O documento discute os efeitos da música na aprendizagem de línguas estrangeiras, analisando os depoimentos de alunos expostos à música "Time", do Pink Floyd, em uma aula de inglês. A análise mostra que a música pode desencadear efeitos sensoriais, cinéticos e emocionais nos alunos, transportando-os a outros lugares em sua imaginação.
O Rádio na sala de aula timias e sinestesias por meio da música
1. O RÁDIO NA SALA DE AULA:
TIMIAS E SINESTESIAS POR
MEIO DA MÚSICA
Igor Iuri Dimitri-Nakamura
Profº Drº Valdenildo dos Santos
2. Resumo
Resumo: A música tem o poder de desencadear efeitos de
sentidos estésicos, quinésicos, patêmicos e sinestésicos.
Esta comunicação, portanto, pretende mostrar esses efeitos,
por meio da análise de um corpus composto por fragmentos
discursivos selecionados dentre doze depoimentos de alunos
do curso de Letras, Licenciatura em Inglês e Português,
sobre as sensações e imagens desencadeadas ao ouvirem a
canção de rock progressivo Time da banda inglesa Pink
Floyd a que foram expostos, englobada do Programa de
Rádio “English Through Music”, produzido e levado à sala de
aula sob inspiração de PORCHAT (1993) e COSSANI (2011).
A análise proposta tem o suporte de GREIMAS & COURTÉS
(1979) e seus seguidores, como HÉBERT & EVERAERT-DESMEDT
(2011) no que diz respeito ao aprofundamento
das pesquisas em torno das modalidades tímicas. Para falar
da música e seus efeitos conta-se com o apoio de TAME
(1997), D’ÁVILA (1997) e POYATOS (1994).
Palavras-chave: Ensino; Música; Semiótica.
3. Introdução
Justificativa: música e efeitos de
sentido
Pressuposto: efeitos e aula em LE
Objetivo Geral: rádio como instrumento
didático-pedagógico
Fundamentação Teórica:
◦ Na semiótica: GREIMAS & COURTÉS
(1979)
◦ Nas modalidades tímicas: HÉBERT &
EVERAERT-DESMEDT (2011)
◦ Nos efeitos de sentido: TAME (1997),
D’ÁVILA (1997) e POYATOS (1994)
4. Fundamentação Teórica
UGO VOLLI (p. 182) defende que timia é conceito que define
o nível profundo da articulação da substância do conteúdo,
profundamente ligado à dimensão físico-corpórea. É a
categoria que se articula na dupla opositiva euforia/disforia,
como variação da dicotomia prazer/desprazer”.
D’ÁVILA (1997) afirma que a música tem o potencial para
fazer encantar (efeito estésico), mexer (efeito quinésico) e
complementar (efeito patêmico).
“Em cada ato de percepção não atua um único sentido, ou
este sentido não se situa numa função única, mas nestas
operações perceptivas atuam mais que um órgão do sentido”
(SANTOS, 2013, p. 11).
HÉBERT & EVERAERT-DESMEDT (2011) propõem uma
avaliação na categoria euforia X disforia em que se deve
olhar: 1) o sujeito, 2) o objeto, 3) os valores tímicos atribuídos
ao objeto, 4) a intensidade do valor, 5) o tempo da avaliação
e 6) as transformações que podem afetar os elementos
tímicos.
5. Breve descrição da música
Time, de Pink Floyd
Percebe-se um sujeito que ao observar o “tic-tac”
do ponteiro do relógio (Ticking away), reflete
sobre as horas (the moments) que compõem
(make up) um dia monótono (a dull day), reclama
o gasto das horas (you fritter and waste the
hours) de forma descontrolada (in a offhand) e
exemplifica a situação de alguém entediado que
perambula (Kicking around) num espaço
reduzido de terra (on a piece of ground) de sua
cidade natal (in your home town) à espera de
alguém ou alguma coisa (Waiting for someone or
something) que lhe mostre o caminho (to show
you the way), pois espera que algo novo
aconteça, rompendo-lhe a “vidinha” rotineira.
6. ESCALA TÍMICA SEGUNDO
HÉBERT (2011)
...podemos medir o nível das modalidades tímicas por
meio de palavras ou expressões, ou números e
porcentagens, numa perspectiva descritiva, prescritiva,
comparativa ou relativa ou mesmo superlativa...
A intensidade será representada por palavras ou
expressões (ou mesmo números, como 40%, etc.).
Pode ser: descriptiva (baixo, normal, alto, por exemplo) ou
prescritiva (não suficiente, suficiente, muito, por exemplo);
comparativa or relativa (menos que, tanto quanto, mais
que); ou superlativa (a menos, a mais). comparativa ou
relativa (menos que, tanto quanto, mais que);
(HÉRBERT & EVERAERT-DESMEDT, 2011, p. 107)
7. Depoimentos dos discentes
Depoimento do discente I:
“Eu voei. Vi um campo com flores amarelas. Me vi
vestida de branco...gostei muito...apesar de eu não
ter entendido muito a letra, mas fiz uma viagem muito
boa...sensação de liberdade, medo, emoção,
incerteza, alívio e recompensa...meu coração
acelerou...senti o vento no rosto também...uma
mistura de sentimentos...sobre qual direção tomar...”.
Presença dos efeitos de sentido (estésico na
imaginação; quinésico, em “meu coração
acelerou”; patêmico, em “senti o vento no rosto”),
do tímico (sujeito eufórico através de valores
positivos na sua viagem mental) e da isotopia da
liberdade (“voei”, “sensação de liberdade”).
8. Depoimentos dos discentes
Depoimento do discente II:
◦ “Tive a sensação de estar voando e visualizando do alto
todo o desenvolver do contexto da música... gostei, pois
me levou a pensar em inglês, imaginar coisas que nunca
tinha imaginado... as pernas (se moveram)... (na
lembrança imagens) de guerras, revoltas, protestos,
conflitos, lástimas (sentimentos) tristeza, tranquilidade,
afeto, compaixão e sede de liberdade (libertação).”
Efeitos de sentido (estésico, em “gostei...” quinésico,
em “as pernas se moveram” e patêmico, em
sentimentos) tristeza, tranquilidade, afeto, compaixão e
sede de liberdade (libertação) e “me levou a pensar em
inglês”), deslocamento mental espaço-temporal,
isotopia da liberdade (em “estar voando”) e timia
(euforia no “gostar” da música, disforia em “tristeza”, e
euforia em “tranquilidade...”).
9. Depoimentos dos discentes
Depoimento do discente III:
◦ “Me imaginei voando entre as nuvens, como se eu
tivesse asas, se formaram imagens do céu, as
palavras da música eram ditas sonoramente e me
acalmei...senti leveza, mesmo com a guitarra, o solo
e o tambor da música, senti calma ao escutá-la...
gostei da música pois ela é aconchegante e não
agride meus ouvidos...bom de escutar com olhos
fechados e deixar o pensamento fluir... meus braços
se moveram... senti liberdade e solidão”.
Efeitos de sentido (estese, em “bom escutar de
olhos fechados”, quinésico, em “meus braços se
moveram” e patêmico, em “senti liberdade”),
isotopia da liberdade (“voando”, “nuvens”, “céu”)
e timia (foria em “liberdade e solidão”).
10. Depoimentos dos discentes
Depoimento do discente IV:
◦ “Imagens circulares em um lugar parecido com o céu
nublado... uma sensação de contentamento...gostei.
O som muito legal e o tom da voz...os meus pés e
pernas se moveram...uma leve alegria e frustração”.
Efeitos de sentido (estésico, em “uma sensação
de contentamento”, quinésico, em “meus pés e
pernas se moveram” e patêmico, em “uma leve
alegria”), isotopia da circularidade (da vida?),
disjunção (não ter alguma coisa) espacial mental
(“um lugar parecido com o céu”) e modalidade
tímica (‘disforia’ em “céu nublado”, “frustração” e
‘euforia’ em “alegria”).
11. Depoimentos dos discentes
Depoimento do discente V:
◦ “Vi guitarras, palco, instrumentos
musicais...sensação de melancolia, o tom usado
na música...gostei, é aparentemente
tranquila...movimentei o meu pé...fiquei muito
apático...apesar de agitada me faz sentir certa
melancolia...nesta canção a voz do cantor me
parece estar entre o médio e o agudo,
acentuando ainda mais a sensação de
melancolia..”
Sinestesia (efeito visual das guitarras, dos
instrumentos), deslocamento mental, timia,
nível do parecer (em oposição da imanência,
em “é aparentemente tranquila”)...
12. Depoimentos dos discentes
Depoimento do discente VI:
◦ “Lembrei do comercial do cartão Visa e o restante foram só da
minha casa, porque está sem energia desde às 5:00h e meu
marido está só, ou seja, a maior parte foi de preocupação...eu só
lembrei das dificuldades que a minha família tem passado nesses
últimos dois meses, das dificuldades que eu estou tendo em
chegar até aqui, isto porque está sendo muito difícil ter que correr
todos os dias para pegar o ônibus, o medo de assaltos...acho
que é porque a música é triste...gostei da música, apesar desta
ser um pouco triste e mesmo não sabendo do que se trata o
assunto dela, eu gostei, me fez pensar um pouco na vida, é como
se fosse um incentivo para continuar lutando pela saúde do meu
Fernando e pela minha vida acadêmica...minhas mãos não
pararam, suaram bastante e minhas pernas balançaram
bastante, meus olhos se apertaram com força como se fosse de
resistência...tristeza...vontade de chorar”.
Sinestesia e deslocamento mental espacial (cartão Visa),
desprendimento parcial, temática dos problemas financeiros
(“ter que correr... pegar o ônibus”) e timia (eufórico X disfórico
em “saúde X doença”).
13. Conclusão
1) O rádio na sala de aula pode ser utilizado
de maneira didático-pedagógica e o projeto
English Through Music, levado á sala de aula
na UFOPA, torna-se um objeto modal para se
retirar da rotina aulas maçantes de língua
estrangeira.
2) A exposição dos alunos de Letras (2013) e
a análise dos fragmentos discursivos,
escritos por eles, mostram que a música é
um elemento de importante estímulo lúdico e
didático-pedagógico para um aprendizado
descontraído e reflexivo, no que tange à
apreensão dos significados.