O documento descreve a história de César Príncipe, um militante comunista português de longa data. Apesar de ter nascido em uma família rica, ele se tornou comunista após testemunhar sua aldeia natal ser inundada para a construção de uma barragem. Ao longo da vida, César manteve laços com ambos os lados da ditadura de Salazar, usando seu status para ajudar a causa comunista enquanto desviava suspeitas da polícia política.
Trata-se de um assunto pouco conhecido sobre uma jovem algarvia, originária da distinta família dos Barretos, que pontificou na corte portuguesa nos finais do século XVI, no período de transição da perda da nacionalidade para a dominação filipina, cuja descendência foi também eminente na vizinha Espanha.
Sendo considerada uma das mais belas mulheres do seu tempo, não admira que por ela se tenha apaixonado o poeta Luís de Camões, que terá glosado, a seu pedido, uma frase com diferentes sentidos, não só amorosos como também sociais.
Faro foi a única cidade de província a dar cobertura e apoio ao movimento futurista liderado por Fernando Pessoa, Mário Sá-Carneiro e Almada Negreiros. É esse o principal aspecto focado nesta comunicação, para além de ser lembrado que Fernando Pessoa viveu em Tavira, em casa de sua tia cujo imóvel bem merecia a colocação de uma placa evocativa da passagem pelo Algarve de um dos maiores poetas da cultura portuguesa. Será igualmente analisado o papel do semanário «O Heraldo», dirigido pelo pintor Lyster Franco na cidade de Faro e recordada a colaboração do artista Carlos Porfírio, director da revista «Portugal Futurista», de Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Sá-Carneiro e de vários outros jovens algarvios. De salientar que o último sobrevivente do Movimento Futurista Português foi um algarvio, o Dr. Mário Lyster Franco, falecido em 1984.
Trata-se de um assunto pouco conhecido sobre uma jovem algarvia, originária da distinta família dos Barretos, que pontificou na corte portuguesa nos finais do século XVI, no período de transição da perda da nacionalidade para a dominação filipina, cuja descendência foi também eminente na vizinha Espanha.
Sendo considerada uma das mais belas mulheres do seu tempo, não admira que por ela se tenha apaixonado o poeta Luís de Camões, que terá glosado, a seu pedido, uma frase com diferentes sentidos, não só amorosos como também sociais.
Faro foi a única cidade de província a dar cobertura e apoio ao movimento futurista liderado por Fernando Pessoa, Mário Sá-Carneiro e Almada Negreiros. É esse o principal aspecto focado nesta comunicação, para além de ser lembrado que Fernando Pessoa viveu em Tavira, em casa de sua tia cujo imóvel bem merecia a colocação de uma placa evocativa da passagem pelo Algarve de um dos maiores poetas da cultura portuguesa. Será igualmente analisado o papel do semanário «O Heraldo», dirigido pelo pintor Lyster Franco na cidade de Faro e recordada a colaboração do artista Carlos Porfírio, director da revista «Portugal Futurista», de Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Sá-Carneiro e de vários outros jovens algarvios. De salientar que o último sobrevivente do Movimento Futurista Português foi um algarvio, o Dr. Mário Lyster Franco, falecido em 1984.
O livro Guerra do Contestado resgata a história da Revolta Cabocla no sertão contestado entre os Estados do Paraná e Santa Catarina, trazendo a tona verdades que permeneceram ocultas por décadas.
Em defesa da sustentabilidade do rio Tejo - PSD CDS Junho 2015Paulo Matos
Projeto de Resolução 1537/XII
Em defesa da sustentabilidade do rio Tejo [formato DOC] [formato PDF]
Autoria
Duarte Marques (PSD) , Filipe Lobo D' Ávila (CDS-PP) , Nuno Serra (PSD) , Isilda Aguincha (PSD) , Carina Oliveira (PSD) , José de Matos Rosa (PSD) , Carlos Costa Neves (PSD) , Pedro do ó Ramos (PSD) , Carlos São Martinho (PSD) , Michael Seufert (CDS-PP) , Odete Silva (PSD) , Nuno Encarnação (PSD) , Ulisses Pereira (PSD) , Bruno Coimbra (PSD) , Cristóvão Crespo (PSD) , João Serpa Oliva (CDS-PP)
PSD, CDS-PP
Sócrates foi contra a lei do enriquecimento ilícitoPaulo Matos
O ex-primeiro-ministro foi contra uma proposta do PSD para criminalizar o enriquecimento ilícito por considerar que invertia o ónus da prova. A proposta partiu da então presidente dos sociais-democratas Manuela Ferreira Leite, em 2009, como um sinal à sociedade de combate à corrupção. Num debate no Parlamento, Paulo Rangel questionou directamente José Sócrates sobre a proposta. Actualmente, os deputados do PSD e do PS, que estão há meses a trabalhar num texto comum para agravar as penas nos crimes contra a corrupção, garantem que o processo vai mesmo avançar, independentemente do caso Sócrates. Desde o Verão que PSD e PS tentam entender-se sobre um texto comum para alterar as leis anticorrupção, mas até aqui não conseguiram.
Reuniao executivo camara 06_11_2013 fora ordem Saul Pereira
O principe dos comunistas
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O príncipe dos
COMUNISTAS
É um dos militantes mais antigos do PÇP É uma espécie rara de capitalista
E uma estirpe raríssima de comunista É as duas coisas É da casta comunista
que na ditadura transportava o Avante e a propaganda subversiva na mala
do seu Jaguar topo de gama Pensando bem é isso que ele é um comunista
topo de gama que viaja de Bentley na imensidão do proletariado
Até o seu nome mistura dois mundos César Príncipe
TEXTO DE LUÍS PEDRO CABRAL FOTOGRAFIAS DE RUI DUARTE SILVA
Década de 80 O Partido Comu
nista Português convocara uma
jornada de luta no Terreiro do
Paço Pela hora de almoço as ruas
estavam cheias de pessoas que
escorriam de camionetas vin
das de todos os pontos do país A
meio da tarde eram já uma massa
densa preparando os adereços da
contestação afinando as vozes à
cadência de discursos exultantes
ampliados ao megafone Havia
tensão no ar agitação frenética
A dispersão congregava se desor
denadamente E a manif atingia
o seu grau ideal de ebulição A voz
uníssona da imensa classe ope
rária preparava se para marchar
mais uma vez contra o poder con
tra as elites os ricos os explorado
res o capital
Eis que irrompe por entre a
multidão um imponente Rolls Roy
ce que tinha a bordo um indivíduo
com uma certa pose aristocrática
impecavelmente vestido embora
casual abrindo descaradamente
caminho com as janelas escancara
das Se naquele momento aterrasse
no Terreiro do Paço uma nave es
pacial de fabrico soviético causa
ria menos espanto Muitos dos que
ali estavam já tinham visto multa
coisa mas nunca um Rolls Royce
tão nobre exemplar do imaginário
coletivo símbolo de tudo contra o
que eles lutavam
Foi necessário algum tempo
para se digerir esta visão do apoca
lipse proletário a abrir alas no povo
como um fecho éclair O condutor
acenava e sorria Pedia licença bu
zinando ao de leve Que extrava
gância vinha a ser esta A utopia
tinha descido à terra para provocar
a malta Ninguém sabia O povo é
sereno mas não convém exagerar
Na verdade só o espanto
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2. mantinha aquele cenário intac
to Mas a reação não tardou De
repente a populaça fechou se
sobre o Rolls Royce como se o
quisesse rasurar Uns erguiam a
voz outros começavam a testar
os amortecedores do carro E o
condutor avançando cada vez
mais devagar começou a ver a
vida a andar para trás
Por entre a multidão chegou
um dirigente do partido que disse
Eh pá é o camarada Príncipe É o
camarada Príncipe Era o cama
rada César Príncipe militante de
base desde que o PCP é partido
comunista desde que nasceu
camarada vinOha do Porto
Atrasou se um bocado porque
parou para almoçar Não chegou a
tempo de evitar esta entrada que
por momentos parecia ser trágica
mas acabou triunfal De geração
espontânea começou a entoar se
Assim se vê a força do PC Assim
se vê a força do PC
Senhoras e senhores César
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Informação Geral
Príncipe um comunista etnográfi
co que passeia descontraidamen
te por entre estratos envergan
do todos os clichés da burguesia
transformou se num histórico do
Partido Comunista Português sen
do dele uma antítese aparente Ou
apenas a prova de que as aparên
cias iludem
A LUTA CONTINUA
Entre um apelido que se transfor
mou em título imperial e um títu
lo real transformado em apelido
o seu nome de batismo encerra
desde logo uma contradição César
Príncipe nasceu em plena ditadu
ra em berço de lavradores abasta
dos com fortuna hereditária e um
bom quinhão de território para os
lados de Braga
Exatamente para esses lados
a poderosa Central Elétrica uma
extensão ideológica da indústria
made in Estado Novo tinha planos
para um ponto concreto no mapa
de Portugal continental Alguém
num gabinete centralista de Lis
boa havia desenhado uma circun
ferência no Minho sobre a aldeia
de Vilar da Veiga Do ponto de vista
hidrográfico Vilar da Veiga era
uma espécie de ponto de exclama
ção a interromper objetivamente
o caudal do progresso Naquela al
deia distante perdida nos confins
da interioridade tinha nascido o
menino César Príncipe um impe
rador nascido num principado de
família desde sempre o mais bem
vestido das redondezas
Nem mesmo na mente pro
digiosa de uma criança era pos
sível imaginar que o progresso ia
entrar em obras no seu mundo
rural habitado por uma identi
dade própria Foi essa identidade
que me formou como comunista
pois eu cresci no seu estado puro
conta César Príncipe É por isso
que se define como um comunista
etnográfico Um comunista bio
lógico redefine A aldeia como
César Príncipe a recorda tinha
forno eira lagar e vida comuni
tária Tinha a sua identidade bem
vincada os seus rituais personali
zados a caricatura de um pequeno
exército com armas rudimentares
e até uma espécie de religião pa
ralela Tema delicado pois a sua
família era da intimidade de Dom
António Bento Martins Júnior ar
cebispo de Braga César Príncipe
também esteve na fornalha para
a ecclesia não se tivessem oposto
os caminhos ínvios das letras das
artes e de outras coisas que ele
não dispensava
Quando os pequenos dita
dores do Estado Novo ali chega
ram acompanhados pela Guarda
Nacional Republicana para lhes
falar de um desígnio nacional os
da aldeia desconfiaram E tinham
razões para isso A Central Elétrica
apresentou se como um deus mi
sericordioso que tinha para lhes
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3. oferecer uma vida nova a troco
da sua Já se sabe como são estas
coisas das lutas desiguais Quando
o regime abdicou das subtilezas
os pedidos transformaram se em
ordens E a aldeia transformou se
numa milícia prestes a defender a
sua causa contra uma causa maior
A aldeia que na altura não tinha
mais de mil habitantes decidiu
interpor um processo judicial para
travar o destino da barragem da
Caniçada Foi como se David se
submetesse à apreciação de um
coletivo de Golias
César Príncipe era criança
quando decorreu este processo
Não acompanhou a luta até ao
fim porque entretanto os pais o
tinham colocado num colégio in
terno na cidade dos arcebispos
Onde ele estava em 1954 quando
lhe comunicaram que a sua aldeia
estava submersa Tinha na altu
ra 9 anos Imagine a dureza deste
golpe Tão profundo que César
Príncipe nunca recuperou dele E
eis como uma aldeia e uma Cen
tral Elétrica forjaram uma estirpe
raríssima de comunista primeiro
biológico depois ideológico Afor
tuna de família a propriedade e
alguns adereços que o capitalismo
lhe tinham para oferecer nunca o
impediram de querer o que quer
qualquer comunista pelas mes
míssimas razões
A sua aparência cai mais para
a direita conservadora do que para
a esquerda revolucionária A sua
condição aponta mais para a bur
guesia do que para o povo César
Príncipe sabe disso E não tem
qualquer objeção de consciência
Sou desprendido destas questões
Para ele sempre foi de César o que
era de César Nunca deixou que o
seu capitalismo material atrapa
lhasse o seu comunismo estrutu
ral Entre uma e a outra reside o
pilar da sua dialética interna o fac
to de ter o que outros não têm não
implica que ele não queira para
os outros o mesmo que ele tem E
nunca confundiu a distribuição de
riqueza com a sua criação
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Já agora Se todos os capita
listas do mundo distribuírem os
seus bens eu não me importo de
fazer o mesmo Quanto a isto não
é preciso ser comunista para saber
que a luta continua
TOMAR CHÁ NA SITUAÇÃO
Quando submergiram a sua aldeia
muitos sonhos de criança submer
giram com ela A família mudou
se para outra propriedade mais
próxima de Braga Mas era como
se tivesse mudado para outro pla
neta Quando saiu do colégio in
terno César Príncipe continuou os
estudos em Braga aprofundando
os conhecimentos específicos da
cidade e dos seus segredos E foi
durante este tempo quando ele
tinha 18 19 anos que refinou a
sua arte de estar em dois mundos
com a mesma naturalidade Tanto
frequentava os locais da situação
como da subversão Tanto tomava
um chá com os apaniguados de
Salazar que era visita frequente
num café da cidade como bebia
um tintol ao lusco fusco de um
estabelecimento mal afamado
na companhia de intelectuais es
tudantes artistas e outra maralha
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que a PIDE tinha debaixo de olho
Vistas bem as coisas muitas
nunca vezes César Príncipe —que
abdicou de vestir corte clássico
mais estilizado —destoava muito
nas tertúlias conspirativas do que
nas sucursais do regime Utilizava
a sua realidade como um disfarce
É provável que isto me tenha sal
vo a pele muitas vezes
A sua pose aristocrata o nome
e as relações da família a osten
tação de um certo poder ineren
te à ordem das coisas causavam
evidentes pruridos aos agentes
da polícia política e conferiam ao
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4. jovem César Príncipe imunidade
tática que lhe permitiam ter um
pé no regime e a alma no contra A
PIDE não achava verosímil que um
homem desta casta andasse envol
vido em atividades subversivas
As células comunistas de Braga
desconfiavam do mesmo Ambos
tinham suspeitas infundadas Exa
tamente por essas razões Príncipe
tinha de ser mais clandestino que
os outros à paisana na evidência
A células de Braga terão che
gado à conclusão que César Prín
cipe era mesmo um organismo
resistente Com armas invulgares
dada a sua posição que bem uti
lizadas se tornariam muito úteis
Em 1964 surgiram os primeiros
contactos formais digamos assim
com a resistência Sempre com
Príncipe subtilezas —recorda
Foi como se a plebe fosse recrutar
um elemento à nobreza Por es
tranho que pareça fui convidado
a aderir à causa em duas ocasiões
uma por um trolha Outra por um
construtor civil acrescenta
Por temer tratar se de uma
artimanha da PIDE o camarada
Príncipe preferiu ficar como esta
va Um pouco mais tarde o cons
trutor civil havia de provar sem
margem para dúvidas que o seu
convite era leal E César Príncipe
formalizou a sua adesão aos co
munistas Vínculo perpétuo Prín
cipe tem hoje 72 anos E não tem
intenção de mudar Afastar me
do PCP era afastar me de mim e
da minha aldeia É por isso e não
só que continua ligado ao parti
do continuando a escrever para o
jornal Avante e para a revista O
Militante órgãos oficiais do PCP
ABENÇOADO JAGUAR
Na juventude em Braga o distin
to camarada fazia o que podia na
Luta Remava contra a maré utili
zando o seu livre trânsito no iate
do Estado Novo Certa vez César
Príncipe foi convidado a discur
sar num hotel dos arredores da
cidade Era um comício disfarçado
de colóquio sobre literatura uma
das suas paixões Na assistência
estavam dois agentes da PIDE tão
discretos como um Rolls Royce
numa manifestação Na circuns
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tância Príncipe não se conteve
Falei dos pobres das colónias da
independência da cultura e das
artes Tocou nas teclas certas to
cando nas teclas erradas
Nem 48 horas depois a PIDE
foi à sua procura na quinta dos
pais Avisaram me a tempo e eu
fugi Corri até casa de um vizinho
troquei de roupa e chamei um táxi
Passei por eles calmamente Os
agentes nem notaram que esta foi
das raras vezes que César Príncipe
andou por aí mal vestido Na ver
dade acho que eles não me que
riam prender Apenas pregar me
um valente susto O meu suposto
estatuto social condicionava os
muito
O seu suposto estatuto social
não era apenas suposto César
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Príncipe nunca negou que apre
cia as coisas boas Nunca rejeitou
a fortuna de família as proprieda
des os carros de luxo a sua vastís
sima coleção de arte as pequenas
médias e grandes coisas que a vida
tem para oferecer quando a ela
se junta o capital A sua ligação
ao PCP é umbilical consolidou
no Estado Novo e solidificou para
sempre Ironiza quando diz que
o PCP faz o favor de me manter
lá César Príncipe foi por diversas
vezes candidato CDU em legislati
vas e autárquicas no Porto e pelo
círculo de Viana do Castelo
Em tempos esteve perto do
Comité Central do partido embora
também tenha colecionado detratoresTalvez tenha sido a distân
cia que o manteve sempre seguro
no PCP A sua vida esteve desde
sempre ligada a Braga e ao Por
to embora tenha vivido bastante
tempo em Vila Nova de Cerveira
um paraíso no Alto Minho que
mais parecia o retiro de um aris
tocrata escocês Vendi essa casa
há pouco tempo O comprador
foi Miguel Veiga um dos históricos
fundadores do PSD que é também
um amigo
César Príncipe foi durante dé
cadas redator princípal do Jornal
de Notícias no Porto onde era
também dirigente sindical Um
sindicalista atípico pois ia para a
redação de Bentley Isso não me
impediu de lutar pelos direitos dos
trabalhadores assegura E apro
veita para assegurar também que
o PCP jamais tentou interferir no
seu trabalho enquanto jornalista
Por obra do acaso os carros
de luxo são uma constante em
muitos episódios marcantes da
sua vida Mas vou contar lhe um
segredo não lhe vou negar que
gosto de bons carros pois isso se
ria ridículo Mas na verdade só
gosto deles pelo sentido estético
Adoração só teve por um Jaguar
modelo desportivo linhas revolu
cionárias novinho em folha que
ele tinha em 1973 no estertor do
Estado Novo altura em que a PIDE
e as demais forças de segurança
intensificaram a repressão Ainda
hoje sente suores quando se lem
bra deste episódio que bem diz
da sua casta de comunista Vinha
no meu Jaguar de uma reunião na
sede do PCP em Santa Catarina no
Porto O camarada Príncipe vinha
algo despreocupado como é seu
timbre quando lhe fizeram sinal
para encostar Estacionou numa
Operação Stop da GNR do Porto
E só aí se lembrou do que tinha na
mala do carro Folhetos de propa
ganda comunista documentação
antirregime e um número bas
tante apreciável de exemplares
do Avante
Um diligente cabo da GNR
aproximou se do carro E a César
Príncipe só lhe ocorreu ir abrindo
o vidro do carro o mais devagar
que pudesse a ver se ganhava al
gum tempo para adiar o inevitá
vel Com a janela a meio ouviu ao
longe a voz de um oficial Esse
não importa Esse não interessa
pá Mais uma vez a aparência
salvara o
Pelas suas particularidades
não é capítulo que se escreva nos
anais do PCP Mas na altura o caso
terá mesmo chegado ao conhe
cimento de Álvaro Cunhal que
César Príncipe só conheceria mais
tarde O líder terá experimentado
reações ambíguas De qualquer
forma ficou decidido que a mala
do Jaguar do camarada era ótima
para transportar material subver
sivo O próprio condutor ao servi
ço das fileiras do PCP era um tanto
ou quanto subversivo Uma carac
terística que ele mantém intacta
Em toda a minha vida sem
pre me dei com a peixeira ou com
o maior capitalista do país Tan
to ando de autocarro como de
Bentley É esta a metáfora da sua
vida Sou como a personagem de
uma série de humor portuguesa
em que a criada era a patroa e a
patroa era a criada sendo ambas
a mesma pessoa
César Príncipe reconhece que
os tempos de crise como os que
vivemos trazem a um comunis
ta que se preze todos os instintos
possíveis menos o da contenção
Mas é exatamente isso que se exige
a este comunista específico que é
muito mais que um militante de
base Éumcomunista deberço
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