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Sobre a autora:
Gusty Herrigel, alemã, conquistou o
mestrado na arte do Ikebana e do desenho
floral tradicional japonês no ano de 1928, no
Japão, sendo discípula do mestre Bokuyo
Takeda. Após sua jornada de aprendizagem
no caminho das flores como forma de
meditação e autoconhecimento, recebeu o
nome de Mestre "Lua Crescente". Foi
esposa de Eugen Herrigel, filósofo alemão,
falecido em 1955, que lecionou filosofia
entre 1924 e 1929 na Universidade Imperial
de Tohoku, em Sendai, no Japão, e introduziu
o Zen-Budismo em grande parte da Europa
através de seus clássicos O Caminho Zen e A
Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen. O casal
viveu por seis anos no Japão, estudando o
zen.
Nova edição: Coleção
Clássicos Zen. Prefácio
por Monja Coen. Editora
Pensamento, 2011.
“ As aulas começaram poucos dias depois da primeira visita do Mestre.
Este enviara-me, com antecedência, todo o material necessário. Os
galhos compridos dos chorões jaziam, atados, num recipiente comprido.
Um vaso de bambu de cor natural estava pronto sobre um suporte de
laca preta. Ao lado havia uma tesoura de podar que me pareceu pouco
prática, uma pequena serra e um pano quadrado de algodão não
alvejado para manter tudo limpo, tudo em seu devido lugar; sem
esquecer um pequeno regador com água para refrescar e molhar as
plantas, uma vez arrumadas. O cordão que prende o pacote de chorões é
solto cuidadosamente, sem se usar a tesoura, sem puxar ou cortar, sem a
menor impaciência ou desordem. O cordão é enrolado com cuidado em
volta do dedo e suavemente colocado sobre uma bandeja. Tudo decorre
num silêncio independente do tempo, e cada movimento da mão é
executado com precisão, sem o menor ruído. A concentração no trabalho
em si já havia começado” (p.19)
Sobre o contato com o material:
Segue-se uma observação contemplativa de cada um dos galhos soltos. Cada
galho é observado minuciosa e carinhosamente e é testado pela sua
maleabilidade e curvatura natural. Surge, assim, aos olhos do Mestre, a imagem a
ser moldada. (p.20)
É preciso levar em consideração a inclinação natural do galho e aqui muito se deve
à intuição de quem vai fazer o arranjo floral. Disso resulta um envolvimento de
tensão interior com ele. Sua elasticidade varia. O galho só adquirirá sua forma, sem
esforço e sem precisar de alteração posterior, como se já tivesse nascido assim,
quando realizarmos todo o processo corretamente. É preciso uma longa prática até
adquirir essa sensibilidade e a compreensão de que este modelar é, em si, uma arte
extremamente sutil. Com movimentos suaves e lentos faz-se uma leve pressão em
vários pontos e o galho é inclinado, tomando a forma desejada, ou, então, é
encurtado ou desbastado. A planta é manuseada com tanta delicadeza que se
poderia pensar que ela não deve sentir a mais leve dor, até finalmente adquirir a
forma desejada. ( p. 22)
Sobre o pensamento ocidental diante da
aprendizagem das flores:
”O Mestre examinou meu trabalho com expressão amistosa, porém impassível.
E então, sem maiores explicações e muito gentilmente, retirou os galhos do vaso.
Isso significava que meu desempenho não havia sido absolutamente satisfatório.
A seguir, o Mestre tornou a arrumar os galhos, colocando-os de volta no vaso. A
princípio, fiquei desconcertada, pois essa maneira de proceder pareceu-me muito
estranha. Porém me rendi aos fatos, na intenção de chegar até as raízes do
processo, mesmo sem estar muito convencida. Essa conduta inexplicável parecia
contradizer a tão refinada cortesia do Mestre. Por que ele não podia adaptar-se,
nesse caso, à mentalidade européia — que não aceita a pressuposição de não
saber fazer nada?” (p. 25)
Sobre a comunicação mestre discípulo:
As lições transcorriam silenciosas, pois, no Oriente, sempre se valorizou sobremaneira a
comunicação "em silêncio" ou, mais precisamente, a transmissão "de coração a coração". Os
orientais pensam que o espírito do ensino só pode ser protegido da rigidez dogmática através
de uma transmissão pessoal. (p. 27)
Assim, por trás da transmissão "de coração a coração", existe a intenção oculta de não permitir que
o aluno aprenda um ensinamento específico de cor, a intenção de não lhe fornecer conhecimentos
pré-fabricados ou determinados truques, mas sim a intenção de despertar nele o dever de descobrir
o espírito do arranjo floral através de sua própria experiência. (p. 29)
Sobre o caminho zen das flores
Em nenhuma aula o Mestre omitiu a advertência verbal ou silenciosa de cultivar a atitude correta em
relação ao mundo, numa conscientização sempre crescente. E ele era convincente, justamente porque
vivia conforme esse preceito. A exigência de prestar atenção é mais importante do que a excessiva
atividade. E também não é suficiente empreender o trabalho como se fôssemos tomar o "chá das cinco".
O arranjo das flores não é um passatempo; seu propósito não é a mera distração. É preciso um
recolhimento prévio, começando, já de manhã, a realizar todas as atividades cotidianas sem alvoroço,
sem pressa, imprimindo-lhes uma expressão de equilíbrio e de harmonia interna. Essa atitude deve
tornar-se tão natural a ponto de converter-se numa segunda natureza. Pode-se dizer
que o "trabalho interior" do arranjo floral deve seguir o ritmo do trabalho exterior. Só assim poderá existir
o todo, que engloba o céu, o homem e a Terra. O momento destinado ao arranjo floral fica fazendo parte
da rotina cotidiana, não é uma coisa à parte. E, na verdade, não é fácil trilhar o singelo Caminho das
Flores desde a manhã até a noite! (p. 31)
Sobre a atitude interior no trabalho manual:
Como já mencionei antes, a execução em si é de importância secundária se
comparada à atitude interior. Na medida em que o discípulo vai reunindo a
coragem suficiente para a necessária autodisciplina e que esta acompanhe a sua
habilidade artística, não só como artista, mas também como ser humano, ele
encontrará uma afinidade especial em relação com a sua execução e com a sua
criação, firmemente interligadas à harmonia interior.(p.35)
Sobre o “Princípio do Três”:
(...) a idéia do "Princípio do Três" se desenvolve incessantemente através de novas formas. A
linguagem simbólica dos três ramos expressa, respectivamente, o céu, o homem e a Terra. Não
nos fala apenas do seu lado exterior. No núcleo do seu ser oscila o eterno ritmo de forma e de
conteúdo, de substância e de vazio. O espectador, o próprio homem fica no centro — e nesse
círculo talvez receba até um vislumbre da eternidade. (p. 45)
No ciclo do Princípio do Três, o homem se posiciona entre o céu e a Terra. Ele é alimentado com
raízes aéreas e sustentado por raízes terrestres. De modo que, ao mesmo tempo, ele é uno com o
"coração universal" e com o "fundamento" primordial. Ele vive a partir do seu próprio centro, que
para ele equivale ao centro do mundo, do mesmo modo que ao centro do todo. Assim como sua
individualidade não-intencional sintetiza a verdade do próprio céu, a força que faz crescer as flores
é a mesma que conduz a mão espiritual no arranjo floral, e a que se nutre diretamente do "coração
universal". (p. 49)
Sobre estar no mundo e saber-se nele e o amar:
O verdadeiro discípulo não se afasta do mundo nessa arte, nem foge dele; pelo contrário, vive do núcleo
do processo universal e, por isso, tem ambos os pés apoiados na Terra. Ele aceita — seja o que for —
como destino. Realmente, ele gosta de viver no mundo, e não o rejeita. O mundo é a moldura dentro da
qual o seu próprio ser se torna uma realidade. (p. 49)

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O zen na arte da cerimônia das flores de Gusty Herrygel

  • 1. Sobre a autora: Gusty Herrigel, alemã, conquistou o mestrado na arte do Ikebana e do desenho floral tradicional japonês no ano de 1928, no Japão, sendo discípula do mestre Bokuyo Takeda. Após sua jornada de aprendizagem no caminho das flores como forma de meditação e autoconhecimento, recebeu o nome de Mestre "Lua Crescente". Foi esposa de Eugen Herrigel, filósofo alemão, falecido em 1955, que lecionou filosofia entre 1924 e 1929 na Universidade Imperial de Tohoku, em Sendai, no Japão, e introduziu o Zen-Budismo em grande parte da Europa através de seus clássicos O Caminho Zen e A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen. O casal viveu por seis anos no Japão, estudando o zen.
  • 2. Nova edição: Coleção Clássicos Zen. Prefácio por Monja Coen. Editora Pensamento, 2011.
  • 3. “ As aulas começaram poucos dias depois da primeira visita do Mestre. Este enviara-me, com antecedência, todo o material necessário. Os galhos compridos dos chorões jaziam, atados, num recipiente comprido. Um vaso de bambu de cor natural estava pronto sobre um suporte de laca preta. Ao lado havia uma tesoura de podar que me pareceu pouco prática, uma pequena serra e um pano quadrado de algodão não alvejado para manter tudo limpo, tudo em seu devido lugar; sem esquecer um pequeno regador com água para refrescar e molhar as plantas, uma vez arrumadas. O cordão que prende o pacote de chorões é solto cuidadosamente, sem se usar a tesoura, sem puxar ou cortar, sem a menor impaciência ou desordem. O cordão é enrolado com cuidado em volta do dedo e suavemente colocado sobre uma bandeja. Tudo decorre num silêncio independente do tempo, e cada movimento da mão é executado com precisão, sem o menor ruído. A concentração no trabalho em si já havia começado” (p.19) Sobre o contato com o material:
  • 4. Segue-se uma observação contemplativa de cada um dos galhos soltos. Cada galho é observado minuciosa e carinhosamente e é testado pela sua maleabilidade e curvatura natural. Surge, assim, aos olhos do Mestre, a imagem a ser moldada. (p.20) É preciso levar em consideração a inclinação natural do galho e aqui muito se deve à intuição de quem vai fazer o arranjo floral. Disso resulta um envolvimento de tensão interior com ele. Sua elasticidade varia. O galho só adquirirá sua forma, sem esforço e sem precisar de alteração posterior, como se já tivesse nascido assim, quando realizarmos todo o processo corretamente. É preciso uma longa prática até adquirir essa sensibilidade e a compreensão de que este modelar é, em si, uma arte extremamente sutil. Com movimentos suaves e lentos faz-se uma leve pressão em vários pontos e o galho é inclinado, tomando a forma desejada, ou, então, é encurtado ou desbastado. A planta é manuseada com tanta delicadeza que se poderia pensar que ela não deve sentir a mais leve dor, até finalmente adquirir a forma desejada. ( p. 22)
  • 5. Sobre o pensamento ocidental diante da aprendizagem das flores: ”O Mestre examinou meu trabalho com expressão amistosa, porém impassível. E então, sem maiores explicações e muito gentilmente, retirou os galhos do vaso. Isso significava que meu desempenho não havia sido absolutamente satisfatório. A seguir, o Mestre tornou a arrumar os galhos, colocando-os de volta no vaso. A princípio, fiquei desconcertada, pois essa maneira de proceder pareceu-me muito estranha. Porém me rendi aos fatos, na intenção de chegar até as raízes do processo, mesmo sem estar muito convencida. Essa conduta inexplicável parecia contradizer a tão refinada cortesia do Mestre. Por que ele não podia adaptar-se, nesse caso, à mentalidade européia — que não aceita a pressuposição de não saber fazer nada?” (p. 25)
  • 6. Sobre a comunicação mestre discípulo: As lições transcorriam silenciosas, pois, no Oriente, sempre se valorizou sobremaneira a comunicação "em silêncio" ou, mais precisamente, a transmissão "de coração a coração". Os orientais pensam que o espírito do ensino só pode ser protegido da rigidez dogmática através de uma transmissão pessoal. (p. 27) Assim, por trás da transmissão "de coração a coração", existe a intenção oculta de não permitir que o aluno aprenda um ensinamento específico de cor, a intenção de não lhe fornecer conhecimentos pré-fabricados ou determinados truques, mas sim a intenção de despertar nele o dever de descobrir o espírito do arranjo floral através de sua própria experiência. (p. 29)
  • 7. Sobre o caminho zen das flores Em nenhuma aula o Mestre omitiu a advertência verbal ou silenciosa de cultivar a atitude correta em relação ao mundo, numa conscientização sempre crescente. E ele era convincente, justamente porque vivia conforme esse preceito. A exigência de prestar atenção é mais importante do que a excessiva atividade. E também não é suficiente empreender o trabalho como se fôssemos tomar o "chá das cinco". O arranjo das flores não é um passatempo; seu propósito não é a mera distração. É preciso um recolhimento prévio, começando, já de manhã, a realizar todas as atividades cotidianas sem alvoroço, sem pressa, imprimindo-lhes uma expressão de equilíbrio e de harmonia interna. Essa atitude deve tornar-se tão natural a ponto de converter-se numa segunda natureza. Pode-se dizer que o "trabalho interior" do arranjo floral deve seguir o ritmo do trabalho exterior. Só assim poderá existir o todo, que engloba o céu, o homem e a Terra. O momento destinado ao arranjo floral fica fazendo parte da rotina cotidiana, não é uma coisa à parte. E, na verdade, não é fácil trilhar o singelo Caminho das Flores desde a manhã até a noite! (p. 31)
  • 8. Sobre a atitude interior no trabalho manual: Como já mencionei antes, a execução em si é de importância secundária se comparada à atitude interior. Na medida em que o discípulo vai reunindo a coragem suficiente para a necessária autodisciplina e que esta acompanhe a sua habilidade artística, não só como artista, mas também como ser humano, ele encontrará uma afinidade especial em relação com a sua execução e com a sua criação, firmemente interligadas à harmonia interior.(p.35)
  • 9. Sobre o “Princípio do Três”: (...) a idéia do "Princípio do Três" se desenvolve incessantemente através de novas formas. A linguagem simbólica dos três ramos expressa, respectivamente, o céu, o homem e a Terra. Não nos fala apenas do seu lado exterior. No núcleo do seu ser oscila o eterno ritmo de forma e de conteúdo, de substância e de vazio. O espectador, o próprio homem fica no centro — e nesse círculo talvez receba até um vislumbre da eternidade. (p. 45) No ciclo do Princípio do Três, o homem se posiciona entre o céu e a Terra. Ele é alimentado com raízes aéreas e sustentado por raízes terrestres. De modo que, ao mesmo tempo, ele é uno com o "coração universal" e com o "fundamento" primordial. Ele vive a partir do seu próprio centro, que para ele equivale ao centro do mundo, do mesmo modo que ao centro do todo. Assim como sua individualidade não-intencional sintetiza a verdade do próprio céu, a força que faz crescer as flores é a mesma que conduz a mão espiritual no arranjo floral, e a que se nutre diretamente do "coração universal". (p. 49)
  • 10. Sobre estar no mundo e saber-se nele e o amar: O verdadeiro discípulo não se afasta do mundo nessa arte, nem foge dele; pelo contrário, vive do núcleo do processo universal e, por isso, tem ambos os pés apoiados na Terra. Ele aceita — seja o que for — como destino. Realmente, ele gosta de viver no mundo, e não o rejeita. O mundo é a moldura dentro da qual o seu próprio ser se torna uma realidade. (p. 49)