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UM NOVO HORIZONTE
Paulo Vargas Moniz
Moniz/Um novo horizonte/2
Índice
Um novo horizonte ....................................................................................................................1
Algures ......................................................................................................................................4
Diagnóstico................................................................................................................................9
Sociedade e desenvolvimento ............................................................................................11
Encargos e Dificuldades ....................................................................................................14
Crise ....................................................................................................................................17
Causas .................................................................................................................................22
Disrupção............................................................................................................................30
Filantropia ..............................................................................................................................45
Consórcios...............................................................................................................................55
Orgulhosamente, sinergia! ................................................................................................59
‘Receita orgânica’ ..............................................................................................................64
Cinismo e mesquinhez versus acreditar e positivo..........................................................72
Inteligência Artificial.............................................................................................................81
‘Os invasores do espaço’…................................................................................................84
Ensino: excitar a criatividade ...........................................................................................87
Carreiras. No futuro ..........................................................................................................94
Chutzpah (‫ה‬ָּ‫פ‬ ְ
‫צ‬ֻ‫)ח‬...................................................................................................................100
Mudança cultural.............................................................................................................114
Confiabilidade ..................................................................................................................121
E….........................................................................................................................................126
Bibliografia...........................................................................................................................142
Post-Scriptum:.......................................................................................................................145
Moniz/Um novo horizonte/3
“Comecemos com o que é correto em vez do que é aceitável”, Franz Kafka
No âmbito de Institutos Politécnicos e Universidades poder-se-ia considerar analisar e discutir
o seguinte. Quais são os problemas que enfrentam para concretizar a estratégia que foi
delineada? Quais são, especificamente, os obstáculos principais que impedem que se alcance
esses objetivos? E que utensílios são precisos para limitar (ou eliminar) os riscos relacionados
com os desafios? Qual é o enquadramento cronológico, geográfico? E como definir, explicar o
que será ‘sucesso’ para se determinar (sem ambiguidades ou dúvidas) que é alcançado?
Moniz/Um novo horizonte/4
Algures
Tomemos o caso de uma região (hipotética, claro), onde os invernos são demorados, por
vezes agradáveis, um facto da vida sazonal. Infelizmente, (pode ser desde há 10 ou mais anos
para cá) tem-se presenciado uma cadência, nem sempre regular, traduzida num
descontentamento, num (outro) inverno, mas agora demográfico.
Vamos ser mais específicos. Tem havido uma redução, por vezes gradual e significativa,
no número de alunos das escolas básicas e secundárias, que se pode manter por algum tempo
no futuro. A análise estatística aponta também para que se considere essa região hipotética
com uma população de 2 milhões, por exemplo e associada a uma baixa densidade territorial.
Mais ainda, a média de idade estaria nos 50 anos enquanto que 35 seria a média nacional
correspondente. Acresce ser uma zona em que há uma fertilidade muito pequena e a população
imigrante é ainda muitíssimo pouco relevante. E assim, a candidatura e a admissão de alunos
ao ensino superior dessa região têm vindo a decrescer; apenas o recurso a estudantes de fora
dessa região (e sobretudo estrangeiros!) tem possibilitado manter alguns cursos a funcionar por
entre os limites permitidos. Isto é, a ‘importar’ daí uma contribuição, por aplicação de propinas
e outras ‘despesas imprescindíveis’, para o orçamento de uma instituição de ensino superior
(IES) o qual garanta (por modos diretos e indiretos; a concretizar mais à frente neste ensaio /
texto) a sua manutenção. E por vezes (não poucas) esse auxílio fica um pouco abaixo do que a
IES necessita, verificando-se então, nessa angústia, um esforço por vezes desumano para
salvaguardar a sua sobrevivência. Alguém é capaz de considerar (hipoteticamente, claro) uma
situação e características assim?
Moniz/Um novo horizonte/5
O problema é (no mínimo) duplamente grave. A região (hipotética) só sobrevive e se
mantém funcional (numa escala de várias décadas ou, dito de outra forma, daqui até 30 ou mais
anos(!)) se houver mais gente nova, mais graduados (jovens) e mais emprego qualificado. E
que este ímpeto restaurador de vida social e económica gere um ciclo, que a médio, mas mais
certamente a longo prazo, vá recolhendo bem-estar e qualidade, i.e., legítima riqueza social.
Como fazer? Temos que explorar, discutir abertamente, arriscar ideias com atrevimento,
arrojo e audácia. Para isso, aqui apresento de forma algo genérica uma reflexão sobre o tema
do Ensino Superior em Portugal, concretamente acerca de como construir um novo (e melhor)
horizonte. Não pretendo ser exaustivo nem investigativo. Trata-se de um ensaio de opinião
exposto a subjetividade. Mas vazio de ‘imagens’ e retórica. Um discurso construído numa
linguagem simples e uma forma de pensar unitária. Tento ser lógico, temperado no tom das
ideias, mas procurando a convicção que anime o seio da academia Portuguesa. Seguem-se
ideias, críticas e reflexões sem formalidade, utilizando um estilo livre e sem comprovações
explícitas1
. Reconhecendo que por entre os participantes do Ensino Superior em Portugal, há
que ser-se firme no dever, sem receios, de forma colegial e efetiva.
Nota prévia. É impossível fazer corresponder a totalidade dos problemas aqui descritos a
qualquer IES. A algumas, uma parte das hipóteses aplicar-se-ão e o destino será irreversível,
1
O (in)sucesso em função de dados relativos a oferta e procura, preenchimentos e vagas precisa sempre de ser
analisado com prudência, bem temperada com a experiência. O escritor Graham Greene descreve no livro ‘The
Comedians’ uma ilha da América central, gerida por grupos (para)militares conhecidos como ‘tontons macoutes’.
Nessa ilha, um dos personagens comenta que a iliteracia diminuiu de forma muito significativa numa certa região
costeira da ilha. A conclusão, servida com superior ironia, é que não foi nenhum programa de ensino-
aprendizagem, mas antes que um furacão assassino e destruidor terá afetado de forma terminal a população frágil,
pobre e sem qualquer habitação condigna e segura…
Moniz/Um novo horizonte/6
caso nada seja feito para que se evite. Por isso mesmo, não devemos permitir que os receios
que esse cenário sugere se transfigurem num obstáculo impeditivo. Muitos problemas abrem
também linhas de esperança e o que há de mais certo e imutável, é que devemos abraçar a
incerteza, podemos mudar. Essa esperança pode emergir e crescer, é preciso ser-se firme nos
princípios que guiam, mudar e melhorar, estender essa expectativa numa corrente que vença a
resistência da tormenta. Por isso, levantam-se neste ensaio hipóteses, com iconoclastia e
idiossincrasia, para uma análise que implique um alerta, para corrigir trajetórias.
Prossigamos. Qualquer IES precisa de um plano estratégico, o qual tem que assentar numa
visão. Uma visão de médio a longo prazo, perspetivada a partir do presente e para o futuro
esperado para a sociedade. Sendo mais concreto, o plano tem que ser exequível de forma a
garantir estabilidade, e tem que ter amplo potencial para a IES evoluir. A visão deve, pois,
assim possuir simplicidade (sem ser simplista), ser mobilizadora e transcrever três linhas
mestras: identidade; qualidade e uberdade.
No âmbito das linhas mestras referidas, a identidade e a uberdade devem orientar-se no
âmbito da qualidade. Designadamente, o que se fizer, que realize a identidade, tem que ser
visto como algo único, singular e, principalmente, imprescindível. Ou seja, algo de imenso
valor e gradualmente mais valorizável. Por outro lado, tem de ser um ‘produto’, uma ‘obra’
que é cultivada e colhida em intensa uberdade, com o mais elevado empenho e dedicação, por
toda uma equipa (a saber, toda a instituição). Essa progressão tem de revelar uma integração,
académica e inclusiva, onde toda a instituição abraça um ‘esprit de corps’, garantindo a
comunhão desse objetivo. Isso é o garante da estabilidade. O sucesso é assim simplesmente
Moniz/Um novo horizonte/7
confirmar essa (i) identidade, em todo e qualquer dia, afirmá-la com a (ii) qualidade que é
traduzida no reconhecimento de quem a procura e desafia a colaborar, como (iii) fonte e garante
do desenvolvimento, abundante e fértil.
No contexto dos parágrafos anteriores, o conteúdo deste ensaio está distribuído e
organizado da seguinte forma:
O próximo capítulo é um diagnóstico do estado do ensino superior em Portugal. O foco
escolhido (e por isso dominante) apontará sobre os custos, hipóteses e causas, consequências.
De seguida apresento quatro áreas, que no meu entender merecem apreciação legítima,
como opções, alternativas na construção, de retoma e (re)conquista do ‘positivo’. É por aqui
que se deve defender um ideal académico, para melhorar as IES em Portugal.
É sempre a economia e por isso começo por descrever como modalidades, inclusive de
filantropia (ou similares), podem permitir manter uma dinâmica de investimento, apesar de
rigores impostos por orçamentos de estado (OE).
Ainda na economia, apontamos em outro capítulo como ações de sinergia, de esticar o
braço e alcançar mais distância, podem constituir o passo no sentido de uma estrutura maior e
melhor para continuar a enfrentar e ultrapassar o referido ‘inverno’.
E em mais um passo, em forma de algo (quase completamente diferente e) ‘ortogonal’,
pois não basta conquistar distâncias, há que assegurar mais espaço, apresento uma súmula
Moniz/Um novo horizonte/8
(muito já há para consulta) de como a ‘inteligência artificial’ vai revolucionar a sociedade,
designadamente a do conhecimento, ao longo do século XXI. E ao fazer isso irá implicar uma
alteração significativa dos métodos de ensino-aprendizagem. Não, não se trata de ensino a
distância ou dito online. Ou mesmo ‘robotização’ ou similar. Isso é trivial e simples. Ou pior,
seria maçador de ler e óbvio. Trata-se de apontar para o referido (novo) horizonte que se vai
vislumbrar para as IES, o que está mais além, mas já aqui muito perto. Um caminho a ‘integrar’
já neste século (XXI!). E construí-lo. Por isso, acrescento algo novo neste capítulo, ainda não
procurado, mas cada vez mais crucial. Requer abraçar a diferença, o risco, a inovação. Um
salto (epistemológico, cognitivo, funcional) na condução das IES.
E em proatividade aponto, em quarto lugar, a uma sugestão para que se altere de forma
profunda a cultura (incluindo a política!) do seio académico. Sermos, mormente, muitíssimo
mais ousados, menos no ‘desenrasca’, mais no atrevimento, mais iconoclastia nas perguntas,
mais criatividade nas respostas. É o Chutzpah2
(‫ה‬ָּ‫פ‬ ְ‫צ‬ֻ‫)ח‬. Para um sucesso ainda maior.
E? Bem, e depois, antes do ‘adeus’, terminamos.
Entretanto, avancemos3
.
2
Se está curioso(a), ‘salte’ até à página 114-5. Mas retorne aqui depois…
3
Duas notas breves. 1. Uma bibliografia (não comentada) é igualmente anexada neste ensaio. Os elementos nela
elencados são fortemente recomendados e sugeridos para consulta e posterior análise, discussão e estudo; são as
fontes originais do conteúdo deste ensaio, súmula, síntese de recolha dessas ideias, transferidas aqui para
‘agitações’. E por entre alguns dos (sub)capítulos subsequentes, indicarei alguns dos textos que aí foram mais
empregues, para agitar (ainda mais), para organizar (espera-se), para mudar (a metodologia educacional nas IES
Portuguesas). 2. Por entre as linhas deste ensaio, notar-se-á ‘aqui e ali’, que se ‘repete, reitera, (re)salienta’; é
deliberado: o diagnóstico que se segue justifica essa ação.
Moniz/Um novo horizonte/9
“Discursar também é uma forma de ação’’, Hannah Arendt
Diagnóstico
Muitas, demasiadas vezes uma escolha em Portugal é apenas sim ou não, uma proposta
é (bestialmente) boa ou é (pessimamente) má, decide-se (inflamadamente) a favor ou
(visceralmente) contra. É impossível um compromisso, um consenso ponderado, uma
negociação gerada numa coligação de esforços diversos: se no meio, ser-se-á sempre
considerado como inviável, pois uma alternativa aos extremos é sempre fraca. No próprio
ensino superior em Portugal, as soluções complexas, que são precisas para problemas
complexos, são muitas vezes ignoradas, desprezadas e pior ainda, nem sequer abordadas4
. Uma
percentagem da opinião pública mal (in)formada é uma força constrangedora, que determina,
por vezes quer de forma direta, quer indireta, aquilo que se faz (mal).
Factos e uma análise cuidada são muitas vezes desconsiderados, mesmo por
especialistas com historial e uma boa capacidade de modelação (e moderação). Muitas decisões
são bloqueadas e ficamos tão desmoralizados que (quase) se abandona o esforço. O debate
4
É sempre mais ‘consensual’ adiar…
Moniz/Um novo horizonte/10
sobre o ensino superior não é exceção. Por um lado, a educação é vista como demasiado cara
ou pior, um completo desperdício de fundos e um mau ‘investimento’. Por outro lado, há quem
defenda que tem que se manter o Ensino Superior em Portugal como está ou então, a fazer
alterações, estas devem ser mínimas de forma a não modificar a sua organização atual: ‘venha,
mas é (mais) dinheiro’. I.e., manter a estrutura organizativa e muitos dos regulamentos que
existem. Não se debate nem se procura estimar cenários para 20, 30 ou 50 (ou mais) anos à
frente, sobre o que se precisará de adaptar, corrigir, modificar. Também há muito ‘protetorado’
e não existe ninguém (por entre a ‘elite’ política com atividade ‘comunicativa’) que tenha a
coragem de trazer para a opinião pública a análise dos princípios de fundo: são sempre
pequenas linhas de modestas consequências. Parece o proverbial ‘if it works, don’t fix it…’ mas
quando não funciona ou parece não funcionar… . E só em política séria é que o que parece, é;
não sendo esse o contexto (i.e., ao ‘progredir’ de política para politiquice), então o que não
parece ser, mesmo nada, é aquilo que depois, é (de forma inusitada e amargamente brutal).
Entretanto, por vezes surge uma oportunidade de adquirir ‘aquela’ vantagem, que
permitirá sobreviver e não só: sobretudo afirmar-se, revitalizar-se face ao medianismo
tradicional, em particular associada com uma disrupção do ensino superior. Essencial para a
implementar é considerar (i) quais vão ser as necessidades, quer da sociedade quer do estudante
do século XXI (!) e (ii) as forças e as fraquezas, as limitações do modelo tradicional
universitário, particularmente à luz das novas tecnologias (e também da missão universitária).
Tudo junto, implicará que vai ser preciso fazer uma seleção por entre escolhas pouco usuais,
estabelecer escalas de tempo (mais amplas) acerca do alcance pretendido e redefinir a
diversidade dos estudantes e dos cursos que devem ser ensinados. Temos que elaborar também
Moniz/Um novo horizonte/11
sobre o objetivo ‘sucesso escolar’, mormente de uma forma mais lata. A verdade é que as IES
que muito cresceram, algumas centenárias, ‘vetustas’, hoje não serão talvez o modelo mais
prático para estabelecer ou guiar uma universidade ou um instituto politécnico (mais jovem).
Apesar de o terem sido no passado recente para os legisladores, que, com a melhor das
intenções (é sempre assim…) as propuseram, mas com a falta de modelos ou a sua
(in)experiência académica, as tomaram demasiado prima facie. No entanto, nenhuma delas é
hoje, uma situação pragmática5
.
Sociedade e desenvolvimento
E, no entanto, o valor de uma IES não pode ser desprezado, em particular nos últimos
séculos ou décadas, consoante o caso em análise. O contributo do ensino superior em Portugal
para o sucesso económico e social é inequívoco. A evolução no último século, designadamente
na sua segunda metade foi impressionante: induzindo mais poder industrial, criando emprego,
promovendo a diversidade, progressão e harmonização social. A transição para uma economia
com segmentos muito mais largos, relacionados com a tecnologia avançada de informação,
cuidados de saúde, serviços de governação e finanças. Dito de outra forma, uma elevada
produção através de aplicação de conhecimento e da tecnologia. Como consequência, há uma
melhor cidadania, mais instruída (mas ainda não o suficiente) e com melhor capacidade
5
As IES tal como os estudantes devem ser mais adaptáveis à realidade da sociedade que se altera cada vez mais
rapidamente.
Moniz/Um novo horizonte/12
(poderia e deveria ter mais) para a prosperidade económica e força social. Mas estará apta para
o século XXI?
A função mais importante numa democracia contemporânea é o da cidadania. Nesse
âmbito, há que, primeiro, ser-se capaz de recolher informação, conhecimento em forma crua;
segundo, saber avaliar os argumentos relacionados com essa informação, e, por fim, participar,
debater, discursar (!) de forma envolvida e racional, em função dessa informação. Uma
cidadania devidamente educada concretiza-se na elaboração de opiniões, apoiada na evidência
de factos. Assim, estará mais bem informada para tomar decisões e efetuar as escolhas políticas
difíceis que se precisa. Produzir cidadania instruída é a responsabilidade primária da
comunidade e do ensino superior.
Não obstante, essa tarefa fundamental é hercúlea. Qualquer sociedade, em qualquer período, é
uma estrutura com procedimentos complexos tendo por base a análise de informação. E é por
isso que o ensino superior tem sido, é e será cada vez mais importante. Requer-se uma
participação ativa, informada e desafiadora, pensando criticamente, de forma atrevida,
inovadora e inesperada, acerca dos problemas e das oportunidades que surgem no dia-a-dia.
Mas esse sucesso dependerá da forma como o ensino superior for liderado e ministrado no
século XXI.
Esse empreendimento social, uma ‘empresa’, no sentido (etimológico) de uma ação de
tomar, agarrar, de todos, por todos e para todos, pretende-se muito bem formada e informada,
com o propósito de ser eficazmente gerida. Empregando as novas tecnologias que irão emergir
Moniz/Um novo horizonte/13
ao longo do século XXI, algumas ainda por regulamentar. Mas incontornáveis, irrecusáveis,
inadiáveis a longo (ou médio? curto?!) prazo. Nos dias de hoje, e os já vindouros (repete-se;
nunca é demais), tem que haver uma cidadania, educada, instruída, envolvida e sobretudo
pensante, com as aptidões, as capacidades de uma força de trabalho que irá coliderar a nossa
economia. O progresso, mas sobretudo a sobrevivência estável, requer que todos nós, como
comunidade asseguremos o seguinte: por um lado, um amplo acesso a todos aqueles, qualquer
que seja a sua proveniência, que procurem uma IES para adquirir uma instrução técnico-
científica6
e uma formação cívica-ética da melhor qualidade; por outro lado, alcançarmos
sucesso, cujo traço identificativo, no que nos concerne, será fornecermos o melhor apoio a(o)s
nosso(a)s estudantes e que os mesmos finalizem os seus estudos, alcançando os respetivos
graus académicos. Mas num tempo útil, justo e minimamente satisfatório!
Em suma, é por isso que o ensino superior em Portugal importa. Haverá crescimento se
e só se uma sociedade for instruída: por isso, devemos contribuir, em coliderança, para que as
novas gerações sejam excecionalmente bem instruídas no mundo do conhecimento, com
melhor capacidade cognitiva, com uma superior aptidão para inventar, empreender e produzir
bens e serviços, em integração com tecnologia avançada e para benefício de todos. A narrativa
acerca dessa IES será de enaltecimento por parte dos profundamente beneficiados por uma
6
Por exemplo, cursos, quer fossem de engenharia, literatura ou medicina, deveriam ter módulos opcionais de
ensino-aprendizagem sobre ética, como também sobre análise e lógica, formulação de modelos matemáticos e
desenvolver pensamento crítico. A criatividade não é um atributo exclusivo de uma área do conhecimento.
Estudantes de física com frequência de unidades de crédito sobre cultura chinesa ou latim/grego, por exemplo, e
estudantes de sociologia obter frequência em laboratórios específicos de diversas ciências naturais.
Moniz/Um novo horizonte/14
visão científica de ampla uberdade académica. Daí a suprema importância nas escolhas
políticas que se fazem e que vão influenciar a trajetória do próprio ensino superior.
O ensino superior tem que voltar a ser importante, retornar a uma ‘paixão’ educativa,
um elevado desígnio de Estado. Mas, não tem sido assim (ultimamente). E isso lamenta-se com
tristeza7
.
Encargos e Dificuldades
Apesar de aumentos (?) no financiamento total para o Ensino Superior (por via do OE),
na forma de contratos de legislatura quinquenais, as famílias sentem-se estiradas ao enviar e
colocar as suas filhas, os seus filhos numa IES. É economicamente árduo e penoso, ao que
acresce ansiedade sobre o futuro.
Recebe-se por vezes informação que causa preocupação, por meio de relatórios em
processos de acreditação e avaliação de ensino (via disponibilização por agências da tutela,
e.g., a A3ES8
) e de centros de investigação (nem sempre devidamente) associados a cursos. A
análise dos relatórios dessas agências deveria ser consultada, não somente no mero termo
classificativo, mas no conteúdo descritivo e por vezes crítico da funcionalidade, por exemplo,
entre vários parâmetros de aferição. Também se recolhem outras notícias referentes a IES,
7
Mas há propostas, este ensaio, mormente. Para agitar por entre a turvação, contribuindo para uma eventual
limpidez, uma (re)organização educativa; um novo horizonte.
8
A3ES i.e., Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior; cf. https://www.a3es.pt/
Moniz/Um novo horizonte/15
mormente sobre aconselhamento e apoio académico, que não é o que seria desejável por essas
famílias: professores e ensino que são severamente criticados pelos estudantes, o progresso
para a graduação é dolorosamente lento, o dobro ou mais, do que seria desejável ou salutar;
idem situações de abandono, retenção escolar no ensino superior. Têm, pois, sido anotadas
queixas assim como comentários deste âmbito, mas sobretudo acerca dos elevados custos do
ensino superior para algumas famílias. Professores e funcionários recebem reclamações que a
sua instituição dá menos atenção ao ensino. Especificamente, a ‘missão’ transfigura-se mais
em obter verba para projetos, investigação ‘medida’ em patentes. Ou numa multiplicidade de
cursos para ‘captar’ mais e mais estudantes9
, eventualmente estrangeiros e obter a sua presença
a quase qualquer custo.
Também há que ter em conta que as IES são constrangidas por custos causados (direta
ou indiretamente) por fatores externos (por exemplo, aumento de preços de consumíveis ou
produtos alimentares, taxas incluindo portagens rodoviárias). Isso causará a instabilidade
económica das IES. Mais ainda, sendo ‘cru’, mas frontal, para as famílias a qualidade desce
apesar que “está tudo bem, vai ficar tudo bem”. No ‘fim do dia’, para essas famílias é a sensação
de haver um puxar e empurrar, as IES terem mais e mais verba, mas pouco ou nada ‘reporem’
de qualidade de oferta formativa ‘a quem paga’, seja por via direta (propinas) ou indireta (por
exemplo, IRS). Comentário injusto? Impreciso? Bem, há margem para incluir esta provocação.
9
Captar mais alunos, porque é esse o objetivo, mas ‘adicionam’ alguma exigência na seleção dos candidatos,
oferecendo cursos com requisitos à entrada que assim irão mensurar à partida a qualidade dos estudantes aceites.
Tudo para conseguirem ‘posicionar- se’ entre si, relativamente.
Moniz/Um novo horizonte/16
Pior, ‘aquilo’ que era um emprego, que se poderia antever no início do curso, poderá já
não haver nesse campo de estudo. Um(a) estudante dedicou-se durante anos, mas a atividade
pode ter deixado de estar disponível, pelo menos de forma tão ampla ou tão especifica no
mercado10
de trabalho11
. A sociedade é complexa, as necessidades variam em oferta e procura,
a inovação tecnológica pode trazer alterações súbitas…e profundamente drásticas.
Os ‘rankings’ não são inúteis12
, se bem estruturados e operacionalizados. Em particular,
podem permitir apontar a importância de, por exemplo, o quociente entre número de estudantes
e docentes, ou as taxas de graduação, i.e., quanto tempo demora um curso a ser completado;
índices de satisfação e daí uma ou outra ‘nota’ qualitativa para reputação académica.
Mencione-se o potencial de aferimento salarial para aqueles que se graduam numa dada IES,
ponderado em termos do investimento das famílias e do Estado: merece ser discutido, pois
esses salários poderão trazer mais (ou menos) contributos, posteriores e subsequentes, ao longo
da vida laboral, por via de taxas e impostos. Acrescente-se nessa discussão a despesa (direta)
da propina, assim como as (in)diretas da possível deslocação do seu local de vida e/ou trabalho
10
Alguma prudência: cursos versus oferta no mercado de trabalho, é uma relação que passa por diferentes ciclos
e pode ser ‘campo-dependente’. Duas situações, dois exemplos: a engenharia informática atualmente tem uma
grande procura; e no início deste século também se observava um excesso de docentes (ensino básico, secundário,
superior), ‘acrescentando’ que iriamos depois ter falta (!) de docentes no futuro, dado o corpo docente ser (muito!)
envelhecido … mas se a maioria dos jovens não escolherem a docência...
11
Também é pertinente apontar que algumas formações não oferecem remunerações consentâneas com o grau
obtido, o que também leva algumas famílias a pensar se vale a pena enviar os filhos para a IES…
12
Os ‘rankings’, goste-se ou não, podem induzir como diferentes agentes tutelares e empresas (parceiras?)
‘avaliam’ as IES, assim como estudantes e suas famílias farão as suas escolhas deste ou daquele curso para
frequentar. São já uma ‘bitola’ (!) que se vai considerando e, sim, os ‘rankings’ são variados e carregam influência.
Por isso não são, pragmaticamente, todos inúteis. ‘Medir’ (?) a qualidade de uma IES é um problema
multidimensional e nunca poderá ser baseado de forma estéril em apenas um ‘ranking’ (ou até numa sumula de
todos). Qualquer ‘ranking’ é uma medida muito limitada, falível e pode ser incluída numa ferramenta mais ampla,
entre várias operações de análise de qualidade.
Moniz/Um novo horizonte/17
para o campus da IES. Estes custos, em particular na última década, têm aumentado quando
recessões financeiras surgem13
.
Crise
Mencionada atrás, há a despesa de frequência do curso. A imediata e óbvia está definida
na forma da propina, mas há outras decorrentes do usufruto dos campi (e.g., há que pagar
investimentos em instalações e aquisições, nem sempre totalmente cobertos em OE…). A
propina é uma forma directa de obter alguma receita, mas as verbas daí provenientes podem
aumentar, descer… . De forma indirecta, também pode ser disponibilizada verba para as IES,
obtida no entanto através da execução fiscal, por exemplo IRS, IRC, IVA (e outras taxas).
‘Engenharia’ de OE, por onde outros custos cabem ao Estado, os quais têm que ser também
assegurados: saúde, transportes (aéreos, ferroviários), ‘administração interna’, muita outra
‘coisa’… .
A argumentação simplista mas falaciosa, é de apresentar ao ‘consumidor’ (que pague
as propinas, diretamente, ou, indiretamente, contribua no IRS ou o aumento de portagens ou
de transportes ou combustíveis), os custos crescentes das IES como unicamente decorrentes
13
Uma consequência tem sido o aumento de popularidade do ensino online, e.g. no Brasil; o ‘vento’ está a passar
de favor para desfavor nas instituições de ensino superior, ditas de tradicionais, mas melhorou para algumas
estruturas educacionais alternativas, quiçá disruptivas… . Acresce referir a formação on-line em grandes
empresas. Por exemplo, na ex-Portugal Telecom, permitindo um elevado número de formandos, com custos
mínimos pois nem precisavam de deslocação para fora do local de trabalho. Ou o grupo ‘42’ em modo hibrido
i.e., ‘blended’ (cf. https://www.42lisboa.com/), recente e … gratuito! Por que então procurar frequentar um 1º
ciclo numa dada IES para se obter um bom emprego, com um bom salário? E até pode depois fazer uma pós-
graduação online (2º ciclo) numa outra IES, tudo devidamente acreditado e ‘abraçado’ [pelas entidades
empregadoras (muito competitivas)]. Nb. Eu declarei que seria atrevido na provocação.
Moniz/Um novo horizonte/18
de aumentos salariais obrigatórios no ‘produtor’, se indexados ao quociente entre número de
estudantes e docentes. No entanto, não são os salários que forçam o ensino superior em Portugal
a ser cada vez mais dispendioso: os salários aumentam, mas lentamente, em comparação com
muitos outros custos (e despesas institucionais). E serão estes últimos em larga medida, devido
a uma opção (em casos, uma obsessão?) de atrair mais e mais estudantes, sem base sustentada
para uma ‘estratégia’ de custo-investimento e incerteza de resultados, que provocam [direta e
indiretamente (!)] um aumento do custo (existencial…) da IES. Não é o ‘preço’ de
administração e do corpo docente, mas… é o custo que muitas vezes advém de uma IES se
‘dotar’ com algumas ‘bolsas de estudo’ ou necessidades ‘assalariadas’, construções e estruturas
físicas na forma de edifícios, melhorias de acesso, incluindo as redes sociais, sem ser por
programas sensatos de financiamento. Ou criar núcleos associativos para estudantes, desde
teatro a desporto, como muitas outras atividades, que legitimamente interessam aos estudantes
que uma instituição providencie. E junte-se muitos gastos que são obrigatórios (e.g.,
acreditação14
via A3ES), aquisição de equipamentos obrigatórios à investigação para ser
concorrencial (a nível da União Europeia) em termos de projetos para financiar, consumíveis
muito (!!) dispendiosos, mobiliário, consultadoria, pareceres, manutenção, reparação ou
mesmo a substituição de equipamento singular.
As IES recebem, pois, com imenso e intenso agrado o(a)s estudantes que as escolhem
ao invés de outras. Um diploma outorgado em certas instituições pode assim tornar-se bem
14
Os procedimentos que eventualmente conduzem à acreditação dos cursos são cada vez mais dispendiosos.
Concretamente, em funcionário (não-docente ou docente) /hora de trabalho, como também em pagamento (!) à
agência de acreditação.
Moniz/Um novo horizonte/19
mais dispendioso (no fim, paga-se!), como resultado de atrair os candidatos mais exigentes.
Ter um grau de um curso numa determinada universidade pode ainda ajudar em certos meios
empresariais e industriais, a atingir um determinado emprego com algumas regalias, benefícios
profissionais e vantagens financeiras. Mas esse dispêndio não provém tanto, repita-se, porque
as IES tentam acomodar normas ditadas pela tutela sobre a progressão salarial do corpo
docente. Diretamente, por meio de propinas, designadamente as que são muitas vezes cobradas
em 2º ou 3º ciclo, extrai-se uma ‘compensação’ que contribui para o pagamento dos salários.
Ou as que se ‘capitalizam’ por via dos estudantes internacionais.
Há, pois, um paradoxo, como se expõe, com mais detalhe, no seguinte.
Por um lado, são as IES que têm respondido aos problemas económicos que se lhes
deparam. Designadamente com o aumento de preços em alguns bens e serviços (num mercado
competitivo), desde propinas (quando e ‘onde’ podem), alojamento, manutenção e aquisição
de equipamento, assalariados (e sem ser via OE direta), podendo ser com ‘despesas de
administração’. Mas é como se algumas IES não se interessassem pelo que está em seu redor e
como elas estão a ser a percecionadas nessa envolvência. Haverá IES, pela sua tradição e sendo
por isso referência (ou pretendendo ser em grupo corporativo), que irão (ou já estão) a cobrar
mais e diferente, sem qualquer perceção, gerando custo de forma lenta, mas contabilizada,
sobre as famílias. E muito pior ainda, promovendo cursos com muito poucas das aptidões e
competências necessárias para os estudantes, futuros graduados, terem sucesso no mercado
global do século XXI. Seguem uma rota, um destino onde os estudantes, as suas famílias (e
Moniz/Um novo horizonte/20
também os ‘fazedores de política’), são naturalmente arrastados para um vórtice algo
ameaçador e preocupante15
.
E por outro lado, todos os anos as IES precisam de mais e mais apoio financeiro, pois
algumas encetaram despesa, desde, repita-se, aquisição de instrumentos e equipamento,
construção, recuperação ou manutenção de edifícios e instalações. Modernização de soalhos,
tetos, paredes e janelas. Novas ‘modalidades’ de aquecimento, ar condicionado. Mobiliário.
Meios de transporte. É possível continuar… . E o/a contribuinte, tem de custear isto tudo, via
impostos, sobretudo de forma indireta, pois o OE seguinte não pode deixar cair esta lista de
instituições de ensino superior publico. A lista (ou qualquer dos elementos que a constituírem)
é ‘too big to fail’. Coesão. Sacrifício. Tem de ser. O flagelo social… .
Alternativas e de acesso imediato existem: os cursos de banda larga a distância, mas
não transmitindo ainda segurança, salvo muito poucas exceções devidamente certificadas (i.e.,
Universidade Aberta). Exige-se cada vez mais qualidade, mas não tendo na sua essência ainda
uma componente disruptiva de base tecnológica e personalizada no utente. Ainda não existe de
forma generalizada, i.e., ‘plug & play’. Mas poderá de algum modo (deveria ser regulamentado
para aferir padrões de ética, equidade, utilidade social) vir a surgir. Ironicamente, onde poderá
(deverá?) haver alguma obtenção de lucro.
15
Graduados sem emprego não conseguem retribuir o investimento, por via de um IRS ou equivalente. A riqueza
(também) social de um Estado dependerá da percentagem de cidadãos (incluindo esses graduados) que contribuam
subsequentemente para as receitas (também sociais) do Estado. Em particular, numa Républica… . Graduados
sem emprego é mau, é péssimo. É mesmo pior que mau…
Moniz/Um novo horizonte/21
Há também o ponto de vista dos empregadores, que vão ter uma voz cada vez mais
influente sobre as áreas em que precisam que alguns estudantes se graduem, conforme
requerido pelo mercado de trabalho. Isso não pode ser desprezado. E embora podendo um
ensino mais remoto ou menos próximo, orientado para o lucro económico, ser ‘apenas hoje’
mais dispendioso nos vários ciclos de estudos (comparativamente a instituições hoje totalmente
públicas e de custos mais baixos), alguns casos têm sido objeto de análises de qualidade, através
de várias (outras) agências de certificação. E essas alternativas podem vir a ser mais
convenientes e ser mais fácil e rapidamente orientadas para os propósitos dos estudantes,
especialmente obter capacidades e aptidões urgentes para o mercado de trabalho, muito
necessitado, que evoluirá (nos próximos anos, décadas) de forma estonteante. A rede pública
de instituições de ensino superior (ainda) não oferece alternativa dessa índole por que não quer,
acha-se, repito, ‘too big to fail’. Mas o(a)s contribuintes (de impostos) e legisladores, tenderão
gradualmente a colocar de forma direta e sobretudo indireta, uma redução de taxas em fundos
financeiros para benefício destas novas operações de ensino. A manutenção (obrigatória?) de
todas as IES atuais em Portugal, na sua distribuição, forma e conteúdo, pode deixar de ser
realidade.
Dadas estas alternativas graduais que vão emergir, ano após ano, e serão colocadas à
disposição das famílias, as IES que as quiserem desprezar, quer por teimosia, incapacidade,
estreiteza mental, poder-se-á dizer que vão merecer aquilo que irão recolher. Não terão mais
apoio nem simpatia que muitas das indústrias antigas, outrora pujantes, as quais não souberam
adequar-se, modernizar-se. Basta olhar, diria, o fantasma da falência de fábricas, abandonadas
e totalmente destruídas: é aquilo que efetivamente pode acontecer gradualmente às salas de
aula, até a todo um departamento ou uma faculdade. Dizer que isso jamais acontecerá?
Moniz/Um novo horizonte/22
Jamais?! As pessoas envelhecem, os departamentos são ‘ajuntados’, alguns poderão
‘desaparecer’.
Dito de outra forma, aos encargos onde as famílias sentem dificuldades, emerge
também uma situação de crise financeira, diferenciada, (des)apercebida em maior ou menor
intensidade, em (algumas) IES…. Elaboremos então de forma mais cuidada.
Causas
Há sem dúvida alguns aspetos de crise financeira (e consequências decorrentes…) nas
IES. São sobretudo causas intrínsecas, próprias de uma tradição: alguns Institutos
Politécnicos ou Universidades têm mantido práticas, importadas quer de outras IES ou dos seus
próprios passados, mas ao ponto de agora colocar em perigo o seu futuro. As IES Portuguesas
têm sido assim forçadas a reduzir o orçamento, diminuem custos, eliminam outros, mas
raramente conseguem daí tirar melhorias relevantes. Não conseguem reinventar,
significativamente, o conteúdo dos seus cursos, para preparar, melhor e diferente, os estudantes
para as novas necessidades cognitivas. E acima de tudo, para as exigências de interface
tecnológica, cada vez mais fortes, de um novo mercado de trabalho.
Uma analogia é tomar uma empresa que pretende ter uma vantagem num dado mercado:
‘entra’ e oferece novas particularidades, tal como uma rapidez ‘fulminante’ no carregamento
da bateria num telemóvel ou adicionar vitaminas ‘pujantes’ aos iogurtes. São vistos como
Moniz/Um novo horizonte/23
inovações e não como reinvenção, o produto transforma-se em melhor e no entanto, o ‘design’
permanece o mesmo, seja uma caixa ou um pacote, os preços aumentam e o(a) consumidor(a)
genérico(a) começa a pagar mais por aquilo que não precisa realmente… . Dito de outra forma,
a nova empresa procura oferecer o mesmo utensilio que outro(s) competidor(es) oferece(m), a
menos ou mais de umas ‘cores’. Designadamente, face à competição que está num patamar
por ‘tempo’ de presença ou da experiência que já possui, alcançado junto dos ‘consumidores’.
Numa IES, o preço acrescido a pagar é o custo daquilo que é ‘novo’. A IES vai
auferindo (mais algum) capital por meio de atividades extracurriculares, cursos e programas
de graduação. Pode argumentar-se que a frequência afinal até não é muito onerosa junto dos
estudantes e das famílias. Ou que tudo resultou de assumir o pagamento de custos,
consequentes sobretudo de outras decisões de ‘compra’ e mercado, marca e produto(s). O
‘consumidor’ é que optou por uma ‘inovação’ que afinal será só uma reapresentação
empacotada, para essa ‘compra’; quis ir para ‘esta’ IES ao invés daquela(s) outra(s), por causa
do diploma com ‘regalias’…
Metáfora com alguma (mais uma) provocação: o ensino superior, empregando
linguagem de gestão e economia, é o que se pode chamar de uma empresa amadurecida. É
avessa a tomar riscos, muito autossatisfeita e por isso, por vezes (muito!) dispendiosa em
alguns setores. Mas terá que promover o debate sobre assuntos fundamentais, sobre os seus
programas académicos e terá que se transformar em algo, tomando em braços esta nova
economia emergente com tecnologias de inteligência artificial. Esta irá dominar com o impacto
da globalização, tecnologias rapidamente em evolução, uma população e uma demografia cada
Moniz/Um novo horizonte/24
vez mais diversa. E se com uma faixa cada vez mais envelhecida, também terá novos
consumidores caracterizados com novas necessidades, novos objetivos, novos hábitos, novos
paradigmas e novas ferramentas. E agilidade e motivações intrínsecas, muito, muito diferentes.
Um substancial salto geracional. Mind the gap!...
A história está preenchida com exemplos de algumas indústrias (por exemplo, de
natureza têxtil em várias regiões!), que por sua própria escolha desafiaram, mas falharam pois
não quiseram responder ou sequer pior, não quiseram sequer tomar nota das mudanças no
mundo à sua volta. Uma analogia ‘académica’ poderá ser a obra16
de Hermann Hesse, onde se
discute ‘uma’ Universidade.
No que concerne as IES Portuguesas, a sua organização atual, genericamente emergida
no final do século XIX e no início do século XX, não tem até recentemente sido desafiada e
por isso, não foi alterada de forma significativa na sua estrutura e operacionalidade. Muitas IES
tentam um comportamento padrão em termos de gestão, melhorar o produto, dar aos
‘consumidores’ aquilo que eles querem (ou devem querer ou pior, têm de querer…) e observar
alguma da competição. Idem se fossem produções de iogurte ou baterias de telemóvel. E aí
surge o problema. Isso leva a que muitas instituições possam falhar inevitavelmente, enquanto
líderes ou pretendendo (!) ser líderes ou ascender em alguma forma e operação, em
classificação ou designação operacional. Irão, repita-se, focar em servir mais e melhor, indo
16
Cf. https://www.goodreads.com/book/show/16634.The_Glass_Bead_Game.
Moniz/Um novo horizonte/25
ao encontro de necessidades ou talvez apenas pretensões de necessidades, observando o que
fazem os ‘competidores’. E isso pode ser a raiz de um grave problema.
Uma IES não é uma indústria ‘tout court’. Mas, salva a distância contextual e
‘orgânica’, refira-se o seguinte: sejam computadores ou motocicletas, quem entra na base do
‘mercado’, tem que ‘vender’ produtos simples aos ‘consumidores’, aos que são menos
exigentes. E a partir daí, ir melhorando, passo a passo, de forma a ‘empurrar’ os anteriores
líderes. E de certa forma é também algo, em termos sociais, que devemos considerar poder
existir, de forma implícita ou não declarada, não necessariamente promovida de forma oficial
mas emergindo assim, no setor da educação superior pública: IES ‘recém-chegadas’ na rede de
oferta de cursos, principiam nos primeiros degraus da ‘escada’ e disponibilizam logo de início
cursos base (sempre devidamente acreditados…); gradualmente irão tentar (!) apresentar mais
e mais áreas formativas17
. Essa ação pode ser descrita em termos de ‘competição18
’ e vista
como saudável e vital: instituições maiores e mais antigas, experientes, (re)conhecidas, irão
ser desafiadas por outras mais criativas e mais pequenas, potencialmente mais flexíveis. Por
via de uma inovação, ‘contra’ aquelas que estão ‘entrincheiradas’, disponibilizar melhores
serviços através dessa forma. O problema é quando todas se entrincheiram, mesmo as mais
‘jovens’ que, entretanto, adotaram os vícios das mais ‘vetustas’, arcaicas e reconhecidas. Vão
17
A distinção entre ensino politécnico/universitário tem-se esvanecido com o tempo: algumas ofertas formativas
de uns ‘passaram’ a estar em outros, também. Deveria haver uma distinção operacional (atualizada!) sobre o que
se pode encontrar em cada um. Entretanto, os politécnicos ambicionam ser como as universidades e as
universidades, por sua vez ambicionam algumas das ofertas formativas dos politécnicos.
18
Idem intra-IES, pois mais alunos numa dada área pode significar mais vagas (e progressões) na carreira
docente. Saliente-se que ao crescer, uma IES promove mais criatividade, proatividade e qualidade. E assim
competir com as outras IES, mais avantajadas (em termos de cronologia e geografia). Assim se espera. Só que...
Moniz/Um novo horizonte/26
querer abraçar (ou de uma forma gritante e ansiosa, agarrando com alguma brutalidade) o tão
desejado apanágio de … ‘tradicionais’.
É por aí que em muitos casos as estratégias de algumas novas universidades e institutos
politécnicos têm sido tomadas. Só que o fizeram em esmagadora forma e ação, por meio de
uma insipida imitação e não de inovação singular. Na sua defesa, essas instituições estão
apenas a fazer o que a lógica e a tradição tem ditado. Inicialmente providenciar em modo básico
e simples aquilo que pedem os possíveis (!) interessados. Designadamente o que já
disponibilizam as IES maiores, mais antigas, mais abrangentes: oas estudantes procuram estar
nessas universidades ou institutos politécnicos (pelas razões que se entenda etiquetar) e as
‘novas’ querem um pouco do ‘mesmo’. Algumas dessas vetustas IES têm orçamentos anuais
na ordem de muitas dezenas a centena (mais?) de milhões de euros e a verdade é que também
possuem um conjunto de fundos e financiamento complementar, que lhes permitem manter ou
terão permitido manter durante algum tempo essa situação de domínio19
. Apesar de algumas
tormentas ou ‘balanços’ por causa de algum incómodo no canal. No entanto essa situação pode
ser muito perigosa.
Em universidades e institutos politécnicos às quais ainda não há uma etiqueta de
idêntico orçamento, arcaísmo, marca e nomeação (por entre a opinião pública), ao tentarem
imitar as tradicionais e ‘antigas’ em especificidades, vão (ter de) incorrer em (mais!) despesa.
Por exemplo: adicionar mais e novos estudantes, por via de novos cursos, e mais ainda, tentam
19
Valores que são depois ‘multiplicados’ para com (uma aplicação n)a economia das regiões.
Moniz/Um novo horizonte/27
encontrar mais docentes, com algumas responsabilidades de investigação (se puderem). E esses
docentes querem laboratórios, equipamento, edifícios, mobiliário, parques de estacionamento,
‘modalidades’ de aquecimento… . Em suma, novos custos. Tudo fica pior se depois…faltarem
alunos, mesmo os internacionais. E há que cobrir despesas entretanto assumidas ou se já
feitas… . E tudo ficou pior com a construção de mais edifícios, ou sua manutenção,
recuperação, reconversão ou mesmo substituição. E mais equipamento laboratorial. E mais
recursos materiais para suporte à administração. Emprego para os recursos humanos que vão
assegurar essa administração. O sustento de famílias... . A bem de uma coesão, de uma região
que precisa de reduzir o flagelo do desemprego.
Como então cobrir esses custos? Aumentando as propinas? Por impostos (in)diretos
(e.g., IRS ou portagens rodoviárias ou nas bebidas) através da tutela (governo)? Pode, mas …
não chega. E por vezes (muitas, acontece…) não há os alunos suficientes em todos (ou nesses
novos) cursos. As despesas de operação, desde vulgo consumível até subsídios e apoio
académico associativo, aumentam (o dobro? Apenas metade? De uma terça parte ou o triplo?).
E poderá haver abandono escolar e … a despesa aumentará, inapelável, podendo divergir. Mas
isso não deveria ter sido possível: assim, não permite ter ‘vantagem’ para se começar uma
universidade ou um instituto politécnico, a estar em competitividade. Economicamente,
financeiramente, poderá ter sido tolerado, até incentivado ‘a bem de uma região’, coesa
territorialmente, aceitado o dogma ou crença dessa necessidade, mas isso torna-se, de forma
gradual, totalmente insustentável. Manter tudo como está, sem qualquer alteração, manter a
possível estagnação? Afinal, existe (ou não) o pântano do ‘status quo’ de décadas no ensino
superior? Muitas IES agora ou ‘amanhã’ não vão ter a capacidade de sustentar, de oferecer
Moniz/Um novo horizonte/28
tantos (!) cursos, tão diversos para tantos estudantes ou requerer também que os seus
professores compitam no mundo cada vez mais exigente de financiamento para investigação.
Tem que ser assim?
A despesa do financiamento disponível para as IES ‘jovens’ transformou-se, é cada vez
mais limitada e mais competitiva. O resultado da ‘imitação’ com as universidades e institutos
politécnicos arcaico-tradicionais, já presentes no sistema, é que, porventura, ironicamente, até
poderá tornar estas últimas mais robustas e apenas um pouco mais dispendiosas. Mas, todas
as outras, as mais ‘novas’, podem não se tornar melhores alternativas de um ponto de vista
educacional e vão-se arrastando financeiramente, na dependência ‘mórbida’ de ‘agremiações’
parlamentares que as auxiliem ou promovam auxílio ao apelo ‘não podem falhar’, igual ao já
citado ‘espectro de flagelo social’. Entre as mais jovens, algumas já não têm os recursos
financeiros necessários, perderam-nos no mundo cada vez mais exigente, mais vulnerável.
Uma conclusão possível é que o ensino superior em Portugal é uma atividade (em
termos de economia e finanças públicas) extremamente perigosa, quando é o caso de algumas
IES que estão num campo médio (ou pior), quando não têm nem a robustez, ou a qualidade; a
despesa aumenta. E mesmo a equipa de barco a remos, a mais forte pode afundar se houver
ondulação inesperada… E ganha a outra equipa, que, ou afunda mais tarde ou rema para junto
da margem, vai devagarinho, formosa e, sim, segura, fluctuat nec mergitur. Mas ‘triunfa’,
‘aguentou-se’ por (muito) mais tempo, leva o prémio e benefícios mais vantagens decorrentes.
Vae victis.
Moniz/Um novo horizonte/29
Saliente-se, no entanto, que foi com sucesso amplo, lentamente, mas gradualmente, que
a comunidade académica e as regiões associadas, se faziam conhecer por meio das IES: estas
asseguravam um ensino para cada vez mais estudantes e sem dúvida que contribuíram para o
avanço do conhecimento e a melhoria económica e social da região. Quem contribuísse por via
de impostos e taxas, sem hesitação abraçava ‘essa causa’, satisfeito pelo crescimento
institucional e de todos os benefícios que daí vieram para a região e o país. Casos de sucesso,
repita-se. Mas, no entanto, este modelo padrão, agora torna-se insustentável. Ao invés, as IES
têm pois que desenvolver novas estratégias e ir para além da simples imitação; têm de se tornar
mestres numa excelência singular. Estrategicamente esse deve ser o caminho.
Para a maioria das IES na década que começa, terá que haver ‘a mudança’ e é
inevitável; a grande questão é quando é que ela acontece , na próxima semana, no mês que
vem ou no final do semestre e quais são as forças, a pressão que será trazida com ela; será
extremamente infeliz que haja um atraso causado por alguma rejeição interna, induzida por
arrogância ou menosprezo. Permita-se adicionar que quando surgem problemas económicos,
nomeadamente orçamentais na tutela (e eles surgem muitas vezes porque aquilo que era
pretendido a nível internacional não corre bem ou pela lei de Murphy…), temos de ter
orçamentos de crise. E são sempre particularmente afetadas as IES ‘jovens’ que se ‘modelaram’
nas arcaicas20
e vetustas. Não tenham ilusões, vem aí, sem qualquer piedade, uma …
20
Deve ser salientado que não apenas a ‘idade’ mas também a localização geográfica é importante (e muito) face
aos desafios, particularmente os económicos. Repercute-se na captação de alunos, relacionamento com o meio
empresarial e fontes de mecenato académico. E sobre o fator ‘localização’ [localização (de forma direta),
localização (de forma indireta)], cf. a provocação no último capítulo, concretamente o último dos quatro próximos:
o conformismo, sobretudo ao nível de ‘isso não nos vai afetar’, ‘somos de rija tempera’, pode induzir um excesso
de falsa (!) segurança e depois, o diagnóstico já não será mau; é grave, será muito pior.
Moniz/Um novo horizonte/30
Disrupção
A teoria da inovação disruptiva baseia-se (já referi aqui, mas não explicitamente, nesta
sequência introdutória) no facto de empresas, que entram no início ou na base do mercado,
terem de vender produtos simples aos consumidores menos exigentes. E a partir daí, ir
melhorando, passo a passo, de forma a ‘empurrar’ os anteriores líderes para uma situação
irrecusável de disrupção. E de certa forma é também algo que deveríamos esperar também
ocorrer no setor da educação superior pública, a inovação disruptiva.
Mas nas IES há uma anomalia que não lhes permitem preencher este enquadramento
de disrupção. Elaboremos. Algumas que ‘entram’ no ensino superior, entram na base como
novos concorrentes e oferecem logo de início cursos simples21
, que gradualmente ficam mais
‘complexos’. Só que o enfraquecimento das que já lá estão, em etapas tardias da disrupção, é
algo que raramente acontece no ensino superior. Temos ‘entradas’, mas não temos saídas (ou
‘quedas’ ou abandonos22
) quer entre as que ‘já lá estão’ ou nas que entraram… . Por um lado,
no ensino superior é difícil ter alguma disrupção porque as qualidades humanas de um centro
de investigação ou faculdade não podem ser facilmente repetíveis23
(em âmbitos ‘cronológicos’
e/ou ‘geográficos’). E acresce o seguinte.
21
Por exemplo, os cursos preparatórios da década de 80 e inícios dos 90 que conduzia depois os alunos para as
outras IES, nos seus 2 últimos anos da licenciatura (pré-Bolonha).
22
Excetuando a extinção de algumas IES privadas quer por questões empresariais/económicas quer por via da
regulação do Estado.
23
Mas, no entanto, o ensino poderá ter um fator de disrupção através da tecnologia online, que iria melhorando e
poderia desviar, assim enfraquecendo (mas nunca anular) o foco competitivo das credenciais dos professores ou
Moniz/Um novo horizonte/31
Tomemos dois grupos distintos de estudantes, que já estão ou apontam vir a estar, em
diversos empregos ou situações laborais. Num grupo, o prestígio da IES é primordial e
determina uma vivência académica; para membros deste grupo, a experiência de vida na
instituição é algo difícil de ser alvo de disrupção, pela valorização que ou pela família ou pelas
responsabilidades de trabalho (futuro), lhe alocam. Contudo, o(a)s estudantes no outro grupo
(muito menor ainda, em elementos) não querem despender tanto tempo no campus para obter
um grau; ele(a)s apenas querem aprender aquilo para que têm tempo muitas vezes depois de
um longo e cansativo dia trabalho; este novo público, que entra no sistema educativo são
disruptore(a)s mas ainda em muito pequeno número. Por enquanto… .
Em suma, num processo de disrupção que pode ou não ocorrer, o(a)s alumni e o(a)s
‘legisladore(a)s’, os quais foram ‘consumidores’contribuintes das suas instituições, atribuem
o seu apoio motivado por uma relação pessoal forte com as IES. Alumni e o apoio estatal ainda
dão às instituições tradicionais e com vantagens ‘geográficas’ um poder único no ensino
superior em Portugal, estas recebendo a verba e ajuda financeira. Por isso, têm tido um longo
percurso livre de qualquer disrupção, inclusive a tecnológica. Instituições públicas que recebam
ao longo do tempo o compromisso dos contribuintes de impostos, com a combinação do
prestígio (que é sempre algo difícil de definir) associada ao apoio leal de alumni e legislador,
de forças políticas, tudo isso tem permitido a essas IES atravessar sem grande dolo e problema
do prestígio da instituição, para ‘aquilo que os estudantes realmente precisam’ (pois é assim que poderá vir a ser
promovido…) e, quiçá, de forma quase, quase ‘gratuita’…
Moniz/Um novo horizonte/32
as tempestades financeiras. Em tempos de crise económica, vêm chamadas de atenção, alarmes
para acorrer, proceder a uma reforma… . Mas as IES, arcaicas e/ou ‘bem situadas’, etiquetadas
pelos décadas e até séculos de longa existência, pelo montante dotado nos seus orçamentos via
OE, pela quantidade dos seus cursos, de faculdades, de alunos, (quase) nada sentem. Ou então
um pouco de aperto de financiamento, interno, mas é coisa ligeira e são autossuficientes para
se manterem competitivas até que os mercados financeiros ou o OE recuperem e haja um novo
reforço do financiamento (por parte da tutela) para com elas. A procura dessas IES permitirá
cobrir custos através de pequenas campanhas, emolumentos, que, entretanto, surjam para
manter essa crise longe.
Uma outra razão para a falta de disrupção no ensino superior em Portugal é a forma
com que a ausência da disrupção tecnológica se tem sentido, desde que nas instituições
juntaram alunos em salas de aula em configuração de ‘anfiteatro’ e já vão séculos: os livros
de texto e exames orais e escritos têm permanecido (salvo exceções que deveriam ser louvadas)
na mesma forma, mesmo quando os computadores são introduzidos (como ‘adereço
promocional’) na mesa da sala de aula de qualquer estudante: ainda são usados para reforçar a
instrução existente; as aulas são melhoradas com a presença de gráficos computacionais; a aula
ainda permanece na sua forma original.
Mas eis que agora surge uma inovação que é disruptiva e vai ou já está a alterar isso.
Existe um novo meio, tecnologicamente acessível, para instruir (complementarmente, na
proporção que for sensata, caso a caso, curso a curso) os estudantes: o ensino mas também a
aprendizagem têm uma componente online, através de meios tecnológicos que estão cada vez
Moniz/Um novo horizonte/33
mais (embora nem sempre de forma fácil e generalizada) disponíveis. Resta saber se capaz e
benéfico como alguns dizem. Há imensas dúvidas, hesitações, até rejeições na totalidade e sem
apelo ou discussão que seja, ‘extermine-se’ dirão alguns. Mas, atenção, existe alguma
acreditação, mesmo para cursos-padrão em IES tradicionais, cada vez mais orientada para a
comparticipação (e.g., ‘blended’, híbridos…), explícita na informação disponibilizada nos
seus sítios da internet. Sobretudo para alguns cursos de pós-graduação, que providenciam essa
comunicação no mundo cada vez mais competitivo. Cada vez menos se dá como importante a
evidência e a capacidade da mera existência da instituição em ‘cimento e tijolo’ versus o
‘treino’ que uma faculdade demonstrará no ensino dos seus estudantes, por meio de uma
composição de aprendizagem in situ e ‘em rede’. Dito de outra forma, a qualidade dos cursos,
para aquilo que eles servem, importará mais do que necessariamente ter no topo dos critérios
de escolha e seleção de um curso (e IES) as paredes e os tijolos. Junto com o ‘nível’ dos
investigadores da IES que vão apoiar o ensino universitário ou politécnico.
A combinação de tecnologia disruptiva junto de um aumento do foco educacional
presencial, na graduação dos estudantes, abre a porta a novas formas de competição. É
indispensável. A IES tem que mudar rapidamente e de forma fundamental tudo (ou quase)
aquilo que tem feito; a verdade é que o modo como tem operado tem sido particularmente
dispendioso.
Nas IES é forçoso dominar os desafios, as oportunidades oferecidas por uma sociedade
de mudança rápida e global. Precisa-se mais do que apenas uma capacidade técnica e uma
competência cognitiva. Os estudantes, em particular, precisam de um enquadramento
Moniz/Um novo horizonte/34
educativo no qual, não só possam estudar, mas também alargar os seus horizontes e
simplesmente crescer. Isto é,
(i) a IES com a sua composição de diversidade intelectual, com a vida num campus social.
Como algo para onde crescer, evoluir e de facto poder estar junto com professores, que podem
pela sua presença mudar o rumo de vida. Mas é agora cada vez mais necessário tomar a
oportunidade de uma autoavaliação e uma reforma urgente: arriscamos cair na armadilha de
nos podermos tornar obsoletos ou parcialmente obsoletos no ‘mercado’ de ensino superior do
séc. XXI.
E (ii) o processo de aprendizagem é melhorado quando envolve uma mistura de ensino
presencial e enriquecida com disponibilidade online (i.e., acesso a vastos repositórios24
). A
experiência tradicional de vida na instituição e no campus, a presença de membros de faculdade
a tempo inteiro em universidades tradicionais, em particular as que abracem ferramentas
modernas, para sustentar a inovação e tecnologia; cf. o capitulo sobre inteligência artificial
neste ensaio.
Considere-se a situação [diferente (?)] da confrontada por jornais em suporte de papel,
que sofreram com a vinda da tecnologia digital, que lhes fecharam (algumas das) portas… .
Se a disrupção é competitiva, há também aversão à mudança. Com o poder do prestígio no
ensino superior, onde a qualidade do produto é difícil de ‘medir’ (se é que se pode medir de
24
Um exemplo notável, excecional e de qualidade superior, que alguns podem tomar de paradigmático, é o caso
da Universidade de São Paulo, Brasil.
Moniz/Um novo horizonte/35
alguma forma), quando não se tem a devida comparação entre universidades e institutos
politécnicos, daquilo que elas ‘produzem’ para os seus estudantes, sucede pois que as IES
mais antigas, com melhor ‘conforto geográfico, mais respeitadas, têm uma vantagem natural.
São também aquelas que são presumidas (em promoção de produto e opções de ‘consumidor’)
de ser as melhores escolhas para o futuro. Isso é uma força estabilizadora (que se faz mal em
desprezar e depois, pior, ignorar), reforçada pela acreditação e relatórios apensos, um
processo onde sobretudo representantes dessas IES tradicionais, periodicamente participam (e
dominam!), julgando do rigor e da qualidade de todas as instituições estabelecidas e … as
recém chegadas. Ao fazerem isso tendem a aplicar os seus próprios padrões de prática a outras
instituições. Por outras palavras: esta conformidade para com a tradição torna-se o preço da
continuidade por meio da acreditação e de entrada na ‘indústria’. É uma outra (espécie) de
“câmara corporativa”. Era preciso, em ‘género’, diversificar25
a governação (de forma
intrínseca e extrínseca) em cada agência de acreditação.
Agora, reiterando em termos generalistas de economia (e mercado).
Temos diversos modelos de inovação e esta poderá ter que ser ‘considerada’, para
revelar ameaças potenciais, mas também as oportunidades que as IES têm pela frente. Poderá
estar num cruzamento, numa bifurcação: por um percurso, estará face a uma disrupção
competitiva (e ‘ríspida’) e por outro, colocada numa outra forma de ressurgimento mais
apoiado e gradual.
25
Será difícil clarificar por entre estas ‘águas’ turvas mas algo novo e límpido, precisa-se!
Moniz/Um novo horizonte/36
Porque há dois tipos principais de inovação.
O primeiro tipo é inovação sustentada, com a qual se faz algo melhor ou maior.
Exemplos desta inovação são os casos de baterias de telemóvel que duram mais tempo,
televisões com melhores imagens e obviamente IES com ‘melhores’ cursos, acreditados e com
‘melhores’ centros de investigação, ativos na indústria. A sua ‘localização’ (territorial, mas
também cronológica) transpõe-se na captação de alunos, relacionamento com o tecido
empresarial. Algumas, apenas algumas e não todas, quase sempre ganham as batalhas de criar
inovação sustentada. Não apenas por causa dos seus recursos financeiros disponíveis, mas por
causa da sua capacidade, sua expertise, da sua competência, que lhes dá uma significativa
vantagem em criar e tornar as coisas maiores e melhores.
A inovação disruptiva, pelo contrário é trazer para o mercado um conjunto de serviços
e produtos, que não são (ainda) tão bons como os tradicionais mas …são mais fáceis de usar e
é aí que o ensino com mais recursos online é um exemplo, embora ainda na sua infância.
Quando as velocidades da internet são baixas e alguns (mas cada vez menos!) cursos online
são simples sumários das aulas tradicionais, a qualidade do ensino online ainda está muito
(muito, mesmo!) abaixo do que é o ensino presencial. Mas os ‘consumidores’ que não podem
assistir a aulas disponibilizadas num determinado local, tal como adultos que trabalham,
encontram no ensino online uma forma de educação atrativa ou quanto muito tolerável (para
eles): a definição de qualidade tem um significado diferente! É uma aula baseada no
computador, à noite na sua própria casa e por isso consegue vencer o presencial que exigia da
Moniz/Um novo horizonte/37
sua parte uma viagem e um horário muito sacrificado. E depois há a disponibilização a qualquer
momento e de material diverso.
Esta inovação disruptiva é inicialmente para não-‘consumidores’ tradicionais, é um
produto ou serviço que as instituições ‘corporativas’ ignoraram, assumindo de forma arrogante
e errada que na sua vigência, os ‘consumidores’ não estariam jamais (!?) interessados a não
ser no serviço tradicional. Mas à medida que a inovação disruptiva progride, e vai ficando
melhor pela sua forma e conteúdo, paradoxalmente, a inovação sustentada vai tornando-se
uma ameaça para as instituições e para os consumidores que a têm preferido. Por exemplo, os
cursos online vão tendo capacidades e elementos como videoconferência, que transformam o
curso online numa quase sala de aula ou mais próximo ou menos longe, como também criam
tutoriais online e discussões de estudantes, fóruns abertos a qualquer hora e oportunidade, sem
limite local, que o curso estritamente tradicional não providencia. A tecnologia oferece
algumas vantagens em custo (podendo até ser totalmente gratuita!) e uso, as inovações de
qualidade estão gradualmente a melhorar o produto, até ao ponto em que estudantes de IES
‘tradicionais’ poderão considerá-las (mais!) apelativas26
. Será um erro crasso, desprezar esta
complementaridade que pode ser tão rica e diversa de componentes e oportunidades. Irão, as
IES que desprezarem a mudança, reclamar uma vitória, mas pírrica. Como se disse, It’s the
economy e esta dita (em certa medida) a evolução do mundo, seja no mercado de transação
bolsista no centro da capital de um consórcio de nações ou na mercearia da mais pequena
aldeia. Ou como uma vez foi proferido, ‘eppur si muove’… (Galileo Galilei).
26
Mas falta inovar na qualidade da avaliação online e assim esta modalidade ainda não tem este acréscimo de
credibilidade.
Moniz/Um novo horizonte/38
Algumas IES vão, pois, encontrar as inovações disruptivas (que correspondam à sua
escala ou ambição) e serão obrigadas a reexaminar a sua missão, a sua visão, os seus objetivos
e sobretudo a sua operacionalidade. A tempo e horas? Ou demasiado tarde? Se as IES não
souberem ser inovadoras, desafiadoras, atrevidas, inesperadas e iconoclastas, a encontrar meios
com custos reduzidos de oferecer algumas das suas funções com igual qualidade, então estarão
condenadas a um declínio parcial, se não total.
A mudança por inovação está ao seu alcance. Têm pois que se reinventar. E de acordo,
a inovação da IES tem pois que ser baseada em informação cuidada, por um alto
reconhecimento e autoavaliação, supervisionada (sem dolo da autonomia) a nível da tutela
(competente…)
A IES típica só terá sucesso ao adaptar-se onde conveniente, como um grupo de IES
mais exigentes poderá já ter feito…: verificaram o que está a acontecer. Há um aumento do
número de ‘consumidores’ ou prováveis ‘consumidores’, que vão deixar de tomar as ofertas
tradicionais e poderão transformar-se, com a emergência de tecnologias27
. Isso poderá permitir
aos novos competidores, baseados em tecnologias do séc. XXI retirar ‘capital’ às instituições
(incluindo as que meramente e em conformismo de ‘rija têmpera’) imitam a tradição, servir o
grupo de não-ainda-consumidores e ainda não-totalmente-assimilado. E assim o padrão da
inovação sustentada é quebrado (!) pela tecnologia de disrupção: é o caso, por exemplo, dos
27
Por exemplo: ambientais; da saúde; exploração espacial e dos fundos marinhos.
Moniz/Um novo horizonte/39
computadores pessoais e portáteis em comparação com os computadores ‘monstros’ que
dantes, existiam historicamente28
no ensino superior.
Algumas IES consideram gradualmente a aplicação do poder da tecnologia de
aprendizagem online, ou envolver algo online junto ao estudante, muito para além do mero
acessório decorativo na educação tradicional da sala de aula do século passado (ou o que o
antecedeu). Com (outros) custos mais atrativos. Competitivos. Não só pela questão da propina
(1º, 2º e 3º ciclos!) mas também em deslocar-se do seu local de trabalho ou residência e a vinda
para o campus, repita-se. O ensino online tem tido mais procura na última década e sobretudo
aumentado quando as dificuldades financeiras surgem. Os desvios e as mudanças que mudaram
de favor para desfavor nas instituições tradicionais é aquele que melhorou nas ‘velas’ de
algumas estruturas educacionais online. As IES conseguem ter mais fundos e financiamento,
através da ‘frequência’ de mais alunos, quando disponibilizam alguma parte do ensino em
formato online. Mas, talvez o mero e simples recurso a uma disponibilização online, em
moldes de simples ato defletido, repetido e numa versão ‘copiada’ do modo presencial, seja
meramente redundante e não tão avant-garde29
. Ou sequer inovador. Ou disruptivo. E no
entanto, o genuinamente novo é sempre inesperado. Inclusive em conteúdo e operacionalidade.
Pode ser iconoclasta (muitas vezes é!) e com tanto de impressionante como impensável (hoje).
28
E já ‘andam por aí’ computadores quânticos.
29
Nb. Há já opções ‘ibéricas’ onde por exemplo se tem ‘folhas de Excel’ programadas para simulações, junto
com acesso a acompanhamento por tutores. Isto é, alguma organização e sofisticação. Portanto, não são só aulas
gravadas ou um monte de textos em Moodle. É assim…
Moniz/Um novo horizonte/40
Saliente-se também o seguinte. Uma IES incorpora uma economia aberta, ‘importa e
exporta bens e serviços’ que precisa de realizar de forma sustentada, com oferta e procura
atrativa, compatível com a sua missão, com investimento diverso e adequado. E, no entanto,
surge a questão sobre o sistema das IES em Portugal. Como chegou ‘aqui’, como tomar uma
trajetória de crescimento subsequente…
Conforme já mencionado, há uma parte da população que é envelhecida e as taxas de
natalidade decrescem, há abismos de desenvolvimento (cronológico e geográfico) por entre
regiões. Houve progressos tutelares para financiar reforçadamente a investigação, a inovação
tecnológica, mas também ocorreram tombos inesperados, um aumento do défice; custos sociais
de confinamento pandémico causaram retrocessos, piorando. E no entanto, repete-se, tem de
haver pois uma imensa mudança de política para as IES, para a investigação e desenvolvimento
de tecnologia. Um crescimento sustentado por meio da educação, por toda a sociedade
Portuguesa, para criar uma recuperação também do setor económico. Trazer um novo
horizonte, uma nova esperança para os jovens, para dar prosperidade mas também felicidade,
abraçada na resiliência.
Por isso haverá que rever (pretendendo melhorar!) os instrumentos de políticas públicas
para estimular as IES, os modos de financiamento, renovar (!) o tecido acadêmico e
empresarial apoiante, dar atenção (i) aos setores expostos mais diretamente à concorrência
internacional, (ii) o agravamento de desigualdades causado por desemprego e decréscimo de
rendimentos familiares.
Será que para as IES temos em Portugal um sistema sustentável, com boas
infraestruturas, incluindo humanas (ensino)? Será que investimos (e devemos investir mais)
para dotar as IES de mais e melhores meios digitais? Será que podemos atribuir os recursos
Moniz/Um novo horizonte/41
correspondentes aos jovens e suas famílias, eliminar ou atenuar desigualdades? A
aprendizagem é sobretudo uma interação social.
Mas atribuir melhor (cada vez mais!) financiamento às IES deverá vir pela
consensualização de um novo pacto, um novo compromisso30
. Mormente, reformas
educacionais de forte magnitude terão que ser seguidas, como (pré?) condição, uma exigência
para que (subsequentemente?) emerja maior apoio financeiro, junto com percursos ‘quase
gratuitos’ para a frequência de uma IES. Um contrato significativo, mas que tem de ser em
inequívoca seriedade. Tem de ser uma reforma histórica para o século XXI, responsável por e
para todo o encadeamento de intervenientes, na construção de (novas) competências, da e pela
qualidade nas IES Portuguesas. Apenas uma correção desta envergadura fornecerá
eventualmente a citada resiliência, um novo entrelaçar de parcerias colaborativas com as
empresas, por meio de boas (!) políticas públicas para estimular o investimento no sistema das
IES. E prioritariamente, por via da investigação e inovação tecnológica, criar o crescimento
sustentado, aumentando o emprego e a produtividade das estruturas económicas,
desenvolvendo em ciclo o sistema educacional.
Será pois então que podemos, que conseguimos identificar os objetivos de
desenvolvimento futuro, melhorar o nível de competência de toda a sociedade, de toda a
população por meio dessa reforma educacional de forte magnitude? Em particular, com
percursos de aprendizagem continua ao longo da vida?
30
Cf. por exemplo (e não isento de controvérsia e ‘queixas’) o ‘Donahoe Higher Education Act’,
https://web.archive.org/web/20080926010021/http://sunsite.berkeley.edu/~ucalhist/archives_exhibits/masterpla
n/, no estado da Califórnia.
Moniz/Um novo horizonte/42
É inequívoco que vamos enfrentar desafios e obstáculos, os orçamentos não serão
ilimitados. Como então manter as IES sustentadas financeiramente quando há muitas outras
exigências e urgentes, por exemplo na saúde? O progresso das IES depende de investimento
público, mas para ter mais, haverá que fazer diferente e melhor. No âmbito de uma nova visão,
nova missão, novo enquadramento. Haverá também que considerar outras fontes, colaborar
com empresas, a indústria. E considerar que alocar mais verba publica às IES pode implicar
retirar, por exemplo, à agricultura e pescas ou transportes ferroviários. Ter mais financiamento
nas IES implicará por isso a ‘fatura’ de ter muitas mais (amplas) reformas na estrutura das IES.
Antes de prosseguir para os capítulos específicos, uma digressão com alguns veios de
‘economia’. O nosso país tem estado estável, com qualidade de vida (em média) em progresso.
Mas se ‘ameaçado’ (ver o último, quarto capítulo desta série, que se inicia no próximo), se ficar
muito enfraquecido, como é que isso nos afetará, economicamente falando? É difícil (para não
dizer que não se recomenda) evitar debater o problema demográfico. Qualquer retoma e
sustentabilidade depende de um compromisso geracional. Só que uma longevidade (sempre a
precisar de cuidados), junto com uma baixa natalidade, redução de receita contributiva por
empobrecimento, obrigarão a repensar modelos simples: provocar mais despesa (no
contribuinte) associada a impostos para se gerar mais receita, todos (uns mais que outros…) a
pagar? Mas será um esforço justo para benefício solidário, ‘orgânico’? Se num mercado aberto,
num Estado onde a escolha for por via de processos democráticos (como deve e tem que ser),
se se optar por flexibilidade, risco e competição, ao invés de estabilidade solidária… Pode ser
um problema e uma nova realidade: poder-se-á optar por contribuir seletivamente… As
gerações que abraçam novas redes sociais podem já não vir para a rua gritar; ou ‘gritarão’ de
Moniz/Um novo horizonte/43
outra forma, para outros alvos e apelos. Nenhum dictum’ autocrático fará qualquer sentido
para os novos grupos.
E, no entanto, a economia do nosso país precisa de uma retoma vigorosa quanto antes,
pelos próximos anos. Ou seremos ultrapassados em indicadores de competitividade e
desenvolvimento por entre os espaços (e.g., Europeus) onde estamos. E isso depois reflete-se
nas escolhas de quem quiser em nós investir (ou não): sucesso gera sucesso. O desígnio em
décadas anteriores era a … convergência económica apontada para junto de algumas nações
líderes. Mas afinal parece que se divergiu; estamos mais longe? Isto de analisar geodésicas e
congruências… Em qualquer caso, arrisco afirmar que o investimento em ciência e tecnologia
em Portugal é primordial. Sim, outros setores (legitimamente aflitos) estão carentes e em
desespero. Problema complexo, solução complexa. Mas se temos nações que abraçam o dever
de apoiar a ciência e tecnologia, para fazer face a ‘ameaças’, com o triplo da percentagem do
PIB (produto interno bruto) dedicado à investigação e desenvolvimento tecnológico, em
comparação connosco…. E neste âmbito de ameaças31
e riscos, é curioso notar (fonte CE,
EUROSTAT) que temos países em crescimento económico (no espaço Europeu) com fraca
dependência do contributo do turismo no PIB (i.e., o turismo existe, pode ser amplo, mas não
determinante na economia), e o seu investimento percentual do referido PIB nas suas IES é
duas a três vezes superior e… têm um sistema educativo (talvez sem ‘dictum’, talvez com mais
contratos de confiança e ‘orgânicos’, esprit de corps, desígnios de Estado para décadas) com
taxas de graduação bem mais elevadas. E pronto, é assim: têm mais crescimento (económico)
médio anual por década, ‘QED’. Opções? ‘If it works..,’ é uma ‘roda’, deixa andar.
31
Reitera-se: ver último, quarto capítulo desta série, que se inicia com o seguinte.
Moniz/Um novo horizonte/44
Resignação, num ‘embrulho’ conformista. Mas pode (vai!) destruir o crescimento. Ao invés,
haja um debate sincero e com diferenças (ortogonais) de opinião. Conquistar distância, obter
espaço. Esse debate, para estabelecer o equilíbrio, congregando o que é correto e que precisa
de ser consensual, é algo de construção exigente. Determinar de forma rigorosa o que nos
centraliza e revela, tal como nos mantém coesos, é, repita-se, muito exigente. Entre manter
autonomia, mas vencer receios de inovar estruturalmente. É esse debate que nos une e que
muito necessitamos. Realizá-lo de forma colegial, para encontrar uma nova rota, é o desafio.
Moniz/Um novo horizonte/45
“Uma filantropia eficaz exige imenso tempo e criatividade – o mesmo tipo de foco e capacidade
que requer desenvolver com sucesso um empreendimento”, Bill Gates
Filantropia
Por entre o capítulo anterior, alguns parágrafos podem induzir uma perceção de
‘conflito’ aparente. Por um lado, a despesa em algumas universidades ou institutos politécnicos
terá aumentado e bastante, por diversas causas. Por outro lado, realinhar o ensino superior, por
exemplo com novas tecnologias, terá custos (elevados).
Se ‘é (sempre) a economia’, onde pois ir obter (mais e melhor) suporte financeiro?
Assumindo a missão partilhada de um conjunto público de ensino que deve ser devidamente
apoiada com fundos públicos (o OE!), deveríamos complementar essa fonte (e outras) com
outro procedimento, no qual se deveria investir profissionalmente. É a escolha entre o passivo
e o proativo.
Enfatiza-se que só poderá ser empregue e carece sempre de haver uma fórmula de
financiamento publico32
, com regras transparentes, i.e., não se pode substituir à fonte do OE…,
32
Saliente-se o texto (controverso, mas merecedor de mais analise e subsequente melhor estudo…) ‘Modelo de
Financiamento do ES: Fórmulas e Procedimentos’, Julho 2015, da SEES, ISBN-978-972-729-086-4, em
http://id.bnportugal.gov.pt/bib/bibnacional/1915892.
Moniz/Um novo horizonte/46
mas não deveríamos desprezar fontes de filantropia ou crowdfunding, i.e., disruptiva.
Porventura irrealista dirão alguns, mas se for possível, por cada 10€ de OE, obter por esta via
complementar 1€? Ou 2 ou 5? I.e., ‘recuperar’ em mais 10, 20 ou 50% o que viria por OE mas
agora ‘assim’. Ter-se capital inequivocamente próprio para se investir de forma
inequivocamente autónoma33
.
A governação universitária e politécnica precisa inovar nas linhas de apoio financeiro,
é preciso criar relações solidárias com muitos dos investidores (estes num sentido muito lato).
Empregar uma nova forma de comunicar, interna e externa. Tem que ser alterada e tanto entre,
como durante as várias crises que podem surgir, não só de natureza financeira, é pois preciso
estar preparado para agir e gerir.
Embora seja algo que não está muito desenvolvido no nosso país, a filantropia34
, i.e.,
arranjar doadores para fundos académicos é algo que devemos procurar, de forma muito
proativa, inovadora, criativa. Temos que o fazer. De forma elencada, é preciso
- uma nova abordagem, desde o concretizar de uma forma direta em termos da instituição, ter
gabinetes e equipas (profissionais!!!) dedicadas a trabalhar junto com o(a)s doadore(a)s, para
33
“Eu já pago impostos a mais ao Estado, portanto (a IES) não me deve ‘cobrar’ (mais) nada”. Isto acontece
com frequência quando alguém vem pedir por exemplo um serviço à IES. Em geral, não se sabe como
funciona uma IES: e.g., porque só há (?) ‘férias’ em Agosto ou porque é que os docentes não podem mudar de
IES como os do básicosecundário procedem para tentar mudar de escola...
34
Por entre a bibliografia que se indica nas páginas finais, cf. por exemplo as obras ‘Demographics…’, ‘Designing
the new American university…’, ‘Turnaround…’, de onde muito se extraiu para este capítulo (e em outros) deste
ensaio.
Moniz/Um novo horizonte/47
que os potenciais doadores conheçam e que a instituição também entenda o que eles levam no
‘coração e na alma’. De forma a que não sintam qualquer ressentimento quando são abordados
para efetuar um contributo, de várias formas, de vários montantes e para vários destinos.
- que esse(a)s doadores sintam que estão a fazer uma ação que vai fazer uma diferença na vida
dos outros e que os contributos serão devidamente reconhecidos. Saber pois ouvir esses
doadores, saber colocar questões para entender as suas motivações e paixões, sobretudo esta
última sobre a educação. Saber enquadrar e trazê-los no sentido de serem e virem a ser de
direito próprio da instituição e no mecanismo da sua instituição, que tem que ser também a sua
instituição, em programas e equipas. Estabelecer relações com parceiros. É fundamental
investir tempo para criar essas relações diretas, de amizade com doadores.
- transformar (para o(a)s doadore(a)s) a universidade ou instituto politécnico numa causa. De
todos, dele(a)s também, sem ambiguidades.
Não se trata de privatizar, ceder na governação. Nem de permitir a submissão a
influências. Trata-se tão somente de ouvir para depois, dentro do alinhamento do que são a
missão e os objetivos da IES, as suas linhas mestras, estatutariamente aprovadas e sancionadas
intra-academia, ter um diálogo, uma comunicação que é preciso ter, procurando saber o que
é preciso fazer internamente. Identificar onde é que se pode ajudar, como é que é preciso fazer
e depois ir em busca de mais parceiros, para que todos possamos apoiar a governação e a
própria alteração, onde ela é necessária. Temos que ser facilitadores e entender o que é que
os doadores poderão querer criar, qual é o legado que eles querem fazer e para que é que querem
Moniz/Um novo horizonte/48
fazer. Não pode isso ser feito em eventos com um salão repleto. Há que ‘personalizar35
a
atenção no(a) doador(a), de forma a estabelecer relações de confiança e de estima, sentirem
que poderão estar atrás da visão que é necessário implementar, do plano estratégico.
Não é , repete-se, privatizar aquilo que o financiamento público deve dar, mas partidos
políticos e fundações públicas em instituições públicas também recebem doações, que nunca
devem ser vistas como caridade mas sim como contributos construtivos para determinadas
áreas e tarefas, as quais congregam apoiantes e ao que poderão, entre várias hipóteses, atribuir
o que entendem36
. Se em 1000 graduados ao longo de anos cada um dá 1000 € por ano ou cada
cinco anos, temos um milhão de euros distribuídos com algum regularidade. Um milhão de
euros é um contributo fabuloso, excelente, excecional para investir internamente em situações
de bolsas, em aquisição de equipamento E também para ensino, que deverá ser e será sempre
transmitida obviamente de forma transparente .
Os doadores têm pois que ser abraçados, envolvidos na narrativa da instituição, não se
trata apenas de pedir verba, trata-se de (des)envolver para que eles também façam parte da
instituição (ou que, se já tenham feito parte da instituição, que se reforce essa parceria). Por
isso, a instituição tem de saber o que é que eles acham necessário, para a melhoria da IES. Há
que saber ouvir, adaptar, concertar e sobretudo investir com tempo, é preciso deixar claro que
a instituição quer dar-se a conhecer e que sobretudo quer apresentar a sua credibilidade.
35
Possível tarefa de ação ‘diplomática’ para ex-reitores eou ex-vice-reitores…
36
Possíveis obstáculos: não faz parte da nossa tradição e o baixo nível dos salários (médios).
Moniz/Um novo horizonte/49
Importante estabelecer relações de trabalho e de amizade, cooperação acerca de projetos que
possam ser particularmente inovadores e dos quais ambas as partes poderão aprender algo, uma
comunidade com a qual se deve estabelecer laços com alguma pessoalidade.
O ‘realimentado’ acima para destacar o seguinte: nunca esquecer que os alunos estarão
entre os futuros doadores. Esses são os mais importantes: uma doação de 100 € por cada um
de 100 alunos corresponde já uma quantia considerável: não podemos esquecer que são os
alunos hoje que serão os doadores amanhã. Reitera-se: temos que os saber ouvir e temos que
os ouvir. E termos ciente que apesar de os graduados terem apreço, estima e reconhecimento,
valorizarem um curso que os valorizará sempre, também têm dificuldades financeiras próprias
de quem inicia uma vida adulta e de trabalho, por vezes com dívidas ou custos, sacrifícios que
foram realizados. Não estarão imediatamente disponíveis para contribuir em modo filantrópico.
Adicione-se que, se para gerações anteriores a frequência universitária significou uma
progressão social por via do diploma, sendo por isso motivo de gratidão, nas gerações correntes
e vindouras, os hiatos de grupo social estão mais esbatidos, o curso já não é uma ferramenta de
melhoria social, é apenas uma etapa de amadurecimento para a vida adulta. Poderei estar a
exagerar, mas há diferenças geracionais. E sobretudo como veem um curso de ensino superior
e o valor (de mercado) que lhe atribuem. Há, pois, diversas modalidades de doadore(a)s: o(a)s
que tomam a universidade como algo que transforma vidas, e apelar-se à nostalgia, ‘saudade’,
Moniz/Um novo horizonte/50
reconhecimento37
leal. Mas também os que querem ouvir acerca de taxas de graduação, taxas
de retenção…, disponibilização de empregos pelos centros de emprego intra-campus (i.e., se a
universidade ajudou ativamente a encontrar emprego ou passivamente enviou para o IEFP38
).
Estes novos doadores querem saber se a universidade vale e tem, também sob este angulo, boa
qualidade, mas do ponto de vista dele(a)s (!). Uma universidade ou instituto politécnico que
tenha ‘dado’ empregos por entre os vários setores da economia, terá o reconhecimento e
gratidão desses e demais graduados. Para sempre. As IES deveriam, mas deveriam mesmo,
possuir um alinhamento mais estreito, eficiente, produtivo e responsável com os jovens
estudantes e os centros de emprego ou equivalentes.
Mas como operacionalizar?
O investimento a médio-longo prazo implica ter que ligar com uma nova geração de
alunos: os membros dos grupos de trabalho das comissões e centros de trabalho em filantropia
devem estabelecer, em conversas um a um, com todos os futuros graduados, por exemplo de
segundo ciclo, para que ele(a)s possam vir a considerar ser eventualmente mais tarde
doadore(a)s. Estabelecer relações a longo prazo, criar várias formas de aumentar o
envolvimento de jovens graduados. A ser feito de forma centralizada, em conversa ‘tutorial’:
o debate com os doadores deve ser centrado em cada doador(a). Mais ainda, ao enfatizar o
impacto que a instituição tem tido e tem e vai ter, adotar modos de comunicação personalizada,
37
Haverá o(a)s que farão a diferença duradoura e ter o nome associado a um ‘novo’ edifício, cujas doações
podem ser de centenas de milhar ou milhões.
38
IEFP, Instituto do Emprego e Formação Profissional (cf. https://www.iefp.pt/)
Moniz/Um novo horizonte/51
e.g., não enviar mensagens ‘en masse’, anónimas, secas, genéricas mas antes por textos
demonstrando conhecimento adequado, individual, de cada um(a) do(a)s destinatário(a)s.
Não obstante, pode-se por exemplo, criar o ‘dia da doação’. O importante é haver
transparência no gabinete de alumni graduados, serem melhoradas ligações, torná-las mais
próximas, mais correntes, mais eventos, promoção a seguir aos eventos. Por exemplo, os
alunos, os quais beneficiaram de doações, estabelecer vídeos e mensagens, com a sua presença,
onde agradecem e saúdam esse investimento.
Em suma, o crowdfunding ser particularmente importante entre os jovens doadores:
mesmo que 10 doadores deem 10 € cada um, já faz 100 €; e se 100 doadores cada um derem
100 € já faz 10000 € e isso permitiria por exemplo uma bolsa de doutoramento atribuída para
determinada área. Permita-se-me enfatizar mais uma vez. Ajudar a investir em doações,
trabalhar muito mesmo, para que seja arranjado um milhão de euros, significaria 100 000 a
darem 10 € cada ou 10.000 € por via de 100 doadores ou 1000 € por cada mil graduados,
como atrás referido. Com esta taxa, aproximadamente tanto quanto possível, ao longo de
vários anos.
Antes de encerrar este capítulo, permita-se-me enfatizar (repetindo, pois nunca é demais
quando é a economia…) o seguinte.
Serão precisas ações inteligentemente desenvolvidas para envolver graduados e
doadores, sobretudo os que ainda não são mas vão ser. Ter graduados a investir nessas relações
Moniz/Um novo horizonte/52
e notar que os graduados atualmente apontam as suas doações de forma mais estreita, mais
específica e muitas vezes tentando negociar essas doações. Como já aqui se disse, muitas vezes
os graduados terminam os seus estudos ainda com algumas dívidas ou dificuldades. Esperar
que eles possam desde logo contribuir verba, investir, não será exequível. Há que investir nas
relações com os graduados de hoje, parcerias de entendimento, compreensão mútua de trabalho
e relação. Designadamente, muitas vezes pensar no impacto em melhorar taxas de graduação,
em diminuir as taxas de retenção, quais são os números de empregabilidade. Os doadores
querem que se prove que as carreiras são úteis, sobretudo colocar objetivos de participação,
para que cada um(a), ao doar 1000 a 5000 €, estará realmente a fazer uma grande diferença e
adicionar um valioso contributo.
O parágrafo acima aplica-se àqueles que hoje têm 20 a 30 anos, uma comunidade de
alumni vibrante, a qual se identifique com ações universitárias de desporto, cultura e festivais
de música clássica, jazz, cinema, teatro. I.e., uma forma de todos esses graduados estarem
presentes e terem algo a dizer, concretizarem um contributo de muitas outras formas. E
particularmente importante, a melhor forma de ganhar os graduados é, já se disse, repetiu-se e
repete-se: ‘dar’ empregos aos graduados. Porque é que eles deverão apoiar a missão da
universidade, sobretudo se a universidade tiver como missão os alunos? Essa deve ser (em
parte) a estratégia: a universidade ajudar a empregar, contratar por entre o tecido económico,
industrial, de serviços e empresas em geral. Os especialistas de relação de filantropia e de
doação devem ir além sobretudo dos ‘tijolos’. Se o ensino tem que ser centrado no aluno,
também a pesquisa e o trabalho para doação deve ser centrado no ‘aluno’. Temos que pensar
como uma startup, a pequenas ações, grupos pequenos e objetivos de trabalho específicos
Moniz/Um novo horizonte/53
para propósitos concretos de produção. Como se uma startup fosse, em busca de investir e ver
um retorno, não estritamente de capital financeiro, mas um retorno em programa de
cooperação, para um desenvolvimento comum.
É também preciso também definir um objetivo de participação: por exemplo, a
aquisição de um equipamento, que custa muito ou uma bolsa que requere ‘tanto’. Isso é
importante: sermos competitivos. Onde recebemos 1 € de financiamento público precisávamos
de outro, i.e., precisávamos de ter o dobro do nosso financiamento total, que não temos
publicamente. Mas se tivéssemos o dobro do que recebemos via OE, significava entre muitas
outras coisas, poder competir e tentar ir ao encontro em termos de competitividade, em termos
de benefícios aos candidatos a estudantes. E é isso que é preciso dizer: se queremos ser
competitivos, em termos de qualificação, de reconhecimento, de agrado. Por isso temos que ter
essa verba adicional. Precisamos, enfatize-se, de um novo tipo de doadores, de atrair pequenas
doações entre os alumni , entre os novos graduados e adequar os apelos aos seus interesses,
aos jovens doadores que possam fazer pequenas doações mas muitas doações: para objetivos
concretos e bem especificados de aquisição ou investimento, desde o cientifico puro até
atividades culturais e artísticas.
Por último, neste capitulo, as IES deveriam formar equipas especificas para gerir
eventos anuais de doação, incluídos numa campanha durante o ano, de uma forma
extremamente profissional. Repete-se mais uma vez (porventura em demasia e já em ‘agonia’
em quem lê, mas, … é a economia): existe um número possivelmente significativo de doadores
que poderão dar ‘pequenas’ doações. Por exemplo, 2000 doadores a darem 500 € cada um, ou
Moniz/Um novo horizonte/54
5000 doadores, por ano, contribuindo 200€ cada um. Para isso temos que tornar a IES numa
causa para todos, incluindo os que terminam excelentemente bem formados. E esse é o desafio
que temos que fazer, ter as IES a apresentaram-se para os doadores, para atrair graduados. Em
modo de filantropismo, para as causas relacionadas da instituição e ganhar os novos graduados,
relacionar com todos os alunos hoje, doadores de amanhã.
Moniz/Um novo horizonte/55
“Queremos uma sociedade que ofereça mais liberdade e requeira mais partilha de
responsabilidade … Queremos vir a ser … bons vizinhos…”, Willy Brandt
Consórcios
E é sempre a economia. Não interessa o ‘mas porque é que tem de ser?’ Há que ir ao
encontro do como, quanto, quando? ‘Onde’ se pode obter verba? O capítulo anterior é uma
sugestão construtiva. Quiçá já adotada e adaptada por algumas IES Portuguesas. Mas não chega
para os desafios e problemas elencados no capítulo de ‘Diagnóstico’.
Se no passado houve um crescimento da população estudantil, agora há outras mudanças
na diversidade dessa população que deseja o acesso ao ensino superior. E poderá determinar
como as IES terão que tomar esse facto, com diferentes implicações económicas. Por outras
palavras, o número de IES aumentou. E em algumas delas com um número mais diverso de
estudantes. No âmbito da sua evolução e ‘manutenção’, tem-se tentado manter tanta autonomia
quanto possível em termos de liberdade académica, de ensino e investigação; uma marca de
qualidade dessas instituições. No entanto, há um problema.
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Livro horizont u-v7

  • 1. Paulo Moniz aproximadamente 33000 palavras pmoniz@ubi.pt UM NOVO HORIZONTE Paulo Vargas Moniz
  • 2. Moniz/Um novo horizonte/2 Índice Um novo horizonte ....................................................................................................................1 Algures ......................................................................................................................................4 Diagnóstico................................................................................................................................9 Sociedade e desenvolvimento ............................................................................................11 Encargos e Dificuldades ....................................................................................................14 Crise ....................................................................................................................................17 Causas .................................................................................................................................22 Disrupção............................................................................................................................30 Filantropia ..............................................................................................................................45 Consórcios...............................................................................................................................55 Orgulhosamente, sinergia! ................................................................................................59 ‘Receita orgânica’ ..............................................................................................................64 Cinismo e mesquinhez versus acreditar e positivo..........................................................72 Inteligência Artificial.............................................................................................................81 ‘Os invasores do espaço’…................................................................................................84 Ensino: excitar a criatividade ...........................................................................................87 Carreiras. No futuro ..........................................................................................................94 Chutzpah (‫ה‬ָּ‫פ‬ ְ ‫צ‬ֻ‫)ח‬...................................................................................................................100 Mudança cultural.............................................................................................................114 Confiabilidade ..................................................................................................................121 E….........................................................................................................................................126 Bibliografia...........................................................................................................................142 Post-Scriptum:.......................................................................................................................145
  • 3. Moniz/Um novo horizonte/3 “Comecemos com o que é correto em vez do que é aceitável”, Franz Kafka No âmbito de Institutos Politécnicos e Universidades poder-se-ia considerar analisar e discutir o seguinte. Quais são os problemas que enfrentam para concretizar a estratégia que foi delineada? Quais são, especificamente, os obstáculos principais que impedem que se alcance esses objetivos? E que utensílios são precisos para limitar (ou eliminar) os riscos relacionados com os desafios? Qual é o enquadramento cronológico, geográfico? E como definir, explicar o que será ‘sucesso’ para se determinar (sem ambiguidades ou dúvidas) que é alcançado?
  • 4. Moniz/Um novo horizonte/4 Algures Tomemos o caso de uma região (hipotética, claro), onde os invernos são demorados, por vezes agradáveis, um facto da vida sazonal. Infelizmente, (pode ser desde há 10 ou mais anos para cá) tem-se presenciado uma cadência, nem sempre regular, traduzida num descontentamento, num (outro) inverno, mas agora demográfico. Vamos ser mais específicos. Tem havido uma redução, por vezes gradual e significativa, no número de alunos das escolas básicas e secundárias, que se pode manter por algum tempo no futuro. A análise estatística aponta também para que se considere essa região hipotética com uma população de 2 milhões, por exemplo e associada a uma baixa densidade territorial. Mais ainda, a média de idade estaria nos 50 anos enquanto que 35 seria a média nacional correspondente. Acresce ser uma zona em que há uma fertilidade muito pequena e a população imigrante é ainda muitíssimo pouco relevante. E assim, a candidatura e a admissão de alunos ao ensino superior dessa região têm vindo a decrescer; apenas o recurso a estudantes de fora dessa região (e sobretudo estrangeiros!) tem possibilitado manter alguns cursos a funcionar por entre os limites permitidos. Isto é, a ‘importar’ daí uma contribuição, por aplicação de propinas e outras ‘despesas imprescindíveis’, para o orçamento de uma instituição de ensino superior (IES) o qual garanta (por modos diretos e indiretos; a concretizar mais à frente neste ensaio / texto) a sua manutenção. E por vezes (não poucas) esse auxílio fica um pouco abaixo do que a IES necessita, verificando-se então, nessa angústia, um esforço por vezes desumano para salvaguardar a sua sobrevivência. Alguém é capaz de considerar (hipoteticamente, claro) uma situação e características assim?
  • 5. Moniz/Um novo horizonte/5 O problema é (no mínimo) duplamente grave. A região (hipotética) só sobrevive e se mantém funcional (numa escala de várias décadas ou, dito de outra forma, daqui até 30 ou mais anos(!)) se houver mais gente nova, mais graduados (jovens) e mais emprego qualificado. E que este ímpeto restaurador de vida social e económica gere um ciclo, que a médio, mas mais certamente a longo prazo, vá recolhendo bem-estar e qualidade, i.e., legítima riqueza social. Como fazer? Temos que explorar, discutir abertamente, arriscar ideias com atrevimento, arrojo e audácia. Para isso, aqui apresento de forma algo genérica uma reflexão sobre o tema do Ensino Superior em Portugal, concretamente acerca de como construir um novo (e melhor) horizonte. Não pretendo ser exaustivo nem investigativo. Trata-se de um ensaio de opinião exposto a subjetividade. Mas vazio de ‘imagens’ e retórica. Um discurso construído numa linguagem simples e uma forma de pensar unitária. Tento ser lógico, temperado no tom das ideias, mas procurando a convicção que anime o seio da academia Portuguesa. Seguem-se ideias, críticas e reflexões sem formalidade, utilizando um estilo livre e sem comprovações explícitas1 . Reconhecendo que por entre os participantes do Ensino Superior em Portugal, há que ser-se firme no dever, sem receios, de forma colegial e efetiva. Nota prévia. É impossível fazer corresponder a totalidade dos problemas aqui descritos a qualquer IES. A algumas, uma parte das hipóteses aplicar-se-ão e o destino será irreversível, 1 O (in)sucesso em função de dados relativos a oferta e procura, preenchimentos e vagas precisa sempre de ser analisado com prudência, bem temperada com a experiência. O escritor Graham Greene descreve no livro ‘The Comedians’ uma ilha da América central, gerida por grupos (para)militares conhecidos como ‘tontons macoutes’. Nessa ilha, um dos personagens comenta que a iliteracia diminuiu de forma muito significativa numa certa região costeira da ilha. A conclusão, servida com superior ironia, é que não foi nenhum programa de ensino- aprendizagem, mas antes que um furacão assassino e destruidor terá afetado de forma terminal a população frágil, pobre e sem qualquer habitação condigna e segura…
  • 6. Moniz/Um novo horizonte/6 caso nada seja feito para que se evite. Por isso mesmo, não devemos permitir que os receios que esse cenário sugere se transfigurem num obstáculo impeditivo. Muitos problemas abrem também linhas de esperança e o que há de mais certo e imutável, é que devemos abraçar a incerteza, podemos mudar. Essa esperança pode emergir e crescer, é preciso ser-se firme nos princípios que guiam, mudar e melhorar, estender essa expectativa numa corrente que vença a resistência da tormenta. Por isso, levantam-se neste ensaio hipóteses, com iconoclastia e idiossincrasia, para uma análise que implique um alerta, para corrigir trajetórias. Prossigamos. Qualquer IES precisa de um plano estratégico, o qual tem que assentar numa visão. Uma visão de médio a longo prazo, perspetivada a partir do presente e para o futuro esperado para a sociedade. Sendo mais concreto, o plano tem que ser exequível de forma a garantir estabilidade, e tem que ter amplo potencial para a IES evoluir. A visão deve, pois, assim possuir simplicidade (sem ser simplista), ser mobilizadora e transcrever três linhas mestras: identidade; qualidade e uberdade. No âmbito das linhas mestras referidas, a identidade e a uberdade devem orientar-se no âmbito da qualidade. Designadamente, o que se fizer, que realize a identidade, tem que ser visto como algo único, singular e, principalmente, imprescindível. Ou seja, algo de imenso valor e gradualmente mais valorizável. Por outro lado, tem de ser um ‘produto’, uma ‘obra’ que é cultivada e colhida em intensa uberdade, com o mais elevado empenho e dedicação, por toda uma equipa (a saber, toda a instituição). Essa progressão tem de revelar uma integração, académica e inclusiva, onde toda a instituição abraça um ‘esprit de corps’, garantindo a comunhão desse objetivo. Isso é o garante da estabilidade. O sucesso é assim simplesmente
  • 7. Moniz/Um novo horizonte/7 confirmar essa (i) identidade, em todo e qualquer dia, afirmá-la com a (ii) qualidade que é traduzida no reconhecimento de quem a procura e desafia a colaborar, como (iii) fonte e garante do desenvolvimento, abundante e fértil. No contexto dos parágrafos anteriores, o conteúdo deste ensaio está distribuído e organizado da seguinte forma: O próximo capítulo é um diagnóstico do estado do ensino superior em Portugal. O foco escolhido (e por isso dominante) apontará sobre os custos, hipóteses e causas, consequências. De seguida apresento quatro áreas, que no meu entender merecem apreciação legítima, como opções, alternativas na construção, de retoma e (re)conquista do ‘positivo’. É por aqui que se deve defender um ideal académico, para melhorar as IES em Portugal. É sempre a economia e por isso começo por descrever como modalidades, inclusive de filantropia (ou similares), podem permitir manter uma dinâmica de investimento, apesar de rigores impostos por orçamentos de estado (OE). Ainda na economia, apontamos em outro capítulo como ações de sinergia, de esticar o braço e alcançar mais distância, podem constituir o passo no sentido de uma estrutura maior e melhor para continuar a enfrentar e ultrapassar o referido ‘inverno’. E em mais um passo, em forma de algo (quase completamente diferente e) ‘ortogonal’, pois não basta conquistar distâncias, há que assegurar mais espaço, apresento uma súmula
  • 8. Moniz/Um novo horizonte/8 (muito já há para consulta) de como a ‘inteligência artificial’ vai revolucionar a sociedade, designadamente a do conhecimento, ao longo do século XXI. E ao fazer isso irá implicar uma alteração significativa dos métodos de ensino-aprendizagem. Não, não se trata de ensino a distância ou dito online. Ou mesmo ‘robotização’ ou similar. Isso é trivial e simples. Ou pior, seria maçador de ler e óbvio. Trata-se de apontar para o referido (novo) horizonte que se vai vislumbrar para as IES, o que está mais além, mas já aqui muito perto. Um caminho a ‘integrar’ já neste século (XXI!). E construí-lo. Por isso, acrescento algo novo neste capítulo, ainda não procurado, mas cada vez mais crucial. Requer abraçar a diferença, o risco, a inovação. Um salto (epistemológico, cognitivo, funcional) na condução das IES. E em proatividade aponto, em quarto lugar, a uma sugestão para que se altere de forma profunda a cultura (incluindo a política!) do seio académico. Sermos, mormente, muitíssimo mais ousados, menos no ‘desenrasca’, mais no atrevimento, mais iconoclastia nas perguntas, mais criatividade nas respostas. É o Chutzpah2 (‫ה‬ָּ‫פ‬ ְ‫צ‬ֻ‫)ח‬. Para um sucesso ainda maior. E? Bem, e depois, antes do ‘adeus’, terminamos. Entretanto, avancemos3 . 2 Se está curioso(a), ‘salte’ até à página 114-5. Mas retorne aqui depois… 3 Duas notas breves. 1. Uma bibliografia (não comentada) é igualmente anexada neste ensaio. Os elementos nela elencados são fortemente recomendados e sugeridos para consulta e posterior análise, discussão e estudo; são as fontes originais do conteúdo deste ensaio, súmula, síntese de recolha dessas ideias, transferidas aqui para ‘agitações’. E por entre alguns dos (sub)capítulos subsequentes, indicarei alguns dos textos que aí foram mais empregues, para agitar (ainda mais), para organizar (espera-se), para mudar (a metodologia educacional nas IES Portuguesas). 2. Por entre as linhas deste ensaio, notar-se-á ‘aqui e ali’, que se ‘repete, reitera, (re)salienta’; é deliberado: o diagnóstico que se segue justifica essa ação.
  • 9. Moniz/Um novo horizonte/9 “Discursar também é uma forma de ação’’, Hannah Arendt Diagnóstico Muitas, demasiadas vezes uma escolha em Portugal é apenas sim ou não, uma proposta é (bestialmente) boa ou é (pessimamente) má, decide-se (inflamadamente) a favor ou (visceralmente) contra. É impossível um compromisso, um consenso ponderado, uma negociação gerada numa coligação de esforços diversos: se no meio, ser-se-á sempre considerado como inviável, pois uma alternativa aos extremos é sempre fraca. No próprio ensino superior em Portugal, as soluções complexas, que são precisas para problemas complexos, são muitas vezes ignoradas, desprezadas e pior ainda, nem sequer abordadas4 . Uma percentagem da opinião pública mal (in)formada é uma força constrangedora, que determina, por vezes quer de forma direta, quer indireta, aquilo que se faz (mal). Factos e uma análise cuidada são muitas vezes desconsiderados, mesmo por especialistas com historial e uma boa capacidade de modelação (e moderação). Muitas decisões são bloqueadas e ficamos tão desmoralizados que (quase) se abandona o esforço. O debate 4 É sempre mais ‘consensual’ adiar…
  • 10. Moniz/Um novo horizonte/10 sobre o ensino superior não é exceção. Por um lado, a educação é vista como demasiado cara ou pior, um completo desperdício de fundos e um mau ‘investimento’. Por outro lado, há quem defenda que tem que se manter o Ensino Superior em Portugal como está ou então, a fazer alterações, estas devem ser mínimas de forma a não modificar a sua organização atual: ‘venha, mas é (mais) dinheiro’. I.e., manter a estrutura organizativa e muitos dos regulamentos que existem. Não se debate nem se procura estimar cenários para 20, 30 ou 50 (ou mais) anos à frente, sobre o que se precisará de adaptar, corrigir, modificar. Também há muito ‘protetorado’ e não existe ninguém (por entre a ‘elite’ política com atividade ‘comunicativa’) que tenha a coragem de trazer para a opinião pública a análise dos princípios de fundo: são sempre pequenas linhas de modestas consequências. Parece o proverbial ‘if it works, don’t fix it…’ mas quando não funciona ou parece não funcionar… . E só em política séria é que o que parece, é; não sendo esse o contexto (i.e., ao ‘progredir’ de política para politiquice), então o que não parece ser, mesmo nada, é aquilo que depois, é (de forma inusitada e amargamente brutal). Entretanto, por vezes surge uma oportunidade de adquirir ‘aquela’ vantagem, que permitirá sobreviver e não só: sobretudo afirmar-se, revitalizar-se face ao medianismo tradicional, em particular associada com uma disrupção do ensino superior. Essencial para a implementar é considerar (i) quais vão ser as necessidades, quer da sociedade quer do estudante do século XXI (!) e (ii) as forças e as fraquezas, as limitações do modelo tradicional universitário, particularmente à luz das novas tecnologias (e também da missão universitária). Tudo junto, implicará que vai ser preciso fazer uma seleção por entre escolhas pouco usuais, estabelecer escalas de tempo (mais amplas) acerca do alcance pretendido e redefinir a diversidade dos estudantes e dos cursos que devem ser ensinados. Temos que elaborar também
  • 11. Moniz/Um novo horizonte/11 sobre o objetivo ‘sucesso escolar’, mormente de uma forma mais lata. A verdade é que as IES que muito cresceram, algumas centenárias, ‘vetustas’, hoje não serão talvez o modelo mais prático para estabelecer ou guiar uma universidade ou um instituto politécnico (mais jovem). Apesar de o terem sido no passado recente para os legisladores, que, com a melhor das intenções (é sempre assim…) as propuseram, mas com a falta de modelos ou a sua (in)experiência académica, as tomaram demasiado prima facie. No entanto, nenhuma delas é hoje, uma situação pragmática5 . Sociedade e desenvolvimento E, no entanto, o valor de uma IES não pode ser desprezado, em particular nos últimos séculos ou décadas, consoante o caso em análise. O contributo do ensino superior em Portugal para o sucesso económico e social é inequívoco. A evolução no último século, designadamente na sua segunda metade foi impressionante: induzindo mais poder industrial, criando emprego, promovendo a diversidade, progressão e harmonização social. A transição para uma economia com segmentos muito mais largos, relacionados com a tecnologia avançada de informação, cuidados de saúde, serviços de governação e finanças. Dito de outra forma, uma elevada produção através de aplicação de conhecimento e da tecnologia. Como consequência, há uma melhor cidadania, mais instruída (mas ainda não o suficiente) e com melhor capacidade 5 As IES tal como os estudantes devem ser mais adaptáveis à realidade da sociedade que se altera cada vez mais rapidamente.
  • 12. Moniz/Um novo horizonte/12 (poderia e deveria ter mais) para a prosperidade económica e força social. Mas estará apta para o século XXI? A função mais importante numa democracia contemporânea é o da cidadania. Nesse âmbito, há que, primeiro, ser-se capaz de recolher informação, conhecimento em forma crua; segundo, saber avaliar os argumentos relacionados com essa informação, e, por fim, participar, debater, discursar (!) de forma envolvida e racional, em função dessa informação. Uma cidadania devidamente educada concretiza-se na elaboração de opiniões, apoiada na evidência de factos. Assim, estará mais bem informada para tomar decisões e efetuar as escolhas políticas difíceis que se precisa. Produzir cidadania instruída é a responsabilidade primária da comunidade e do ensino superior. Não obstante, essa tarefa fundamental é hercúlea. Qualquer sociedade, em qualquer período, é uma estrutura com procedimentos complexos tendo por base a análise de informação. E é por isso que o ensino superior tem sido, é e será cada vez mais importante. Requer-se uma participação ativa, informada e desafiadora, pensando criticamente, de forma atrevida, inovadora e inesperada, acerca dos problemas e das oportunidades que surgem no dia-a-dia. Mas esse sucesso dependerá da forma como o ensino superior for liderado e ministrado no século XXI. Esse empreendimento social, uma ‘empresa’, no sentido (etimológico) de uma ação de tomar, agarrar, de todos, por todos e para todos, pretende-se muito bem formada e informada, com o propósito de ser eficazmente gerida. Empregando as novas tecnologias que irão emergir
  • 13. Moniz/Um novo horizonte/13 ao longo do século XXI, algumas ainda por regulamentar. Mas incontornáveis, irrecusáveis, inadiáveis a longo (ou médio? curto?!) prazo. Nos dias de hoje, e os já vindouros (repete-se; nunca é demais), tem que haver uma cidadania, educada, instruída, envolvida e sobretudo pensante, com as aptidões, as capacidades de uma força de trabalho que irá coliderar a nossa economia. O progresso, mas sobretudo a sobrevivência estável, requer que todos nós, como comunidade asseguremos o seguinte: por um lado, um amplo acesso a todos aqueles, qualquer que seja a sua proveniência, que procurem uma IES para adquirir uma instrução técnico- científica6 e uma formação cívica-ética da melhor qualidade; por outro lado, alcançarmos sucesso, cujo traço identificativo, no que nos concerne, será fornecermos o melhor apoio a(o)s nosso(a)s estudantes e que os mesmos finalizem os seus estudos, alcançando os respetivos graus académicos. Mas num tempo útil, justo e minimamente satisfatório! Em suma, é por isso que o ensino superior em Portugal importa. Haverá crescimento se e só se uma sociedade for instruída: por isso, devemos contribuir, em coliderança, para que as novas gerações sejam excecionalmente bem instruídas no mundo do conhecimento, com melhor capacidade cognitiva, com uma superior aptidão para inventar, empreender e produzir bens e serviços, em integração com tecnologia avançada e para benefício de todos. A narrativa acerca dessa IES será de enaltecimento por parte dos profundamente beneficiados por uma 6 Por exemplo, cursos, quer fossem de engenharia, literatura ou medicina, deveriam ter módulos opcionais de ensino-aprendizagem sobre ética, como também sobre análise e lógica, formulação de modelos matemáticos e desenvolver pensamento crítico. A criatividade não é um atributo exclusivo de uma área do conhecimento. Estudantes de física com frequência de unidades de crédito sobre cultura chinesa ou latim/grego, por exemplo, e estudantes de sociologia obter frequência em laboratórios específicos de diversas ciências naturais.
  • 14. Moniz/Um novo horizonte/14 visão científica de ampla uberdade académica. Daí a suprema importância nas escolhas políticas que se fazem e que vão influenciar a trajetória do próprio ensino superior. O ensino superior tem que voltar a ser importante, retornar a uma ‘paixão’ educativa, um elevado desígnio de Estado. Mas, não tem sido assim (ultimamente). E isso lamenta-se com tristeza7 . Encargos e Dificuldades Apesar de aumentos (?) no financiamento total para o Ensino Superior (por via do OE), na forma de contratos de legislatura quinquenais, as famílias sentem-se estiradas ao enviar e colocar as suas filhas, os seus filhos numa IES. É economicamente árduo e penoso, ao que acresce ansiedade sobre o futuro. Recebe-se por vezes informação que causa preocupação, por meio de relatórios em processos de acreditação e avaliação de ensino (via disponibilização por agências da tutela, e.g., a A3ES8 ) e de centros de investigação (nem sempre devidamente) associados a cursos. A análise dos relatórios dessas agências deveria ser consultada, não somente no mero termo classificativo, mas no conteúdo descritivo e por vezes crítico da funcionalidade, por exemplo, entre vários parâmetros de aferição. Também se recolhem outras notícias referentes a IES, 7 Mas há propostas, este ensaio, mormente. Para agitar por entre a turvação, contribuindo para uma eventual limpidez, uma (re)organização educativa; um novo horizonte. 8 A3ES i.e., Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior; cf. https://www.a3es.pt/
  • 15. Moniz/Um novo horizonte/15 mormente sobre aconselhamento e apoio académico, que não é o que seria desejável por essas famílias: professores e ensino que são severamente criticados pelos estudantes, o progresso para a graduação é dolorosamente lento, o dobro ou mais, do que seria desejável ou salutar; idem situações de abandono, retenção escolar no ensino superior. Têm, pois, sido anotadas queixas assim como comentários deste âmbito, mas sobretudo acerca dos elevados custos do ensino superior para algumas famílias. Professores e funcionários recebem reclamações que a sua instituição dá menos atenção ao ensino. Especificamente, a ‘missão’ transfigura-se mais em obter verba para projetos, investigação ‘medida’ em patentes. Ou numa multiplicidade de cursos para ‘captar’ mais e mais estudantes9 , eventualmente estrangeiros e obter a sua presença a quase qualquer custo. Também há que ter em conta que as IES são constrangidas por custos causados (direta ou indiretamente) por fatores externos (por exemplo, aumento de preços de consumíveis ou produtos alimentares, taxas incluindo portagens rodoviárias). Isso causará a instabilidade económica das IES. Mais ainda, sendo ‘cru’, mas frontal, para as famílias a qualidade desce apesar que “está tudo bem, vai ficar tudo bem”. No ‘fim do dia’, para essas famílias é a sensação de haver um puxar e empurrar, as IES terem mais e mais verba, mas pouco ou nada ‘reporem’ de qualidade de oferta formativa ‘a quem paga’, seja por via direta (propinas) ou indireta (por exemplo, IRS). Comentário injusto? Impreciso? Bem, há margem para incluir esta provocação. 9 Captar mais alunos, porque é esse o objetivo, mas ‘adicionam’ alguma exigência na seleção dos candidatos, oferecendo cursos com requisitos à entrada que assim irão mensurar à partida a qualidade dos estudantes aceites. Tudo para conseguirem ‘posicionar- se’ entre si, relativamente.
  • 16. Moniz/Um novo horizonte/16 Pior, ‘aquilo’ que era um emprego, que se poderia antever no início do curso, poderá já não haver nesse campo de estudo. Um(a) estudante dedicou-se durante anos, mas a atividade pode ter deixado de estar disponível, pelo menos de forma tão ampla ou tão especifica no mercado10 de trabalho11 . A sociedade é complexa, as necessidades variam em oferta e procura, a inovação tecnológica pode trazer alterações súbitas…e profundamente drásticas. Os ‘rankings’ não são inúteis12 , se bem estruturados e operacionalizados. Em particular, podem permitir apontar a importância de, por exemplo, o quociente entre número de estudantes e docentes, ou as taxas de graduação, i.e., quanto tempo demora um curso a ser completado; índices de satisfação e daí uma ou outra ‘nota’ qualitativa para reputação académica. Mencione-se o potencial de aferimento salarial para aqueles que se graduam numa dada IES, ponderado em termos do investimento das famílias e do Estado: merece ser discutido, pois esses salários poderão trazer mais (ou menos) contributos, posteriores e subsequentes, ao longo da vida laboral, por via de taxas e impostos. Acrescente-se nessa discussão a despesa (direta) da propina, assim como as (in)diretas da possível deslocação do seu local de vida e/ou trabalho 10 Alguma prudência: cursos versus oferta no mercado de trabalho, é uma relação que passa por diferentes ciclos e pode ser ‘campo-dependente’. Duas situações, dois exemplos: a engenharia informática atualmente tem uma grande procura; e no início deste século também se observava um excesso de docentes (ensino básico, secundário, superior), ‘acrescentando’ que iriamos depois ter falta (!) de docentes no futuro, dado o corpo docente ser (muito!) envelhecido … mas se a maioria dos jovens não escolherem a docência... 11 Também é pertinente apontar que algumas formações não oferecem remunerações consentâneas com o grau obtido, o que também leva algumas famílias a pensar se vale a pena enviar os filhos para a IES… 12 Os ‘rankings’, goste-se ou não, podem induzir como diferentes agentes tutelares e empresas (parceiras?) ‘avaliam’ as IES, assim como estudantes e suas famílias farão as suas escolhas deste ou daquele curso para frequentar. São já uma ‘bitola’ (!) que se vai considerando e, sim, os ‘rankings’ são variados e carregam influência. Por isso não são, pragmaticamente, todos inúteis. ‘Medir’ (?) a qualidade de uma IES é um problema multidimensional e nunca poderá ser baseado de forma estéril em apenas um ‘ranking’ (ou até numa sumula de todos). Qualquer ‘ranking’ é uma medida muito limitada, falível e pode ser incluída numa ferramenta mais ampla, entre várias operações de análise de qualidade.
  • 17. Moniz/Um novo horizonte/17 para o campus da IES. Estes custos, em particular na última década, têm aumentado quando recessões financeiras surgem13 . Crise Mencionada atrás, há a despesa de frequência do curso. A imediata e óbvia está definida na forma da propina, mas há outras decorrentes do usufruto dos campi (e.g., há que pagar investimentos em instalações e aquisições, nem sempre totalmente cobertos em OE…). A propina é uma forma directa de obter alguma receita, mas as verbas daí provenientes podem aumentar, descer… . De forma indirecta, também pode ser disponibilizada verba para as IES, obtida no entanto através da execução fiscal, por exemplo IRS, IRC, IVA (e outras taxas). ‘Engenharia’ de OE, por onde outros custos cabem ao Estado, os quais têm que ser também assegurados: saúde, transportes (aéreos, ferroviários), ‘administração interna’, muita outra ‘coisa’… . A argumentação simplista mas falaciosa, é de apresentar ao ‘consumidor’ (que pague as propinas, diretamente, ou, indiretamente, contribua no IRS ou o aumento de portagens ou de transportes ou combustíveis), os custos crescentes das IES como unicamente decorrentes 13 Uma consequência tem sido o aumento de popularidade do ensino online, e.g. no Brasil; o ‘vento’ está a passar de favor para desfavor nas instituições de ensino superior, ditas de tradicionais, mas melhorou para algumas estruturas educacionais alternativas, quiçá disruptivas… . Acresce referir a formação on-line em grandes empresas. Por exemplo, na ex-Portugal Telecom, permitindo um elevado número de formandos, com custos mínimos pois nem precisavam de deslocação para fora do local de trabalho. Ou o grupo ‘42’ em modo hibrido i.e., ‘blended’ (cf. https://www.42lisboa.com/), recente e … gratuito! Por que então procurar frequentar um 1º ciclo numa dada IES para se obter um bom emprego, com um bom salário? E até pode depois fazer uma pós- graduação online (2º ciclo) numa outra IES, tudo devidamente acreditado e ‘abraçado’ [pelas entidades empregadoras (muito competitivas)]. Nb. Eu declarei que seria atrevido na provocação.
  • 18. Moniz/Um novo horizonte/18 de aumentos salariais obrigatórios no ‘produtor’, se indexados ao quociente entre número de estudantes e docentes. No entanto, não são os salários que forçam o ensino superior em Portugal a ser cada vez mais dispendioso: os salários aumentam, mas lentamente, em comparação com muitos outros custos (e despesas institucionais). E serão estes últimos em larga medida, devido a uma opção (em casos, uma obsessão?) de atrair mais e mais estudantes, sem base sustentada para uma ‘estratégia’ de custo-investimento e incerteza de resultados, que provocam [direta e indiretamente (!)] um aumento do custo (existencial…) da IES. Não é o ‘preço’ de administração e do corpo docente, mas… é o custo que muitas vezes advém de uma IES se ‘dotar’ com algumas ‘bolsas de estudo’ ou necessidades ‘assalariadas’, construções e estruturas físicas na forma de edifícios, melhorias de acesso, incluindo as redes sociais, sem ser por programas sensatos de financiamento. Ou criar núcleos associativos para estudantes, desde teatro a desporto, como muitas outras atividades, que legitimamente interessam aos estudantes que uma instituição providencie. E junte-se muitos gastos que são obrigatórios (e.g., acreditação14 via A3ES), aquisição de equipamentos obrigatórios à investigação para ser concorrencial (a nível da União Europeia) em termos de projetos para financiar, consumíveis muito (!!) dispendiosos, mobiliário, consultadoria, pareceres, manutenção, reparação ou mesmo a substituição de equipamento singular. As IES recebem, pois, com imenso e intenso agrado o(a)s estudantes que as escolhem ao invés de outras. Um diploma outorgado em certas instituições pode assim tornar-se bem 14 Os procedimentos que eventualmente conduzem à acreditação dos cursos são cada vez mais dispendiosos. Concretamente, em funcionário (não-docente ou docente) /hora de trabalho, como também em pagamento (!) à agência de acreditação.
  • 19. Moniz/Um novo horizonte/19 mais dispendioso (no fim, paga-se!), como resultado de atrair os candidatos mais exigentes. Ter um grau de um curso numa determinada universidade pode ainda ajudar em certos meios empresariais e industriais, a atingir um determinado emprego com algumas regalias, benefícios profissionais e vantagens financeiras. Mas esse dispêndio não provém tanto, repita-se, porque as IES tentam acomodar normas ditadas pela tutela sobre a progressão salarial do corpo docente. Diretamente, por meio de propinas, designadamente as que são muitas vezes cobradas em 2º ou 3º ciclo, extrai-se uma ‘compensação’ que contribui para o pagamento dos salários. Ou as que se ‘capitalizam’ por via dos estudantes internacionais. Há, pois, um paradoxo, como se expõe, com mais detalhe, no seguinte. Por um lado, são as IES que têm respondido aos problemas económicos que se lhes deparam. Designadamente com o aumento de preços em alguns bens e serviços (num mercado competitivo), desde propinas (quando e ‘onde’ podem), alojamento, manutenção e aquisição de equipamento, assalariados (e sem ser via OE direta), podendo ser com ‘despesas de administração’. Mas é como se algumas IES não se interessassem pelo que está em seu redor e como elas estão a ser a percecionadas nessa envolvência. Haverá IES, pela sua tradição e sendo por isso referência (ou pretendendo ser em grupo corporativo), que irão (ou já estão) a cobrar mais e diferente, sem qualquer perceção, gerando custo de forma lenta, mas contabilizada, sobre as famílias. E muito pior ainda, promovendo cursos com muito poucas das aptidões e competências necessárias para os estudantes, futuros graduados, terem sucesso no mercado global do século XXI. Seguem uma rota, um destino onde os estudantes, as suas famílias (e
  • 20. Moniz/Um novo horizonte/20 também os ‘fazedores de política’), são naturalmente arrastados para um vórtice algo ameaçador e preocupante15 . E por outro lado, todos os anos as IES precisam de mais e mais apoio financeiro, pois algumas encetaram despesa, desde, repita-se, aquisição de instrumentos e equipamento, construção, recuperação ou manutenção de edifícios e instalações. Modernização de soalhos, tetos, paredes e janelas. Novas ‘modalidades’ de aquecimento, ar condicionado. Mobiliário. Meios de transporte. É possível continuar… . E o/a contribuinte, tem de custear isto tudo, via impostos, sobretudo de forma indireta, pois o OE seguinte não pode deixar cair esta lista de instituições de ensino superior publico. A lista (ou qualquer dos elementos que a constituírem) é ‘too big to fail’. Coesão. Sacrifício. Tem de ser. O flagelo social… . Alternativas e de acesso imediato existem: os cursos de banda larga a distância, mas não transmitindo ainda segurança, salvo muito poucas exceções devidamente certificadas (i.e., Universidade Aberta). Exige-se cada vez mais qualidade, mas não tendo na sua essência ainda uma componente disruptiva de base tecnológica e personalizada no utente. Ainda não existe de forma generalizada, i.e., ‘plug & play’. Mas poderá de algum modo (deveria ser regulamentado para aferir padrões de ética, equidade, utilidade social) vir a surgir. Ironicamente, onde poderá (deverá?) haver alguma obtenção de lucro. 15 Graduados sem emprego não conseguem retribuir o investimento, por via de um IRS ou equivalente. A riqueza (também) social de um Estado dependerá da percentagem de cidadãos (incluindo esses graduados) que contribuam subsequentemente para as receitas (também sociais) do Estado. Em particular, numa Républica… . Graduados sem emprego é mau, é péssimo. É mesmo pior que mau…
  • 21. Moniz/Um novo horizonte/21 Há também o ponto de vista dos empregadores, que vão ter uma voz cada vez mais influente sobre as áreas em que precisam que alguns estudantes se graduem, conforme requerido pelo mercado de trabalho. Isso não pode ser desprezado. E embora podendo um ensino mais remoto ou menos próximo, orientado para o lucro económico, ser ‘apenas hoje’ mais dispendioso nos vários ciclos de estudos (comparativamente a instituições hoje totalmente públicas e de custos mais baixos), alguns casos têm sido objeto de análises de qualidade, através de várias (outras) agências de certificação. E essas alternativas podem vir a ser mais convenientes e ser mais fácil e rapidamente orientadas para os propósitos dos estudantes, especialmente obter capacidades e aptidões urgentes para o mercado de trabalho, muito necessitado, que evoluirá (nos próximos anos, décadas) de forma estonteante. A rede pública de instituições de ensino superior (ainda) não oferece alternativa dessa índole por que não quer, acha-se, repito, ‘too big to fail’. Mas o(a)s contribuintes (de impostos) e legisladores, tenderão gradualmente a colocar de forma direta e sobretudo indireta, uma redução de taxas em fundos financeiros para benefício destas novas operações de ensino. A manutenção (obrigatória?) de todas as IES atuais em Portugal, na sua distribuição, forma e conteúdo, pode deixar de ser realidade. Dadas estas alternativas graduais que vão emergir, ano após ano, e serão colocadas à disposição das famílias, as IES que as quiserem desprezar, quer por teimosia, incapacidade, estreiteza mental, poder-se-á dizer que vão merecer aquilo que irão recolher. Não terão mais apoio nem simpatia que muitas das indústrias antigas, outrora pujantes, as quais não souberam adequar-se, modernizar-se. Basta olhar, diria, o fantasma da falência de fábricas, abandonadas e totalmente destruídas: é aquilo que efetivamente pode acontecer gradualmente às salas de aula, até a todo um departamento ou uma faculdade. Dizer que isso jamais acontecerá?
  • 22. Moniz/Um novo horizonte/22 Jamais?! As pessoas envelhecem, os departamentos são ‘ajuntados’, alguns poderão ‘desaparecer’. Dito de outra forma, aos encargos onde as famílias sentem dificuldades, emerge também uma situação de crise financeira, diferenciada, (des)apercebida em maior ou menor intensidade, em (algumas) IES…. Elaboremos então de forma mais cuidada. Causas Há sem dúvida alguns aspetos de crise financeira (e consequências decorrentes…) nas IES. São sobretudo causas intrínsecas, próprias de uma tradição: alguns Institutos Politécnicos ou Universidades têm mantido práticas, importadas quer de outras IES ou dos seus próprios passados, mas ao ponto de agora colocar em perigo o seu futuro. As IES Portuguesas têm sido assim forçadas a reduzir o orçamento, diminuem custos, eliminam outros, mas raramente conseguem daí tirar melhorias relevantes. Não conseguem reinventar, significativamente, o conteúdo dos seus cursos, para preparar, melhor e diferente, os estudantes para as novas necessidades cognitivas. E acima de tudo, para as exigências de interface tecnológica, cada vez mais fortes, de um novo mercado de trabalho. Uma analogia é tomar uma empresa que pretende ter uma vantagem num dado mercado: ‘entra’ e oferece novas particularidades, tal como uma rapidez ‘fulminante’ no carregamento da bateria num telemóvel ou adicionar vitaminas ‘pujantes’ aos iogurtes. São vistos como
  • 23. Moniz/Um novo horizonte/23 inovações e não como reinvenção, o produto transforma-se em melhor e no entanto, o ‘design’ permanece o mesmo, seja uma caixa ou um pacote, os preços aumentam e o(a) consumidor(a) genérico(a) começa a pagar mais por aquilo que não precisa realmente… . Dito de outra forma, a nova empresa procura oferecer o mesmo utensilio que outro(s) competidor(es) oferece(m), a menos ou mais de umas ‘cores’. Designadamente, face à competição que está num patamar por ‘tempo’ de presença ou da experiência que já possui, alcançado junto dos ‘consumidores’. Numa IES, o preço acrescido a pagar é o custo daquilo que é ‘novo’. A IES vai auferindo (mais algum) capital por meio de atividades extracurriculares, cursos e programas de graduação. Pode argumentar-se que a frequência afinal até não é muito onerosa junto dos estudantes e das famílias. Ou que tudo resultou de assumir o pagamento de custos, consequentes sobretudo de outras decisões de ‘compra’ e mercado, marca e produto(s). O ‘consumidor’ é que optou por uma ‘inovação’ que afinal será só uma reapresentação empacotada, para essa ‘compra’; quis ir para ‘esta’ IES ao invés daquela(s) outra(s), por causa do diploma com ‘regalias’… Metáfora com alguma (mais uma) provocação: o ensino superior, empregando linguagem de gestão e economia, é o que se pode chamar de uma empresa amadurecida. É avessa a tomar riscos, muito autossatisfeita e por isso, por vezes (muito!) dispendiosa em alguns setores. Mas terá que promover o debate sobre assuntos fundamentais, sobre os seus programas académicos e terá que se transformar em algo, tomando em braços esta nova economia emergente com tecnologias de inteligência artificial. Esta irá dominar com o impacto da globalização, tecnologias rapidamente em evolução, uma população e uma demografia cada
  • 24. Moniz/Um novo horizonte/24 vez mais diversa. E se com uma faixa cada vez mais envelhecida, também terá novos consumidores caracterizados com novas necessidades, novos objetivos, novos hábitos, novos paradigmas e novas ferramentas. E agilidade e motivações intrínsecas, muito, muito diferentes. Um substancial salto geracional. Mind the gap!... A história está preenchida com exemplos de algumas indústrias (por exemplo, de natureza têxtil em várias regiões!), que por sua própria escolha desafiaram, mas falharam pois não quiseram responder ou sequer pior, não quiseram sequer tomar nota das mudanças no mundo à sua volta. Uma analogia ‘académica’ poderá ser a obra16 de Hermann Hesse, onde se discute ‘uma’ Universidade. No que concerne as IES Portuguesas, a sua organização atual, genericamente emergida no final do século XIX e no início do século XX, não tem até recentemente sido desafiada e por isso, não foi alterada de forma significativa na sua estrutura e operacionalidade. Muitas IES tentam um comportamento padrão em termos de gestão, melhorar o produto, dar aos ‘consumidores’ aquilo que eles querem (ou devem querer ou pior, têm de querer…) e observar alguma da competição. Idem se fossem produções de iogurte ou baterias de telemóvel. E aí surge o problema. Isso leva a que muitas instituições possam falhar inevitavelmente, enquanto líderes ou pretendendo (!) ser líderes ou ascender em alguma forma e operação, em classificação ou designação operacional. Irão, repita-se, focar em servir mais e melhor, indo 16 Cf. https://www.goodreads.com/book/show/16634.The_Glass_Bead_Game.
  • 25. Moniz/Um novo horizonte/25 ao encontro de necessidades ou talvez apenas pretensões de necessidades, observando o que fazem os ‘competidores’. E isso pode ser a raiz de um grave problema. Uma IES não é uma indústria ‘tout court’. Mas, salva a distância contextual e ‘orgânica’, refira-se o seguinte: sejam computadores ou motocicletas, quem entra na base do ‘mercado’, tem que ‘vender’ produtos simples aos ‘consumidores’, aos que são menos exigentes. E a partir daí, ir melhorando, passo a passo, de forma a ‘empurrar’ os anteriores líderes. E de certa forma é também algo, em termos sociais, que devemos considerar poder existir, de forma implícita ou não declarada, não necessariamente promovida de forma oficial mas emergindo assim, no setor da educação superior pública: IES ‘recém-chegadas’ na rede de oferta de cursos, principiam nos primeiros degraus da ‘escada’ e disponibilizam logo de início cursos base (sempre devidamente acreditados…); gradualmente irão tentar (!) apresentar mais e mais áreas formativas17 . Essa ação pode ser descrita em termos de ‘competição18 ’ e vista como saudável e vital: instituições maiores e mais antigas, experientes, (re)conhecidas, irão ser desafiadas por outras mais criativas e mais pequenas, potencialmente mais flexíveis. Por via de uma inovação, ‘contra’ aquelas que estão ‘entrincheiradas’, disponibilizar melhores serviços através dessa forma. O problema é quando todas se entrincheiram, mesmo as mais ‘jovens’ que, entretanto, adotaram os vícios das mais ‘vetustas’, arcaicas e reconhecidas. Vão 17 A distinção entre ensino politécnico/universitário tem-se esvanecido com o tempo: algumas ofertas formativas de uns ‘passaram’ a estar em outros, também. Deveria haver uma distinção operacional (atualizada!) sobre o que se pode encontrar em cada um. Entretanto, os politécnicos ambicionam ser como as universidades e as universidades, por sua vez ambicionam algumas das ofertas formativas dos politécnicos. 18 Idem intra-IES, pois mais alunos numa dada área pode significar mais vagas (e progressões) na carreira docente. Saliente-se que ao crescer, uma IES promove mais criatividade, proatividade e qualidade. E assim competir com as outras IES, mais avantajadas (em termos de cronologia e geografia). Assim se espera. Só que...
  • 26. Moniz/Um novo horizonte/26 querer abraçar (ou de uma forma gritante e ansiosa, agarrando com alguma brutalidade) o tão desejado apanágio de … ‘tradicionais’. É por aí que em muitos casos as estratégias de algumas novas universidades e institutos politécnicos têm sido tomadas. Só que o fizeram em esmagadora forma e ação, por meio de uma insipida imitação e não de inovação singular. Na sua defesa, essas instituições estão apenas a fazer o que a lógica e a tradição tem ditado. Inicialmente providenciar em modo básico e simples aquilo que pedem os possíveis (!) interessados. Designadamente o que já disponibilizam as IES maiores, mais antigas, mais abrangentes: oas estudantes procuram estar nessas universidades ou institutos politécnicos (pelas razões que se entenda etiquetar) e as ‘novas’ querem um pouco do ‘mesmo’. Algumas dessas vetustas IES têm orçamentos anuais na ordem de muitas dezenas a centena (mais?) de milhões de euros e a verdade é que também possuem um conjunto de fundos e financiamento complementar, que lhes permitem manter ou terão permitido manter durante algum tempo essa situação de domínio19 . Apesar de algumas tormentas ou ‘balanços’ por causa de algum incómodo no canal. No entanto essa situação pode ser muito perigosa. Em universidades e institutos politécnicos às quais ainda não há uma etiqueta de idêntico orçamento, arcaísmo, marca e nomeação (por entre a opinião pública), ao tentarem imitar as tradicionais e ‘antigas’ em especificidades, vão (ter de) incorrer em (mais!) despesa. Por exemplo: adicionar mais e novos estudantes, por via de novos cursos, e mais ainda, tentam 19 Valores que são depois ‘multiplicados’ para com (uma aplicação n)a economia das regiões.
  • 27. Moniz/Um novo horizonte/27 encontrar mais docentes, com algumas responsabilidades de investigação (se puderem). E esses docentes querem laboratórios, equipamento, edifícios, mobiliário, parques de estacionamento, ‘modalidades’ de aquecimento… . Em suma, novos custos. Tudo fica pior se depois…faltarem alunos, mesmo os internacionais. E há que cobrir despesas entretanto assumidas ou se já feitas… . E tudo ficou pior com a construção de mais edifícios, ou sua manutenção, recuperação, reconversão ou mesmo substituição. E mais equipamento laboratorial. E mais recursos materiais para suporte à administração. Emprego para os recursos humanos que vão assegurar essa administração. O sustento de famílias... . A bem de uma coesão, de uma região que precisa de reduzir o flagelo do desemprego. Como então cobrir esses custos? Aumentando as propinas? Por impostos (in)diretos (e.g., IRS ou portagens rodoviárias ou nas bebidas) através da tutela (governo)? Pode, mas … não chega. E por vezes (muitas, acontece…) não há os alunos suficientes em todos (ou nesses novos) cursos. As despesas de operação, desde vulgo consumível até subsídios e apoio académico associativo, aumentam (o dobro? Apenas metade? De uma terça parte ou o triplo?). E poderá haver abandono escolar e … a despesa aumentará, inapelável, podendo divergir. Mas isso não deveria ter sido possível: assim, não permite ter ‘vantagem’ para se começar uma universidade ou um instituto politécnico, a estar em competitividade. Economicamente, financeiramente, poderá ter sido tolerado, até incentivado ‘a bem de uma região’, coesa territorialmente, aceitado o dogma ou crença dessa necessidade, mas isso torna-se, de forma gradual, totalmente insustentável. Manter tudo como está, sem qualquer alteração, manter a possível estagnação? Afinal, existe (ou não) o pântano do ‘status quo’ de décadas no ensino superior? Muitas IES agora ou ‘amanhã’ não vão ter a capacidade de sustentar, de oferecer
  • 28. Moniz/Um novo horizonte/28 tantos (!) cursos, tão diversos para tantos estudantes ou requerer também que os seus professores compitam no mundo cada vez mais exigente de financiamento para investigação. Tem que ser assim? A despesa do financiamento disponível para as IES ‘jovens’ transformou-se, é cada vez mais limitada e mais competitiva. O resultado da ‘imitação’ com as universidades e institutos politécnicos arcaico-tradicionais, já presentes no sistema, é que, porventura, ironicamente, até poderá tornar estas últimas mais robustas e apenas um pouco mais dispendiosas. Mas, todas as outras, as mais ‘novas’, podem não se tornar melhores alternativas de um ponto de vista educacional e vão-se arrastando financeiramente, na dependência ‘mórbida’ de ‘agremiações’ parlamentares que as auxiliem ou promovam auxílio ao apelo ‘não podem falhar’, igual ao já citado ‘espectro de flagelo social’. Entre as mais jovens, algumas já não têm os recursos financeiros necessários, perderam-nos no mundo cada vez mais exigente, mais vulnerável. Uma conclusão possível é que o ensino superior em Portugal é uma atividade (em termos de economia e finanças públicas) extremamente perigosa, quando é o caso de algumas IES que estão num campo médio (ou pior), quando não têm nem a robustez, ou a qualidade; a despesa aumenta. E mesmo a equipa de barco a remos, a mais forte pode afundar se houver ondulação inesperada… E ganha a outra equipa, que, ou afunda mais tarde ou rema para junto da margem, vai devagarinho, formosa e, sim, segura, fluctuat nec mergitur. Mas ‘triunfa’, ‘aguentou-se’ por (muito) mais tempo, leva o prémio e benefícios mais vantagens decorrentes. Vae victis.
  • 29. Moniz/Um novo horizonte/29 Saliente-se, no entanto, que foi com sucesso amplo, lentamente, mas gradualmente, que a comunidade académica e as regiões associadas, se faziam conhecer por meio das IES: estas asseguravam um ensino para cada vez mais estudantes e sem dúvida que contribuíram para o avanço do conhecimento e a melhoria económica e social da região. Quem contribuísse por via de impostos e taxas, sem hesitação abraçava ‘essa causa’, satisfeito pelo crescimento institucional e de todos os benefícios que daí vieram para a região e o país. Casos de sucesso, repita-se. Mas, no entanto, este modelo padrão, agora torna-se insustentável. Ao invés, as IES têm pois que desenvolver novas estratégias e ir para além da simples imitação; têm de se tornar mestres numa excelência singular. Estrategicamente esse deve ser o caminho. Para a maioria das IES na década que começa, terá que haver ‘a mudança’ e é inevitável; a grande questão é quando é que ela acontece , na próxima semana, no mês que vem ou no final do semestre e quais são as forças, a pressão que será trazida com ela; será extremamente infeliz que haja um atraso causado por alguma rejeição interna, induzida por arrogância ou menosprezo. Permita-se adicionar que quando surgem problemas económicos, nomeadamente orçamentais na tutela (e eles surgem muitas vezes porque aquilo que era pretendido a nível internacional não corre bem ou pela lei de Murphy…), temos de ter orçamentos de crise. E são sempre particularmente afetadas as IES ‘jovens’ que se ‘modelaram’ nas arcaicas20 e vetustas. Não tenham ilusões, vem aí, sem qualquer piedade, uma … 20 Deve ser salientado que não apenas a ‘idade’ mas também a localização geográfica é importante (e muito) face aos desafios, particularmente os económicos. Repercute-se na captação de alunos, relacionamento com o meio empresarial e fontes de mecenato académico. E sobre o fator ‘localização’ [localização (de forma direta), localização (de forma indireta)], cf. a provocação no último capítulo, concretamente o último dos quatro próximos: o conformismo, sobretudo ao nível de ‘isso não nos vai afetar’, ‘somos de rija tempera’, pode induzir um excesso de falsa (!) segurança e depois, o diagnóstico já não será mau; é grave, será muito pior.
  • 30. Moniz/Um novo horizonte/30 Disrupção A teoria da inovação disruptiva baseia-se (já referi aqui, mas não explicitamente, nesta sequência introdutória) no facto de empresas, que entram no início ou na base do mercado, terem de vender produtos simples aos consumidores menos exigentes. E a partir daí, ir melhorando, passo a passo, de forma a ‘empurrar’ os anteriores líderes para uma situação irrecusável de disrupção. E de certa forma é também algo que deveríamos esperar também ocorrer no setor da educação superior pública, a inovação disruptiva. Mas nas IES há uma anomalia que não lhes permitem preencher este enquadramento de disrupção. Elaboremos. Algumas que ‘entram’ no ensino superior, entram na base como novos concorrentes e oferecem logo de início cursos simples21 , que gradualmente ficam mais ‘complexos’. Só que o enfraquecimento das que já lá estão, em etapas tardias da disrupção, é algo que raramente acontece no ensino superior. Temos ‘entradas’, mas não temos saídas (ou ‘quedas’ ou abandonos22 ) quer entre as que ‘já lá estão’ ou nas que entraram… . Por um lado, no ensino superior é difícil ter alguma disrupção porque as qualidades humanas de um centro de investigação ou faculdade não podem ser facilmente repetíveis23 (em âmbitos ‘cronológicos’ e/ou ‘geográficos’). E acresce o seguinte. 21 Por exemplo, os cursos preparatórios da década de 80 e inícios dos 90 que conduzia depois os alunos para as outras IES, nos seus 2 últimos anos da licenciatura (pré-Bolonha). 22 Excetuando a extinção de algumas IES privadas quer por questões empresariais/económicas quer por via da regulação do Estado. 23 Mas, no entanto, o ensino poderá ter um fator de disrupção através da tecnologia online, que iria melhorando e poderia desviar, assim enfraquecendo (mas nunca anular) o foco competitivo das credenciais dos professores ou
  • 31. Moniz/Um novo horizonte/31 Tomemos dois grupos distintos de estudantes, que já estão ou apontam vir a estar, em diversos empregos ou situações laborais. Num grupo, o prestígio da IES é primordial e determina uma vivência académica; para membros deste grupo, a experiência de vida na instituição é algo difícil de ser alvo de disrupção, pela valorização que ou pela família ou pelas responsabilidades de trabalho (futuro), lhe alocam. Contudo, o(a)s estudantes no outro grupo (muito menor ainda, em elementos) não querem despender tanto tempo no campus para obter um grau; ele(a)s apenas querem aprender aquilo para que têm tempo muitas vezes depois de um longo e cansativo dia trabalho; este novo público, que entra no sistema educativo são disruptore(a)s mas ainda em muito pequeno número. Por enquanto… . Em suma, num processo de disrupção que pode ou não ocorrer, o(a)s alumni e o(a)s ‘legisladore(a)s’, os quais foram ‘consumidores’contribuintes das suas instituições, atribuem o seu apoio motivado por uma relação pessoal forte com as IES. Alumni e o apoio estatal ainda dão às instituições tradicionais e com vantagens ‘geográficas’ um poder único no ensino superior em Portugal, estas recebendo a verba e ajuda financeira. Por isso, têm tido um longo percurso livre de qualquer disrupção, inclusive a tecnológica. Instituições públicas que recebam ao longo do tempo o compromisso dos contribuintes de impostos, com a combinação do prestígio (que é sempre algo difícil de definir) associada ao apoio leal de alumni e legislador, de forças políticas, tudo isso tem permitido a essas IES atravessar sem grande dolo e problema do prestígio da instituição, para ‘aquilo que os estudantes realmente precisam’ (pois é assim que poderá vir a ser promovido…) e, quiçá, de forma quase, quase ‘gratuita’…
  • 32. Moniz/Um novo horizonte/32 as tempestades financeiras. Em tempos de crise económica, vêm chamadas de atenção, alarmes para acorrer, proceder a uma reforma… . Mas as IES, arcaicas e/ou ‘bem situadas’, etiquetadas pelos décadas e até séculos de longa existência, pelo montante dotado nos seus orçamentos via OE, pela quantidade dos seus cursos, de faculdades, de alunos, (quase) nada sentem. Ou então um pouco de aperto de financiamento, interno, mas é coisa ligeira e são autossuficientes para se manterem competitivas até que os mercados financeiros ou o OE recuperem e haja um novo reforço do financiamento (por parte da tutela) para com elas. A procura dessas IES permitirá cobrir custos através de pequenas campanhas, emolumentos, que, entretanto, surjam para manter essa crise longe. Uma outra razão para a falta de disrupção no ensino superior em Portugal é a forma com que a ausência da disrupção tecnológica se tem sentido, desde que nas instituições juntaram alunos em salas de aula em configuração de ‘anfiteatro’ e já vão séculos: os livros de texto e exames orais e escritos têm permanecido (salvo exceções que deveriam ser louvadas) na mesma forma, mesmo quando os computadores são introduzidos (como ‘adereço promocional’) na mesa da sala de aula de qualquer estudante: ainda são usados para reforçar a instrução existente; as aulas são melhoradas com a presença de gráficos computacionais; a aula ainda permanece na sua forma original. Mas eis que agora surge uma inovação que é disruptiva e vai ou já está a alterar isso. Existe um novo meio, tecnologicamente acessível, para instruir (complementarmente, na proporção que for sensata, caso a caso, curso a curso) os estudantes: o ensino mas também a aprendizagem têm uma componente online, através de meios tecnológicos que estão cada vez
  • 33. Moniz/Um novo horizonte/33 mais (embora nem sempre de forma fácil e generalizada) disponíveis. Resta saber se capaz e benéfico como alguns dizem. Há imensas dúvidas, hesitações, até rejeições na totalidade e sem apelo ou discussão que seja, ‘extermine-se’ dirão alguns. Mas, atenção, existe alguma acreditação, mesmo para cursos-padrão em IES tradicionais, cada vez mais orientada para a comparticipação (e.g., ‘blended’, híbridos…), explícita na informação disponibilizada nos seus sítios da internet. Sobretudo para alguns cursos de pós-graduação, que providenciam essa comunicação no mundo cada vez mais competitivo. Cada vez menos se dá como importante a evidência e a capacidade da mera existência da instituição em ‘cimento e tijolo’ versus o ‘treino’ que uma faculdade demonstrará no ensino dos seus estudantes, por meio de uma composição de aprendizagem in situ e ‘em rede’. Dito de outra forma, a qualidade dos cursos, para aquilo que eles servem, importará mais do que necessariamente ter no topo dos critérios de escolha e seleção de um curso (e IES) as paredes e os tijolos. Junto com o ‘nível’ dos investigadores da IES que vão apoiar o ensino universitário ou politécnico. A combinação de tecnologia disruptiva junto de um aumento do foco educacional presencial, na graduação dos estudantes, abre a porta a novas formas de competição. É indispensável. A IES tem que mudar rapidamente e de forma fundamental tudo (ou quase) aquilo que tem feito; a verdade é que o modo como tem operado tem sido particularmente dispendioso. Nas IES é forçoso dominar os desafios, as oportunidades oferecidas por uma sociedade de mudança rápida e global. Precisa-se mais do que apenas uma capacidade técnica e uma competência cognitiva. Os estudantes, em particular, precisam de um enquadramento
  • 34. Moniz/Um novo horizonte/34 educativo no qual, não só possam estudar, mas também alargar os seus horizontes e simplesmente crescer. Isto é, (i) a IES com a sua composição de diversidade intelectual, com a vida num campus social. Como algo para onde crescer, evoluir e de facto poder estar junto com professores, que podem pela sua presença mudar o rumo de vida. Mas é agora cada vez mais necessário tomar a oportunidade de uma autoavaliação e uma reforma urgente: arriscamos cair na armadilha de nos podermos tornar obsoletos ou parcialmente obsoletos no ‘mercado’ de ensino superior do séc. XXI. E (ii) o processo de aprendizagem é melhorado quando envolve uma mistura de ensino presencial e enriquecida com disponibilidade online (i.e., acesso a vastos repositórios24 ). A experiência tradicional de vida na instituição e no campus, a presença de membros de faculdade a tempo inteiro em universidades tradicionais, em particular as que abracem ferramentas modernas, para sustentar a inovação e tecnologia; cf. o capitulo sobre inteligência artificial neste ensaio. Considere-se a situação [diferente (?)] da confrontada por jornais em suporte de papel, que sofreram com a vinda da tecnologia digital, que lhes fecharam (algumas das) portas… . Se a disrupção é competitiva, há também aversão à mudança. Com o poder do prestígio no ensino superior, onde a qualidade do produto é difícil de ‘medir’ (se é que se pode medir de 24 Um exemplo notável, excecional e de qualidade superior, que alguns podem tomar de paradigmático, é o caso da Universidade de São Paulo, Brasil.
  • 35. Moniz/Um novo horizonte/35 alguma forma), quando não se tem a devida comparação entre universidades e institutos politécnicos, daquilo que elas ‘produzem’ para os seus estudantes, sucede pois que as IES mais antigas, com melhor ‘conforto geográfico, mais respeitadas, têm uma vantagem natural. São também aquelas que são presumidas (em promoção de produto e opções de ‘consumidor’) de ser as melhores escolhas para o futuro. Isso é uma força estabilizadora (que se faz mal em desprezar e depois, pior, ignorar), reforçada pela acreditação e relatórios apensos, um processo onde sobretudo representantes dessas IES tradicionais, periodicamente participam (e dominam!), julgando do rigor e da qualidade de todas as instituições estabelecidas e … as recém chegadas. Ao fazerem isso tendem a aplicar os seus próprios padrões de prática a outras instituições. Por outras palavras: esta conformidade para com a tradição torna-se o preço da continuidade por meio da acreditação e de entrada na ‘indústria’. É uma outra (espécie) de “câmara corporativa”. Era preciso, em ‘género’, diversificar25 a governação (de forma intrínseca e extrínseca) em cada agência de acreditação. Agora, reiterando em termos generalistas de economia (e mercado). Temos diversos modelos de inovação e esta poderá ter que ser ‘considerada’, para revelar ameaças potenciais, mas também as oportunidades que as IES têm pela frente. Poderá estar num cruzamento, numa bifurcação: por um percurso, estará face a uma disrupção competitiva (e ‘ríspida’) e por outro, colocada numa outra forma de ressurgimento mais apoiado e gradual. 25 Será difícil clarificar por entre estas ‘águas’ turvas mas algo novo e límpido, precisa-se!
  • 36. Moniz/Um novo horizonte/36 Porque há dois tipos principais de inovação. O primeiro tipo é inovação sustentada, com a qual se faz algo melhor ou maior. Exemplos desta inovação são os casos de baterias de telemóvel que duram mais tempo, televisões com melhores imagens e obviamente IES com ‘melhores’ cursos, acreditados e com ‘melhores’ centros de investigação, ativos na indústria. A sua ‘localização’ (territorial, mas também cronológica) transpõe-se na captação de alunos, relacionamento com o tecido empresarial. Algumas, apenas algumas e não todas, quase sempre ganham as batalhas de criar inovação sustentada. Não apenas por causa dos seus recursos financeiros disponíveis, mas por causa da sua capacidade, sua expertise, da sua competência, que lhes dá uma significativa vantagem em criar e tornar as coisas maiores e melhores. A inovação disruptiva, pelo contrário é trazer para o mercado um conjunto de serviços e produtos, que não são (ainda) tão bons como os tradicionais mas …são mais fáceis de usar e é aí que o ensino com mais recursos online é um exemplo, embora ainda na sua infância. Quando as velocidades da internet são baixas e alguns (mas cada vez menos!) cursos online são simples sumários das aulas tradicionais, a qualidade do ensino online ainda está muito (muito, mesmo!) abaixo do que é o ensino presencial. Mas os ‘consumidores’ que não podem assistir a aulas disponibilizadas num determinado local, tal como adultos que trabalham, encontram no ensino online uma forma de educação atrativa ou quanto muito tolerável (para eles): a definição de qualidade tem um significado diferente! É uma aula baseada no computador, à noite na sua própria casa e por isso consegue vencer o presencial que exigia da
  • 37. Moniz/Um novo horizonte/37 sua parte uma viagem e um horário muito sacrificado. E depois há a disponibilização a qualquer momento e de material diverso. Esta inovação disruptiva é inicialmente para não-‘consumidores’ tradicionais, é um produto ou serviço que as instituições ‘corporativas’ ignoraram, assumindo de forma arrogante e errada que na sua vigência, os ‘consumidores’ não estariam jamais (!?) interessados a não ser no serviço tradicional. Mas à medida que a inovação disruptiva progride, e vai ficando melhor pela sua forma e conteúdo, paradoxalmente, a inovação sustentada vai tornando-se uma ameaça para as instituições e para os consumidores que a têm preferido. Por exemplo, os cursos online vão tendo capacidades e elementos como videoconferência, que transformam o curso online numa quase sala de aula ou mais próximo ou menos longe, como também criam tutoriais online e discussões de estudantes, fóruns abertos a qualquer hora e oportunidade, sem limite local, que o curso estritamente tradicional não providencia. A tecnologia oferece algumas vantagens em custo (podendo até ser totalmente gratuita!) e uso, as inovações de qualidade estão gradualmente a melhorar o produto, até ao ponto em que estudantes de IES ‘tradicionais’ poderão considerá-las (mais!) apelativas26 . Será um erro crasso, desprezar esta complementaridade que pode ser tão rica e diversa de componentes e oportunidades. Irão, as IES que desprezarem a mudança, reclamar uma vitória, mas pírrica. Como se disse, It’s the economy e esta dita (em certa medida) a evolução do mundo, seja no mercado de transação bolsista no centro da capital de um consórcio de nações ou na mercearia da mais pequena aldeia. Ou como uma vez foi proferido, ‘eppur si muove’… (Galileo Galilei). 26 Mas falta inovar na qualidade da avaliação online e assim esta modalidade ainda não tem este acréscimo de credibilidade.
  • 38. Moniz/Um novo horizonte/38 Algumas IES vão, pois, encontrar as inovações disruptivas (que correspondam à sua escala ou ambição) e serão obrigadas a reexaminar a sua missão, a sua visão, os seus objetivos e sobretudo a sua operacionalidade. A tempo e horas? Ou demasiado tarde? Se as IES não souberem ser inovadoras, desafiadoras, atrevidas, inesperadas e iconoclastas, a encontrar meios com custos reduzidos de oferecer algumas das suas funções com igual qualidade, então estarão condenadas a um declínio parcial, se não total. A mudança por inovação está ao seu alcance. Têm pois que se reinventar. E de acordo, a inovação da IES tem pois que ser baseada em informação cuidada, por um alto reconhecimento e autoavaliação, supervisionada (sem dolo da autonomia) a nível da tutela (competente…) A IES típica só terá sucesso ao adaptar-se onde conveniente, como um grupo de IES mais exigentes poderá já ter feito…: verificaram o que está a acontecer. Há um aumento do número de ‘consumidores’ ou prováveis ‘consumidores’, que vão deixar de tomar as ofertas tradicionais e poderão transformar-se, com a emergência de tecnologias27 . Isso poderá permitir aos novos competidores, baseados em tecnologias do séc. XXI retirar ‘capital’ às instituições (incluindo as que meramente e em conformismo de ‘rija têmpera’) imitam a tradição, servir o grupo de não-ainda-consumidores e ainda não-totalmente-assimilado. E assim o padrão da inovação sustentada é quebrado (!) pela tecnologia de disrupção: é o caso, por exemplo, dos 27 Por exemplo: ambientais; da saúde; exploração espacial e dos fundos marinhos.
  • 39. Moniz/Um novo horizonte/39 computadores pessoais e portáteis em comparação com os computadores ‘monstros’ que dantes, existiam historicamente28 no ensino superior. Algumas IES consideram gradualmente a aplicação do poder da tecnologia de aprendizagem online, ou envolver algo online junto ao estudante, muito para além do mero acessório decorativo na educação tradicional da sala de aula do século passado (ou o que o antecedeu). Com (outros) custos mais atrativos. Competitivos. Não só pela questão da propina (1º, 2º e 3º ciclos!) mas também em deslocar-se do seu local de trabalho ou residência e a vinda para o campus, repita-se. O ensino online tem tido mais procura na última década e sobretudo aumentado quando as dificuldades financeiras surgem. Os desvios e as mudanças que mudaram de favor para desfavor nas instituições tradicionais é aquele que melhorou nas ‘velas’ de algumas estruturas educacionais online. As IES conseguem ter mais fundos e financiamento, através da ‘frequência’ de mais alunos, quando disponibilizam alguma parte do ensino em formato online. Mas, talvez o mero e simples recurso a uma disponibilização online, em moldes de simples ato defletido, repetido e numa versão ‘copiada’ do modo presencial, seja meramente redundante e não tão avant-garde29 . Ou sequer inovador. Ou disruptivo. E no entanto, o genuinamente novo é sempre inesperado. Inclusive em conteúdo e operacionalidade. Pode ser iconoclasta (muitas vezes é!) e com tanto de impressionante como impensável (hoje). 28 E já ‘andam por aí’ computadores quânticos. 29 Nb. Há já opções ‘ibéricas’ onde por exemplo se tem ‘folhas de Excel’ programadas para simulações, junto com acesso a acompanhamento por tutores. Isto é, alguma organização e sofisticação. Portanto, não são só aulas gravadas ou um monte de textos em Moodle. É assim…
  • 40. Moniz/Um novo horizonte/40 Saliente-se também o seguinte. Uma IES incorpora uma economia aberta, ‘importa e exporta bens e serviços’ que precisa de realizar de forma sustentada, com oferta e procura atrativa, compatível com a sua missão, com investimento diverso e adequado. E, no entanto, surge a questão sobre o sistema das IES em Portugal. Como chegou ‘aqui’, como tomar uma trajetória de crescimento subsequente… Conforme já mencionado, há uma parte da população que é envelhecida e as taxas de natalidade decrescem, há abismos de desenvolvimento (cronológico e geográfico) por entre regiões. Houve progressos tutelares para financiar reforçadamente a investigação, a inovação tecnológica, mas também ocorreram tombos inesperados, um aumento do défice; custos sociais de confinamento pandémico causaram retrocessos, piorando. E no entanto, repete-se, tem de haver pois uma imensa mudança de política para as IES, para a investigação e desenvolvimento de tecnologia. Um crescimento sustentado por meio da educação, por toda a sociedade Portuguesa, para criar uma recuperação também do setor económico. Trazer um novo horizonte, uma nova esperança para os jovens, para dar prosperidade mas também felicidade, abraçada na resiliência. Por isso haverá que rever (pretendendo melhorar!) os instrumentos de políticas públicas para estimular as IES, os modos de financiamento, renovar (!) o tecido acadêmico e empresarial apoiante, dar atenção (i) aos setores expostos mais diretamente à concorrência internacional, (ii) o agravamento de desigualdades causado por desemprego e decréscimo de rendimentos familiares. Será que para as IES temos em Portugal um sistema sustentável, com boas infraestruturas, incluindo humanas (ensino)? Será que investimos (e devemos investir mais) para dotar as IES de mais e melhores meios digitais? Será que podemos atribuir os recursos
  • 41. Moniz/Um novo horizonte/41 correspondentes aos jovens e suas famílias, eliminar ou atenuar desigualdades? A aprendizagem é sobretudo uma interação social. Mas atribuir melhor (cada vez mais!) financiamento às IES deverá vir pela consensualização de um novo pacto, um novo compromisso30 . Mormente, reformas educacionais de forte magnitude terão que ser seguidas, como (pré?) condição, uma exigência para que (subsequentemente?) emerja maior apoio financeiro, junto com percursos ‘quase gratuitos’ para a frequência de uma IES. Um contrato significativo, mas que tem de ser em inequívoca seriedade. Tem de ser uma reforma histórica para o século XXI, responsável por e para todo o encadeamento de intervenientes, na construção de (novas) competências, da e pela qualidade nas IES Portuguesas. Apenas uma correção desta envergadura fornecerá eventualmente a citada resiliência, um novo entrelaçar de parcerias colaborativas com as empresas, por meio de boas (!) políticas públicas para estimular o investimento no sistema das IES. E prioritariamente, por via da investigação e inovação tecnológica, criar o crescimento sustentado, aumentando o emprego e a produtividade das estruturas económicas, desenvolvendo em ciclo o sistema educacional. Será pois então que podemos, que conseguimos identificar os objetivos de desenvolvimento futuro, melhorar o nível de competência de toda a sociedade, de toda a população por meio dessa reforma educacional de forte magnitude? Em particular, com percursos de aprendizagem continua ao longo da vida? 30 Cf. por exemplo (e não isento de controvérsia e ‘queixas’) o ‘Donahoe Higher Education Act’, https://web.archive.org/web/20080926010021/http://sunsite.berkeley.edu/~ucalhist/archives_exhibits/masterpla n/, no estado da Califórnia.
  • 42. Moniz/Um novo horizonte/42 É inequívoco que vamos enfrentar desafios e obstáculos, os orçamentos não serão ilimitados. Como então manter as IES sustentadas financeiramente quando há muitas outras exigências e urgentes, por exemplo na saúde? O progresso das IES depende de investimento público, mas para ter mais, haverá que fazer diferente e melhor. No âmbito de uma nova visão, nova missão, novo enquadramento. Haverá também que considerar outras fontes, colaborar com empresas, a indústria. E considerar que alocar mais verba publica às IES pode implicar retirar, por exemplo, à agricultura e pescas ou transportes ferroviários. Ter mais financiamento nas IES implicará por isso a ‘fatura’ de ter muitas mais (amplas) reformas na estrutura das IES. Antes de prosseguir para os capítulos específicos, uma digressão com alguns veios de ‘economia’. O nosso país tem estado estável, com qualidade de vida (em média) em progresso. Mas se ‘ameaçado’ (ver o último, quarto capítulo desta série, que se inicia no próximo), se ficar muito enfraquecido, como é que isso nos afetará, economicamente falando? É difícil (para não dizer que não se recomenda) evitar debater o problema demográfico. Qualquer retoma e sustentabilidade depende de um compromisso geracional. Só que uma longevidade (sempre a precisar de cuidados), junto com uma baixa natalidade, redução de receita contributiva por empobrecimento, obrigarão a repensar modelos simples: provocar mais despesa (no contribuinte) associada a impostos para se gerar mais receita, todos (uns mais que outros…) a pagar? Mas será um esforço justo para benefício solidário, ‘orgânico’? Se num mercado aberto, num Estado onde a escolha for por via de processos democráticos (como deve e tem que ser), se se optar por flexibilidade, risco e competição, ao invés de estabilidade solidária… Pode ser um problema e uma nova realidade: poder-se-á optar por contribuir seletivamente… As gerações que abraçam novas redes sociais podem já não vir para a rua gritar; ou ‘gritarão’ de
  • 43. Moniz/Um novo horizonte/43 outra forma, para outros alvos e apelos. Nenhum dictum’ autocrático fará qualquer sentido para os novos grupos. E, no entanto, a economia do nosso país precisa de uma retoma vigorosa quanto antes, pelos próximos anos. Ou seremos ultrapassados em indicadores de competitividade e desenvolvimento por entre os espaços (e.g., Europeus) onde estamos. E isso depois reflete-se nas escolhas de quem quiser em nós investir (ou não): sucesso gera sucesso. O desígnio em décadas anteriores era a … convergência económica apontada para junto de algumas nações líderes. Mas afinal parece que se divergiu; estamos mais longe? Isto de analisar geodésicas e congruências… Em qualquer caso, arrisco afirmar que o investimento em ciência e tecnologia em Portugal é primordial. Sim, outros setores (legitimamente aflitos) estão carentes e em desespero. Problema complexo, solução complexa. Mas se temos nações que abraçam o dever de apoiar a ciência e tecnologia, para fazer face a ‘ameaças’, com o triplo da percentagem do PIB (produto interno bruto) dedicado à investigação e desenvolvimento tecnológico, em comparação connosco…. E neste âmbito de ameaças31 e riscos, é curioso notar (fonte CE, EUROSTAT) que temos países em crescimento económico (no espaço Europeu) com fraca dependência do contributo do turismo no PIB (i.e., o turismo existe, pode ser amplo, mas não determinante na economia), e o seu investimento percentual do referido PIB nas suas IES é duas a três vezes superior e… têm um sistema educativo (talvez sem ‘dictum’, talvez com mais contratos de confiança e ‘orgânicos’, esprit de corps, desígnios de Estado para décadas) com taxas de graduação bem mais elevadas. E pronto, é assim: têm mais crescimento (económico) médio anual por década, ‘QED’. Opções? ‘If it works..,’ é uma ‘roda’, deixa andar. 31 Reitera-se: ver último, quarto capítulo desta série, que se inicia com o seguinte.
  • 44. Moniz/Um novo horizonte/44 Resignação, num ‘embrulho’ conformista. Mas pode (vai!) destruir o crescimento. Ao invés, haja um debate sincero e com diferenças (ortogonais) de opinião. Conquistar distância, obter espaço. Esse debate, para estabelecer o equilíbrio, congregando o que é correto e que precisa de ser consensual, é algo de construção exigente. Determinar de forma rigorosa o que nos centraliza e revela, tal como nos mantém coesos, é, repita-se, muito exigente. Entre manter autonomia, mas vencer receios de inovar estruturalmente. É esse debate que nos une e que muito necessitamos. Realizá-lo de forma colegial, para encontrar uma nova rota, é o desafio.
  • 45. Moniz/Um novo horizonte/45 “Uma filantropia eficaz exige imenso tempo e criatividade – o mesmo tipo de foco e capacidade que requer desenvolver com sucesso um empreendimento”, Bill Gates Filantropia Por entre o capítulo anterior, alguns parágrafos podem induzir uma perceção de ‘conflito’ aparente. Por um lado, a despesa em algumas universidades ou institutos politécnicos terá aumentado e bastante, por diversas causas. Por outro lado, realinhar o ensino superior, por exemplo com novas tecnologias, terá custos (elevados). Se ‘é (sempre) a economia’, onde pois ir obter (mais e melhor) suporte financeiro? Assumindo a missão partilhada de um conjunto público de ensino que deve ser devidamente apoiada com fundos públicos (o OE!), deveríamos complementar essa fonte (e outras) com outro procedimento, no qual se deveria investir profissionalmente. É a escolha entre o passivo e o proativo. Enfatiza-se que só poderá ser empregue e carece sempre de haver uma fórmula de financiamento publico32 , com regras transparentes, i.e., não se pode substituir à fonte do OE…, 32 Saliente-se o texto (controverso, mas merecedor de mais analise e subsequente melhor estudo…) ‘Modelo de Financiamento do ES: Fórmulas e Procedimentos’, Julho 2015, da SEES, ISBN-978-972-729-086-4, em http://id.bnportugal.gov.pt/bib/bibnacional/1915892.
  • 46. Moniz/Um novo horizonte/46 mas não deveríamos desprezar fontes de filantropia ou crowdfunding, i.e., disruptiva. Porventura irrealista dirão alguns, mas se for possível, por cada 10€ de OE, obter por esta via complementar 1€? Ou 2 ou 5? I.e., ‘recuperar’ em mais 10, 20 ou 50% o que viria por OE mas agora ‘assim’. Ter-se capital inequivocamente próprio para se investir de forma inequivocamente autónoma33 . A governação universitária e politécnica precisa inovar nas linhas de apoio financeiro, é preciso criar relações solidárias com muitos dos investidores (estes num sentido muito lato). Empregar uma nova forma de comunicar, interna e externa. Tem que ser alterada e tanto entre, como durante as várias crises que podem surgir, não só de natureza financeira, é pois preciso estar preparado para agir e gerir. Embora seja algo que não está muito desenvolvido no nosso país, a filantropia34 , i.e., arranjar doadores para fundos académicos é algo que devemos procurar, de forma muito proativa, inovadora, criativa. Temos que o fazer. De forma elencada, é preciso - uma nova abordagem, desde o concretizar de uma forma direta em termos da instituição, ter gabinetes e equipas (profissionais!!!) dedicadas a trabalhar junto com o(a)s doadore(a)s, para 33 “Eu já pago impostos a mais ao Estado, portanto (a IES) não me deve ‘cobrar’ (mais) nada”. Isto acontece com frequência quando alguém vem pedir por exemplo um serviço à IES. Em geral, não se sabe como funciona uma IES: e.g., porque só há (?) ‘férias’ em Agosto ou porque é que os docentes não podem mudar de IES como os do básicosecundário procedem para tentar mudar de escola... 34 Por entre a bibliografia que se indica nas páginas finais, cf. por exemplo as obras ‘Demographics…’, ‘Designing the new American university…’, ‘Turnaround…’, de onde muito se extraiu para este capítulo (e em outros) deste ensaio.
  • 47. Moniz/Um novo horizonte/47 que os potenciais doadores conheçam e que a instituição também entenda o que eles levam no ‘coração e na alma’. De forma a que não sintam qualquer ressentimento quando são abordados para efetuar um contributo, de várias formas, de vários montantes e para vários destinos. - que esse(a)s doadores sintam que estão a fazer uma ação que vai fazer uma diferença na vida dos outros e que os contributos serão devidamente reconhecidos. Saber pois ouvir esses doadores, saber colocar questões para entender as suas motivações e paixões, sobretudo esta última sobre a educação. Saber enquadrar e trazê-los no sentido de serem e virem a ser de direito próprio da instituição e no mecanismo da sua instituição, que tem que ser também a sua instituição, em programas e equipas. Estabelecer relações com parceiros. É fundamental investir tempo para criar essas relações diretas, de amizade com doadores. - transformar (para o(a)s doadore(a)s) a universidade ou instituto politécnico numa causa. De todos, dele(a)s também, sem ambiguidades. Não se trata de privatizar, ceder na governação. Nem de permitir a submissão a influências. Trata-se tão somente de ouvir para depois, dentro do alinhamento do que são a missão e os objetivos da IES, as suas linhas mestras, estatutariamente aprovadas e sancionadas intra-academia, ter um diálogo, uma comunicação que é preciso ter, procurando saber o que é preciso fazer internamente. Identificar onde é que se pode ajudar, como é que é preciso fazer e depois ir em busca de mais parceiros, para que todos possamos apoiar a governação e a própria alteração, onde ela é necessária. Temos que ser facilitadores e entender o que é que os doadores poderão querer criar, qual é o legado que eles querem fazer e para que é que querem
  • 48. Moniz/Um novo horizonte/48 fazer. Não pode isso ser feito em eventos com um salão repleto. Há que ‘personalizar35 a atenção no(a) doador(a), de forma a estabelecer relações de confiança e de estima, sentirem que poderão estar atrás da visão que é necessário implementar, do plano estratégico. Não é , repete-se, privatizar aquilo que o financiamento público deve dar, mas partidos políticos e fundações públicas em instituições públicas também recebem doações, que nunca devem ser vistas como caridade mas sim como contributos construtivos para determinadas áreas e tarefas, as quais congregam apoiantes e ao que poderão, entre várias hipóteses, atribuir o que entendem36 . Se em 1000 graduados ao longo de anos cada um dá 1000 € por ano ou cada cinco anos, temos um milhão de euros distribuídos com algum regularidade. Um milhão de euros é um contributo fabuloso, excelente, excecional para investir internamente em situações de bolsas, em aquisição de equipamento E também para ensino, que deverá ser e será sempre transmitida obviamente de forma transparente . Os doadores têm pois que ser abraçados, envolvidos na narrativa da instituição, não se trata apenas de pedir verba, trata-se de (des)envolver para que eles também façam parte da instituição (ou que, se já tenham feito parte da instituição, que se reforce essa parceria). Por isso, a instituição tem de saber o que é que eles acham necessário, para a melhoria da IES. Há que saber ouvir, adaptar, concertar e sobretudo investir com tempo, é preciso deixar claro que a instituição quer dar-se a conhecer e que sobretudo quer apresentar a sua credibilidade. 35 Possível tarefa de ação ‘diplomática’ para ex-reitores eou ex-vice-reitores… 36 Possíveis obstáculos: não faz parte da nossa tradição e o baixo nível dos salários (médios).
  • 49. Moniz/Um novo horizonte/49 Importante estabelecer relações de trabalho e de amizade, cooperação acerca de projetos que possam ser particularmente inovadores e dos quais ambas as partes poderão aprender algo, uma comunidade com a qual se deve estabelecer laços com alguma pessoalidade. O ‘realimentado’ acima para destacar o seguinte: nunca esquecer que os alunos estarão entre os futuros doadores. Esses são os mais importantes: uma doação de 100 € por cada um de 100 alunos corresponde já uma quantia considerável: não podemos esquecer que são os alunos hoje que serão os doadores amanhã. Reitera-se: temos que os saber ouvir e temos que os ouvir. E termos ciente que apesar de os graduados terem apreço, estima e reconhecimento, valorizarem um curso que os valorizará sempre, também têm dificuldades financeiras próprias de quem inicia uma vida adulta e de trabalho, por vezes com dívidas ou custos, sacrifícios que foram realizados. Não estarão imediatamente disponíveis para contribuir em modo filantrópico. Adicione-se que, se para gerações anteriores a frequência universitária significou uma progressão social por via do diploma, sendo por isso motivo de gratidão, nas gerações correntes e vindouras, os hiatos de grupo social estão mais esbatidos, o curso já não é uma ferramenta de melhoria social, é apenas uma etapa de amadurecimento para a vida adulta. Poderei estar a exagerar, mas há diferenças geracionais. E sobretudo como veem um curso de ensino superior e o valor (de mercado) que lhe atribuem. Há, pois, diversas modalidades de doadore(a)s: o(a)s que tomam a universidade como algo que transforma vidas, e apelar-se à nostalgia, ‘saudade’,
  • 50. Moniz/Um novo horizonte/50 reconhecimento37 leal. Mas também os que querem ouvir acerca de taxas de graduação, taxas de retenção…, disponibilização de empregos pelos centros de emprego intra-campus (i.e., se a universidade ajudou ativamente a encontrar emprego ou passivamente enviou para o IEFP38 ). Estes novos doadores querem saber se a universidade vale e tem, também sob este angulo, boa qualidade, mas do ponto de vista dele(a)s (!). Uma universidade ou instituto politécnico que tenha ‘dado’ empregos por entre os vários setores da economia, terá o reconhecimento e gratidão desses e demais graduados. Para sempre. As IES deveriam, mas deveriam mesmo, possuir um alinhamento mais estreito, eficiente, produtivo e responsável com os jovens estudantes e os centros de emprego ou equivalentes. Mas como operacionalizar? O investimento a médio-longo prazo implica ter que ligar com uma nova geração de alunos: os membros dos grupos de trabalho das comissões e centros de trabalho em filantropia devem estabelecer, em conversas um a um, com todos os futuros graduados, por exemplo de segundo ciclo, para que ele(a)s possam vir a considerar ser eventualmente mais tarde doadore(a)s. Estabelecer relações a longo prazo, criar várias formas de aumentar o envolvimento de jovens graduados. A ser feito de forma centralizada, em conversa ‘tutorial’: o debate com os doadores deve ser centrado em cada doador(a). Mais ainda, ao enfatizar o impacto que a instituição tem tido e tem e vai ter, adotar modos de comunicação personalizada, 37 Haverá o(a)s que farão a diferença duradoura e ter o nome associado a um ‘novo’ edifício, cujas doações podem ser de centenas de milhar ou milhões. 38 IEFP, Instituto do Emprego e Formação Profissional (cf. https://www.iefp.pt/)
  • 51. Moniz/Um novo horizonte/51 e.g., não enviar mensagens ‘en masse’, anónimas, secas, genéricas mas antes por textos demonstrando conhecimento adequado, individual, de cada um(a) do(a)s destinatário(a)s. Não obstante, pode-se por exemplo, criar o ‘dia da doação’. O importante é haver transparência no gabinete de alumni graduados, serem melhoradas ligações, torná-las mais próximas, mais correntes, mais eventos, promoção a seguir aos eventos. Por exemplo, os alunos, os quais beneficiaram de doações, estabelecer vídeos e mensagens, com a sua presença, onde agradecem e saúdam esse investimento. Em suma, o crowdfunding ser particularmente importante entre os jovens doadores: mesmo que 10 doadores deem 10 € cada um, já faz 100 €; e se 100 doadores cada um derem 100 € já faz 10000 € e isso permitiria por exemplo uma bolsa de doutoramento atribuída para determinada área. Permita-se-me enfatizar mais uma vez. Ajudar a investir em doações, trabalhar muito mesmo, para que seja arranjado um milhão de euros, significaria 100 000 a darem 10 € cada ou 10.000 € por via de 100 doadores ou 1000 € por cada mil graduados, como atrás referido. Com esta taxa, aproximadamente tanto quanto possível, ao longo de vários anos. Antes de encerrar este capítulo, permita-se-me enfatizar (repetindo, pois nunca é demais quando é a economia…) o seguinte. Serão precisas ações inteligentemente desenvolvidas para envolver graduados e doadores, sobretudo os que ainda não são mas vão ser. Ter graduados a investir nessas relações
  • 52. Moniz/Um novo horizonte/52 e notar que os graduados atualmente apontam as suas doações de forma mais estreita, mais específica e muitas vezes tentando negociar essas doações. Como já aqui se disse, muitas vezes os graduados terminam os seus estudos ainda com algumas dívidas ou dificuldades. Esperar que eles possam desde logo contribuir verba, investir, não será exequível. Há que investir nas relações com os graduados de hoje, parcerias de entendimento, compreensão mútua de trabalho e relação. Designadamente, muitas vezes pensar no impacto em melhorar taxas de graduação, em diminuir as taxas de retenção, quais são os números de empregabilidade. Os doadores querem que se prove que as carreiras são úteis, sobretudo colocar objetivos de participação, para que cada um(a), ao doar 1000 a 5000 €, estará realmente a fazer uma grande diferença e adicionar um valioso contributo. O parágrafo acima aplica-se àqueles que hoje têm 20 a 30 anos, uma comunidade de alumni vibrante, a qual se identifique com ações universitárias de desporto, cultura e festivais de música clássica, jazz, cinema, teatro. I.e., uma forma de todos esses graduados estarem presentes e terem algo a dizer, concretizarem um contributo de muitas outras formas. E particularmente importante, a melhor forma de ganhar os graduados é, já se disse, repetiu-se e repete-se: ‘dar’ empregos aos graduados. Porque é que eles deverão apoiar a missão da universidade, sobretudo se a universidade tiver como missão os alunos? Essa deve ser (em parte) a estratégia: a universidade ajudar a empregar, contratar por entre o tecido económico, industrial, de serviços e empresas em geral. Os especialistas de relação de filantropia e de doação devem ir além sobretudo dos ‘tijolos’. Se o ensino tem que ser centrado no aluno, também a pesquisa e o trabalho para doação deve ser centrado no ‘aluno’. Temos que pensar como uma startup, a pequenas ações, grupos pequenos e objetivos de trabalho específicos
  • 53. Moniz/Um novo horizonte/53 para propósitos concretos de produção. Como se uma startup fosse, em busca de investir e ver um retorno, não estritamente de capital financeiro, mas um retorno em programa de cooperação, para um desenvolvimento comum. É também preciso também definir um objetivo de participação: por exemplo, a aquisição de um equipamento, que custa muito ou uma bolsa que requere ‘tanto’. Isso é importante: sermos competitivos. Onde recebemos 1 € de financiamento público precisávamos de outro, i.e., precisávamos de ter o dobro do nosso financiamento total, que não temos publicamente. Mas se tivéssemos o dobro do que recebemos via OE, significava entre muitas outras coisas, poder competir e tentar ir ao encontro em termos de competitividade, em termos de benefícios aos candidatos a estudantes. E é isso que é preciso dizer: se queremos ser competitivos, em termos de qualificação, de reconhecimento, de agrado. Por isso temos que ter essa verba adicional. Precisamos, enfatize-se, de um novo tipo de doadores, de atrair pequenas doações entre os alumni , entre os novos graduados e adequar os apelos aos seus interesses, aos jovens doadores que possam fazer pequenas doações mas muitas doações: para objetivos concretos e bem especificados de aquisição ou investimento, desde o cientifico puro até atividades culturais e artísticas. Por último, neste capitulo, as IES deveriam formar equipas especificas para gerir eventos anuais de doação, incluídos numa campanha durante o ano, de uma forma extremamente profissional. Repete-se mais uma vez (porventura em demasia e já em ‘agonia’ em quem lê, mas, … é a economia): existe um número possivelmente significativo de doadores que poderão dar ‘pequenas’ doações. Por exemplo, 2000 doadores a darem 500 € cada um, ou
  • 54. Moniz/Um novo horizonte/54 5000 doadores, por ano, contribuindo 200€ cada um. Para isso temos que tornar a IES numa causa para todos, incluindo os que terminam excelentemente bem formados. E esse é o desafio que temos que fazer, ter as IES a apresentaram-se para os doadores, para atrair graduados. Em modo de filantropismo, para as causas relacionadas da instituição e ganhar os novos graduados, relacionar com todos os alunos hoje, doadores de amanhã.
  • 55. Moniz/Um novo horizonte/55 “Queremos uma sociedade que ofereça mais liberdade e requeira mais partilha de responsabilidade … Queremos vir a ser … bons vizinhos…”, Willy Brandt Consórcios E é sempre a economia. Não interessa o ‘mas porque é que tem de ser?’ Há que ir ao encontro do como, quanto, quando? ‘Onde’ se pode obter verba? O capítulo anterior é uma sugestão construtiva. Quiçá já adotada e adaptada por algumas IES Portuguesas. Mas não chega para os desafios e problemas elencados no capítulo de ‘Diagnóstico’. Se no passado houve um crescimento da população estudantil, agora há outras mudanças na diversidade dessa população que deseja o acesso ao ensino superior. E poderá determinar como as IES terão que tomar esse facto, com diferentes implicações económicas. Por outras palavras, o número de IES aumentou. E em algumas delas com um número mais diverso de estudantes. No âmbito da sua evolução e ‘manutenção’, tem-se tentado manter tanta autonomia quanto possível em termos de liberdade académica, de ensino e investigação; uma marca de qualidade dessas instituições. No entanto, há um problema.