O artigo discute o crescimento do número de beneficiários de planos de saúde no Brasil e os investimentos na infraestrutura hospitalar. Apesar de o número de beneficiários ter crescido 7,6% em relação a 2010, atingindo 46,6 milhões no segundo trimestre de 2011, o crescimento dos investimentos em hospitais não acompanhou o mesmo ritmo. No entanto, pesquisas mostram que a maioria dos beneficiários está satisfeita com a qualidade do atendimento nos hospitais.
1. Sexta-feira, 30 de dezembro de 2011 OPINIÃO ●
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O GLOBO
A hora e a O avanço dos planos de saúde
vez dos LUIZ AUGUSTO CARNEIRO Primeiro, a ANS contabiliza víncu- viavam a quantidade de beneficiários mantido constante: 78,7%, em 2010,
municípios los, e não indivíduos atendidos pelos que possuíam. Conforme os números contra 76%, em 2007. Ainda assim, a
O
número de pessoas vincula- planos de saúde. Ou seja, se uma mu- foram sendo atualizados, houve au- entidade que reúne os 43 maiores hos-
das aos planos de saúde lher é dependente do marido no plano mento de vínculos apenas por registro, pitais privados do país prevê um cres-
atingiu 46,6 milhões no se- de saúde e passa a ter plano oferecido já que os beneficiários já existiam. cimento de 10% na rede hospitalar pri-
ALOYSIO NEVES e RODRIGO TÁVORA gundo trimestre de 2011, se- pelo seu trabalho, na ANS ela é conta- Entendendo que o número de bene- vada, em 2012. E o equilíbrio entre a
gundo a Agência Nacional de Saúde Su- bilizada duas vezes. Essas pessoas não ficiários no sistema de saúde suple- demanda e oferta por leitos hoje é per-
O
Estado do Rio de Janeiro, plementar (ANS). Um crescimento de representam aumento de utilização do mentar não tem crescido tão expressi- cebido pela satisfação dos beneficiá-
após décadas de estagnação 7,6% em relação a 2010. sistema. Em 2008, o IBGE vamente, vamos aos in- rios que precisaram
e acentuada deterioração so- É uma ótima notícia, contabilizou 38,3 mi- vestimentos. ser internados: 90% es-
cial, atravessa atualmente pois indica a realização lhões de beneficiários. De acordo com o Mi- tão satisfeitos ou muito
um sólido processo de retomada do de um sonho por milha- No mesmo ano, a ANS nistério da Saúde, o nú- satisfeitos com a agili-
crescimento econômico, havendo, com res de pessoas. De fato,
Há satisfação estimou 40,5 milhões de mero de hospitais cre-
Número de dade para marcar a in-
isso, o resgate da até então combalida
autoestima do cidadão fluminense.
segundo pesquisa do
Instituto de Estudos de
dos beneficiários vínculos. Com o cresci-
mento dos planos coleti-
denciados aos planos
privados de saúde cres-
hospitais ternação e com a qua-
lidade do atendimento,
Após o encerramento da análise das Saúde Suplementar, vos, esta dupla conta- ceu 9,7%, entre maio de segundo a mesma pes-
contas de gestão de mais um exercício realizada pelo Datafo-
com equilíbrio gem pode ser ainda 2010 e de 2011. Este cres-
credenciados aos quisa IESS/Datafolha.
fiscal pelo Tribunal de Contas do Esta-
do, observa-se que o processo de plane-
lha, o plano de saúde é
o segundo bem mais
entre a demanda maior. disso, tem havi-
Além
cimento parece suficien-
te, já que o avanço da
planos privados de um desafio no Brasil é
A saúde
e a popula-
jamento e austeridade financeira inicia- desejado pelos brasilei- do uma migração para medicina tem permitido ção quer e merece ser
do pela União e amplificado pelo estado ros que não possuem
e oferta de leitos planos privados, de be- reduzir o tempo de inter-
saúde cresceu 9,7% atendida com qualida-
praticamente não encontra paralelo na esse serviço, logo após neficiários de planos de nação. Por exemplo, a ci- de. Os investimentos
esfera municipal. É necessário que os a casa própria. saúde públicos (como o rurgia de retirada de ve- são bem-vindos e vi-
municípios fluminenses integrem esse Entretanto, o que de- IAMSPE e Iaserj), não re- sícula por vídeo reduz rão, sempre que ne-
processo de forma mais efetiva, atuan- veria ser comemorado tem sido visto gulados e contabilizados pela ANS, em 50% o tempo médio de estada do cessário, com novos hospitais. São
do de maneira séria e compromissada a como fonte de problema. Alega-se que que já utilizavam a rede privada. Esse paciente no hospital, o que permite Paulo é um exemplo disso.
fim de que o atual momento não seja o número de beneficiários de planos movimento faz crescer o número de aumentar o atendimento com a mes-
desperdiçado. de saúde cresce relativamente mais vínculos, porém sem aumentar a uti- ma estrutura. Assim acontece com vá- LUIZ AUGUSTO CARNEIRO é
Inúmeros são os fatores responsá- que o investimento em infraestrutura lização da rede hospitalar. rios outros procedimentos. superintendente do Instituto de Estudos de
veis pelo atual ciclo econômico, desta- hospitalar. E a comparação com a Outro fato que infla esta taxa de Por fim, um dos principais sinais da Saúde Suplementar (IESS).
cando-se, no plano nacional, o cenário abertura de novos leitos é frequente. crescimento é a subnotificação. Nos necessidade de investimento é a taxa
favorável consolidado a partir de uma A preocupação é justa, mas a aná- primeiros anos que sucederam a cria- de utilização da capacidade instalada, ● NOTA DA REDAÇÃO: Hoje, excepcionalmente,
contínua política de estabilização eco- lise dos números merece cautela. ção da ANS, muitas operadoras não en- a qual, no caso dos hospitais, tem se Luiz Garcia não publica seu artigo.
nômica e de ajustes fiscais, e, no plano
regional, a política de austeridade fi- Cavalcante
nanceira adotada pelo Estado do Rio
de Janeiro, associada à construção de
um ambiente de segurança social e
institucional.
De acordo com os dados divulgados
pelo governo, encontram-se em curso
no estado investimentos na ordem de
cem bilhões de reais, o que acarretará
a significativa ampliação da capacida-
de instalada de produção de relevan-
tes segmentos da indústria. Esse am-
biente favorável, no entanto, sujeita-se
à instabilidade de fatores econômicos
em uma ordem globalizada, podendo
não se perenizar no longo prazo. As
reiteradas crises financeiras interna-
cionais impõem um imediato e rigoro-
so planejamento em todas as esferas
federativas.
Esse desejado planejamento não é,
contudo, observado em grande parte
dos municípios fluminenses. No exer-
cício fiscal de 2010, analisado pelo Tri-
bunal de Contas do Estado ao longo do
ano que se encerra, cerca de 10% dos
municípios tiveram as suas contas re-
jeitadas e muitos outros apresentaram
déficits financeiros. Mesmo naqueles
que tiveram as contas aprovadas pelo
Tribunal, a preocupação da maioria
dos gestores restringiu-se ao estrito
cumprimento dos percentuais e limi-
tes de gastos fixados na legislação,
Quem pode julgar o juiz?
sem que se observe, adicionalmente,
uma visão estratégica de longo prazo a
fim de perenizar ou ampliar o ciclo de
atividades econômicas.
É o planejamento que permitirá aos
municípios ordenar suas atividades, NELSON MOTTA gado antes de dizer isto: o corpora- férias que a categoria tem por ano, ticas. Porque o povão, e a elite, jul-
bem como estabelecer as prioridades tivismo do Judiciário no Brasil dese- quando o resto dos brasileiros tem gam que são justas.
Q
na persecução de seus objetivos. Trata- uando se fala desse assun- quilibra um dos pilares que susten- só um (menos os parlamentares, Meu avô foi ministro do Supre-
se de ferramenta básica para que o se- to deve-se pesar muito tam o Estado democrático de direi- que têm quatro). Se os juízes ficam mo Tribunal Federal, nomeado pe-
tor público possa desenvolver as suas bem cada palavra. Basta to. Basta ver os salários, privilégios muito estressados e precisam de lo presidente JK em 1958, julgou
atividades com racionalidade, notada- algum juiz de qualquer lu- e imunidades. A brava ministra faxi- dois meses “para descansar a men- durante 15 anos, viveu e morreu
mente em um contexto marcado pela gar achar que há algo de neira-chefe Eliana Calmon está sob te, ler e estudar”, de quantos meses modestamente, entre pilhas de
escassez de recursos em contraposi- errado, ofensivo ou calunioso nelas, fogo cerrado da corporação por de- deveriam ser as férias dos médicos? processos. Suas únicas regalias
ção à crescente demanda por presta- e você pode ser processado. E pior, o fender os poderes constitucionais E das enfermeiras? E aí quem cuida- eram o apartamento funcional em
ções estatais. processo vai ser julgado por um co- do Conselho Nacional de Justiça e ria das doenças dos juízes? Brasília e o carro oficial. Não sei se
Muitos municípios ainda dependem lega do ofendido. Com raras exce- chamar alguns juízes de “bandidos “Será que a ministra diz isso para foi melhor ou pior juiz por isto,
da União e dos estados, sem se esfor- ções, jornalistas processados por su- de toga”. Embora não exista melhor agradar a imprensa, falada e escrita? mas sempre foi para mim um
çar no desempenho e aprimoramento postas ofensas a juízes são sempre definição para Lalau e outros toga- Para agradar o povão?”, questiona a exemplo da austeridade e da auto-
da sua autonomia. É o momento, con- condenados por seus pares. dos que aviltam a classe. Ajufe. Como não é candidata a nada, ridade que se espera dos que de-
tudo, de mudança desse quadro, com Sim, a maioria absoluta dos juízes Como um sindicato de juízes, a as posições da ministra têm o apoio cidem vidas e destinos.
União, estados e municípios assumin- é de homens e mulheres de bem, Ajufe está indignada porque a minis- da imprensa e do público porque
do as suas responsabilidades e traba- mas eu deveria consultar meu advo- tra Eliana é contra os dois meses de são éticas, republicanas e democrá- NELSON MOTTA é jornalista.
lhando em conjunto.
Há, inclusive, um campo próprio de
O fim de ano e a Lei Seca
planejamento por parte dos municí-
pios. A vinda de novos investimentos
em segmentos estratégicos, como os
setores automobilístico, naval e de pe-
tróleo, em regra, não decorre estrita-
mente de uma política de fomento por HUGO LEAL ainda mais a Lei Seca. Está na fila e encontros com a sociedade civil, sil está mobilizado pela Década
parte dos municípios, mas toda a ca- para apreciação e deveria ser prio- com representantes de Detrans de Mundial de Ações para a Seguran-
O
deia de produção de bens e serviços — período de festas de fim ridade dos nossos parlamentares. todo o país, da Polícia Rodoviária ça no Trânsito (2011/2020). A Dé-
que será alavancada a partir do esta- de ano é, sem dúvida, um O projeto de lei 535/11, também de Federal (PRF) e da Polícia Militar. cada foi instituída pela Organiza-
belecimento e ampliação desses seto- dos mais aguardados por minha autoria, aumenta a pena pa- Em todo o Brasil, anualmente ção das Nações Unidas, com a
res — dependerá essencialmente do todos. Talvez, por isso, ra quem for flagrado alcoolizado são mais de 40 mil vítimas com re- chancela da Organização Mundial
planejamento municipal. seja também um dos períodos mais ao volante. Cria e dá ao Judiciário sultados fatais no trânsito, uma de Saúde (OMS), e tem como meta
A inserção dos municípios fluminen- perigosos em se tratando de aci- novas formas de média de 95 por dia, o a redução, em 50%, do número de
ses na rota de um desenvolvimento sus- dentes de trânsito, quando todos provas para compro- que consome cerca de mortes e acidentes no trânsito,
tentável se mostra, assim, possível e ne- estão mais emotivos, querendo co- var a embriaguez ao R$ 30 bilhões com des- num período de dez anos.
cessária no atual cenário econômico do memorar o ano que passou e cele- volante, além do ba- A legislação apenas pesas hospitalares e in- A Década e a Lei Seca são apenas
Rio de Janeiro, pois nunca houve uma brar o que está por vir. Não é à toa fômetro. Com ele denizações, entre ou- alguns dos instrumentos para sal-
oportunidade tão clara, como a atual, que, exatamente nesta época, o nú- aprovado, passam a engatinha, mas já tros gastos. var centenas de milhares de vidas
de assumirem um papel de maior rele- mero de acidentes de trânsito no ser provas testes de Mais da metade des- nos próximos anos, mas os resulta-
vo. Uma administração eficiente deverá, Brasil aumenta, em média, 20%. alcoolemia, exames colhe frutos, sas mortes tem causas dos não devem aparecer em curto
portanto, diante das circunstâncias fa- A Lei Seca completou três anos clínicos, perícia ou associadas ao uso de prazo. Mesmo assim, é nosso dever
voráveis, criar estratégias capazes de em 2011. Nesse sentido, está ape- outros meios que, salvando vidas no á l c o o l . E n t r e o s j o- trabalhar para que, já em 2012, o
estimular um crescimento sustentável e nas engatinhando. Mas já colhe fru- técnica ou cientifica- vens, esses números Brasil e o mundo tenham uma redu-
de propiciar o incremento e diversifica- tos e contribui muito para a redu- mente, permitam trânsito do país são ainda mais alar- ção significativa no número de aci-
ção de receitas para que os municípios ção de acidentes e mortes no trân- certificar o estado mantes: 32,4% da faixa dentes e de mortes no trânsito.
fiquem em situação fiscal mais equili- sito. Ela não escolhe marca, cor ou d o c o n d u t o r. P a s- mais produtiva do país
brada e estável, e menos dependente de ano do veículo, nem vai pela raça, sam a ser reconheci- é vítima da violência HUGO LEAL é deputado federal (PSC/RJ),
receitas voláteis como as advindas dos classe social e status do motorista. das pela Justiça também provas no trânsito. autor do projeto da Lei Seca e presidente
royalties de petróleo e das participa- Tem como únicos objetivos alertar testemunhais, imagens, vídeos ou São números chocantes e que da Frente Parlamentar em Defesa do
ções especiais. para a perigosa mistura bebida e quaisquer outras provas admiti- deveriam preocupar mais o Poder Trânsito Seguro.
direção e preservar vidas. das em direito. Executivo dos municípios, estados
ALOYSIO NEVES é conselheiro do Tribunal Um novo embrião, porém, foi O texto do novo projeto de lei é e da União, para que se unissem O GLOBO NA INTERNET
de Contas do Estado do Rio. apresentado este ano à Câmara resultado da discussão de toda a contra essa epidemia, principal- OPINIÃO Leia mais artigos
RODRIGO TÁVORA é procurador do estado. dos Deputados para endurecer sociedade. Foi criado após debates mente no momento em que o Bra- oglobo.com.br/opiniao