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O RÁDIO NA SALA DE AULA: 
TIMIAS E SINESTESIAS POR 
MEIO DA MÚSICA 
Igor Iuri Dimitri-Nakamura 
Profº Drº Valdenildo dos Santos
Resumo 
 Resumo: A música tem o poder de desencadear efeitos de 
sentidos estésicos, quinésicos, patêmicos e sinestésicos. 
Esta comunicação, portanto, pretende mostrar esses efeitos, 
por meio da análise de um corpus composto por fragmentos 
discursivos selecionados dentre doze depoimentos de alunos 
do curso de Letras, Licenciatura em Inglês e Português, 
sobre as sensações e imagens desencadeadas ao ouvirem a 
canção de rock progressivo Time da banda inglesa Pink 
Floyd a que foram expostos, englobada do Programa de 
Rádio “English Through Music”, produzido e levado à sala de 
aula sob inspiração de PORCHAT (1993) e COSSANI (2011). 
A análise proposta tem o suporte de GREIMAS & COURTÉS 
(1979) e seus seguidores, como HÉBERT & EVERAERT-DESMEDT 
(2011) no que diz respeito ao aprofundamento 
das pesquisas em torno das modalidades tímicas. Para falar 
da música e seus efeitos conta-se com o apoio de TAME 
(1997), D’ÁVILA (1997) e POYATOS (1994). 
 Palavras-chave: Ensino; Música; Semiótica.
Introdução 
 Justificativa: música e efeitos de 
sentido 
 Pressuposto: efeitos e aula em LE 
 Objetivo Geral: rádio como instrumento 
didático-pedagógico 
 Fundamentação Teórica: 
◦ Na semiótica: GREIMAS & COURTÉS 
(1979) 
◦ Nas modalidades tímicas: HÉBERT & 
EVERAERT-DESMEDT (2011) 
◦ Nos efeitos de sentido: TAME (1997), 
D’ÁVILA (1997) e POYATOS (1994)
Fundamentação Teórica 
 UGO VOLLI (p. 182) defende que timia é conceito que define 
o nível profundo da articulação da substância do conteúdo, 
profundamente ligado à dimensão físico-corpórea. É a 
categoria que se articula na dupla opositiva euforia/disforia, 
como variação da dicotomia prazer/desprazer”. 
 D’ÁVILA (1997) afirma que a música tem o potencial para 
fazer encantar (efeito estésico), mexer (efeito quinésico) e 
complementar (efeito patêmico). 
 “Em cada ato de percepção não atua um único sentido, ou 
este sentido não se situa numa função única, mas nestas 
operações perceptivas atuam mais que um órgão do sentido” 
(SANTOS, 2013, p. 11). 
 HÉBERT & EVERAERT-DESMEDT (2011) propõem uma 
avaliação na categoria euforia X disforia em que se deve 
olhar: 1) o sujeito, 2) o objeto, 3) os valores tímicos atribuídos 
ao objeto, 4) a intensidade do valor, 5) o tempo da avaliação 
e 6) as transformações que podem afetar os elementos 
tímicos.
Breve descrição da música 
Time, de Pink Floyd 
 Percebe-se um sujeito que ao observar o “tic-tac” 
do ponteiro do relógio (Ticking away), reflete 
sobre as horas (the moments) que compõem 
(make up) um dia monótono (a dull day), reclama 
o gasto das horas (you fritter and waste the 
hours) de forma descontrolada (in a offhand) e 
exemplifica a situação de alguém entediado que 
perambula (Kicking around) num espaço 
reduzido de terra (on a piece of ground) de sua 
cidade natal (in your home town) à espera de 
alguém ou alguma coisa (Waiting for someone or 
something) que lhe mostre o caminho (to show 
you the way), pois espera que algo novo 
aconteça, rompendo-lhe a “vidinha” rotineira.
ESCALA TÍMICA SEGUNDO 
HÉBERT (2011) 
...podemos medir o nível das modalidades tímicas por 
meio de palavras ou expressões, ou números e 
porcentagens, numa perspectiva descritiva, prescritiva, 
comparativa ou relativa ou mesmo superlativa... 
A intensidade será representada por palavras ou 
expressões (ou mesmo números, como 40%, etc.). 
Pode ser: descriptiva (baixo, normal, alto, por exemplo) ou 
prescritiva (não suficiente, suficiente, muito, por exemplo); 
comparativa or relativa (menos que, tanto quanto, mais 
que); ou superlativa (a menos, a mais). comparativa ou 
relativa (menos que, tanto quanto, mais que); 
(HÉRBERT & EVERAERT-DESMEDT, 2011, p. 107)
Depoimentos dos discentes 
 Depoimento do discente I: 
“Eu voei. Vi um campo com flores amarelas. Me vi 
vestida de branco...gostei muito...apesar de eu não 
ter entendido muito a letra, mas fiz uma viagem muito 
boa...sensação de liberdade, medo, emoção, 
incerteza, alívio e recompensa...meu coração 
acelerou...senti o vento no rosto também...uma 
mistura de sentimentos...sobre qual direção tomar...”. 
 Presença dos efeitos de sentido (estésico na 
imaginação; quinésico, em “meu coração 
acelerou”; patêmico, em “senti o vento no rosto”), 
do tímico (sujeito eufórico através de valores 
positivos na sua viagem mental) e da isotopia da 
liberdade (“voei”, “sensação de liberdade”).
Depoimentos dos discentes 
 Depoimento do discente II: 
◦ “Tive a sensação de estar voando e visualizando do alto 
todo o desenvolver do contexto da música... gostei, pois 
me levou a pensar em inglês, imaginar coisas que nunca 
tinha imaginado... as pernas (se moveram)... (na 
lembrança imagens) de guerras, revoltas, protestos, 
conflitos, lástimas (sentimentos) tristeza, tranquilidade, 
afeto, compaixão e sede de liberdade (libertação).” 
 Efeitos de sentido (estésico, em “gostei...” quinésico, 
em “as pernas se moveram” e patêmico, em 
sentimentos) tristeza, tranquilidade, afeto, compaixão e 
sede de liberdade (libertação) e “me levou a pensar em 
inglês”), deslocamento mental espaço-temporal, 
isotopia da liberdade (em “estar voando”) e timia 
(euforia no “gostar” da música, disforia em “tristeza”, e 
euforia em “tranquilidade...”).
Depoimentos dos discentes 
 Depoimento do discente III: 
◦ “Me imaginei voando entre as nuvens, como se eu 
tivesse asas, se formaram imagens do céu, as 
palavras da música eram ditas sonoramente e me 
acalmei...senti leveza, mesmo com a guitarra, o solo 
e o tambor da música, senti calma ao escutá-la... 
gostei da música pois ela é aconchegante e não 
agride meus ouvidos...bom de escutar com olhos 
fechados e deixar o pensamento fluir... meus braços 
se moveram... senti liberdade e solidão”. 
 Efeitos de sentido (estese, em “bom escutar de 
olhos fechados”, quinésico, em “meus braços se 
moveram” e patêmico, em “senti liberdade”), 
isotopia da liberdade (“voando”, “nuvens”, “céu”) 
e timia (foria em “liberdade e solidão”).
Depoimentos dos discentes 
 Depoimento do discente IV: 
◦ “Imagens circulares em um lugar parecido com o céu 
nublado... uma sensação de contentamento...gostei. 
O som muito legal e o tom da voz...os meus pés e 
pernas se moveram...uma leve alegria e frustração”. 
 Efeitos de sentido (estésico, em “uma sensação 
de contentamento”, quinésico, em “meus pés e 
pernas se moveram” e patêmico, em “uma leve 
alegria”), isotopia da circularidade (da vida?), 
disjunção (não ter alguma coisa) espacial mental 
(“um lugar parecido com o céu”) e modalidade 
tímica (‘disforia’ em “céu nublado”, “frustração” e 
‘euforia’ em “alegria”).
Depoimentos dos discentes 
 Depoimento do discente V: 
◦ “Vi guitarras, palco, instrumentos 
musicais...sensação de melancolia, o tom usado 
na música...gostei, é aparentemente 
tranquila...movimentei o meu pé...fiquei muito 
apático...apesar de agitada me faz sentir certa 
melancolia...nesta canção a voz do cantor me 
parece estar entre o médio e o agudo, 
acentuando ainda mais a sensação de 
melancolia..” 
 Sinestesia (efeito visual das guitarras, dos 
instrumentos), deslocamento mental, timia, 
nível do parecer (em oposição da imanência, 
em “é aparentemente tranquila”)...
Depoimentos dos discentes 
 Depoimento do discente VI: 
◦ “Lembrei do comercial do cartão Visa e o restante foram só da 
minha casa, porque está sem energia desde às 5:00h e meu 
marido está só, ou seja, a maior parte foi de preocupação...eu só 
lembrei das dificuldades que a minha família tem passado nesses 
últimos dois meses, das dificuldades que eu estou tendo em 
chegar até aqui, isto porque está sendo muito difícil ter que correr 
todos os dias para pegar o ônibus, o medo de assaltos...acho 
que é porque a música é triste...gostei da música, apesar desta 
ser um pouco triste e mesmo não sabendo do que se trata o 
assunto dela, eu gostei, me fez pensar um pouco na vida, é como 
se fosse um incentivo para continuar lutando pela saúde do meu 
Fernando e pela minha vida acadêmica...minhas mãos não 
pararam, suaram bastante e minhas pernas balançaram 
bastante, meus olhos se apertaram com força como se fosse de 
resistência...tristeza...vontade de chorar”. 
 Sinestesia e deslocamento mental espacial (cartão Visa), 
desprendimento parcial, temática dos problemas financeiros 
(“ter que correr... pegar o ônibus”) e timia (eufórico X disfórico 
em “saúde X doença”).
Conclusão 
 1) O rádio na sala de aula pode ser utilizado 
de maneira didático-pedagógica e o projeto 
English Through Music, levado á sala de aula 
na UFOPA, torna-se um objeto modal para se 
retirar da rotina aulas maçantes de língua 
estrangeira. 
 2) A exposição dos alunos de Letras (2013) e 
a análise dos fragmentos discursivos, 
escritos por eles, mostram que a música é 
um elemento de importante estímulo lúdico e 
didático-pedagógico para um aprendizado 
descontraído e reflexivo, no que tange à 
apreensão dos significados.
BIBLIOGRAFIA 
AZAR, Betty Schrampfer. Understanding and Using English Grammar. Second Edition, Volume B. Prentice Hall 
Rengents, New Jersey, 1989. 
CONSANI, M. Como usar o Rádio na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2010. 
DUCKWORTH, Michael. Essential Business Grammar & Practice Elementary to Pre-Intermediate. Oxford, New York, 
2006. 
D’ÁVILA, N. R. Semiótica Musical e Sincrética no Marketing. XI Congresso da ANPOLL. Interferentes Ocasionais, 
1997, Unicamp, Campinas, p. 461-466. 
FARFAX, The Free Dictionary Online: Dictionary, Encyclopedia and Thesaurus. Disponível em: 
http://www.thefreedictionary.com/ 
GREIMAS, Algirdas Julien e COURTÉS, Joseph. Dicionário de Semiótica. Trad. Editora Cultrix. São Paulo, 1979. 
_____ Semiótica, DICCIONARIO Razonado de La Teoría del Lenguaje. Versión española de Enrique Ballon Aguirre. 
Editora Gredos, Madrid, 1991. 
_____Dicionário de Semiótica. Trad. 2. Ed., 1ª reimpressão. – São Paulo, Contexto, 2012. 
_____De la imperfección. Trad. Raúl Dorra. Universidade Autînima de Puebla. Mexico, 1990 
HÉBERT, Louis & EVERAERT-DESMEDT, Nicole. Tools for Text and Image Analysis An Introduction to Applied 
Semiotics. Trad. Do Francês de JulieTabler. Louis Hébert © 2011, versión. 
http://www.signosemio.com/documents/Louis-Hebert-Tools-for-Texts-and-Images.pdf. 
MURPHY, Raymond. Essential Grammar in Use. A self-study reference and practice book for elementary students of 
English. Second Edition. Cambridge, New York, 1997. 
PORCHAT, M. E. Manual de radiojornalismo Jovem Pan. 3ª ed. Ática: São Paulo, 1993. 
POYATOS, Fernando. La Comunicación no verbal I. Cultura, lenguaje y conversación. Ediciones Istmo. Madrid. 
Espanha, 1994. 
_____La Comunicación no verbal II. Paralenguaje, Kinésica e Interacción.Ediciones Istmo. Madrid. Espanha, 1994. 
SANTOS, V. Amor Eros, As Chamas da Paixão. Editora Jireh. Bauru, São Paulo, 1997. 
______. Os Sons do Silêncio. In Anais do GEL, Grupo de Estudos linguísticos de São Paulo, São Paulo, USP, 2002. 
http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/31/htm/comunica/Cii33d.htm 
______. English Through Music: Time by Pink Floyd. In série de programas radiofônicos, arquivo eletrônico UFOPA, 
Santarém, Pará, 2011-2013. Gravação em junho de 2012. 
STAGEBERG, Norman, C. An Introductory English Grammar.Fourth Edition.Holt, Rinehart and Winston, New York, 
1981. 
VOLLI, Ugo. Manual de semiótica. São Paulo: Loyola, 2007.

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  • 1. O RÁDIO NA SALA DE AULA: TIMIAS E SINESTESIAS POR MEIO DA MÚSICA Igor Iuri Dimitri-Nakamura Profº Drº Valdenildo dos Santos
  • 2. Resumo  Resumo: A música tem o poder de desencadear efeitos de sentidos estésicos, quinésicos, patêmicos e sinestésicos. Esta comunicação, portanto, pretende mostrar esses efeitos, por meio da análise de um corpus composto por fragmentos discursivos selecionados dentre doze depoimentos de alunos do curso de Letras, Licenciatura em Inglês e Português, sobre as sensações e imagens desencadeadas ao ouvirem a canção de rock progressivo Time da banda inglesa Pink Floyd a que foram expostos, englobada do Programa de Rádio “English Through Music”, produzido e levado à sala de aula sob inspiração de PORCHAT (1993) e COSSANI (2011). A análise proposta tem o suporte de GREIMAS & COURTÉS (1979) e seus seguidores, como HÉBERT & EVERAERT-DESMEDT (2011) no que diz respeito ao aprofundamento das pesquisas em torno das modalidades tímicas. Para falar da música e seus efeitos conta-se com o apoio de TAME (1997), D’ÁVILA (1997) e POYATOS (1994).  Palavras-chave: Ensino; Música; Semiótica.
  • 3. Introdução  Justificativa: música e efeitos de sentido  Pressuposto: efeitos e aula em LE  Objetivo Geral: rádio como instrumento didático-pedagógico  Fundamentação Teórica: ◦ Na semiótica: GREIMAS & COURTÉS (1979) ◦ Nas modalidades tímicas: HÉBERT & EVERAERT-DESMEDT (2011) ◦ Nos efeitos de sentido: TAME (1997), D’ÁVILA (1997) e POYATOS (1994)
  • 4. Fundamentação Teórica  UGO VOLLI (p. 182) defende que timia é conceito que define o nível profundo da articulação da substância do conteúdo, profundamente ligado à dimensão físico-corpórea. É a categoria que se articula na dupla opositiva euforia/disforia, como variação da dicotomia prazer/desprazer”.  D’ÁVILA (1997) afirma que a música tem o potencial para fazer encantar (efeito estésico), mexer (efeito quinésico) e complementar (efeito patêmico).  “Em cada ato de percepção não atua um único sentido, ou este sentido não se situa numa função única, mas nestas operações perceptivas atuam mais que um órgão do sentido” (SANTOS, 2013, p. 11).  HÉBERT & EVERAERT-DESMEDT (2011) propõem uma avaliação na categoria euforia X disforia em que se deve olhar: 1) o sujeito, 2) o objeto, 3) os valores tímicos atribuídos ao objeto, 4) a intensidade do valor, 5) o tempo da avaliação e 6) as transformações que podem afetar os elementos tímicos.
  • 5. Breve descrição da música Time, de Pink Floyd  Percebe-se um sujeito que ao observar o “tic-tac” do ponteiro do relógio (Ticking away), reflete sobre as horas (the moments) que compõem (make up) um dia monótono (a dull day), reclama o gasto das horas (you fritter and waste the hours) de forma descontrolada (in a offhand) e exemplifica a situação de alguém entediado que perambula (Kicking around) num espaço reduzido de terra (on a piece of ground) de sua cidade natal (in your home town) à espera de alguém ou alguma coisa (Waiting for someone or something) que lhe mostre o caminho (to show you the way), pois espera que algo novo aconteça, rompendo-lhe a “vidinha” rotineira.
  • 6. ESCALA TÍMICA SEGUNDO HÉBERT (2011) ...podemos medir o nível das modalidades tímicas por meio de palavras ou expressões, ou números e porcentagens, numa perspectiva descritiva, prescritiva, comparativa ou relativa ou mesmo superlativa... A intensidade será representada por palavras ou expressões (ou mesmo números, como 40%, etc.). Pode ser: descriptiva (baixo, normal, alto, por exemplo) ou prescritiva (não suficiente, suficiente, muito, por exemplo); comparativa or relativa (menos que, tanto quanto, mais que); ou superlativa (a menos, a mais). comparativa ou relativa (menos que, tanto quanto, mais que); (HÉRBERT & EVERAERT-DESMEDT, 2011, p. 107)
  • 7. Depoimentos dos discentes  Depoimento do discente I: “Eu voei. Vi um campo com flores amarelas. Me vi vestida de branco...gostei muito...apesar de eu não ter entendido muito a letra, mas fiz uma viagem muito boa...sensação de liberdade, medo, emoção, incerteza, alívio e recompensa...meu coração acelerou...senti o vento no rosto também...uma mistura de sentimentos...sobre qual direção tomar...”.  Presença dos efeitos de sentido (estésico na imaginação; quinésico, em “meu coração acelerou”; patêmico, em “senti o vento no rosto”), do tímico (sujeito eufórico através de valores positivos na sua viagem mental) e da isotopia da liberdade (“voei”, “sensação de liberdade”).
  • 8. Depoimentos dos discentes  Depoimento do discente II: ◦ “Tive a sensação de estar voando e visualizando do alto todo o desenvolver do contexto da música... gostei, pois me levou a pensar em inglês, imaginar coisas que nunca tinha imaginado... as pernas (se moveram)... (na lembrança imagens) de guerras, revoltas, protestos, conflitos, lástimas (sentimentos) tristeza, tranquilidade, afeto, compaixão e sede de liberdade (libertação).”  Efeitos de sentido (estésico, em “gostei...” quinésico, em “as pernas se moveram” e patêmico, em sentimentos) tristeza, tranquilidade, afeto, compaixão e sede de liberdade (libertação) e “me levou a pensar em inglês”), deslocamento mental espaço-temporal, isotopia da liberdade (em “estar voando”) e timia (euforia no “gostar” da música, disforia em “tristeza”, e euforia em “tranquilidade...”).
  • 9. Depoimentos dos discentes  Depoimento do discente III: ◦ “Me imaginei voando entre as nuvens, como se eu tivesse asas, se formaram imagens do céu, as palavras da música eram ditas sonoramente e me acalmei...senti leveza, mesmo com a guitarra, o solo e o tambor da música, senti calma ao escutá-la... gostei da música pois ela é aconchegante e não agride meus ouvidos...bom de escutar com olhos fechados e deixar o pensamento fluir... meus braços se moveram... senti liberdade e solidão”.  Efeitos de sentido (estese, em “bom escutar de olhos fechados”, quinésico, em “meus braços se moveram” e patêmico, em “senti liberdade”), isotopia da liberdade (“voando”, “nuvens”, “céu”) e timia (foria em “liberdade e solidão”).
  • 10. Depoimentos dos discentes  Depoimento do discente IV: ◦ “Imagens circulares em um lugar parecido com o céu nublado... uma sensação de contentamento...gostei. O som muito legal e o tom da voz...os meus pés e pernas se moveram...uma leve alegria e frustração”.  Efeitos de sentido (estésico, em “uma sensação de contentamento”, quinésico, em “meus pés e pernas se moveram” e patêmico, em “uma leve alegria”), isotopia da circularidade (da vida?), disjunção (não ter alguma coisa) espacial mental (“um lugar parecido com o céu”) e modalidade tímica (‘disforia’ em “céu nublado”, “frustração” e ‘euforia’ em “alegria”).
  • 11. Depoimentos dos discentes  Depoimento do discente V: ◦ “Vi guitarras, palco, instrumentos musicais...sensação de melancolia, o tom usado na música...gostei, é aparentemente tranquila...movimentei o meu pé...fiquei muito apático...apesar de agitada me faz sentir certa melancolia...nesta canção a voz do cantor me parece estar entre o médio e o agudo, acentuando ainda mais a sensação de melancolia..”  Sinestesia (efeito visual das guitarras, dos instrumentos), deslocamento mental, timia, nível do parecer (em oposição da imanência, em “é aparentemente tranquila”)...
  • 12. Depoimentos dos discentes  Depoimento do discente VI: ◦ “Lembrei do comercial do cartão Visa e o restante foram só da minha casa, porque está sem energia desde às 5:00h e meu marido está só, ou seja, a maior parte foi de preocupação...eu só lembrei das dificuldades que a minha família tem passado nesses últimos dois meses, das dificuldades que eu estou tendo em chegar até aqui, isto porque está sendo muito difícil ter que correr todos os dias para pegar o ônibus, o medo de assaltos...acho que é porque a música é triste...gostei da música, apesar desta ser um pouco triste e mesmo não sabendo do que se trata o assunto dela, eu gostei, me fez pensar um pouco na vida, é como se fosse um incentivo para continuar lutando pela saúde do meu Fernando e pela minha vida acadêmica...minhas mãos não pararam, suaram bastante e minhas pernas balançaram bastante, meus olhos se apertaram com força como se fosse de resistência...tristeza...vontade de chorar”.  Sinestesia e deslocamento mental espacial (cartão Visa), desprendimento parcial, temática dos problemas financeiros (“ter que correr... pegar o ônibus”) e timia (eufórico X disfórico em “saúde X doença”).
  • 13. Conclusão  1) O rádio na sala de aula pode ser utilizado de maneira didático-pedagógica e o projeto English Through Music, levado á sala de aula na UFOPA, torna-se um objeto modal para se retirar da rotina aulas maçantes de língua estrangeira.  2) A exposição dos alunos de Letras (2013) e a análise dos fragmentos discursivos, escritos por eles, mostram que a música é um elemento de importante estímulo lúdico e didático-pedagógico para um aprendizado descontraído e reflexivo, no que tange à apreensão dos significados.
  • 14. BIBLIOGRAFIA AZAR, Betty Schrampfer. Understanding and Using English Grammar. Second Edition, Volume B. Prentice Hall Rengents, New Jersey, 1989. CONSANI, M. Como usar o Rádio na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2010. DUCKWORTH, Michael. Essential Business Grammar & Practice Elementary to Pre-Intermediate. Oxford, New York, 2006. D’ÁVILA, N. R. Semiótica Musical e Sincrética no Marketing. XI Congresso da ANPOLL. Interferentes Ocasionais, 1997, Unicamp, Campinas, p. 461-466. FARFAX, The Free Dictionary Online: Dictionary, Encyclopedia and Thesaurus. Disponível em: http://www.thefreedictionary.com/ GREIMAS, Algirdas Julien e COURTÉS, Joseph. Dicionário de Semiótica. Trad. Editora Cultrix. São Paulo, 1979. _____ Semiótica, DICCIONARIO Razonado de La Teoría del Lenguaje. Versión española de Enrique Ballon Aguirre. Editora Gredos, Madrid, 1991. _____Dicionário de Semiótica. Trad. 2. Ed., 1ª reimpressão. – São Paulo, Contexto, 2012. _____De la imperfección. Trad. Raúl Dorra. Universidade Autînima de Puebla. Mexico, 1990 HÉBERT, Louis & EVERAERT-DESMEDT, Nicole. Tools for Text and Image Analysis An Introduction to Applied Semiotics. Trad. Do Francês de JulieTabler. Louis Hébert © 2011, versión. http://www.signosemio.com/documents/Louis-Hebert-Tools-for-Texts-and-Images.pdf. MURPHY, Raymond. Essential Grammar in Use. A self-study reference and practice book for elementary students of English. Second Edition. Cambridge, New York, 1997. PORCHAT, M. E. Manual de radiojornalismo Jovem Pan. 3ª ed. Ática: São Paulo, 1993. POYATOS, Fernando. La Comunicación no verbal I. Cultura, lenguaje y conversación. Ediciones Istmo. Madrid. Espanha, 1994. _____La Comunicación no verbal II. Paralenguaje, Kinésica e Interacción.Ediciones Istmo. Madrid. Espanha, 1994. SANTOS, V. Amor Eros, As Chamas da Paixão. Editora Jireh. Bauru, São Paulo, 1997. ______. Os Sons do Silêncio. In Anais do GEL, Grupo de Estudos linguísticos de São Paulo, São Paulo, USP, 2002. http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/31/htm/comunica/Cii33d.htm ______. English Through Music: Time by Pink Floyd. In série de programas radiofônicos, arquivo eletrônico UFOPA, Santarém, Pará, 2011-2013. Gravação em junho de 2012. STAGEBERG, Norman, C. An Introductory English Grammar.Fourth Edition.Holt, Rinehart and Winston, New York, 1981. VOLLI, Ugo. Manual de semiótica. São Paulo: Loyola, 2007.