O documento discute a data de comemoração do Dia da Imprensa no Brasil, originalmente em 10 de setembro mas alterada para 1o de junho. Também menciona que o Correio Braziliense, editado por Hipólito José da Costa em Londres em 1808, foi o primeiro jornal a circular no Brasil e que Hipólito fez um acordo secreto com a corte portuguesa para receber subsídios em troca de críticas amenas, inaugurando os primeiros "jabás" da história brasileira.
1. O DIA DA IMPRENSA E OS DOIS PRIMEIROS
“JABÁS” DA HISTÓRIA DO BRASIL
4/jun/2011 . 13:24 | Autor: Seu Pimenta
Marival Guedes | marivalguedes@yahoo.com.br
Em 1º de junho é comemorado o Dia da Imprensa. Antes era dez de
setembro, mas até hoje, onze anos após a alteração, muita gente ainda
parabeniza os profissionais na antiga data. Há alguns anos, até uma agência
itabunense de publicidade confeccionou outdoors. Na primeira colagem
recebeu a informação e suspendeu as congratulações.
Os equívocos resultam da pouca divulgação da mudança. A comemoração
na data anterior prevaleceu por muitos anos e foi motivada pela fundação
da Gazeta do Rio de Janeiro, em 10 de setembro de 1808, com a chegada
da Família Real ao Brasil. Dirigida por Frei Tibúrcio José da Costa, era
uma espécie de diário oficial da corte.
Segundo o historiador Nelson Werneck Sodré, “por meio dela só se
informava do estado de saúde de todos os príncipes da Europa. Não se
manchavam essas páginas com as efervescências da democracia, nem com
a exposição de agravos”.
Mas antes, em junho do mesmo ano, circulou o Correio Braziliense, criado
pelo jornalista Hipólito José da Costa. Para fugir da censura, era editado em
Londres e embarcado em navio para o Brasil. Hipólito, um gaúcho, foi
morar em Coimbra, onde foi preso em 1803 por integrar a Maçonaria.
Processado pela inquisição, dois anos depois, fugiu para a capital inglesa.
Antes de 1808 não havia jornais nem outros impressos no Brasil, porque a
corte não permitia sequer a vinda de uma impressora, temendo ideias
contrárias aos colonizadores.
O Correio foi primeiro jornal a circular no país. Além disso, o Frei
Tibúrcio era “chapa branca”. Já Hipólito, defendia a liberdade de imprensa
e religião, além de um Congresso forte e a limitação dos poderes da corte.
2. Com esses argumentos, a ANJ (Associação Nacional de Jornais) e a
direção do Correio Braziliense, “ressuscitado” por Assis Chateaubriand em
1960, fizeram um lobby para que a comemoração do Dia da Imprensa
passasse de dez de setembro para 1º de junho, Lei sancionada em 1999 pelo
então presidente Fernando Henrique.
No entanto, não foi bem assim. Hipólito também era jabazeiro (jabá é
propina paga ao jornalista ou ao veículo de comunicação) e fez um acordo
secreto com a corte. Segundo o livro 1808, do jornalista Laurentino Gomes,
ele inaugurou “o sistema de relações promíscuas entre imprensa e governo
no Brasil. D. João passou a subsidiar Hipólito e a garantir a compra de
determinado número de exemplares do Correio Braziliense, em troca de
críticas amenas.” Foram os dois primeiros “jabás” da história do Brasil.
Na atualidade, o músico Saul Barbosa (1953-2010) fez uma brincadeira
criativa ao “jabaculê” nas emissoras de rádio, enviando disco com um
pedaço de jabá aos radialistas de Salvador.
Marival Guedes é jornalista e escreve semanalmente no Pimenta.
Compartilhe no Facebook