O documento discute o crescimento do uso de bicicletas como meio de transporte na cidade do Recife. Apesar da falta de infraestrutura adequada, mais pessoas estão usando bicicletas para ir ao trabalho nos finais de semana. No entanto, o modal ainda é visto principalmente como lazer em vez de mobilidade. Planos estão sendo feitos para melhorar a infraestrutura cicloviária e integrá-la ao transporte público.
Plano Diretor Cicloviário de Canoas/RS: 1° Seminário - apresentação Arq. Emíl...
Apesar de tudo, mais bikes nas ruas
1. transporte. muitos ciclistas domingueiros estão experimentando deixar o carro.
mobilidade
Apesar de tudo,
mais bikes nas ruas
Crescimento do modal cicloviário é o tema da terceira
matéria da série "A Mobilidade que Precisamos"
Rafael Dantas
M
esmo sem a infraestrutura adequada e convivendo
com a incompreensão dos
motoristas, a circulação de bicicletas no Recife está se multiplicando.
O trânsito caótico – apontado pelo
Ipea como o quarto pior do País – e
a experiência de pedalar nos finais de
semana são os dois combustíveis que
começam a motivar os recifenses a
deixar o carro e optar pelas magrelas
para ir ao trabalho. Apesar da simpatia que o modal vai conquistando,
não houve um centímetro de ciclovia
ou ciclofaixa inaugurado neste ano.
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Apesar de ter praticamente o mesmo território de Amsterdã, conhecida
mundialmente pelo uso intensivo das
bicicletas, no Recife a prática de pedalar é mais vista como uma opção de
lazer do que um caminho para a mobilidade. Pesquisa sobre os motivos
de uso ou não uso da bicicleta, realizada pela Ameciclo e pela consultoria
Valença e Associados, apontou que a
segurança e a infraestrutura são insuficientes e funcionam como os gargalos que afastam os cidadãos das bikes.
“O Recife é plano, agradável de
pedalar e pequeno. Se a cidade pro-
move uma condição mais adequada
aos ciclistas, observando esses fatores que foram apontados, as pessoas
tendem a não usar tanto o carro”,
afirma Daniel Valença, presidente da
Ameciclo. A pesquisa indicou que a
insegurança está relacionada principalmente ao desrespeito dos motoristas, que ainda não estão preparados para dividir a via pública com o
ciclista. Quanto a infraestrutura, as
queixas são relacionadas a ausência
de ciclofaixas/ciclovias, a falta de arborização e as barreiras físicas, como
viadutos e trechos urbanos impró-
2. prios para pedalar e caminhar.
Em 2013, o grande avanço para o
transporte cicloviário na capital pernambucana foi a inauguração e expansão do sistema de aluguel de bicicletas. No balanço da Ameciclo, há
um sentimento de frustração pela falta de novas rotas de ciclovia ou ciclofaixa na cidade. “O discurso de defesa
aos ciclistas pela prefeitura continua,
mas falta mais ação. Infelizmente, o
modal ainda é tratado como uma opção de lazer”, aponta Daniel Valença.
O cicloativista Lucio Flausino, 27,
há alguns anos usa a bike para ir ao
trabalho, que fica cerca de dois quilômetros de sua casa. Nos seus roteiros
diários, apesar de não haver ciclovia,
a quantidade de ciclistas é crescente. “É perceptível como o número de
pessoas pedalando cresce na cidade.
E no Centro é impressionante como as
pessoas estão usando as bikes de aluguel, principalmente nos caminhos
onde funciona a ciclofaixa móvel”,
afirma Flausino, que alerta para a saturação de ciclistas em alguns trechos
nos domingos e para a necessidade de
campanhas educativas para motoristas e até para os novos ciclistas da cidade. “Existem vias que precisam ser
compartilhadas, então é necessário
mais educação no trânsito.”
Apesar das críticas, os cicloativistas reconhecem na ciclofaixa móvel
– promovida aos domingos pela PCR
– um fator positivo no incentivo ao
uso das bicicletas. O primeiro aspecto
é que alguns ciclistas domingueiros
tem feito o uso do modal também nos
dias de semana. Esse fato é comprovado pelo aumento do número de ciclistas nos bairros de classe média da
cidade. Além disso, mesmo que sigam
com o transporte motorizado durante
a semana, esses cidadãos, quando estão no volante, tem a tendência de ter
um comportamento mais amistoso
com os ciclistas.
De acordo com a presidente da
CTTU, Taciana Ferreira, antes de
iniciar novos trechos de ciclofaixa/
ciclovias, a PCR está fazendo estudos e participando das discussões do
plano diretor cicloviário metropolitano. “Existe uma demanda latente de
ligação entre bairros para trabalho e
serviços, em deslocamentos em sua
maioria em torno de 5 km. Teremos
INTERMODALIDADE
ALUGUEL DE BIKES E CoNEXÃO COM O
TRANSPORTE PÚBLICO SÃO AS APOSTAS DO
PODER PÚBLICO PARA INCENTIVAR O MODAL
CICLOVIÁRIO NO RECIFE E EM PERNAMBUCO.
um foco na integração desse modal
com o transporte público”, declara
Taciana, que sinalizou a possibilidade da prefeitura inaugurar ao menos
um trecho até o final do ano. O prazo
estipulado pela PCR para entregar os
76 km de vias para ciclistas, prometido na campanha, é de mais 18 meses.
Pelo Governo do Estado, a grande
aposta no incentivo ao transporte cicloviário está no Pedala PE. Por meio
do programa, estão sendo construídos mais de 100 km de ciclovias na
Região Metropolitana, nos corredores exclusivos de TRO (Transporte
Rápido de Ônibus) dos eixos Norte/
Sul, Leste/Oeste e Ramal de Acesso à Cidade da Copa. “Pernambuco,
assim como a maioria dos Estados do
Brasil, enfrenta o desafio de minorar
os problemas de mobilidade. O uso
da bicicleta como meio de transporte
tornou-se uma alternativa. Sobretudo quando esse uso é racional, para
pequenos percursos, integrando a bicicleta a outros modais de transporte.
Sem falar que em um único veículo
agrega-se sustentabilidade, exercício físico e não produção de poluição,
além de um novo olhar às cidades”,
declara o secretário das Cidades, Danilo Cabral.
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