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Capítulo 1
Eram quase seisda tarde,quandoresolvi me deitarnojardime entenderminha
existência.Olharparao céuafimde encontrarexplicações.Euestavaexaustaemocionalmente
e fisicamente,de umaformaque somente quemsente entende.
-Nãovai comer? – perguntouminhamãe,comavoz umpouco arrastada.
Sacudi a cabeça afimde dizernão.Elafranziua testae se sentouao meulado.
-Nãopode parar de comer.Vai ficaranêmica. – suspirei e entãoretruquei–Não estoucom
fome.
-Sei,sei,nuncaestácomfome.. –elafezuma breve pausaantesde me lançar um olhar
preocupado – Isabelle,sei que estápassandoporummomentodifícil,masprecisa
continuar..Sabe,seguiremfrente.Ele nãoé oúnico.
Lembrar-me dele ascendeuminhafúria.
-Sei que ele não é o único! – gritei – Mas não possoignorarmeussentimentosmãe..Foi tudo
tão rápido.Ele se foi e arrastoutudoconsigo.Nãome restounada...
Quandovi,jáestavachorando.Aslágrimasescorriampelosmeusolhose eutentavanão
prestaratençãoem minhamãe,que agorachoravacomigo.A piorparte de chorar empúblico,é
perceberque osoutrosestãochorandocom você.
Ela me abraçou e disse que meualmoçoestavaesfriandoahoras.Minhamãe não sabiadar
conselhos.Elaapenasdemonstravacarinhoe saía.Aocontráriodele,quesempre sabiaoque
dizer.Tudoque agente fazia,ousentiajuntos,eracomose fosse um livro,e ascitaçõeseram
sempre dele.
Tomei corageme me levantei.Corri paraomeuquarto e fechei aporta.A dor era intensa,mas
consegui andaraté a passagem aobanheiro.Tomarumbanhoaté que seriabom,paraaliviar
minhamente de pensamentosnegativos.
Apóso banho,comecei ame lembrar.Nãohaviaoque eutentasse fazer,sempre irialembrar
dele.Eununcairiaesquecer.
“Belle,eu te amo como se fôssemoso sol.Vocênascendo eeu,mepondo.Massempreao mesmo
dia.Como sefôssemosumsó.Não há nada como umnascer-do-solpara umpôr-do-sol.”
Pare.Pare de me lembrarcada segundode comoele falava,doque elefalava,davoz,do
cheiro...Ele me deixou.Sim,ele foi embora.Ele nãovai voltar,Isabelle.Você temque
esquecer.Seguiremfrente.Suavidavale maisque ele.
Mas euprecisoentender.Precisosaberporque ele me deixou.Não.Você temque superar.E
ponto.Vai voltarasair com seusamigose começara guardar nofundodo coração todas as
lembrançasdele.Chegade John..meninosnasuavida.Oumelhor,chegadele.Osoutrospodem.
Fui até o armárioe peguei ovestidoque tinhaguardadopromeuaniversáriode umanode
namorocom ele.Umamisturade azul com verde turquesae repletode borboletinhasrosasno
comprimento.Tomei corageme ovesti.Coloqueiaminhasapatilhaazul e o meuperfume
favorito,que poracaso,eleteriame dado.Masissoagoranão importa.Ele nãofazmaisparte da
minhavida.
Fui até o espelhoe me assustei comoque vi.Estavatodapálida,cobertade rímel nas
pálpebras,meucabelolisoe enorme(que eunãocortavaa quase um ano) todo emaranhado
na nuca e meuslábiosestavamrachados,emalgumasregiõesque eumorderaporraiva,dore
angústia.Principalmente angústia.
Peguei meuestojode maquiageme solteiocabelo.O observei uminstante.Pegueiaescova
maispróximae o desembaracei,fioporfio.Quandoacabei,oreparti de ladoe pegueimeu
celular.Listei oscontatosaté encontraro nome da minhamelhoramiga – Anna– e perceber
que tinha50 chamadas perdidasdela.Assimque liguei,elaatendeunosegundotoque.
-Belle??–umavoz preocupadaecoou – É você?
-Sim.Oi,Anna.
-Ah,graçasa Deus!Te liguei váriasvezes,comovocê está?
-Melhor.Só...nãotoque noassunto.
-Okay.Aconteceu algumacoisa?
-Sime não.Quero...querosaberse estálivre hoje.Agora.
-Claro.
-Quersaircomigo,daruma volta,fazerumascompras...?
-E você aindapergunta?Óbvioque sim!Voute pegaremvinte minutos.
-Okay.Beijos.
Desligueie peguei minhabolsa.Desci as escadasrapidamente,masparei nacozinhaprapegar
algumacoisa.Estavafaminta.
-Fiu-fiu–minhamãe disse –Aonde vai?
Ela tinhaum certoentusiasmonavoz.Nãopude deixarde rir.
-Vousaircom a Anna.
-Ah,que ótimo,filha!Nãosabe comoficofelizporte versorrir de novo!Você temque
viver,querida,é jovem.Com16anos,jáé hora de você ser feliz,Belle.
-Ahn..Obrigada,mãe.
Me surpreendeuomodocomoelafalou.Comoeudisse,minhamãe nãoeraboa com
conselhos.
Ouvi a buzinadocarro da Annaassimque acabei de comer.Me despedi daminhamãe e fui em
direçãoá porta.
-Uau!Você estáincrível! –exclamouAnna,que,comosempre,estavaperfeitamente impecável.
-Você também– respondi.
-Então...shopping?
-Sim. – engoli emsecoaome lembrardoque eu e ele costumávamosfazerno
shopping.Andávamosde mãosdadas,nos enchíamos de pipocae saíamosdo cinemana
metade dofilme porque a)nãoestávamosprestandoatençãoquando tínhamos apenasumao
outro grudadosemuma únicacadeirae b)gostávamosde brincarnaseção de jogosdo
shopping.Algumasvezes,eleconseguiapegarumbichinhode pelúcianasmáquinas.
Antesque eupercebesse,Annaestavaestacionando.Eladirigiacalmamente e imensamente
bem.Tocavaumamúsicacalma e feliznarádio,e elatinhaumsorrisinhoescondidonocantodo
rosto.
-Vamos?– elaperguntou.
Assenti e começamosacaminharshoppingadentro.
Capítulo2
-Belle,seique nãoquerfalarnoassunto,masprecisosaberde umdetalhe:querconhecer
outrosgarotos ou vai ficarsemelesporum bom tempo?
Pensei nasminhasopções.
-Quero...Precisoconhecergente nova.
-Issoé ótimo!Vamos,tenhocertezaque vamosacharalguém.
Assimque entramos,Anname arrastouá praça de alimentação.Estavalotada.Eunãoviatanta
gente há tantotempoe me assustei coma possibilidadede encararaquelagente toda.
-Ahn,desculpe-me Belle.Vem,vamospraumlugar maiscalmo.
Chegamosaooutro lado,relativamentevazio,excetoporummeninoe suamãe numa mesaao
fundo,umasenhorafazendoopedido,umagarotaque acabara de pagar e um homemsentado
numbanco do ladoesquerdodaparede.
-O que vãoquerer? – perguntouumagarçonete,que,enquantoeuanalisavaaspessoas
presentes,acabeiporesquecerde vê-laali.
-Aahn..água. –respondi.
-Pra mimumMartini.
-Comou sembebida?
-Com.
-Já vai beber,Anna?Achei que tinhasuperadoisso.
-E eutambém.
O homemsentadonosencarava.Logopercebi que seriapelaAnna,queestavaabsolutamente
linda.Qualquerumolhariapraela.Mas,depois,percebique me encarava.Olhoaolho.
-O que foi? – eladisse – Alguémestáte incomodando?
-Não,imagina.Nãoestoulouca,Anna.
-Sei disso,Belle.Sóque,você nãosai aalgumtempo,achei que poderiate incomodarum
olhar,umaaproximação...
-Estoubem,nãose preocupe.
-Estoutão orgulhosade você!Emuitofelizportersuperado.Vocêmerece serfeliz,Belle.
-Engraçado,minhamãe me disse omesmohoje de manhã.
Assimque me virei,repareique o homemnãoestavamaislá.Okay,confesso:issome
incomodouumpouco.Nãoque eusejaparanoica,oualgodotipo,masquandoumhomem
estranhote encara e depoissome,acredite,é suspeito.
-Anna,eu..precisoiraobanheiro.
-Querque euvá junto?
-Não,nãoprecisa.
-Tá,euespero.
Eu sei que pode pareceregoístaeuir ao banheironumasituaçãosuspeita.Mas,quandoháalgo
suspeito,euficogélida,sintopavore nãopossomais me arriscar a me colocarem situaçõesde
risco.Nãomais.
Assimque chegavaao banheiro,trombei comalguémque saía.Ótimo –pensei –agora,uma
situaçãomico.Jáme preparavapara me desculparquandovi que trombei comocara –
sim,aquelecara– e entrei e pânico.
-Opa– ele disse
-F-Foi mal.
-Nãopor isso.
Enquantoele se esquivava,me senti tontae esbarrei –veja,maisumavez – emoutra
pessoa.Equilíbrionãoerao meuforte.Percebi que ialevarumtombofeioe me preparavapara
o choque.Sóque este nãoaconteceu.Alguémme segurouenquantoeucaía,e nãome atrevi a
abrir osolhospra descobrir.
Capítulo3
-BELLE!BELLE,FALA COMIGO!!
Reconheci avoz,assimque despertei.Masnãoreconheci olugarque estava.
-Onde euestou?
-AahBelle,graçasaDeus!Se você nãoacordasse emmais5 minutos,chamaríamosa
ambulância.
Logo reparei que haviamaisgente emvolta.Umpolicial,agarçonete,umamulhere o
homem.Sim,ele estavaláe pálidocomoo gelo.
-O que houve?
-Você desmaiou –ele respondeu.
-E se não fosse poresse herói aqui,teriatidonomínimoumtraumatismocraniano,batidoa
cabeça diretonochão.
-Obrigada– respondi.
-Maisuma vez,nãoporisso.Émeudeversairpor aí salvandosenhoritasde bateranuca no
chão.Disponha.
De algumaforma,ele me fezsorrir.Coisaque eunãofaziahámuito,muitotempo.
-A gente se vê. – ele disse,e se foi.
-Vamos,eute ajudo –respondeuAna
Resolvemossairde umlugarfechadoe andar ao ar livre.Sempre me fazbemestaremcontato
com a natureza.
-Que tal o parque da Ensenha?
-Pode ser.
Durante o caminho,fiquei associandotudooque aconteceu:quase bati acabeçae fui salvapor
um cara estranho.Tudoissoemumdia.Éinteressante vercomoeuconsigoarranjarconfusões
emapenasalgumashoras.
Esperei que Annaencontra-se umbomlugarpra estacionar.Saímosdocarro e fomos
caminhar.Oparque estavacheio,masaregiãogramadaestavavazia.Fomosandandopor
ali,quietas,sóadmirandoapaisagem.Setemumacoisaque euamo é admirara paisagemao
meuredor.
-Então... – Annadisse –O que achou dele?
-De quem?– perguntei distraída.
-Do seuherói,poxa.Conheçoele.
-Conhece?
-Sim.Ele erameuprofessorquandofaziaaquelasaulasde inglêsnoPEC.Achoque ele nem
trabalhamaislá.
-Eu me inscrevi noPEC há algunsmeses,fizaprova,masaindanãorecebi a resposta.Achoque
não entrei,afinal.
-Ficatranquila,você vai passar.
-É,pode ser– disse
Não tenhocertezase passaria.Eramuitagente concorrendoe poucasvagas.
-Lembrado Patrick? – falouAnna
-Aquele de óculos,baixinho?
-Sim,oque estudavacoma gente naquarta série.
-Lembro...Oque temele?
-Estamossaindo.
-Sério?Issoé ótimo.
-Fiquei commedode te contar e você ficarmal,por..Você sabe.
-Nuncaficariamal com uma amigaminhapor estar feliz.Issoseriaumegoísmoenorme da
minhaparte.
-Obrigadaamiga.Senti suafalta.
-Tambémsenti suafalta,Anna.
Eu realmente amo aAnna.E apesarde tudo,me senti simumpoucomal por elae o Patrick.Não
que eunão quisesse vê-lafeliz,masporque me fazialembrardele.Eele eratudoque eutinha
naquelaépoca.Agoraeunãotenhonada.
...
Na manhã seguinte,acordei mais cedo que o normal.Resolvi arrumar algumas coisas no meu
quarto pra passar o tempo.Arrumei minha estante de livros (mesmo não tendo nada pra
arrumar porque meus livros são a parte mais arrumada da casa) apenas tirei um pouco do pó
deles.Organizei minhasroupas,meusCDSe meus sapatos.No meu antigo estado mental,tinha
me esquecidode comoeuodeiobagunça.Resolvi tomar coragem e arrumar minha estante de
fotos.Era lá que eu guardava todas as fotos dos meus quatorze anos pra cá.Sem
pensar,comecei a pegá-las,uma por uma,revendo os bons momentos da minha vida.Foi só
quando vi uma foto dele,que entrei em choque.
“Para a meninaque eu mais amo na vida,uma foto do seu ‘Jow’.Para a minha namorada,meu
tudo.
-J.”
Sem querer esbarrei na lateral da estante e ela,com todas as fotos,caiu no chão fazendo um
baque estrondoso.Sercuidadosatambémnão era lá o meu forte.Minha mãe entrou correndo
no quarto,como se houvesse ocorrido um terremoto.
-Belle?!Ah meu Deus,você está bem?
Perdi o fôlego por alguns segundos,talvez minutos,e não consegui responder.
-Belle?O que foi?
Ela pegou a foto da minha mão,e quando finalmente entendeu,me mandou voltar a dormir.
Capítulo 4
Quando acordei,eleestava lá.Bemao meu lado.Ele sorriu,etive que sorrir devolta.O sorriso
dele era lindo.Tinha me esquecido completamentedisso.
“Eu te amo,Belle – ele disse – Nunca quiste deixar.Eu estava emtranse.Sevocêpudesse
entendero queaconteceu,seao menosmedeixasseexplicar,meaproximardevocê... – ele deu
umleve sorriso e se aproximou –Sinto sua falta.”
“Tambémsinto sua falta”
“Então,porquenão podemosficarjuntos?Vocêainda meama,certo?”
“Sim.Eu te amo.Muito.”
E realmente amava.Acho queeleera pra mim como a água épra Terra: eu não me vejo sem
ele.
“Belle,volta pra mim.Oque vocêviu foi umerro.Meperdoa.Eu não posso teexplicar o que
aconteceu,maspreciso queconfieemmim.”
“Eu confio...Maspreciso saber,preciso entender...Eu sou uma burra.”
“Ei,você não é burra.Vocêsó entendeu errado.Não confia emmim?Acha queeu seria capazde
fazeralgo pra te fazersofrer?Não era eu,Belle.Não era eu”
Despertei donadae não me acostumei como que vi.Umsonho.Sabe quandovocê estátendo
um sonhotão real,que quandoacorda,parece que nadamaisfazsentido?
Desci as escadase minhamãe não estavalá.Haviaumrecadona geladeira.
Fui levar sua irmã na aula de balé,e depoisvou passarno banco eno supermercado.Tem
frango na geladeira.Não meespere,volto tarde.Beijos.
Frango.Umadas coisasque eu menosgostonomundo:qualquercomidaderivadade um
animal.Pode parecerclichê,jáque paraalgunselessóservempraisso,maspramim,elessão
fofinhosdemaisparaseremengolidossempiedade.
Resolvi fazerummacarrão.Maisútil,práticoe fácil.Enquantoopreparava,sem
perceber,cantarolavaumamúsicasemsentido.Aquele tipode músicaque te contagiamasque
o significadonemé tãobomassim.Músicasde sucessoamericano.
Lembrei-me dosonho.Foi tudotãoreal.Pensei nomodocomoele me disse ascoisas,e emtudo
que ele disse.Penseitambémemcomofui idiota.Pareci umamenininhade dezanosbeijando
os pésdo primomaisvelhosópra fazerele gostarde mim.Mesmosendoumsonho,me senti
mal pelaminhaestupidez.
Enquantocomia,me dei contaque tinhaque verificarse oresultadodaminhaprova da PEC
tinhasaído.Mas estavasempique praisso.Ásvezes,sábadonãoé diapra badalar:é diapra
descansar.
...
Minha mãe chegouemcasa algumashorasdepois,e sósoube quandoparei ovideogame e
ouvi unsgritosdo ladode fora.Quanto maispertoelachegava,maioreramosgritos.
-ADIVINHA SÓBELLE,ADIVINHA?
-Estoutendoum sonhobemmalucoe minhamãe está gritandomuitoalto?
-Não,besta.Chegousuacarta da PEC!
-Nãoacredito!
Assimque abri a carta,fiquei como coração apertado.Ese eu não passasse,afinal?
-Abre logo,Belle,peloamorde Deus!
Devagar,fui arrancandooseloe abrindo.Parei quandocomeceiaveras letras.Fiquei com
medodo resultado.Mastomei corageme abri de vez.
“Isabelle Almeida Vieira,temoso imenso prazer deanunciar queo sue aproveitamento da
prova foide 75,4 %.
Pela prova deadmissão da PEC ------------------APROVADA”
Não acreditavanoque estavavendo.Eurealmente haviapassadonumafaculdade.
-Então,Belle,falalogo!
-Eu passei!
-Ah,filha! –minhamãe me abraçou– Eu sabiaque você iaconseguir!Issoé ótimo!Vouavisaro
seupai.
Minha mãe não falavacom o meupai faziaquase um ano.Elessóse falavamquandohaviaalgo
realmente importante acontecendo,tipoeupassarnumafaculdade.Elesse divorciaramfaz
sete anos.Minhamãe descobriuque meupai nãoqueriamaissabertantoassimda famíliae
elesbrigaramfeio.Aí,minhamãe oexpulsoude casa,e ele disse que nãoiriasair.Maseladeu
um jeito:jogoutodasasroupas dele narua.Ele sódeuum beijoemmime na minhairmãzinha
(que na épocaera umbebê de doismeses) e saiu.Nuncamaisovimosemcasa.
Liguei praAnna pra avisarda novidade.Assimque termineide contar,elaquisfazeruma
festa,masnãodeixei.Possotermelhorado,masnãoestavaprontapra enfrentar ummonte de
gente.

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Recomeço após a dor da perda

  • 1. Capítulo 1 Eram quase seisda tarde,quandoresolvi me deitarnojardime entenderminha existência.Olharparao céuafimde encontrarexplicações.Euestavaexaustaemocionalmente e fisicamente,de umaformaque somente quemsente entende. -Nãovai comer? – perguntouminhamãe,comavoz umpouco arrastada. Sacudi a cabeça afimde dizernão.Elafranziua testae se sentouao meulado. -Nãopode parar de comer.Vai ficaranêmica. – suspirei e entãoretruquei–Não estoucom fome. -Sei,sei,nuncaestácomfome.. –elafezuma breve pausaantesde me lançar um olhar preocupado – Isabelle,sei que estápassandoporummomentodifícil,masprecisa continuar..Sabe,seguiremfrente.Ele nãoé oúnico. Lembrar-me dele ascendeuminhafúria. -Sei que ele não é o único! – gritei – Mas não possoignorarmeussentimentosmãe..Foi tudo tão rápido.Ele se foi e arrastoutudoconsigo.Nãome restounada... Quandovi,jáestavachorando.Aslágrimasescorriampelosmeusolhose eutentavanão prestaratençãoem minhamãe,que agorachoravacomigo.A piorparte de chorar empúblico,é perceberque osoutrosestãochorandocom você. Ela me abraçou e disse que meualmoçoestavaesfriandoahoras.Minhamãe não sabiadar conselhos.Elaapenasdemonstravacarinhoe saía.Aocontráriodele,quesempre sabiaoque dizer.Tudoque agente fazia,ousentiajuntos,eracomose fosse um livro,e ascitaçõeseram sempre dele. Tomei corageme me levantei.Corri paraomeuquarto e fechei aporta.A dor era intensa,mas consegui andaraté a passagem aobanheiro.Tomarumbanhoaté que seriabom,paraaliviar minhamente de pensamentosnegativos. Apóso banho,comecei ame lembrar.Nãohaviaoque eutentasse fazer,sempre irialembrar dele.Eununcairiaesquecer. “Belle,eu te amo como se fôssemoso sol.Vocênascendo eeu,mepondo.Massempreao mesmo dia.Como sefôssemosumsó.Não há nada como umnascer-do-solpara umpôr-do-sol.” Pare.Pare de me lembrarcada segundode comoele falava,doque elefalava,davoz,do cheiro...Ele me deixou.Sim,ele foi embora.Ele nãovai voltar,Isabelle.Você temque esquecer.Seguiremfrente.Suavidavale maisque ele. Mas euprecisoentender.Precisosaberporque ele me deixou.Não.Você temque superar.E ponto.Vai voltarasair com seusamigose começara guardar nofundodo coração todas as lembrançasdele.Chegade John..meninosnasuavida.Oumelhor,chegadele.Osoutrospodem. Fui até o armárioe peguei ovestidoque tinhaguardadopromeuaniversáriode umanode namorocom ele.Umamisturade azul com verde turquesae repletode borboletinhasrosasno comprimento.Tomei corageme ovesti.Coloqueiaminhasapatilhaazul e o meuperfume favorito,que poracaso,eleteriame dado.Masissoagoranão importa.Ele nãofazmaisparte da minhavida.
  • 2. Fui até o espelhoe me assustei comoque vi.Estavatodapálida,cobertade rímel nas pálpebras,meucabelolisoe enorme(que eunãocortavaa quase um ano) todo emaranhado na nuca e meuslábiosestavamrachados,emalgumasregiõesque eumorderaporraiva,dore angústia.Principalmente angústia. Peguei meuestojode maquiageme solteiocabelo.O observei uminstante.Pegueiaescova maispróximae o desembaracei,fioporfio.Quandoacabei,oreparti de ladoe pegueimeu celular.Listei oscontatosaté encontraro nome da minhamelhoramiga – Anna– e perceber que tinha50 chamadas perdidasdela.Assimque liguei,elaatendeunosegundotoque. -Belle??–umavoz preocupadaecoou – É você? -Sim.Oi,Anna. -Ah,graçasa Deus!Te liguei váriasvezes,comovocê está? -Melhor.Só...nãotoque noassunto. -Okay.Aconteceu algumacoisa? -Sime não.Quero...querosaberse estálivre hoje.Agora. -Claro. -Quersaircomigo,daruma volta,fazerumascompras...? -E você aindapergunta?Óbvioque sim!Voute pegaremvinte minutos. -Okay.Beijos. Desligueie peguei minhabolsa.Desci as escadasrapidamente,masparei nacozinhaprapegar algumacoisa.Estavafaminta. -Fiu-fiu–minhamãe disse –Aonde vai? Ela tinhaum certoentusiasmonavoz.Nãopude deixarde rir. -Vousaircom a Anna. -Ah,que ótimo,filha!Nãosabe comoficofelizporte versorrir de novo!Você temque viver,querida,é jovem.Com16anos,jáé hora de você ser feliz,Belle. -Ahn..Obrigada,mãe. Me surpreendeuomodocomoelafalou.Comoeudisse,minhamãe nãoeraboa com conselhos. Ouvi a buzinadocarro da Annaassimque acabei de comer.Me despedi daminhamãe e fui em direçãoá porta. -Uau!Você estáincrível! –exclamouAnna,que,comosempre,estavaperfeitamente impecável. -Você também– respondi. -Então...shopping? -Sim. – engoli emsecoaome lembrardoque eu e ele costumávamosfazerno shopping.Andávamosde mãosdadas,nos enchíamos de pipocae saíamosdo cinemana metade dofilme porque a)nãoestávamosprestandoatençãoquando tínhamos apenasumao
  • 3. outro grudadosemuma únicacadeirae b)gostávamosde brincarnaseção de jogosdo shopping.Algumasvezes,eleconseguiapegarumbichinhode pelúcianasmáquinas. Antesque eupercebesse,Annaestavaestacionando.Eladirigiacalmamente e imensamente bem.Tocavaumamúsicacalma e feliznarádio,e elatinhaumsorrisinhoescondidonocantodo rosto. -Vamos?– elaperguntou. Assenti e começamosacaminharshoppingadentro.
  • 4. Capítulo2 -Belle,seique nãoquerfalarnoassunto,masprecisosaberde umdetalhe:querconhecer outrosgarotos ou vai ficarsemelesporum bom tempo? Pensei nasminhasopções. -Quero...Precisoconhecergente nova. -Issoé ótimo!Vamos,tenhocertezaque vamosacharalguém. Assimque entramos,Anname arrastouá praça de alimentação.Estavalotada.Eunãoviatanta gente há tantotempoe me assustei coma possibilidadede encararaquelagente toda. -Ahn,desculpe-me Belle.Vem,vamospraumlugar maiscalmo. Chegamosaooutro lado,relativamentevazio,excetoporummeninoe suamãe numa mesaao fundo,umasenhorafazendoopedido,umagarotaque acabara de pagar e um homemsentado numbanco do ladoesquerdodaparede. -O que vãoquerer? – perguntouumagarçonete,que,enquantoeuanalisavaaspessoas presentes,acabeiporesquecerde vê-laali. -Aahn..água. –respondi. -Pra mimumMartini. -Comou sembebida? -Com. -Já vai beber,Anna?Achei que tinhasuperadoisso. -E eutambém. O homemsentadonosencarava.Logopercebi que seriapelaAnna,queestavaabsolutamente linda.Qualquerumolhariapraela.Mas,depois,percebique me encarava.Olhoaolho. -O que foi? – eladisse – Alguémestáte incomodando? -Não,imagina.Nãoestoulouca,Anna. -Sei disso,Belle.Sóque,você nãosai aalgumtempo,achei que poderiate incomodarum olhar,umaaproximação... -Estoubem,nãose preocupe. -Estoutão orgulhosade você!Emuitofelizportersuperado.Vocêmerece serfeliz,Belle. -Engraçado,minhamãe me disse omesmohoje de manhã. Assimque me virei,repareique o homemnãoestavamaislá.Okay,confesso:issome incomodouumpouco.Nãoque eusejaparanoica,oualgodotipo,masquandoumhomem estranhote encara e depoissome,acredite,é suspeito. -Anna,eu..precisoiraobanheiro. -Querque euvá junto?
  • 5. -Não,nãoprecisa. -Tá,euespero. Eu sei que pode pareceregoístaeuir ao banheironumasituaçãosuspeita.Mas,quandoháalgo suspeito,euficogélida,sintopavore nãopossomais me arriscar a me colocarem situaçõesde risco.Nãomais. Assimque chegavaao banheiro,trombei comalguémque saía.Ótimo –pensei –agora,uma situaçãomico.Jáme preparavapara me desculparquandovi que trombei comocara – sim,aquelecara– e entrei e pânico. -Opa– ele disse -F-Foi mal. -Nãopor isso. Enquantoele se esquivava,me senti tontae esbarrei –veja,maisumavez – emoutra pessoa.Equilíbrionãoerao meuforte.Percebi que ialevarumtombofeioe me preparavapara o choque.Sóque este nãoaconteceu.Alguémme segurouenquantoeucaía,e nãome atrevi a abrir osolhospra descobrir.
  • 6. Capítulo3 -BELLE!BELLE,FALA COMIGO!! Reconheci avoz,assimque despertei.Masnãoreconheci olugarque estava. -Onde euestou? -AahBelle,graçasaDeus!Se você nãoacordasse emmais5 minutos,chamaríamosa ambulância. Logo reparei que haviamaisgente emvolta.Umpolicial,agarçonete,umamulhere o homem.Sim,ele estavaláe pálidocomoo gelo. -O que houve? -Você desmaiou –ele respondeu. -E se não fosse poresse herói aqui,teriatidonomínimoumtraumatismocraniano,batidoa cabeça diretonochão. -Obrigada– respondi. -Maisuma vez,nãoporisso.Émeudeversairpor aí salvandosenhoritasde bateranuca no chão.Disponha. De algumaforma,ele me fezsorrir.Coisaque eunãofaziahámuito,muitotempo. -A gente se vê. – ele disse,e se foi. -Vamos,eute ajudo –respondeuAna Resolvemossairde umlugarfechadoe andar ao ar livre.Sempre me fazbemestaremcontato com a natureza. -Que tal o parque da Ensenha? -Pode ser. Durante o caminho,fiquei associandotudooque aconteceu:quase bati acabeçae fui salvapor um cara estranho.Tudoissoemumdia.Éinteressante vercomoeuconsigoarranjarconfusões emapenasalgumashoras. Esperei que Annaencontra-se umbomlugarpra estacionar.Saímosdocarro e fomos caminhar.Oparque estavacheio,masaregiãogramadaestavavazia.Fomosandandopor ali,quietas,sóadmirandoapaisagem.Setemumacoisaque euamo é admirara paisagemao meuredor. -Então... – Annadisse –O que achou dele? -De quem?– perguntei distraída. -Do seuherói,poxa.Conheçoele. -Conhece? -Sim.Ele erameuprofessorquandofaziaaquelasaulasde inglêsnoPEC.Achoque ele nem trabalhamaislá.
  • 7. -Eu me inscrevi noPEC há algunsmeses,fizaprova,masaindanãorecebi a resposta.Achoque não entrei,afinal. -Ficatranquila,você vai passar. -É,pode ser– disse Não tenhocertezase passaria.Eramuitagente concorrendoe poucasvagas. -Lembrado Patrick? – falouAnna -Aquele de óculos,baixinho? -Sim,oque estudavacoma gente naquarta série. -Lembro...Oque temele? -Estamossaindo. -Sério?Issoé ótimo. -Fiquei commedode te contar e você ficarmal,por..Você sabe. -Nuncaficariamal com uma amigaminhapor estar feliz.Issoseriaumegoísmoenorme da minhaparte. -Obrigadaamiga.Senti suafalta. -Tambémsenti suafalta,Anna. Eu realmente amo aAnna.E apesarde tudo,me senti simumpoucomal por elae o Patrick.Não que eunão quisesse vê-lafeliz,masporque me fazialembrardele.Eele eratudoque eutinha naquelaépoca.Agoraeunãotenhonada. ... Na manhã seguinte,acordei mais cedo que o normal.Resolvi arrumar algumas coisas no meu quarto pra passar o tempo.Arrumei minha estante de livros (mesmo não tendo nada pra arrumar porque meus livros são a parte mais arrumada da casa) apenas tirei um pouco do pó deles.Organizei minhasroupas,meusCDSe meus sapatos.No meu antigo estado mental,tinha me esquecidode comoeuodeiobagunça.Resolvi tomar coragem e arrumar minha estante de fotos.Era lá que eu guardava todas as fotos dos meus quatorze anos pra cá.Sem pensar,comecei a pegá-las,uma por uma,revendo os bons momentos da minha vida.Foi só quando vi uma foto dele,que entrei em choque. “Para a meninaque eu mais amo na vida,uma foto do seu ‘Jow’.Para a minha namorada,meu tudo. -J.” Sem querer esbarrei na lateral da estante e ela,com todas as fotos,caiu no chão fazendo um baque estrondoso.Sercuidadosatambémnão era lá o meu forte.Minha mãe entrou correndo no quarto,como se houvesse ocorrido um terremoto. -Belle?!Ah meu Deus,você está bem? Perdi o fôlego por alguns segundos,talvez minutos,e não consegui responder.
  • 8. -Belle?O que foi? Ela pegou a foto da minha mão,e quando finalmente entendeu,me mandou voltar a dormir.
  • 9. Capítulo 4 Quando acordei,eleestava lá.Bemao meu lado.Ele sorriu,etive que sorrir devolta.O sorriso dele era lindo.Tinha me esquecido completamentedisso. “Eu te amo,Belle – ele disse – Nunca quiste deixar.Eu estava emtranse.Sevocêpudesse entendero queaconteceu,seao menosmedeixasseexplicar,meaproximardevocê... – ele deu umleve sorriso e se aproximou –Sinto sua falta.” “Tambémsinto sua falta” “Então,porquenão podemosficarjuntos?Vocêainda meama,certo?” “Sim.Eu te amo.Muito.” E realmente amava.Acho queeleera pra mim como a água épra Terra: eu não me vejo sem ele. “Belle,volta pra mim.Oque vocêviu foi umerro.Meperdoa.Eu não posso teexplicar o que aconteceu,maspreciso queconfieemmim.” “Eu confio...Maspreciso saber,preciso entender...Eu sou uma burra.” “Ei,você não é burra.Vocêsó entendeu errado.Não confia emmim?Acha queeu seria capazde fazeralgo pra te fazersofrer?Não era eu,Belle.Não era eu” Despertei donadae não me acostumei como que vi.Umsonho.Sabe quandovocê estátendo um sonhotão real,que quandoacorda,parece que nadamaisfazsentido? Desci as escadase minhamãe não estavalá.Haviaumrecadona geladeira. Fui levar sua irmã na aula de balé,e depoisvou passarno banco eno supermercado.Tem frango na geladeira.Não meespere,volto tarde.Beijos. Frango.Umadas coisasque eu menosgostonomundo:qualquercomidaderivadade um animal.Pode parecerclichê,jáque paraalgunselessóservempraisso,maspramim,elessão fofinhosdemaisparaseremengolidossempiedade. Resolvi fazerummacarrão.Maisútil,práticoe fácil.Enquantoopreparava,sem perceber,cantarolavaumamúsicasemsentido.Aquele tipode músicaque te contagiamasque o significadonemé tãobomassim.Músicasde sucessoamericano. Lembrei-me dosonho.Foi tudotãoreal.Pensei nomodocomoele me disse ascoisas,e emtudo que ele disse.Penseitambémemcomofui idiota.Pareci umamenininhade dezanosbeijando os pésdo primomaisvelhosópra fazerele gostarde mim.Mesmosendoumsonho,me senti mal pelaminhaestupidez. Enquantocomia,me dei contaque tinhaque verificarse oresultadodaminhaprova da PEC tinhasaído.Mas estavasempique praisso.Ásvezes,sábadonãoé diapra badalar:é diapra descansar.
  • 10. ... Minha mãe chegouemcasa algumashorasdepois,e sósoube quandoparei ovideogame e ouvi unsgritosdo ladode fora.Quanto maispertoelachegava,maioreramosgritos. -ADIVINHA SÓBELLE,ADIVINHA? -Estoutendoum sonhobemmalucoe minhamãe está gritandomuitoalto? -Não,besta.Chegousuacarta da PEC! -Nãoacredito! Assimque abri a carta,fiquei como coração apertado.Ese eu não passasse,afinal? -Abre logo,Belle,peloamorde Deus! Devagar,fui arrancandooseloe abrindo.Parei quandocomeceiaveras letras.Fiquei com medodo resultado.Mastomei corageme abri de vez. “Isabelle Almeida Vieira,temoso imenso prazer deanunciar queo sue aproveitamento da prova foide 75,4 %. Pela prova deadmissão da PEC ------------------APROVADA” Não acreditavanoque estavavendo.Eurealmente haviapassadonumafaculdade. -Então,Belle,falalogo! -Eu passei! -Ah,filha! –minhamãe me abraçou– Eu sabiaque você iaconseguir!Issoé ótimo!Vouavisaro seupai. Minha mãe não falavacom o meupai faziaquase um ano.Elessóse falavamquandohaviaalgo realmente importante acontecendo,tipoeupassarnumafaculdade.Elesse divorciaramfaz sete anos.Minhamãe descobriuque meupai nãoqueriamaissabertantoassimda famíliae elesbrigaramfeio.Aí,minhamãe oexpulsoude casa,e ele disse que nãoiriasair.Maseladeu um jeito:jogoutodasasroupas dele narua.Ele sódeuum beijoemmime na minhairmãzinha (que na épocaera umbebê de doismeses) e saiu.Nuncamaisovimosemcasa. Liguei praAnna pra avisarda novidade.Assimque termineide contar,elaquisfazeruma festa,masnãodeixei.Possotermelhorado,masnãoestavaprontapra enfrentar ummonte de gente.