ruins, mesmo porque em locais públicos quase não existem. Nas empresas
privadas eu só conheço um bicicletário, que só possui o suporte para guardar a bicicleta; não
possui, por exemplo, banheiro para os ciclistas se trocarem.

A cidade possui algum órgão de planejamento e gestão para estrutura cicloviária? Se não
possui, você considera isso importante?
Na verdade, a cidade de Florianópolis, apesar de ser uma capital, ainda apresenta muita confusão
nessa questão do planejamento e de projetos de ciclovias. Nós temos um órgão, o IPUF,
encarregado de fazer os projetos; temos a Secretaria de Obras, que constrói esses projetos; e a
Secretaria de Transporte e Mobilidade, que deveria tratar da bicicleta, mas nós não sabemos o
papel desta Secretaria na questão cicloviária. Com essa pulverização de atividades sobre a
questão ciclística na cidade, acaba não havendo comunicação entre os órgãos, e cada pensa que
o outro está fazendo algo e, logo, não se faz nada.


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Ou seja, então também não existe um quadro de pessoal destacado para isso, porque não
existe justamente um setor que centralize a organização.
Não, não existe. Existem iniciativas isoladas de uma ou outra pessoa, mas não existe diálogo, não
existe planejamento integrado.

Florianópolis possui alguma pesquisa recente ou sistemática sobre a mobilidade urbana
que englobe também a mobilidade ciclística?
Não, nós não temos. Em que pese que a atual administração foi aquela que mais se preocupou
com a questão cicloviária, e que esta questão é uma das pernas, uma das vertentes para
tratarmos a questão da mobilidade urbana, nós não temos levantamentos e estatísticas sobre a
mobilidade urbana, seja ela por ônibus, seja por pedestres, seja por veículos motorizados; nós só
temos as contagens eletrônicas de veículos motorizados em algumas avenidas.

A prefeitura possui, segundo seu conhecimento, algum planejamento de médio a longo
prazo para o incremento da mobilidade ciclística na cidade, para o aumento da participação
da mobilidade ciclística na mobilidade urbana?
Eu participei, na semana passada, da primeira reunião da Comissão Municipal de Mobilidade
Urbana por Bicicleta – Pro-bici, que foi criada no dia do aniversário da cidade; nela, o secretário
de Obras disse que como vai fazer o recapeamento asfáltico de vias centrais de nossa cidade,
como a Av. Prof. Othon Gama D’Eça e a Av. Rio Branco, e que nesses locais projetos já estão
contempladas ciclofaixas; e que em projetos novos, como a duplicação da SC-404 também está
contemplada ciclofaixa. Então, nesse sentido, eu acho que nós estaremos cada vez mais
ampliando essa rede cicloviária. Evidentemente que ainda vão faltar algumas ligações para que se
configure uma rede, que até o momento são insuficientes. E isso é muito bom em uma cidade na
qual não existe um planejamento centralizado. Mas é importante saber que os técnicos, mesmo
não havendo essa coordenação centralizada, já estão se preocupando em incluir a questão das
ciclovias e dos ciclistas.

Qual é o seu ponto de vista acerca dos investimentos financeiros da cidade na mobilidade
ciclística? São suficientes ou insuficientes?
Eu acho que ainda são insuficientes. Na verdade, eles não são única e exclusivamente para a
mobilidade ciclística. Geralmente, a questão ciclística usa parte de recursos, por exemplo, de num
recapeamento de asfalto, que são dirigidos ao transporte motorizado; diria que no município a
prioridade ainda é para o transporte motorizado.

Florianópolis agora criou uma Comissão consultiva sobre a mobilidade ciclística. Qual é a
sua expectativa quanto a esse novo colegiado?
Essa Comissão, da qual eu também tenho o privilégio de fazer parte, representando a Secretaria
de Transporte, Mobilidade e Terminais, é composta por outros representantes do Poder Público e
também pela sociedade civil. A expectativa é de que essa comissão consiga realmente mostrar e
sensibilizar o Poder Público, os dirigentes maiores, da necessidade de constituirmos um
organismo que trate única e exclusivamente dessa questão da bicicleta, assim como nós temos
uma que trata da questão do ônibus; assim como nós temos uma Secretaria que faz as obras para
os veículos motorizados, nós devemos ter um departamento que saiba fazer ciclovias e ciclofaixas
nos parâmetros estabelecidos pelo próprio Ministério das Cidades.

Quais são as principais dificuldades para a inclusão da bicicleta no sistema de mobilidade
urbana?
A principal dificuldade é a falta de infraestrutura adequada para o estacionamento das bicicletas, a
falta de infraestrutura adequada para que o próprio ciclista possa se dirigir ao seu trabalho e,
depois, guardar o seu equipamento, tomar um banho, porque nós vivemos num país tropical, que
é quente. Muitas vezes a pessoa não pode chegar suada no trabalho, então seria importante que
houvesse uma infraestrutura de apoio para tomar banho, guardar os seus pertences e deixar em
segurança a sua bicicleta. Há também a questão de não haver uma rede cicloviária contínua.
Muitas vezes o ciclista tem que compartilhar as vias com os veículos motorizados, que não são
sensíveis para constatar que eles são muito maiores e muito mais poderosos que os ciclistas,


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então o ciclista se sente inseguro. Mas são questões que, espero eu, a médio prazo, venham a
ser solucionadas.

Na sua opinião, a mobilidade ciclística pode contribuir de alguma forma para a mobilidade
urbana? Que tipo de contribuição seria essa?
Evidentemente. A cidade tem que possibilitar todas as formas de deslocamento. E quando
falamos de mobilidade, nós estamos falando de um deslocamento ambientalmente correto. E
nada mais correto do que andar de bicicleta, do que andar a pé, de contribuir para não poluir o
mundo mais do que já está. Quanto menos usarmos os motores a diesel, melhor para o planeta.
Além do mais, nós não podemos esquecer a importância da bicicleta como elo de ligação e
integração nas viagens curtas e médias, para servir de apoio ao transporte público, para que as
pessoas possam acessar o transporte público.

Se a mobilidade ciclística é tão importante, quais são as barreiras e dificuldades que o
Poder Público têm encontrado para não aplicar medidas que a facilitem, sendo a cidade tão
carente em infraestrutura e de outras medidas para garantir o deslocamento por bicicleta
em segurança?
Eu acho que é uma questão cultural, algo muito arraigado ainda na mentalidade do planejador
urbano. Há a questão do uso do transporte motorizado: o carro ainda é uma questão de status! E
os nossos governantes nada mais fazem do que refletir todos esses valores da sociedade; a
sociedade, na verdade, ainda está muito focada no uso do carro. Eu acho que é uma questão de
tempo. As coisas não se dão repentinamente. Eu acho que já existe todo um grupo de pessoas
sensíveis à questão do não uso do automóvel, até mesmo por uma questão de preservação do
planeta. Não é à toa que, mesmo sem termos essa estrutura central que faça a gestão da questão
cicloviária, as cidades brasileiras, e inclusive Florianópolis, já vêm se preocupando e pensando a
questão da bicicleta.

Sobre a participação da sociedade civil, você vê que existe sociedade civil organizada?
Quais são as manifestações delas? Quais são as relações entre sociedade civil e Poder
Público?
Eu penso que a sociedade civil está até mais organizada questão cicloviária do que o Poder
Público, mas nós ainda temos alguns conflitos porque muitas vezes a sociedade civil ainda não
consegue entender que a mobilidade não se restringe à ciclovia. A mobilidade consiste em
respeitar e oportunizar todas as outras formas de deslocamento na cidade. Muitas vemos pessoas
que acham que é fundamental só tratar a bicicleta, ignorando as outras formas de andar na
cidade. Mas eu acho que a sociedade civil está organizada, e é por conta dessa organização da
sociedade, dessa parcela da sociedade que são usuários da bicicleta que temos conseguido
avançar na melhoria da mobilidade ciclística.




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  • 1. TRANSPORTE POR BICICLETA EM CIDADES CATARINENSES: METODOLOGIA PARA LEVANTAMENTO DA REALIDADE E RECOMENDAÇÕES PARA INCREMENTO DA SUA PARTICIPAÇÃO NA MOBILIDADE URBANA Projeto de Pesquisa financiado pelo CNPq Edital MCT/CNPq nº 18/2009 Processo nº 402399/2009-9 Título do OPINIÃO DE GESTORES PÚBLICOS E LIDERANÇAS Documento COMUNITÁRIAS DE FLORIANÓPOLIS Entrevistas gravadas com 6 pessoas representantes dos setores público, Descrição iniciativa privada e sociedade civil organizada sobre a mobilidade urbana em Florianópolis e sobre a mobilidade ciclística INDICADORES DE QUALIDADE DE MOBILIDADE CICLÍSTICA EM Anexo FLORIANÓPOLIS
  • 2. TRANSPORTE POR BICICLETA EM CIDADES CATARINENSES Pesquisa financiada pelo Edital MCT/CNPq Nº 18/2009 ENTREVISTA COM GESTORES PÚBLICOS E LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS DADOS DA ENTREVISTA Data: 04/05/2011 Horário: 11:00 h Local: Guarda Municipal de Florianópolis Entrevistador: André Geraldo Soares DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Nome: Alberto Municipal Formação Profissional: Bacharel em Administração e Segurança no Trânsito e em Administração geral Instituição de trabalho/representação: Guarda Municipal de Florianópolis Cargo: Gerente de Trânsito Sexo: Masculino Idade: 29 anos ENTREVISTA Como um gestor do trânsito municipal, como você avalia a quantidade e a qualidade das ciclovias e ciclofaixas de Florianópolis? Eu vejo que há uma estruturação, uma intenção de reestruturar, de implantar ciclofaixas e ciclovias. Entretanto eu vejo que não há uma interligação, um propósito comum em conectar todas essas ciclofaixas. Eu vejo que não há estacionamentos em prédios públicos. Não há, por exemplo, junto aos estacionamentos de veículos... Seria adequado se houvesse espaço onde deixar a bicicleta, um bicicletário, com proteção, que desse uma segurança ao ciclista em deixar o seu bem ali estacionado. Então, esse eu vejo como um grande problema. O trânsito de ciclistas ainda é pobre com relação à utilização desse meio para fins trabalhistas, para fins de serviços. O que eu consigo perceber: a grande maioria que utiliza esse espaço, de ciclofaixas e ciclovias, utiliza como lazer, e não como meio de locomoção. Também recebemos dos ciclistas, muitas vezes, diversas reclamações da qualidade e da insegurança dessas vias, porque seriam ou muito estreitas, ou muito próximas das vias motorizadas, sem separação. Você tem registro, dentro da Guarda Municipal, de algum tipo de avaliação sobre isso? Nós não conseguimos, nós não temos um setor de estatísticas que referencie bicicletas, acidentes com bicicletas. Agora, o que nós podemos perceber, utilizando o sistema viário, é que em alguns locais há essa defasagem nas ciclofaixas. Principalmente na Rua Demétrio Ribeiro, Rua Rui Barbosa, onde conseguimos observar que o espaço que ficou destinado à ciclofaixa ali ficou inapropriado. Não é segura, posso dizer assim. Outra reclamação, também bastante constante dos ciclistas, é que muitas dessas ciclofaixas, até porque elas não tem barreira divisória (ou seja, não são ciclovias), são utilizadas como estacionamento ou ponto de parada pelos veículos motorizados. Vocês também tem recebido essas reclamações, ou alguma orientação interna a respeito disso? Nós temos recebido bastante reclamações a respeito disso. E podemos dizer que temos prioridade no atendimento a esse tipo de infração, uma vez que esse espaço já foi criado com o intuito de facilitar o transporte daquela pessoa, de desafogar o trânsito de veículos. Então nós temos aquilo como prioridade, fazer a fiscalização desses locais, que são, digamos assim, um 1
  • 3. espaço que nós preservamos. E a preservação disso incentiva a utilização desse modal. Florianópolis não possuí um órgão que centralize o planejamento e a gestão da estrutura cicloviária. Na sua opinião, que função teria a eventual instalação de um órgão como esse? Eu creio que faria muito jus, uma vez que esse órgão poderia lutar de forma mais contundente e abrangente a questão que referencia, que dá oportunidade a esse pessoal. A criação de um espaço teria voz frente aos órgãos públicos, solicitando melhores condições para os ciclistas e ciclousuários. Florianópolis também, como você mesmo constatou, não possui uma pesquisa, um sistema de monitoramento sobre a mobilidade urbana em geral. Na sua opinião isso traz algum tipo de problema ou desvantagem também para o trabalhado da Guarda Municipal? Creio que sim. Porque a questão de monitoramento de ciclofaixas é um negativo que a cidade tem. É um ponto a menos, digamos, que ainda não foi incorporado na mentalidade das pessoas, que o uso da bicicleta polui menos, causa menos transtornos na cidade. Então eu vejo que seria muito bem vindo um órgão que compreendesse somente esses estudos e tivesse voz política para que isso se tornasse realidade. Como você, agente público de segurança de trânsito, avalia o comportamento do motorista florianopolitano, ou do motorista que se locomove em Florianópolis? Aqui em Florianópolis, e creio que também no outros municípios, eu avalio como muito negativo essa postura de poder do motorista, uma vez que cada um cuida do seu próprio benefício; às vezes tem um vizinho que trabalha no mesmo órgão e os dois saem com veículos diferentes; chegam e saem no mesmo horário, entretanto cada um vai com o seu veículo próprio, causando um transtorno no trânsito. E também vejo a educação dos condutores muito pobre com relação ao trânsito, principalmente na relação entre pedestres, ciclistas e com os condutores de veículos. É uma questão que gera muita briga, muito stress ainda na nossa cidade. A Guarda Municipal tem algum tipo de orientação específica acerca de como tratar, como lidar com o ciclista no trânsito? Voltada principalmente para ciclista, não. Nós temos um setor voltado para a educação na Guarda Municipal, que atende as escolas das redes municipal e estadua aqui de Florianópolis. O setor de educação já está atuando há cinco anos, é voltado para crianças da pré-escola até a quinta ou sexta série. Já começamos a expandir para atender os níveis de oitava série até terceiro ano do Ensino Médio. Nós temos vários projetos, são várias frentes que lidam com a educação para o trânsito. Entretanto, voltado para os ciclistas, abordando os ciclistas, ainda não temos nenhum movimento nesse sentido. Nós fazemos divulgação através de folders, de exemplares impressos, entretanto, nós atingimos estudantes, sendo a grande maioria do Ensino Fundamental, e as crianças não se deslocam, ainda, sozinhas para o colégio através da bicicleta. A Guarda Municipal possui uma ronda-bike ou guarda-bike? Sim, possuímos uma ronda-bike. Quantos veículos possui? Nós temos oito bicicletas. Hoje estão sendo usadas seis bicicletas. São três durante o período matutino e três durante o período vespertino; na parte noturna não temos nada. Usamos para fazer a fiscalização principalmente na Avenida Beira-Mar Norte. Da saída na ponte até o parque do Córrego Grande e também pelas ciclofaixas da Hercílio Luz e da Demétrio Ribeiro. Como funciona a seleção dos guardas que vão utilizar a bike? É por vontade própria? São voluntários, que tem a vontade de trabalhar dessa maneira, então nós disponibilizamos todo o equipamento, capacete, bicicletas, manutenção. As bicicletas eu vejo que são boas. São de boa qualidade. Foi até feito um levantamento, teve uma estudante que fez seu estudo, se não me engano era da UDESC, da ergonomia das bicicletas; buscava averiguar se eram boas, se eram adequadas. Ela apresentou o resultado para nós, disse que eram de boa qualidade, com 2
  • 4. ergonomia eficaz, sendo propícias para a utilização. Então a ronda-bike circula praticamente nas ciclovias da cidade? Sim. E quando há algum evento envolvendo ciclistas, damos prioridade para que esse pessoal faça o acompanhamento. Alberto, seja pela experiência da ronda-bike, seja pela experiência sua em lidar com os ciclistas diariamente no trânsito, quais são os problemas, dificuldades e riscos que você vê que eles enfrentam no trânsito? Primeiramente é o conflito entre ciclistas e condutores. Outra coisa também fundamental é a criação de ciclofaixas onde antes havia uma faixa normal de veículos; ali foi estreitada a faixa dos veículos para a criação de ciclofaixa, de forma não segura. As ciclofaixas são separadas por tachões e, muitas vezes acabam os veículos, caminhões de mudança etc. estacionando nesses locais para fazer o seu serviço. Também existe o problema da indisponibilidade de locais públicos abertos para se deixar a bicicleta com segurança, onde a pessoa tivesse certeza de que ao retornar a sua bicicleta estaria lá e poderia voltar para casa tranquilamente. Qual é a sua opinião, pessoal e profissional, acerca da eficiência e das vantagens da bicicleta para o transporte na cidade? Que tipo de papel a bicicleta pode ter na cidade? Hoje eu fiz um levantamento para a imprensa informando que são licenciados em torno de mil veículos por mês em Florianópolis. Já temos capacidade, por vários estudos, de ver que em poucos anos teremos um colapso geral no nosso trânsito. Então, eu vejo que não adianta estarmos criando mega estruturas e elevados para priorizando o transporte veicular sem contemplar outros modais. E o principal, nesse tema, é a parte de ciclovias. Eu penso que, sendo um transporte limpo, sem prejuízos e ainda trazendo o benefício da saúde de quem o utiliza, eu vejo que só tem a ganhar quem usa esse modal. Se nós tivéssemos condições de incentivar o uso da bicicleta por aquelas pessoas que fazem curtas e médias distâncias, que às vezes não tem muitas necessidades de deslocamento, nós diminuiríamos um percentual bom de pessoas que ocupam diariamente o trânsito. Com certeza. E eu vejo uma grande falta de um incentivo para esse tipo de transporte. Muita gente – eu, por exemplo – tem uma bicicleta em casa; mas geralmente, no meu caso, eu utilizo a moto, para mim é muito mais rápido. Até porque o local onde eu moro não oferta essa disponibilidade de andar de bicicleta, lá temos que disputar o espaço com veículos, muitas vezes. Ou se disputa espaço com veículos, ou se anda por cima da calçada. Então eu vejo uma dificuldade em utilizar a bicicleta. Eu sei que para a moto tem a minha faixa ali garantida. Então eu vejo como muito positivo, se tivesse uma valorização do transporte por bicicletas. Verificadas as vantagens e possibilidades do uso da bicicleta como meio de transporte para a cidade, quais são as dificuldades para a sua inclusão no trânsito da cidade? Por que existe tão pouco investimento do poder público, ou da sociedade em geral? Por que não existe adesão para o uso da bicicleta como meio de transporte? Não sei se é por falta de vontade política. Parece que a sociedade não está se preocupando com o futuro, com as tendências da mobilidade urbana... Muito se fala em mobilidade urbana, mas muitos não sabem qual é o conceito de mobilidade urbana. Eu vejo que deveria haver um órgão específico que cuidasse dessa integração e que pudesse ter voz política para criação disso, através da integração da Secretaria de Transporte, da Secretaria de Urbanismo Público, com os órgãos fiscalizadores, a Guarda Municipal, a Polícia Militar, para que houvesse um a integração entre todos esses órgãos e pudesse alertar os gestores políticos, sobre essa situação. Porque eu penso que “uma andorinha não faz verão”... Hoje o único órgão de que eu tenho noticia é a ViaCiclo, que vai atrás, através de legislação, de recursos judiciais, brigando por essas questões. Há pouco foi criado um elevado, entretanto não foi priorizado nenhum espaço para pedestres, muito menos para ciclistas. Então eu vejo que há uma preocupação muito grande em criar, expandir as vias públicas, entretanto não pensando nos ciclistas e nos pedestres. A última pergunta seria: como você vê a participação e o papel da sociedade civil 3
  • 5. organizada nesse processo todo de humanização do trânsito e uso da bicicleta como meio de transporte? O que eu vejo é que a ViaCiclo tem ganhado cada vez mais força, ficando mais evidenciada no cenário político; mas eu penso que há uma grande necessidade de aumentar a força em relação a estas questões. Veja, por exemplo, o Passe Livre; tem uma grande repercussão, com algumas conquistas, mas por causa da mobilização de todos, não foi só uma pessoa que se aproximou do prefeito e conseguiu alguma coisa. Assim, eu penso que a sociedade organizada só tem a ganhar com isso. E se tiver uma, já é bom, mas se houver várias frentes, acho que todo mundo tem a ganhar com isso. 4
  • 6. TRANSPORTE POR BICICLETA EM CIDADES CATARINENSES Pesquisa financiada pelo Edital MCT/CNPq Nº 18/2009 ENTREVISTA COM GESTORES PÚBLICOS E LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS DADOS DA ENTREVISTA Data: 07/04/2011 Horário: 11:00 h Local: Ipuf – Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis Entrevistador: André Geraldo Soares DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Nome: Vera Lúcia Gonçalves da Silva Formação profissional: Arquiteta e Urbanista Instituição de trabalho/representação: Ipuf – Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis Cargo: Diretora de Planejamento Sexo: Feminino Idade: 52 anos ENTREVISTA Qual o seu ponto de vista sobre a quantidade e abrangência das vias ciclísticas de Florianópolis? Nós temos em torno de quarenta quilômetros de vias cicláveis no município, sendo que temos, dentre estas, ciclovias, ciclofaixas e passeios compartilhados. Elas estão situadas entre bairros, não estão todas interconectadas formando um sistema, sendo que as pessoas têm que utilizar o sistema viário normal; mas este sistema viário ainda não está sinalizado, por isso que se diz que existe algo interrompendo, segmentando. Não temos visto uma continuidade, mas nós temos projetos que fazem essa continuidade acontecer. Qual a sua opinião sobre a qualidade, o padrão técnico dessas vias ciclísticas? Com os desenhos dos projetos nós estamos traduzindo o que a lei orienta. O que nós encontramos é que, muitas vezes, a proposta, quando implantada, encontra situações que não permitem que seja implantada de acordo com o que a norma recomenda. Tem vezes em que os locais não são desapropriados, outras vezes nós não temos o deslocamento de algum mobiliário urbano, como postes ou alguma coisa assim. Existe problema com relação a essa qualidade. Essa questão da qualidade, no seu entender, compromete a segurança de algumas delas, ou seja, as vias ciclísticas de Florianópolis podem ser consideradas seguras para o uso das bicicletas? Não, seguras não, porque têm vias que, se depender só de uma sinalização ou de uma qualidade de pavimentação, da construção, não atendem; existem muitas questões que têm que ser aprimoradas. Mas eu acho que o mais agravante em relação à segurança é a questão da cultura mesmo, porque, mesmo tendo local apropriado, devido à falta de respeito pelo outro, como a invasão pelos carros, é ocorrem muitos dos acidentes. Mas essa falta de respeito ocorre com pedestres também, não é só com os ciclistas. Como você avalia a quantidade e qualidade de bicicletários públicos, em locais públicos, nos órgãos públicos e, também, nos terminais? Nós fizemos um projeto para atender esse padrão de estacionamento de mais longa duração, que seriam os bicicletários nos terminais, e eles não foram todos construídos. Dos que foram construídos tem um em funcionamento, mas mesmo assim houve críticas pertinentes; até porque 1
  • 7. essa cultura é recente para nós tratarmos, inclusive tecnicamente, uma vez que as escolas e a formação profissional também carecem de mais orientações. Aquilo que foi proposto buscava uma qualidade de excelência, mas foi distorcido e, portanto, acabou se perdendo essa qualidade. De qualquer maneira, a cidade carece de mais estacionamentos de longa duração. Nós temos apenas projetos que precisam de investidores, porque a prefeitura quer que haja participação da iniciativa privada para a construção desses, que seriam os abrigos para os bicicletários. Na sua opinião, quais são as dificuldades existentes no município para que se tenha, dentro de sua estrutura administrativa, um órgão com atribuição específica de planejamento da mobilidade ciclística, dotado de pessoal qualificado? Esse tema passou a ter uma repercussão maior e uma preocupação maior hoje, quando se observa tantos problemas de mobilidade na cidade de Florianópolis. Então, antes nem se pensava, porque realmente a cultura do automóvel sempre foi predominante; pensar em pedestres ou em ciclistas era algo que, a princípio, não precisaria de departamento ou coisa assim. Então essa era a realidade. Hoje já se pensa. As atividades de planejamento e mesmo de execução de obras estão sendo incorporadas pelas secretarias afins, como a Secretaria de Obras e o IPUF. Mas existe a criação de uma Secretaria, como foi o caso da Secretaria de Transporte, Mobilidade e Terminais, que era para abrigar um espaço específico voltado para as pesquisas dessa mobilidade por bicicleta, era para estar desenvolvendo projetos. Por enquanto, ainda, esse espaço fica sediado no IPUF, com um profissional atendendo essas demandas. Acerca do conhecimento da realidade da mobilidade ciclística da cidade e seus problemas, nós não temos uma pesquisa atualizada; a última foi em 2002 e mesmo assim ela ainda não foi tão aprofundada como se exigiria. Qual é a sua perspectiva da criação de um conhecimento esquematizado sobre a mobilidade ciclística na cidade? A próxima pesquisa que nós temos desenhada e quase contratada – ela vai para licitação – é uma pesquisa que vai mostrar o deslocamento de crianças de 7 até 15 anos para as escolas. Nós queremos que, com essa pesquisa, consiga-se desenhar e mostrar o perfil dessas crianças e o que nós podemos fazer para que se torne seguro este ir-e-vir da escola para a casa através da bicicleta ou mesmo a pé. Essa é a próxima pesquisa. Mas nós temos pouca prática de desenvolver pesquisas, até porque não se recebe quase investimentos e recursos para se realizá- las. Não existe um registro e estatísticas sobre acidentes envolvendo bicicletas. Como estão se dando as ações para o planejamento de médio e longo prazo para o aprimoramento da mobilidade ciclística? Nós, num primeiro momento, e iniciamos isso já em 1997, começamos desenhando ações de curto, médio e longo prazo. Definimos diretrizes gerais que definiram o que seria uma macrorrede cicloviária na cidade. E isso estaria resumido a que “as vias principais deveriam constar com segurança nos deslocamentos para os ciclistas”. Então existe essa macrodiretriz. O que nós estamos fazendo, dentro desse planejamento, é desenhar as microrredes cicloviárias, ou seja, dentro de cada bairro, nós as temos desenhado; como é o caso do Centro da cidade, que nós chamamos de Unidade Espacial de Planejamento; e temos a Bacia do Itacorubi, que é outra microrrede que também está sendo estudada. A nossa perspectiva é que nós possamos, dentro dessas microrredes, contratar esses projetos, e aí é o caso é terceirizar, porque nós não temos essa equipe para responder a todas as demandas de projetos. Na microrrede do Centro nosso trabalho é unir os diversos segmentos em que já existem uma infraestrutura e uma segurança para ciclistas, construindo todos os percursos para a definição das rotas, que nós chamamos Programa Rotas Inteligentes. Qual a sua avaliação sobre o investimento financeiro do orçamento do município nos últimos anos? Alguns bairros têm recebido investimentos como nunca houve na história da cidade, como na avenida Hercílio Luz, no Sul da Ilha e no Norte da Ilha também. Esses investimentos variam em torno de R$ 1 milhão, alguns em torno de R$ 600 mil; é variável, conforme o tipo da infraestrutura cicloviária implantada. Nós temos para o futuro algumas obras que estão girando em torno de R$ 4 milhões em função da necessidade de nós trabalharmos a drenagem das ruas. São espaços muito antigos no centro da cidade, necessitam de deslocamento de postes e uma série de 2
  • 8. mobiliários. Estamos adequando de maneira a se construir as ligações dessas microrredes. Muitos investimentos estão sendo hoje incluídos no orçamento em rubrica própria para se poder realizar. Nós também temos solicitado investimentos a outros recursos, que foram já inclusive aprovados, como no caso da avenida Osni Ortiga. São projetos de demandam recursos maiores. Também, no caso da nossa cidade, algumas áreas precisam de aprovações de órgãos ambientais e uma série de coisas que demandam um tempo maior para a sua execução e, às vezes, alguma adaptação também. Florianópolis agora tem um órgão colegiado para tratar a mobilidade urbana. Apesar de ele não ser deliberativo, ele tem atribuições importantes. Qual é a sua expectativa a respeito desse órgão e o que ele pode vir a contribuir? Foi um dos atos mais importantes nesse momento, até porque nós já tivemos experiências trabalhando em conjunto com usuários da bicicleta e ativistas que facilitam, e muito, algumas ações por parte do governo, mostrando e apontando não só prioridades, mas também algumas obras que podem ser feitas rapidamente, a curto prazo, ajudando assim para que rapidamente nós possamos assegurar o deslocamento por bicicleta. Esse colegiado, no caso, tem essa função de agilizar esse processo tanto, de fornecer a infraestrutura adequada quanto de ajudar nessas campanhas, na montagem de proposições; não só o diagnóstico do que a cidade precisa, mas de proposições de novas idéias, daquilo que pode vir a aprimorar o transporte por bicicleta. E incentivos também! Eu acho que isso é muito importante, porque nós vamos formar cultura; nós precisamos incentivar as pessoas para que elas mudem hábitos que estão há muito tempo consolidados. Qual é a sua opinião acerca da contribuição a bicicleta que pode dar à mobilidade urbana? A bicicleta tem um papel fundamental na questão energética do planeta por ser um transporte que não despende energia e, em curtos deslocamentos, consegue atender a missão de se deslocar na cidade com qualidade. Além disso, nós vamos ter contribuições significativas dessa modalidade com relação à melhoria na saúde pública, porque, no momento que você tem pessoas mais saudáveis, você diminui as demandas que existem nas instituições públicas de saúde. Outra coisa importante é a coesão social; ela é o transporte que mais contribui para o encontro das pessoas e “a vida é a arte do encontro”, como dizia Vinicíus de Moraes; nós precisamos nos encontrar para que o espírito seja valorizado nessa que a gente chama de fraternidade, um planeta, uma cidade, um bairro; é preciso que as pessoas se encontrem, se gostem e assim a gente pode reunir os elementos necessários para se viver em conjunto, num coletivo, com harmonia e com qualidade. Com essas vantagens todas, e observando a realidade de Florianópolis, que não ainda não tem uma estrutura cicloviária adequada para atender as necessidades ou para estimular a adesão de novos usuários, há algum fator que você reconhece especificamente em Florianópolis que seja um limitante para que esse projeto não esteja desenvolvido ainda a contento? Você basicamente depende ainda de uma decisão política. A decisão política agora tem buscado atender a muitas dessas reivindicações. Eu acho que nós precisamos de um conjunto maior de decisores políticos para que nós consigamos ter efeito a curto prazo. O que nós podemos observar é que mesmo essas ações que parecem pequenas têm trazido para o espaço público muitos usuários de bicicleta. É significativo, é visível o aumento de usuários de bicicleta na cidade. Eu diria que o exemplo maior foi o que aconteceu quando se fez a humanização da avenida Hercílio Luz, que mostrou bem como as pessoas poderiam utilizar um espaço que poderia ser compartilhado e que trouxe o que hoje as pessoas apreciam e querem, têm curiosidade de como seria se elas pedalassem. E ali têm aparecido exemplos fantásticos de pessoas levando filhos, as pessoas passando para trabalhar, ainda que não numa quantidade que possa se traduzir em uma pesquisa significativa, mas ela tem sido uma reveladora como promotora de uma política cicloviária. 3
  • 9. Com o atual estado do desenvolvimento cicloviário da cidade, como é que você avalia as principais dificuldades dos ciclistas no trânsito? O que é que eles estão enfrentando? Têm várias questões que são apontadas. Inclusive a Comissão Pró-Bici tem ajudado a trazer essa realidade às instituições públicas. São elas: a questão da conservação desses espaços que já foram criados; a questão da sinalização, a dificuldade de as pessoas identificarem que o espaço da rua também é um espaço do ciclista, então nós precisamos de maior sinalização; e a questão da guarda das bicicletas. Nós temos muita falta de estacionamento de bicicleta, e isso, com certeza, com muitos implantados virá a aumentar o número de ciclistas que vão poder guardar os seus veículos. Como você avalia a atuação da sociedade civil em relação à mobilidade ciclística, a importância ou não dela, e como é que tem se dado o diálogo com o poder público? A sociedade civil tem um papel fundamental, porque ela é vai mostrar, ela é que vai dizer, que vai participar de um programa como esse. Nós não vamos criando algo para que o governo imaginou, mas sim que a sociedade demanda. Nós temos muita gente que não tem nem oportunidade de outro tipo de modalidade de transporte. Isso o governo pode ver com clareza. Agora, o que nós temos que ver é toda uma sociedade que participe de um programa como esse, porque não adianta nada nós botarmos infraestrutura, termos boas ciclovias, se o nosso comportamento no trânsito continuar o mesmo, andando de automóvel, não reclamando das más condições que possam ter o transporte coletivo. Então, se nós queremos realmente fazer parte desse plano de mudanças na qualidade dos deslocamentos de uma cidade, contribuindo para manutenção do planeta, a sobrevivência do planeta, nós vamos ter que, como sociedade civil, participar de uma maneira muito mais ativa. Muito mais pró-ativa. 4
  • 10. TRANSPORTE POR BICICLETA EM CIDADES CATARINENSES Pesquisa financiada pelo Edital MCT/CNPq Nº 18/2009 ENTREVISTA COM GESTORES PÚBLICOS E LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS DADOS DA ENTREVISTA Data: 15/04/2011 Horário: 11:00 h Local: CDL – Câmara de Dirigentes Lojistas de Florianópolis Entrevistador: André Geraldo Soares DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Nome: Hélio da Silva Leite Júnior Instituição de trabalho/representação: CDL – Câmara de Dirigentes Lojistas de Florianópolis Cargo: Gestor de Negócios Sexo: Masculino Idade: 47 anos ENTREVISTA Qual é a opinião da CDL, o seu ponto de vista como gestor da CDL, sobre a malha cicloviária da cidade? Ela atende a demanda, ela é suficiente? No meu ponto de vista, Florianópolis é uma cidade vocacionada para uma ampla rede de ciclovias. E ela hoje não atende, nem chega perto daquilo que a gente poderia estar utilizando deste meio de transporte dentro do município. Nós temos aí alguns pontos que tem implantadas algumas iniciativas mas não tem interligação, nós não temos efetivamente a formação de uma rede, isso não tem. Você tem ouvido alguma avaliação dos usuários sobre essa malha cicloviária, se ela tem qualidade, se ela é segura? Não, não tenho ouvido falar de nenhuma pesquisa a respeito disso, nem levantamento ou inquéritos, nada, sobre isso. Você tem conhecimento sobre o grau de segurança do uso dessas vias ciclísticas? Não. Nós acompanhamos, mas cem por cento de conhecimento, não temos. Mas na minha impressão pessoal, na ciclofaixa na Agronômica eu não andaria. Eu gosto de andar de bicicleta, mas eu não andaria. Não acho seguro. A ciclovia da Beira Mar Norte, em alguns pontos eu também não acho seguro. Eu e minha família, costumamos andar de bicicleta, eu pedalo muito na Beira Mar. Você mora na região? Eu moro no bairro João Paulo. Eu tenho meu filho de oito anos, que é pequeno. Por duas vezes ele caiu na ciclovia, e ele caiu para o lado da avenida, e tem pontos ali que são estreitos. As duas vezes que ele caiu foram justamente naquela parte estreita. E eu fiquei apavorado com a situação. Tem alguns pontos que é estreita a separação entre a ciclovia e a avenida; deveria ser, pelo menos, elevado, feito alguma coisa ali. Então eu não acho que a segurança esteja a contento. 1
  • 11. E sobre os estacionamentos de bicicleta, os bicicletários públicos e em órgãos públicos, você acha que são suficientes para atender a demanda e até para incentivar o uso da bicicleta? Eu não tenho conhecimento dessa estrutura nos órgãos públicos, então eu não tenho como responder isso. E sobre os bicicletários em empresas e estabelecimentos comerciais? Totalmente insuficiente. A gente vê que, se existe, é uma ou outra iniciativa bem pontual e bem pessoal de alguém que, talvez, seja praticante do esporte, da atividade de ciclista... A CDL tem algum programa de acompanhamento, ou tem alguma instrução para os seus associados acerca de estacionamentos ou estrutura para os ciclistas? Não, especificamente para ciclistas não. E para estacionamento de veículos motorizados? Também não temos. Isso faria parte das atribuições da CDL? Eu até entendo que ela poderia trabalhar esses aspectos com os seus associados. Porque a questão de como tratar os veículos e a mobilidade no município está diretamente relacionada à qualidade do comércio que temos. Então estacionamento também faz parte do tráfego. Como a CDL avalia o planejamento e a gestão da mobilidade ciclística pelo poder público na cidade? Ela é inexistente. Temos algumas iniciativas pessoais dentro dos profissionais do Instituto de Planejamento do Município, mas para além disso... Eu penso que o município não tem qualquer trabalho a respeito disso. Qual a opinião da CDL sobre a contribuição que pode ter a mobilidade ciclística, a bicicleta, para a mobilidade urbana e para a qualidade de vida? Eu acho que o ciclismo é, para a comunidade, uma ferramenta de transporte muito importante; porque quanto mais você utilizar essa ferramenta, mais você proporciona a manutenção da saúde e a qualidade de vida do individuo que a utiliza. Porque quanto mais ele utilizar a bicicleta, menos sedentário ele se torna, e menos sujeito às doenças. Então isso traria qualidade de vida para toda a comunidade. É uma opção importante para o município em termos de tráfego. É uma opção de transporte limpo, não poluente. Então eu acho que é possível programá-lo como um grande e forte sistema de transporte no município. E o município tem a vantagem de ser muito plano, as vias dele são todas muito planas; temos alguns morros aqui e ali, mas não inviabilizam. Eu acho que precisávamos estimular isso. Acho que realmente é importante para a cidade e para a comunidade. E eu acho que isso estimula, abre um segmento a mais, fortalece também mais uma cadeia comercial – vamos dizer assim –, mais um nicho de mercado. Podemos trabalhar para o fornecimento de acessórios para toda essa cadeia de serviços, trazendo equipamentos mais modernos, bicicletas e acessórios. Então isso também estaria estimulando a ampliação de um segmento que ainda, a meu ver, é muito acanhado aqui em Florianópolis. Também as modalidades esportivas; nós temos hoje corridas abertas ao público amador, que queira correr cinco, dez quilômetros, quarenta e dois quilômetros. Também poderíamos estimular mais modalidades esportivas na área de bicicleta para que se possa estar oferecendo esse tipo de possibilidade para quem pratica o ciclismo de forma amadora. Bem, com essas vantagens todas, porque você acha que Florianópolis não se destaca no oferecimento de infraestrutura e no planejamento cicloviário? O que falta? Qual é a resistência? Eu acho que primeiro falta, realmente, um entendimento, da sociedade de uma forma geral e da administração pública, dos gestores públicos, do que é mobilidade urbana, de como ela funciona. Falta o conhecimento disso. Falta a conscientização, a sensibilização de toda a sociedade sobre como podemos melhorar toda a parte de mobilidade urbana dentro de um município, para que nós possamos estar pensando e enxergando que dentro das soluções existentes o ciclismo também 2
  • 12. faz parte, contribui, é parte integrante disso. Tem que estar incluída dentro de um mecanismo de solução sistêmica que envolva outras coisas. Nós estamos fazendo isso no município com a questão dos resíduos sólidos. Estamos trabalhando nisso, para que nós tratemos o lixo. Temos um grupo que, entre entidades públicas e privadas, são mais de quarenta entidades, discutindo a respeito dos resíduos sólidos do município. E nós já fizemos o planejamento estratégico do grupo. E o grupo tem previsão de em 2030 (em relação ao Projeto 2030 do Floripamanhã) atingirmos o Lixo Zero em Florianópolis Mas como você vê a participação da iniciativa privada para a melhoria da mobilidade urbana em geral e da mobilidade ciclística em particular? Eu penso que nós viemos de uma cultura em que o poder público sempre foi muito prepotente, sempre independente, sempre autoritário, e as entidades privadas sempre submetidas a ela; ainda hoje as entidades – não tanto as entidades, mas a sociedade civil – ainda pouco reativa, esperando o que o poder público possa estar fazendo. Então, eu entendo que, por maior boa vontade que tenha o poder público, por maior boa vontade que possa ter alguma entidade de iniciativa privada em implementar alguma coisa que seja solução para comunidade, se a comunidade não estiver integrada junto com o poder público ( por comunidade eu quero me referir à iniciativa privada, à sociedade civil, ao cidadão comum), se todo mundo não estiver integrado para solucionar os problemas que são comuns para a comunidade, não teremos a solução dos problemas. E não são só recursos que resolvem os problemas, é importante que todo mundo tenha consciência que todo mundo faz parte do problema. A partir do momento em que nós vivemos em sociedade, todo mundo faz parte do problema que se tem na sociedade. Então o importante é que todo mundo contribua para a solução desses problemas. É essa a posição que a CDL tem difundido para dos seus associados, de praticar, tomar iniciativas que venham a contribuir para a melhoria da qualidade do municípios? Sem dúvida. A gente sempre estimula muito. Praticamos isso. Sempre a pactuação entre o poder público e a sociedade para que possamos solucionar as questões em conjunto, buscar soluções de uma maneira mais fácil. E como você vê a atuação de outros entes da sociedade civil? Associação de moradores, associação de ciclistas... Você tem visto se elas tem sido atuantes e tem cumprindo algum papel no momento? Eu represento a CDL em vários momentos, em Conselhos etc. O que vemos é que a ViaCiclo é muito atuante nessa bandeira do transporte ciclístico. Eu acho muito legal, muito bacana esse trabalho. Mas eu penso que ainda está muito independente, muito isolada. É preciso que as outras entidades, que a sociedade possa estar levantando essa bandeira junto com a ViaCiclo; e o poder público também precisa entender que isso é algo que vai só somar para a sociedade; o sistema de ciclovias e de transporte ciclístico ajuda a solucionar os problemas, e precisamos a toda a sociedade junto nessa tarefa. Mas as iniciativas da ViaCiclo eu acho que são muito legais. Uma ou outra vez eu já escutei algumas manifestações mais radicais de componentes, mas eu entendo que eram pessoas mais novas. Bem, isso depende bastante... Do calor da discussão... 3
  • 13. TRANSPORTE POR BICICLETA EM CIDADES CATARINENSES Pesquisa financiada pelo Edital MCT/CNPq Nº 18/2009 ENTREVISTA COM GESTORES PÚBLICOS E LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS DADOS DA ENTREVISTA Data: 06/04/2011 Horário: 14:00 h Local: Fatma – Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina Entrevistador: André Geraldo Soares DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Nome: Daniel de Araujo Costa Formação profissional: Biólogo Instituição de trabalho/representação: ViaCiclo - Associação dos Ciclousuários da Grande Florianópolis Cargo: Presidente Sexo: Masculino Idade: 43 anos ENTREVISTA Daniel, qual é a sua opinião sobre a quantidade de vias ciclísticas na cidade? Insuficiente e sem conectividade. Ou seja, não são interligadas. Qual é a sua opinião sobre a qualidade das vias ciclísticas na cidade? As ciclovias e ciclofaixas não estão atraindo usuários por causa dessa falta de conectividade. O ciclista tem que utilizar muitos espaços compartilhando a via com os carros, que não o respeitam. Muitas delas estão com muita sujeira no pavimento, muito detrito carregado pela chuva, cacos de vidros lançados pelos usuários destes espaços etc. E a sinalização e a manutenção delas é bastante deficiente. Então você acha que elas não são seguras? Ainda não estão seguras como deveriam. São poucos os trechos que possuem alguma segurança. Mas nós temos ainda áreas em que se corre risco, que os carros entram na ciclovia e na ciclofaixa, estacionam sobre as mesmas. E nós temos ainda o excesso de velocidade dos carros, quando trafegam ao lado das ciclofaixas. Então talvez precisássemos ter algumas dessas ciclofaixas transformadas em ciclovias, ou então a diminuição da velocidade dos carros em algumas vias? Com certeza. Precisa ter a redução de velocidade em toda parte da cidade. Algumas ciclofaixas deveriam ser separadas das vias dos carros. Mas muitas delas nós sabemos que não tem condições, então nessas ruas tem que se aplicar uma redução de velocidade – urgente. E sobre os bicicletários em órgãos públicos? Você acha que são suficientes e adequados? Totalmente insuficientes e inadequados. Porque normalmente são fora dos prédios, na rua, em lugares de pouca segurança, ou seja, com poucas pessoas circulando e que não estão vendo a bicicleta. São poucos realmente, nós temos aqui na Câmara Municipal três ou quatro vagas, são poucas, realmente. E nos terminais de ônibus os bicicletários estão abandonados. O ciclista não deixa a bicicleta lá porque não tem o mínimo de segurança; em alguns terminais os bicicletários estão virando depósito de entulho e estacionamento de motos, como é o caso do terminal da Lagoa da Conceição. 1
  • 14. E nas empresas privadas (lojas, comércio)? Também são muito poucos e com poucas vagas. Ainda são incipientes, realmente não oferecem condições. Tanto é que nós vemos muitas bicicletas amarradas em postes, em cercas, em grades esparramadas pela cidade. Florianópolis possui um órgão para planejamento e gestão da estrutura cicloviária? Eu desconheço. O que nós verificamos, hoje, é que o setor de gestão do trânsito faz esse papel, e nem sempre o faz de acordo com as necessidades do ciclista. Sempre priorizam o transporte individual motorizado, ou seja, o carro. O nosso trânsito ainda é baseado no carro. Então também não temos um quadro de pessoal destacado e investido nessa função? Não. O que nós temos são algumas pessoas, com vontade própria, que conhecem a importância da mobilidade por bicicleta, e que por conta própria atuam dentro de seus órgãos. Mas não existe nenhum órgão especifico que trabalhe diretamente com a mobilidade por bicicleta. Você tem conhecimento de pesquisas sobre a mobilidade urbana em geral e, principalmente, sobre a mobilidade por bicicleta aqui em Florianópolis? Não. As únicas coisas que eu conheço são alguns TCCs [Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação] de alunos, algumas pesquisas da própria ViaCiclo, mas nada suficiente e com aplicabilidade para o planejamento da mobilidade urbana. Existe registro de estatísticas de acidentes com ciclistas? Também não conheço. Inclusive acho que seria responsabilidade da Guarda Municipal, ou da própria Policia Militar; no momento do registro do Boletim de Ocorrência os acidentes com ciclistas não são contabilizados separadamente,são considerados simplesmente como acidentes ou atropelamentos. Então não tem uma estatística especifica sobre os ciclistas. Florianópolis possui um planejamento de médio ou longo prazo para o incremento da mobilidade ciclística da cidade? Desconheço. O que nós temos hoje são pequenas ações, pontuais, efêmeras e sazonais. Agora, como foi criada a Comissão Municipal de Mobilidade Urbana por Bicicleta – Pro-bici, a esperança é que com ela nós consigamos realmente executar trabalhos a médio e longo prazo na cidade. Você tem conhecimento sobre o investimento financeiro do município em mobilidade ciclística nos últimos anos? Também desconheço; o que nós verificamos é que na implantação de ruas na cidade se fazem adaptações em certos trechos para a mobilidade por bicicleta. Qual é a sua expectativa acerca da nova Comissão? Estou bastante animado. Quero acreditar que realmente dela saiam informações para os órgãos executores, que as apliquem. Temos pessoas de competência dentro da Comissão, ciclistas, usuários. E esperamos que com as nossas informações os órgãos públicos, os órgãos executores, consigam realmente implementar a estrutura cicloviária na cidade. Você acha que a bicicleta pode contribuir para a mobilidade urbana no município? Com certeza. A bicicleta ajuda e muito. As vantagens são inúmeras: saúde para a cidade, não gera poluição, não gera congestionamento, humaniza as ruas. Em pequenas e médias distâncias, com certeza vai ajudar; entre cinco e oito km, eu penso que é uma grande solução, não tem veículo mais rápido e eficiente que a bicicleta; mas para isso é necessário construir ciclovias e ciclofaixas. Também precisamos ter uma estrutura de interligação intermodal com o transporte coletivo eficiente; ou seja, a pessoa que mora a três, quatro quilômetros da estação de ônibus vai até ela bicicleta, deixa a bicicleta ali, pega o ônibus, retorna e a bicicleta vai estar garantida no bicicletário. 2
  • 15. Se ela contribui, por que você acha que até agora a cidade não investiu mais em mobilidade ciclística? Devido a todos os problemas que já relatamos: falta de segurança, falta de vias, falta de bicicletários. E também um pouco por causa da cultura ciclística que nós ainda não temos. Estamos começando – já avançamos bastante, tanto é que nós vemos muitas pessoas andando de bicicleta, mas basicamente são esses os problemas que nós precisamos resolver para estimular as pessoas a trocarem de modal e começarem a usar mais a bicicleta. Então os governantes de um modo geral não confiam, ou não tem muito gosto pela bicicleta? Não sei se não confiam, acho que desconhecem realmente. Desconhecem, falta a cultura ciclística. Nós sabemos de todas as vantagens que uma bicicleta trás (menos poluição, menos área para estacionamento, humaniza o trânsito). Mas estamos caminhando para melhorar isso. Quais as principais dificuldades para se usar a bicicleta no trânsito da cidade? Pelos relatos dos ciclistas, temos principalmente a falta de segurança, o mau uso dos motorizados, o excesso de velocidade. Muita gente deixa de usar bicicleta porque tem medo da velocidade e da agressividade dos motoristas no trânsito urbano. Os carros invadem ciclofaixas e ciclovias... Falta estrutura viária, faltam bicicletários, falta a cultura ciclística. Apesar disso, o uso da bicicleta tem sido ampliado, tem muita gente usando bicicleta, conseguimos verificar isso nas ruas, mas falta um pouco dessa estrutura para o ciclista. Sobre essa nova Comissão, quais são as suas expectativas, o que você acha que pode trazer de mudanças para a mobilidade ciclística na cidade? Eu quero acreditar, e acredito realmente, que, consultando as pessoas que estão ali dentro, que são pessoas que conhecem do assunto, que entendem de bicicleta, andam de bicicleta, consigamos obter informações importantes para os órgãos executores e que realmente sejam aplicadas, construídas ou implementadas, estruturas viárias; e também educação, para as pessoas entenderem um pouco mais sobre a cultura ciclística e que realmente a gente possa aumentar o número de bicicletas na rua. Você sabe se Florianópolis possui algum programa educativo para a inclusão ciclística? Não conheço, a não ser essas pequenas campanhas. Assim como temos no aniversário de Florianópolis, quando o Ipuf fez aquele passeio ciclístico; o Dia Mundial sem Carros. São pequenas ações, ainda pouco efetivas, porque são insuficientes. Se fossem mais periódicas, mensais, acho que melhoraria bastante. Você é representante da sociedade civil. Como você avalia a participação e a atuação da sociedade civil nesse cenário? É bastante pequena. É uma coisa interessante que as pessoas reclamam muito, mas na hora de botar as mangas de fora, realmente tem pouca gente atuando. São muito poucas as pessoas que vão para a rua, vão participar dos passeios, que realmente agem, interagem, seja nas associações de moradores de bairro ou em outras ações. Eu vejo que falta muito ainda para as pessoas exercerem seus direitos e deveres como cidadãos. E como você avalia a receptividade de prefeitura às reivindicações da sociedade civil? Como é a relação entre ambos? Existe muita burocracia, uma sistemática implantada que dificulta a relação. Temos que mudar algumas coisas. Eu vejo um pouco de dificuldade ainda, apesar de já ter melhorado nos últimos anos. Obs: Devido a problemas com o gravador, que obrigou à reapresentação de algumas questões, a transcrição não atende a ordem exata da gravação 3
  • 16. TRANSPORTE POR BICICLETA EM CIDADES CATARINENSES Pesquisa financiada pelo Edital MCT/CNPq Nº 18/2009 ENTREVISTA COM GESTORES PÚBLICOS E LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS DADOS DA ENTREVISTA Data: 28/04/2011 Horário: 17:00 h Local: Café Blumenau Entrevistador: André Geraldo Soares DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Nome: Ângela Liuti Formação profissional: Bacharel em Letras Instituição de trabalho/representação: Ufeco – União Florianopolitana de Entidades Comunitárias Cargo: Presidente Sexo: Feminino Idade: 49 anos ENTREVISTA Angela, gostaria de saber qual é a sua opinião, como representante da UFECO, acerca da quantidade de ciclovias na cidade e se essa rede atende às necessidades dos ciclistas municipais. Eu acho que a rede que tem não atende 100%. A bicicleta ainda divide o trânsito nas vias públicas, com os carros. Não existe, especificamente, ciclovias seguras para o ciclista. Eu ainda vejo com bastante preocupação essa questão da segurança. Então, além de existir uma rede cicloviária deficitária, na sua opinião as ciclovias existentes ainda não oferecem segurança? De modo geral, não. São poucas aquelas que são seguras. Exceto as da Beira-Mar, que eu conheço (Beira-Mar Norte e Beira Mar Sul), as demais eu acho que não oferecem segurança. Qual a sua opinião sobre a quantidade de bicicletários públicos na cidade, se eles atendem a demanda e se eles estimulam o uso da bicicleta? Não, não atendem a demanda, não estão em atividade e não atraem novos ciclistas. Nos terminais, que deveriam ter bicicletários funcionando, não tem na sua maioria, e os que têm não apresentam nenhuma segurança para a bicicleta. Florianópolis não possui um órgão específico para tratar da mobilidade ciclística no sistema viário, para o planejamento ciclístico. Na sua opinião, isso traz danos à mobilidade ciclística? Muito! Deveria existir um órgão de incentivo ao uso da bicicleta e para vias especiais, promovendo-a como uma modalidade de transporte, conectada com os terminais, inclusive. Você afirmou [no quadro de avaliação] que Florianópolis não possui pesquisas sobre mobilidade ciclística. Mas você, como representante comunitária, tem recebido informações acerca disso. De onde provem o seu conhecimento? O meu conhecimento chega da ViaCiclo, através do Boletim da ViaCiclo, que eu recebo regularmente, e de uma ou outra atividade que as ONGs da área realizam, além dos eventos e debates; e também de atitudes e de iniciativas individuais, pesquisas acadêmicas. Mas informação, no geral, provém mais da ViaCiclo mesmo. Da parte oficial, do governo, eu não vejo 1
  • 17. medidas nesse sentido. Agora, depois desse evento de mobilidade [I Fórum Internacional sobre Mobilidade Urbana, realizado em Florianópolis entre 26 e 27 de abril de 2011], ouvi dizer – li no jornal ou na internet – que eles vão priorizar ciclovias. Tomara, né? Você, como líder da UFECO e do Fórum das Cidades, tem acompanhado a deficiência do planejamento no município e a falta de participação popular na nesse planejamento deficiente. Você também afirmou que desconhece haver algum tipo de planejamento para incremento da mobilidade ciclística na cidade. Na sua opinião, quais são as conseqüências dessa falta? A conseqüência é que menos pessoas vão usar bicicleta nas ruas ou vão usar a bicicleta como modalidade de transporte. Eu acredito que isso atrasa o processo de produção desse meio de transporte – eu considero também meio de transporte – no planejamento da cidade. Quanto menos estímulo, mais demora na implementação, mais carros ocupam as ruas, mais o carro toma o espaço das cidades. Na sua opinião, quais seriam as vantagens e qual o papel, qual contribuição a bicicleta pode dar para o transporte municipal? Acho que possibilita desafogar o trânsito. Se houver conexão do usuário da bicicleta com os terminais urbanos, mais pessoas usariam o transporte coletivo e demandaria uma incentivo ao transporte coletivo. O essencial mesmo é que existam políticas que retirem os carros das ruas, que desestimulem o uso de tantos carros por um único passageiro. Em que distâncias e em que tipo de deslocamentos você acha que a bicicleta contribui mais? Segundo informações que possuo são em distâncias curtas e médias, não longas. Para estas deveria haver integração com os terminais urbanos. Se a bicicleta pode contribuir para a mobilidade urbana, na sua opinião porque não existe uma política de incentivo ao uso da bicicleta em Florianópolis? Não só em Florianópolis, mas, de um modo geral, no país. É cultural! É uma questão cultural, o uso do carro, o símbolo da posse de um carro. Não existe incentivo governamental para o uso da bicicleta. Inclusive, também, a bicicleta é cara, eu acredito que o preço de uma bicicleta boa ainda não é acessível à população. Existem, para a sua informação, projetos de leis para desonerar impostos da fabricação da bicicleta e fabricação de componentes, mas são apenas projetos de lei. Ah, olha só! Que pena! Como você observa a manifestação da sociedade civil organizada acerca da mobilidade ciclística? De onde ela provém e em que canais ela atua? Eu vejo que existem grupos organizados, como ONGs, por exemplo, entidades da sociedade civil organizada que têm viés com o transporte da bicicleta. Eu vejo que os meios de comunicação e as políticas públicas não oferecem essa visão do uso da bicicleta. No Plano Diretor tem propostas das comunidades para o uso das bicicletas e o Fórum das Cidades desde o início sempre coloca a bicicleta como uma prioridade de transporte. Como presidente de uma organização das associações comunitárias, você percebe que as associações comunitárias e entidades de moradores reivindicam melhorias na mobilidade urbana para a inclusão ciclística? Eu acredito que são poucas. Não tem ainda esse estímulo. Acho que nós precisamos desenvolver uma política, ministrar mais palestras. Eu não conheço que haja alguma entidade que se destaque... Existe, por exemplo, na Lagoa da Conceição, no Campeche, algumas entidades que falam... O Campeche tem uma malha ciclística boa, na Avenida Pequeno Príncipe? Como você vê a relação entre a sociedade civil organizada e o poder público? Existe um diálogo? A sociedade civil é ouvida? As suas reivindicações são atendidas? Pelo que eu tenho vivenciado à frente da UFECO, eu vejo que o poder público, 2
  • 18. independentemente de quem esteja no poder, atua ainda com uma certa autoridade. E eles [que estão no poder] não vêem ainda com respeito à participação popular, tentam criminalizar ou tentam classificar como uma minoria ou como os “do contra”, desde que você não pense igual a eles. Então eu vejo aqui em Florianópolis uma dificuldade de relação com o poder público. Eu acho que é uma relação que tem que ser construída dos dois lados, por isso que nós ainda tentamos participar dos conselhos de direito, pois achamos que ainda é melhor brigar por dentro do que ficar fazendo oposição direta por fora. 3
  • 19. TRANSPORTE POR BICICLETA EM CIDADES CATARINENSES Pesquisa financiada pelo Edital MCT/CNPq Nº 18/2009 ENTREVISTA COM GESTORES PÚBLICOS E LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS DADOS DA ENTREVISTA Data: 06/04/2011 Horário: 12:00 h Local: Secretaria Municipal de Transportes, Mobilidade e Terminais Entrevistador: André Geraldo Soares DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Nome: Lúcia Maria Santos Mendonça Santos Formação profissional: Engenheira Civil Instituição de trabalho/representação: Secretaria Municipal de Transportes, Mobilidade e Terminais Cargo: Diretora de Operações Sexo: Feminino Idade: 52 anos ENTREVISTA Qual sua opinião sobre a quantidade de ciclovias e ciclofaixas na cidade? Ela é suficiente para atender toda a demanda de ciclistas e o desenvolvimento cicloviário? Eu acho que uma rede cicloviária não nasce da noite para o dia, a não ser que tenha uma política de Estado que priorize esse tratamento das ciclovias, o que não é o nosso caso. Então, a rede cicloviária, embora esteja fracionada atualmente, eu acredito que exista um projeto que depois vá interligá-la. Hoje nós não temos uma quantidade que nos permita garantir a mobilidade ciclística em toda a cidade. No entanto, hoje nós temos algumas ciclovias que são boas, como nos Ingleses e na Avenida Beira Mar Norte. Agora no que se refere às ciclofaixas, que muitas vezes são os elos de ligação entre as ciclovias, eu acho que merecem um tratamento melhor. Na sua opinião as ciclovias e ciclofaixas da cidade são seguras? Não são seguras, sobretudo as ciclofaixas, que necessitam de uma maior segurança. O que percebemos é que tanto a ciclofaixa do Campeche quanto a da Bocaiúva não são seguras e apresentam muitos problemas. Que considerações você faz em acerca dos bicicletários em Florianópolis, tanto daqueles em locais públicos quanto daqueles disponibilizados pelas empresas privadas? Eu os acho muito ruins, mesmo porque em locais públicos quase não existem. Nas empresas privadas eu só conheço um bicicletário, que só possui o suporte para guardar a bicicleta; não possui, por exemplo, banheiro para os ciclistas se trocarem. A cidade possui algum órgão de planejamento e gestão para estrutura cicloviária? Se não possui, você considera isso importante? Na verdade, a cidade de Florianópolis, apesar de ser uma capital, ainda apresenta muita confusão nessa questão do planejamento e de projetos de ciclovias. Nós temos um órgão, o IPUF, encarregado de fazer os projetos; temos a Secretaria de Obras, que constrói esses projetos; e a Secretaria de Transporte e Mobilidade, que deveria tratar da bicicleta, mas nós não sabemos o papel desta Secretaria na questão cicloviária. Com essa pulverização de atividades sobre a questão ciclística na cidade, acaba não havendo comunicação entre os órgãos, e cada pensa que o outro está fazendo algo e, logo, não se faz nada. 1
  • 20. Ou seja, então também não existe um quadro de pessoal destacado para isso, porque não existe justamente um setor que centralize a organização. Não, não existe. Existem iniciativas isoladas de uma ou outra pessoa, mas não existe diálogo, não existe planejamento integrado. Florianópolis possui alguma pesquisa recente ou sistemática sobre a mobilidade urbana que englobe também a mobilidade ciclística? Não, nós não temos. Em que pese que a atual administração foi aquela que mais se preocupou com a questão cicloviária, e que esta questão é uma das pernas, uma das vertentes para tratarmos a questão da mobilidade urbana, nós não temos levantamentos e estatísticas sobre a mobilidade urbana, seja ela por ônibus, seja por pedestres, seja por veículos motorizados; nós só temos as contagens eletrônicas de veículos motorizados em algumas avenidas. A prefeitura possui, segundo seu conhecimento, algum planejamento de médio a longo prazo para o incremento da mobilidade ciclística na cidade, para o aumento da participação da mobilidade ciclística na mobilidade urbana? Eu participei, na semana passada, da primeira reunião da Comissão Municipal de Mobilidade Urbana por Bicicleta – Pro-bici, que foi criada no dia do aniversário da cidade; nela, o secretário de Obras disse que como vai fazer o recapeamento asfáltico de vias centrais de nossa cidade, como a Av. Prof. Othon Gama D’Eça e a Av. Rio Branco, e que nesses locais projetos já estão contempladas ciclofaixas; e que em projetos novos, como a duplicação da SC-404 também está contemplada ciclofaixa. Então, nesse sentido, eu acho que nós estaremos cada vez mais ampliando essa rede cicloviária. Evidentemente que ainda vão faltar algumas ligações para que se configure uma rede, que até o momento são insuficientes. E isso é muito bom em uma cidade na qual não existe um planejamento centralizado. Mas é importante saber que os técnicos, mesmo não havendo essa coordenação centralizada, já estão se preocupando em incluir a questão das ciclovias e dos ciclistas. Qual é o seu ponto de vista acerca dos investimentos financeiros da cidade na mobilidade ciclística? São suficientes ou insuficientes? Eu acho que ainda são insuficientes. Na verdade, eles não são única e exclusivamente para a mobilidade ciclística. Geralmente, a questão ciclística usa parte de recursos, por exemplo, de num recapeamento de asfalto, que são dirigidos ao transporte motorizado; diria que no município a prioridade ainda é para o transporte motorizado. Florianópolis agora criou uma Comissão consultiva sobre a mobilidade ciclística. Qual é a sua expectativa quanto a esse novo colegiado? Essa Comissão, da qual eu também tenho o privilégio de fazer parte, representando a Secretaria de Transporte, Mobilidade e Terminais, é composta por outros representantes do Poder Público e também pela sociedade civil. A expectativa é de que essa comissão consiga realmente mostrar e sensibilizar o Poder Público, os dirigentes maiores, da necessidade de constituirmos um organismo que trate única e exclusivamente dessa questão da bicicleta, assim como nós temos uma que trata da questão do ônibus; assim como nós temos uma Secretaria que faz as obras para os veículos motorizados, nós devemos ter um departamento que saiba fazer ciclovias e ciclofaixas nos parâmetros estabelecidos pelo próprio Ministério das Cidades. Quais são as principais dificuldades para a inclusão da bicicleta no sistema de mobilidade urbana? A principal dificuldade é a falta de infraestrutura adequada para o estacionamento das bicicletas, a falta de infraestrutura adequada para que o próprio ciclista possa se dirigir ao seu trabalho e, depois, guardar o seu equipamento, tomar um banho, porque nós vivemos num país tropical, que é quente. Muitas vezes a pessoa não pode chegar suada no trabalho, então seria importante que houvesse uma infraestrutura de apoio para tomar banho, guardar os seus pertences e deixar em segurança a sua bicicleta. Há também a questão de não haver uma rede cicloviária contínua. Muitas vezes o ciclista tem que compartilhar as vias com os veículos motorizados, que não são sensíveis para constatar que eles são muito maiores e muito mais poderosos que os ciclistas, 2
  • 21. então o ciclista se sente inseguro. Mas são questões que, espero eu, a médio prazo, venham a ser solucionadas. Na sua opinião, a mobilidade ciclística pode contribuir de alguma forma para a mobilidade urbana? Que tipo de contribuição seria essa? Evidentemente. A cidade tem que possibilitar todas as formas de deslocamento. E quando falamos de mobilidade, nós estamos falando de um deslocamento ambientalmente correto. E nada mais correto do que andar de bicicleta, do que andar a pé, de contribuir para não poluir o mundo mais do que já está. Quanto menos usarmos os motores a diesel, melhor para o planeta. Além do mais, nós não podemos esquecer a importância da bicicleta como elo de ligação e integração nas viagens curtas e médias, para servir de apoio ao transporte público, para que as pessoas possam acessar o transporte público. Se a mobilidade ciclística é tão importante, quais são as barreiras e dificuldades que o Poder Público têm encontrado para não aplicar medidas que a facilitem, sendo a cidade tão carente em infraestrutura e de outras medidas para garantir o deslocamento por bicicleta em segurança? Eu acho que é uma questão cultural, algo muito arraigado ainda na mentalidade do planejador urbano. Há a questão do uso do transporte motorizado: o carro ainda é uma questão de status! E os nossos governantes nada mais fazem do que refletir todos esses valores da sociedade; a sociedade, na verdade, ainda está muito focada no uso do carro. Eu acho que é uma questão de tempo. As coisas não se dão repentinamente. Eu acho que já existe todo um grupo de pessoas sensíveis à questão do não uso do automóvel, até mesmo por uma questão de preservação do planeta. Não é à toa que, mesmo sem termos essa estrutura central que faça a gestão da questão cicloviária, as cidades brasileiras, e inclusive Florianópolis, já vêm se preocupando e pensando a questão da bicicleta. Sobre a participação da sociedade civil, você vê que existe sociedade civil organizada? Quais são as manifestações delas? Quais são as relações entre sociedade civil e Poder Público? Eu penso que a sociedade civil está até mais organizada questão cicloviária do que o Poder Público, mas nós ainda temos alguns conflitos porque muitas vezes a sociedade civil ainda não consegue entender que a mobilidade não se restringe à ciclovia. A mobilidade consiste em respeitar e oportunizar todas as outras formas de deslocamento na cidade. Muitas vemos pessoas que acham que é fundamental só tratar a bicicleta, ignorando as outras formas de andar na cidade. Mas eu acho que a sociedade civil está organizada, e é por conta dessa organização da sociedade, dessa parcela da sociedade que são usuários da bicicleta que temos conseguido avançar na melhoria da mobilidade ciclística. 3